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WBA0508_V1.

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Direito Penal Ambiental
Direito Penal Ambiental
Autoria: Mariana Battochio Stuart
Como citar este documento: BATTOCHIO STUART, Mariana. Direito Penal Ambiental. Valinhos: 2017.

Sumário
Apresentação da Disciplina 04
Unidade 1: A proteção jurídica do meio ambiente 06
Assista a suas aulas 24
Unidade 2: Responsabilidade ambiental 31
Assista a suas aulas 55
Unidade 3: Introdução ao direito penal ambiental 63
Assista a suas aulas 84
Unidade 4: A teoria da pena ambiental 92
Assista a suas aulas 113

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2/#pg
Direito Penal Ambiental
Autoria: Mariana Battochio Stuart
Como citar este documento: BATTOCHIO STUART, Mariana. Direito Penal Ambiental. Valinhos: 2017.

Sumário
Unidade 5: Crimes ambientais contra a fauna 120
Assista a suas aulas 139
Unidade 6: Crimes ambientais em espécie 147
Assista a suas aulas 167
Unidade 7: Ação penal ambiental 174
Assista a suas aulas 196
Unidade 8: A responsabilização penal da pessoa jurídica 203
Assista a suas aulas 222

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Apresentação da Disciplina

Nesta disciplina, abordaremos os delitos Lei 9.605/1998, denominada Lei de Crimes


cometidos contra o meio ambiente e suas Ambientais. Ela estabelece quais são os cri-
respectivas sanções penais que garantem o mes contra a natureza e determina as san-
direito ao equilíbrio ecológico resguardado ções aplicadas aos infratores.
pela Constituição Federal de 1988, em seu Em seguida, analisará a responsabilização
artigo 225. penal da pessoa jurídica, a aplicação da Lei
Para tanto, será traçado um breve panora- dos Juizados Especiais Criminais aos crimes
ma da proteção jurídica do meio ambiente ambientais, o princípio da insignificância na
no Brasil, abordando o surgimento do Direi- esfera criminal e a discussão sobre sua apli-
to Ambiental, a relevância da Constituição cação aos delitos ambientais.
de 1988 para a proteção da natureza, os A magnitude do tema é demonstrada pela
princípios basilares do Direito Ambiental e atualidade da preocupação com o uso dos
a responsabilidade penal pelos danos cau- recursos naturais, especialmente o desen-
sados ao meio ambiente. volvimento social sustentável.
Posteriormente, você adentrará o estudo Esta disciplina o capacitará para atuar em
do Direito Penal Ambiental que é dotado situações jurídicas ou administrativas que
de princípios e hermenêutica próprios. A envolvam a prática de delitos ambientas, ou
principal norma jurídica acerca do tema é a
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seja, condutas e atividades lesivas ao meio
ambiente. O objetivo é instruir profissionais
do Direito, auditores e de outros ramos do
conhecimento científico acerca da tutela
penal ambiental apresentando temas da
Parte Geral do Direito Penal e da Tutela Pro-
cessual do Meio Ambiente.

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Unidade 1
A proteção jurídica do meio ambiente

Objetivos
1. Compreender a proteção jurídica da
natureza, dos recursos naturais e do
equilíbrio ecológico;
2. Conhecer os institutos fundamen-
tais do Direito Ambiental, verificando
o seu surgimento como disciplina e
ramo autônomo do Direito;
3. Verificar a relevância da Constituição
Federal de 1988, da Política Nacional
do Meio Ambiente e dos princípios do
Direito Ambiental para a tutela da hi-
gidez ambiental.
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Introdução

A tutela jurídica é um dos instrumentos so- custos de suas produções o valor destinado
ciais necessários para que o homem consi- para a recuperação ou manutenção da qua-
ga conviver em harmonia dentro do modelo lidade ambiental.
de sociedade que adotamos, sendo o Direito Assim, a partir do momento em que a higi-
diretamente influenciado pelas alterações dez do meio ambiente passou a sofrer riscos
socioeconômicas e pelo contexto político e de irreversíveis alterações, nasceu o ques-
social. Assim, a proteção jurídica de um bem tionamento sobre os limites da industria-
é reflexo do momento histórico vivido. lização e a necessidade de intervenção es-
Entre o final do Século XVIII e início do Sécu- tatal para que os recursos naturais fossem
lo XIX, a Revolução Industrial trouxe, como preservados, de modo que as futuras gera-
resultado adverso da produção de produtos ções ainda pudessem usufruir destes recur-
e serviços de forma massificada, o surgi- sos vitais.
mento de inúmeros problemas ambientais O bem ambiental é um bem considerado di-
causados pelo progresso tecnológico, sen- fuso, isto significa que ele é titularizado por
do toda a população mundial obrigada a um número indeterminado de pessoas, sem
suportar esses ônus. Por esta razão, o Esta- poder ser apropriado individualmente.
do foi obrigado a intervir para garantir que
os empreendedores internalizassem nos
7/229 Unidade 1 • A proteção jurídica do meio ambiente
Desta forma, não só os governos foram cha- 1. A gênese do direito ambiental
mados a intervir, como foi cobrado do Direito
o papel regulatório de delinear um modelo O Direito Ambiental caracteriza-se como
de desenvolvimento que compatibilizasse o uma disciplina jurídica autônoma que visa
crescimento econômico, a preservação dos à proteção dos direitos difusos, direitos que
recursos naturais e as questões sociais, de- pertencem a um número indeterminado de
limitando, assim, os padrões de atuação dos pessoas. Ele consiste em um conjunto de re-
empreendedores, por meio de instrumentos gras e princípios jurídicos que visam regular
para sancionar atos reprováveis e induzir a qualidade do meio ambiente, bem como
condutas ambientalmente adequadas. garantir a preservação dos recursos natu-
rais para as presentes e futuras gerações.
Assim, a questão da manutenção da quali-
dade do meio ambiente passou a estar nas Em que pese a importância da referida ma-
principais pautas governamentais, geran- téria, fato é que a sua história é considerada
do a criação de legislações ambientais por muito recente, tendo em vista que seu mar-
todo o planeta. co inicial é datado de 1972, com a Primei-
ra Conferência Mundial sobre o Homem e o
Meio Ambiente, também conhecida como
Conferência de Estocolmo, ocorrida na
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Suécia, a qual marcou o descobrimento da E, além de servir de cenário para a criação
questão ambiental em âmbito internacio- do PNUMA, a Conferência também foi foco
nal, pois a Organização das Nações Unidas, de embates que envolviam os países desen-
neste momento, avocou para si mais uma volvidos e os países em desenvolvimento,
função: a proteção dos recursos naturais. tendo em vista que esses últimos, por não
Na referida Conferência, a Organização Na- gozarem de um grau considerável de indus-
cional das Nações Unidas, ONU, criou o Pro- trialização, impunham resistência à adoção
grama das Nações Unidas para o Meio Am- de medidas restritivas impostas para aten-
biente – PNUMA. der a agenda conservacionista. Estes paí-
ses em processo de desenvolvimento argu-
Link mentavam que os países desenvolvidos não
O PNUMA é a agência da ONU com objetivo de possuíram este entrave quando estavam no
promover a conservação do meio ambiente e o auge do seu processo de industrialização.
uso eficiente de recursos ambientais no contexto Nota-se, portanto, que a preservação am-
do desenvolvimento sustentável. Disponível em: biental na década de 70 era vista como um
<http://web.unep.org/americalatinacaribe/ óbice ao desenvolvimento econômico e so-
br>. Acesso em: 24 set. 2017. cial dos países.

