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çã Aplicada

Legislacao
ao Direito Ambiental
Fabrício Ferreira
Mariana Souza
Enio Cesar Gonçalves Pimenta

Curitiba
2016

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Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501

F383l Ferreira, Fabrício


Legislação aplicada ao Direito Ambiental / Fabrício Ferreira, Mariana Souza,
Enio Cesar Gonçalves Pimenta. – Curitiba: Fael, 2016.

172 p.: il.


ISBN 978-85-60531-45-5

1. Direito ambiental 2. Meio ambiente – Política nacional I. Souza,


Mariana II. Pimenta, Enio Cesar Gonçalves III. Título
CDD 341.347

Direitos desta edição reservados à Fael.


É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.

FAEL

Direção de Produção Fernando Santos de Moraes Sarmento


Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão FabriCO
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Capa Katia Cristina Santos Mendes
Imagem Capa Shutterstock
Diagramação FabriCO
Revisão de Diagramação Katia Cristina Santos Mendes

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Sumário

Carta ao aluno | 5

1. Noções gerais de Direito  |  7

2. Cidadania, direitos humanos e educação  |  23

3. O homem, o meio ambiente e o surgimento


do direito ambiental  |  37

4. Meio ambiente, recursos naturais e poluição  |  51

5. O direito dos povos indígenas, das populações


tradicionais e as questões étnico-raciais  |  65

6. Direito Ambiental constitucional   |  85

7. A Política Nacional do Meio Ambiente  |  103

8. EIA/Rima e o licenciamento ambiental  |  121

9. Sistema nacional de unidades de


conservação e áreas protegidas  |  137

10. Noções gerais de crimes ambientais  |  149

Conclusão | 163

Referências | 165

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Carta ao aluno

Prezado aluno,
O profissional ligado à gestão do Meio Ambiente encontra hoje
uma série de desafios, principalmente pertinente ao atingimento do
Desenvolvimento Sustentável.
A importância disso está ligada ao fato de o desenvolvimento
sustentável nos permitir utilizar os recursos naturais para satisfação
de nossas necessidades, sem que retiremos das gerações futuras essa
possibilidade.
Assim, o meio ambiente deve estar, segundo o artigo 225 da
Constituição Federal brasileira, preservado para as presentes e futu-
ras gerações.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Não obstante a inúmera quantidade de tratados, acordos e normas para


a proteção do ambiente, a manutenção do equilíbrio ecológico e a “saúde”
dos ecossistemas, é um problema constante.
Desta feita, para que se possa atuar de forma eficiente na gestão dos
recursos naturais, é imperioso que se conheça a legislação pertinente à prote-
ção do meio ambiente. Pois, do contrário, você pode achar que está fazendo
uma ação em prol do meio ambiente, quando, em verdade, está cometendo
um crime ambiental. E nós não queremos isso, não é mesmo?
Assim, o gestor ambiental precisa ter conhecimento teórico-prático.
A disciplina de Legislação Aplicada ao Direito Ambiental fornece ao estu-
dante conceitos básicos de legislação, tais como o processo de licenciamento
ambiental, o sistema nacional de unidades de conservação, quais são as áreas
protegidas ou que gozam de especial proteção por parte do Estado.
O objetivo principal desta aprendizagem é, portanto, proporcionar aos
estudantes a capacidade de compreender conceitos básicos constantes na
legislação, e conectá-los com a sua realidade.

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1
Noções gerais de Direito

Neste capítulo, você conhecerá algumas noções básicas de


Direito e lhe serão apresentados, também, alguns conceitos introdu-
tórios que estão intimamente relacionados com o objeto de estudo
desta disciplina, qual seja, o meio ambiente e a sua gestão.
Assim, trataremos dos conceitos de Direito e de Moral, diferen-
ciando, também, os conceitos de norma e de lei, para, então, conhe-
cermos a divisão clássica do sistema jurídico: o Direito Público e o
Direito Privado.
Após, passaremos a estudar a eficácia e a validade da norma
jurídica, bem como, a quem elas são aplicáveis, no caso, às pessoas
físicas e jurídicas.
A compreensão desses conceitos são de extrema importância
para que o gestor ambiental possa identificar, por exemplo, quais as
normas aplicáveis ao meio ambiente, se elas são ou não válidas, bem
como, se se aplicam ou não à situação em que se encontra.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Objetivos de aprendizagem:
22 Compreender as principais diferenças entre o conceito de norma
e de lei;
22 Diferenciar os conceitos de Direito e de Moral;
22 Compreender a divisão de Direito Público e Direito Privado;
22 Identificar as condições de eficácia e validade da norma jurídica;
22 Conhecer os sujeitos de Direito.

1.1 O que é Direito?


Talvez esta seja uma das perguntas mais tormentosas para a sociedade,
uma vez que, não raramente, confunde-se o “Direito” com a “Justiça”, ou
com o ato de “se fazer justiça”, além do que, algumas vezes, transfere-se para
o cerne da discussão elementos próprios de moral e de religião.

Você Sabia
Entende-se por “Justiça” aquilo que é “justo e correto”, como o
respeito à igualdade.
O termo provém do latim justitia, que seria o princípio básico que
mantém a ordem social por meio da preservação dos direitos em sua
forma legal.
Em Roma, ela é representada por uma estátua, que tem os seus olhos
vendados. Tal simbologia pretende demonstrar que “todos são iguais
perante a lei”, ou de outra forma, que “a justiça é cega”. Ela carrega,
também, uma espada e uma balança de pratos.
A espada que segura, simboliza o poder de decisão, a sanção que pode
ser aplicada e o rigor da condenação, enquanto que a balança, apresen-
tada sempre imóvel e nivelada, representa a imparcialidade da justiça.

Assim, a primeira coisa que devemos fazer para respondermos a per-


gunta que dá título ao presente capítulo é compreendermos o que pode ser

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Noções gerais de Direito

entendido pela palavra “direito”. Figura 1: Símbolo da justiça


Nesse sentido, o vocábulo pode ser
utilizado tanto para referirmo-nos
à faculdade de praticar um deter-
minado ato (p. ex.: “Você tem
direito à aposentadoria”), o que

Fonte: Schutterstock, 2015.


representa um direito subjetivo;
quanto pode ser utilizado como
um conjunto de normas existen-
tes (p. ex.: direito penal; direito
ambiental), ou seja, um direito
objetivo (HAMON, 2005); há
situações, também, nas quais dize-
mos que “isso não é direito”, como um sinônimo do que seria correto; ou,
empregamos a palavra para nos referirmos à uma Ciência: “meu filho acabou
de entrar na faculdade de Direito”.

Saiba mais
No livro “Direito Constitucional”, de Francis Hamon, páginas 01-09,
disponível na biblioteca virtual da instituição, você poderá conhecer
um pouco mais sobre os significados da palavra “direito”.
Uma interessante leitura é o texto do prof. Gustavo Rabai, acerca do
conceito de Direito: http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/
files/anexos/25296-25298-1-PB.html

Normalmente, o vocábulo direito é conceituado pelos autores como


sendo o estudo das normas que disciplinam a conduta humana, possibili-
tando uma vida harmoniosa em sociedade.

Importante
Nas palavras do prof. Paulo Nader (2014), o direito é um conjunto
de normas de conduta social, imposto coercitivamente pelo Estado,
para a realização da segurança, segundo os critérios de justiça.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

José Cretela Jr. (2007) afirma que o direito é um conjunto de princípios,


de regras e de instituições destinadas a regular a vida humana em sociedade.
Desta forma, dadas às múltiplas interpretações que a palavra “direito”
pode trazer, para os fins da nossa disciplina, vamos utilizá-la como sendo o
conjunto de normas, ou regras de conduta (LUIZ, 1999), que limitam as
ações humanas e propiciam a vida em sociedade.
Tais limitações impedem, por exemplo, que se possa fazer um corte raso
de uma determinada parcela de área rural, sem que se tenha previamente
obtido uma autorização para tanto, ainda que se considere que a área está
totalmente inserida dentro de uma propriedade privada.
Pode-se afirmar que os romanos não conheciam o termo “direito”, da
forma como conceituamos acima. Para eles, o vocábulo que mais se apro-
ximava deste era “directus”, que provinha da palavra “dirigere”, um adjetivo
que significava: “caminho reto”; “o que é moralmente justo”; ou “aquilo que
é conforme a linha reta.” (CRETELLA, 2007)
Para esse povo, o direito estava umbilicalmente relacionado com uma
conduta reta, proba, justa, porém, tais palavras estão imbuídas dentro de um
contexto que envolve um outro elemento muito maleável: a moral, que estu-
daremos mais adiante.
O vocábulo latino que se equipararia ao conceito que atualmente empre-
gamos a “direito”, é o termo “jus” (CRETELLA, 2007), que ora é aplicado
com o sentido objetivo (como norma jurídica), ora com o sentido subjetivo
(faculdade de agir) (GIORDANI, 2003).
“Jus” pertence à mesma raiz do verbo “jubere” (ordenar), ou prende-se à
mesma raiz do verbo “jurare” (jurar). Ou seja, “jus” pode ser entendido como
um misto de ordem e juramento (cumprimento/observância). Justo, então,
seria o que estria em harmonia com o “jus”; e “justitia” seria a vontade perpé-
tua e constante de dar a cada um o que é seu. (CRETELLA, 2007)
Pense na seguinte situação: imagine que você chamou o “Seu Zé da
Enxada” para capinar o quintal da sua casa, e pelo trabalho, você disse que
lhe pagaria R$ 80,00.
Assim, você, segundo a compreensão dos romanos, daria ao “Seu Zé da
Enxada” uma espécie de ordem ou comando (capine o quintal), sob a pro-
messa de cumprir um juramento (pagar o valor acordado – R$ 80,00).

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Noções gerais de Direito

Desta forma, pode-se dizer que, para os romanos, o conceito de “direito”


envolvia a ideia de “direção-justiça” e a de sentido ou significado moral (bem)
(LUIZ, 1999), ou seja, não se imaginava o descumprimento de uma obriga-
ção assumida, sob pena de violação da moral vigente, o que importava numa
conduta reprovada pela sociedade.
Ocorre que a conduta social, aceita por um dado grupamento de pes-
soas, é elemento que envolve questões vinculadas à moral desta sociedade e,
por moral, normalmente se entende como sendo regras de conduta.
Ulpiano, um grande jurisconsulto romano, afirmava que os preceitos
do “direito”, segundo a acepção romana, seriam: viver honestamente, não
prejudicar a outrem, dar a cada um o que é seu”. Dentro desta perspectiva,
pode-se extrair a conclusão de que: “viver honestamente” é um preceito ético;
“não prejudicar a outrem”, é até certo ponto, é um princípio moral; e “dar a
cada um o que é seu”, é nitidamente parte integrante do que se entende por
“direito”. (CRETELLA, 2007)

Jurisconsulto: pessoa versada nas ciências jurídicas,


com grande conhecimento de assuntos de direito.

Paulo, outro célebre ícone da história do Direito em Roma, ensinava que
nem tudo o que é permitido (pelo Direito) é honesto, fato que demonstraria
que o Direito admite coisas que a moral censura. (CRETELLA, 2007).
Assim, de uma forma genérica, pode-se dizer que a sociedade romana,
que influenciou grandemente a elaboração do nosso sistema jurídico, não
separava ou definia claramente o limite entre o que é moral e o que é jurídico,
fato que denota uma ascendência direta dos filósofos gregos sobre os juriscon-
sultos romanos, uma vez que era corrente na filosofia grega a prevalência da
moral (ciência geral das ações humanas) sobre o direito (mera regulação das
atividades do homem) (CRETELLA, 2007).
Assim, compreendemos moral como sendo um sistema de normas, prin-
cípios e valores que determinam as relações entre os indivíduos e, destes para
com a sociedade, de tal modo que essas normas, determinadas por um caráter
histórico-social, sejam aceitas livre e conscientemente e não de modo coagido
ou imposto (LUIZ, 1999).

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Importante
O que se entende como sendo uma conduta moralmente aceita
envolve, necessariamente, a compreensão do momento histórico e a
evolução daquela sociedade.

Pense, por exemplo, no caso daquele funcionário que achou uma mala
de dinheiro, sem qualquer identificação, no aeroporto de Brasília, e res-
ponda: você devolveria a mala? A entregaria no setor de “achados e perdidos”
do aeroporto?
Algumas pessoas talvez escolham devolvê-la, outras ficarão com o seu
conteúdo. A resposta (sem qualquer crítica) envolve, diretamente, a compre-
ensão do que você entende como sendo uma conduta moralmente justa.

Saiba mais
Conheça a história do funcionário do aeroporto de Brasília que achou
uma mala cheia de dinheiro: http://noticias.r7.com/distrito-federal/
noticias/veja-como-esta-o-ex-faxineiro-que-achou-e-devolveu-mala-
-cheia-de-dolares-20120420.htmll

Pense agora numa outra situação: num passado recente, as moças


deveriam se casar virgens, sob pena do matrimônio poder ser anulado pelo
marido, devolvendo-se a mulher à casa paterna, sob a alegação dela não ser
uma “mulher honesta”.
Hoje em dia, tal situação seria impensável, não é mesmo?

Saiba mais
Virgindade deixa de anular casamento. Disponível em: http://www1.
folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u35006.shtml
Termo “mulher honesta” sai do Código Penal: http://www1.folha.uol.
com.br/fsp/cotidian/ff3003200518.htm

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Noções gerais de Direito

A moral de nossa sociedade mudou, sem tecermos qualquer crítica se


isso foi positivo ou não, o fato é que, o que se considerava moralmente justo,
foi alterado para um novo patamar.
Qual seria a sua opinião, então, com relação às alterações implementa-
das ao Código Florestal, que reduziram a proteção existente de algumas áreas.
Você considera que foram corretas, porque, quanto mais áreas agricultáveis
melhor, ou você acha que foram equivocadas, porque reduzindo-se a prote-
ção do meio ambiente, sofremos problemas climáticos que podem alterar a
produtividade do campo?
Tais mudanças de valores sociais fizeram com que algumas regras exis-
tentes no campo do Direito fossem revogadas ou alteradas, deixando, por
exemplo, de existir aquela possibilidade de anulação do matrimônio (caso a
mulher não fosse “honesta”).
A violação de um preceito moral poderá causar ao cidadão uma san-
ção dentro da sua consciência, como, por exemplo, o remorso por não
ter feito uma boa ação, ou por não ter devolvido algo que não era seu;
enquanto que uma violação de uma norma jurídica implicará, na maioria
das vezes, em uma sanção, dada a obrigatoriedade de se seguir determi-
nada conduta.
Pode-se dizer, então, que a moral é individual e interior, enquanto que
o direito é universal e exterior. Diz-se individual e interior porque é o pró-
prio indivíduo que aplicará a sanção para a violação do preceito moral e ele
será o algoz desta cobrança, enquanto que a universalidade e exterioridade
relacionam-se com o fato de que o direito é aplicável a todos os cidadãos e,
em caso de descumprimento, será a sociedade quem imporá a sanção, coerci-
tivamente, se for o caso.

Coercitivamente: que exerce ou pode exercer coa-


ção. Que impõe pena para o seu cumprimento

Agora que conceituamos Direito e Moral, vamos analisar a diferença
entre norma e lei.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

1.2 Norma e lei


Norma é uma regra de conduta, que pode ser moral, jurídica, técnica,
religiosa, etc.
Algumas vezes, vemos a expressão “norma” ser aplicada como um equiva-
lente da palavra “lei”, porém, em verdade, o sentido de norma é mais amplo.

Importante
O sentido de norma é mais amplo que o de lei, pois além de conter
o conceito de lei, engloba, também, os princípios gerais de direito
e o costume.

Pode-se dizer que uma Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente


(Conama) é uma norma, enquanto que o Código Florestal é uma Lei.
A palavra “lei”, por sua vez, segundo Alexandre Sanches Cunha (2012),
possui 4 significados principais:
a) em sentido mais amplo possível, é o mesmo que direito ou norma;
b) em sentido amplo, é a norma jurídica criada de uma determinada
forma, por imposição de uma autoridade;
c) em um sentido intermediário, é a transmitida por oposição a
regulamento;
d) de forma geral, considera-se como sendo as Leis oriundas do Con-
gresso Nacional.

Importante
Comumente, utiliza-se a palavra Lei, para nos referirmos às normas jurí-
dicas emanadas do Congresso Nacional e que têm caráter imperativo.

As leis podem se classificar em materiais e processuais. As materiais cuidam


do objeto do direito em si, como: casamento, inquilinato; enquanto que as pro-
cessuais destinam-se a regular a forma pela qual se materializa o objeto do direito.
Classificam-se, ainda, pelo seu Estado formador, em federais, estaduais,
distritais e municipais.

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Noções gerais de Direito

As leis, entretanto, também precisam obedecer uma certa ordem ou hie-


rarquia, uma vez que não podemos ter normas permissivas acerca de uma
determinada questão, e outras que a proíbem.
Precisa haver uma certa ordem e respeito, não é mesmo? Senão ficaremos
sem saber qual norma seguir. Seria o caos!
Nesse sentido, Hans Kelsen imaginou a representação gráfica de uma
pirâmide como sendo uma ícone que demonstraria a ideia de ordem que as
leis devem respeitar. Veja a imagem abaixo
Figura 2: Pirâmide de Kelsen

Constituição

Complementar
Leis
Ordinária

Regulamentos
Decretos
e atos administrativos

Fonte: Elaborada pelo autor, com base na obra de Kelsen, 1987.


Dentro desta imagem, que representa a hierarquia das normas, tem-se
que o topo da pirâmide é ocupado pela Constituição Federal, que é a norma
maior e que “ilumina” todos os demais instrumentos jurídicos que serão ela-
borados. Isso significa dizer que todas as leis (complementares ou ordinárias),
bem como todas as demais regras jurídicas, precisam estar de acordo com os
dispositivos da Constituição Federal.
Nesse sentido, as Resoluções, Portarias, Decretos, devem estar de acordo
com as Leis que guardam pertinência temática, enquanto que esta Lei, deve
respeitar os preceitos contidos na Constituição Federal
Por exemplo: a Constituição dispõe que o direito à vida e à liberdade são
direitos fundamentais, por isso, não é possível que sejam editadas leis disci-
plinando a pena de morte ou a escravidão.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

A mesma compreensão deve ser aplicada para os demais instrumentos


legais que se situam abaixo das leis na Pirâmide de Kelsen, ou seja, estes
instrumentos legais devem estar de acordo com as Leis e a Constituição. Sim-
ples, não é mesmo?!
Dentro deste enorme conjunto de instrumentos legais, misturam-se leis
das mais várias matizes, regulamentando as diversas matérias, razão pela qual,
veremos a seguir, as divisões dos ramos do direito.

1.3 Ramos do direito


O ser humano é um ser sociável (PALMA, 2011), e que, em razão desta
sua característica, naturalmente, terminam por emergir das interações sociais
algumas regras ou princípios que têm por finalidade propiciar um convívio
harmônico entre as pessoas.
Ao surgimento de regras e princípios que não são escritos e não são
frutos de um processo legislativo, além de não serem impostas pelo Estado,
denominamos Direito Natural. O adjetivo “natural” advém da espontanei-
dade com que as normas surgem, sendo elas frutos da experiência e da razão.
Vale dizer que elas se destinam a proteger bens como: o direito à vida e à
liberdade. (NADER, 2014).”
Por outro lado, temos, também, o chamado Direito Positivo, ou Posi-
tivado, que é o direito institucionalizado, ou em outras palavras, é a ordem
jurídica obrigatória em determinado lugar e tempo, caracterizado pelas nor-
mas existentes em um determinado país e época, com vigência em todo o seu
espaço territorial.
Estamos falando, então, do direito que foi criado por uma sociedade,
não necessariamente escrito, uma vez que englobam essa lista as normas cos-
tumeiras que se manifestam pela oralidade (NADER, 2014).
Provavelmente, ao longo da sua vida, você já deve ter ouvido falar em
vários ramos do Direito Positivo, tais como, o Direito Civil, o Direito Penal,
Direito Constitucional e o Direito Ambiental, que foram se formando à
medida que a história da humanidade foi se desenvolvendo e se tornaram
mais complexas as relações dos indivíduos.

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Noções gerais de Direito

Em razão da grande quantidade de ramos do Direito, optou-se por aglu-


tiná-los em dois grandes grupos: Direito Público e Direito Privado.
O Direito Público cuida, basicamente, dos temas que interessam à
sociedade como um todo, e das relações desta para com o Estado, tendo como
exemplo: o Direito Penal, o Direito Constitucional, o Direito Tributário, o
Direito Administrativo, etc.
O Direito Privado, por sua vez, cuida das relações entre os indivíduos,
considerando os seus interesses particulares. Dentro deste grande grupo,
temos: o Direito Civil e o Direito Empresarial, entre outros.
Agora que já sabemos a diferença básica entre os dois grandes grupos
do Direito, falaremos sobre eficácia, vigência e validade das normas jurídicas.

1.4 Eficácia, vigência e validade


da norma jurídica
Você já deve ter ouvido falar que algumas leis “pegam”, e que outras,
“não pegam”, bem como, que uma lei está “vigente” ou que foi “revogada”, e
talvez tenha se perguntado o que essas expressões significam, não é mesmo?
A eficácia está diretamente ligada com a aplicação ou com a execução da
norma jurídica, ou seja, com a produção de seus efeitos.
Diz-se que uma lei é eficaz quando ela é aplicada e cumprida pela socie-
dade, ou seja, quando os homens se comportam em conformidade com o
comando da lei. Por exemplo: se você pretende realizar uma obra ou operar
um determinado empreendimento que use recursos naturais ou possa causar
degradação ambiental, você deve requerer o licenciamento ambiental, proce-
dimento que é cumprido em razão da eficácia da lei.
O contrário também existe, ou seja, a ineficácia da lei. Por exemplo:
existe determinação legal (Código Florestal) disciplinando a forma com que o
produtor rural deve requerer autorização para que possa desmatar e/ou quei-
mar uma determinada área dentro de sua propriedade ou posse rural, porém,
as últimas notícias publicadas acerca do desmatamento ilegal dão conta de
que a lei não vem sendo respeitada pelo cidadão.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Alguns produtores rurais, por exemplo, desmatam áreas integrantes de


suas propriedades para o cultivo, mesmo sem ter a autorização ambiental para
a prática do ato. A eficácia da lei está diretamente ligada com a obediência e
respeito de seu comando.

Saiba mais
Conheça um pouco mais sobre o desmatamento ilegal na matéria: Agro-
pecuária é responsável por 90% do desmatamento ilegal no Brasil, dis-
ponível em: http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/agropecu-
aria-e-responsavel-por-90-do-desmatamento-ilegal-no-brasil-7771.html

Em algumas situações, existe um tempo, entre a publicação de uma lei


e o momento em que ela começa a poder ser imposta à sociedade, que é o
tempo necessário para se ter conhecimento a seu respeito e adaptar-se à nova
realidade, a esse período denomina-se vacatio legis.
Se a lei não disciplina a vacatio legis, esta será de 45 dias.
A eficácia pode ser observada, então tanto no “tempo”, quanto no “espaço”.

Importante
Eficácia no tempo: é elemento que está diretamente ligado com a
entrada em vigor da lei. A lei normalmente entra em vigor na data
de sua publicação. Se não houver dispositivo expresso na lei, ela
vigorará 45 dias após sua publicação, bem como, salvo dispositivo
em contrário, vigerá por prazo indeterminado, ou até que outra lei
posterior surja para modificá-la ou revogá-la. Se possuir prazo deter-
minado, deixará de vigorar ao término deste.
Sendo admitida a lei brasileira em território estrangeiro, ela iniciará sua
vigência três meses após sua publicação oficial.
Eficácia no espaço: o cumprimento da norma (lei) é imediato, e
abrange todo o território nacional. Em algumas situações, pode vigo-
rar fora do território nacional, ocorrendo, aí, a chamada extraterrito-
rialidade da lei, estendendo sua eficácia a lugares que serão conside-
rados como o próprio território nacional, a exemplo dos navios de
guerra em portos estrangeiros e as embaixadas.

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Noções gerais de Direito

A eficácia, então, não pode ser confundida com a validade da lei, que é
a capacidade que a lei possui para ser imposta.
A validade da lei pode ser observada quando, mesmo não gostando, ou
não querendo cumprí-la, o cidadão se vê na contingência de obedecê-la, sob
pena de, forçado pelo Estado, receber as penalidades dela decorrentes.
A vigência de uma lei, por sua vez, é o tempo de aplicabilidade da
norma, ou seja, vai da sua criação até a sua retirada do ordenamento jurídico.
Por fim, tem-se que uma norma pode perder os seus efeitos, o que pode
acontecer por meio da ab-rogação ou pela derrogação. A ab-rogação é quando
acontece a revogação total da norma, enquanto que a derrogação, acontece a
revogação parcial da norma.

Importante
Ato jurídico perfeito é aquele ato que foi praticado à época da lei
vigente, obedecendo todas as regras aplicáveis, razão pela qual,
vindo lei nova, esta não poderá modificá-lo. Ex.: um produtor rural
obteve autorização para desmatar uma determinada área. Posterior-
mente, foi editada uma nova lei, tornando ilegal qualquer hipótese
de desmatamento. A edição da nova lei não possibilita que se consi-
dere o desmatamento a ser realizado, com base na autorização ante-
rior, ilegal, uma vez que o ato obedeceu todas as regras existentes à
época, sendo, portanto, considerado como um ato jurídico perfeito.
O direito adquirido é aquele direito que já foi incorporado ao patri-
mônio de alguém, mesmo que ainda não o tenha exercido. Se, por
exemplo, uma determinada pessoa obtém o direito de se aposen-
tar, porém, considerando-se ainda apta ao labor deixa de fazê-lo e,
posteriormente, é alterada a legislação de aposentadoria, alterando
o prazo mínimo de trabalho, esta alteração não pode impedir que
aquele cidadão se aposente, uma vez que, à época e considerando
a legislação naquela oportunidade vigente, ele já adquiriu o direito,
não podendo a lei nova violá-lo.
Coisa Julgada: coisa julgada é a característica inerente à imutabili-
dade da sentença, ainda que sobrevenha lei nova, ou seja, o direito
garantido por uma sentença não pode vir a ser alterado em razão da
publicação de uma nova lei.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Em quaisquer dessas situações, a lei nova que revogar ou derrogar a lei


velha deve respeitar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

1.5 Sujeitos de Direito


Conforme dito anteriormente, o Direito tem por finalidade tornar pos-
sível a vida em sociedade e esta é composta por pessoas.
Pessoa, em termos gerais, é o indivíduo, é o ser humano dotado de
personalidade própria, enquanto que para o Direito, pessoa é o sujeito de
direitos e obrigações, dotado de personalidade civil própria, podendo ser ele
pessoa física ou jurídica.
Quando se diz que uma pessoa é o sujeito de direitos e obrigações, pode-
mos correlacionar essa situação com a de um bebê que, ao nascer, pode rece-
ber de doação um imóvel de seus pais, sendo o dono daquele bem.
A pessoa física é, então, aquela de “carne e osso”, ou seja, você é uma
pessoa física, enquanto que a pessoa jurídica, é uma ficção criada pelo Direito
para designar entidades formadas por duas ou mais pessoas físicas, com perso-
nalidade jurídica própria e distinta de seus sócios (HAMON, 2005).

Você sabia
A pessoa jurídica criada pelos interesses dos sócios não se confunde
com a pessoa daqueles, muito menos com o seu patrimônio, salvo
no caso do artigo 50 do Código Civil.

Assim, as pessoas jurídicas podem ser pessoas jurídicas de Direito Público


ou de Direito Privado.
As pessoas jurídicas de Direito Público são: a União, os Estados,
os municípios, o Distrito Federal, as autarquias, as associações públicas, as
nações estrangeiras e os organismos internacionais.
As pessoas jurídicas de Direito Privado, por sua vez, são: as associa-
ções, as sociedades (simples ou empresárias), as fundações, as organizações
religiosas, os partidos políticos (HAMON, 2005).

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Noções gerais de Direito

Resumindo
Ao longo deste capítulo, vimos a diferença entre Direito e Moral, perce-
bendo que a moral é um conceito que está ligado a uma determinada socie-
dade, dentro de um determinado contexto geográfico e histórico, enquanto
que o direito é um conjunto de princípios, regras e instituições destinados a
possibilitar a vida em sociedade.
Dentro deste contexto, diferenciamos a Norma e a Lei.
Vimos que o Direito se divide em ramos, como o Direito Público (onde
o Direito Ambiental está inserido) e o Direito Privado, bem como, pudemos
compreender a diferenças entre as pessoas físicas e as pessoas jurídicas.
Conseguimos, também, identificar as condições de eficácia e validade
da norma jurídica, ponto extremamente importante para que se saiba, por
exemplo, se o ato praticado pelo proprietário de terra, em um determinado
ano, é ou não válido, ou se ele poderá vir a ser sancionado ou não pelo Ibama,
em razão do advento de uma nova lei.

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2
Cidadania, direitos
humanos e educação

Ao longo dos últimos anos, a importância que tem sido con-


cedida aos assuntos ligados à proteção dos Direitos Humanos e às
garantias de equilíbrio do meio ambiente, tem feito com que diver-
sos gestores ambientais tenham que se aprofundar um pouco mais
nesses temas, de tal sorte que possam compreendam a visão holística
com que se deve tratar os recursos naturais.
Assim, como forma de propiciar esta visão, faremos algumas
explicações teóricas, relacionando-as, diretamente, com casos espe-
cíficos, facilitando a sua compreensão e inter-relação destes concei-
tos com a profissão que os senhores, em breve, exercerão.
Neste capítulo, você conhecerá o que é e como se deu o pro-
cesso formativo dos Direitos Humanos, bem como compreenderá a
direta relação com a Gestão Ambiental.
Provavelmente você já deve ter ouvido falar que o meio
ambiente, ou o direito ao meio ambiente ecologicamente equili-
brado é um Direito Fundamental, conforme disciplinado no artigo
225 da nossa Constituição Federal.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Nesse sentido, diferenciaremos, também, os Direitos Humanos dos


Direitos Fundamentais, tendo como foco, sempre, os que se ligam direta-
mente à proteção do meio ambiente.
Veremos, também, o conceito de cidadania e a inserção deste na gestão
dos recursos naturais.

Objetivos de aprendizagem:
22 Conhecer e compreender o processo formativo dos Direitos Humanos;
22 Identificar os Direitos Fundamentais e os Direitos Humanos liga-
dos à proteção ambiental;
22 Identificar direito ao meio ambiente como um direito huma-
no fundamental.

2.1 Os Direitos Humanos


Antes de compreendermos o processo histórico da evolução da proteção
dos Direitos Humanos, é conveniente que entendamos o que são e a quem se
aplicam tais “direitos”.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), assinada em
1948, fruto de negociações havidas dentro da Organização das Nações Uni-
das (ONU), traz como pressuposto básico a dignidade da pessoa humana,
fazendo com que, qualquer ser humano possa invocá-la, uma vez que todos
“nascem livres e iguais em dignidade e em direitos” (art. 1o da DUDH).
Vejam o que está escrito no artigo 2º deste documento:
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades pro-
clamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de
raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de
origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra
situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto
político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade
da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou
sujeito a alguma limitação de soberania.

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Cidadania, direitos humanos e educação

Pode ser percebido, então, que os Direitos Humanos estão umbilical-


mente conectados com os Direitos Fundamentais, com as liberdades, com os
direitos civis, com a solidariedade e a fraternidade (MAGALHÃES, 1992).
Os Direitos Fundamentais, por sua vez, são os “direitos” que estão dire-
tamente relacionados com o Direito Constitucional, com as garantias cons-
titucionais, ou seja, eles estão descritos na Constituição de cada Estado, daí,
pode-se dizer que os Direitos Fundamentais estão vinculados à proteção da
dignidade da pessoa humana no âmbito nacional (OLIVEIRA, 2000).
No Brasil, os direitos fundamentais estão dispostos no Título II da
Constituição Federal, nos incisos do artigo 5º.

Saiba mais
Conheça alguns dos direitos fundamentais que estão diretamente liga-
dos com a nossa disciplina:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residen-
tes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desu-
mano ou degradante;
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o
anonimato;
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde
que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para paga-
mento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dis-
pondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico


perfeito e a coisa julgada;
XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e
liberdades fundamentais;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acu-
sados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes;
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular
que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de
que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente
e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo compro-
vada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm
aplicação imediata.
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem
outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos
que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros,
serão equivalentes às emendas constitucionais.

Observe, então que, segundo a nossa Constituição, por exemplo, todos


são iguais perante a lei; que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa, senão em virtude de lei; que é garantido o direito de proprie-
dade, mas este direito deve estar voltado ao atendimento da função social da
propriedade, sendo que, a pequena propriedade rural, conforme for definido
em lei, desde que trabalhada pela família, não poderá ser penhorada para o
pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva.

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Cidadania, direitos humanos e educação

Muito legal, não é mesmo? Os pequenos produtores rurais gozam de


uma proteção especial por parte da nossa Constituição.
Então, o que seriam os Direitos Humanos?
Os Direitos Humanos são os direitos da pessoa humana, considerada
enquanto cidadão e indivíduo, e que têm como características a universalidade,
a historicidade, a inalienabilidade, a imprescritibilidade, a irrenunciabilidade,
com eficácia erga omnes (atinge a todos), tendo a sua origem nos direitos natu-
rais, devendo, obrigatoriamente, serem respeitados pelo Estado, seja por impo-
sições, seja por ressalvas ao exercício de poder deste (OLIVEIRA, 2000).
Normalmente, os Direitos Humanos são aqueles direitos e garantias
especificamente dispostas em Tratados e Convenções internacionais, direcio-
nadas à proteção da dignidade humana, ou seja, o termo está vinculado a
proteção da dignidade da pessoa humana no âmbito internacional.