9/229 Unidade 1 • A proteção jurídica do meio ambiente


Posteriormente, em 1982, com o objeti-
vo de prosseguir com os debates gerados
com a Conferência de Estocolmo, ocorreu a
Para saber mais
Conferência das Nações Unidas sobre Meio De acordo com o Relatório Brundtland o desen-
Ambiente, na cidade de Nairobi, no Quênia, volvimento sustentável é o desenvolvimento das
sede do PNUMA. Infelizmente, neste mo- presentes gerações e satisfação de suas necessi-
mento, pouco se avançou na causa ambien- dades atuais sem comprometer as possibilidades
tal, pois diferentemente da década de 70,
das futuras gerações de atender suas próprias
nenhum dos países participantes assumi-
ram acordos ou metas para redução do uso necessidades. Ou seja, o desenvolvimento sus-
indiscriminado dos recursos naturais. tentável exige a solidariedade entre as gerações e
Entretanto, durante esta Conferência de impõe o equilíbrio entre as questões ambientais,
1982, foi criada a Comissão Mundial de sociais e econômicas (tripé da sustentabilidade).
Meio Ambiente e Desenvolvimento, presi- Constitui um processo de mudança na exploração
dida pela norueguesa Gro Brundtland, com dos recursos naturais, o direcionamento dos in-
o intuito de avaliar os dez anos que sucede- vestimentos em atividades ambientalmente ade-
ram a Conferência de Estocolmo. Esta co- quadas, a orientação do desenvolvimento tecno-
missão publicou como resultado formal de
suas discussões o Relatório “Nosso Futuro lógico sustentável, a mudança institucional vol-
Comum” ou “Relatório Brundtland”, que tada à proteção da natureza, reforçando o atual
inovou trazendo o conceito de desenvolvi- e futuro potencial para satisfazer as aspirações e
mento sustentável. necessidades humanas.
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Neste momento, a articulação deste con- naturais, sendo eles a Agenda 21, a Declara-
ceito representou um importante avanço ção do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente
para a causa ambiental, pois consolidou o e Desenvolvimento Sustentável, a Carta da
pensamento que defende que, em sendo os Terra, a Convenção sobre Diversidade Bioló-
recursos naturais finitos, há a necessidade gica, a Convenção do Clima e a Declaração
de agir preventivamente para evitar o esgo- do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento.
tamento dos bens ambientais, idealizando,
assim, uma fórmula para que a economia e a
ecologia caminhassem conjuntamente para
Link
maximizar os ganhos econômicos e sociais, Acerca desta importante Conferência interna-
minimizando os impactos ambientais nega- cional sobre meio ambiente e dos tratados in-
tivos para a qualidade de vida no planeta. ternacionais celebrados neste momento pode-
mos afirmar que este é o ápice da proteção am-
Em seguida, em 1992, na cidade do Rio de
biental mundial. Disponível em: <http://www.
Janeiro, Brasil, foi realizada a Conferência
Mundial para o Meio Ambiente e Desenvol- senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscus-
vimento, também chamada ‘Eco 92’. Essa sao/rio20/a-rio20/conferencia-rio-92-so-
Conferência é mundialmente conhecida bre-o-meio-ambiente-do-planeta-desen-
pela assinatura de inúmeros acordos in- volvimento-sustentavel-dos-paises.aspx>.
ternacionais em prol da causa dos recursos Acesso em: 24 set. 2017.
11/229 Unidade 1 • A proteção jurídica do meio ambiente
Já no ano de 2002, na cidade de Johannes- comemoração aos vinte anos que se pas-
burgo, na África do Sul, ocorreu a Conferên- saram desde a Eco 92. Neste momento, ne-
cia conhecida como Rio+10, visando ana- nhuma meta ou acordo significativo foram
lisar os avanços e possibilitar adequações assinados, mas foi estabelecida a concep-
às soluções propostas na Eco 92. Ocorreu, ção de economia verde, com o objetivo de
porém, que diferentemente do que era es- estimular a sustentabilidade em todos os
perado, não houve nenhum avanço signi- setores da economia mundial.
ficativo trazido por esta Conferência. Isto
ocorreu porque a preocupação internacio-
nal se voltava à agenda de combate ao ter- Para saber mais
rorismo, em virtude dos ataques terroristas De acordo com o PNUMA, a economia verde visa a
ocorridos em 11 de setembro de 2001, fa- melhoria do bem-estar da população mundial e a
zendo com que a preocupação com o meio igualdade social ao mesmo tempo em que reduz
ambiente ficasse em segundo plano. significativamente os riscos ambientais de escas-
Novamente, na cidade do Rio de Janeiro, sez ecológica. Ela possui três pilares: ela é uma
em junho de 2012, ocorreu a Conferência economia de baixo carbono, é eficiente no uso
das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos recursos naturais e é socialmente inclusiva.
Sustentável, conhecida como Rio+20, em
12/229 Unidade 1 • A proteção jurídica do meio ambiente
Por fim, ocorreu na cidade de Paris, França,
a COP-21, a qual terminou com um acordo
histórico, tendo em vista que, pela primei-
Para saber mais
Os Direitos Difusos, de acordo com a definição
ra vez, quase todos os países do mundo se
comprometeram a reduzir as emissões de apresentada pelo Código de Defesa do Consumi-
carbono e conter os efeitos do aquecimento dor (Lei Nº 8.078/90) que integra o microssiste-
global. Destaca-se que o acordo valerá até ma brasileiro de tutela coletiva, são direitos tran-
2020, e possui como um dos seus objetivos sindividuais, de natureza indivisível, de que são
a redução das temperaturas, a fim de ame- titulares pessoas indeterminadas e ligadas por
nizar o aquecimento global. circunstâncias de fato, direitos que pertencem a
todos cidadãos, sem pertencer individualmente a
Nota-se, portanto, que esse panorama in-
nenhum deles1.
ternacional da preocupação com a prote-
1 Artigo 81, parágrafo único, inciso I do Código de Defesa
ção do meio ambiente serviu para pontuar a do Consumidor.
criação e consolidação do Direito Ambien-
tal como uma matéria autônoma, voltada a Em apertada síntese, o Direito Ambiental
tutelar o equilíbrio ecológico do planeta. surgiu em 1972 com a Conferência de Esto-
Cumpre, ainda, ressaltar que o Direito Am- colmo, quando a preocupação com o meio
biental é considerado um ramo dos Direitos ambiente passou a ocupar um lugar de des-
Difusos. taque nas pautas dos países, sendo que no

13/229 Unidade 1 • A proteção jurídica do meio ambiente


Brasil, esse ramo do direito ganhou desta- No entanto, a Política Nacional do Meio
que com a publicação da Lei Nº 6.938/81, Ambiente foi responsável pela sistematiza-
que instituiu a Política Nacional do Meio ção jurídica do meio ambiente. Ela trouxe
Ambiente e com a entrada em vigor da conceitos fundamentais para o Direito Am-
Constituição Federal de 1988, como você biental (artigo 3o), criou o SISNAMA – Siste-
ma Nacional do Meio Ambiente (artigo 6o),
passará a estudar.
trouxe instrumentos ambientais (artigo 9o)
e estabeleceu a responsabilidade objetiva
2. A política nacional do meio para os danos causados ao meio ambiente
ambiente e a constituição fede- (artigo 14°).
ral de 1988 Desta forma, ela trouxe as regras gerais para
o Direito Ambiental e ela serviu de inspira-
Em 1981 foi publicada a Lei 6.938 conhe- ção para a Constituição Federal de 1988.
cida como a Política Nacional do Meio Am-
biente. Esta é a lei ordinária mais importan- A Constituição Federal de 1988 é conheci-
te para o Direito do Meio Ambiente. Ela não da como “Constituição Cidadã”, isto porque
é a primeira norma brasileira a tratar acerca ela é considerada avançada em relação à
da proteção ambiental. Desde os tempos do proteção dos direitos fundamentais, tendo
Brasil Império existiram leis ambientais em como princípio fundamental a dignidade da
nosso ordenamento jurídico. pessoa humana (artigo 1o, inciso III).

14/229 Unidade 1 • A proteção jurídica do meio ambiente


Esta Constituição foi pioneira ao estabele- atividade econômica no Brasil, por mais
cer o equilíbrio ecológico como um direito rentável e essencial que seja, pode ser exer-
fundamental e a reservar um capítulo ex- cida em desacordo com a proteção ambien-
clusivo para a proteção ambiental: o artigo tal estabelecida na legislação atinente.
225. Nesta linha, como bem ponderam Vla- Considerando que as disposições ambien-
dimir e Gilberto Passos de Freitas: Passados tais não estão apenas elencadas no artigo
mais de 20 anos da vigência da Constitui- 225, e sim expostas em vários dispositivos
ção brasileira, é possível afirmar que ela al- da Carta Constitucional, a visão de meio
terou o tratamento dado ao meio ambien- ambiente adotada pela Constituição é glo-
te no Brasil, colaborou na conscientização balizante, na medida em que contempla
das pessoas e influenciou diretamente na todos os elementos que compõem o meio
elaboração de novas leis protetoras do am- ambiente: (i) o meio ambiente natural, (ii)
biente (FREITAS; FREITAS, 2012). o meio ambiente cultural, (iii) o meio am-
Importante, ainda, colocar que a Constitui- biente urbano e (iv) o meio ambiente do
ção estabeleceu no artigo 170, inciso VI, que trabalho.
a defesa do meio ambiente constitui um dos Esta ideia é corroborada pelo professor Sil-
princípios gerais da atividade econômica do va que entende que:
país, o que nos autoriza dizer que nenhuma
15/229 Unidade 1 • A proteção jurídica do meio ambiente
O conceito de meio ambiente há de ser, pois, globalizante, abrangente de
toda natureza original e artificial, bem como os bens culturais correlatos.
(...) A interação busca assumir uma concepção unitária do ambiente com-
preensiva dos recursos naturais e culturais (SILVA, 1995, p . 28).
Nesse sentido, cabe destacar que o bem ambiental possui como características marcantes a in-
disponibilidade, a essencialidade para a vida humana no planeta e a natureza jurídica difusa.

Link
Com a consolidação da disciplina do Direito Ambiental a jurisprudência brasileira estabeleceu entendimentos
acerca da temática da proteção jurídica dos recursos da natureza. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/
internet_docs/jurisprudencia/jurisprudenciaemteses/Jurisprudência%20em%20teses%2030%20
-%20direito%20ambiental.pdf> Acesso em: 24 set. 2017.

16/229 Unidade 1 • A proteção jurídica do meio ambiente


Pelo exposto, podemos concluir que ape- O princípio considerado basilar do Direi-
nas a partir de 1988 a proteção ambiental to Ambiental é o princípio do desenvolvi-
ganhou a relevância que a matéria merece. mento sustentável. Conforme verificado
Desta forma, não há que se falar em digni- anteriormente, desenvolvimento sustentá-
dade humana na Terra se não há equilíbrio vel se baseia na solidariedade entre a pre-
do meio ambiente. sente e as futuras gerações e no perfeito
equilíbrio entre as questões ambientais,
2.1 princípios do direito am- econômicas e sociais, sendo este o tripé da
biental sustentabilidade.
Considerando que os danos ambientais são
Por não haver um “Código Ambiental” os
de difícil ou de impossível reparação sur-
princípios serão importantes instrumentos
gem os princípios acautelatórios do meio
para dar coerência lógica e unidade ao Di-
ambiente: princípio da prevenção e princí-
reito Ambiental.
pio da precaução. Ambos estabelecem que
Há muitos princípios que são apontados pela atividades lesivas ao meio ambiente devam
doutrina brasileira do Direito Ambiental. ser evitadas e impõem uma ação prévia, an-
Você analisará os princípios mais relevantes tes da consolidação do dano ambiental.
para o estudo do Direito Penal Ambiental.
Entretanto, eles se diferenciam na medida
17/229 Unidade 1 • A proteção jurídica do meio ambiente
em que o princípio da prevenção atua dian- O poluidor-pagador determina que aquele
te de atividades em que não há dúvidas que causa degradação ambiental deve ar-
quanto aos possíveis danos ambientais: há car com os custos da despoluição. Não é um
certeza científica acerca dos danos daquela direito à poluição. Pelo contrário: este prin-
atividade; e o princípio da precaução atua cípio possui função sancionatória e peda-
quando há incerteza científica dos riscos de gógica, para que o infrator não volte a co-
determinada atividade. No caso de incer- meter o dano ambiental.
teza quanto aos riscos ao meio ambiente o Ao determinar que o poluidor arque com a
princípio da precaução exige a aplicação do despoluição causada, este princípio impõe
indubio pro meio ambiente, de modo que a a preferência pela reparação in natura do
atividade seja inviabilizada diante do risco meio ambiente afetado. Em outras palavras,
ou perigo ao meio ambiente. o poluidor será obrigado a recuperar o status
quo ante ao meio ambiente degradado. So-
Os princípios do poluidor-pagador e do mente se não for possível esta recuperação
usuário-pagador nos ajudam a compreen- será imposta uma indenização pecuniária.
der a obrigação que nasce ao degradador
de recuperar o meio ambiente e pagar pela Quanto ao arbitramento desta indenização
utilização dos recursos naturais, além da ela deve configurar uma sanção razoável,
conforme o potencial econômico do polui-
sanção penal eventualmente imposta.
dor e o dano ambiental causado.

18/229 Unidade 1 • A proteção jurídica do meio ambiente


O princípio do usuário-pagador determina O princípio da vedação de retrocesso eco-
que aquele que utiliza os recursos naturais lógico estabelece que uma vez estabele-
com finalidades econômicas deve pagar cido um piso mínimo protetivo para os re-
pelo uso destes recursos. Este pagamento cursos naturais jamais esta proteção pode
possui como finalidade evitar a excessiva ser reduzida. Desta forma, somente pode-
exploração dos recursos naturais e dotar o -se ampliar a proteção ambiental, jamais
bem ambiental de valor econômico, preve- diminuí-la.
nindo a sua escassez.