Cidadão: cidadão é aquela pessoa que tem direitos e deveres


em um determinado Estado, ou país, podendo, por exemplo,
ser considerado como aquele que pode votar e ser votado.
Erga omnes: é um termo jurídico, em latim, que sig-
nifica que uma norma ou decisão terá efeito vin-
culante, ou seja, valerá para todos. Por exemplo, a
coisa julgada erga omnes vale contra todos, e não
só para as partes envolvidas em um processo.

Importante
Para a compreensão da extensão e importância do conceito de Direi-
tos Humanos, é relevante compreender o que é universal, histórico,
irrenunciável, imprescritível e inalienável.
Universal: todos os homens são iguais e todos têm direito à proteção
da dignidade da pessoa humana, sem qualquer tipo de distinção.
Histórico: os direitos humanos se formam e se consolidam em razão de
um determinado momento histórico pelo qual atravessa a sociedade.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Irrenunciável: a irrenunciabilidade do direito humano está vinculado ao


fato de que ninguém pode “abrir mão” desse direito. Ninguém pode
renunciar o direito à vida, por exemplo. Acerca da irrenunciabilidade
dos direitos humanos, conheça o caso do “arremesso de anão”:
Imprescritível: a imprescritibilidade dos direitos humanos está relacio-
nada com o fato de que estes não se perdem no tempo, caso não
sejam exercidos.
Inalienável: alienável é algo que você pode dispor. Pense em uma
caneta. Uma caneta você pode dar, vender, quebrar; um direito
humano você não pode dar, vender ou renunciar, por exemplo.
Vedação ao retrocesso: por último, mas não menos importante, é a
característica que os direitos humanos não podem ser “perdidos”, ou
seja, há uma vedação à criação de leis que revoguem os direitos já con-
quistados pela população, fazendo com que se possa criar o raciocínio
que os direitos humanos só se conquistam, jamais podem ser perdidos.

Saiba mais
Assista ao vídeo: http://tinyurl.com/7zhb8ul produzido pela ONG
United for the Human Rights

Pode-se dizer, então, que a formação ou a constituição do conjunto de


direitos, denominados Direitos Humanos, são frutos de diversas deman-
das e conflitos sociais, e foram sendo construídos ao longo da história da
humanidade, desde a época do Cristianismo, e que tomaram fôlego na Idade
Moderna, principalmente em razão do fenômeno econômico, dada a situação
com que o ser humano era tratado, fruto dos processos produtivos introduzi-
dos na Revolução Industrial.

Saiba mais
A Revolução industrial foi um conjunto de mudanças que acontece-
ram na Europa nos séculos XVIII e XIX. A principal particularidade
dessa revolução foi a substituição do trabalho artesanal pelo assala-
riado e com o uso das máquinas.

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Cidadania, direitos humanos e educação

Como muitos empresários ambicionavam lucrar mais, o operário era


explorado, sendo forçado a trabalhar até 15 horas por dia em troca
de um salário baixo. Além disso, mulheres e crianças também eram
obrigadas a trabalhar para sustentarem suas famílias.

Por exemplo, muito se fala sobre a sociedade grega, principalmente com


relação ao fato desta ser a base para a formação da Democracia (governo do
povo), mas não nos esqueçamos que ela possuía longa tradição de um sistema
escravocrata (LUIS, 1999; GIORDANI, 2003).

Saiba mais
Com relação a evolução histórica dos direitos humanos, assista o vídeo
do professor Solon Viola, que explica a formação destes, como sendo
fruto de uma construção histórica: http://tinyurl.com/n93lmp5

Pense na propriedade privada, que é um tema muito importante para a


nossa disciplina, bem como está diretamente relacionado com a profissão que
os senhores, num futuro muito próximo, exercerão.

Responda: pode-se fazer “tudo” dentro da propriedade


privada, ou de outra forma, há algum limite para o uso
da propriedade privada, seja ela urbana ou rural?

Há mais ou menos 10 mil anos, tinha-se que o direito ao uso da pro-
priedade era ilimitado, porém, o uso da propriedade de forma indiscriminada
terminou por causar conflitos sociais.
Desta forma, em razão da necessidade do convívio pacífico entre as pes-
soas, começaram a ser impostos limites. Por exemplo, na Roma antiga, era
proibido queimar cadáveres dentro do imóvel (GIORDANI, 2003; LUIS,
1999). A proibição deste ato, ou, de outra forma, a imposição desta limita-
ção ao uso da propriedade é tanto uma questão de saúde pública, como um

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

cuidado para com o próximo, que não é obrigado a sentir o cheiro de uma
cremação dentro de sua própria residência.
Assim, como essa limitação, outras foram sendo criadas ao longo do
tempo, até que chegamos, hoje, por exemplo, com a noção de que dentro
da propriedade privada rural deve haver uma área destinada a Reserva Legal
que encontra restrições de uso; ou, que deve ocorrer a proteção de Áreas
de Preservação Permanente (ambas reguladas conforme disposto no Código
Florestal - Lei n. 12.651/2012), sendo uma obrigação do proprietário; bem
como que a propriedade deve atender a função social, daí porque, aquelas que
não atingirem os critérios dispostos pelo Incra, poderão ser desapropriadas.
A função social da propriedade deve fazer com que se possa utilizar da
propriedade, mantendo-se o respeito ao meio ambiente, seja o natural, seja o
urbano (ALEXANDRINO, 2013).

Você sabia
O meio ambiente tem 4 aspectos: o natural, o construído, o cultural
e o do trabalho?
O meio ambiente natural é aquele composto pelos elementos natu-
rais, como animais, vegetação e demais elementos com vida; o
construído, é aquele que foi criado pelo homem, tal como uma casa,
um bairro ou até mesmo uma cidade; o cultural, está relacionado
com a interconexão do homem com a natureza; e o do trabalho visa
garantir condições mínimas para o trabalhador.

Dentro desta perspectiva, um proprietário de terra não pode, por exem-


plo, desmatar a área ou colocar fogo em uma determinada parcela dela, em
razão das limitações que foram impostas por lei.
Assim, por uma consequência lógica de raciocínio, tem-se que a prote-
ção do meio ambiente é fruto de um processo histórico no qual o homem
sempre achou que os recursos naturais eram infinitos e estavam presentes,
exclusivamente, para a sua satisfação pessoal ou comercial.
Nesse sentido, é interessante perceber que, antes de existirem as leis de
proteção ambiental, as leis garantiam a exploração dos recursos naturais.

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Cidadania, direitos humanos e educação

Importante
Na época do descobrimento do Brasil, um dos primeiros animais
levados da América do Sul, por Vicente Yáñez Pinzón (1499),
capitão da nau “Nina”, para o continente europeu, sob a designa-
ção de “animal monstrosum” foi uma fêmea de um gambá ou saruê
(a mucura para os amazônidas). Vejam o relato: (...) viram um
novo animal como que monstruoso, que tinha o corpo e focinho
de raposa, garupa e os pés de trás de macaco e os da frente quase
como de homem, as orelhas como de morcego. E sob o ventre,
um outro ventre externo como uma bolsa, onde esconde seus
filhotes depois de nascidos; nunca os deixa sair, até quando eles
mesmos estejam aptos a nutrir-se, exceto quando querem mamar.
Um destes tais animais, junto com seus filhotes, foi levado de
Sevilha à Granada aos Sereníssimos Reis. Entretanto, no navio
morreram os filhotes e, o adulto, na Espanha; os quais, apesar de
mortos, foram vistos por muitas e diversas pessoas (TEIXEIRA &
PAPAVERO, 2002, 19).
Registros da Nau Pélérine (1532):
22 15 mil toras de pau-brasil (8 ducados cada);
22 300 quintais de algodão (cerca de 1,8 toneladas, valendo 10
ducados o quintal);
22 3 mil peles de onças (3 ducados cada);
22 300 macacos (6 ducados cada);
22 600 papagaios (6 ducados cada);
22 Valor total aproximado da carga: 62.300 ducados (acrescida das
demais mercadorias)

Por óbvio, desde a época do descobrimento do Brasil, a forma com que


eram retirados os recursos naturais da “Terra Brasilis”, iria causar e causou,
enormes transtornos ambientais.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Responda: a função social da propriedade é um


direito humano ou um direito fundamental?

Vamos conversar um pouco sobre os Direitos Humanos, então.
Os Direitos Humanos são aplicáveis à todos os humanos?
Num primeiro momento, talvez a resposta mais lógica seria dizer que
sim, não é mesmo?
Mas, alguns autores defendem a tese de que os Direitos Humanos são
fruto de uma construção da sociedade ocidental, logo, somente no ocidente
esses direitos poderiam ser invocados, excluindo-se, portanto, todo o oriente
desta proteção, dado que são povos que tiveram uma formação civilizatória
completamente diferente da sociedade ocidental.
Tal interpretação é um tanto quanto restritiva, não é mesmo? Mas ela é
fruto de uma teoria: a Teoria Relativista, que defende a tese de que a aplica-
ção dos direitos humanos dependeria da cultura do povo, razão pela qual não
se poderia impor a uma dada sociedade, um modelo único de proteção de
direitos, sob pena de violação das tradições e costumes de uma determinada
civilização (ALEXANDRINO, 2013).
Em contraposição, temos a Teoria Universalista, que entende que a
Teoria Relativista é fruto de uma mera interpretação vazia, com a finalidade
única de reduzir a incidência dos Direitos Humanos, pois se os seres humanos
fazem parte de uma unidade, e esta unidade é o gênero humano, não devem
existir diferenças culturais aptas a impedir o exercício dos direitos humanos,
tornando extensíveis a todos, portanto, as garantias sociais apresentadas pelos
Direitos Humanos (ALEXANDRINO, 2013).
E como os Direitos Humanos podem ser exercidos?
Tem-se que este rol de direitos encontra sua eficácia em dois planos: no
plano horizontal e no plano vertical.
A eficácia horizontal considera que a violação dos Direitos Humanos
pode ocorrer entre particulares, uma vez que os agentes privados, especial-

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Cidadania, direitos humanos e educação

mente as corporações, são capazes de causar danos efetivos aos direitos funda-
mentais e podem oprimir tanto ou até mais que os Estados.
Imagine a situação em que um determinado funcionário, que não cum-
pre as metas impostas pela empresa, seja submetido à obrigação de caminhar
pelos seus corredores com um chapéu pontiagudo, no qual se lê: “Burro!”.
Tal conduta da empresa não se harmoniza com os direitos humanos e
nem com os direitos fundamentais, uma vez que não respeita a dignidade da
pessoa humana.
Assim, a eficácia horizontal se percebe no trato entre os particulares.
Por sua vez, a eficácia vertical dos Direitos Humanos é devida a uma
relação assimétrica entre o indivíduo e o Estado, uma vez que o Estado (o
coletivo) se coloca acima do interesse individual.
Ocorre que, mesmo dentro desta perspectiva, o Estado sofre limitações
para agir, considerando que dentro do seu poder, que é maior que o cida-
dão, este deve respeitá-lo, considerando os direitos humanos e fundamen-
tais já conquistados.
Nesse sentido, por exemplo, o Estado deve respeitar o direto à vida do cida-
dão, não pode torturá-lo, não pode privá-lo de seus bens sem que tenha havido
processo judicial, no qual tenha sido assegurado a ampla defesa e o contraditório.
Entendeu? Fácil, não é mesmo?
Vejamos agora as “ondas” que levaram a formação dos direitos humanos.

2.2 As gerações dos Direitos Humanos


Norberto Bobbio (1992) traça um argumento interessante, no sentido
de que o quantitativo de direitos humanos têm aumentado, principalmente
em razão do avanço de descobertas científicas, da química, da física, da biolo-
gia, entre outros ramos da ciência, uma vez que, em razão destas descobertas,
a humanidade vem sendo colocada frente a encruzilhadas, como saber se é
ético o desenvolvimento de clones (inclusive os humanos); da pesquisa com
células tronco; dos danos que uma imagem pode trazer para a vida de uma
pessoa caso seja indevidamente divulgada na rede mundial de computadores.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Assim, Bobbio (1992) elenca 5 gerações de direitos representativos dos


avanços sociais:
1. Os direitos individuais, que têm como premissa a igualdade formal
perante a lei, e são a garantia do cidadão contra os abusos cada vez
mais frequentes dos Estados;
2. Os direitos sociais, que visam propiciar a inserção do individuo no
contexto social, representando um compromisso sócio-ideológico
do Estado em busca da justiça social;
3. Os direitos transindividuais, que são os direitos coletivos e difusos,
ou seja, são os direitos que são, ao mesmo tempo seus, mas tam-
bém de toda a coletividade, como os direitos de proteção do con-
sumidor, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, e
outros valores importantes para a sociedade;
4. Os direitos do patrimônio genético, vinculados com a biotecnolo-
gia, a bioengenharia, ou seja, são direitos que se relacionam direta-
mente com o direito à vida;
5. Os direitos dos sistemas informatizados, que fizeram com que per-
cebêssemos que o mundo não encontra mais as fronteiras políticas
como barreiras impeditivas para a comunicação.
No que concerne à nomenclatura de “gerações” de direitos humanos, dentro
da qual se entenderia que as gerações acima identificadas ocorreram em sequência
uma após a outra, dada as lutas históricas que foram travadas para o seu reconheci-
mento, não representa bem os direitos humanos, uma vez que o termo “geração”,
se pensarmos em informática, por exemplo, pressupõe que a primeira foi ultrapas-
sada pela segunda, que lhe é superior, e assim será pela terceira, indefinidamente.
Figura 1: Gerações ocorrem em sequência. Dessa forma, alguns doutrina-
dores preferem, ao invés da nomen-
clatura “geração”, utilizar o termo
A B C “dimensão”. Isso porque, ao contrá-
rio, na ideia de círculos concêntricos,
os direitos humanos garantidos são
Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. incorporados por uma série de direi-
tos “maiores”, e assim sucessivamente.
Veja a imagem abaixo:

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Cidadania, direitos humanos e educação

Figura 2: Nos círculos concêntrios, Assim, têm-se os direitos funda-


os direitos maiores englobam os mentais de primeira geração, que são
direitos humanos. pertinentes aos direitos de liberdade e
de proteção do indivíduo, que são os
direitos de vida, liberdade, propriedade,
igualdade perante a lei, etc.
C
São, portanto, “direitos negativos”,
B no sentido de que negam a intervenção
estatal e limitam o poder do Estado,
impedindo que este viole tais direitos.
A
Os direitos fundamentais de
segunda geração, são os direitos nos quais
há uma transformação de mentalidade
Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. em relação à função do Estado, passando
este do Estado Liberal (garantidor dos
direitos de liberdade) para o Estado Social (garantidor dos direitos de igualdade).
Tais direitos são representados pelos direitos econômicos, sociais e cultu-
rais. São, portanto, “direitos positivos”, pois obrigam o Estado a atuar, a intervir
na sociedade, com vistas a garantir a igualdade formal e a igualdade material.
Os direitos fundamentais de terceira geração são os direitos de solida-
riedade, fraternidade ou universalidade, que podem ser representados pelos
direitos de preservação ambiental, proteção dos consumidores, dentre outros.
Por fim, temos os direitos fundamentais de quarta geração, que, segundo
Bobbio (1992), são os direitos decorrentes da evolução do campo da enge-
nharia genética ou biodireito.
Agora ficou fácil, não é mesmo?
E quando nós juntamos todos esses direitos que nos foram garantidos e
os colocamos em prática, o que temos?

2.3 A cidadania
A cidadania, portanto, pode ser considerada como o exercício dos direi-
tos e deveres civis, políticos e sociais estabelecidos na Constituição Federal,

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

além de ser, segundo o artigo primeiro, um dos fundamentos da República


Federativa do Brasil.
O exercício de tais direitos (fundamentais e humanos, por exemplo), que
estão intimamente interligados, e o cumprimento dos deveres que decorre de tais
direitos, fará com que tenhamos uma sociedade mais justa e mais equilibrada.
Tomemos por exemplo a gestão do meio ambiente. A gestão ambien-
tal não pode ser considerada como um mero exercício de repetição de uma
mesma ação por repetidas vezes, mas sim, o exercício de um direito (usar o
meio ambiente), garantindo a sua preservação e possibilidade de uso para as
presentes e futuras gerações.
O dever de proteção ambiental não é exclusivo do Estado, ao contrário,
é uma obrigação dele e sua, também!
Então, exercer a cidadania é ter a consciência de seus direitos e das obri-
gações deles decorrentes, que devem ser diuturnamente cumpridas por si e
pelos demais, sejam particulares ou agentes públicos.

Resumindo
Ao longo deste capítulo, vimos a forma com que foram construídos os
Direitos Humanos e a sua diferença para com os Direitos Fundamentais, que
são direitos ligados à garantias constitucionais de um Estado.
Conhecemos, também, as dimensões e as gerações de direitos, bem
como as suas características, como a proibição do retrocesso, a historicidade,
a inalienabilidade, entre outras.
Dentro deste contexto, percebemos a inter-relação entre a gestão do
meio ambiente, a garantia e o exercício dos direitos humanos e fundamentais,
como a garantia à vida e o direito ao meio ambiente ecologicamente equili-
brado para as presentes e futuras gerações.
Por fim, aprendemos que a cidadania é o fazer; ou seja, é o “por em
prática” os direitos, e também os deveres, que estão dispostos em nossa Cons-
tituição Federal.

– 36 –

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3
O homem, o meio
ambiente e o surgimento
do direito ambiental

A história da formação do pensamento ambientalista é


longa e pendula com o passar do tempo, de uma visão de proteção
para uma possibilidade racional de uso do recurso natural este bem
e vice- versa.
Assim, veremos neste capítulo a forma com que o homem vem
tratando os recursos naturais e as consequências destas ações, base
para a tomada da consciência ambiental.
O gestor de recursos naturais precisa conhecer os seguintes
pensamentos: preservacionismo e conservacionismo. Deve estar
assim em busca do desenvolvimento sustentável, por meio de aspec-
tos específicos, de forma completa e integrada, visto que, caso assim
não seja, será aberta margem para a degradação ambiental.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Objetivos de aprendizagem:
22 Conhecer a história e formação do pensamento ambientalista;
22 Conhecer os períodos do pensamento ambientalista e a crise ambiental;
22 Identificar a diferença entre conservação e preservação e
22 Identificar os aspectos do meio ambiente;

3.1 A Crise do meio ambiente e a


história do pensamento ambiental
Há 4,5 bilhões de anos, quando se iniciou a formação do planeta Terra,
havia somente uma grande bola de fogo incandescente em processo de resfria-
mento e solidificação da crosta. Você já parou para imaginar quanto tempo
foi necessário para isso acontecer?
Bilhões de anos se passaram e foi somente há, aproximadamente, 600
Figura 1: Os caçadores-coletores eram milhões de anos que alguma
dependentes da natureza. forma de vida apareceu sobre
aquela crosta solidificada; os
primeiros dinossauros surgi-
ram há 65 milhões de anos;
os símios só apareceram há 10
milhões de anos; e os huma-
nos há cerca de 4 milhões de
anos (LIMA E SILVA, 2002).
Nos primórdios da nossa
civilização a sociedade era com-
posta de caçadores-coletores,
ou seja, pessoas que dependiam
Fonte: Shutterstock, 2015.

completamente da natureza,
pois, se o inverno fosse rigoroso,
por exemplo, morreriam de frio;
se as árvores não provessem fru-
tos em quantidade suficiente,
morreriam de fome.

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O homem, o meio ambiente e o surgimento do direito ambiental

Podemos dizer que sempre tivemos uma relação muito próxima com a
natureza, principalmente em razão da dependência em relação à disponibili-
dade dos recursos naturais. É a natureza que provê, por exemplo, alimento,
água doce, madeira, combustível, moradia, transporte, fármacos, cosméticos,
variedades selvagens de produtos cultiváveis, regulação climática, fertilizan-
tes, solventes, fermentos, têxteis, óleos, moléculas e enzimas, genes e, ainda,
benefícios recreativos, estéticos e espirituais.
Denominamos de período de dependência da natureza o intervalo
entre o surgimento do homem na Terra e, aproximadamente, 10 mil anos
antes da nossa era, com o início da agricultura.

Saiba mais
Ficou curioso sobre a vida na era dos caçadores-coletores? Confira o vídeo
no Youtube que trata o tema com bastante humor. Acesse: <https://youtu.
be/VFykQE8ge7I>.

Porém, com o passar do tempo, essa relação foi alterada, principal-


mente, quando o homem deixou de lado o pensamento biocentrista e passou
a ter uma compreensão mais antropocentrista, considerando, assim, o meio
ambiente como mero recurso, pronto para ser apropriado.

Importante
Para entendermos a elaboração da legislação ambiental é importante compre-
endermos os conceitos de biocentrismo e antropocentrismo e suas influências.
BIOCENTRISMO: o ser humano deve estar em pé de igualdade frente
às outras formas de vida; deve fazer parte de todo o sistema ecológico,
saindo da posição de “dono, detentor” para a de “partícipe, integrante”,
logo o meio ambiente ecologicamente equilibrado deve ser o foco prin-
cipal de suas ações. Nessa linha é o pensamento da chamada deepeco-
logy, ou ecologia profunda, que prega a redução da população humana
para que o planeta seja sustentável para todas as espécies naturais; busca a
autorrealização e a bioigualdade (todos os seres têm igual direito à vida e
valor de existência) e considera a defesa somente da fauna e da flora que
interessa aos humanos como ecologia rasa. Era a ideologia de uma minoria
no fim do século XX, que contém questões importantes para o conceito de
sustentabilidade (Dicionário brasileiro de ciências ambientais, 2002, p.90).

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

ANTROPOCÊNTRICO: segundo o Dicionário Brasileiro de Ciências


Ambientais (2002, p.16), é aquilo que é relativo aos humanos como a caracte-
rística central do mundo, interpretando as questões ambientais e os recursos uni-
camente em termos de valores e de padrões humanos. Dessa forma, os direitos
das outras espécies só existem a partir dos interesses humanos. A prevenção da
crueldade com os animais e da prática de matanças é vista, portanto, como con-
forto e paz de espírito para os humanos, em contrapartida ao reconhecimento
dos direitos de existência das outras espécies de forma independente.
RESPONDA: o desenvolvimento sustentável é um conceito que tem por
base o biocentrismo ou o antropocentrismo?

Do espaço de tempo entre o desenvolvimento da agricultura até a Revolu-


ção Industrial, no fim do século XVIII, ocorre o período denominado de poder
sobre a natureza, onde o homem domesticou plantas e animais e passou a modi-
ficar os recursos naturais mediante a introdução de técnicas como a metalurgia.

Você sabia
Não só os animais são domesticados, mas as plantas também. Os
homens escolhiam as frutas mais doces e plantavam suas sementes,
fazendo a seleção natural da espécie e escolhendo as características que
mais se adaptassem à sua região, como frio, calor e umidade. Este pro-
cesso caracteriza a domesticação de plantas (DIAMONDS, 2007).

Entre o século XVI e XVIII começaram a surgir debates dentro dos


movimentos ambientais, que centravam discussões acerca do melhor modelo
de preservação de áreas.
Assim, na transição do século XIX para o XX, os ambientalistas norte-ame-
ricanos dividiram-se em dois grupos, os preservacionistas e os conservacionistas.
Os preservacionistas eram liderados por John Muir e defendiam a ideia
da busca ao retorno da vida selvagem (wilderness) e seus valores identitários
e espirituais. Foi dentro desta ideologia que criou-se o parque de Yellowstone
(aquele do desenho do Zé Colmeia), considerado o primeiro parque nacional
do mundo, uma região que passou a ser preservada e onde era proibida a
colonização, ocupada ou vendida.

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O homem, o meio ambiente e o surgimento do direito ambiental

A ideia dos preser- Figura 2: Parque Nacional de Yellowstone, o


vacionistas, que tinha primeiro do mundo.
como expoentes Marsh
e John Muir, era que os
parques nacionais seriam
uma, senão a única,

Fonte: Dreamstime, 2015.


forma de resguardar gran-
des pedaços da natureza,
dotados de beleza cênica,
contra os efeitos do
desenvolvimento urbano-
-industrial e da marcha
para o oeste empreendida
pelos americanos. Para eles, a intervenção humana perante a natureza era
sempre “negativa”.
Os conservacionistas, por sua vez, liderados por Gifford Pinchot,
que era engenheiro florestal, defendiam uma exploração racional dos
recursos naturais e a constituição de reservas ambientais. Eles faziam apelo
à racionalidade econômica e à necessidade de se estabelecerem regras bio-
econômicas adequadas.
Para Gifford esta teoria deveria ser baseada em três princípios: o uso dos
recursos naturais pela geração presente; a prevenção de desperdício; e o uso
dos recursos naturais para o benefício da maioria dos cidadãos.
Embalados por esses pensamentos, que começavam a amparar discus-
sões acadêmicas e políticas públicas, no final do século XIX aconteceu o
denominado período de submissão da natureza. Neste período os recur-
sos ambientais foram modificados de formas drásticas, como, por exemplo,
os desvios do leito de rios para a construção de usinas hidroelétricas, como
Itaipu; o bombeamento de água de uma bacia hidrográfica para outra para
proporcionar o abastecimento de cidades que começavam a surgir, ou como
no caso das obras para a transposição do Rio São Francisco e a criação dos
organismos geneticamente modificados (OGM’s).
Tudo isso devido à enorme demanda de recursos naturais para satisfazer
os interesses da humanidade.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Gráfico 1 - O aumento da população mundial e a expectativa da ONU para atingir


os 10 bilhões de habitantes.
Crescimento mundial da população:
Chegando aos sete bilhões
Bilhões 10 / 2100*

10

9 9 / 2042*

8 8 / 2024*

7 7 / 2011

6 6 / 1999

5 5 / 1987

4 4 / 1974

3 / 1960
3

2 / 1927
2
1 / 1804

1800 1850 1900 1950 2000 2050 2100


*As populações futuras são baseadas em variações médias
calculadas pela ONU

Fonte: Fundo de População das Nações Unidas


O Gráfico 1 demonstra que, considerando toda a história da humanidade
necessária para a população alcançar um bilhão de pessoas, levou-se pouco
mais de um século para alcançarmos 2 bilhões, em 1927. O terceiro bilhão
foi alcançado em, aproximadamente, 30 anos e o quarto em apenas 14 anos.
Percebe-se, então, que os períodos de tempo têm sido cada vez menores,
uma vez que o quinto bilhão de pessoas ocorreu treze anos depois e o sexto
bilhão, 12 anos depois.
Em 2011, alcançamos 7 bilhões de pessoas e, em 2024, segundo estima-
tivas da ONU, alcançaremos 8 bilhões.
Os números do Gráfico 1 foram calculados com base em estudo feito
pela ONU, intitulado World Population Growth, 1800-2050”, que resultou da
série de estudos World Population Prospects, The 2003 Revision”. (www.prb.org).

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O homem, o meio ambiente e o surgimento do direito ambiental

Saiba mais
Nos links, existem dois vídeos bastante interessantes, os quais apre-
sentam visões diferenciadas sobre o agronegócio e da pressão que
o ser humano vem aplicando sobre os recursos naturais.< https://
youtu.be/CPagnViZ31M> e < https://youtu.be/aoiP-WK3V8o>

Esse aumento populacional tem causado enorme pressão sobre os recur-


sos naturais, especialmente, sobre a demanda na produção de alimentos e no
consumo de água.

Você sabia
Há um site que nos proporciona um interessante exercício. Aces-
sem o endereço <http://www.pegadaecologica.org.br/2015/index.
php> e respondam aos questionamentos. O resultado apontará o
cálculo de quantos planetas serão necessários para que cada pessoa
do globo tenha o mesmo nível de consumo que você.

É fato que, de tempos em tempos, alguns recursos naturais mereceram


uma maior proteção ou cuidado por parte do homem, tais como água e flo-
restas. Entretanto, a finalidade básica da ação humana não era a proteção
daqueles recursos, mas a garantia dos direitos de vizinhança e dos valores
econômicos de desvalorização da propriedade, sempre de maneira isolada e
tópica, como aconteceu na Península Ibérica, mediante normas de refloresta-
mento voltadas para a construção de embarcações no século XVI.
A partir da Revolução Industrial, como já citado, o cenário ambiental
sofreu alterações abruptas e o Planeta passou a enfrentar uma incapacidade
de absorver a grande quantidade de resíduos gerados por esse modo de vida,
baseado, principalmente, no sistema mercantil capitalista.
Esse modelo demonstrou ser destrutivo para si e para o homem, com o
esgotamento dos recursos naturais (matéria-prima) a partir da excessiva explora-
ção do meio ambiente e o consequente excesso de lançamentos, ambientalmente
inadequados, dos resíduos gerados no processo produtivo e no pós-consumo.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Assim, em razão do adensamento populacional demonstrado nos grá-


ficos, que indicam o aumento da população da Terra, que triplicou em 60
anos, e a utilização equivocada dos recursos naturais, tem-se início o período
de submissão à preservação da natureza, no qual nos encontramos.

3.2 A tomada de consciência ambiental


No fim dos anos sessenta, a comunidade científica deu vários alertas
sobre a forma como a humanidade perigosamente tratava a biosfera, além
disso, alguns acidentes contribuíram para a formação da consciência de que
algo deveria ser feito em prol da proteção dos recursos naturais.

Biosfera é a região do Planeta que inclui todos os organis-


mos e seus ambientes sobre a crosta da Terra. A biosfera
constitui cerca de uma parte em 10 milhões da massa da
Terra; está distribuída na sua maioria esparsamente em uma
camada de um quilômetro de e``spessura de terra, água
e ar, que se estende por uma superfície de meio bilhão de
quilômetros quadrados do Planeta. (LIMA-E-SILVA, 2002)

Saiba mais
Entre os acidentes podemos citar (THEODORO, 2002):
22 o lançamento de gases tóxicos na atmosfera, em Bhopal, na Índia,
onde morreram 3,4 mil pessoas em 1984;
22 o acidente nuclear em Chernobil , na antiga União Soviética,
que, como consequência, além das vítimas imediatas, fará com
que aproximadamente 100 mil pessoas sofram com danos gené-
ticos ou tenham problemas de câncer nos 100 anos seguintes;
22 em 1987 ocorreu o acidente com o Césio 137 em Goiânia (GO) e
22 a partir de 1989 diversos vazamentos de petróleo ocorreram ao
longo dos oceanos e das praias mundiais.

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O homem, o meio ambiente e o surgimento do direito ambiental

É nesse contexto repleto de impactos ambientais negativos que surgem


as teorias que defendiam a limitação ao crescimento econômico e pregavam a
redefinição do conceito de desenvolvimento.
Como exemplo dessas teorias, temos a teoria do crescimento zero,
desenvolvida no ensaio Limits to growth, a pedido do Clube de Roma, impli-
cando taxas de desenvolvimento menos agressivas para a natureza.
Essa teoria foi combatida em 1972, em Estocolmo, em uma grande con-
ferência internacional, pelos que se opunham ao crescimento zero.
Vocês estão percebendo aqui uma disputa entre “preservacionistas” e
“conservacionistas”? Preservacionistas: crescimento zero; Conservacionistas:
desenvolvimento sustentavel”.
Com a globalização dos problemas ambientais, a ONU publicou, em
1987, o relatório O Futuro de Todos Nós, conhecido como Relatório Bru-
tland, nome da ex-primeira-ministra norueguesa que presidia os trabalhos.
Nele surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável.

Saiba mais
Assista aos seguintes vídeos e compreenda um pouco mais sobre o
meio ambiente:
https://www.youtube.com/watch?v=QshfVyHkm58&list=FLoxNfF
IWT6kNF4evssi6Lcw&index=7
https://www.youtube.com/watch?v=emDakP5m_qA&list=FLoxNfF
IWT6kNF4evssi6Lcw&index=6
https://www.youtube.com/watch?v=LYzHIEcdP2g&list=FLoxNfFI
WT6kNF4evssi6Lcw&index=8

3.3 Uma pequena evolução da proteção


dos recursos ambientais no Brasil
A proteção jurídica do meio ambiente no Brasil pode ser dividida em
três períodos:

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Quadro 2: Períodos da formação da proteção ambiental no Brasil.

Inicia-se com a vinda


Começa com o Iniciou-se com a criação
da família real (1808) e
descobrimento (1500) da Lei da Política Nacional
vai até a criação da Lei
e vai até a vinda da do Meio Ambiente
da Política Nacional do
família real (1808). (Lei n. 6.938/1981).
Meio Ambiente (1981).
1º período 2º período 3º período
Deu ensejo à chamada fase
Havia algumas normas isola- holística, que protege de maneira
das de proteção aos recursos integral o meio ambiente por
naturais que se escasseavam meio de sistema ecológico e
na época como, o pau-brasil, integrado, em que se acreditava
o ouro etc. que as partes seriam protegidas
a partir do todo.
Pertinente citar, então, a exis- A visão holística preconiza
tência de normas proibindo o modo orgânico e sistêmico
a caça de perdizes, lebres e de observar as coisas, isto é,
Caracteriza-se pela
coelhos insertas nas Ordena- de priorizar o comportamento
exploração desregrada
ções Manuelinas (Livro V, do todo integrado em detri-
do meio ambiente, cujas
título LXXXIII), e no Título mento das partes. Baseia-se
questões eram solu-
C, que tipificava o corte na observação de que, no uni-
cionadas por meio do
de árvores frutíferas como verso, a soma das partes não é
Código Civil. Criaram-
crime; o Regimento do Pau- igual ao todo; opõe-se à visão
se, nessa época, prote-
-Brasil (1605), que o protegia mecanicista e cartesiana. Em
ções de categorias mais
como propriedade da Coroa comunidades biológicas, a filo-
amplas dos recursos
Portuguesa, impondo severas sofia organicista apodera-se da
naturais, limitando sua
penas a quem se apropriasse visão holística para afirmar a
exploração desordenada.
dessa espécie, sem expressa comunidade como superorga-
Tutelava-se aquilo que
licença real. O Alvará de nismo, cujo funcionamento e
tivesse interesse econô-
1657, que proibiu as sesma- organização podemos apreciar
mico.
rias, nas áreas litorâneas em somente quando consideramos
que ainda houvesse madeiras o seu papel na natureza como
de construção. entidade completa.
Fonte: Sirvinskas, 2013, p.123-127.