Para saber mais


O principal exemplo de aplicação do princípio do
usuário-pagador é o pagamento pelo uso da água
determinado pelo artigo 19 da Lei 9.433/1997 –
Política Nacional de Recursos Hídricos.


19/229 Unidade 1 • A proteção jurídica do meio ambiente
Glossário
Desenvolvimento Sustentável: o desenvolvimento em que as presentes gerações cuidam dos
recursos naturais e atentam para as questões ambientais, sociais e econômicas, sem inviabilizar
as possibilidades das futuras gerações.
Direito Ambiental: conjunto de regras e princípios que tutelam o meio ambiente e os recursos
naturais.
Elementos que compõem o meio ambiente: no Brasil possuímos quatro espécies de meio am-
biente. O (i) meio ambiente físico ou natural, (ii) meio ambiente urbano ou artificial, (iii) meio
ambiente cultural e (iv) meio ambiente do trabalho.

20/229 Unidade 1 • A proteção jurídica do meio ambiente


?
Questão
para
reflexão

Conforme verificamos no histórico da proteção jurídica


do meio ambiente em âmbito internacional, você acre-
dita que estamos em um momento de crescimento da
proteção ambiental ou em um momento de retrocesso?
Faça uma análise baseada no postulado do princípio de
vedação de retrocesso.

21/229
Considerações Finais
• A Conferência de Estocolmo na Suécia denominada Primeira Conferência
Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente é considerada a gênese da pre-
ocupação com a proteção dos recursos naturais.
• O Relatório Brundtland ou Relatório Nosso Futuro Comum trouxe pela pri-
meira vez o conceito de desenvolvimento sustentável.
• A Política Nacional do Meio Ambiente foi instituída pela Lei 6.938/1981, es-
tabelecendo as diretrizes básicas do Direito Ambiental brasileiro.
• A Constituição Federal de 1988 foi a primeira Constituição Federal brasileira
a dedicar um capítulo exclusivo para o meio ambiente e a elevar o equilíbrio
ecológico ao rol dos direitos fundamentais do homem.
• Os princípios do Direito Ambiental possuem função interpretativa e devem
nortear a aplicação de todas as regras que tutelam os recursos naturais

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Referências
BENJAMIN, Antônio Herman. Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. In: CANOTILHO. José
Joaquim Gomes; LEITE. José Rubens Mourato. Direito Constitucional Ambiental Brasileiro. São
Paulo: Editora Saraiva, 2007
BRASIL. Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe Sobre A Política Nacional do Meio Am-
biente, Seus Fins e Mecanismos de Formulação e Aplicação, e Dá Outras Providências. Bra-
sília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em: 24 set.
2017.
_________. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 24
set. 2017.
_________. Lei n° 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor
e dá outras providências. Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L8078.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.
CAPPELLETTI, Mauro. Juízes Legisladores? Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 1999.
FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes Contra a Natureza. 9. ed. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012.
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 2. ed.. São Paulo: Malheiros Editores,
1995.
23/229 Unidade 1 • A proteção jurídica do meio ambiente
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Questão 1
1. Assinale a alternativa que apresenta a primeira conferência mundial das
Nações Unidas acerca da temática da proteção dos recursos naturais e do
meio ambiente:

a) Primeira Conferência da Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento de Nairobi


– 1982.
b) Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente de Estocolmo – 1972.
c) Conferência Mundial sobre o Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente – 1994.
d) Conferência Mundial para Meio Ambiente e Desenvolvimento – 1992.
e) Primeira Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável – 1996.

25/229
Questão 2
2. Qual das seguintes publicações internacionais trouxe pela primeira vez
o conceito de desenvolvimento sustentável?

a) Protocolo de Quioto.
b) Declaração do Rio de Janeiro sobre meio ambiente e desenvolvimento.
c) Declaração da Conferência de Estocolmo.
d) Relatório Brundtland, também conhecido como Nosso Futuro Comum.
e) Tratado Internacional acerca do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

26/229
Questão 3
3. O artigo 225 da Constituição Federal estabelece em seu caput: “Todos
têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso co-
mum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as pre-
sentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988). Ao determinar a solidariedade
entre as presentes e futuras gerações qual princípio do Direito Ambiental
está sendo invocado?

a) Prevenção.
b) Poluidor-pagador.
c) Desenvolvimento Sustentável.
d) Usuário-pagador.
e) Vedação de retrocesso.

27/229
Questão 4
4. Qual foi a primeira Constituição Federal brasileira a estabelecer um ca-
pítulo exclusivo para a proteção do meio ambiente e a elevar o equilíbrio
ecológico ao rol dos direitos fundamentais?

a) 1988.
b) 1969.
c) 1937.
d) 1967.
e) 1934.

28/229
Questão 5
5. Qual princípio do direito ambiental impõe que uma vez estabelecido
um piso mínimo protetivo aos recursos naturais este jamais poderá ser
reduzido?

a) Desenvolvimento sustentável.
b) Poluidor-pagador.
c) Prevenção.
d) Precaução.
e) Vedação de retrocesso.

29/229
Gabarito
1. Resposta: B. 3. Resposta: C.
A Primeira Conferência Mundial sobre o Ho- O princípio do desenvolvimento sustentável
mem e o Meio Ambiente ocorrida em Esto- exige solidariedade entre as presentes e as
colmo, na Suécia, em 1972 foi a primeira futuras gerações.
conferência das Nações Unidas a discutir a
preservação do meio ambiente no plano in-
4. Resposta: A.
ternacional. Por esta razão ela é considera- A Constituição Federal de 1988, em seu ar-
da a gênese do Direito Ambiental.. tigo 225, foi pioneira ao estabelecer o equi-
líbrio ecológico como direito fundamental
2. Resposta: D. e reservar um capítulo exclusivo ao meio
ambiente.
O Relatório Brundtland ou Relatório Nosso
Futuro Comum conceituou pela primeira vez 5. Resposta: E.
desenvolvimento sustentável como aquele
desenvolvimento em que há solidariedade O princípio de vedação de retrocesso proí-
na preservação dos recursos naturais pelas be a diminuição da proteção ecológica. Ela
presentes gerações em benefício das futu- jamais pode ser suprimida, somente poderá
ras gerações. ser ampliada.
30/229
Unidade 2
Responsabilidade ambiental

Objetivos

1. Compreender a responsabilidade
ambiental tríplice estabelecida na
Constituição Federal de 1988;
2. Traçar um panorama da responsabi-
lidade ambiental nas esferas civil e
administrativa.

31/229
Introdução

Com o aumento dos danos causados ao meio ambiente e com o uso indiscriminado dos recursos
naturais surgiu a necessidade de responsabilizar os entes, pessoas físicas ou pessoas jurídicas,
causadores destes desequilíbrios.
Acerca do tema a Declaração do Rio – tratado internacional assinado durante a Conferência ECO
92 – estabeleceu, em seu Princípio 13:

Os Estados deverão desenvolver a legislação nacional relativa à respon-


sabilidade e à indenização referente às vítimas da contaminação e outros
danos ambientais. Os Estados deverão cooperar de maneira inteligente
e mais decidida no preparo de novas leis internacionais sobre respon-
sabilidade e indenização pelos efeitos adversos dos danos ambientais
causados pelas atividades realizadas dentro de sua jurisdição, ou sob seu
controle, em zonas situadas fora de sua jurisdição (NAÇÕES UNIDAS NO
BRASIL, 1992).
Por conta deste compromisso internacional assumido pelo Brasil, que ratificou o referido Tratado
Internacional, foram criadas legislações brasileiras acerca da responsabilização do poluidor: a
Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – Lei 6.938/1981, a Constituição Federal de 1988 e a
Lei de Crimes Ambientais – Lei 9.605/1998.

32/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental


A partir de agora você estudará como se de- Em uma concepção clássica a responsabili-
senvolve a responsabilidade por danos am- dade civil é baseada na ideia de culpa. Assim,
bientais, verificando os principais aspectos o agente somente fica obrigado a reparar o
destas normas. dano em caso de ação ou omissão voluntá-
ria, negligência, imprudência ou imperícia.
1. Da responsabilidade ambien- Entretanto, atualmente, é utilizada, tam-
tal bém, a ideia de risco. Deste modo, surge a
necessidade de reparação dos atos ilíci-
Responsabilidade é matéria afeta ao Direi-
tos não apenas com a apuração da culpa
to Civil. Podemos apontar como conceito de
do agente, mas, também, quando o agente
responsabilidade o dever jurídico que uma
exerce uma atividade ou é proprietário de
pessoa tem de sofrer sanções em razão de
um bem que pela sua própria atividade po-
um ato ilícito, de abuso de um direito ou pelo
derá provocar danos à sociedade.
descumprimento de um dever contratual.
Quando tratamos da responsabilização por
Desta forma, a consequência da realização
danos causados ao meio ambiente temos
de um ato contrário ao Direito é o surgimen-
to do dever de indenizar, conforme artigos
186 a 188 e 927 e seguintes do Código Civil.
33/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental
de essencialidade, assim, os desequilíbrios
Para saber mais ecológicos afetam a sadia qualidade de
vida na Terra; (iii) os danos ambientais são
A teoria da sociedade do risco, característica da
de difícil ou impossível reparação, por isto a
fase seguinte ao período industrial clássico, re-
indenização ambiental deve priorizar o re-
presenta a tomada de consciência do esgotamen-
estabelecimento do status quo ante (estado
to do modelo de produção, sendo esta marcada
que as coisas de encontravam antes).
pelo risco permanente de desastres e catástrofes.
Acrescente-se o uso do bem ambiental de forma A responsabilidade ambiental é prevista na
ilimitada, pela apropriação, a expansão demográ- Constituição Federal de 1988 em seu artigo
fica, a mercantilização, o capitalismo predatório 225, parágrafo 3o: “as condutas e atividades
– alguns dos elementos que conduzem a socieda- lesivas ao meio ambiente sujeitarão os in-
de atual a situações de periculosidade e de crise fratores, pessoas físicas ou jurídicas, a san-
ambiental (LEITE; PILATI; JAMUNDÁ, 2005). ções penais e administrativas, independen-
temente da obrigação de reparar os danos
que ter em mente as principais característi- causados” (BRASIL, 1988).
cas do bem ambiental: (i) ele é difusos e, por
esta razão, os danos ambientais atingem Esta é a denominada responsabilidade trí-
a todos indistintamente; (ii) ele é dotado plice: em decorrência do cometimento de
um único ilícito ambiental podem, em tese,
34/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental
serem impostas três espécies de sanções: (i) ambiental de modo aprofundado.
cível, (ii) administrativa e (iii) penal.
Ou seja, o artigo 225, § 3º, da Constituição 2. A responsabilidade civil am-
Federal, preconiza que a responsabilidade biental
pelos danos causados ao meio ambiente é
O responsável pelo dano ambiental é o po-
tríplice e aquele que causar dano ambien-
luidor; conceituado pela PNMA como sendo
tal, seja pessoa física ou jurídica, de direito
a pessoa física ou jurídica, de direito público
público ou de direito privado, responderá
ou privado, responsável, direta ou indireta-
tanto na esfera cível e administrativa quan-
mente, por atividade causadora de degra-
to na criminal, sem que isso configure bis in
dação ambiental1.
idem. A expressão bis in idem é utilizada para
fazer referência ao fenômeno, vedado pelo A Lei 6.938/1981 – Política Nacional do
ordenamento jurídico brasileiro, da dupla Meio Ambiente estabeleceu no seu artigo
punição por um mesmo fato. 14, parágrafo 1o que:
Neste momento importará traçar um pano-
rama da responsabilidade civil e administra-
tiva ambiental, vez que, após isso, você irá
se ater apenas ao estudo da esfera criminal 1 Inciso IV, artigo 3°, Lei 6.938/1981.
35/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental
Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o po-
luidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar
ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados
por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legi-
timidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos
causados ao meio ambiente (BRASIL, 1981).
Isto significa dizer que a responsabilidade civil ambiental é objetiva. Ou seja, independentemen-
te da apuração de culpa, o agente causador de degradação ambiental terá o dever de indenizar.

Para saber mais


Para determinação do dever de indenizar por danos causados ao meio ambiente apenas deverá ser de-
monstrado: a) conduta, que pode ser lícita ou ilícita; b) o dano; c) nexo causal entre conduta e dano.

Você deve ficar muito atento para não confundir a responsabilidade subjetiva com a responsa-
bilidade objetiva. A regra no ordenamento jurídico brasileiro é a responsabilização subjetiva dos
agentes. Nela deve restar comprovada a existência: (i) de uma conduta ilícita, um (ii) dano, a (iii)
culpa do agente e o (iv) nexo causal que liga a conduta ao dano.
36/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental
Porém, havendo expressa determinação legal, poderá ser estabelecida a responsabilidade ob-
jetiva, para atividades em que seu risco justifiquem a ausência de verificação de culpa para que
surja o dever de indenizar. Esse é o advindo dos danos causados ao meio ambiente, dos danos
causados ao consumidor (artigo 14 do CDC2) e da responsabilidade estatal pelos danos que seus
agentes causarem (artigo 37, parágrafo 6o, da Constituição Federal).
Segundo o Superior Tribunal de Justiça:
(...) qualquer que seja a qualificação jurídica do degradador, público ou privado,
no Direito brasileiro a responsabilidade civil pelo dano ambiental é de natureza
objetiva, solidária e ilimitada, sendo regida pelos princípios poluidor-pagador, da
reparação in integrum, da prioridade da reparação in natura e do favor debilis,
este último a legitimar uma série de técnicas de facilitação do acesso à justiça,
entre as quais se inclui a inversão do ônus da prova em favor da vítima ambiental.
Precedentes do STJ. 5. Ordinariamente, a responsabilidade civil do Estados, por
omissão, é subjetiva ou por culpa, regime comum ou geral esse que, assentado
no artigo 37 da Constituição Federal, enfrenta duas exceções principais. Primeiro,
quando a responsabilização objetiva do ente público decorrer de expressa previ-
são legal, em microssistema especial, como na proteção do meio ambiente (Lei
6.938/1981, art. 3o, IV, c/c o art. 14, parágrafo 1o). Segundo, quando as circuns-
tancias indicarem a presença de um standard ou dever de ação estatal mais rigo-
roso do que aquele que jorra, consoante a construção doutrinaria e jurispruden-
cial, do texto constitucional (BRASIL, 2009a).
2 Código de Defesa do Consumidor.
37/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental
Destaca-se que o dano ambiental é qual- recuperação do meio ambiente.
quer degradação do meio ambiente que Daí entra em cena a recuperação in pecúnia
possa afetar seu equilíbrio, prejudicando o do dano correspondente à reparação inde-
homem e/ou a natureza, motivo pelo qual nizatória ou compensatória que constitui
o agente causador fica adstrito às formas uma quantia financeira a ser paga para re-
de reparação previstas em lei. Existem duas compor o dano ambiental causado.
formas básicas de reparação do dano am-
biental: (i) a reparação in natura; e a (ii) re- Cabe ressaltar que a reparação econômi-
paração in pecúnia. ca é uma forma indireta de sanar a lesão e
deve ser aceita somente quando inviável a
A reparação in natura consiste na restaura- recomposição in natura do meio ambiente.
ção ambiental ao estado prévio da ocorrên- Em outras palavras, a reparação in natura
cia do dano. Ou seja, busca-se reconstituir prevalece sobre a indenização em dinheiro,
o meio ambiente afetado pela degradação que possui caráter subsidiário.
ambiental, fazê-lo voltar ao status quo ante.
No entanto, nem sempre é possível esse tipo Quanto às espécies do dano ambiental ele
de reparação, porque, além de ser um pro- também pode ser classificado como dano
cedimento lento e custoso, certas formas ambiental patrimonial e dano ambien-
de degradação ambiental não permitem a tal extrapatrimonial. O dano ambiental

38/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental


patrimonial é aquele que possui reflexos fi- ambientais: “Regem-se pelas disposições
nanceiros, econômicos, advindos da degra- desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as
dação da qualidade ambiental. Por sua vez, ações de responsabilidade por danos mo-
o dano extrapatrimonial ambiental é aque- rais e patrimoniais causados: I) ao meio am-
le que atinge o patrimônio imaterial da co- biente (...)” (BRASIL, 1985).
letividade, ou seja, a perda significativa do Desta forma, não deve haver discussão
equilíbrio ecológico, não possuindo reflexos acerca da compatibilidade do dano moral à
patrimoniais diretos. noção de coletividade. Corroborando este
Havia discussão doutrinária acerca da pos- entendimento:
siblidade do dano moral ambiental. Alguns
autores afirmavam que, sendo o meio am-
biente um bem difuso, não haveria compa-
tibilidade entre o padecimento psicológico,
moral e a noção de coletividade.
Fato é que a Lei de Ação Civil Pública, Lei
7.347/1985 prevê expressamente, em seu
artigo 1o, a existência dos danos morais

39/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental


Existem danos extrapatrimoniais que surgem da degradação ambiental. É o dano
moral ambiental, originado de suas situações. A uma a dor, a comoção, o senti-
mento negativo esculpido nas pessoas em face do acontecimento de um desas-
tre ecológico. A duas pela privação que o homem sente diante da degradação
ambiental, a impossibilidade de estar, de desfrutar de locais saudáveis, ecologi-
camente equilibrados, o obrigar a espécie humana a conviver com o lixo, com a
morte de animais, com praias poluídas, com florestas queimadas, com parques
ecológicos destruídos. Um bem de uso comum, arrasado pela atividade insana!
Concluímos pela necessidade de sanção diante desses fatos, como forma de ree-
ducação ambiental, inclusive (RODRIGUEIRO, 2004, p.206-207).

Link
O entendimento majoritário da doutrina e da jurisprudência é pelo reconhecimento dos danos morais am-
bientais, sejam eles individuais ou coletivos. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/publicacaoinstitu-
cional/index.php/informativo/article/download/450/408>. Acesso em: 27 set. 2017.

40/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental


Também é necessário pontuarmos que a que possuem direito reais sobre bens imó-
obrigação de reparar o dano ambiental recai veis. Deste modo, a obrigação de recuperar
tanto sobre o poluidor direto quanto sobre o o meio ambiente degradado é propter rem
poluidor indireto. Isto advém do conceito de (obrigação que acompanha a titularidade
poluidor, exposto anteriormente, que esta- da coisa).
belece que quem dá causa, indiretamente, Isto significa dizer que a obrigação de res-
à degradação ambiental também pode ser sarcimento pelo dano ambiental acompa-
considerado poluidor. nha a coisa; ela é transmitida, automatica-
Ademais, há solidariedade entre o poluidor mente, seja qual for o título que transfere a
direto e indireto, de modo que a obrigação propriedade. Ou seja, o proprietário é obri-
de recuperação do equilibro ecológico ou de gado a reparar o dano ambiental em seu
ressarcir os prejuízos ambientais causados prédio rústico ou urbano, mesmo que não o
pode ser exigida de qualquer deles. tenha causado.
O ordenamento jurídico brasileiro, ainda,
previu que há agentes que não dão causa
direta, nem indiretamente, aos danos am-
bientais e, mesmo assim, deverão arcar com
os custos da despoluição causada. São os
41/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental
Para saber mais
O Código Florestal brasileiro – Lei 12.651/2012 – veio consolidar o entendimento que já vinha sendo aceito
pela jurisprudência e doutrina brasileiras: a recuperação ambiental é uma obrigação propter rem. Assim, o
artigo 2o, parágrafo 2o, desta norma estabeleceu que: “as obrigações previstas nesta lei têm natureza real e
são transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de transferência de domínio ou posse do imóvel
rural”.

É consolidada na doutrina e na jurisprudência brasileiras a regra da imprescritibilidade do dano


ambiental. Isto porque, nos termos expostos pelo STJ:
O direito ao pedido de reparação de danos ambientais, dentro da logicidade her-
menêutica, está protegido pelo manto da imprescritibilidade, por se tratar de
direito inerente à vida, fundamental e essencial à afirmação dos povos, indepen-
dentemente de não estar expresso em texto legal. Em matéria de prescrição cum-
pre distinguir qual o bem jurídico tutelado: se eminentemente privado seguem-se
os prazos normais das ações indenizatórias; se o bem jurídico é indisponível, fun-
damental, antecedendo a todos os demais direitos, pois sem ele não há vida, nem
saúde, nem trabalho, nem lazer, considera-se imprescritível o direito à reparação
(BRASIL, 2009b).

42/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental


Por fim, a responsabilidade civil ambiental é fulcrada na teoria do risco integral, não sendo ad-
mitida excludente de ilicitude nem mesmo por caso fortuito, força maior ou culpa exclusiva de
terceiro:

A Constituição e as demais normas ordinárias estabeleceram este tipo de respon-


sabilidade que impõe, como consequência, o seguinte: existindo o dano, basta
identificar o autor ou autores e o nexo causal, pois não existirão excludentes da
responsabilidade. Inclusive, nem o caso fortuito e a força maior podem afastar o
dever de reparar o meio ambiente (BRASIL, 2006).