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O homem, o meio ambiente e o surgimento do direito ambiental

Na opinião de Wellington Pacheco de Barros, esses momentos históri-


cos não devem ser catalogados como marcos de nascimento e de desenvol-
vimento do direito ambiental no Brasil, uma vez que as medidas ou eram
essencialmente econômicas ou de mero prazer, como era o corte de árvores ou
como foi a criação do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.
José Augusto Drummond (1999) menciona que, do período entre 1934
até 1988, a legislação brasileira nada teve de ambientalista. Pelo contrário, o
período foi desenvolvimentista, no pior sentido que o termo pode ter para
quem se preocupa com o ambiente natural.

3.4 O conceito de meio ambiente


Segundo o Dicionário Brasileiro de Ciências Ambientais, ambiente é o
conjunto de fatores naturais, sociais e culturais que envolvem um indivíduo e
com os quais ele interage, influenciando e sendo influenciado por eles.

Importante
A Lei 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio
Ambiente, define o meio ambiente como sendo (art. 3º, inciso I): “o con-
junto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química
e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.”

Entende-se, então, que o conceito de meio ambiente engloba tanto o


conceito de ecologia, quanto as questões afetas ao patrimônio histórico e cul-
tural, o espaço urbano construído e as condições saudáveis para o exercício
de um trabalho.

Saiba mais
Ecologia é um termo cunhado pelo biólogo e médico alemão Ernst
Heinrich Haeckel, em 1866, como a proposta de uma nova disci-
plina científica, que pode ser definida como o estudo do lugar onde
se vive, com ênfase sobre a totalidade ou padrão de relações entre
os organismos e o seu ambiente.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Isso quer dizer que o meio ambiente não se restringe ao meio natural
ou físico, pois perpassa todas as demais esferas que venham a ser objeto de
relação entre o homem e seu meio.
Conforme citado linhas acima, o conceito legal ou jurídico de meio
ambiente é (art. 3º, inciso I, da Lei nº 6.938/1981): “o conjunto de condi-
ções, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.”
Então, para compreender esse conceito, é necessário recorrer à Biologia,
à Geografia, à Agronomia, à Engenharia Florestal, à Biotecnologia, à Ecologia
etc. A isso, denomina-se transversalidade, uma vez que é quase impossível
estudar e aplicar o direito ambiental sem recorrer a conhecimentos de outros
ramos das ciências.
É necessário, então, atentar para o fato de que o meio ambiente deve ser
analisado sob todos os seus aspectos:
Figura 3: aspectos do meio ambiente

Meio ambiente
do trabalho

Meio ambiente Meio ambiente


natural cultural

Meio ambiente
artificial

FONTE: elaborado pelo autor, 2015, com base em Sirvinskas, 2013.

Importante
O meio ambiente natural “congrega o espaço não necessariamente
alterado pelo homem”, contempla a proteção do solo, da água, do
ar atmosférico, da fauna e da flora. (art. 225, §1º, I, VII da CF/88).

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O homem, o meio ambiente e o surgimento do direito ambiental

O meio ambiente artificial, também denominado edificado ou cons-


truído, é tudo que foi produzido pelo homem, excluída a sua pro-
dução cultural e laboral; visa disciplinar a formação regular de lotea-
mentos urbanos, nos parâmetros ambientais (limitações de gabarito,
de níveis de poluição) – Estatuto da Cidade – lei 10.257/2001 -
(art.182; art. 183; art. 21, XX; 23, IX e X e art. 5º, XXIII da CF/88).
O meio ambiente cultural visa preservar o patrimônio histórico, turís-
tico, estético, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico e
científico (art. 215, §1º, §2º e §3º e art. 216 da CF/88). Nessa
proteção, estão abrangidos os bens culturais materiais e o patrimô-
nio cultural imaterial das populações tradicionais. Os instrumentos
legais infraconstitucionais que cuidam da proteção do meio ambiente
cultural são: Decreto-lei nº 25/1937; Decreto-lei nº 3.365/1941; Lei
nº 3.924/1961; Lei nº 8.313/1991; Lei nº 9.605/1988; Decreto nº
3.551/2000 e Lei nº 11.904/2009.
O meio ambiente do trabalho visa regular a proteção da saúde do tra-
balhador, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana
(CF, art. 1º, III), coibindo o exercício de qualquer atividade, ofício
ou profissão, práticas que possam comprometer a saúde física e/ou
mental de quem o exerce (padrões de salubridade e segurança) -
(art.7, XXXIII; e art. 200, VIII da CF/88).

Resumindo
Ao final deste capítulo, percebe-se que a relação do homem com o meio
ambiente, em razão de suas ações e da forma com que o utiliza para alcançar o
que denomina desenvolvimento ou progresso, sofreu profundas mudanças ao
longo dos anos, deixando de ser visto como mero recurso necessário à manu-
tenção de uma forma de desenvolvimento, para representar um elemento
que, se não estiver protegido, poderá causar dificuldades para a sobrevivência
em um futuro próximo.
O conceito de meio ambiente, para o direito ambiental, não deve englo-
bar somente os fatores naturais, mas também os elementos que compõem a

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

cultura humana, para que sejam preservados todos os seus aspectos: o natural,
o artificial, o cultural e o do trabalho.
Da mesma forma que a natureza busca encontrar um equilíbrio, esse
também deve ser o objetivo da proteção do meio ambiente: encontrar um
meio termo entre o desenvolvimento e a preservação ambiental, de tal sorte
que alcancemos o meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Nesse sentido, é imperiosa a necessidade dos profissionais que lidam com
o direito ambiental busquem a transversalidade do conhecimento, pois, para
compreendê-lo, são necessários conhecimentos de outros campos do saber,
como a biologia, a geografia, a agronomia, a engenharia florestal, a ecologia etc

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4
Meio ambiente, recursos
naturais e poluição

Compreender o que está contido no conceito de meio


ambiente, recursos naturais e o que é poluição será o cerne deste
capítulo.
Somente com o conhecimento conectado destes conceitos
é que poderemos identificar o que significa poluição e quando
esta ocorre.
Em um primeiro momento, talvez, nossas atividades como
gestores ambientais possam nos apresentar como sendo comple-
tamente lícitas e gerando os benefícios ambientais pretendidos,
porém, será que ainda assim, poderíamos estar causando poluição?

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Aliás, quem poderia ser considerado poluidor? Será que você polui? Será
que a sua atividade econômica polui?
Quais são as suas responsabilidades dentro deste ciclo produtivo?
Estas são algumas das perguntas que, por meio da leitura deste capítulo,
poderão ser respondidas.

Objetivos de aprendizagem:
22 Compreender o conceito de meio ambiente;
22 Compreender o conceito de recursos naturais;
22 Identificar o conceito legal de poluição;
22 Identificar quais são as pessoas e atividades que poderão ser consi-
deradas poluidoras

4.1 Meio ambiente e recursos naturais


Vamos começar nosso capítulo pelo conceito legal de meio ambiente
(art. 3º, inciso I, da Lei n. 6.938/1981, que disciplina a Política Nacional do
Meio Ambiente), que é: “o conjunto de condições, leis, influências e intera-
ções de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida
em todas as suas formas”.
Partindo desta definição, podemos observar que para a legislação
ambiental, o meio ambiente é aquilo que está diretamente relacionado com
as condições que abrigam e regem a vida em todas as suas formas.
Há, neste dispositivo legal, uma concepção biocêntrica ou antropocêntrica?
Uma vez que o homem possui vida e que faz parte deste conjunto maior,
considerando-se que ele não foi destacado ou excluído do rol de condições,
leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, bem como,
que ele interage diretamente com a natureza, podemos dizer que a concepção
é biocêntrica, não é mesmo?
Observe, abaixo, então, um exemplo do que é uma cadeia alimentar e
pense se o homem faz parte dela ou poderia ser inserido dentro de alguma delas.

– 52 –

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Meio ambiente, recursos naturais e poluição

Figura 1 - Cadeias alimentares.

Fonte: Shutterstock, 2015.


Também podemos nomear as cadeias alimentares como cadeias trófi-
cas, em que percebemos quais “alimentos” servem de “alimento” para quais
espécies, uma vez que, em algum momento a “matéria” retornará ao sistema.
Parece, que nós humanos fazemos parte da cadeia alimentar, não é mesmo?
Agora, observe esses outros elementos constantes da imagem abaixo.
Eles também integram o conceito legal de meio ambiente?
Figura 2 - Rios e Florestas.

Fonte: Shutterstock, 2015.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Parece que sim, não é mesmo? Os rios e as florestas também fazem parte
do conceito legal, uma vez que a vida habita nestes lugares e eles propiciam
que ela aconteça.
Mas e nós, humanos?
Já vimos que fazemos parte deste contexto, mas somente quando con-
sideramo-nos como animais. Afinal, esta é a interpretação do conceito legal.
Mas, é fato que interagimos com o meio ambiente de diversas formas.
Somos, também, conhecidos pela nossa inteligência e pela contribuição intelec-
tual. Em razão disso, introduzimos diversas transformações no meio ambiente.
Nesse sentido, esses locais onde introduzimos nossa manifestação inte-
lectual e cultural, ou onde exercemos nossas atividades laborais diárias, pode-
mos considerá-los como meio ambiente?
Imagine que o local onde antes era uma mata frondosa, hoje é uma
plantação de milho ou arroz; o espaço no qual se situava um grande cerrado,
tornou-se uma cidade.
E então? O local onde estamos, neste exato momento, é ou não é
meio ambiente?
Segundo o Dicionário Brasileiro de Ciências Ambientais (Lima e Silva,
2002), ambiente é o conjunto de fatores naturais, sociais e culturais que
envolvem um indivíduo e com os quais ele interage, influenciando e sendo
influenciado por eles.

Importante
Perceberam que o conceito legal foi alargado? Que além dos fatores
naturais, foram incorporados os fatores sociais que envolvem um indi-
víduo e com os quais ele interage?

Saiba mais
Podemos dizer, então, que o conceito de meio ambiente engloba
tanto o conceito de ecologia, quanto as questões relacionadas ao
patrimônio histórico e cultural, o espaço urbano construído e as con-
dições saudáveis para o exercício de um trabalho.

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Meio ambiente, recursos naturais e poluição

É necessário atentar para o fato de que o meio ambiente deve ser analisado
sob todos os seus aspectos: o natural, o artificial, o cultural e o do trabalho.
O meio ambiente natural refere-se ao espaço natural que não teve influ-
ência direta do homem, e é objeto do Direito Ambiental, por exemplo, ao
contemplar a proteção do solo, da água, do ar atmosférico, da fauna e da flora.
Nesse contexto, temos o Código Florestal e o Código de Águas, que,
além de outros dispositivos legais, proíbem a pesca no período de defeso,
impõem limite mínimo para o abate de determinadas espécies, definem os
limites de áreas de proteção permanente, etc.
A Constituição Federal, no artigo 225, disciplina que todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações.
Dentro da responsabilidade específica do Poder Público, estão as de pre-
servar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecoló-
gico das espécies e ecossistemas. Além de proteger a fauna e a flora, vedadas,
na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.

Saiba mais
A proteção dos processos ecológicos, da fauna e flora é objeto do
Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), regula-
mentado pela Lei nº 9.985/2000, além de outras leis.

O meio ambiente artificial, também denominado edificado ou cons-


truído, é aquele que foi produzido pelo homem.
São as cidades, as construções criadas e implementadas pelo homem, ou
seja, são as modificações da natureza realizadas pela humanidade.
A legislação visa disciplinar a formação regular de loteamentos urbanos,
nos parâmetros ambientais (limitações de gabarito, de níveis de poluição),
como é o caso do Estatuto da Cidade – Lei nº 10.257/2001.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Há também a legislação pertinente a Política Nacional de Resíduos Sóli-


dos, a Lei nº 12.305/2010, que disciplina a forma com que devemos, em uma
linguagem mais simplificada, tratar o lixo urbano.

Saiba mais
Assistam as seguintes reportagens realizadas pela TV Justiça acerca
do tratamento dos resíduos sólidos.
https://youtu.be/djRKpRBYN0s
https://youtu.be/mgp3uami1PM
https://youtu.be/pb5XxQFAvIE

O meio ambiente cultural visa preservar o patrimônio histórico, turís-


tico, estético, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico e científico
(art. 215, §1º, §2º e §3º e art. 216 da CF/88).

Paleontologia é a ciência que estuda as for-


mas de vida existentes em períodos geológi-
cos passados, a partir dos seus fósseis.

Importante
Não confunda, por exemplo, o interesse em proteger uma área, em
razão de determinado atributo ambiental, com o interesse de proteger
o mesmo espaço em razão do vínculo cultural que o homem criou.
São dois objetos distintos e, portanto, podem incidir formas distintas
de proteção, ainda que sobre o mesmo espaço territorial.

A legislação vinculada ao aspecto cultural do meio ambiente tem por


objetivo principal a proteção dos bens culturais, materiais e do patrimônio
cultural imaterial das populações tradicionais.

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Meio ambiente, recursos naturais e poluição

Exemplos são as danças típicas de comunidades tradicionais, como o


Carimbó, no Estado do Pará, ou a Yaokwa, que é um ritual do povo Enawene
Nawe para a manutenção da ordem social e cósmica.

Saiba mais
Quer aprofindar seus conecimentos sobre o ritual Yaokwa, do povo
Enawene nawe?
Assista ao vídeo: https://youtu.be/VHbPDF9dnMU.

Os instrumentos legais infraconstitucionais, que cuidam da prote-


ção do meio ambiente cultural são: Decreto-lei nº 25/1937; Decreto-lei nº
3.365/1941; Lei nº 3.924/1961; Lei nº 8.313/1991; Lei nº 9.605/1988;
Decreto nº 3.551/2000 e Lei nº 11.904/2009.
O meio ambiente do trabalho visa regular a proteção da saúde do tra-
balhador, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana (CF, art.
1º, III), coibindo o exercício de qualquer atividade, ofício ou profissão, prá-
ticas que possam comprometer a saúde física e/ou mental de quem o exerce
(padrões de salubridade e segurança).
Agora que já vimos o que é o meio ambiente e os seus aspectos, precisa-
mos identificar o que é “recurso natural”.

4.2 O recurso natural


De uma forma simplificada, podemos afirmar que o recurso natural é o
meio ambiente observado sob a ótica de um bem passível de apropriação e
valorado economicamente. Em outras palavras, o recurso natural é a matéria-
-prima, é a madeira, a água, a areia, etc.
Segundo o Dicionário de Ciências Ambientais (LIMA-E-SILVA, 2002),
“recurso”, de acordo com a ecologia, é a substância ou objeto necessário a um
organismo para sua manutenção, crescimento e reprodução normais.
Ainda, o Dicionário (LIMA-E-SILVA, 2002) traz que “recurso natural”
é tudo que se encontra na natureza e que podemos utilizar, como por exem-
plo, alimento, energia, matéria-prima, etc.
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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Segundo a legislação ambiental, no caso a Lei da Política Nacional do


Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981), estão compreendidos, dentro do con-
ceito de “recurso ambiental”, a atmosfera, as águas interiores, superficiais e
subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da
biosfera, a fauna e a flora.
Assim, na profissão de gestores ambientais, vocês lidarão diretamente
com esses recursos naturais, os quais fazem parte de um conceito maior, que
é o de meio ambiente.
Em resumo, o conceito de meio ambiente leva em consideração os
recursos naturais + a interação do homem com a natureza.
Simples, não?
Porém, muito tem sido dito a respeito da forma com que o homem trata
os recursos naturais, normalmente de uma forma indevida, trazendo como
consequências a degradação e a poluição.
Vamos ver como o Direito observa essa realidade?

4.3 A poluição e o poluidor


O que é poluição? Todas as ações do homem na natureza causam polui-
ção? Degradação é diferente de poluição?

Importante
Vejamos o que a legislação ambiental diz a respeito do tema:
Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e intera-
ções de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege
a vida em todas as suas formas;
II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das carac-
terísticas do meio ambiente;
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de ati-
vidades que direta ou indiretamente:

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Meio ambiente, recursos naturais e poluição

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;


b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambien-
tais estabelecidos;

IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou pri-


vado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora
de degradação ambiental;
V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais
e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os
elementos da biosfera, a fauna e a flora.

Antes de começarmos a diferenciar poluição e degradação, lembre-se


que esses conceitos estão intimamente relacionados com o de meio ambiente
(recapitule o conceito no inciso III do artigo 3o citado acima).
Vamos, então, começar por compreender o que é “degradação”, mais
especificamente, o que é “degradação da qualidade ambiental”: é a altera-
ção adversa (má, ruim, pior) das características do meio ambiente, que é
entendido como o conjunto de leis, influências e interações de ordem física,
química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.
Percebam que, para que seja considerada a existência de degrada-
ção, temos que o cerne do conceito “alteração das características do meio
ambiente” não está acompanhado de nenhum adjetivo, ou seja, a altera-
ção das características do meio ambiente não precisa ser grave, grande,
de proporções médias, mínimas, pequenas ou ínfimas, basta que sejam
alteradas as características do meio ambiente para uma condição inferior
da que se encontravam.
Vejam as imagens a seguir:

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Figura 3 - Degradação ambiental.

Fonte: Shutterstock, 2015.

Importante
Se a alteração do meio ambiente é positiva, ou seja, se há alteração
“para melhor” das características do meio ambiente, isso não é legal-
mente considerado degradação.

Importante
A alteração adversa deve ser decorrente de uma ação humana. Um
vendaval que derruba casas e acaba com uma lavoura ou um terre-
moto, não tem suas consequências consideradas como degradação.

Vejamos, então, a seguinte situação: um dono de lote, querendo plantar


em sua propriedade, queima a vegetação ali existente para que não tenha que
capinar todo o terreno.
Imagine, agora, que o mesmo dono no lote acima resolva utilizar herbi-
cida em sua lavoura que ele acabou de plantar.
Pergunta-se: ele degradou? Em quais dos dois momentos, ou a degrada-
ção aconteceu em ambos?
Antes de responder, pense: ele alterou as características do meio ambiente
de forma negativa?

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Meio ambiente, recursos naturais e poluição

Você sabia
Os agrotóxicos são substâncias químicas que podem contaminar
tanto o solo quanto a água, podendo, inclusive, prejudicar os lençóis
freáticos, os poços artesianos, os córregos e os lagos.

Vejam o seguinte vídeo, que é bastante esclarecedor sobre poluição e


degradação. Apesar de baseado na realidade americana, o seu objeto é aplicá-
vel, também, à nossa realidade brasileira: https://youtu.be/NrcNDeMSoHI
Então, já que falamos das ações humanas, normalmente dizemos que
alguém é poluidor, mas o que isso realmente significa?

“Poluidor” é toda a pessoa física ou jurídica, de direito


público ou privado, responsável direta ou indiretamente,
por atividade causadora de degradação ambiental.

Então o “Seu Zé da enxada” e o Prefeito de “Rincão dos Perdidos” (que


são pessoas físicas), a Empresa “Juro-que-não-poluímos” (que é pessoa jurí-
dica de direito privado), a Prefeitura de “Rincão dos Perdidos” (que é pessoa
jurídica de direito público) podem ser considerados poluidores, seja direta ou
indiretamente, desde que tenham praticado atividade que cause degradação
ambiental (e você já sabe que degradação ambiental é a alteração adversa das
características do meio ambiente, não é mesmo?!).
Então, já que mencionamos e conceituamos o termo “poluidor”, con-
vém esclarecer o que vem a ser “poluição”.
Poluição é, segundo a Lei nº 6.938/1981, a degradação da qualidade
ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:
a) Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem estar da população;
b) Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) Afetem desfavoravelmente a biota;

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

d) Afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;


e) Lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambien-
tais estabelecidos.
Imaginem que o nosso amigo, o “Seu Zé da Enxada”, está querendo
aumentar a produtividade da sua lavoura e, por isso, colocou uma dose exa-
gerada de um determinado herbicida para acabar com as pragas que estavam
destruindo o seu lucro. Em razão deste ato, embora não fosse essa a intenção
direta do “Seu Zé da Enxada”, uma grande quantidade de capivaras (que
comeram as folhas da lavoura) e de pássaros (que comeram os insetos mortos
pelo herbicida) morreram.
O ato do “Seu Zé da Enxada” será considerado como poluição? E, como
consequência, ele será considerado poluidor? Ou poluidor será a empresa que
fabrica o produto químico e, por isso, ele não poderá ser culpado pelo seu
equívoco, já que ele jamais quis matar os animais?
Infelizmente, o seu “Seu Zé da Enxada” será considerado poluidor, uma
vez que ele alterou desfavoravelmente a biota, além de ter afetado as condições
sanitárias do meio ambiente -- então, não restam dúvidas que isso é poluição.

4.4 Fontes do Direito Ambiental


Por fim, resta-nos compreender quais são as fontes do Direito Ambien-
tal. Entende-se por fonte o local em que buscaremos as normas ambientais,
bem como representam o seu ponto de origem.
Nesse sentido (SIRVINSKAS, 2013), as fontes podem ser tanto mate-
riais como formais. As fontes materiais são as que provêm da manifestação
popular, das descobertas científicas, enquanto que as fontes formais são aque-
las decorrentes da legislação nacional, tais como a Constituição Federal, as
leis, os Decretos, as Portarias, etc.
Como exemplo de fontes materiais, temos as descobertas científicas que
apontaram a existência do buraco na camada de ozônio e levaram a elabora-
ção de normas proibindo o uso de determinados gases (CFC) para a fabrica-
ção de alguns produtos, como os desodorantes aerossóis.
As fontes formais são, por exemplo, as leis, tal como o Código Florestal.
Então, se você deseja saber o que é e qual o limite de uma Área de Preservação

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Meio ambiente, recursos naturais e poluição

Permanente, a chamada APP, é neste instrumento legal que estão as informa-


ções necessárias.

Saiba Mais
Entenda o que são as APPs: Leia os artigos 3º e 4º do Código Florestal

Tem-se, também, como fontes do direito ambiental, algumas normas


elaboradas internacionalmente.
De uma forma geral, aceitam-se como fontes de obrigações interna-
cionais, no Direito Internacional do Meio Ambiente, as normas jurídicas
enunciadas no art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça (CIJ):
a) as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que esta-
beleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;
b) o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita
como sendo o direito;
c) Os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas;
d) Sob reserva da disposição do art. 59*, as decisões judiciárias e a
doutrina dos juristas mais qualificados das diferentes nações,
como meio auxiliar para a determinação de direito. (A decisão da
Corte só será obrigatória para as partes litigantes e a respeito do
caso em questão).
Ainda dentro desta lista devem figurar: a) as declarações unilaterais dos Esta-
dos; b) As decisões tomadas pelas organizações internacionais intergovernamentais;
Segundo Furlan & Fracalossi (2010), os tratados representam o acordo de
vontades formado entre duas ou mais pessoas de Direito Público Internacional.

Saiba Mais
Os Tratados Internacionais podem ser assim nomeados:
Convenção: cria normas gerais, principalmente no âmbito dos direitos humanos;
Convênios: normalmente referem-se a assuntos culturais ou de transporte;

– 63 –

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Acordos: costumam se referir a temas financeiros, comerciais e culturais;


Pactos: designam a ata de uma conferência, à qual os interessados aderem
e podem ou não resultar na assinatura de tratado, ou mesmo de um tratado
suplementar a outro já celebrado.

Há quatro etapas para que determinado Tratado Internacional seja recep-


cionado pela legislação brasileira:
1. A formação dos atos internacionais: é ato de responsabilidade do Presi-
dente da República para estabelecer relações com outros Estados (art. 21, I da
CF/88), e para celebrar tratados (art. 84, VIII, da CF/88);
2. A aprovação pelo Poder Legislativo: que se dá por meio de Decreto legis-
lativo (Art. 49 da CF/88) – não são possíveis emendas ao texto;
3. A promulgação pelo Poder Executivo;
4. Os controles de constitucionalidade e legalidade realizado pelo Poder
Judiciário.
Interessante, não? Podemos ter, assim, tanto normas nacionais, quanto nor-
mas internacionais interagindo para proteger o meio ambientel

Resumindo
Ao final deste capítulo, percebe-se que o meio ambiente pode ser visto pelas
mais diversas óticas. Ele pode ser compreendido como um mero bem, e aí o
analisamos sob a ótica do recurso natural. Se agregamos a variável humana, inte-
ragindo com ele, temos o conceito de meio ambiente.
Por força desta interação homem-natureza, temos que o meio ambiente
possui quatro aspectos: o natural, o artificial, o do trabalho e o cultural, os quais
podem estar ecologicamente equilibrados ou não.
Caso haja uma alteração adversa das características do meio ambiente, cha-
mamos isso de degradação da qualidade ambiental, e se esta, por exemplo, altera
desfavoravelmente a biota, a caracterizamos como poluição, que pode ser prati-
cada por pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.
E, onde buscamos as informações pertinentes ao que é juridicamente correto ou
os elementos necessários para a elaboração de uma lei? Nas fontes de direito ambiental.

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5
O direito dos povos
indígenas, das populações
tradicionais e as
questões étnico-raciais

Nesse capitulo, trataremos a legislação aplicada ao Direito


Ambiental no que se refere ao elemento antrópico – relativo ao
homem, à presença do homem. Ao contrário do que em todos os
demais capítulos, veremos como as condições próprias dos diversos
habitats influem na vida das sociedades, trazendo elementos que
devem provocar o questionamento sobre o juízo que temos sobre
nossos próprios valores.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Objetivos de aprendizagem
22 Compreender a relação entre meio ambiente, populações tradicio-
nais e povos indígenas;
22 Identificar a variável ambiental nas questões étnico-raciais.

5.1 Habitat e Cultura


A satisfação dos instintos mais elementares de todo ser vivo – sobre-
vivência e perpetuação da espécie – exige um nível de adaptação ao meio
ambiente suficiente mínimo a lhe garantir a provisão de alimentos e a segu-
rança contra predadores (Darwin, 2002, p. 95). A fragilidade dos filhotes
de mamíferos ao nascer, de forma geral, exige dessa classe um tempo mais
prolongado de cuidados, principalmente para proteção contra predadores, o
que induziu muitas de suas espécies à formação bandos.

Neo-encéfalo (ou telencéfalo) é a “estrutura nervosa


do embrião a partir do qual se diferenciam os hemis-
férios cerebrais.” (Houaiss, 2008, p. 2008/2687).

Por conta da combinação de características biológicas próprias de sua
espécie – em especial: o desenvolvimento de seu neo-encéfalo (que lhe torna
capaz de assimilar e processar informações); a retração da laringe (que lhe dota
de uma caixa de ressonância capaz de emitir uma grande variedade de sons
e, transmitir as informações processadas), e mesmo a retração dos polegares
nos membros superiores (que lhe beneficia com um movimento de pinça,
possibilitando-lhe a manipulação eficaz de objetos) – o enfrentamento, pelo
ser humano, dos desafios ambientais para sua sobrevivência (como a proteção
contra forças naturais e a luta contra predadores e presas), permitiram-no o
aperfeiçoamento das estratégias de caça e coleta, a criação de instrumentos, a
capacidade de produzir alimentos, etc.
Em termos gerais, o desenvolvimento dessas atividades, em resposta aos
desafios próprios de cada nos mais variados ambientes, estruturam suas dife-

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O direito dos povos indígenas, das populações tradicionais e as questões étnico-raciais

rentes organizações sociais através dos tempos, atribuindo-lhes identidades


características. Como propõe Bronisław Kasper Malinowski (1970), sendo a
coexistência funcional uma condição de existência da raça humana, para além
da criação das aparelhagens necessárias a garantir a conservação biológica, a
necessidade de cooperação induz o ser humano à criação de um ambiente
secundário, artificial, estruturado de acordo com as condições postas pelo
meio ambiente (físico e social) e com as capacidades intelectuais e o nível
de eficiência de cada grupo: determinados valores são reconhecidos por seus
integrantes, e têm suas funções divididas entre si, além de estabelecer regras
de conduta e relações de hierarquia.

Saiba mais
À faculdade humana advinda da linguagem, de se aperfeiçoar, Jean-
-Jacques Rousseau denominou “perfectibilidade”. Segundo sua pro-
posição, ela permanece latente enquanto o meio externo permane-
cesse imutável, efetivando-se como uma capacidade de reação em
função das circunstâncias (ROUSSEAU. 2008, p. 56).

Essas referências integram-se ao comportamento de seus membros na


forma de costumes, valores e crenças que são transmitidos de geração a gera-
ção. A esse conjunto de criações humanas destinado a solucionar problemas
de sobrevivência, chamamos “cultura” (Malinowski, 1970, p. 42-3). Para
Samuel Murgel Branco, em tal conceito, a cultura
caracteriza-se como um fenômeno essencialmente ecológico-social, isto
é, que embora não possua raiz puramente biológica, no sentido genético,
é fruto de uma necessidade ou exigência ambiental e não de iniciativas
espontâneas do ser humano. (Branco, 1985, p 114 – grifamos).

Considerando os elementos e fatores interagentes que configuram as


características de determinada cultura, registrando a percepção de que a “cul-
tura, em seu estado legítimo, não surge como consequência de um processo
finalista, mas sim em consequência de um direcionamento seletivo exercido
pelo próprio ambiente”, Samuel Murgel Branco dá um passo além do clássico
antropológico de Malinowski e caracteriza como poluição “as aquisições cul-
turais provenientes de ambientes com características diversas” (Branco. 1985,
P. 114). Conclui o cientista:

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Não podemos projetar uma cultura – como se existisse um padrão ideal –


para um determinado povo. Esse processo poluidor vem sendo exercido,
entretanto, em nosso continente desde a sua descoberta: primeiramente,
com as missões religiosas que pretendiam impor ao índio costumes e
crenças incompatíveis com seu ambiente ‘selvagem’; mais tarde, com as
pressões do consumismo internacional impondo a adoção de hábitos,
padrões, arquitetura, arte, que nada têm a ver com as necessidades e
exigências impostas pelo meio ambiente tropical (Branco, 1985, p. 115).

5.2 Questões étnico-raciais e ecossistemas


Com suas dimensões continentais, o território brasileiro comporta uma
grande variedade de relevos e zonas climáticas, cujas combinações propiciam
relevantes variações ecológicas. Em 2004, o IBGE, em parceria com o Minis-
tério do Meio Ambiente, publicou o “Mapa de Biomas do Brasil”, reconsti-
tuindo cartograficamente a provável configuração das zonas biogeográficas
na época do descobrimento e apontando as modificações causadas pela ação
humana – antropismo).
A variedade de zonas biogeográficas e climáticas, além da exuberância de
biodiversidade, induziu a formação de um país de uma sociodiversidade ímpar.
No período colonial, explorando as riquezas florestais do litoral brasi-
leiro, os colonizadores lusitanos dizimaram parte da população nativa e, com
outra parte, iniciaram um processo de miscigenação (que caracteriza a forma-
ção do povo brasileiro); depois, as condições propícias para a exploração agrí-
cola deram causa à migração de mão de obra de negros africanos escravizados
pelos colonizadores, principalmente para as regiões Nordeste e Sudeste do País
(compondo o terceiro elemento significativo no processo de miscigenação).
Mas as matizes da complexa composição cultural brasileira ainda não
estavam completas: em meados do século XVIII, o rei de Portugal promoveu
programas de incentivo para portugueses de Açores povoarem as terras meri-
dionais da colônia e, após a independência, durante os séculos XIX e XX,
cenários sociopolíticos e econômicos adversos no Velho Mundo atraíram o
interesse de italianos, japoneses, alemães, poloneses, eslavos, etc., em buscar
novas oportunidades nas Américas, criando no Estado brasileiro políticas de
incentivo à imigração, direcionando esses imigrantes principalmente para a
exploração agrícola das regiões Sul e Sudeste.

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O direito dos povos indígenas, das populações tradicionais e as questões étnico-raciais

Figura 1 - Mapa de biomas do Brasil

BIOMA AMAZÔNIA
BIOMA
CAATINGA

BIOMA CERRADO

BIOMA PANTANAL

BIOMA MATA ATLÂNTICA

BIOMA PAMPA

Fonte: IBGE, 2015.


Por fim, em meados do século XX, a decisão estratégica do Estado brasi-
leiro de povoar as regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, promove um relevante
deslocamento dessas diferentes culturas locais para diversas realidades ecológicas,
criando novas culturas típicas, não apenas a partir da confrontação de perspecti-
vas socioeconômicas com as características peculiares ao Cerrado, ao Pantanal e à
Amazônia, como também do choque com as realidades sociais ali preexistentes.
Essas complexas combinações tão marcantes na “formação do Brasil con-
temporâneo” (para referenciar o grande Caio Prado Júnior, 2011) compõem um
mosaico – ou, melhor, um caleidoscópio – de relações ecológico-sociais forma-
das a partir dos mais diversos referenciais culturais (indígenas, africanos, euro-
peus e até asiáticos), multiplicando novas identidades sociais muito particulares
em face dos diferentes desafios enfrentados pelo tempo nos diversificados cená-
rios naturais – Pantanal; Caatinga; Cerrado; Amazônia; Mata Atlântica; Pampas.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Saiba mais
Você quer aprofundar mais seu conhecimento na formação multicul-
tural brasileira? Confira os livros abaixo: RIBEIRO, Darcy. O Povo
Brasileiro: A formação e o sentido de Brasil.
22 PRADO Jr, Caio. Formação do Brasil contemporâneo.
22 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil.
22 FREYRE, Gilberto. Casa-grande e senzala.
22 FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder.