Para saber mais


A obrigação de recuperar o meio ambiente apenas será afastada se demonstrado pelo empreendedor que ine-
xiste o dano ambiental ou que este dano não decorreu direta ou indiretamente da atividade que desenvolve.

43/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental


3. A responsabilidade adminis- minorar o dano ambiental. No âmbito da
trativa ambiental responsabilidade penal, tipicamente re-
pressiva, a legislação prevê a tipificação de
Como vimos, a responsabilidade civil am- determinadas condutas lesivas ao meio am-
biental não configura uma sanção; ela de- biente como crimes, cominando-se as san-
termina que o poluidor deve ressarcir toda ções respectivas (SIRVINSKAS, 2008).
a coletividade pela perda de equilíbrio eco- Quando tratamos de responsabilidade
lógico advindo do dano ambiental. A legis- ambiental administrativa duas normas
lação, quanto à responsabilidade civil, bus- são importantes para o seu estudo: a Lei
ca a reparação do dano ou a indenização 9.605/1998 e, seu regulamento, o Decreto
correspondente. 6.514/2008. Desta forma, estas normas dis-
Agora você passará a estudar as duas es- ciplinam como deve ser exercido o poder de
feras punitivas do Direito Ambiental: a res- polícia ambiental e quais as infrações admi-
ponsabilidade administrativa e penal. Na nistrativas são cominadas aos que descum-
esfera administrativa, tipicamente preven- prirem estas determinações.
tiva, a legislação descreve algumas condu-
tas como infrações, prevendo a aplicação
de multas e outras sanções para evitar ou
44/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental
conforme mencionado, estão elencadas na
Para saber mais Lei 9.605/1998, a partir do seu artigo 70, e
no Decreto 6.514/2008, no artigo 3o. Des-
Poder de polícia é a atividade, tipicamente esta-
ta forma, apesar de ser denominada como
tal, de condicionar a liberdade e a propriedade
Lei de Crimes Ambientais, a Lei 9.605/1998
dos administrados, fiscalizando e ajustando aos
não estabelece apenas condutas crimino-
interesses coletivos. O objeto é limitar os interes-
sas, como também infrações administrati-
ses individuais e dotar de supremacia os interes-
vas ao meio ambiente.
ses da coletividade.
As espécies de sanções administrativas es-
O poder de polícia ambiental é uma de- tão elencadas no artigo 72 da Lei 9.605/1998
corrência lógica da competência material e no artigo 3o do Decreto 6.514/2008: (i)
ambiental comum prevista no artigo 23 da advertência, (ii) multa simples, (iii) multa di-
Constituição Federal. Este dispositivo deter- ária, (iv) apreensão, (v) destruição ou inutili-
mina que a gestão do equilíbrio ecológico e zação de produtos, (vi) suspensão de venda
o dever de preservação devem ser exercidos e fabricação do produto, (vii) embargo de
em cooperação entre os entes federativos. obra ou atividade, (viii) demolição de obra,
(ix) suspensão parcial ou total das ativida-
As infrações administrativas,
des e (x) restritivas de direitos.
45/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental
Ao contrário do que ocorre na responsabi- aplicação da sanção. Todas, no entanto, ex-
lidade civil ambiental, na responsabilidade cluem a responsabilidade do agente. São
administrativa ambiental são admitidas ex- causas de exclusão da infração, por ausên-
cludentes de responsabilidade. cia de voluntariedade: (i) fato da natureza
(força maior), (ii) caso fortuito, (iii) estado de
necessidade, (iv) legítima defesa, (v) doença
Link mental, (vi) fato de terceiro, (vii) coação ir-
resistível, (viii) erro. Impedem a aplicação da
Para estudar a responsabilidade ambiental é mui-
sanção administrativa: (ix) obediência hie-
to importante conhecer a jurisprudência do Su- rárquica, (x) estrito cumprimento do dever
perior Tribunal de Justiça para que você se mante- legal, (xi) exercício regular de direito.
nha atualizado. Para isto serve a “Jurisprudência
Em derradeiro, convém ressaltar que a res-
em Teses” publicada no sítio eletrônico do STJ.
ponsabilidade ambiental administrativa é
Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/ subjetiva, exigindo a comprovação e analise
jt/toc.jsp>. Acesso em: 25 set. 2017. de culpa do agente. Já houve divergência na
doutrina e na jurisprudência acerca da na-
tureza jurídica desta responsabilidade, sen-
Costuma-se utilizar a expressão “exclu-
do que o STJ firmou o entendimento pela
dentes” tanto para as causas que excluem
natureza subjetiva da responsabilidade am-
a infração como para as que impedem a
biental administrativa:
46/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. DANO AMBIENTAL. AUTO DE INFRAÇÃO.
RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA. EXIGÊNCIA DE DOLO OU CULPA. MULTA.
CABIMENTO EM TESE.
1. Segundo o acórdão recorrido, “a responsabilidade administrativa ambiental
é fundada no risco administrativo, respondendo, portanto, o transgressor das
normas de proteção ao meio ambiente independentemente de culpa lato senso,
como ocorre no âmbito da responsabilidade civil por danos ambientais” (e-STJ fl.
997).
2. Nos termos da jurisprudência do STJ, como regra a responsabilidade admi-
nistrativa ambiental apresenta caráter subjetivo, exigindo dolo ou culpa para
sua configuração.Precrdentes: REsp 1.401.500 Rel. Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, DJe 13/9/2016, AgRg no AREsp 62.584/RJ, Rel. Ministro Sér-
gio Kukina, Rel. p/ acórdão Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, DJe
7/10/2015, REsp 1.251.697/PR, Rel. Ministro. Mauro Campbell Marques, Segunda
Turma, DJe 17/4/2012.
3. Recurso Especial parcialmente provido (BRASIL, 2017).

47/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental


Desta forma, você deverá ficar atento com
as espécies de responsabilidades ambien-
tais: na esfera civil a responsabilidade é ob-
jetiva e nas esferas administrativa e penal a
responsabilidade será subjetiva.

48/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental


Glossário
Bis in iden: é a repetição de punição sobre um mesmo fato. No Brasil vige o princípio do non bis in
iden, sendo vedada a dupla punição pelo mesmo fato.
Status quo ante: é o estado em que a coisa se encontrava originalmente. Geralmente é uma ex-
pressão utilizada para se referir ao modo como um objeto se encontrava antes da ocorrência de
um ato ilícito.

49/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental


?
Questão
para
reflexão
Considerando que o dano ambiental é:
• Transfronteiriço – ultrapassa as fronteiras geográficas dos
países;
• Cumulativo;
• Invisível;
• Transtemporal – demora para se configurar;
• Imprescritível;
• Ilícito com nexo de causalidade amplo;
• Ambivalente – é um dano difuso e também é um dano
individual.
Para você, no Brasil, deveriam existir causas excludentes da ilicitu-
de na responsabilidade civil ambiental?
50/229
Considerações Finais

• A responsabilidade ambiental no Brasil é tríplice, uma vez que a Constitui-


ção Federal de 1988 estabeleceu, em seu artigo 225, parágrafo 3o, que o
poluidor estará sujeito a sanções penais, administrativas e cíveis;
• A responsabilidade civil ambiental: é fundada na teoria do risco integral, é
de natureza objetiva e estabelece a solidariedade entre o poluidor direto e
indireto;
• Os danos ambientais podem ser de natureza patrimonial ou extrapatrimo-
nial, podendo ser arbitrada indenização a título de dano moral ambiental,
individual ou coletivo.
• A Lei 9.605/1998 apesar de ser conhecida como Lei de Crimes Ambientais,
também, prevê infrações e sanções administrativas.
• A responsabilidade ambiental administrativa é subjetiva e exige a apura-
ção da culpa do agente.

51/229
Referências
BRASIL. Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe Sobre A Política Nacional do Meio
Ambiente, Seus Fins e Mecanismos de Formulação e Aplicação, e Dá Outras Providências.
Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em: 24
set. 2017.
_________. Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade
por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7347orig.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.
_________. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 24
set. 2017.
_________. Lei n° 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor
e dá outras providências. Brasília. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L8078.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.

_________. Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e


administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso
em: 24 set. 2017.

52/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental


Rreferências
_________. Superior Tribunal de Justiça. Ementa. Relator: MINISTRO LUIZ FUX. Brasília, DF, 02 de
maio de 2006. Recurso Especial nº 598.281. Brasília, 2006.
_________. Decreto n° 6.514, de 22 de julho de 2008. Dispõe sobre as infrações e sanções
administrativas ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo federal para
apuração destas infrações, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/decreto/d6514.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.

______. Superior Tribunal de Justiça. Ementa. Relator: MINISTRO HERMAN BENJAMIN. Brasília, DF,
24 de março de 2009. Recurso Especial nº 1.071.741. Brasília, 2009a.
______. Superior Tribunal de Justiça. Ementa. Relator: MINISTRA ELIANA CALMON. Brasília, DF, 10
de novembro de 2009. Recurso Especial nº 1.120.117. Brasília, 2009b.
______. Superior Tribunal de Justiça. Ementa. Relator: MINISTRO HERMAN BENJAMIN. Brasília, DF,
7 de março de 2017. Recurso Especial nº 1.640.243 - SC. Brasília, 2017.
LEITE, José Rubens Morato; PILATI, Luciana Cardoso; JAMUNDÁ, Woldemar. Estado de Direito
Ambiental no Brasil. In: KISH, Sandra Akemi S; SILVA, Solange Teles da; SOARES, Inês V. Prado
(Org.). Desafios do Direito Ambiental no Século XXI: estudos em homenagem a Paulo Affonso
Leme Machado. São Paulo: Malheiros, 2005
NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL. Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
1992. Disponível em: <www.onu.org.br/rio20/img/2012/01/rio92.pdf>. Acesso em: 27 jul. 2017.
53/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental
RODRIGUEIRO, Daniela A. Dano moral ambiental: sua defesa em juízo, em busca de vida digna
e saudável. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004.
SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

54/229 Unidade 2 • Responsabilidade ambiental


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Aula 2 - Tema: A Responsabilidade Ambiental Aula 2 - Tema: A Responsabilidade Ambiental


Bloco I Bloco II
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1d/7b065632fb379e88d376c54acf608094>. 1d/659a42026352e2b4981f72ea3c63fb36>.

55/229
Questão 1
1. Analise as seguintes assertivas:

(I) No Brasil não há possibilidade do ressarcimento de danos morais am-


bientais, vez que a ideia de coletividade é incompatível com o sofrimen-
to psicológico ou psíquico exigido para configuração do dano moral.
(II) A Lei 9.605/1998 – denominada Lei de Crimes Ambientais esta-
belece as condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e deter-
mina as respectivas sanções penais, reservando para outras legisla-
ções a previsão da responsabilidade ambiental civil e administrativa.
(III) A responsabilidade civil por danos ambientais é objetiva, nos termos do
artigo 14, parágrafo 1o, da Lei 6.938/1981. Em que pese haver controvérsia
doutrinária quanto à teoria adotada ser a do risco integral, o STJ já a recep-
cionou, expressamente. Logo, não será possível a quebra do nexo causal pelo
caso fortuito, força maior ou fato de terceiro. Apenas inexistirá a obrigação de
reparar o dano se a pessoa demonstrar que não houve prejuízo ambiental ou
que ele não decorreu direta ou indiretamente de sua atividade.

56/229
Questão 1
(IV) A responsabilidade civil por danos ambientais é de natureza objetiva,
sendo imprescindíveis, para sua caracterização, o elemento culpa e a com-
provação do caráter lesivo da atividade desenvolvida pelo agente.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta considerando V –


verdadeira e F – falsa:

a) I – V, II –V, III – V, IV – V.
b) I – F, II –F, III – F, IV – F.
c) I – F, II –F, III – V, IV – F.
d) I – V, II –F, III – V, IV – V.
e) I – V, II –V, III – F, IV – V.

57/229
Questão 2
2. Acerca da reparação dos danos ambientais, assinale a alternativa correta.

a) Há preferência pela recuperação in natura do meio ambiente, devendo haver a buscar do


status quo ante do meio degradado. Subsidiariamente, não sendo possível a recuperação do
meio ambiente, é admitida a reparação pecuniária do dano.
b) Em decorrência das regras constitucionais em matéria ambiental, as responsabilidades civil,
penal e administrativa por danos causados ao meio ambiente são de caráter objetivo.
c) O caráter objetivo da responsabilidade civil por danos ambientais fundamenta-se na teoria
do risco, que faz recair ao causador dos danos a obrigação de repará-los, independentemen-
te de culpa, admitindo-se apenas a aplicação das excludentes de caso fortuito e força maior.
d) A responsabilidade administrativa ambiental é objetiva, não havendo necessidade de apu-
ração da culpa do agente.
e) Não há previsão constitucional acerca da reparação dos danos ambientais.

58/229
Questão 3
3. Assinale a alternativa que apresenta o conceito adequado da responsabi-
lidade ambiental tríplice.

a) A responsabilidade ambiental é tríplice, pois poderão ser responsabilizados o poluidor dire-


to, indireto e o estado que se omitiu na fiscalização do dano ambiental.
b) A responsabilidade tríplice é aquela que admite responsabilização de até três sujeitos res-
ponsáveis pelo dano ambiental.
c) A responsabilidade tríplice determina que a esfera legislativa, administrativa e judiciária
ambiental são independentes.
d) A responsabilidade tríplice impõe que os infratores ambientais estão sujeitos a sanções pe-
nais, administrativas e a obrigação de reparar o dano causado. Desta forma, há independên-
cia entre as esferas cível, administrativa e penal.
e) Ela não é prevista na Constituição brasileira.

59/229
Questão 4
4. Quanto às espécies de responsabilidade ambiental assinale a alternativa cor-
reta:

a) A responsabilidade administrativa é objetiva.


b) A responsabilidade penal é objetiva.
c) A responsabilidade civil é objetiva.
d) A responsabilidade legislativa é objetiva.
e) Não há previsão constitucional acerca da responsabilidade ambiental.

60/229
Questão 5
5. Assinale a alternativa que apresenta uma sanção NÃO prevista como es-
pécie de sanção administrativa, conforme artigo 72 da Lei 9.605/1998 e arti-
go 3o do Decreto 6.514/2008:

a) Restritiva de direitos.
b) Privativa de liberdade.
c) Advertência.
d) Multa simples.
e) Multa diária.

61/229
Gabarito
1. Resposta: C. 4. Resposta: C.

I – Falsa, vide artigo 1o da Lei 7.347/1985; Segundo o artigo 14 Lei 6.938/1981.


II – Falsa, pois a Lei 9.605/1998 estabelece
crimes ambientais e infrações administrati- 5. Resposta: B.
va ambientais; III – Verdadeira, STJ. Recurso
Especial 598.281, de 01.06.2006. IV – Falsa, Em conformidade ao artigo 70, Lei
pois é prescindível o elemento culpa. Artigo 9.605/1998, e artigo 3º, Decreto
14, Lei 6.938/1981. 6.514/2008.

2. Resposta: A.

A reparação pecuniária é subsidiária à repa-


ração in natura do meio ambiente.

3. Resposta: D.

Em conformidade ao artigo 225, parágrafo


3o, Constituição Federal.
62/229
Unidade 3
Introdução ao direito penal ambiental

Objetivos

1. Iniciar o estudo da responsabilidade am-


biental penal através da análise da Lei de
Crimes Ambientais;
2. Traçar um panorama da responsabilidade
ambiental penal, em especial as inova-
ções trazidas pela Lei 9.605/1998.
3. Compreender a parte geral da Lei de Cri-
mes Ambientais.

63/229
Introdução

As lesões causadas ao equilíbrio ecológico a atuação das demais esferas jurídicas se


são inúmeras na sociedade atual. Podemos mostra insuficiente, entra o Direito Pe-
citar as alterações climáticas, a escassez de nal para efetivar a repressão das condutas
recursos naturais, a poluição hídrica, a con- lesivas.
taminação do solo como alguns dos efeitos
adversos do desenvolvimento social e eco- 1. A responsabilidade penal am-
nômico das nações. biental
A busca pela higidez ambiental encontra no
Conforme verificamos, a responsabilida-
Direito Penal uma das mais relevantes fer-
de ambiental pelas condutas lesivas ao
ramentas para garantir a sadia qualidade
meio ambiente é tríplice, sendo ao agente
de vida na Terra. Fato é que, ainda, não pos-
impostas sanções civis, administrativas e
suímos um estágio avançado de conscienti-
criminais.
zação da população com as questões afetas
ao uso racional dos recursos ambientais. A própria Constituição Federal de 1988,
em seu artigo 225, parágrafo 3o estabele-
Por esta razão, surge a necessidade de cri-
ceu um mandado explícito de criminaliza-
minalização de determinadas condutas no-
ção de comportamentos danosos ao meio
civas à natureza, que colocam em risco a
ambiente.
própria existência humana. Assim, quando
64/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental
mosaico, com a proteção ambiental situa-
Para saber mais da em algumas leis e fora do Código Penal.
Assim, foi editada a Lei 9.605/1998 que dis-
Mandados de criminalização são ordens dadas
põe acerca das sanções penais e adminis-
pela Constituição Federal às normas infraconsti-
trativas derivadas de condutas e atividades
tucionais para que elas estabeleçam a criminali-
prejudiciais ao meio ambiente.
zação de determinadas condutas. Ou seja, é uma
ordem para que sejam criados fatos típicos am- Como o direito a um meio ambiente eco-
bientais e cominadas às respectivas penas. Deste logicamente equilibrado é considerado um
modo, deve haver proporcionalidade entre o man- direito fundamental, a tutela penal que visa
dado constitucional de criminalização e a norma proteger os recursos naturais se faz extre-
infraconstitucional que cumpre este encargo: não mamente necessária.
pode haver proteção deficiente, tampouco exces- Assim, levando em consideração que o ar-
so de proibição. tigo 1º da Constituição Federal estabelece
Por questões de política ambiental crimi- que a dignidade da pessoa humana constitui
nal, o legislador brasileiro preferiu não in- um dos fundamentos da nossa República, o
corporar as condutas delitivas ao Código Direito Penal, como ramo do direito sancio-
Penal, optando por uma legislação de tipo nador, demanda, obrigatoriamente, a atua-
ção dos agentes políticos para estabelecer
65/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental
punições àqueles que degradam o meio mostrarem insuficientes. Ademais, você não
ambiente. poderá confundir a responsabilidade am-
No entanto, é importante lembrar que o biental civil que é objetiva, com a responsa-
Direito Penal é regido pelo princípio da in- bilização ambiental penal que é de natureza
tervenção mínima, o qual estabelece que a subjetiva.
missão do Direito Penal seja a de tutelar os No Brasil, conforme o artigo 18 do Código
bens jurídicos mais relevantes, possuindo, Penal, ninguém poderá responder por um
assim, caráter fragmentário. Isto significa crime se não agiu com dolo ou deu causa ao
dizer que a tutela ambiental penal é a ulti- resultado agindo de forma culposa. Assim,
ma ratio (último recurso), sendo legítima a no nosso ordenamento vige a vedação da
intervenção penal, apenas, quando a crimi- responsabilidade penal objetiva. Somente
nalização de um fato se constitui meio in- poderá responder por crime quem agiu com
dispensável para a proteção de determina- dolo ou culpa.
do bem ou interesse que não pode ser, sa-
tisfatoriamente, tutelado por outros ramos
do ordenamento jurídico. Em outros termos,
apenas se faz legítima a intervenção crimi-
nal quando a tutela civil e administrativa se
66/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental
2. As inovações trazidas pela lei destaca como um texto normativo de cará-
de crimes ambientais ter criminal, mesmo prevendo a hipótese de
responsabilização criminal das pessoas ju-
Neste momento é necessário que você ana- rídicas (inciso IV, do artigo 3º).
lise o histórico das leis penais que tutelam o Nesse contexto, apenas com a publicação
meio ambiente. A proteção ambiental está da Lei Nº 9.605/1998 – Lei de Crimes Am-
presente na legislação brasileira desde os bientais - é que se formulou um microssis-
tempos das Ordenações Filipinas, que proi- tema jurídico penal voltado para sancionar
biam atos que poderiam causar a mortan- os delitos ambientais.
dade dos animais aquáticos. No entanto,
tais dispositivos legais estavam dispersos
em inúmeros diplomas, o que dificultava a
sua aplicação e efetividade.
Em 1981, foi publicada a Lei da Políti-
ca Nacional do Meio Ambiente (Lei Nº
6.938/1981), porém, apesar desta legis-
lação ser considerada um marco históri-
co para a proteção ambiental, ela não se
67/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental
De acordo com as palavras de Freitas e Freitas:

Muito embora a legislação fosse dispersa em vários diplomas legais, a


verdade é que o Judiciário começou a julgar mais crimes ambientais. Afi-
nal, a conscientização foi se tornando maior e os agentes do Ministério
Público, já atuantes na área da ação civil pública, começaram a preocu-
par-se mais com a esfera penal. Assim, as decisões não apenas se torna-
ram mais frequentes como passaram a revelar maior preocupação com o
meio ambiente (FREITAS; FREITAS, 2012, p . 26 ).