Como resultado desses processos, a noção de uma “identidade cultural


brasileira” não pode deixar de considerar os marcantes traços que delineiam
sua expressão em pequenas cidades, cidades polos e regiões metropolitanas; em
localidades de um mesmo porte localizadas em diferentes regiões ou em regiões
litorâneas e continentais (mesmo se localizadas em uma mesma região); etc.
É preciso, ainda, considerar, com detida atenção, as diferenças cultu-
rais entre as populações não-urbanas – para as quais as relações com o meio
ambiente natural são ainda mais decisivas na formação dos costumes, tradi-
ções, crenças, etc. Muito distante de uma pressuposta cultura nacional típica
homogênea (tomada a partir de nossos parâmetros urbanos tipicamente euro-
peus), muitas são as configurações culturais existentes – todas antropologica-
mente válidas – como as comunidades tradicionais dos seringueiros, ribeiri-
nhos, varjeiros, quilombolas, faxinalenses, caiçaras, açorianos, quebradeiras
de coco-de-babaçu, sertanejos, jangadeiros, varzanteiros, geraizeiros, dentre
outras tantas.

Você sabia
“Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvol-
vimento (PNUD), as comunidades tradicionais constituem aproxima-
damente 5 milhões de brasileiros e ocupam ¼ do território nacional.

Além de todas as culturas próprias dessas comunidades tradicionais que


compõem esse caleidoscópio da complexa “identidade cultural brasileira”,

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O direito dos povos indígenas, das populações tradicionais e as questões étnico-raciais

exige ainda diferenciada atenção a cultura primeira nessas terras de pau-brasil:


a cultura indígena, tanto aquela das tribos isoladas – ainda salvaguardada de
nossa “poluição cultural” – quanto aquelas já híbridas, que mesmo já tendo
incorporado características da chamada “civilização”, ainda conservam traços
de suas antigas tradições.

5.3 Sociodiversidade e meio ambiente


Ao contrário da percepção distorcida da realidade que nos é comum
(causada pela dominação do modelo urbano de cultura), os usos e costumes
próprios das variadas expressões culturais, que chamaremos aqui de “não-pre-
dominantes”, evidenciam a existência e a influência dessa conexão visceral
entre a vida humana e o meio ambiente. Em seus típicos usos e costumes, nos
sistemas de crenças e valores que lhes são próprios, são nítidas as peculiares
adaptações de cada modus vivendi às específicas condições geoclimáticas e
ecossistêmicas em que se encontram.
Além da relevância para a Antropologia, esses arranjos homem-natureza
próprios de tais culturas “não-predominantes” tornam-se um elemento impor-
tante para as Ciências Ambientais e, por conseguinte, ao Direito Ambiental, na
medida em que antropólogos (como William Balée) e biólogos (como Arturo
Gómez-Pompa) demonstram que nas regiões sob influência desses povos é signi-
ficativamente maior a preservação dos recursos naturais (Diegues, 2000, p. 13).
Em um cenário mundial de celerada degradação ambiental, o atributo sim-
biótico da relação entre essas populações e os ecossistemas em que habitam justi-
fica o entendimento de que a defesa da sociodiversidade se afigura como elemento
essencial para a conservação dos recursos naturais à presente e as futuras gerações.
Por seus processos históricos e condições específicas de pobreza e desigual-
dade, indígenas e comunidades tradicionais acabaram vivendo em isolamento
geográfico e/ou cultural, tendo pouco acesso às políticas públicas de cunho uni-
versal, o que lhes colocou em situação de maior vulnerabilidade socioeconô-
mica, além de serem alvos de discriminação racial, étnica e religiosa (SEPPIR).
Ainda que as comunidades lutem pela preservação de sua identidade, existe uma
grande disparidade de força quando comparadas às pressões do setor madeireiro,
da agricultura moderna, da chamada “fronteira agrícola”, da especulação fundi-

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

ária e imobiliária e das atividades mineradoras. Como se já não bastassem essas


pressões, temos um Estado que implanta políticas públicas ambientais descon-
textualizadas e ineficientes, em prol de um dito desenvolvimento econômico.

5.4 Direito e legislação, povos e


comunidades tradicionais
No plano jurídico, por força da imposição normativa do artigo 215 e do
216, incisos I e II, da Constituição Federal de 1988, a todos esses variados
sociotipos é garantido o “pleno exercício dos direitos culturais” nos respecti-
vos ecossistemas socioeconômicos que lhes dão conteúdo e forma.
Em 1994, por meio do Decreto Legislativo nº 2, o Brasil ratifica a
Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), assinada dois anos antes,
durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvol-
vimento (CNUMAD - Eco-92), que expressa como aspiração não apenas a
conservação da diversidade como também seu uso sustentável e a distribuição
justa e equitativa dos proveitos, recomendando aos países signatários, em seu
artigo 8, que “na medida do possível e conforme o caso”:
j) Em conformidade com sua legislação nacional, respeitar, preser-
var e manter o conhecimento, inovações e práticas das comunidades
locais e populações indígenas com estilo de vida tradicionais relevan-
tes à conservação e à utilização sustentável da diversidade biológica e
incentivar sua mais ampla aplicação com a aprovação e a participação
dos detentores desse conhecimento, inovações e práticas; e encora-
jar a repartição equitativa dos benefícios oriundos da utilização desse
conhecimento, inovações e práticas; (MMA, 2000, p. 12).

Em 2002, por meio do Decreto Legislativo nº 143, o Brasil ratificou a


Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre
Povos Indígenas e Tribais, adotada em Genebra em 1989, em que se com-
promete a “assumir a responsabilidade de desenvolver, com a participação
dos povos interessados, uma ação coordenada e sistemática com vistas a pro-
teger os direitos desses povos e a garantir o respeito pela sua integridade”,
destacando o respeito do Estado na “sua identidade social e cultural, os seus
costumes e tradições, e as suas instituições”. Evidentemente, trata-se de uma
norma de amplo alcance, não se limitando à proteção da etnia indígena, e
englobando também as demais inseridas nas comunidades tradicionais.

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O direito dos povos indígenas, das populações tradicionais e as questões étnico-raciais

Em 2003, com a Medida Provisória n° 111 – convertida na Lei nº


10.678/2003 – foi criada a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial (SEPPIR), como órgão de assessoramento imediato do Pre-
sidente da República para a proteção dos direitos de indivíduos e grupos
raciais e étnicos, com ênfase na população negra, abarcando comunidades
tradicionais de matriz africanas e remanescentes de quilombos (estendendo-
-se ainda aos “povos de origem cigana”).
Em 2004, criou-se a Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentá-
vel das Comunidades Tradicionais, por meio do Decreto de 27 de dezembro
de 2004, que consistia em uma equipe interministerial para articular, propor
ações e acompanhar a execução de políticas para a implementação da Política
Nacional de Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Tradicionais. O
Decreto de 13 de Julho de 2006 altera sua denominação para Comissão
Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tra-
dicionais, ampliando suas competências e a abrangência de sua composição,
estendendo a participação a várias organizações não-governamentais.
Nesse mesmo ano, por meio do Decreto Legislativo nº 22, o Brasil
ratificou a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Ima-
terial da Unesco. A Convenção privilegiou os “conhecimentos tradicionais”,
pactuando aos signatários o compromisso de identificá-los, documentá-los,
e inventariá-los “com o fim último da preservação deste legado para as gera-
ções futuras.” (Abreu, 2014)
Em 2007, é promulgado o Decreto Federal n° 6.040, que instituiu a
Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades
Tradicionais, finalmente definindo-os no inciso I de seu artigo 3º como...
grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais,
que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e
usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodu-
ção cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhe-
cimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição.

No inciso seguinte, define-se especificamente os Territórios Tradicionais


como “espaços necessários a reprodução cultural, social e econômica dos
povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de forma permanente
ou temporária”.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

A política traçada pelo Decreto nº 6.040/2007 tem por base exatamente o


reconhecimento da validade antropológica das variáveis culturais, expresso pela
exigência de respeito e valorização da identidade de cada um desses sociotipos
(suas formas de organização e suas instituições); o reconhecimento da identi-
dade dessas comunidades com os ecossistemas em que se inserem (direitos terri-
toriais e ambientais) e das relações funcionais da cultura – assim considerada em
face do ecossistema – para garantir a sobrevivência dos indivíduos (economia).
Apresentado o panorama geral da legislação vigente, sob a orientação da
perspectiva crítica desenvolvida nos primeiros tópicos desse capítulo, vamos
mostrar a legislação aplicada ao Direito Ambiental nos pontos de sua inter-
seção com o Direito dos sociobiotipos mais evidentes no complexo cenário
nacional, contemplando um grupo de cada uma das três etnias originárias de
nossa formação como povo.

5.4.1 Povos indígenas


Quando os europeus chegaram aqui, no início do século XVI, depa-
raram-se com uma população nativa de biótipo, usos e costumes comple-
tamente diferentes dos seus. Como inexistem registros históricos próprios
desses nativos – pois não desenvolveram a escrita – as estimativas que hoje
se fazem de sua população à época baseiam-se em evidências arqueológicas e
registros imprecisos dos próprios colonizadores; sob estas balizas, as projeções
variam muito: Ángel Rosenblat estimou a população ameríndia em cerca de
1 milhão de pessoas (IBGE, 2007, p. 37); William Denvan a calculou em 6,8
milhões (Denvan, 1976, p. 205). Seja qual for a realidade numérica daqueles
tempos, o fato é que de uma população nativa de tantos milhões, atualmente
este índice mal ultrapassa os 300 mil indivíduos. (IBGE, 2007, p. 37).
A primeira Constituição do Império, promulgada em 1824, não reco-
nheceu a legitimidade da diversidade étnica e cultural brasileira, estabele-
cendo como competência das Assembleias das Províncias a tarefa de pro-
mover a catequese e de agrupar os índios em estabelecimentos coloniais, de
modo a prevalecer uma concepção homogeneidade da sociedade brasileira.
Tribos indígenas vinham sendo extintas pelo contágio de doenças trazi-
das pelos colonos e pelo assassínio deliberado promovidos em vários estados
brasileiros por sua resistência à colonização. No XVI Congresso de America-

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O direito dos povos indígenas, das populações tradicionais e as questões étnico-raciais

nistas, realizado em 1908, na Áustria, o massacre da população indígena foi


denunciado, forçando o Estado brasileiro a propor ações de proteção a essas
populações. Articularam-se então vários intelectuais positivistas, sob a lide-
rança do engenheiro militar Cândido Rondon – a chamada “Comissão Ron-
don”. Publicou-se então o Decreto-Lei n.º 8.072/1910, criando o Serviço de
Proteção ao Índio e Localização de Trabalhadores Nacionais (SPILTN), para
o qual Rondon foi nomeado diretor (Abreu, 2015).

Importante
“Rondon propôs a criação de uma agência indigenista do Estado
tendo por objetivos: estabelecer uma convivência pacífica com os
índios; garantir a sobrevivência física dos povos indígenas; fixar o índio
à terra; fortalecer as iniciativas cívicas e o sentimento indígena de per-
tencer à nação brasileira; influir amistosamente na vida indígena; esti-
mular os índios a adotarem hábitos civilizados; possibilitar o acesso e a
produção de bens econômicos nas terras dos índios; empregar a força
de trabalho indígena no aumento da produtividade agrícola; contribuir
para o povoamento do interior do Brasil” (Lima, 1987).

Como se pode ver claramente, a primeira estrutura estatal destinada a


criar e gerir uma política indigenista oficial, tinha por objetivos tanto a paci-
ficação e proteção dos grupos indígenas quanto o estabelecimento de núcleos
de colonização, ou seja, o objetivo final era “civilizar” a população indígena,
inserindo o índio na sociedade como mão de obra ativa.
Esse assistencialismo estatal etnocêntrico é regulamentado no Código
Civil de 1916 que, em seu artigo 6º, inciso IV, elencava os “silvícolas” entre
as pessoas relativamente capazes, definindo no Parágrafo Único a tutela do
Estado, por lei especial, “que cessará à medida de sua adaptação”. Assim, as
várias populações indígenas, seus territórios e suas diversas culturas passam
a se submeter a uma obrigatória “tutela orfanológica” do Estado, por um
aparato administrativo de uniformidade nacional (Oliveira, 2001, p. 224).
Em 1918, ainda que apenas nominalmente, a ambiguidade funcional da
SPILTN foi corrigida com a edição do Decreto-Lei nº 3.454, que transferiu
ao Serviço de Povoamento do Solo do Ministério da Agricultura, Indústria e

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Comércio a tarefa de “Localização de Trabalhadores Nacionais”, mantendo ao


agora Serviço de Proteção aos Índios (SPI), a tarefa de substituir a catequese indí-
gena da Igreja Católica pela “assistência leiga” do Estado (Oliveira, 1983, p. 18).
A Constituição Federal de 1934, em seu artigo 129, pela primeira vez
reconhecerá o direito à “posse de terras de silvícolas que nelas se achem per-
manentemente localizados”, todavia, vedando a estes o direito de aliená-las.
Em 1939, o Decreto-Lei nº 1.794 cria o Conselho Nacional de Prote-
ção aos Índios (CNPI), formado por “pessoas de ilibada reputação e compro-
vada dedicação à causa da integração dos selvícolas à comunhão brasileira” a
quem competia, por previsão do artigo 5º, o estudo de todas as questões rela-
cionadas “com a assistência e proteção aos selvícolas, seus costumes e línguas”.
Todavia, a pretensão de se estabelecer uma instância de planejamento de
política indigenista não prosperou. Conflitos entre índios e colonos em vários
estados da federação exigiam do SPI um extensivo trabalho de intermediação
para sua pacificação (CPDOC/FGV, 1984).
Pacificados os conflitos, era importante reservar aos índios a posse de ter-
ras necessária à conservação de cada tribo, o que se buscava alcançar por meio
de concessão de terras devolutas, enfrentando forte resistência dos governos
estaduais. “No cômputo geral, o SPI reservou pequenas áreas de terras que
funcionaram mais como reserva de mão de obra indígena do que como estí-
mulo à reprodução do modo de vida tradicional dos índios” (Oliveira, 1998).
Assentadas as comunidades, eram necessárias ações destinadas a atender
as condições sanitárias dos índios. Por fim, visando alcançar os objetivos que
lhe impunham o ordenamento jurídico, o SPI deveria introduzir atividades
educacionais para “ascender” os índios à “civilização” para sua efetiva integra-
ção ao “povo brasileiro” (CPDOC/FGV, 1984). Todo esse estrutural e finan-
ceiramente dispendioso rol de atribuições era contrastado pela severa escassez
de recursos financeiros, o que conduziu o SPI a resultados opostos aos espera-
dos. Denúncias de fome, doenças, assassinatos e escravização eram recorrentes.
A partir da década de 1960, além da evidente ineficiência, surgem acusa-
ções de genocídio e corrupção, resultando suspensões e demissões de mais de
cem funcionários de todos os escalões. (Abreu, 2015; Souza. 1987, p. 149).
Em 1967, é promulgada a Lei nº 5.371 que cria a Fundação Nacional do
Índio (Funai), para, em substituição à SPI, executar as tarefas de tutela dos
povos indígenas pelo Estado (CPDOC/FGV, 1984).

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O direito dos povos indígenas, das populações tradicionais e as questões étnico-raciais

Seis anos depois, os procedimentos a serem seguidos pela Funai são


regulamentados pela Lei nº 6.001/1973. O Estatuto do Índio mantinha o
viés etnocêntrico das legislações que o precederam, repetindo os objetivos de
aculturamento das populações indígenas e mantendo a tutela estatal sobre os
indivíduos dessas sociedades, todavia, representou um avanço em relação à
definição das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
Com o processo de redemocratização, durante a década de 1980, a
“questão indígena” é pela primeira vez trazida à sociedade civil para discussão.
Desses debates, surge na “Constituição Cidadã” de 1988 o mais importante
reconhecimento estatal quanto a pluralidade étnica da cultura brasileira. Seu
artigo 231 e seus parágrafos reconhecem, de forma literal, a validade antro-
pológica da “organização social, costumes, línguas, crenças e tradições” dos
povos indígenas, bem como vocalizam a defesa dos elementos que compõem
a relação ecológico-social da cultura indígena, regulando “os direitos origi-
nários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União
demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.
O artigo 67 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT)
fixou em cinco anos o prazo para o Poder Público promover sua demarcação. De
acordo com o último Censo do
IBGE, em 2010 era de 896,9 mil Figura 2 - Repartição especial das terras
a população indígena no País, dis- indígenas no Brasil
tribuídos em 688 Terras Indígenas
e em algumas áreas urbanas do
território nacional. Há também
82 referências de grupos indíge-
nas não-contatados, dos quais 32
foram confirmados pela Funai. As
demarcações de terras ocupariam
uma área de 114.699.057 hectares
de extensão, aproximadamente
13% dos 851 milhões de hecta-
res que perfazem a totalidade do
território brasileiro – área maior
do que a soma dos territórios da
França e da Inglaterra. Fonte: Embrapa, 2015.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Por meio do Decreto de 22 de março de 2006, o Governo Federal criou


a Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), com o escopo de integrar
as ações estatais de defesa dos direitos indígenas e de promover o paradigma
participativo, estabelecendo as bases para superar definitivamente o seu papel
tutelar. Em atendimento às reivindicações da CNPI, foi instituído um Grupo
de Trabalho Interministerial (GTI) em 2008, reunindo setores do Ministério
do Meio Ambiente, da Funai e representantes da Articulação dos Povos Indí-
genas do Brasil com a finalidade de elaborar uma proposta de Política Nacio-
nal de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI).
Frustrando a demanda das populações indígenas por discussões para a
formulação de nova política indigenista, o Governo Federal editou o Decreto
7.056/2009, modificando unilateralmente a estrutura estatutária da Funai.
As Administrações Executivas Regionais (AERs) e Postos Indígenas (PINs)
foram substituídos por Coordenações Técnicas Locais e Regionais.
Em 2012, é publicado o Decreto nº 7.747, que institui a Política Nacio-
nal de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), cujo
objetivo exposto no artigo inaugural é:
...garantir e promover a proteção, a recuperação, a conservação e o
uso sustentável dos recursos naturais das terras e territórios indíge-
nas, assegurando a integridade do patrimônio indígena, a melhoria da
qualidade de vida e as condições plenas de reprodução física e cultu-
ral das atuais e futuras gerações dos povos indígenas, respeitando sua
autonomia sociocultural ...

A implantação de uma Política Nacional de Gestão Ambiental e Terri-


torial de Terras Indígenas se estrutura, de um lado, pelo empoderamento da
população indígena por meio da participação direta em audiências públicas
e em conselhos, deixando ao Estado sua tradicional postura paternalista; de
outro lado, a atuação governamental sistêmica, transdisciplinar e integrada,
com participação não apenas da Funai, como também dos Ministérios da
Justiça, do Meio Ambiente e de outras instituições públicas, cujas atribuições
perpassem as questões indigenistas e ambientais.
Por meio do Decreto nº 8.593 de 17 de dezembro de 2015, criou-se o
Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI), “órgão colegiado de caráter
consultivo responsável pela elaboração, acompanhamento e implementação de
políticas públicas voltadas aos povos indígenas.” Na tendência de respeito à

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O direito dos povos indígenas, das populações tradicionais e as questões étnico-raciais

identidade cultural dos povos indígenas, limitar a atuação dos maiores interes-
sados nos processos de criação e desenvolvimento de políticas de Estado sobre
a questão indigenista se afigura como um injustificável retrocesso, ecoando a
tradicional perspectiva etnocêntrica de “tutela orfanológica”. Certamente, no
atual estágio de consciência dos povos indígenas, é de se esperar que muitos
serão os movimentos de pleito da regulação de um conselho de caráter delibe-
rativo e autônomo, que deveria há muito ter sido a opção do Estado brasileiro.
Em 18 de dezembro de 2015, foram publicados decretos de homolo-
gação de mais quatro Terras Indígenas no Estado do Amazonas, somando-se
246 mil hectares ao montante demarcado.

5.4.2 Remanescentes de quilombos


Estima-se que um terço de todas as “peças” que circularam no obsceno
mercado de escravos africanos, entre os séculos XVI e XIX, tiveram como
destino as terras brasileiras – algo em torno de quatro milhões de homens,
mulheres e crianças (IBGE, 2007, p. 81). Muitos foram vitimados de doen-
ças ou de inanição mesmo antes de aqui aportarem. Muitos padeceram em
condições subumanas de vida e trabalho. Alguns, nostálgicos da vida livre
que desfrutavam no continente-mãe, suicidaram-se; outros rebelaram-se:
fugiram e, os que não foram recapturados pelos capitães-do-mato, agrupa-
ram-se em comunidades distantes da casa-grande e ali desenvolveram um
estilo próprio de vida.
Os negros fujões, que desafiaram o poder constituído, se autodenomi-
navam kilombos, como os míticos guerreiros de diferentes linhagens que na
África se associavam “num regimento de super-homens invulneráveis às armas
de inimigos” (Joseph Miller apud Munanga, 1995/6, p. 60). Os capitães-do-
-mato os reconheciam por “quilombo”, como no Regimento de Dom Lou-
renço de Almeida, de 1722 (apud GUIMARÃES, 1988, p.131), até que a
coroa portuguesa firmasse definitivamente o termo, definindo-se em Consulta
ao Conselho Ultramarino, em 1740, como “toda habitação de negros fugidos
que passem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos
levantados nem se achem pilões neles” (apud ALMEIDA, 1996, p. 12).
Cedendo à pressão da nova economia industrial do Velho Mundo, o
Brasil inicia seu atrasado processo de libertação dos escravos, culminando

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

na Lei Imperial n.º 3.353, de 13 de Maio de 1888, que declarou extinta


a escravidão. A simbólica Decisão s/n de 14 de dezembro de 1890, do
então ministro Rui Barbosa, de mandar “queimar todos os papeis, livros
de matrícula e documentos relativos à escravidão, existentes nas reparti-
ções do Ministério da Fazenda”, teve o intuito de livrar os cofres públi-
cos da sanha indenizatória dos ex-senhores, e acabou por simbolizar na
história o absoluto abandono do Estado aos escravos libertos. Deixados
à própria sorte, para sobreviverem, ex-escravos ajuntavam-se em grupos
próximos às terras de seus antigos proprietários, próximos as cidades ou
mesmo nas áreas a estas periféricas, estabelecendo naqueles territórios um
modus vivendi próprio.
Apenas – e exatamente – um século depois da Lei Áurea, a sétima Cons-
tituição Federal brasileira registra a primeira referência à cultura dos afrodes-
centes: no artigo 215, § 1º; artigo 216, inciso V, § 5º; e, mais importante,
artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que
finalmente reconhece “aos remanescentes de comunidades de quilombos que
estejam ocupando suas terras [...] a propriedade definitiva, devendo o Estado
emitir-lhes os títulos respectivos”.
Seguindo a tradição do abandono estatal à etnia afrodescendente no
País, passaram-se 15 anos até a regulamentação dos procedimentos para iden-
tificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras
ocupadas por remanescentes das comunidades quilombolas com a publicação
do Decreto n° 4887/2003. Por força do artigo 2° do citado decreto, para fins
dos direitos previstos no artigo 68 do ADCT, consideram-se remanescentes
das comunidades dos quilombos:
...os grupos étnico-raciais, segundo critérios de autoatribuição com
trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas,
com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência
à opressão histórica sofrida.

A resistência à opressão histórica, ao contrário do senso comum, não


se esgota na hipótese dos escravos foragidos que se instalavam em regiões de
difícil acesso aos capitães-do-mato. A regulamentação do artigo 68 do ADCT
equipara em direitos as comunidades rebeldes, aquelas de mesma identidade
étnica formadas por escravos libertos para sobreviverem ao descaso estatal pós
abolição, criando assim, identidades político-sociais próprias.

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O direito dos povos indígenas, das populações tradicionais e as questões étnico-raciais

Nesse balizamento, é o reconhecimento da identidade pelo próprio


grupo como remanescente de uma comunidade quilombola que o legitima a
invocar a tutela estatal garantida pelo citado artigo 68 do ADCT.
Dispõe o artigo 3º, do Decreto nº 4.887/2003, a competência do Minis-
tério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio do Incra, para a delimi-
tação, demarcação e titulação das terras ocupadas por comunidades quilom-
bolas; já seu § 4º estabelece a competência da Fundação Cultural Palmares
para emitir certificado de reconhecimento da autodefinição da comunidade;
por fim, o artigo 19 cria um Comitê Gestor interministerial, para elaborar
plano de desenvolvimento sustentável para tais comunidades, cuja coordena-
ção o § 1º deste artigo atribui à Secretaria Especial de Políticas de Promoção
da Igualdade Racial (SEPPIR) da Presidência da República.
O título que garante a propriedade coletiva da terra à comunidade rema-
nescente de quilombo, por exigência do artigo 17 do Decreto nº 4.887/2003,
é registrado em cartório em nome de uma associação representativa da comu-
nidade, não pode ser dividido, vendido ou penhorado.
Em 2007, de acordo com a SEPPIR, existiam cerca de 2.450 comuni-
dades quilombolas identificadas, abarcando uma população estimada em 2
milhões de pessoas; o Incra estimava que o número de comunidades possa
ser de 3000 e aproximadamente 1300 comunidades registradas; enquanto a
Fundação Cultural Palmares contava com cerca de 750 comunidades cadas-
tradas (MMA. 2007, p. 11). No início de 2015, entretanto, o número de
comunidades quilombolas certificadas já era de quase 2500, segundo dados
da Fundação Cultural Palmares (2015, p. 54).

5.4.3 Faxinalenses
Em situação desfavorável como polo atrativo de imigrantes europeus
– em comparação com Estados Unidos, Canadá e Argentina, o Estado brasi-
leiro precisou praticar uma política ativa de imigração, contratando serviços
de agenciamento (como, por exemplo, no Decreto nº 5.663/1874), compro-
metendo-se a custear despesas com o transporte marítimo a partir da Europa
até o destino final do imigrante em solo brasileiro; hospedagem e alimenta-
ção na primeira semana depois de sua chegada, etc. As correntes imigratórias
eram direcionadas para as lavouras de café em São Paulo e para a colonização

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

da Região Sul do País. Entre 1870 e 1920, momento áureo do largo período
denominado como “grande imigração”, os imigrantes que entraram no Brasil
eram 3,3 milhões de pessoas (IBGE. 2007, p. 161).
O cenário que os imigrantes aqui encontravam costuma ser bem dife-
rente daquela imagem de esperança da propaganda que era divulgada. O
Estado desorganizado não cumpria os compromissos empenhados, dei-
xando os colonos abandonados sem qualquer infraestrutura. Nesse ambiente
desafiador, muitos imigrantes viram na atuação cooperativa o único meio
de subsistir, desenvolvendo um modelo social próprio, marcado por uma
produção agrícola de subsistência, que combina a exploração privada da
propriedade à utilização de áreas comuns de pastagens e de exploração de
recursos naturais.
Uma porção das terras é privativa de cada família, onde constrói sua
habitação, cria pequenos animais e mantém uma agricultura de subsistência,
cujos excedentes são objeto de escambo ou venda; para além dessas divisões
privadas, há uma grande porção de terreno de uso comunal, em que todas as
famílias comungam o direito de explorarem conjunta ou concomitantemente
para a criação de gado bovino/arietino. O uso e/ou exploração dessas áreas
comuns é exercido pelos integrantes daquela comunidade, segundo regras
específicas, consensualmente definidas pelo grupo social, denominadas “acor-
dos comunitários”. Essas comunidades de diferenciada prática agropastoril e,
por conseguinte, de valores culturais e sociais diferentes dos valores comuns
ao meio rural brasileiro, são conhecidas como “faxinalenses”.
É interessante notar que a cultura desenvolvida pelos Faxinais, no exer-
cício de suas atividades agrosilvipastoris, não apenas garantiu a estabilidade
daquelas comunidades em um cenário de adversidades, como ainda tem por
característica uma relação equilibrada com o ecossistema na exploração dos
recursos naturais – tanto que, mesmo estando ali assentados, muito antes do
ordenamento jurídico criar as áreas de preservação, suas atividades tradicio-
nais vêm contribuindo expressivamente para a preservação das Florestas de
Araucária, ecossistema ameaçado de extinção.
Ocorre que, como acontece com outros grupos étnicos e comunidades
tradicionais, é crescente a ameaça de extinção da expressão cultural faxina-
lense, vez que seu modo de produção, pouco rentável, sofre pressão da agri-

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O direito dos povos indígenas, das populações tradicionais e as questões étnico-raciais

cultura comercial circundante; suas técnicas de manejo do gado suíno não se


coaduna com os referenciais ambientais e sanitários da legislação.
Em 1997, o Governo do Paraná editou o Decreto Estadual nº 3.446,
criando as Áreas Especiais de Uso Regulamentado (Aresur), que abrangem
as porções territoriais do Estado caracterizados pela existência do modo de
produção faxinal, com objetivo de conciliar suas práticas típicas agrosilvopas-
toris com a conservação ambiental, preservando seu patrimônio cultural. Os
faxinais são registrados em um cadastro Estadual de Unidades de Conser-
vação (Ceuc), dando aos Municípios em que se localizam o direito a ter os
incentivos da Lei Complementar Estadual nº 59/91, recebendo repartição
de 5% do ICMS (ICMS Ecológico), para investir no desenvolvimento sus-
tentável dessas comunidades.
Em 2007, o Estado do Paraná formaliza o reconhecimento da identi-
dade cultural faxinalense – e a sua relação com o território – por força da Lei
Estadual nº 15.673/2007. Seguindo o modelo constitucional, o diploma
legal estabelece como parâmetro de identidade cultual a automanifestação
dos grupos sociais quanto a sua condição, caracterizada pelo modo de viver
característico, segundo práticas sociais tradicionais, visando assim preservar
sua reprodução física, social e cultural.
Atualmente, segundo a Secretaria de Meio Ambiente do Estado do
Paraná, 28 Faxinais estão dentro de Aresur’s, preservando 16 mil hectares de
floresta nativa.

Resumindo
A exposição até aqui desenvolvida de fatos, leis e decretos nos exige assu-
mir e defender (não obstante tratar-se de evidência subvalorizada – e mesmo
negligenciada – nos estudos sobre o tema) que o meio ambiente é uma vari-
ável importante no estabelecimento e conformação da cultura. Mesmo que o
estágio de desenvolvimento econômico há muito encaminha o senso comum
à valorização da cultura, por suas expressões de sofisticação no que nela se
pode produzir de bens intelectuais, artísticos, tecnológicos, sociais, etc., não
se pode perder de vista sua dimensão “funcional” prioritária de satisfação das
necessidades vitais dos indivíduos que compõem o grupo.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Para ser proficiente a análise das regulamentações e programas, é impres-


cindível não perder de vista que, as peculiaridades ambientais em que se
insere um determinado grupo, constituem um importante elemento forma-
dor de sua cultura; tanto quanto é imprescindível a atenção constante do
analista para compreender e respeitar os valores e referenciais do indivíduo
como parte daquele determinado grupo social (dentre outros tantos abarca-
dos no continental território brasileiro que, mesmo divergentes, detêm sua
legitimidade antropológica), não tomando o analista os – e muito menos
impondo ou avalizando a imposição dos – interesses e valores próprios de sua
identidade cultural.

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6
Direito Ambiental
constitucional

Nesse capítulo, vamos estudar o modo como a nossa Consti-


tuição Federal trata a questão ambiental. Compreenderemos como
se configuraram os preceitos que referenciam nossa lei maior e como
os diferentes dispositivos se harmonizam em um sistema.
Considerando o papel desempenhado pela Carta Magna no
ordenamento jurídico, iremos esboçar os balizamentos constitucio-
nais para todo o sistema de proteção e defesa do meio ambiente
desenvolvido pelos Estados e Municípios, bem como os arranjos
que tornam possíveis as atividades articuladas entre os diferentes
atores em busca de um desenvolvimento econômico, que seja capaz
de garantir a necessária qualidade socioambiental.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Ao longo do curso, queremos fomentar o conhecimento crítico da rea-


lidade, sempre com um contraponto entre o idealismo do formal e as adver-
sidades do mundo real.

Objetivos de aprendizagem:
22 Compreender a competência para legislar na esfera ambiental;
22 Compreender a competência para proteger (fiscalizar) o meio
ambiente;
22 Identificar as competências de cada um dos entes da federação
(União, Estados, Municípios e Distrito Federal).

6.1 Um pouco da história do Direito


Ambiental constitucional
Em 1983, a Assembleia Geral das Nações Unidas, a pedido do United
Nations Environment Programme (Unep), aprovou a Resolução n.º 38/161,
responsável pela criação da World Commission on Environment and Develo-
pment (WCED), que tinha como presidente a então primeira-ministra da
Noruega, Gro Harlem Brundtland. Os resultados da Comissão Brundtland
foram apresentados em relatório
Figura 1 – Crescimento econômico x
oficial da Assembleia Geral da
conservação ambiental
ONU, transmitido pela Resolu-
ção nº 42/186 de 1987, e a publi-
cação de Nosso Futuro Comum,
recepcionado oficialmente pela
Resolução nº 42/187 do mesmo
ano. O relatório tinha o intuito
Fonte: Schutterstock, 2015.

de demonstrar a necessidade e
pressuposta possibilidade de se
conciliar crescimento econômico
e conservação ambiental, divul-
gando um conjunto de premis-
sas, que desde então passaram a
orientar os debates sobre o tema.

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Direito Ambiental constitucional

Importante
O primeiro autor a utilizar o conceito desenvolvimento sustentável
foi Robert Pescott-Allen, em 1980, no livro The World Conservation
Strategy: Living Resource Conservation for Sustainable Development,
nesses termos:
desenvolvimento é aqui definido como: a modificação da bios-
fera e a aplicação de recursos humanos, financeiros, vivos e não-
-vivos para satisfazer as necessidades humanas e melhorar a qua-
lidade de vida humana. Para o desenvolvimento ser sustentável,
deve levar em conta tanto os fatores sociais e ecológicos, quanto
os econômicos; a base de recursos vivos e não-vivos; e as vanta-
gens e desvantagens a curto e longo prazo das ações alternativas
(Allen. 1980, p. 18 – tradução livre).