Isso se deve pela promulgação da Lei de Crimes Ambientais que foi responsável pela consolida-
ção de todos os ilícitos penais ambientais existentes em apenas um diploma normativo. Desta
forma, muitos doutrinadores arriscam dizer que a Lei 9.605/1998 não trouxe nenhuma inovação
significativa, ela apenas representa a junção de todos os crimes ambientais no mesmo diploma
legal, visando maior aplicação e efetividade da proteção ambiental.
Assim, a publicação desta lei constitui um facilitador para a aplicação de sanções contra crimes
ambientais, pois, de maneira geral, foram divididos os delitos de acordo com suas espécies e
foram cominadas as respectivas penas, criando tipos penais diferenciados, estabelecendo pro-
cedimentos específicos para a apuração da ocorrência do ilícito.
Conforme palavras dos juristas Silva e Fracalossi: “Indubitavelmente, o maior mérito da Lei
68/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental
9.605/1998 está em ter aglutinado e sistematizado a quase totalidade das disposições relativas
ao tratamento criminal das condutas lesivas ao meio ambiente (...)” (2010, p.409).
Destaca-se que a ação penal referente aos crimes ambientais é pública incondicionada. Desta
forma, para a instauração do inquérito policial ou da ação penal basta a ocorrência do delito,
sendo reservado ao Ministério Público, tal como dispõe o artigo 129, inciso I, da Constituição
Federal, a titularidade e a obrigatoriedade de promovê-la por meio da denúncia, nos termos do
artigo 24 do Código de Processo Penal.
Em relação à edição da Lei de Crimes Ambientais ilustra Ana Maria Moreira Marchesan:

De fato, o espírito da lei é de avanço; é de adesão aos princípios da precaução e


da efetiva reparação do dano ambiental. Entrementes, devido ao longo tempo
de tramitação nas duas casas legislativas, o projeto, em alguns aspectos, acabou
se desviando de seu norte teleológico, mercê de influências fortes geradas pela
onda de leis excessivamente despenalizadoras que tomou conta de nosso orde-
namento jurídico, além das influências de outros grupos de pressão com marcada
presença no Parlamento, menos comprometidos com a questão ambiental. (...).
Embora o hercúleo trabalho do grupo de juristas (muitos deles engajados na cau-
sa relacionada à tutela do meio ambiente) que propôs o projeto de lei que redun-
dou na chamada “Lei da Natureza”, remanescem em vigor diversos outros tipos
penais ambientais em leis outras (MARCHESAN, s.d.).
69/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental
Com estas palavras, gostaríamos de chamar atenção para dois pontos importantes. O primeiro
deles é que você deve notar que são utilizados institutos despenalizadores da Lei dos Juizados
Especiais Criminais (Lei 9.099/1995) – transação penal e suspensão condicional do processo,
conforme estudará adiante.

Desta maneira, restou evidenciado que a Lei de Crimes Ambientais obje-


tivou a não utilização do encarceramento como norma geral para as pes-
soas físicas criminosas, a responsabilização penal das pessoas jurídicas e
a valorização da intervenção da Administração Pública, através de autori-
zações, licenças e permissões (MACHADO, 2011, p.781).

O segundo ponto de destaque se refere ao fato de que ainda há delitos ambientais que não estão
elencados na Lei de Crimes Ambientais, entretanto, permanecem em plena vigência no ordena-
mento jurídico brasileiro.
Para você possuir maior conhecimento sobre o assunto e consultar, quando necessário, seguem
os delitos ambientais em vigência em nosso país que não estão previstos na Lei de Crimes Am-
bientais, mas sim tipificados em outras normas:

70/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental


• Artigo 250 do Código Penal;
• Artigos 31 e 42 da Lei de Contraven- Link
ções Penais; Cetáceos são mamíferos aquáticos como baleias,
golfinhos e botos. Possuímos no Brasil Planos de
• Artigos 23, 26 e 27 da Lei 6.453/1977
Ações Nacionais de Mamíferos Aquáticos. Dispo-
– dispõe acerca de danos nucleares;
nível em: <http://www.icmbio.gov.br/cma/
• Artigo 2o da Lei 7.643/1987 – lei que planos-de-acao-nacionais-de-mamiferos-
proíbe pescar ou molestar cetáceo; -aquaticos.html>. Acesso em: 24 set. 2017.
• Artigo 15 da Lei 7.802/1989 – dispõe
acerca da fiscalização de agrotóxicos;
3. Índice sistemático da lei de
• Artigos 24 a 29 da Lei 11.105/2005 – crimes ambientais
dispõe acerca da Política Nacional de
Biossegurança. Visando guiar seu estudo do Direito Penal
Desta forma, a Lei 9.605/1998 não Ambiental e garantir que você possua um
revogou todos os crimes e contravenções conhecimento topográfico acerca do tema,
passamos a analisar o índice sistemático da
penais ambientais existentes em outras
9.605/1998 – Lei de Crimes Ambientais:
normas.
71/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental
Capítulo 1 – Disposições Gerais: artigos 1o a Ambientais: artigos 54 a 61.
5 o. Seção 4 – Dos Crimes Contra o Ordenamen-
Capítulo 2 – Da Aplicação da Pena: artigos to Urbano e o Patrimônio Cultural: artigos
6o ao 24. 62 a 65.
Capítulo 3 – Da Apreensão do Produto e do Seção 5 – Dos Crimes Contra a Administra-
Instrumento de Infração Administrativa ou ção Ambiental: artigos 66 a 69-A.
de Crime: artigo 25. Capítulo 6 – Da Infração Administrativa: ar-
Capítulo 4 – Da Ação e do Processo Penal: tigos 70 a 76.
artigos 26 a 28. Capítulo 7 – Da Cooperação Internacional
Para a Preservação do Meio Ambiente: arti-
Capítulo 5 – Dos Crimes Contra o Meio Am-
gos 77 e 78.
biente: artigos 29 a 69-A.
Capítulo 8 – Disposições Finais: artigos 79 a
Seção 1 – Dos Crimes Contra a Fauna: arti-
82.
gos 29 a 37.
Não serão objeto do seu estudo as dispo-
Seção 2 – Dos Crimes Contra a Flora: artigos sições do Capítulo 3, 6 e 7, pois nossa dis-
38 a 53. ciplina exige atenção apenas aos aspectos
Seção 3 – Da Poluição e Outros Crimes criminais desta norma.
72/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental
4. Disposições gerais da lei de Antes de mais nada, você precisa conhecer
crimes ambientais a regra da especialidade do Direito Penal. O
artigo 12 do Código Penal estabeleceu que
A partir de agora você estudará os artigos as regras gerais previstas no Código Penal
aplicam-se aos fatos incriminados por leis
1o a 5o da Lei 9.605/1998. É importante que
especiais, como é o caso dos crimes ambien-
você tenha em mãos a legislação atualiza- tais que são tipificados em norma própria.
da, pois os artigos 1o e 5o foram vetados e
Entretanto, conforme o princípio da espe-
os demais artigos vigentes podem ser alte- cialidade, somente serão aplicadas as nor-
rados a qualquer momento. mas gerais do Código Penal se a lei criminal
especial não dispuser de modo diverso.
Link Esta máxima deverá orientar todo o seu es-
tudo do Direito Penal Ambiental. Ou seja, se
Para ter acesso às legislações atualizadas acon- a lei ambiental previr uma disposição penal
selhamos que as normas sejam consultadas atra- esta será aplicada em detrimento das nor-
vés do site da Presidência da República. Neste mas gerais penais previstas no Código Pe-
sítio eletrônico você encontrará todas as leis fe- nal. Assim, somente se a lei ambiental não
dispuser de modo contrário, serão aplica-
derais devidamente atualizadas. Disponível em:
das as regras gerais do Código Penal.
<http://www2.planalto.gov.br>. Acesso em:
24 set. 2017.

73/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental


Para saber mais
O princípio da especialidade é um dos princípios que visam solucionar o conflito aparente de normas
criminais. O ordenamento jurídico é perfeito, vez que ele mesmo prevê regras para solucionar eventual
situação de lacuna, ou seja, situação não amparada pelo ordenamento jurídico. Deste modo, o conflito
de leis penais é, meramente, aparente, pois há princípios que solucionam estas situações conflituosas.
Esses princípios são: (i) princípio da especialidade, que determina que o tipo especial prevalece sobre
o tipo geral; (ii) princípio da subsidiariedade, que estabelece que o tipo primário prevalece sobre o tipo
subsidiário; (iii) princípio da consunção, que impõe que o crime fim absorve o crime meio; e (iv) princípio
da alternatividade, que estabelece que quando há pluralidade de condutas vinculadas que atingem o
mesmo objeto material serão as condutas consideradas como crime único.

O artigo 2o da Lei 9.605/1998 estabelece regras importantes acerca do polo ativo dos crimes
ambientais. Este artigo invoca a teoria unitária do concurso de pessoas que é a adotada no artigo
29 do Código Penal.
A Teoria Unitária, Monista ou Monística estabelece que quem concorre para a prática de um cri-
me por ele responde. Desta forma, deve haver unidade de infração penal para todos os agentes.
Ou seja, todos serão punidos pela prática do mesmo delito.
74/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental
No entanto, você deve ficar atento ao fato uma omissão imprópria que muito se asse-
de que todos são punidos pela prática do melha com a figura do garantidor que está
mesmo delito, mas cada um terá sua pena disciplinado no artigo 13, parágrafo 2o do
individualizada, podendo cada um ter uma Código Penal.
pena diversa. Assim, os agentes respondem
na medida de sua culpabilidade, então, as
penas são individualizadas e aplicadas con-
forme a medida da culpabilidade de cada
agente.
Deste modo, o artigo 2o estabelece que se-
rão responsabilizados pelo crime ambien-
tal não somente o agente que o praticou,
como também o diretor, o administrador, o
membro de conselho da empresa, o auditor,
o gerente ou o preposto da empresa que sa-
bendo da conduta criminosa deixa de impe-
di-la quando poderia agir para evitá-la.
É criada, então, pela Lei de Crimes Ambientais
75/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental
Para saber mais
Os crimes de omissão própria são os crimes omissivos previstos na parte especial do Código Penal. Ne-
les o legislador descreve uma inação do agente, em uma situação em que ele poderia agir para evitar o
resultado. Por outro lado, nos crimes de omissão imprópria deve haver a junção das determinações do
artigo 13, parágrafo 2o, do Código Penal (omissões penalmente relevantes) com algum crime de ação.
Como exemplo de crimes de omissão imprópria podemos citar a situação em que um curatelado dese-
ja furtar um bem e o seu curador não age para evitar o furto. Nesta situação, o curador responderá por
furto, conforme o artigo 13, parágrafo 2o, combinado com o artigo 155, ambos do Código Penal. Outro
exemplo de crime omissivo improprio é aquele cometido pela baba, que vê que a criança que está sob
seus cuidados está se aproximando da piscina, com o intuito de mergulhar, e nada faz para impedir sua
morte. Ocorrendo a morte do menor a baba responderá por homicídio, que é um delito de ação, por
conta de sua omissão penalmente relevante, vez que a baba assume a responsabilidade de cuidar da
criança (artigo 13, parágrafo 2o, alínea b, combinado com artigo 121 ambos do Código Penal).