O relatório trouxe, de forma cristalina, a definição referencial de desen-


volvimento sustentável no campo do Direito Ambiental internacional (Frees-
tone & Chazournes, 2008, p. 225), sendo “aquele que atende às necessidades
do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atende-
rem às suas próprias necessidades” (CMMAD[WCED]. 1991, p. 46).
Por influência de parte combativa do ambientalismo brasileiro, engajado
nas discussões sobre as questões socioambientais relacionadas aos projetos de
desenvolvimento econômico das nações, a Assembleia Nacional Constituinte
de 1987-1988 – não sem enfrentar severa resistência interna – acabaria por
afinar-se com as exigências internacionais de defesa socioambiental, gravando
o tema pela primeira vez no congestionado histórico constitucional do País.

Você sabia
A defesa estatal do ambiente é essencialmente antropocêntrica: a
conservação do equilíbrio ecológico do ambiente é condição de vida
da espécie humana – da presente e, principalmente, das futuras gera-
ções. Na longa história da vida na Terra, em que nós só surgimos nos
últimos segundos do capítulo atual – a natureza já passou por várias
“grandes extinções”, recuperando-se através de longos períodos de

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

tempo, com novas configurações, até alcançar a exuberância. Assim,


não garantir o atual ponto de equilíbrio ecológico planetário não põe
em risco a vida, mas a vida do ser humano no planeta. Defender o
meio ambiente nada mais é que uma atitude de defesa de nosso
próprio bem-estar.

Firmando posição quanto a um esforço nacional em “defesa de nosso


patrimônio natural, cultural, histórico e étnico” como regra para a moder-
nização da sociedade brasileira (Lima, 2008, p. 8, 12), a Constituinte deter-
mina como fundamental o direito difuso ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, trazendo no Título VIII do texto constitucional, que trata Da
Ordem Social, o Capítulo VI, que trata exclusivamente Do Meio Ambiente.
Seu único artigo, 225, confere a todo cidadão a titularidade ativa do
direito subjetivo a um ambiente ecologicamente equilibrado. Assim como o
direito à paz pública, por exemplo, trata-se de um direito indivisível, cuja satis-
fação em relação a um sujeito representa a satisfação de toda a coletividade.

Saiba mais
Se você quer entender um pouco mais sobre o tema da resiliência da
vida na Terra, vale a pena a leitura da obra “Diversidade da vida” de
Edward O. Wilson (Editora Companhia de Bolso, 2012).

É um direito fundamental, mas não está positivado entre os listados no


artigo 5º da CF? Embora não esteja enumerado entre os direitos e garantias
fundamentais do artigo 5º, não é possível cogitar a este preceito constitucio-
nal outra natureza, pois o imperativo de não-interferência no equilíbrio eco-
lógico do meio ambiente pelo Estado ou por particulares é condição essencial
à fruição de uma vida digna.
Ainda que haja apenas um artigo destinado ao meio ambiente, toda a
Constituição de 1988 se apresenta como um sistema lógico em que a defesa
e preservação se estrutura de forma ampla, como nenhum diploma constitu-
cional mundial havia feito até então:

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Direito Ambiental constitucional

22 Ao tratar Da Organização do Estado no Título III, o artigo 20, inciso


II, confere à União Federal a titularidade sobre as áreas de preser-
vação ambiental. Dentre as competências estatais enumeradas no
artigo 23 da Constituição, incluem-se expressamente as de “preser-
var as florestas, a fauna e a flora” e de “proteger o meio ambiente e
combater a poluição em qualquer de suas formas”, conforme incisos
VI e VII, respectivamente.
22 No Título VII, ao tratar Da Ordem Econômica e Financeira, estabe-
lece no artigo 174, inciso V, o dever estatal de, garantindo a livre ini-
ciativa e a valorização do trabalho, assegurar que o respeito do direito
da coletividade à justiça social e à fruição de um meio ambiente
ecologicamente equilibrado (princípio ampliado em 2003 com a
aprovação da Emenda Constitucional nº 42 que, ao promover uma
reforma no Sistema Tributário Nacional, passa a impor tratamento
diferenciado dos empreendimentos conforme impactos ambientais
inerentes às suas atividades). Compondo ainda esse sistema consti-
tucional ambiental, estabelece o artigo 186, inciso II, a “utilização
adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente” como requisito para se considerar cumprida a função
social da propriedade rural.
22 Ao tratar Da Ordem Social no Título VIII, a enumeração pelo
artigo 216 dos bens que constituem o “patrimônio cultural brasi-
leiro” inclui, dentre outros, os sítios de valor ecológico e científico.
O artigo 200, sob esse mesmo título, abarca o ambiente laboral
como meio ambiente para o qual deverá colaborar o sistema único
de saúde para a proteção.

O referencial artigo 225 atribui, tanto ao Poder Público quanto à cole-


tividade, o dever de defendê-lo e preservá-lo – ali parafraseando o conceito
de desenvolvimento sustentável do já citado Relatório Brundtland – “para as
presentes e futuras gerações”.
O caput do artigo já evidencia que a regulação constitucional não se
resume ao aspecto ontológico do direito ao meio ambiente, ou seja, ao que
é o direito ao meio ambiente, comportando também a praxis da defesa e
preservação do bem jurídico tutelado. Disseminados ao longo dos artigos

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

que compõem a Carta Magna, muitas são as disposições que regulam as


competências necessárias a dar efetividade ao dever do Estado e ao poder-
-dever da coletividade.

6.2 Competências constitucionais


Para compreender a competência do Estado no cumprimento do dever
de garantir um meio ambiente ecologicamente equilibrado é necessário,
primeiramente, que se conheça as expressões dessa competência (quanto ao
objeto) e o que delas abarca cada um dos entes que, por força do caput do
artigo 1º da Constituição Federal, forma a República Federativa do Brasil
(Cassila e Fantin. 2013, p. 35)
Quanto ao objeto, temos competências que chamamos de administrati-
vas ou materiais (é a competência de gestão, quem pode gerir, quem pode fis-
calizar, quem vai administrar determinados bens) e competências que deno-
minamos normativas ou legiferantes (quem pode legislar, editar leis).
As competências administrativas e normativas, por sua vez, podem ser
classificas em horizontais e verticais. A horizontal, que, em regra, é indele-
gável, determina a competência reservada especificamente a cada ente, for-
talecendo assim a autonomia de cada um deles. Um exemplo clássico é a
repartição das competências tributárias. A repartição vertical, por sua vez, é a
possibilidade dos entes legislarem sobre a mesma matéria, obviamente, com
a predominância das Leis da União. Temos como exemplo o art. 24 da CF,
conhecido como competência concorrente
Ainda temos a competência comum (também denominada de cumu-
lativa ou paralela), que é “ exercida de forma igualitária por todos os entes
que compõem uma federação, sem exclusão de nenhum”. (Beltrão, 2003,
p. 8). O texto constitucional tratou das competências comuns ambientais
tanto no artigo 23, inserto no título que normatiza a organização do Estado,
quanto no artigo 225, o qual é voltado exclusivamente para a proteção do
meio ambiente. Nota-se que o mencionado artigo 225 trata das incumbên-
cias do “Poder Público”, ou seja, utilizou-se de “expressão genérica [...] para
designar o titular das atribuições ali previstas, o que abrange, naturalmente,
todos os entes federados”. (Beltrão, 2003, p. 10).

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Direito Ambiental constitucional

6.2.1 A Constelação Federativa e suas


competências constitucionais
Com a bancarrota estatal, a partir da crise econômica que se instau-
rou com a Crise do Petróleo, o governo totalitário foi constrangido à pul-
verização do poder de gestão, empurrando obrigações – aos atropelos – ao
poder público local. Com a redemocratização política do País, finalmente
consolidada na Constituição Federal, promulgada em 1988, a indução
fática de obrigações foi minuciosamente disciplinada pela “Constituição
Cidadã” – com tal amplitude que o legislador constituinte não se cons-
trangeu em elencar o Município no rol dos entes da federação já no artigo
1º da Constituição. De fato, a Carta Magna promoveu a renovação do
sistema federativo nacional, tendo na descentralização político-adminis-
trativa uma das características marcantes, pois passa a definir as compe-
tências dos entes da federação, antes reguladas pelo Governo Federal (Di
Pietro, 2004, p. 349).
Em seus artigos 1º e 18º, a Constituição eleva os Municípios ao status
de entes federativos autônomos, sem subordinação frente ao Estado-Mem-
bro ou à União quanto às atribuições que a Constituição lhe confere (Mello,
2004, p. 97), ainda que desprovido de prerrogativas próprias de Unidade
Federativa, como manter Poder Judiciário próprio ou ser representado no
Congresso Nacional.

Importante
“Em síntese, o princípio da predominância do interesse se manifesta
da seguinte forma: na União o interesse é geral e tem competên-
cia em território nacional, estabelecendo normas gerais com patamar
mínimo de proteção; nos Estados-Membros o interesse é regionali-
zado, tendo também sua competência de forma regional, suplemen-
tando a legislação federal de acordo com as peculiaridades regionais,
podendo formular normas que desdobram o conteúdo e os princí-
pios das normas gerais; nos Municípios o interesse é local com uma
competência localizada; e no Distrito Federal o interesse é regional e
local.” (Cassilla e Fantin, 2013, p. 40)

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

O princípio fundamental que orienta a divisão de competências


entre os entes federativos é o da predominância do interesse, cuja aplica-
ção reserva à União a responsabilidade sobre as matérias que demandam
abordagens integradoras, de predominante interesse nacional, estando
enumeradas: as materiais no artigo 21 e as legislativas no artigo 22 da
Constituição. Seguindo o modelo estaduniense, o § 1º do artigo 25 da
Constituição define queaos Estados-Membros competem as matérias de
predominante interesse regional remanescentes àquelas competências enu-
meradas da União. Para a inserção dos Municípios no sistema federativo,
o legislador constituinte adotou um tertium genus, enumerando no artigo
30 competências residuais e concorrentes dos Municípios. Ao Distrito
Federal, para tratar de interesses locais e regionais, o artigo 32, §1º da
Constituição estabelece um sistema híbrido de competências cumulando
as designadas aos Municípios e as remanescentes dos Estados-Membros
(Cassila & Fantin. 2013, p. 40).

Tertium genus: representa o terceiro elemento.



Já as interseções e sobreposições nesse sistema de competências mate-
riais e legislativas são disciplinadas respectivamente pelos artigos 23 e 24 da
Carta Magna, estruturando assim um federalismo de cooperação, que serão
tratados a seguir.

6.2.2 Competências legislativas ambientais


A regra é que todas as entidades políticas têm competência para legislar con-
correntemente sobre o meio ambiente, cabendo à União editar normas gerais,
a serem especificadas pelos estados, Distrito Federal e municípios, de acordo
com o interesse regional e local, respectivamente; entretanto, a legislação
sobre águas, energias, jazidas, minas e outros recursos minerais, bem como
atividades nucleares de qualquer natureza, caberá privativamente à União,
por força do artigo 22, IV, XII e XXVI, da Constituição:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

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Direito Ambiental constitucional

IV – águas [...]
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza.

Para suprir a inexistência de legislação federal sobre matérias de interesse


regional, permite o § 3º do artigo 24 da Constituição que os Estados – e, por
analogia, o Distrito Federal – exerçam competência legislativa substitutiva
plena, com suspensão da eficácia nos pontos em que se identificar incompati-
bilidade com norma geral superveniente editada pela União. Por outro lado,
a competência residual expressa no § 1º do artigo 25 da Constituição garante
aos Estados-Membros o regramento pertinente às peculiaridades regionais a
fim de preencher lacunas deixadas pela norma geral editada pela União, desde
que a esta não seja incompatível.
As competências legislativas ambientais dos Municípios estão elencadas
nos incisos I, II VIII e IX do artigo 30 da Constituição, delimitando os inci-
sos I e II o atendimento às questões ambientais peculiares à sua territoriali-
dade não contempladas por lei federal ou estadual anterior:
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial,
mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocu-
pação do solo urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local,
observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

A competência legislativa ambiental do Distrito Federal, como vale para


as normas em geral, por força do artigo 32, §1º, garante um sistema híbrido,
que contempla o conjunto das prerrogativas dos Estados e Municípios.
Aos Estados-Membros, Municípios e Distrito Federal é ainda reconhe-
cida a competência legislativa ambiental, nos escopos que lhe são previstos
pela Constituição – complementarmente os primeiros e os terceiros à União
e os segundos à União e aos Estados – quando sobre um mesmo tema já
regulamentado, instituam regras que, mais protetivas ao meio ambiente, não
tornem sem efeito, no todo ou em parte, a legislação anterior.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Há, nesse ponto, uma aporia no sistema constitucional que deve ser
levantada: a competência para fiscalizar a exploração de recursos hídricos é
comum da União, Estados e Municípios, segundo dicção do artigo 23, inci-
sos VI e XI, da Constituição; mais além, o inciso I do artigo 26 inclui entre os
bens dos Estados “as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e
em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras
da União”; entretanto, o inciso IV do artigo 22 estabelece competência priva-
tiva da União para legislar sobre águas.
As fronteiras entre as competências legislativas da União, Estados e Muni-
cípios não são nítidas e a atividade legiferante dos entes da federação é conflitu-
osa. Em caso de conflito, três possibilidades devem ser levadas em consideração:
a) pode ocorrer que, mesmo observando os seus campos de atuação,
União e Estados legislem de forma conflitante. Nesse caso, entende-se
que deverá predominar a regra mais restritiva, uma vez que se busca a
satisfação de um interesse público;
b) uma segunda possibilidade consiste na inobservância dos limites
constitucionais impostos ao exercício da competência concorrente. A
invasão de campo de atuação alheio, como já mencionado, implica a
inconstitucionalidade da lei, seja ela federal, seja ela estadual;
c) finalmente, pode ainda o conflito entre leis resultar da impossibilidade
de definir precisamente o que são normas gerais e normas especiais. Tais
conflitos devem ser solucionados tendo por base o princípio in dubio pro
natura, devendo prevalecer a norma que melhor defenda o direito fun-
damental tutelado, ou seja, o meio ambiente (Ferreira. 2007, p. 215).

Em que pese inexistir expressa hierarquia entre os três e, por conse-


guinte, não haver hierarquia entre os diplomas legais por estes emanados, o
modelo federativo atual mantém a tradicional concentração de poderes no
Governo Central. Ainda que o Poder Constituinte tenha se orientado em um
modelo de Estado a se contrapor com aquele ditatorial anterior, as competên-
cias e receitas mantiveram-se orientadas à União. Nesse cenário, ainda que a
lógica exija que na interpretação da validade de uma norma ambiental prime
pela maior acuidade com relação às peculiaridades locais que busca proteger,
a estrutura e a tradição constitucionais impelem os intérpretes a reconhecer
a preponderância do regramento central em detrimento da maior efetividade
da defesa socioambiental, debilitando ainda mais o desequilibrado modelo
brasileiro de federação.

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Direito Ambiental constitucional

6.2.3 Competências materiais ambientais


A competência material é atribuída de forma comum à União, aos Estados
e aos Municípios. A todas as entidades políticas compete proteger o meio
ambiente, sendo esta atribuição administrativa comum, conforme regramento
dos incisos III, VI, VII, IX, X e XI do artigo 23 da Constituição Federal:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios:
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer
de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
IX - promover [...] a melhoria das condições [...] de saneamento básico;
X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização,
promovendo a integração social dos setores desfavorecidos;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pes-
quisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios.

Reservando-se à União Federal, contudo, as competências materiais elen-


cadas nos incisos IX, XVIII, XIX, XX, XXIII, XXIV e XXV de seu artigo 21:
Art. 21. Compete à União:
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do
território e de desenvolvimento econômico e social;
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamida-
des públicas, especialmente as secas e as inundações;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídri-
cos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive
habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza
e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento
e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nuclea-
res e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admi-
tida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;
[...]

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência


de culpa; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade
de garimpagem, em forma associativa.

Assim como não há hierarquia formal entre as leis emanadas pelos dife-
rentes entes da federação, “não há hierarquia na atuação das diferentes admi-
nistrações públicas. A administração pública federal ambiental não está num
plano hierárquico superior ao da administração pública ambiental munici-
pal”. (Machado, 1996, p.170).
Para orquestrar as competências convergentes e coincidentes das três
esferas da administração pública, a Constituição Federal estabelece, no pará-
grafo único do artigo 23, o Princípio da Cooperação entre a União Federal,
Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios “tendo em vista o equilíbrio
do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional”. 
A Constituição de 1988 havia imposto um revés na tendência moder-
nizante iniciada em 1967, cristalizando um modelo administrativo rígido e
direito, marcantemente hierarquizado e centralizador, evidenciando o intuito
constituinte de garantir a continuidade da exploração patrimonialista do
Estado brasileiro (Bresser-Pereira, 2002, p. 175). Inicia-se então um movi-
mento desarticulado de reconfiguração da máquina estatal em busca de um
perfil operacional de empresa privada (com severos planos de austeridade fiscal
e contenção de investimentos e gastos públicos, dentre outras medidas) bali-
zado por objetivos e metas (com controle a posteriori de resultados, em subs-
tituição ao controle weberiano sobre cada etapa do processo administrativo),
passando pela promoção de várias formas de relações com empresas privadas
(como terceirização e parcerias público-privadas) e, por fim, estabelecendo
sistemas de gestão de resultados (voltada ao atendimento das demandas do
contribuinte-cliente em substituição ao viés burocrático autorreferenciado).
Em 1998, a Emenda Constitucional nº 19 promoveu diversas mudan-
ças no sentido de modernizar o aparelho estatal (dentre as quais se destaca a
possibilidade de aumento da autonomia gerencial, orçamentária e financeira
dos órgãos e entidades da administração direta e indireta, mediante contrato,
a ser firmado entre seus administradores e o poder público, que tenha por

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Direito Ambiental constitucional

objeto a fixação de metas de desempenho para o órgão ou entidade). É sinto-


mática a inclusão, no artigo 38 da Constituição, do Princípio da Eficiência:
a administração pública gerencial surge com o propósito de reduzir custos
e aumentar a capacidade de resposta – ainda que a eficácia continue como
objetivo estranho ao rol dos princípios constitucionais do Estado brasileiro.
Em 2000, é publicada a Lei Complementar nº 101, que estabelece normas
de finanças públicas voltadas para a responsabilização do ingestor público
quanto aos desvios de metas de resultados entre receitas e despesas e a obedi-
ência a limites e condições orçamentárias.
A disposição constitucional prevista no parágrafo único do artigo 23 só
foi regulamentada pela Lei Complementar 140/2011 que fixou normas, nos
termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do artigo 23
da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do
exercício da competência material ambiental comum, de modo a atingir os
seguintes objetivos listados no artigo 3º:
I - proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologicamente equi-
librado, promovendo gestão descentralizada, democrática e eficiente;
II - garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com
a proteção do meio ambiente, observando a dignidade da pessoa
humana, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades
sociais e regionais;
III - harmonizar as políticas e ações administrativas para evitar a sobre-
posição de atuação entre os entes federativos, de forma a evitar con-
flitos de atribuições e garantir uma atuação administrativa eficiente;
IV - garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País,
respeitadas as peculiaridades regionais e locais.

A Lei Complementar 140/2011 listou as competências ambientais da


União no seu artigo 7º; as dos Estados no artigo 8º e as dos Municípios no
artigo 9º, valendo ao Distrito Federal o exercício concomitante das compe-
tências estaduais e municipais. E, em seu Capítulo II, regulamentou os ins-
trumentos para o exercício conjunto das competências materiais à proteção
ambiental pelos entes da federação por meio de instrumentos de cooperação
administrativa, como os consórcios públicos, convênios e acordos de coope-
ração técnica, etc., que podem ser firmados por prazo indeterminado.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Como regra geral, seu artigo 5º garante aos entes federados o direito de
delegar a execução de ações administrativas ou mesmo suas atribuições ambien-
tais, por meio da celebração de convênios, desde que o destinatário conte com
um conselho de meio ambiente e com órgão ambiental capacitado e com estru-
tura compatível com a demanda das respectivas ações administrativas.
A promulgação da citada Lei Complementar, treze anos depois da
Constituição Federal entrar em vigor, finalmente traria elementos para que
se concretizasse uma atuação harmônica e de cooperação das três esferas de
governo na proteção do meio ambiente, com a redução dos conflitos negati-
vos e positivos de competências ambientais, especialmente no que concerne
ao licenciamento ambiental, propiciando uma política ambiental uniforme.
Entretanto, a cooperação das entidades políticas na seara ambiental é
mais formal do que efetiva. Disputas políticas e econômicas norteadas, às
vezes, por interesses setoriais alheios ao interesse comum e a constante pre-
ocupação dos gestores públicos em cumprir suas dívidas de campanha, sem
incidir nas iras da Lei de Responsabilidade Fiscal, agravaram o lugar-comum
do conflito entre os diferentes entes no exercício de suas competências mate-
riais concorrentes, especialmente no que concerne ao licenciamento ambien-
tal de atividades lesivas ao meio ambiente.
A ausência de um sistema harmônico de proteção e defesa do meio ambiente
cria um cenário nacional de desperdício dos parcos recursos destinados para ges-
tão das questões socioambientais; uma pluralidade de “autoridades competen-
tes” cujo somatório de ações resulta em uma burocracia ineficiente convergindo,
por fim, em um quadro de degradação socioambiental e insegurança.

6.2.4 Competências Populares


Na virada entre as décadas de 1970 e 1980, com a falência do Regime
Militar em marcha, o planejamento centralizado foi abandonado. Com o
declínio do poder político do regime ditatorial, abriu-se espaço para que seto-
res organizados da sociedade civil pudessem reivindicar a universalização de
direitos sociais e a participação popular na gestão das políticas públicas. A
década de 1980 se inaugura já com a promulgação de diplomas legais que
garantem instrumentos jurídico-institucionais à interação cívica nos proces-
sos de formulação e controle de políticas sociais.

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Direito Ambiental constitucional

Como no movimento oscilatório do pêndulo, quanto maior é o ângulo


total de sua oscilação, mais vigoroso é o movimento do pêndulo à posição
oposta: os referenciais totalitários e de tecnoburocracia exacerbada do posi-
tivismo do Regime Militar, que suplantavam os elementos políticos, foram
abandonados pelo Estado Democrático de Direito em prol de uma estrutu-
ração radicalmente política do planejamento e da gestão, baseada na “crença
no poder quase que mágico da participação popular” (Gohn. 2003, p. 203).
Pelas nuanças de civismo da liberdade que representava a “Nova Repú-
blica”, a Resolução da Assembleia Nacional Constituinte nº 2/1987, em seu
artigo 24, assegurou a apresentação de propostas de emendas ao Projeto de
Constituição por eleitores, em listas organizadas pelo conjunto de, ao menos
três entidades associativas legalmente constituídas, culminando com a conso-
lidação das bases para a participação popular como característica intrínseca ao
Estado Democrático de Direito pela Constituição de 1988, prevendo institutos
de democracia direta como, por exemplo, os plebiscitos, referendos e a inicia-
tiva popular (pelo artigo 14) com a prerrogativa de apresentar projetos de lei
(no âmbito federal pelo § 2º do artigo 61, no âmbito estadual pelo § 4º do
artigo 27, e no âmbito municipal pelo inciso XIII do artigo 29); a previsão de
participação nas políticas públicas de educação (pelo artigo 206, inciso VI), de
saúde (pelo inciso III do artigo 198), de seguridade e de assistência social (res-
pectivamente, pelo artigo 194, inciso VII e pelo artigo 204, inciso II); e dentre
os mais relevantes para o presente estudo: o dever da coletividade de defender
e preservar o meio-ambiente (previsto no caput do artigo 225) e a previsão de
participação popular no planejamento municipal (pelo inciso XII do artigo 29).
Os conselhos se inserem na estrutura administrativa como um instru-
mento mediador entre a população e o Governo, que deve corporificar o
princípio fundamental gravado no parágrafo único do artigo 1º da Consti-
tuição Federal, que garante ao povo o direito do exercício direto do poder,
funcionando como um veículo formal, tanto para trazer ordenadamente ao
planejamento governamental as demandas sociais, quanto para propiciar o
controle social sobre a execução das políticas públicas.
Na primeira proposta apresentada na Assembleia Nacional Constituinte
em 1987 já constava o dever solidário do poder público e da sociedade em
geral de proteger o meio ambiente.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Assim, a recepção do tema ambiental na Carta Magna instalada em


1987 teve quase o caráter de uma revolução, principalmente porque
o abordava não como um conjunto de bens a serem protegidos pelo
poder público ou como recursos disponíveis para a atividade econô-
mica, mas como um direito de cidadania à qualidade de vida, a ser
promovida pela responsabilidade compartilhada do poder público e
de toda a coletividade (Lima, 2008, p. 7).

O artigo 225 impõe à coletividade deveres que, como os direitos fun-


damentais, também são inalienáveis, indisponíveis, etc. A gestão ambiental
deverá envolver todas as esferas de governo e toda a sociedade brasileira. Para
tanto, são previstos assentos para membros da sociedade civil organizada no
Conselho Nacional do Meio Ambiente. O artigo 5º da Constituição, ao dis-
por expressamente Dos Direitos e Garantias Fundamentais, legitima todo e
qualquer cidadão a propor ação popular que vise anular ato lesivo ao meio
ambiente, sem custos e sem risco de ônus em caso de ulterior improcedência
da Ação (salvo em caso de comprovada má-fé).

Resumindo
Nas derradeiras décadas do século XX, a humanidade deparou-se com a
realidade da finitude dos recursos naturais e a incompatibilidade dessa incon-
testável condição com seu desejo de infinito crescimento econômico. A cres-
cente desproporção entre os anseios socioeconômicos da cultura vigente e a
restrita capacidade do planeta em oferecer recursos e assimilar os efeitos cola-
terais das atividades humanas despertou a consciência de que definir e deli-
mitar essas atividades de acordo com os limites naturais representa condição
essencial para a perpetuação da espécie humana. A sustentabilidade tornou-se
um conceito em voga no âmbito das organizações, nos discursos políticos e
na mídia. Atualmente, tudo que se diz e que se espera é ser sustentável. Toda
atividade humana, para ser tomada como politicamente correta, precisa osten-
tar – ou ao menos aparentar – adequar-se à ideia do respeito ao patrimônio
socioambiental da comunidade global.
Ocorre que esse indicador de evolução da cultura contemporânea pode
esconder – e de fato esconde – perigosas armadilhas. Muitos críticos susci-
tam dúvidas – e com razão – quanto ao que há de efetividade no discurso
institucionalizado da sustentabilidade. A definição do conceito é vaga e a
maciça divulgação de interpretações superficiais, ineptas ou mesmo pernicio-

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Direito Ambiental constitucional

sas contribuem para reduzir a um modismo inócuo essa exigência imposta


à subsistência da raça humana. De fato, muito do que se atribui o rótulo
de sustentável não passa de um manejo irresponsável – e frequentemente
inescrupuloso – do conceito. Discursos políticos e gerenciais de tom verde,
na maioria dos casos não ultrapassam o que hoje se costuma chamar de Gre-
enwash: “apresentação inexistente ou inadequada de benefícios ambientais ou
socioambientais apresentados por [políticas públicas], empresas, serviços ou
produtos” (Ruschel, 2010, p. 14). Discursos institucionais públicos e priva-
dos divulgam em toda ocasião – replicando à exaustão – eventuais ganhos ou
vantagens socioambientais (muitas vezes sem qualquer validação empírica),
ocultando malefícios reais subjacentes. Nessa onda de políticas verdes, inicia-
tivas verdes, produtos verdes, serviços verdes e instituições e cidadãos verdes,
o que há de efetiva responsabilidade socioambiental?

O Dicionário Oxford define Greenwashing como a “desin-


formação disseminada por uma organização a fim de
apresentar uma imagem pública de responsabilidade [socio]
ambiental.” O termo é um portmanteau criado com a
substituição de white por green no verbo whitewash (O
substantivo whitewash designa a solução de cal e água
usada para pintar paredes; em sentido figurado, é verbo
que expressa a ocultação deliberada de erros ou falhas de
alguém a fim de limpar seu nome). Disponível em http://
oxforddictionaries.com/definition. Acesso em jun/2011.

A Constituição Federal vigente apresenta-se como um referencial otimi-
zado do que deveria ser – mas não é – o Estado brasileiro. A definição que
traz em seu artigo 7º sobre o salário mínimo, por exemplo, é um indicador
da distância amazônica que guarda a Carta Magna da realidade nacional;
assim podemos dizer que, da mesma forma, infelizmente podemos deduzir
ser também o caso de previsões como parágrafo único do artigo 1º, onde se
entoa o mantra que todo o poder emana do povo, que o exerce diretamente ou
por meio de representantes eleitos ou, finalmente, a máxima do artigo 225,
que atribui ao Poder Público, junto à coletividade, garantir ao povo o direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

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7
A Política Nacional
do Meio Ambiente

De acordo com Antunes (2012) o Brasil vem buscando,


desde a década de 70, articular uma política voltada à defesa do
meio ambiente que envolva todos os entes federativos. A parti-
cipação do Brasil na Conferência de Estocolmo, na década de
70 e em todas as demais conferências da organização das nações
unidas (ONU), mostra a tentativa e a evolução do nosso País em
matéria ambiental.
Internamente, em 1973 foi criada a secretaria especial do meio
ambiente, até em 1981, na aprovação da Política Nacional do Meio
Ambiente (PNMA), que estabelece medidas de gestão a serem
efetuadas pela administração pública, bem como define o arranjo
institucional entre os diferentes órgãos públicos encarregados da
defesa ambiental, que é conhecido como sistema nacional do meio
ambiente (ANTUNES, 2012).

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Objetivos de aprendizagem:
22 Identificar o conceito de Desenvolvimento Sustentável;
22 Analisar os principais instrumentos de gestão ambiental;
22 Compreender os princípios que regem a legislação aplicada ao
Direito Ambiental.
22 Compreender a responsabilidade civil ambiental.
A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) é regulada pela Lei
nº 6.938/1981, que também criou instrumentos de gestão ambiental com
órgãos de controle. O Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama) foi ins-
tituído com o intuito de estabelecer uma rede de agências estaduais, distritais
e municipais de meio ambiente, a fim de atuar nos diversos níveis da federa-
ção. O Sisnama visa à implementação da PNMA, a integração e coordenação
entre todos os entes do sistema visto a complexidade da sua configuração, a
desigualdade técnica, científica, política, estrutural e até mesmo econômica
entre os integrantes do sistema.
O art. 2° da PNMA apresenta a preservação, a melhoria e recuperação
ambiental necessária à vida, pois objetiva assegurar ao País condições para o
desenvolvimento econômico, aos interesses da segurança nacional e a prote-
ção da dignidade humana. A PNMA é implementada por meio dos princí-
pios de direito ambiental, estabelecidos pela CF/88, pela legislação infracons-
titucional e que serão apresentados a seguir.

7.1 Princípios de Direito Ambiental


O Direito Ambiental é regido por princípios, que são normas jurídi-
cas que fundamentam o sistema jurídico com alta abstração, generalidade e
indeterminação nas regras. Os princípios não regulam fatos de forma direta,
e necessitam de ferramentas intermediárias (leis) para a aplicação no caso em
concreto. No Direito Ambiental, eles devem ser analisados conjuntamente
com os demais princípios do Direito, para melhor aplicação no caso concreto.
Tendo em vista todo o caráter e abstração necessária para a compreensão
dos princípios, os mais importantes para o Direito Ambiental serão apresen-
tados no Quadro 1.

– 104 –

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A Política Nacional do Meio Ambiente

Quadro 1 – Princípios ambientais.


O princípio aplica-se ao risco conhecido, interpretado como aquele
que é identificado por meio de pesquisas e informações ambientais ou
conhecido porque já ocorreu anteriormente.
Prevenção É preciso que o ente ambiental faça o poluidor reduzir ou eliminar os
danos ambientais, pois estes normalmente são irreversíveis em espé-
cie. Este princípio trabalha com o risco certo, pois já há base cientí-
fica, uma vez que o empreendimento é amplamente conhecido.
Esse princípio aplica-se ao risco ou perigo em abstrato, desconhe-
cido, decorrente da ausência de informações ou pesquisas cientí-
ficas conclusivas sobre a potencialidade e os efeitos de uma inter-
Precaução venção no meio ambiente. Tem-se aqui a incerteza científica, a
incerteza sobre os efeitos do dano potencial. Adota a premissa in
dubio pro ambiente. (indubio pro natura). Há risco incerto ou
duvidoso.
Este princípio decorre de uma ponderação que deverá ser feita
casuisticamente entre o direito fundamental ao desenvolvimento
econômico e o direito à preservação ambiental. O princípio do
Desenvol- desenvolvimento sustentável atende as necessidades do presente
vimento sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atende-
sustentável rem as suas próprias necessidades. Aplica-se aos recursos naturais
renováveis, pois, por meio do desenvolvimento sustentável, per-
mite o desenvolvimento das atividades econômicas com proteção
ao meio ambiente
Poluidor-paga-
dor – também Deve o poluidor responder pelos custos sociais da degradação cau-
conhecido sada por sua atividade impactante, devendo-se agregar esse valor no
como principio custo produtivo da atividade, para evitar que se privatizem os lucros e
da respon- se socializem os prejuízos.
sabilização
As pessoas que utilizam recursos naturais devem pagar pela sua utiliza-
Usuário- ção, mesmo que não haja poluição, isto é o reconhecimento da neces-
-pagador sidade de valoração econômica dos recursos naturais, com a cobrança
pela utilização do bem, um exemplo do uso da água.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Este principio possui o significado da integração, de agir em con-


junto, desta forma a cooperação pode ocorrer no âmbito internacional
e nacional. Na esfera nacional é a cooperação entre os diversos órgãos
da União, Estados, Municípios, Distrito Federal, tanto do poder Execu-
Cooperação tivo, quanto Legislativo, Judiciário, Ministério Público, todos em prol
entre os povos do meio ambiente. Na esfera internacional, o princípio age de maneira
semelhante, visto que o meio ambiente não conhece fronteiras políticas,
sendo a terra um grande ecossistema, a única forma de preservá-la é a
cooperação entre as nações, mormente por meio dos tratados internacio-
nais, para se ter uma tutela global ambiental.
As atuais gerações devem preservar o meio ambiente e adotar políticas
Principio da ambientais para a presente e as futuras gerações, não podendo utilizar
Participação os recursos ambientais de maneira irracional que prive seus descenden-
tes do seu desfrute.
Natureza
pública da É dever irrenunciável do Poder Público e da coletividade promover
a proteção do meio ambiente, por ser bem difuso, indispensável à
proteção vida humana sadia.
ambiental
As pessoas têm o direito de participar da formação da decisão ambien-
Participação tal, existindo vários instrumentos nesse sentido, como a audiência
pública no EIA-Rima.
comunitária
ou principio É direito da população receber e ter acesso às informações sobre todos
da informação os procedimentos, públicos ou privados, que intervenham no meio
ambiente. Assim, a população tem o direito de ser informada sobre a
ambiental qualidade dos bens ambientais, sobre a realização de obras e atividades
efetiva e potencialmente poluidoras etc
Um dos requisitos para que a propriedade rural alcance a sua função social é
o respeito à legislação ambiental (artigo 186, II, da CRFB/1988), bem como
a propriedade urbana, pois o plano diretor deverá necessariamente conside-
Função socio- rar a preservação ambiental, a exemplo da instituição de áreas verdes.
ambiental da O uso da propriedade, urbana ou rural, somente se legitima com o cum-
propriedade primento da função sócio-ambiental. Os critérios para o cumprimento
da função social da propriedade urbana encontram-se nos planos dire-
tores (art. 182, § 2.°) e da função social da propriedade rural no art. 186
da Constituição Federal.
Protetor- É necessária a criação de benefícios em favor daqueles que protegem o
-recebedor meio ambiente com o desiderato de fomentar e premiar essas iniciativas.

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A Política Nacional do Meio Ambiente

Vedação ao
É defeso o recuo dos patamares legais de proteção ambiental, salvo
retrocesso
temporariamente em situações calamitosas.
ecológico
Respon-
Todas as nações são responsáveis pelo controle da poluição e a busca
sabilidade
da sustentabilidade, mas os países mais poluidores deverão adotar as
comum, mas
medidas mais drásticas.
diferenciada
Gestão
As competências ambientais são repartidas por todos os entes federati-
ambiental des-
vos, que deverão cooperar harmonicamente na sua eficiente realização,
centralizada,
contando com o apoio da sociedade, que deverá participar ativamente
democrática
da gestão ambiental.
e eficiente
A dignidade da pessoa humana é um valor supremo que atrai o con-
teúdo de todos os direitos fundamentais do homem, desde o direito à
vida. O conceito de dignidade da pessoa humana obriga a uma densi-
ficação valorativa que tenha em conta o seu amplo sentido normativo-
Dignidade
-constitucional, não uma qualquer ideia apriorística do homem, não
da pessoa
podendo se reduzir o sentido da dignidade humana à defesa dos direi-
humana
tos pessoais tradicionais, esquecendo-a nos casos de direitos sociais,
ou invocá-la para construir “teoria do núcleo da personalidade” indi-
vidual, ignorando-a quando se trate de garantir as bases da existência
humana. Awad,2006
Fonte: adaptado de Amado (2014), Antunes (2012) e Awad (2006 pg.1).

7.2 Estudos ambientais


Os estudos ambientais possuem os objetivos de avaliar as repercussões
ambientais de empreendimentos e de atividades no meio ambiente, pode ser
realizada antes, durante ou após a implantação ou encerramento do empre-
endimento ou das atividades, para isto, é necessário a avaliação de impacto
ambiental (AIA). De acordo com a Política Nacional de Meio Ambiente, art.
9°, III, da Lei nº 6938/81, a autoridade ambiental possui competência para
definir quais atividades devem ser submetidas à avaliação de impactos ambien-
tais. A Resolução Conama 1/86 apresenta um rol exemplificativo de atividades
sujeitas a apresentação e aprovação do estudo de impacto ambiental EIA.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

A avaliação de impacto ambiental se divide em avaliação prévia:


I. Relatório ambiental preliminar;
II. Relatório ambiental simplificado;
III. Estudo de impacto ambiental;
IV. Licença ambiental;
V. Autorização ambiental;
VI. Avaliação ambiental estratégica.
Avaliação de impacto ambiental de operação e de encerramento são com-
postas pelas atividades de monitoramento ambiental e auditoria ambiental.
Estas diferentes modalidades de avaliação de impactos subsidiam e for-
necem informações ambientais em tal nível de qualidade que permite autori-
zar a construção e o funcionamento de empreendimentos, bem como mitigar
os impactos sobre o meio ambiente.

7.3 Instrumentos de gestão ambiental


Os instrumentos de gestão ambiental presentes na PNMA são elencados
no art. 9° da Lei nº 6938/1981, são eles:
I. Padrões de qualidade ambiental;
II. Zoneamento ambiental;
III. Avaliação dos impactos ambientais;
IV. Licenciamento ambiental;
V. Incentivos tecnológicos voltados para a proteção do meio
ambiente;
VI. Criação de espaços territoriais protegidos;
VII. Sistema nacional de informações ambientais;
VIII. Cadastro técnico federal;
IX. Penalidades disciplinares e compensatórias.

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A Política Nacional do Meio Ambiente

A Lei nº 11.284/2006 introduziu outros instrumentos, como a conces-


são e a servidão florestal.

Importante
De acordo com Antunes (2012, pg.60 e 61), se entendermos a PNMA
como norma de gestão ambiental, ela é calcada nos seguintes aspectos:
Aspecto institucional
i. Definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa
a qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interes-
ses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios
e dos Municípios;
ii. A imposição ao poluidor pagador e ao predador, da obriga-
ção de recuperar e indenizar os danos causados, e ao usuá-
rio de contribuição pela utilização de recursos ambientais com
fins econômicos;
iii. Sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
iv. Cadastro técnico federal de atividades e instrumento de defesa
ambiental
v. Cadastro técnico federal de atividades potencialmente poluidoras
e, ou utilizadoras dos recursos ambientais;
vi. Instituição do relatório de qualidade do meio ambiente, a ser
divulgado anualmente pelo Ibama;
vii. Garantia da prestação de informações relativas ao meio ambiente,
obrigando-se o poder publico a produzi-las, quando inexistentes.

Aspecto econômico
i. Compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a pre-
servação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
ii. Incentivos a produção e instalação de equipamentos e a criação
ou absorção de tecnologia voltados para a melhoria da quali-
dade ambiental.
iii. Aspecto gerencial
iv. A difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, a divul-
gação de dados e informações ambientais e a formação de ma
consciência publica sobre a necessidade de preservação da qua-
lidade ambiental e do equilíbrio ecológico.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Aspecto Ecológico
i. O estabelecimento de critérios e padrões da qualidade ambiental
e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;
ii. O estabelecimento de pesquisas e de tecnologias nacionais
orientadas para o uso racional dos recursos ambientais
iii. A preservação e a restauração dos recursos ambientais com
vistas a sua utilização racional e a disponibilidade permanente
concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico pro-
pício a vida.
Aspecto territorial
i. Zoneamento ambiental;
ii. Criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo
poder publico federal, estadual, distrital e municipal, tais como
áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e
reservas extrativistas.
Aspecto de controle
i. Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
ii. Avaliação de impactos ambientais;
iii. Licenciamento e revisão de atividade efetiva ou potencialmente
poluidora;
iv. Penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento
das medidas necessárias a preservação ou correção da degrada-
ção ambiental.

7.4 Sistema Nacional do Meio


Ambiente – Sisnama
O Sisnama está previsto no art. 6° da PNMA, Lei nº 6.938/1981, e é
composto por órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal,
dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo
Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental,
com atribuições especificas mostrada na Tabela 1, sendo:

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A Política Nacional do Meio Ambiente

Tabela 1 – Principais órgãos de gestão ambiental previstos na Lei nº 6938/1981.


Órgão superior Conselho de Governo art.6°, I
Órgão consultivo
Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama, art. 6°, II
e deliberativo
Ministério do Meio Ambiente – MMA (antiga secretaria do
Órgão central
meio ambiente da presidência da república), art. 6 art III
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Órgão executor Renováveis – Ibama – Instituto Chico Mendes – ICMBIO,
art 6°, IV
Órgãos da Administração Pública Estadual voltados para a
Órgãos seccionais
proteção ambiental, art 6°, V
Órgãos da Administração Pública Municipal voltados para a
Órgãos locais
proteção ambiental, art 6°, VI

7.5 Conselho Nacional do Meio


Ambiente – Conama
O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de acordo com
o art. 6°, II da Lei nº 6.938/1981, é o órgão consultivo e deliberativo do
Sisnama e possui a finalidade de assessorar, estudar e propor ao conselho do
Governo as diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os
recursos naturais. Cabe a ele, ainda, deliberar, dentro de sua competência,
sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente
equilibrado. A composição do Conama é regulada pelo decreto 99.274/1990.
As principais atribuições deste conselho são:
I. Estabelecer padrões de controle e manutenção da qualidade
do ambiente;
II. Determinar e apreciar o Estudo de Impacto Ambiental (EIA)
e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima);
III. Estabelecer normas e padrões nacionais de controle da polui-
ção por veículos automotores, aviões e embarcações.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Você Sabia
As competências do Conama estão previstas no art.8 da Lei nº 6938/1981,
disponível no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm
O plenário do Conama é composto por representantes da sociedade
e do governo. Seu conselho possui regimento interno, disponível em:
http://www.mma.gov.br/port/conama/estr.cfm

7.6 Servidão ambiental


A servidão ambiental foi inserida no ordenamento jurídico brasileiro
por meio da Lei nº 11.284/2006, que modificou a redação do artigo 9°
da Lei nº 6.938/1981. Posteriormente, a redação da Lei nº 6.938/1981 e
nº11.284/2006 foram alteradas pela Lei nº 12.651/2012 (novo código flo-
restal), que inseriu também os artigos 9º-B e 9º-C, sendo espécie de servidão
administrativa, com natureza de direito real sobre coisa alheia, devendo, des-
tarte, ser registrada imobiliariamente, em que o proprietário (pessoa física ou
jurídica) renuncia de maneira permanente ou temporária, total ou parcial-
mente, ao uso, exploração e supressão dos recursos naturais do prédio rústico.
A Lei nº 11.284/2006 inseriu novos instrumentos econômicos para o Direito
Ambiental, como a concessão florestal, a servidão ambiental, o seguro ambiental e
outros, o que denota se tratar de uma lista enumerativa e não exaustiva. Segundo
Amado (2014), a instituição de instrumentos econômicos em prol do meio
ambiente vem crescendo no mundo, ao lado da tradicional regulação estatal direta.
A servidão ambiental deverá ser averbada no Cartório de Registro de
Imóveis, após a instituição por meio de instrumento público ou particular
ou por termo administrativo firmado perante órgão integrante do Sisnama.
Estas possuem prazos mínimos de 15 anos para novas instituições após a
vigência do novo Código Florestal, visto que a legislação anterior não previa
esta carência, lapso temporal mínimo.
Em reserva legal ou áreas de preservação permanente é proibida a insti-
tuição de servidão ambiental, visto a existência de um regime especial de pro-
teção para estes espaços, desta maneira, conforme Amado (2014), destina-se
à servidão a área de uso alternativo do solo.

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A Política Nacional do Meio Ambiente

O regime mínimo de proteção deve ser, ao menos, o mesmo da reserva


legal, o que implica a proibição de supressão vegetal, salvo sob a forma de
manejo sustentável.
Durante a vigência da servidão ambiental, é proibida a alteração da des-
tinação da área, mesmo quando ocorre a transmissão, incorporação, desmem-
bramento ou retificação dos limites da propriedade a qualquer titulo.
A transmissão dos direitos proprietários incluindo a cessão e a alienação
poderá ser em favor de terceiro, incluindo entidade pública ou privada, que
possua a conservação ambiental com finalidade social e a servidão ambiental
deverá constar na matrícula do imóvel.
Poderá a servidão ambiental ser gratuita ou onerosa, tendo o objetivo de
limitar o uso de toda a propriedade ou de parte dela para preservar, conservar
ou recuperar os recursos ambientais existentes.
Existe interesse econômico de um proprietário imobiliário de instituir
servidão onerosa no seu imóvel para favorecer terceiro (detentor da servidão)
para que este compense a reserva legal no seu imóvel rural que não possua os
percentuais mínimos.

Instrumentos econômicos em prol do meio


ambiente: medidas estatais que interferem na
ordem econômica visando estimular condu-
tas favoráveis à redução da poluição ou que bus-
cam inibir posturas lesivas ao meio ambiente.

Você Sabia
A servidão florestal, espécie de servidão ambiental, era prevista no
artigo 44-A, da Lei 4.771/1965 (antigo CFlo), tendo sido inserida
por meio da MP 2.166-67/2001.12 Contudo, com o advento do
novo Código Florestal, a servidão florestal foi extinta e substituída
pela servidão ambiental, que já existia, mas que teve o regime jurídico
alterado pela Lei nº 12.651/2012.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

7.7 Responsabilidade ambiental


A responsabilidade é um dos institutos jurídicos fundamentais e consiste
no fato de responder por algum dano causado a outrem, isto é, ser responsável
juridicamente. No direito moderno há três fontes legítimas de responsabili-
dade que são:
I. Ato Ilícito;
II. Contrato; e
III. Lei.
A moderna noção de responsabilidade separa as esferas administrativa,
civil e penal em função do padrão de conduta do agente e do objeto jurídico
tutelado (ANTUNES, 2012). Na CF/88, foi inserido um capítulo voltado à
proteção do meio ambiente, considerado um marco histórico a fim de definir
os contornos jurídicos básicos – preliminares da tutela ambiental. O art. 225
em especial o parágrafo 3° determina que:
As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais
e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos. (BRASIL. Constituição da República Federativa, 1988)

Com base na constituição, é possível extrair que a responsabilidade por


danos e lesões ao meio ambiente é ampla e aplicável tanto a pessoas físicas
quanto a pessoas jurídicas. No prosseguimento do texto, pode-se concluir
que a responsabilidade pode ser penal, administrativa e civil. Em matéria
ambiental, tendo em vista a importância e a magnitude para a população,
direito difuso – coletivo, a última parte do art. 225 §3°, no trecho “(...) inde-
pendentemente da obrigação de reparar os dano.” (ANTUNES, 2012). A previ-
são da aplicação da responsabilidade civil em matéria ambiental é objetiva e
foi, essa é anterior a CF/88, introduzida no ordenamento jurídico brasileiro
pela Lei nº 6.938/1.981 – PNMA em seu art. 14§1°, transcrito a seguir:
Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o
poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a
indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a tercei-
ros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos
Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e
criminal, por danos causados ao meio ambiente. (ANTUNES, 2012)

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A Política Nacional do Meio Ambiente

Já as demais responsabilidades, administrativa e penal, são reguladas pela Lei


nº 9.605/1.998, que tipifica as condutas penal, estabelece as penas e regulamentas
as sanções administrativas. Com o advento do Código Civil de 2002, foi inserida
no ordenamento a responsabilização do causador do ato ilícito, independente-
mente de culpa, denominada de responsabilidade objetiva prevista no art. 927
do CC, desde que esse ato implique, por natureza, um risco ao direito do outro.
A responsabilidade ambiental civil objetiva depende apenas da culpa,
não sendo necessária a presença do dolo, é a responsabilidade legal. Para
caracterizá-la, é necessário apenas:
I. Fato;
II. Nexo de causalidade; e
III. Dano.
Esse tipo de responsabilidade é a exceção no direito brasileiro, porém
vem apresentando expansão em especial para as atividades industriais e para
o transporte de massa. Conforme previsto no parágrafo único do art. 927
do CC, a responsabilidade será objetiva sempre que a atividade desenvolvida
importe risco para terceiros.
A ocorrência do dano e a presença do nexo de causalidade são de
extrema importância.
O dano ambiental pode ser definido como uma lesão ao meio ambiente,
decorrente da ação ou atividade de pessoa física ou jurídica, de direito público
ou privado. Essa definição está em consonância com o art. 225 §3° da Cons-
tituição Federal, que estabelece as formas de responsabilidades incidentes em
caso de dano ambiental que pode ser administrativa, civil e penal aplicadas de
maneiras independentes entre si (SILVA, 2004).
Segundo Marchesan et Al (2013 – pg. 212), o dano pode ser dividido
em uma dimensão material e extrapatrimonial. Para os autores, essa dimensão
material do dano tem como objetivo verificar a existência material, os pressu-
postos do fato para o reconhecimento, e possui relação com os requisitos para
a sua reparação (SILVA, 2004).
Milaré (2000) considera dano ecológico puro quando esse incide sobre
o meio ambiente em si, na dimensão exclusivamente individual e inapropri-

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

ável, separado dos interesses individuais relativos. Nesse conceito, o dano ao


meio ambiente é considerado valor jurídico autônomo e não engloba “a lesão
imposta aos bens individuais associados a degradação ambiental” (MAR-
CHESAN et Al, 2013 pg. 213).
Leite (2013) apresenta o seguinte conceito para dano ambiental:
“Dano ambiental deve ser compreendido como toda lesão intole-
rável causada por qualquer ação humana (culposa ou não) ao meio
ambiente, diretamente, como macrobem de interesse da coletividade,
em uma acepção totalizante, e indiretamente, a terceiros, tendo em
vista interesses próprios e individualizáveis e que refletem no macro-
bem. (MARCHESAN et al, 2013)”

Por atingir o meio ambiente, que é bem de uso comum do povo, o dano
ambiental necessita de formas de reparação diversa, não contemplada pelo sis-
tema clássico de reparação do dano. A partir dessa leitura, é possível verificar que
a averiguação do dano é uma tarefa difícil e complexa. A começar pela prova
técnica, que pode envolver uma equipe interdisciplinar, que deverá ser capaz de
apurar todos os impactos envolvidos, considerando os efeitos sinérgicos.

Efeitos Sinérgicos: os efeitos sinérgicos são aqueles


que ocorrem em conjunto e os seus efeitos combinados
são superiores que o efeito de cada um isoladamente

7.7.1 Infrações administrativas


A responsabilidade administrativa em matéria ambiental é fruto do poder
de polícia que está fundamentado no art. 225 §3° da CF/88. Foi regulada pela
Lei nº 9.605/98, quando a União elaborou normal geral sobre infrações admi-
nistrativas utilizando a competência prevista no art. 24, VIII da CF/88. A legis-
lação possui sete artigos sobre esta responsabilidade no capítulo VI – da infra-
ção administrativa – nos art.70 ao 76. A implicação dessa regulação resulta em
imposições de sanções administrativas, que são um dos instrumentos previstos
na Lei nº 6.938/1981 – Política Nacional de Meio Ambiente, art. 9°, IX. Pode
ser interpretada como o mecanismo de fiscalização e controle utilizado pelo

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A Política Nacional do Meio Ambiente

Poder Público contra o particular. Para isso, são fiscalizadas as condutas consi-
deradas como lesivas ao meio ambiente (MACHADO, 2012; SILVA, 2004).
O art. 70, caput inicia delimitando o que é infração administrativa.
Essa definição é de suma importância, pois considera infração a violação a
qualquer regra jurídica, que deve estar prevista em algum texto publicado
(MACHADO, 2012). Ela pode vir a ser considerada uma lei em branco,
pois a norma não tipifica nem define as infrações. É possível entender como
infração administrativa o não cumprimento a qualquer norma legal ou regu-
lamentadora em matéria ambiental em vigor na União, Estados, ou Municí-
pios, abrangendo a inobservância às exigências técnicas realizadas por autori-
dade competente e constante nas licenças ambientais concedidas pelo poder
competente (SILVA, 2004; MARCHESAN et al, 2013).
O parágrafo 1° nos revela quem são as autoridades competentes para a
fiscalização ambiental, isto é, quem poderá lavrar auto de infração ambiental
e instaurar processo administrativo ambiental. As penalidades impostas por
órgãos vinculados de forma direta ou indireta aos entes estatais são sanções
administrativas e estão ligadas ao poder de polícia (FIORILLO, 2012). As
infrações e sanções administrativas devem seguir aos princípios da adminis-
tração pública e, para isso, necessitam ter previsão em lei, no entanto são
aceitos as especificações em regulamentos. No caso da aplicação de sanções, a
notificação deverá conter a regra jurídica transgredida. As infrações serão apu-
radas respeitando a Constituição Federal e demais leis vigentes (MACHADO,
2012). A lei de crimes ambientais confere alto grau de discricionariedade ao
agente público quanto ao enquadramento das condutas lesivas, em especial
quando se trata das infrações administrativas, de tal forma que é possível
considerar que essa lei ampliou as infrações ambientais de forma genérica
(SILVA, 2004; MARCHESAN et al, 2013).
O parágrafo 2° define quem é competente para dirigir representação
para o exercício do poder de polícia individual. No entanto, estamos tratando
de um direito difuso, trans-individual. Como resultado desse direito de 4ª
geração, Fiorillo (2012) cita que “o poder de polícia está ligado as atividades da
administração pública destinadas a regular prática de atos ou em razão da defesa
de bens de uso comum do povo”, como previsto no art. 225 da CF/88.
O parágrafo 3° legisla sobre a responsabilidade dos órgãos administrati-
vos, seja pertencente a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios. Em

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

caso de omissão, o órgão poderá ser corresponsabilizado. De acordo com Fio-


rillo (2012), a responsabilização ocorre de forma objetiva, visto que estamos
tratando de direito difusos e a administração pública deve defender e preser-
var os bens ambientais da mesma maneira que os particulares são impostos a
fazê-lo, obedecendo de forma análoga ao art. 225 da CF/88.
Por fim, o parágrafo 4° prevê as garantias constitucionais para o processo
administrativo em matéria ambiental, como o direito ao contraditório e a
ampla defesa. Há um cuidado extremo para assegurar esses direito constitu-
cionais aos litigantes, seja no processo administrativo ou no judicial.
O art. 72 da Lei nº 9.605/1998 elenca as espécies de sanções adminis-
trativas que são definidas de acordo com a gravidade, situação econômica e
antecedentes do agente. Para Silva (2004), a infração é uma inobservância de
normas administrativas onde a punição seria aplicação da sanção administra-
tiva e são punidas com:
“I - advertência;
II - multa simples;
III - multa diária;
IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora,
instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natu-
reza utilizados na infração;
V - destruição ou inutilização do produto;
VI - suspensão de venda e fabricação do produto;
VII - embargo de obra ou atividade;
VIII - demolição de obra;
IX - suspensão parcial ou total de atividades;
X – (VETADO)
XI - restritiva de direitos”

A aplicação da sanção administrativa acarreta na abertura do respectivo pro-


cesso administrativo fundado em: auto de infração; representação ou equivalente.
A grande questão, a ser extraída desse artigo, diz respeito à diferenciação entre
a responsabilidade civil ambiental e a responsabilidade administrativa ambiental.
A segunda decorre da ação, de praticar conduta ilícita, isto é, em desacordo com

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A Política Nacional do Meio Ambiente

o ordenamento legal. A primeira nos faz concluir que não é necessário que a con-
duta seja ilícita, basta que da ação ou omissão resulte um dano ambiental.
Dessa forma, é possível concluir que o agente, empresário, poderá ser
responsabilizado no âmbito penal e administrativo mesmo se não praticar
nenhum ilícito penal ou administrativo. Já a responsabilidade civil se aplica
de forma objetiva ao agente, por definição – atribuição legal.

7.7.2 Responsabilidade civil ambiental


No tocante a conduta psicológica do sujeito ativo, a responsabilidade
pode ser objetiva e subjetiva. As duas teorias estão presentes no Código Civil
brasileiro, porém no Direito Ambiental, em decorrência do art. 225 §3° da
CF e do art. 14§1° da PNMN, essa responsabilidade é objetiva. Os danos
causados ao meio ambiente são regidos pela responsabilidade civil objetiva de
forma que não é necessário comprovar o dolo ou a culpabilidade do agente
para reparação do dano. Em linhas gerais, Antunes (2012) cita que a respon-
sabilidade decorrente de danos causados ao meio ambiente, resulta de forma
direta da Constituição, por isso é a responsabilidade legal.
Tenta-se reconhecer na culpa o fundamento mais relevante da responsa-
bilidade. Ela é a violação de um dever jurídico em decorrência de uma con-
duta ou omissão do agente. Pode ser decorrente de três atitudes elementares:
I. Negligência;
II. Imprudência; e
III. Imperícia.
A culpa não é presumida e deve ser demonstrada em cada caso concreto.
A responsabilidade subjetiva é fundada na culpa, por isso também como teo-
ria da culpa. É fundada na conduta do agente, possui três elementos funda-
mentais, que são:
I. Conduta antijurídica comissiva ou omissiva, culposa – por
negligencia, imprudência ou imperícia – ou dolosa do agente,
configurando-se o ato ilícito civil;
II. A ocorrência de uma dano efetivo patrimonial ou extrapatri-
monial; e

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

III. O nexo causal entre a conduta do agente e do dano causado.


Essa teoria visa coibir as ações ou omissões, tem como base o ato ilícito,
isto é, o desvio de conduta. É indispensável o comportamento reprovável
para a caracterização da obrigação de reparar. O principal pressuposto para
a caracterização dessa teoria é a subjetividade do agente causador do dano, a
culpa em sentido amplo é exigida.
Já a teoria objetiva, é denominada também como teoria do risco inte-
gral, legitima a responsabilidade objetiva e a reparação do dano, mesmo que
involuntário. É fundada no risco da atividade ou no fato da coisa. Estabe-
lece a responsabilidade de indenizar independentemente de culpa ou risco do
agente. Pode ser fundada em ato ilícito. Para configurá-la é necessário:
I. A verificação do evento danoso; e
II. Relação de causalidade com o prejuízo por ele demandado.
Embora a responsabilidade objetiva não seja a regra geral do Direito,
apresenta-se cada vez mais frequente e relevante no Direito Moderno, se expan-
dindo principalmente para o ramo do transporte e das atividades industriais.

Culpabilidade: o termo jurídico “culpabilidade” é utili-


zado como pressuposto da lei para atribuição de alguma
responsabilidade, como por exemplo a capacidade mental
de algum indivíduo. Sendo assim utilize a palavra “culpa”.

Resumindo
Neste capítulo, aprendemos sobre os princípios de Direito Ambiental, que
são a sua base e escoram a Política Nacional do Meio Ambiente (PMNA). A
PMNA apresenta os principais órgãos, conselhos do sistema ambiental brasi-
leiro, bem como os instrumentos de gestão ambiental. Também aprendemos
sobre a servidão ambiental que foi incluída recentemente como instrumento de
gestão ambiental e sobre responsabilidade ambiental, a administrativa e a civil.
Com isso você foi capaz de entender a base do Direito Ambiental brasileiro.

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8
EIA/Rima e o
licenciamento ambiental

A avaliação de impacto ambiental tem por objetivo avaliar


as repercussões ambientais de empreendimentos e de atividades no
meio ambiente, pode ser realizada antes, durante ou após a implan-
tação ou encerramento do empreendimento ou das atividades. De
acordo com a Política Nacional de Meio Ambiente, art. 9°, III, da
Lei nº 6938/81, a autoridade ambiental possui competência para
definir quais atividades devem ser submetidas à avaliação de impac-
tos ambientais. A Resolução CONAMA 1/86 apresenta um rol
exemplificativo de atividades sujeitas a apresentação e aprovação do
estudo de impacto ambiental EIA.
A avaliação de impacto ambiental se divide em avaliação prévia:
I. Relatório ambiental preliminar;
II. Relatório ambiental simplificado;
III. Estudos ambientais;
IV. Estudo de impacto ambiental;
V. Avaliação ambiental estratégica.

Livro_legislacao_aplicada_direito_ambiental (2).indb 121 22/04/2016 16:48:34


Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Avaliação de impacto ambiental de operação e de encerramento que são


compostas pelas atividades de monitoramento ambiental e auditoria ambiental.
Estas diferentes modalidades de avaliação de impactos subsidiam e for-
necem informações ambientais em tal nível de qualidade a ponto de permitir,
autorizar a construção e o funcionamento de empreendimentos, bem como
mitigar os impactos sobre o meio ambiente.
Neste capitulo, iremos estudar os conceitos aplicáveis ao licenciamento am-
biental, os motivos para o licenciamento: impactos, alterações e danos ambientais.

8.1 O EIA /Rima


O Estudo de Impacto Ambiental e o respectivo Relatório de Impacto de
Meio Ambiente é um diagnóstico do empreendimento a ser licenciado pelo
poder público. Nele devem ser confrontadas as diversas hipóteses entre não
fazer o empreendimento e fazer com diversos níveis de impactos, na fauna,
na flora e na sociedade. Ambos possuem o objetivo de evitar que um projeto
viável economicamente não seja executado pelo impacto na fauna, ou na flora
ou na sociedade, visa à busca do equilíbrio do projeto entre o aspecto econô-
mico, ambiental e social.
De acordo com a Constituição Federal/88, no artigo 225,§1°, IV, o
Poder Público pode exigir estudo prévio de impacto ambiental, desde que
previsto em lei. Um item subjetivo da legislação, que pode causar a abertura
de um leque quanto ao entendimento, é o termo “significativa” degradação
ambiental. Na prática, e em alguns casos, o Poder Executivo não exige o
EIA, e por isso acaba sofrendo sansões por decisão do Poder Judiciário ou do
Ministério Público. Isso porque ambos reiteram a obrigação do Poder Execu-
tivo de exigí-lo, conforme abaixo transcrito:
“Art. 225 (...)
§ 1° Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder
público:
(...)
IV – exigir, na forma da lei, para a instalação de obra ou atividade poten-
cialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente,
estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
(...)”

– 122 –

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EIA/Rima e o licenciamento ambiental

O EIA deve ser levado ao conhecimento da sociedade e as cópias devem


estar disponíveis a qualquer interessado, em local de fácil acesso. O empreen-
dedor deverá elaborar uma versão simplificada do EIA, que é o Relatório de
Impacto de Meio Ambiente (RIMA). Para a aprovação do EIA e do RIMA,
deverão ocorrer audiências públicas e, para isso, é necessário ser publicado em
meio de comunicação impresso informando o local e o horário da audiência,
além disso, os dois documentos deverão ficar disponíveis para consulta da
sociedade antes da audiência. A Resolução CONAMA 1/86 apresenta um rol
exemplificativo de atividades e empreendimentos que necessitam da aprova-
ção de EIA/RIMA.
A emissão de qualquer licença de atividade ou empreendimento, com
potencial efetivo de gerar degradação ou poluição ao meio ambiente sem
o estudo prévio de impacto ambiental, é nula de pleno direito, e ao Poder
Judiciário cabe declarar esta nulidade. Já a Administração Pública possui a
discricionariedade de declarar se a atividade ou empreendimento possui ou
não potencial efetivo de gerar degradação ou poluição ao meio ambiente, caso
a Administração Pública entenda que a atividade ou o empreendimento em
questão não possui esse potencial danoso, ela deverá fazer de forma fundada
mediante ato administrativo próprio.
O EIA deve ser produzido por profissionais multidisciplinares, com legi-
timidade jurídica, legitimidade técnica e dentro das normas legais, além de
possuir presunção relativa de veracidade. No entanto, o EIA poderá perder
estas qualidades se forem produzidos outros estudos que contraponham o que
foi exposto. Os profissionais contratados pelo empreendedor deverão compor
uma equipe multidisciplinar, com habilitação técnica, nos respectivos Con-
selhos de Classe, devendo o estudo abordar todas as questões exigidas pelo
órgão ambiental, constantes do Termo de Referência.
Os custos da produção do EIA/RIMA cabe ao empreendedor e ao
órgão ambiental cabe analisar o estudo em prazo razoável, que será de acesso
público. A redação anterior do art. 7° da resolução CONAMA 1/86 vetava a
dependência direta ou indireta da equipe multidisciplinar ao proponente do
projeto, substituída pelo art. 21, da Resolução 237/1997, e, segundo Amado
(2014), se afigura um retrocesso lamentável, pois certamente profissionais
que mantenham vínculo empregatício (que pressupõe subordinação) com o
empreendedor não terão a devida independência funcional.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

A equipe técnica também poderá ser responsabilizada posteriormente à


aprovação do EIA/RIMA e, solidariamente, com o empreendedor nas esfe-
ras civil, administrativa e criminal, pelas informações apresentadas de acordo
com o art. 11, parágrafo único, da Resolução CONAMA 237/1997.
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA), também conhecido como
Estudo Prévio de Impacto Ambiental (EPIA) e o Relatório de Impacto
Ambiental (RIMA) foram previstos no art 9°, III da lei 6.938/1981 e foram
regulamentados pela Resolução CONAMA 01/1986, que foi plenamente
recepcionada pelo atual ordenamento constitucional.
O EIA é a modalidade de avaliação de impacto ambiental mais com-
plexa, calcada na constituição, sendo dever do Poder Público assegurar a efeti-
vidade do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
“exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade” (art. 225, § 1.º, IV, da CRFB).
Os princípios da prevenção e da precaução reforçam a natureza prévia do
EIA, visto que este deverá ser realizado antes do inicio da atividade poluidora,
de forma a permitir o pleno acesso da comunidade sobre o seu conteúdo,
visto o princípio da publicidade, a fim de dar real eficácia aos instrumentos
de participação popular.
Em suma, um EIA deverá conter, no mínimo:
1. o diagnóstico ambiental da área de influência do projeto;
2. a análise dos impactos ambientais e suas alternativas;
3. a definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos;
4. a elaboração do programa de acompanhamento;
5. o monitoramento dos impactos positivos e negativos, indicando os
fatores e parâmetros a serem considerados.
De acordo com Amado (2014):
O EIA deverá contemplar todas as alternativas tecnológicas e de locali-
zação de projeto, confrontando-as com a hipótese de não execução do
projeto; identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais
gerados nas fases de implantação e operação da atividade; definir os
limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos

– 124 –

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EIA/Rima e o licenciamento ambiental

impactos, denominada área de influência do projeto, considerando,


em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza; considerar
os planos e programas governamentais, propostos e em implantação
na área de influência do projeto, e sua compatibilidade.

O EIA é um instrumento para o licenciamento ambiental e o adminis-


trador público não deve se omitir, porém não está vinculado às conclusões
do EIA, podendo fazer observações e recomendações ao empreendedor e até
mesmo poderá discordar, desde que fundamente expondo os motivos em
atos administrativos, com base nas informações da equipe técnica do próprio
órgão ambiental, visto o controle da legalidade administrativa.
O RIMA é um documento que deverá conter as conclusões do EIA,
devendo ser apresentado em linguagem objetiva e adequada à sua compreen-
são pela população, inclusive podendo ter ilustrações, sendo de acessibilidade
pública, ressalvado o sigilo industrial, art. 11 Resolução CONAMA 1/86. O
resguardo do sigilo industrial é medida dotada de razoabilidade, de modo a
mitigar a publicidade que baseia o EIA-RIMA, devendo também não serem
divulgadas eventuais informações que comprometam a segurança da socie-
dade e do Estado, em aplicação ao inciso XXXIII, do artigo 5.º, da CRFB. É
obrigatório que o RIMA contenha, ao menos:

a) os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibili-


dade com as políticas setoriais, planos e programas governamentais;
b) a descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais;
c) a síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambientais da
área de influência do projeto;
d) a descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e
operação da atividade;
e) a caracterização da qualidade ambiental futura da área de influên-
cia, comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas
alternativas, bem como com a hipótese de sua não realização;
f ) a descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas
em relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não
puderam ser evitados, e o grau de alteração esperado;

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Livro_legislacao_aplicada_direito_ambiental (2).indb 125 22/04/2016 16:48:34


Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

g) o programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;


h) recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e
comentários de ordem geral).

Discricionariedade: é um conceito jurídico que tem


origem no Direito Administrativo, mas que pode
ser utilizado para descrever as funções de todos os
atos estatais que envolvem uma determinação.
Poder discricionário: há atos da Administração
Pública que são legais, ou seja, baseados em lei, mas
estão imbuídos de uma certa liberdade do agente. Dis-
cricionariedade é diferente de arbitrariedade. Na pri-
meira, ao ato é válido, na segunda, é inválido.
Legitimidade jurídica: observância de todos os requistos
formais estabelecidos pelas normas regulamentadoras.
Legitimidade técnica: observância de padrões
estabelecidos em normas técnicas, tais como
as expedidas pela ABNT, por exemplo.
Principio da prevenção: trabalha com a certeza cien-
tífica, sendo invocado quando a atividade humana a
ser licenciada poderá trazer impactos ambientais já
conhecidos pelas ciências ambientais em sua natu-
reza e extensão, não se confundindo com o Princí-
pio da Precaução, que será estudado a seguir
Principio da precaução: incerteza científica milita em favor
do meio ambiente e da saúde (in dúbio pro natura ou salute).
A precaução caracteriza-se pela ação antecipada diante do
risco desconhecido. Enquanto a prevenção trabalha com o
risco certo, a precaução vai além e se preocupa com o risco
incerto. Prevenção se dá em relação ao perigo concreto, ao
passo que a precaução envolve perigo abstrato ou potencial

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Livro_legislacao_aplicada_direito_ambiental (2).indb 126 22/04/2016 16:48:34


EIA/Rima e o licenciamento ambiental

Principio da publicidade: o princípio da publicidade diz


respeito não apenas à divulgação do procedimento para
conhecimento de todos os interessados, como também aos
atos da Administração praticados nas várias fases do procedi-
mento, que podem e devem ser abertas aos interessados, para
assegurar a todos a possibilidade de fiscalizar sua legalidade.
A não obrigatoriedade do princípio em análise somente
ocorre em casos de segurança nacional, investigações poli-
ciais ou interesse superior da Administração Pública. Nesse
caso, será previamente declarado o sigilo do procedimento.

Saiba mais
Estudo de Impacto de Vizinhança:o estatuto das cidades, Lei
10257/00, introduziu o estudo de impacto de vizinhança (EIV).
Este instrumento de política urbana prevê a possibilidade de se
exigir o estudo para projetos que impactem na qualidade de vidada
da população, em especial da população que vive ao redor do futuro
empreendimento. O EIV possui semelhança com o EIA/Rima, mas
com ele não se confunde devido à peculiaridade de aplicação. O
EIA/Rima é mais abrangente que o EIV, e este só pode ser exigido
se estiver previsto na legislação municipal, conforme a Constituição
Federal e o Estatuto das Cidades.

8.2 O licenciamento ambiental


O sistema de licenciamento ambiental brasileiro tem como objetivo
controlar as atividades desenvolvidas, bem como o impacto que estas geram
sobre o meio ambiente, desta forma o Poder Público instituiu licenças e auto-
rizações que serão obrigatórias para determinadas atividades econômicas, por
um período de tempo determinado.
Este sistema significa o Poder Público reconhecer que a atividade eco-
nômica não está mais livre para explorar os recursos naturais, e o que for

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

explorado deve ser de forma sustentável. Para tanto, o legislador brasileiro


previu um sistema ordinário com três fases, trifásico, a fim de o empreende-
dor buscar o planejamento prévio, a instalação e a operação de sua atividade,
visando boas e as melhores práticas ambientais disponíveis. Como as práticas
ambientais estão ligadas ao desenvolvimento tecnológico e científico, as licen-
ças ambientais são precárias e provisórias, devendo passar por procedimento
de renovação periodicamente. Para Milaré (2007), o licenciamento ambiental
pode ser resumido nas seguintes palavras:

“Segundo a lei brasileira, o meio ambiente é qualificado como patri-


mônio público a ser necessariamente assegurado e protegido para uso
da coletividade ou, na linguagem do constituinte, bem de uso comum
do povo, essencial à sadia qualidade de vida. Por ser de todos em geral
e de ninguém em particular, inexiste direito subjetivo à sua utilização,
que, à evidência, só pode legitimar-se mediante ato próprio de seu
direito guardião — o Poder Público. Para tanto, arma-o a lei de uma
série de instrumentos de controle — prévios, concomitantes e sucessi-
vos —, através dos quais possa ser verificada a possibilidade e regulari-
dade de toda e qualquer intervenção projetada sobre o meio ambiente
considerado. Assim, por exemplo, as permissões e licenças pertencem à
família dos atos administrativos de controle prévio; fiscalização é meio
de controle concomitante; habite- -se é forma de controle sucessivo.”

O licenciamento ambiental é um dos instrumentos de controle ambien-


tal, previsto na Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6.938/81 art. 9,
IV. De acordo com a legislação brasileira, nem todos os tipos de empreendi-
mentos estão sujeitos ao licenciamento ambiental, mas os empreendimentos
que apresentam potencial para causar impacto ambiental devem ser subme-
tidos ao processo de licenciamento ambiental, conforme transcrito abaixo:
“A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabele-
cimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambien-
tal.” (Lei 6.938/1981 art. 9, IV)

O licenciamento ambiental deve ser aplicado conforme as condições


previstas na resolução Conama 237/97, que exemplifica as atividades polui-
doras, potencialmente poluidoras ou degradadoras que necessitam do licen-
ciamento ambiental. E, da Lei Complementar 140/11, art. 2°, I que define o
licenciamento ambiental como:

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EIA/Rima e o licenciamento ambiental

“procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou


empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores, ou capazes sob qualquer forma de causar
degradação ambiental”.

O procedimento de licenciamento ambiental possui três etapas, e cada


uma tem a finalidade de verificar e emitir autorizações e licenças que irão
permitir a construção, localização, instalação e operação de um empreen-
dimento de um determinado local, atendendo aos critérios das legislações
ambientais vigentes.
De acordo com a Lei Federal nº. 6.938/81, em seu art. 10:
Art. 10. A construção, instalação, ampliação e funcionamento de esta-
belecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou
potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental.”

Posteriormente, com a edição da Resolução Conama 237/97, art. 1°, I,


o licenciamento ambiental foi definido como:
(...) procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental compe-
tente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empre-
endimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considera-
das efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer
forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições
legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso. (....)

O licenciamento ambiental é composto por um conjunto de procedi-


mentos que abrange aspectos jurídicos, técnicos, administrativos, econômi-
cos e sociais dos empreendimentos a serem licenciados.
Esta liberação está calcada nos princípios do poluidor-pagador, da pre-
venção e da precaução. Para o empreendedor, o licenciamento ambiental, que
engloba o conhecimento, o mapeamentos dos riscos ambientais, as possíveis
fontes de poluição, permite melhor controle, prevenção e predição dos pro-
cessos em que atua e da atividade que desenvolve, de forma compatível com
a zona do município onde está localizada.
O conhecimento, o mapeamento dos riscos ambientais e o das possíveis fon-
tes de poluição possui fundamental importância para a Administração Pública,
para a sociedade, e reflete o princípio da supremacia do interesse público na pro-
teção do meio ambiente em relação aos interesses privados, pois a busca pela

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Livro_legislacao_aplicada_direito_ambiental (2).indb 129 22/04/2016 16:48:34


Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

conservação do meio ambiente por meio do controle das atividades humanas


interfere nas condições ambientais e na conciliação com o meio ambiente.
A licença ambiental é o ato administrativo previsto no procedimento
administrativo, em que o poder público emite ou nega o licenciamento. Se a
atividade for possível de ser licenciada e a documentação exigida foi apresen-
tada, a licença é emitida, e neste documento irá constar os dados do imóvel,
do empreendedor e as atividades econômicas que foram licenciadas.
No processo de licenciamento ambiental são avaliados os impactos cau-
sados pelo empreendimento ao meio ambiente, como o destino dos efluen-
tes, das emissões e dos resíduos sólidos gerados pelas atividades econômicas
desenvolvidas. Na licença deverá constar medidas para mitigar estes impactos
como, por exemplo, condições para o lançamento dos efluentes já tratados na
rede coletora de esgotos ou na galeria de águas pluviais.
Para conceder a licença ambiental, o Poder Público pode exigir do
empreendedor a apresentação de estudos relativos a aspectos ambientais, rela-
cionados a localização, instalação, operação e ampliação da atividade ou do
empreendimento, que servirá como subsídio para a análise do processo pelo
técnico do órgão ambiental. Os estudos podem ser: relatório ambiental, plano
e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico
ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e aná-
lise preliminar de risco. A partir da análise destes estudos, o licenciamento
ambiental pode ter a imposição de medidas mitigadoras e compensatórias
para a degradação ambiental que está prestes a ser autorizada.

8.3 Tipos de licenças previstas


As etapas do licenciamento devem ser precedidas de certidão de uso e
ocupação do solo do município onde está localizado o empreendimento, con-
forme a resolução Conama 237/97, art. 10. Este documento irá atestar que a
atividade ou empreendimento a ser instalado está de acordo com a legislação
municipal (zoneamento).
A licença prévia, a de instalação e a de operação podem ser emitidas pela
autoridade competente isoladamente ou sucessivamente, de acordo com as
características e fases do empreendimento ou atividade em questão, e fazem
parte do rito ordinário do licenciamento ambiental.

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EIA/Rima e o licenciamento ambiental

a) Licença prévia
Esta é a primeira etapa do licenciamento (rito ordinário), em que se
verifica a viabilidade ambiental do projeto, se aprova a concepção
do empreendimento. Dependendo do da atividade a ser exercida ou
do projeto, pode ser precedida de EIA/Rima ou de outros relatórios
ambientais. De acordo com a resolução Conama 237/97, a licença
terá prazo máximo de validade de cinco anos e não pode ser renovada.
b) Licença de instalação
Esta é a segunda etapa do licenciamento (rito ordinário), em que o
Poder Público autoriza a instalação da atividade econômica ou do
empreendimento, aprovado anteriormente. Nesta etapa, verifica-se
se o empreendimento foi executado de acordo com os projetos e
planos aprovados nos órgãos competentes, também analisa-se as
medidas de controle e mitigação ambiental. Em casos de empre-
endimentos que dependam da instalação de equipamentos e estru-
turas adequadas a atividades, faz-se necessária a terceira etapa do
licenciamento. De acordo com a resolução Conama 237/97, a
licença terá prazo máximo de validade de seis anos.

c) Licença de operação
A licença de operação é a terceira e última etapa do licenciamento
ambiental (rito ordinário), é concedida para o empreendimento
iniciar as suas atividades, isto é, operar, desde que cumprida todas
as exigências realizadas nas etapas anteriores, incluindo as medidas
mitigadoras e de controle. De acordo com a resolução Conama
237/97, a licença terá prazo mínimo de validade de quatro e
máximo de dez anos de validade.

Você Sabia
O Estado do Paraná restringiu a resolução Conama 237/97, e o
prazo máximo de validade da LP é de 2 anos sem renovação.
Assim, a LI também foi restringida, e o prazo máximo de sua validade
é de 2 anos sem renovação.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

No Estado do Paraná, a LO tem validade diferente, de acordo com


a atividade que o empreendedor exerce, visto o risco de degradação,
poluição. A validade pode ser de 2, 4 e de 6 anos a critério do
órgão ambiental, IAP.

8.3.1 Licenciamento simplificado


O licenciamento simplificado faz parte do rito especial do licenciamento
ambiental, e só se aplica em condições especificas e pontuais. A ele são aplica-
das quatro formas, conforme a resolução Conama 237/97:
a) Criação de procedimento especifico conforme as etapas do plane-
jamento, implantação e operação da atividade ou empreendimento,
art. 12, caput;
b) Atividades de pequeno potencial de impacto ambiental, art. 12 § 1°;
c) Licenciamento único para múltiplos empreendimentos ou ativida-
des, art. 12, §2°; e

d) Gestão ambiental voluntária, art. 12, §3°.

Estas formas necessitam ser regulamentadas pelos Estados e Muni-


cípios para serem aplicadas. Os Municípios normalmente licenciam, de
forma simplificada,pequenos empreendimentos, que gerem baixo potencial
de risco ambiental. Os empreendimentos de risco médio e alto são licencia-
dos pelos Estados.
A gestão ambiental voluntária é passível de licenciamento simplificado,
visto que o empreendimento possui pelo menos a norma ISO 14001, e para a
obtenção desta certificação é necessário o cumprimento de toda a legislação,
normas de segurança, de prevenção de acidentes, trabalhistas e aplicáveis a
atividade empresarial desenvolvida. Neste caso, o licenciamento é fornecido e
o responsável técnico do empreendimento fica comprometido com o cumpri-
mento de todas as medidas necessárias para o controle e proteção ambiental.

8.3.2 Autorização ambiental


A autorização ambiental pode ser fornecida por Municípios, Estados e
pela União, por meio das Secretarias de Meio Ambiente e do Ibama. A auto-
rização possui um caráter precário, uma finalidade a ser cumprida, como por

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EIA/Rima e o licenciamento ambiental

exemplo, a autorização ambiental para a movimentação de solos – escavação


e aterros, ou a autorização ambiental para o corte de árvores, mediante doa-
ção de mudas e outras condicionantes previstas na autorização.
Insta salientar que, em alguns Figura1: Pinheiro do Paraná (Araucária
casos, a autorização ambiental angustifólia) possui restrições para sua poda e/
mesmo válida não pode ser cum- ou corte.
prida de imediato, é o caso de auto-

Fonte: Shutterstock, 2015.


rização ambiental para poda ou corte
de pinheiro do Paraná, conforme a
figura 1 (Araucária angustifólias), em
época de reprodução de pinha e fixa-
ção. Neste caso, é necessário aguar-
dar o período reprodutivo da espécie
para realizar a poda ou o corte em
momento posterior, mesmo que esta
espera resulte em pedido de renova-
ção ou em novo pedido de autorização ambiental para o mesmo exemplar,
que ao ser analisado novamente pode ser autorizado ou negado. A autoriza-
ção ambiental pode ser renovada por período igual ao inicial, 1 ano.

Importante
A autorização ambiental necessita da certidão de uso de ocupação do
solo para verificar se a atividade ou o empreendimento proposto pode
ser desenvolvido naquela região do município ou naquele zoneamento.
Em suma, a certidão de uso e ocupação do solo é um ato administrativo
municipal de comando e controle sobre o território gerenciado, e sobre
as atividades desenvolvidas e a serem desenvolvidas sobre o mesmo.

Lista Exaustiva: é aquela onde o legislador exauriu, isto é, esgotou


todas as possíveis formas de aplicação ou de não aplicação. Este
tipo de lista normalmente se aplica em Direito Penal, Direito
Tributário e em resoluções de Câmaras e Conselhos técnicos.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Lista Enumerativa: é aquela onde o legislador não esgotou


todas as possibilidades, podendo o poder administrativo no
momento da aplicação da lei e, de acordo com os fatos em
concreto, solicitar licenciamento ambiental de empreendimento
que não constavam na lista da lei. Normalmente este tipo de lista
ocorre em direitos difusos e coletivos, como é o caso do Direito
Ambiental, dos Direitos Humanos e demais modalidades.

8.3.3 Plano de recuperação de áreas degradadas


Em empreendimentos licenciados com EIA/Rima aprovados, ocorre a
degradação ambiental e a área degradada deve ser recuperada. De acordo com
o art. 225 § 2°, da CF, em muitos casos, trata-se de uma medida mitigadora
do impacto ambiental causada pelo empreendimento. Os planos de controle
ambiental visam apresentar ao Poder Público as formas de o empreendedor
mitigar os impactos que o obra irá causar, neste contexto, o plano de recu-
peração de áreas degradadas visa a recuperação, ao ponto de proporcionar a
regeneração natural da fauna e da flora, no entanto o dano social causado não
pode ser recuperado, como o dano histórico.
O plano não é um tipo de licença, e sim um requisito exigido pelo órgão
ambiental para a análise do processo de licenciamento. Normalmente é exi-
gido para construções que causem impactos consideráveis, isto é, superiores aos
empreendimentos de baixo impacto ou degradação. A autoridade ambiental, ao
analisar o plano, irá avaliar se ele contempla toda a área, biota envolvida, espé-
cies de fauna e de flora, caso não esteja completo, a autoridade poderá reprovar
o plano ou solicitar a reapresentação com os complementos ao empreendedor.

8.4 Competência para o licenciamento


A competência para o licenciamento ambiental foi alterada pela Lei
Complementar 140/2011. Nela, as competências da União e Município
foram descritas e exauridas, e aos Estados coube a competência residual. A
seguir, iremos abordar cada uma delas com maiores detalhes.

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EIA/Rima e o licenciamento ambiental

8.4.1 Competência da União para


licenciamento ambiental
A competência para o licenciamento ambiental, após a Lei Complemen-
tar 140/2011, sofreu alteração na abrangência do impacto e no critério da
dominialidade exercida sobre determinado território. O art. 7º, XIV, desta lei
previu que é de competência da União promover o licenciamento ambiental
dos empreendimentos e atividades:
a) Localizados ou desenvolvidos conjuntamente no Brasil e em país limítrofe;
b) Localizados ou desenvolvidos no mar territorial, na plataforma conti-
nental ou na zona econômica exclusiva;
c) Localizados ou desenvolvidos em terras indígenas;
d) Localizados ou desenvolvidos em unidades de conservação instituídas
pela União, exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs);
e) Localizados ou desenvolvidos em 2 (dois) ou mais Estados;
f ) De caráter militar, excetuando-se do licenciamento ambiental, nos ter-
mos de ato do Poder Executivo, aqueles previstos no preparo e emprego
das Forças Armadas, conforme disposto na Lei Complementar no 97, de
9 de junho de 1999;
g) Destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, arma-
zenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utili-
zem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante
parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen); ou h) que
atendam tipologia estabelecida por ato do Poder Executivo, a partir de
proposição da Comissão Tripartite Nacional, assegurada a participação
de um membro do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama),
e considerados os critérios de porte, potencial poluidor e natureza da
atividade ou empreendimento.

8.4.2 Competência dos municípios


para o licenciamento ambiental
A mesma norma, Lei complementar 140/2011, art. 9º, XIV, enumerou a
competência municipal para o licenciamento dos empreendimentos e atividades:
a) Que causem ou possam causar impacto ambiental de âmbito local,
conforme tipologia definida pelos respectivos Conselhos Estaduais de
Meio Ambiente, considerados os critérios de porte, potencial poluidor e
natureza da atividade; ou
b) Localizados em unidades de conservação instituídas pelo Município,
exceto em Áreas de Proteção Ambiental (APAs).

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

8.4.3 Competência estadual para o


licenciamento ambiental
Por fim, a Lei Complementar 140/2011, no art. 8º, XIV, estabeleceu a
competência dos Estados, a competência residual. Tal dispositivo determina
que o Estado será responsável por “promover o licenciamento ambiental de
atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva
ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar
degradação ambiental, ressalvado o disposto nos arts. 7º e 9º.”
O licenciamento ambiental, pendendo das características do empreendi-
mento, pode ser submetido a análise de mais de um órgão do mesmo ente da
federação (florestal, água, saúde, infraestrutura, trânsito) e também de outros
órgãos da Federação. Insta salientar a imposição presente no art. 10, § 1º,
da Res. 237/97, é a de que “[n]o procedimento de licenciamento ambiental
deverá constar, obrigatoriamente, a certidão da Prefeitura Municipal, decla-
rando que o local e o tipo de empreendimento ou atividade estão em confor-
midade com a legislação aplicável ao uso e ocupação do solo e, quando for
o caso, a autorização para supressão de vegetação e a outorga para o uso da
água, emitidas pelos órgãos competentes.” Certidão importante para etapas
de licenciamento e autorizações, que mencionamos durante o curso.

Resumindo
Neste capítulo, aprendemos sobre os requistos legais do EIA/Rima. Os
tipos de licenciamento ambiental, como a licença prévia, a licença de ins-
talação, a licença de operação, o licenciamento simplificado, a dispensa de
licenciamento ambiental, a autorização ambiental e a validade destes atos
administrativos. O plano de recuperação de áreas degradadas é um instru-
mento que auxilia o Poder Público a analisar o empreendimento e ver se ele
possui condições de ser consolidado, visto os impactos, as metidas preventivas
e mitigadoras a serem desenvolvidas na área em questão.
Por fim, aprendemos sobre as competências do licenciamento ambien-
tal, as competências pertinentes à União e aos municípios, e as atribuições
restantes foram destinadas aos estados.

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9
Sistema nacional de
unidades de conservação
e áreas protegidas
A constituição brasileira no artigo 225, inciso III, estabe-
lece que o poder público possuí o dever de definir as áreas protegi-
das da diversidade biológica, conforme transcrito abaixo:
“III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços
territoriais e seus componentes a serem especialmente pro-
tegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente
através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa
a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção”
Neste capítulo, você conhecerá sobre as unidades de conser-
vação de proteção integral e de uso sustentável e compreenderá a
função socioambiental da propriedade.
Estudaremos a importância das áreas protegidas que, devido às
suas características, devem permanecer conservadas ou preservadas,
e compreenderemos mais sobre as variações que determinam o nível
de proteção de cada unidade.
Você sabia que a primeira área protegida no país foi criada em
1937 no antigo estado da Guanabara, hoje estado do Rio de Janeiro,
na cidade de Itatiaia? E que tal saber mais sobre a Lei que contem-
plou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), sis-
tematizando o regime jurídico aplicável às unidades de conservação?
Ficou interessado? Vamos começar?

Livro_legislacao_aplicada_direito_ambiental (2).indb 137 22/04/2016 16:48:35


Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Objetivos de aprendizagem
22 Identificar as principais espécies de espaços territoriais especial-
mente protegidos;
22 Identificar áreas sobre as quais incida especial proteção ambiental;

9.1 Função socioambiental da propriedade


A possibilidade de geração de conflitos e o nível de complexidade na
relação entre as propriedades e o interesse público é um fato presente em nosso
cotidiano. Em especial no Brasil, país onde a propriedade privada não pos-
sui plena disseminação junto à sociedade e, usualmente, é desrespeitada pelas
autoridades públicas. Neste sentido, os tribunais têm entendido que em maté-
ria de direito ambiental prevalece o interesse público sobre o interesse privado
e o bem-estar coletivo sobre o bem-estar individual, visto que o meio ambiente
é um direito difuso e coletivo, que deve prevalecer sobre o direito individual.
Segundo Kataoka (2000) o conceito de propriedade pode ser expresso
como o direito que permite a um titular usar, gozar e dispor de certos bens,
desde que ele o faça de modo a realizar a dignidade de pessoa humana.

Importante
Em Direito Ambiental é possível que um bem, público ou privado,
seja de uso comum do povo, em uma conotação diversa à classificação
tradicional dos bens públicos adotada pelo Direito Administrativo. Em
Direito Administrativo os bens das pessoas jurídicas são divididos de
direito público em dominicais, de uso comum do povo e de uso
especial, tendo em conta a natureza autônoma do bem ambiental,
naturalmente difuso. Um exemplo desta situação são os casos de pro-
prietários de áreas com cobertura florestal, que têm direitos reais, mas,
ao mesmo tempo, não podem desmatar sem licenciamento ambiental,
nem acima dos limites legais da tolerância. Assim, o bem é privado,
mas o seu equilíbrio ambiental é direito difuso, imaterial, de terceira
dimensão, de todo o povo e tutelável autonomamente.

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Sistema nacional de unidades de conservação e áreas protegidas

De acordo com Vaz (2008), o direito à propriedade privada, conforme


descrito na constituição, é intangível, estando sujeito às limitações adminis-
trativas que visam moldá-lo ao interesse público, visto a supremacia do poder
público sobre o privado.
Mas o direito de propriedade não é mais absoluto e continua a ser reco-
nhecido pela ordem jurídica do Estado somente se cumprida a função social
da propriedade em conjunto com a fruição do detentor do domínio. Nesta
nova ótica, a propriedade existe quando respeitada a função social, que virou
requisito essencial para o reconhecimento do direito de propriedade.
Os direitos difusos passaram a ser vistos como instrumentos para a pro-
teção do ecossistema, a fim de proteger este e a coletividade dos impactos e
desequilíbrios ocasionados pelas atividades antrópicas.
O direito à propriedade foi o instituto jurídico mais afetado pela legis-
lação ambiental, que busca a compatibilidade entre a proteção ao meio
ambiente e do ecossistema com a manutenção de um importante direito reco-
nhecido pela ordem jurídica estatal.
O ministro Eros Grau, em um artigo publicado na revista de direto
ambiental (revista dos tribunais), em 1997, denominado de Princípios Fun-
damentais de Direito Ambiental, inovava sobre este princípio tão importante
para o direito ambiental, conforme transcrito abaixo:
“a admissão do princípio da função social (e ambiental) da proprie-
dade tem como consequência básica fazer com que a propriedade seja
efetivamente exercida para beneficiar a coletividade e o meio ambiente
(aspecto positivo), não bastando apenas que não seja exercida em pre-
juízo de terceiros ou da qualidade ambiental (aspecto negativo). Por
outras palavras, a função social e ambiental não constitui um simples
limite ao exercício do direito de propriedade, como aquela restrição
tradicional, por meio da qual se permite ao proprietário, no exercício
do seu direito, fazer tudo o que não prejudique a coletividade e o
meio ambiente. Diversamente, a função social e ambiental vai mais
longe e autoriza até que se imponha ao proprietário comportamentos
positivos, no exercício do seu direito, para que a sua propriedade con-
cretamente se adeque à preservação do meio ambiente”.

De forma semelhante a constituição em dois artigos remete à função social


da propriedade, no art. 5º, XXIII, refere-se de forma genérica que a proprie-
dade deverá cumprir sua função social, e no art. 186, II, cita de forma específica

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

a função social da propriedade rural, e ainda especifica quando esta é cumprida:


quando ocorre a preservação do meio ambiente de sua área. A desapropriação
como ato compulsório do poder público está prevista no art. 5º, XXIV, da
Constituição. A desapropriação ocorre quando o Poder Público traz para si um
patrimônio particular, o que faz pela necessidade ou utilidade pública, ou por
interesse social, mediante prévia e justa indenização em dinheiro.
A preservação ao meio ambiente não ocasiona ofensa ao direito de proprie-
dade e esta concepção antiga está sendo superada nos tribunais, concepção base-
ada em uma ótica individualista do direito de propriedade onde a indenização em
moeda não seria o suficiente, neste sentindo o ministro Luiz Édson Fachin ensina:
“O direito de propriedade privada clássico atribuía ao titular a faculdade
de agir ou não agir segundo as suas conveniências. A função social da
propriedade amenizando esse poder impõe ao titular o uso do bem de
produção para fins sociais. Os dispositivos constitucionais que regulam
o meio ambiente introduzem uma nova perspectiva e determinam o não
uso econômico do bem quando em risco o direito ao meio equilibrado”.
O interesse coletivo deve ser posto sempre acima dos interesses individuais.
Este é o fundamento para as desapropriações em matéria ambiental, bem como
para as declarações de utilidade pública de unidades de conservações. Cabe ao
poder público preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.

9.2 Unidades de conservação


A lei 9985/2000 instituiu o denominado Sistema Nacional de Unidades
de Conservação (SNUC) e sistematizou regime jurídico aplicável às unidades
de conservação no nível federal, isto é da União. O decreto 4340/2002, que
regulamentou a lei 9985/2000, contem os requisitos necessários para a cria-
ção de uma unidade de conservação, seja em terras de domínio público ou de
domino privado. Dentre os requisitos é possível citar:
I. A denominação, a categoria de manejo, os objetos, os limites, a
área da unidade, e o órgão responsável por sua administração;
II. A população tradicional da região, a população beneficiaria,
no caso das reservas extrativistas e das reservas de desenvolvi-
mento sustentável;
III. A população tradicional residente, quando couber, no caso das
florestas nacionais, florestas estaduais ou florestas municipais e

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Sistema nacional de unidades de conservação e áreas protegidas

IV. As atividades econômicas, de segurança e de defesa nacional


envolvidas.
É preciso entender que para a aprovação da criação de uma unidade
de conservação é necessário a realização de estudos técnicos prévios, que
devem ser elaborados pelo órgão proponente. A aprovação do estudo implica
também em convocar a comunidade envolvida para uma consulta pública,
dando acesso e divulgando as informações pertinentes, visto que a criação
desta futura unidade irá modificar o cotidiano das pessoas ao redor da área.
Vamos conhecer agora as diferentes classificações das unidades de
conservação:
a) Uso sustentável
i. Área de proteção ambiental;
ii. Área de relevante interesse ecológico;
iii. Floresta nacional;
iv. Reserva extrativista;
v. Reserva de fauna;
vi. Reserva de desenvolvimento sustentável; e
vii. Reserva particular do patrimônio natural
b) Proteção integral, previstas no art. 8° da lei 9985/2000
i. Estação ecológica;
ii. Reserva biológica
iii. Parque nacional
iv. Monumento natural e Figura 1 - Jardim Botânico do
v. Refúgio da vida silvestre Rio de Janeiro é classificado como
unidade de conservação atípica.
c) Atípicas
i. Jardim botânico, con-
forme a figura 1, que
mostra a foto do Jardim
Botânico do Rio de
Janeiro;
ii. Hortos florestais e
iii. Outras que venham a ser
criadas fora do SNUC. Fonte: Shutterstock, 2015.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

9.2.1 Unidades de conservação de proteção integral


Agora que já conhecemos as divisões das unidades de conservação
vamos entender mais sobre as unidades de conservação de proteção integral.
Essas unidades visam preservar a natureza eximindo-a, sempre que possível,
da interferência antrópica. Nestas áreas apenas se admite o uso indireto dos
recursos naturais, isto é, aquele que não envolve o consumo, coleta, dano ou
destruição, com exceção dos casos previstos na lei dos SNUC.
As categorias de unidades de conservação de proteção integral apresen-
tadas anteriormente serão detalhadas a seguir.
Estação ecológica
A estação ecológica tem como objetivo a proteção da natureza e a realização
de pesquisas científicas em seu território. A área desta unidade de conservação
de proteção integral deve ser de posse e domínio público, sendo desapropriadas
as áreas particulares em seus limites que irão compor esta UC. A realização de
pesquisas cientificas requer autorização e poderá estipular a ocupação de até 3%
da área total das unidades ou 1500 hectares, visando à regeneração de ecossiste-
mas que foram modificados pelo homem, bem como o manejo de espécies para
a preservação da biota. As coletas e atividades científicas não podem alterar a
velocidade de regeneração nem impedir que esta aconteça.
Reserva biológica
A reserva biologia possuí maiores restrições que a estação ecológica, pois
visa a preservação integral da biota e demais elementos naturais dentro de sua
área, sem a interferência antrópica ou modificações, salvo se caracterizado medi-
das de recuperação de ecossistemas alterados e manejo. A posse e o domínio da
área devem ser do poder público, e as áreas particulares que compõem a reserva
devem ser desapropriadas. A área é aberta à visitação pública, com objetivo
educacional, e a realização de pesquisa científica depende de autorização prévia.
Parque nacional
O parque nacional possui três objetivos:
i. Preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica
e beleza;
ii. Pesquisas científicas e
iii. Atividades de educação ambiental, de recreação e de turismo ecológico.

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Sistema nacional de unidades de conservação e áreas protegidas

A visitação pública é admitida se esti- Figura 2 – O tucano é uma ave


ver prevista em regulamento interno do par- típica do bioma Mata Atlântica
que, assim como a pesquisa. A área deve ser

Fonte: Shutterstock, 2015.


de posse e domínio público e a desapropria-
ção das áreas particulares inclui seus limites.
A Figura 2 mostra um tucano, ave típica
do bioma da Mata Atlântica, mas também
encontrado em outros biomas, em especial
em parques nacionais.
Monumento natural
O monumento natural possui o obje-
tivo de preservar os locais, sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza
cênica. A visitação é permitida sob as condições previstas em regulamento e
a área poderá ser privada. No entanto, se houver incompatibilidade com os
objetivos da unidade, com a utilização da terra e dos recursos naturais envol-
vidos, o poder público deverá desapropriar a área.
Refúgio da vida silvestre
O refúgio da vida silvestre possuí o objetivo de proteger os ambientes
naturais para a existência ou a reprodução de espécies ou comunidade da flora
nativa e da fauna residente ou migratória. A visitação pública e o desenvolvi-
mento da pesquisa científica somente poderão ocorrer se houver previsão no
regulamento da área. A área do refúgio da vida silvestre pode ser de domínio
público ou privado desde que seja compatível os usos da terra e dos recursos
naturais do local pelos proprietários. Se houver incompatibilidade entre os
objetivos a área deverá ser desapropriada pelo poder público.

9.2.2 Unidades de conservação de uso sustentável


As unidades de conservação de uso sustentável possuem objetivo comum
de compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parte
dos recursos naturais presentes. A exploração do meio ambiente ocorre com a
garantia e a sazonalidade dos recursos renováveis, considerando os processos
e as interações ecológicas, e buscam a exploração, socialmente, justa e, eco-
nomicamente, viável.

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Como mencionado anteriormente pertencem a esta categoria de uni-


dade de conservação a área de proteção ambiental (APA), a área de relevante
interesse ecológico (ARIE), a floresta nacional (FLONA), a reserva extrati-
vista (RESEX), a reserva da fauna (REFAU), a reserva de desenvolvimento
sustentável (RDS) e a reserva particular do patrimônio natural (RPPN).

Saiba mais
O Instituto Chico Mendes é o órgão do poder executivo que gere as
unidades de conservação que, em 2015 conta com 173 UC’s de uso
sustentável. Acesso o site <http://www.icmbio.gov.br/portal/quem-
-somos/gestao-estrategica.html> para conferir outras informações.

Com exceção da área de proteção ambiental e das reservas particulares


do patrimônio natural, as demais unidades de conservação de uso sustentável
devem possuir zonas de amortecimento e, quando necessário, corredores eco-
lógicos. Os limites destas áreas deverão constar no ato de criação da unidade
ou no plano de manejo a ser elaborado no futuro.

Você Sabia
Os corredores ecológicos integram os denominados mosaicos de
unidade de conservação, criados pela Lei 9985/2000, no artigo 26.
Atuam com o objetivo específico de promover a conectividade entre
fragmentos de áreas naturais. Eles são definidos no SNUC como
porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades
de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o
movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recoloni-
zação de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações
que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do
que aquelas das unidades individuais.

Área de proteção ambiental


A área de proteção ambiental (APA) possui uma extensa área, ocupa-
ção antrópica, e apresenta elementos bióticos, estéticos, abióticos ou culturais

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Sistema nacional de unidades de conservação e áreas protegidas

importantes para o bem-estar das populações humanas. Visa à proteção da


diversidade biológica, o correto uso e ocupação do solo no sentido de assegu-
rar que os recursos naturais sejam utilizados de forma sustentável.

Ocupação antrópica: ocupação em zonas terrestres pelo


homem decorrentes de exploração dos recursos natu-
rais, segundo as necessidades e as atividades humanas.

As propriedades inseridas em uma APA podem ser de domínio público
ou privado. Os imóveis inseridos na APA podem ter zoneamento restritivo
para a utilização, respeitado os limites constitucionais. Em áreas privadas a
visitação somente será permitida com a autorização do proprietário do imó-
vel. Nos imóveis públicos a visitação e a pesquisa devem obedecer ao regula-
mento. As APA’s devem possuir um conselho diretor.

Importante
A definição legal de APP está caçada no art. 3°, II, do novo código
florestal, lei 12.651/2012, transcrita abaixo:
“área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com
a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a pai-
sagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar
o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar
o bem-estar das populações humanas”.

A definição do novo diploma legal é semelhante à que constava no


artigo 1.º, § 2.º, II, do antigo Código Florestal. Analisando a definição legal,
pode-se entender que a APP pode ser coberta ou não por vegetação nativa,
devendo esta ser conservada por questões ambientais e para a preservação da
segurança das pessoas.
Área de relevante interesse ecológico
As áreas de relevante interesse ecológico possuem pequena área, são
desabitadas ou com pouca população humana. Esta unidade de conserva-

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

ção deve abrigar exemplares raros da biota regional ou possuir característi-


cas naturais extraordinárias. O objetivo desta área é manter os ecossistemas
naturais de importância regional ou local e regular os usos admissíveis
dessas, de modo a compatibilizá-los com os objetivos de conservação da
natureza. As áreas podem pertencer ao poder público ou a população em
geral (privado).
Reserva extrativista
Reserva extrativista é a unidade de conservação inserida e utilizada por
populações extrativistas tradicionais, baseadas no extrativismo de subsistência
e na agricultura e criação de animais de pequeno porte como forma com-
plementar. A área pode admitir visitação de público em geral e de pesquisa,
mediante regulamento interno. Os imóveis onde a reserva foi criada devem
ser de domínio público e as áreas particulares devem ser desapropriadas. No
entanto, o uso deve ser concedido às populações extrativistas tradicionais.
Assim como em outras formas de unidades de conservação de uso sustentável,
a reserva extrativista deve possuir conselho deliberativo.
Reserva da fauna
A reserva da fauna é uma área natural com populações de animais de
espécies nativas, terrestres ou aquáticas fixas ou perenes, onde é proibida a
caça. A visitação pública e a comercialização de produtos somente pode ocor-
rer se prevista no regulamento desta UC. A área da reserva da fauna é de posse
e de domínio público. As áreas particulares devem ser desapropriadas pelo
poder público.
Reserva de desenvolvimento sustentável
A reserva de desenvolvimento sustentável pode ser definida como uma
área natural que abriga populações tradicionais. Esta UC está calcada em sis-
temas sustentáveis de exploração dos recursos naturais e possuí o objetivo de
preservar a natureza e, concomitantemente, assegurar as condições e os meios
necessários para a reprodução e a melhoria dos modos, da qualidade de vida e
da exploração dos recursos naturais das populações tradicionais.
As atividades de visitação pública e pesquisa científica podem ser
exercidas na reserva mediante previsão no regulamento. A UC deve pos-
suir conselho deliberativo. Nesta modalidade de UC se admite a explo-

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Sistema nacional de unidades de conservação e áreas protegidas

ração de parte do ecossistema natural em regime de manejo sustentável,


desde que exista um plano de manejo da reserva de desenvolvimento sus-
tentável que irá definir áreas de uso sustentável e áreas de amortecimento
e corredores ecológicos.
Reserva particular do patrimônio natural
A reserva particular do patrimônio natural possuí visitação e atividade
de pesquisa científica, conforme regulamento. Trata-se de área privada, gra-
vada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica.
Floresta nacional
A floresta nacional é uma área com cobertura florestal de espécies, pre-
dominantemente, nativas. Possui o objetivo do uso múltiplo sustentável dos
recursos florestais e o desenvolvimento da pesquisa científica. A propriedade
das áreas da floresta nacional deve ser de posse e de propriedade pública e as
áreas particulares devem ser desapropriadas até o limite da floresta. O desen-
volvimento de pesquisas científicas e visitação aberta ao público é admitido
desde que de acordo com o regulamento de criação. Da mesma forma, a
área de relevante interesse ecológico, a floresta nacional deve dispor de conse-
lho consultivo. Populações tradicionais que já estavam presentes no território
quando da criação da floresta nacional são admitidas.

Resumo
Neste capítulo aprendemos que uma área é convertida em uma unidade
de conservação quando o poder público assim o declara, de forma expressa,
com o objetivo de atribuir um regime jurídico mais restritivo e determinado,
podendo ser de proteção integral ou não os seus recursos naturais, conside-
rando também a presença de populações tradicionais no interior desta área
como compatíveis ou não.
O princípio da função social ambiental permite que seja imposto ao
proprietário comportamentos positivos, no exercício do seu direito e autoriza
o poder público a realizar desapropriação em áreas privadas situadas no inte-
rior de unidades de conservação se entender esta como a melhor forma de
preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.

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10
Noções gerais de
crimes ambientais

De acordo com Silva, 2013


“a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais
e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado
da vida em todas as suas formas. A integração busca assu-
mir uma concepção unitária do meio ambiente compre-
ensiva dos recursos naturais e culturais.”

O autor apresenta um conceito de um meio ambiente integral que


envolve o ambiente natural, o ambiente que tem origem na intera-
ção do homem com o meio ambiente cultural e o que seu início na
ação do home (artificial), isto é uma divisão unitária dos ambientes,
onde pode-se ressaltar:
a) Meio ambiente cultural: este meio ambiente é regulado pelo
Decreto Federal 3551/00, que cria o registro de bens cultu-
rais de natureza imaterial. O meio ambiente cultural compre-
ende os bens que são fruto da intervenção humana, podem
ser incluídos aqui os bens tangíveis, e os bens intangíveis;

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

b) Meio ambiente natural: compreende os bens que existem indepen-


dentes de intervenção ou ação humana;
c) Meio ambiente artificial: o meio ambiente artificial é proveniente
da ação humana, por meio da transformação sobre a natureza,
nela pode-se incluir florestas artificiais homogêneas ou industriais,
recursos em geral usados como matéria-prima para a produção.
Parte da literatura restringe o meio ambiente artificial ao espaço
urbano construído, como Fiorillo (2015) e Rodrigues (2008).
Em matéria de Direito Ambiental, no Brasil existe a reparação do dano,
e a previsão constitucional previu que além de sua obrigatoriedade, o causa-
dor do dano, poluidor, poderá ser responsabilizado simultaneamente e inde-
pendentemente na esfera administrativa, civil e penal. Ou seja, a reparação do
dano não exclui a responsabilidade penal.
De acordo com o art. 225, § 3º, da Constituição Federal:
“As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujei-
tarão os infratores, pessoas físicas e jurídicas, a sanções penais (respon-
sabilidade penal) e administrativas (responsabilidade administrativa),
independentemente da obrigação de reparar os danos causados (res-
ponsabilidade civil).”

Relacionando-se a essa garantia, o Direito Penal tem sido cada vez mais
utilizado no auxílio à luta pela defesa do meio ambiente. O que tem sido
glorificada por alguns, pois entendem que o meio ambiente possui relevân-
cia suficiente para justificar a previsão por crimes ambientais; e criticada por
outros, que se manifestam pela utilização do Direito Penal apenas nos casos
mais graves e nocivos à sociedade (princípio da intervenção mínima).

10.1 As normas penais ambientais


e suas peculiaridades
Nos crimes ambientais, o bem jurídico protegido é o meio ambiente que
tem dimensão global, tendo em vista que o ambiente — elevado à categoria
de bem jurídico essencial à vida, à saúde e à felicidade do homem — integra-
-se, em verdade, de um conjunto de elementos naturais, culturais e artificiais
(MILARÉ, 2007).

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Noções gerais de crimes ambientais

Devido à complexidade que a questão ambiental envolve, as condutas


consideradas lesivas ao meio ambiente, para que possam ser aplicadas ao caso
concreto, foram elaboradas de forma ampla e aberta, necessitando de comple-
mentos como resoluções, normas, conceitos técnicos. A esta amplitude dá-se
o nome de norma penal em branco, e tem sido utilizada pelos legisladores em
matéria ambiental.
O perigo, presente na Lei de Crimes Ambientais (LCA), ou seja, a pos-
sibilidade de dano deve ser concreto e evidente e, principalmente, compro-
vado, uma vez que é elemento essencial ao tipo penal.

Você Sabia
Elemento subjetivo: os crimes ambientais podem ser punidos a título
de dolo ou, quando previsto expressamente em lei, de culpa. O crime
doloso configura-se quando o agente quer o resultado ou assume o
risco de produzi-lo (artigo 18, I do Código Penal). O crime culposo
ocorre nos casos em que o agente deu causa ao resultado, por ter
faltado com o dever objetivo de cuidado (o que ocorre quando age
de maneira negligente, imperita ou imprudente), quando lhe era pos-
sível prever que, agindo de tal modo, iria dar causa ao resultado que,
efetivamente, ocasionou (artigo 18, II do Código Penal).
Antes da edição da Lei n° 9.605/1998, basicamente só eram punidos
os crimes ambientais dolosos.86 Atualmente, diversos crimes ambien-
tais foram previstos a título de culpa, valendo citar os tipos penais pre-
vistos nos artigos 38, 40, 41, 49, 54, 56, 62, 67, 68 e 69-A da Lei.
Sujeito ativo: nos termos dos artigos 2º87 e 3º88 da Lei n° 9.605/1998,
pessoas físicas ou jurídicas podem ser sujeito ativo nos crimes ambientais.

O Direito Penal Ambiental permeia entre os princípios do Direito Ambien-


tal. Ao trabalhar com tipos de perigo em abstrato, este Direito Penal atua em
prol da prevenção, conforme o art. 6º da Lei nº 9605/98. Condutas que colo-
quem em perigo o bem jurídico tutelado configuram tipos penais ambientais.
O princípio que orienta a tutela penal do meio ambiente é o do poluidor
pagador. De acordo com o art. 28, I, da Lei nº 9605/98, é exigido a reparação

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

ao meio ambiente para a extinção da punibilidade e, esta lei necessita de dano


ambiental anterior como requisito obrigatório à transação penal (art 27 da
Lei nº 9650/98).
Os tipos penais ambientais não estão contemplados apenas em uma lei,
e sim em diversas leis que punem condutas lesivas ao meio ambiente, são elas:
a) Decreto-Lei nº 3688/41 – Lei de Contravenções Penais;
b) Lei nº 6453/77 – art. 23, 26 e 27 – Lei sobre Atividades Nucleares;
c) Lei nº 6766/79 – Lei sobre Parcelamento de Solo Urbano, intro-
duz novos tipos penais pertinentes ao meio ambiente urbano –
direito urbanístico;
d) Lei nº 7643/87 – Lei de Proteção dos Cetáceos;
e) Lei nº 7802/89 – Lei dos Agrotóxicos;
f ) Lei nº 9605/98 – Lei de Crimes Ambientais (LCA);
g) Lei nº 11105/05 – Lei de Biossegurança – art. 24 a 29;
h) Lei nº 11284/06 – Lei da Gestão de Florestas Públicas, que acres-
centou dois tipos penais a LCA – art. 50-A e 69-A;
i) Lei nº 11428/06 – Lei da Mata Atlântica, que acrescentou o art.
38-A a LCA; e
j) Lei nº 12305/10 – Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos,
visto que os art. 52 e 53 alteraram a LCA.

Bens tangíveis: são aqueles que podem ser quanti-


ficados pelo valor, como imóveis como valor his-
tórico, esculturas, obras de arte e outros.
Bens Intangíveis: são aqueles que não podem ser
quantificados pelo valor, como ritos, tradições, festas
e crenças populares, criações científicas e outros.
Bem Jurídico tutelado: de acordo com Mirabete
bem jurídico é aquele que se constitui em tudo o que é
– 152 –

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Noções gerais de crimes ambientais

capaz de satisfazer as necessidades do homem, como


a vida, a integridade física, a honra, o patrimônio etc.
material, pessoa ou o bem sobre o qual recai a con-
duta humana, como, p. ex., a coisa furtada etc.
Tipo penal: É a descrição legal do comportamento proibido,
ou seja, a fórmula ou modelo usado pelo legislador para
definir a conduta, penalmente punível (DALMATO, Celso.
Código penal comentado. Rio de Janeiro: Renovar, p. 33).
Extinção da punibilidade: é a impossibi-
lidade de punir o autor de um crime.
Transação penal: nos crimes considerados de menor
potencial ofensivo (pena menor de 2 anos, seguem o
procedimento sumaríssimo do JECrim) dependendo de
fatores legalmente previstos (art. 76, Lei nº 9.099/95), pode
o Ministério Público negociar com o acusado sua pena.
poupando o réu (e o Estado também) de todas as cargas
consequentes (sociais, psicológicas, financeiras etc).
Princípio do poluidor pagador: um dos pilares do
moderno Direito Ambiental, e traz a concepção de que,
quem polui deve responder pelo prejuízo que causa ao
meio ambiente. E a sua responsabilização se dá em forma
de pagamento que, por sua vez, pode consistir em uma
prestação em dinheiro mesmo, ou em atos do poluidor.

10.2 Crimes ambientais


A Lei dos Crimes Ambientais (LCA) dispõe sobre infrações penais e
administrativas lesivas ao meio ambiente.
Ao analisar as infrações penais previstas nesta lei, pode-se concluir que
poucos tipos ali presentes trabalham com a pena privativa de liberdade, até

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

mesmo em delitos considerados graves o texto prevê a conversão de pena


privativa de liberdade para pena restritiva de direitos. Quase todos admitem
a transação penal ou a suspensão condicional do processo.
O artigo 29 do Código Penal brasileiro é reproduzido parcialmente no
art. 2° da LCA, indicando formas de coautoria, participação e formação de
concurso material na prática delitiva. Na LCA respondem pelo delito tanto
aquele que fornece a máquina ou equipamento necessário para a prática do
delito, como aquele que o comete, art. 56, II da LCA. A novidade introduzida
por esta lei foi o crime comissivo por omissão, também denominado de crime
comissivo impróprio, previsto no art. 2°, art. 54 §3° e art. 68, caput. Nele o
legislador previu a possibilidade de punir os membros da direção da empresa,
desde que tivessem ciência da atividade danosa que poderia ser gerada, e se
este dano resultasse em tipos penais, crimes, nos quais deveriam ter agido para
evitar, pois estavam na posição de GARANTE da atividade empresarial e, por
consequência dos prepostos e empregados, neste contexto pode-se afirmar que
a Lei nº 6905/98 introduziu uma nova situação de GARANTE, prevista no
art.13 §2° do Código Penal, complementando a hipótese prevista na alínea a.

Pena privativa de liberdade: pena de reclusão e a de


detenção (CP, arts. 29 e segs.; Lei n. 7.209/84). Só há
distinção entre as duas formas pelo regime a que ficam
sujeitas; são cumpridas nos três regimes: fechado, semia-
berto e aberto; o condenado à reclusão deve ser isolado
nos primeiros três meses, via de regra, não admite fiança;
na detenção, em geral, pode haver fiança, não ocor-
rendo período de isolamento, e o condenado não fica
com os reclusos; as de prisão provisória são cumpridas
em regime semiaberto ou aberto, “salvo quando houver
necessidade de transferência para regime fechado”.
Pena restritiva de direitos: sanção autônoma que subs-
titui a pena privativa de liberdade (reclusão, detenção ou
prisão simples) por certas restrições ou obrigações, quando
preenchidas as condições legais: prestação de serviço à

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Noções gerais de crimes ambientais

comunidade; interdição temporária de direitos; limitação


de fim de semana (CP, art. 43 e 44; Lei n. 7.209/84).
Crime comissivo por omissão: o agente garanti-
dor tem o dever de agir, por isso na sua omissão res-
ponde pelo resultado que deveria ter evitado.
Posição de Garante: o qual será obrigado, pela
ordem normativa, a impedir um resultado danoso.
Esse grupo restrito de pessoas, garantidores, terão o
dever de agir, impedindo que um dano ocorra.

10.3 Sanções aplicáveis à pessoa


física e à pessoa jurídica
As penas aplicáveis à pessoa física (natural) podem ser restritivas de
direito ou (art. 7 a 14) privativas de liberdade (parte especial) e multa (art.
18 culminado com a parte especial), já as penas aplicáveis a pessoas jurídicas
estão previstas nos arts. 21 a 23 da LCA.

10.3.1 Sanções aplicáveis a pessoa física


As pessoas físicas, como já mencionadas, são passiveis, de penas restri-
tivas de direito e privativas de liberdade. As penas privativas de liberdade
previstas no art. 8° da LCA:
“at. 8°. As penas restritivas de direito são:
I – prestação de serviços à comunidade;
II – interdição temporária de direitos;
III – suspensão parcial ou total de atividades;
IV – prestação pecuniária;
V – recolhimento domiciliar”.

A prestação de serviços à comunidade consiste na atribuição ao con-


denado de tarefas gratuitas junto a parques e jardins públicos e unidades de

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

conservação e, no caso de danosa coisa particular, pública ou tombada, na


restauração desta, se possível.
Já a interdição temporária de direitos é dividida nas seguintes modalidades:
22 Proibição de o condenado contratar com o Poder Público, de rece-
ber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios;
22 Proibição de participar de licitações, pelo prazo de cinco anos, no
caso de crimes dolosos, e de três anos, no de crimes culposos.
A suspensão de atividades será aplicada quando estas não estiverem
obedecendo às prescrições legais, a exemplo do desenvolvimento de atividade
impactante sem licença ambiental ou em desconformidade com a obtida, art.
11 da Lei nº 9605/1998.
Já a prestação pecuniária consistirá no pagamento em dinheiro à vítima
ou à entidade pública ou privada com fim social, de importância, fixada pelo
juiz, não inferior a um nem superior a 360 salários-mínimos, sendo o valor
pago deduzido do montante de eventual reparação civil a que for condenado
o infrator, art 12 da Lei nº 9605/1998.
Por fim, o recolhimento domiciliar baseia-se na autodisciplina e no
senso de responsabilidade do condenado, que deverá, sem vigilância, tra-
balhar, frequentar curso ou exercer atividade autorizada, permanecendo
recolhido nos dias e horários de folga em residência ou em qualquer local
destinado a sua moradia habitual, conforme estabelecido na sentença conde-
natória, art. 13 da Lei nº 9605/1998.
As penas privativas de liberdade não são detalhadas na LCA, mas sim no
Código Penal. A LCA prevê a possibilidade de aplicação desta modalidade de
pena isoladamente, nos artigos 35, 40, 41, 50-A, 54 e 69-A. Caso o agente
realize mais de um crime, que mesmo punido com pena restritiva de direito,
totalizar em uma condenação superior a 4 anos e, um dos crimes for com
pena privativa de liberdade, este deverá cumpri-la no regime mais severo,
antes das aplicação das atenuantes dos crimes.
O CP considera regime fechado o cumprimento da pena em estabele-
cimento de segurança média ou máxima, no regime semi-aberto o apenado
irá cumprir a sentença em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento
similar e, no regime aberto, a execução da pena se dá em casa de albergado
ou estabelecimento adequado.

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Noções gerais de crimes ambientais

Se a pessoa física for condenada a período igual ou superior a 8 anos,


deverá cumprir a sentença em regime fechado, se não for reincidente e a
pena for inferior a 8 anos e superior a 4 anos deverá cumprir a sentença,
desde o início, em regime semiaberto. E se a pena for inferior a 4 anos,
o condenado poderá cumprir a pena em regime aberto, desde que tenha
bons antencedentes.

10.3.2 Sanções aplicáveis à pessoa jurídica


Nos países que seguem o sistema jurídico consuetudinário, a responsabi-
lidade penal de pessoas jurídicas é comum, já nos países que adotam o sistema
romano-germânico, dentre eles o Brasil, já se admite, em algumas hipóteses,
a responsabilização penal de pessoas jurídicas, em especial em crimes ambien-
tais e nos crimes e delitos contra a ordem econômica, financeira e a economia
popular. A Constituição de 88 introduziu a responsabilidade penal de pessoas
jurídicas, e revelou-se um marco no direito brasileiro, art 225. §3°.
Segundo Milaré (2000), a intenção do legislador foi punir o criminoso
certo e não apenas o mais humilde, visto que quem comete a ação danosa é
a pessoa física sob ordem da pessoa jurídica, que na maioria dos casos visa o
lucro como finalidade originária.
A responsabilização da pessoa jurídica, segundo Dotti (2001), fere o art.
5° XLV da Constituição, visto que “nenhuma pena passará da pessoa do conde-
nado — bem como no argumento que a responsabilização penal continua sendo
de natureza e caráter estritamente humanos” e, dessa forma, responsabilizando
a pessoa jurídica poderá haver a transferência da pena para gerações futuras
de comando da empresa.
Insta salientar que grande parte da doutrina (cite-se Paulo Affonso Leme
Machado, Ada Pellegrini Grinover, Herman Benjamim, Vladimir Passos de
Freitas, Sávio Bittencourt, Edis Milaré, entre outros) entende que as pessoas
jurídicas respondem por ilícitos criminais relativos ao meio ambiente.
Neste sentido, os constituintes capturaram a vontade popular e, sabia-
mente, a expressaram ao firmar o princípio de que não basta responsabilizar a
pessoa física do dirigente da empresa, em sua relação com o meio ambiente,
com a economia popular, com a ordem econômica e financeira. A pessoa
jurídica passou também a ser responsabilizada (MACHADO, 2012)

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Saiba mais
Vamos conhecer qual o entendimento sobre a Lei Ambiental por parte do
Superior Tribunal de Justiça, no recurso especial n° 610.114-RN. Quinta
Turma. Relator: Ministro Gilson Dipp. Julgado em 17 de novembro de
2005. In: DJ, de 19 de dezembro de 2005, p. 463, transcrito a seguir:
I. A Lei Ambiental, regulamentando preceito constitucional, passou
a prever, de forma inequívoca, a possibilidade de penalização crimi-
nal das pessoas jurídicas por danos ao meio-ambiente.
[...]
III. A responsabilização penal da pessoa jurídica pela prática de deli-
tos ambientais advém de uma escolha política, como forma não ape-
nas de punição das condutas lesivas ao meio-ambiente, mas como
forma mesmo de prevenção geral e especial.
IV. A imputação penal às pessoas jurídicas encontra barreiras na
suposta incapacidade de praticarem uma ação de relevância penal,
de serem culpáveis e de sofrerem penalidades.
V. Se a pessoa jurídica tem existência própria no ordenamento jurí-
dico e pratica atos no meio social através da atuação de seus adminis-
tradores, poderá vir a praticar condutas típicas e, portanto, ser passível
de responsabilização penal.
VI. A culpabilidade, no conceito moderno, é a responsabilidade
social, e a culpabilidade da pessoa jurídica, neste contexto, limita-se à
vontade do seu administrador ao agir em seu nome e proveito.
[...]
X. Não há ofensa ao princípio constitucional de que “nenhuma pena
passará da pessoa do condenado [...]”, pois é incontroversa a existência
de duas pessoas distintas: uma física — que de qualquer forma contri-
bui para a prática do delito — e uma jurídica, cada qual recebendo a
punição de forma individualizada, decorrente de sua atividade lesiva.
XI. Há legitimidade da pessoa jurídica para figurar no pólo passivo da
relação processual-penal.

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Noções gerais de crimes ambientais

10.4 Hipóteses de aplicação da


responsabilidade penal à pessoa jurídica
Como visto anteriormente, o art. 3° da LCA previu a possibilidade de
responsabilização penal de pessoa jurídica, conforme transcrito abaixo:
“As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e
penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infra-
ção seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual,
ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício de sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a
das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato.”
Insta salientar que, para existir a persecução penal de pessoa jurídica, faz-se
necessária a imputação simultânea da pessoa física que, no exercício de sua ativi-
dade, praticou o fato, tipo penal. Este sistema é denominado de sistema da dupla-
-imputação ou da co-autoria, necessária entre a pessoa jurídica e seus dirigentes,
assunto já examinado pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme verifica-se:
A jurisprudência deste Sodalício é no sentido de ser possível a res-
ponsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais desde
que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa natu-
ral que atua em seu nome ou em seu benefício. **: EDcl no REsp
865864 / PR, julgado em 20/10/2011, Ministro ADILSON VIEIRA
MACABU (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RJ)
A Lei nº 9605/1998, no art 22, I, II e III, prevê a aplicação de penas
restritivas de direito para pessoas jurídicas que são:
xi. A suspensão parcial ou total das atividades, que será aplicada
quando estas não estiverem obedecendo às disposições legais
ou regulamentares, relativas à proteção do meio ambiente;
xii. A interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade
irá ocorrer quando o empreendimento, obra ou atividade esti-
ver funcionando sem a devida autorização ou regulamentação,
relativa à proteção do meio ambiente;
xiii. A proibição de contratar com o poder público, bem como
dele obter subsídios subvenções ou doações não poderá exce-
der o prazo de dez anos.
A pessoa Jurídica poderá prestar serviços a comunidade que consistirão
em (art. 23 da Lei nº 9605/1998):
i. custeio de programas e de projetos ambientais;

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

ii. execução de obras de recuperação de áreas degradadas;


iii. manutenção de espaços públicos;
iv. contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.
De acordo com o art. 24 da LCA, a pessoa jurídica constituída ou uti-
lizada, preponderantemente, com o fim de permitir, facilitar ou ocultar a
prática de crime definido nesta lei, terá decretada sua liquidação forçada, seu
patrimônio será considerado instrumento do crime e, como tal, perdido em
favor do Fundo Penitenciário Nacional.

Persecução penal: é o caminho que percorre o Estado


para satisfazer a pretensão punitiva, uma vez que a
este é dada o monopólio de punir (Jus Puniendi)

Tabela 1 – Resumo das responsabilidades de crime ambiental cometido por pessoa
juridica

Responsabilidade penal Pessoa jurídica


Denúncia apenas ajuizada
de pessoa jurídica por com paciente em
contra pessoa jurídica
delito ambiental Habeas corpus
É possível, desde que A jurisprudência do STJ não O STF não admite,
atendidos simultaneamente vem admitindo a propositura pois o habeas corpus
os seguintes pressupostos: de denuncia por crime ambien- objetiva apenas
• Casos em que a infração tal apenas contra a pessoa jurí- tutelar a liberdade
seja cometida por deci- dica, por não admitir a respon- de locomoção.
são de seu representante sabilidade da pessoa jurídica O STJ não admite, em
legal ou contratual, ou dissociada da pessoa física; regra, salvo quando a
de seu órgão colegiado; • O STF admite a pro- pessoa jurídica estiver
• Casos em que a infra- positura de denúncia em litisconsórcio
ção seja cometida no apenas contra a pessoa com a pessoa física.
interesse ou beneficio jurídica e a condenação
da sua entidade. exclusiva do ente moral.

Fonte: Frederico Amado : Direito Ambiental Esquematizado, 2014

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Noções gerais de crimes ambientais

Importante
A tabela 1 apresenta o resumo das responsabilidades de crime
ambiental cometido por pessoa jurídica, tanto a responsabilidade em
si, quanto a denuncia quando ajuizada penas contra a pessoa jurídica
como o posicionamento dos tribunais para a situação de paciente
(réu preso ou em situação prisão eminente) em Habeas corpus.

Resumindo
Neste capítulo aprendemos sobre os requisitos legais da Lei de Crimes
Ambientais (LCA nº 9.605/1998), demais leis esparsas e compiladas que
complementam este importante marco legal para o Direito Ambiental bra-
sileiro. O Código Penal previa alguns tipos de crimes considerados ambien-
tais, porém foi contextualizado antes da reforma de 1940 e, naquela época, a
preocupação com o meio ambiente era bem menos significativa que no final
dos anos 90. Atualmente, a legislação ambiental prevê, em diversas leis, cri-
mes ambientais, mas a LCA ainda é a norma que introduziu a possibilidade
de aplicação da pena para pessoa jurídica, bem como o cumprimento desta
medida coercitiva do Estado.

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Conclusão

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Legislação Aplicada ao Direito Ambiental

Nesta disciplina, você estudou rapidamente uma parte importante do


Direito Constitucional, que é a base para a compreensão de todo o sistema
normativo brasileiro; e o Direito Ambiental, que concentra o conjunto de
princípios e regras que são utilizados pelo Poder Público ao particular em
prol do bem comum, que é a busca de um meio ambiente sadio e equilibrado.
Você aprendeu as principais diferenças entre o conceito de norma e de
lei, diferenciou temas importantes como o de Direito e o de Moral, compreen-
deu a divisão existente no Direito Público e no Direito Privado, identificou as
condições de eficácia e de validade da norma jurídica, conheceu os sujeitos de
direito, compreendeu o processo formativo dos direitos humanos, e identificou
os direitos fundamentais e os direitos humanos ligados a proteção ambiental.
Posteriormente, com o decorrer da disciplina, você conheceu a história,
a formação, a evolução, os períodos do pensamento ambientalista, a diferença
conceitual e prática entre conservação e de preservação, de meio ambiente,
recursos naturais e de poluição. Aprendemos sobre o homem e a presença
deste sobre o território, a vida em sociedade que insere novos elementos e
acabam por questionar os nossos próprios valores.
Apresentamos os fundamentos constitucionais do Direito Ambiental,
e vimos como os ordenamentos da nossa Carta Magna, tanto os princípios
quanto os dispositivos legais e normativos se comunicam e são recepcionados,
de forma harmonizada.
Aprofundamos nossos conhecimentos na parte aplicada ao Direito
Ambiental, com a Política Nacional do Meio Ambiente, identificando con-
ceitos importantes como o de desenvolvimento sustentável, princípios que
regem e fundamentam a legislação aplicada ao direito ambiental, e os prin-
cipais instrumentos de gestão ambiental. Os estudos ambientais, em especial
o estudo de impacto ambiental e o relatório de impacto ao meio ambiente,
foram estudados profundamente, assim como o licenciamento ambiental, os
órgãos de gestão e fiscalização e controle.
Vimos o dano, a responsabilidade ambiental, as sanções administrativas, civis
e penais aplicadas ao meio ambiente por meio da responsabilidade civil ambiental,
das noções gerais de crimes ambientais e das infrações administrativas ambientais.
É importante você saber que o Direito Ambiental é muito mais amplo
que os assuntos e temas abordados nesta disciplina, além da dinamicidade
que o direito apresenta, pois está sempre se atualizando, mudando e revendo
conceitos e decisões. Desta forma, é muito importante você se manter atua-
lizado, buscar a legislação atualizada e a doutrina, as fontes e jurisprudências
atuais, tendo em vista os novos entendimentos aplicados para o bem comum.

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Referências

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Referências

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ambiente, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
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