76/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental


O garantidor é aquele que tem o dever que a responsabilidade tríplice da pessoa jurí-
agir para evitar um determinado resultado dica. Isto significa que se a pessoa jurídica
e, se assim não agir, será responsabilizado, cometer um ilícito ambiental ela poderá ser
pois sua omissão é penalmente relevante. A responsabilizada na esfera cível, criminal e
Lei de Crimes Ambientais determinou que administrativa, assim como ocorre com as
se houver omissão penalmente relevante pessoas físicas, nos termos do artigo 225,
no âmbito empresarial a pessoa jurídica e parágrafo 3o, da Constituição Federal.
as pessoas físicas causadoras do crime am- Este artigo, em seu parágrafo único, tam-
biental poderão ser responsabilizadas por bém estabelece que a responsabilidade da
sua omissão. pessoa jurídica não exclui a responsabilida-
Como exemplo de aplicação desta regra de das pessoas físicas causadoras do delito.
podemos mencionar o caso de um diretor Este assunto será tratado adiante quando
de empresa que possui conhecimento que você estudar a responsabilidade criminal
funcionários estão causando poluição de das pessoas jurídicas e a teoria da dupla
águas, em razão das atividades empresa- imputação.
riais, e nada faz para evitar esta poluição. Por fim, cabe analisar o artigo 4o da Lei de
Ele responderá pelo crime de poluição de Crimes Ambientais que estabelece uma re-
águas por conta de sua omissão. gra para responsabilidade civil das pessoas
O artigo 3o da Lei de Crimes Ambientais cria jurídica. Desta forma, fique atento, pois a

77/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental


desconsideração da personalidade jurídica
é uma regra civil, para o ressarcimento dos
danos causados ao meio ambiente. Não é
uma regra criminal, apesar de estar contida
no âmbito da Lei de Crimes Ambientais.

78/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental


Glossário
Concurso de pessoas: ocorre quando duas ou mais pessoas se unem para praticar um crime.
Para que haja concurso de pessoas deve haver a pluralidade de agentes e de condutas, estas
condutas devem possuir relevância penal e deve haver vínculo subjetivo entre os agentes.
Crimes e Contravenções Penais: conforme o artigo 1o da Lei de Introdução ao Código Penal
considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer
isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a in-
fração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas,
alternativa ou cumulativamente.
Institutos despenalizadores: são três instrumentos criados pela Lei 9.099/1995 – Lei dos Juiza-
dos Especiais Criminais – a transação penal (artigo 76), a composição civil (artigo 74) e a suspen-
são condicional do processo (artigo 89).

79/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental


?
Questão
para
reflexão

Considerando que o Direito Penal se mostra como im-


portante instrumento para efetivar o direito fundamen-
tal ao equilíbrio ecológico resguardado pelo artigo 225
da Constituição Federal seria possível flexibilizar o prin-
cípio da mínima intervenção que deve reger o Direito
Penal?

80/229
Considerações Finais

• A Lei de Crimes ambientais compilou muitos delitos ambientais já existen-


tes antes de sua edição. Ademais, esta norma não revogou todos os crimes
ambientais que não estão em seu bojo. Desta forma, há crimes ambientais
que não estão previstos nesta norma;
• De acordo com o princípio da especialidade, somente serão aplicadas as
normas gerais do Código Penal se a lei criminal especial não dispuser de
modo diverso.
• Os conflitos aparentes de normas penais são solucionados pelos princí-
pios: (i) da especialidade, (ii) da subsidiariedade, (iii) da consunção, e (iv) da
alternatividade.
• O garantidor é aquele que tem o dever de agir para evitar um determinado
resultado e, se assim não fizer, será responsabilizado, pois sua omissão é
penalmente relevante.

81/229
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 24
set. 2017.
_________. Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e
administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso
em: 24 set. 2017.

FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes Contra a Natureza. 9. ed. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 19. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2011.

MARCHESAN, Ana Maria Moreira. Alguns Aspectos sobre a Lei dos Crimes Ambientais.
s.d. Disponível em: <http://www.mppe.mp.br/siteantigo/siteantigo.mppe.mp.br/uploads/
CxSudXmAvSaG-liU2TJ-ow/pRPaQ3xeYFNLxBFd1tllGg/Alguns_aspectos_sobre_a_Lei_dos_
Crimes_Ambientais.doc>. Acesso em: 10 ago. 2017.

82/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental


Referências

SILVA, Anderson Furlan Freire da; FRACALOSSI, Willian. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Forense,
2010.

83/229 Unidade 3 • Introdução ao direito penal ambiental


Assista a suas aulas

Aula 3 - Tema: Introdução ao Direito Penal Am- Aula 3 - Tema: Introdução ao Direito Penal Am-
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84/229
Questão 1
1. Assinale a alternativa correta acerca da responsabilidade criminal por de-
litos ambientais cometidos no âmbito de atividades empresariais.

a) Quem, de qualquer forma concorre para a prática de crimes ambientais incide nas penas a
estes cominadas, conforme a culpabilidade da pessoa jurídica, bem como o diretor, o ad-
ministrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou
mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da sua conduta criminosa ou da conduta crimi-
nosa de outrem, deixa de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.
b) Quem, de qualquer forma concorre para a prática de crimes ambientais incide nas penas a
estes cominadas, na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o
membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de
pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixa de impedir a sua prá-
tica, quando podia agir para evitá-la.
c) Quem, de qualquer forma concorre para a prática de crimes ambientais incide nas penas
a estes cominadas, na medida de sua culpabilidade, não responsabilizando o diretor, o ad-
ministrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou
mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixa de im-
pedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.
85/229
d) Quem, de qualquer forma concorre para a prática de crimes ambientais incide nas penas
a estes cominadas, devendo todos possuir a mesma pena. Também responderá o diretor, o
administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto
ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixa de
impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.
e) Quem, de qualquer forma concorre para a prática de crimes ambientais incide nas penas a
estes cominadas, na medida de sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o
membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de
pessoa jurídica que causem direta ou indiretamente os danos ambientais.

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Questão 2
2. Segundo o artigo 2o da Lei 9.605/1998, as pessoas jurídicas serão respon-
sabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei,
nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante
legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da
sua entidade. Essa responsabilidade da pessoa jurídica é denominada:

a) Responsabilidade subsidiária.
b) Responsabilidade solidária.
c) Responsabilidade tríplice.
d) Responsabilidade civil diferenciada das pessoas jurídicas.
e) Desconsideração da personalidade jurídica.

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Questão 3
3. Acerca das inovações trazidas pela Lei de Crimes Ambientais assinale a al-
ternativa INCORRETA.

a) A Lei 9.605/1998 pode ser considerada um avanço para a efetividade da proteção ambien-
tal, pois ela consolidou em seu texto muitos delitos ambientais já previstos em legislações
esparsas.
b) A Lei de Crimes Ambientais prevê a responsabilidade criminal da pessoa jurídica e estabe-
lece que se a personalidade jurídica for um obstáculo ao ressarcimento do dano ambiental
pode ocorrer a desconsideração da pessoa jurídica.
c) A Lei 9.605/1998 revogou todos os delitos ambientais previstos em outras normas. Desta
forma, não há crimes ambientais que não estejam previstos nesta lei.
d) Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas
penas a estes cominadas, na medida de sua culpabilidade.
e) A Lei 9.605/98, a Lei de Crimes Ambientais, prevê infrações administrativas ao meio ambiente.

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Questão 4
4. Assinale a alternativa correta acerca da punição dos agentes que come-
tem crimes ambientais.

a) Segundo a Teoria Monista quem concorre para o crime somente poderá responder se for o
coautor do delito. Não há punição de partícipes.
b) De acordo com a Teoria Monista adotada pelo artigo 29 do Código Penal e pelo artigo 2o
da Lei 9.605/1998 todos que concorrem para o delito ambiental devem ser punidos com a
mesma pena.
c) No Brasil é cabível a responsabilidade objetiva criminal da pessoa jurídica.
d) O Direito Penal é a ultima ratio no ordenamento jurídico brasileiro. Desta forma, somente po-
derá haver atuação do Direito Penal quando as esferas cível e administrativa se mostrarem
insuficientes para a tutela do bem jurídico protegido.
e) Não há previsão da possibilidade de concurso de agentes na Lei de Crimes Ambientais.

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Questão 5
5. Assinale a alternativa correta acerca das disposições gerais da Lei 9.605/98.

a) Conforme o artigo 12 do Código Penal as regras gerais previstas no Código Penal se apli-
cam aos fatos incriminados nas regras especiais, mesmo que estas prevejam em sentido
contrário.
b) O artigo 12 do Código Penal estabelece o princípio da subsunção utilizado para solucionar
conflito aparente de normas.
c) O disposto na parte geral do Código Penal será aplicado, se a norma especial ambiental não
dispuser de modo diverso.
d) A responsabilidade ambiental penal sempre será objetiva.
e) Não há previsão constitucional acerca da responsabilidade ambiental.

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Gabarito
1. Resposta: B. 4. Resposta: D.

Em conformidade ao artigo 1o da Lei O princípio da mínima intervenção da tu-


9.605/1998. tela penal estabelece que somente poderá
haver atuação da esfera criminal quando as
2. Resposta: C. outras esferas se mostrarem insuficientes.
Desta forma, o Direito Penal deve ser a ulti-
A responsabilidade tríplice é aquela que de- ma ratio.
termina que tanto as pessoas físicas como
as pessoas jurídicas serão responsabiliza- 5. Resposta: C.
das nas esferas cível, administrativa e penal
A questão está de acordo com o artigo 12
pelos atos lesivos ao meio ambiente.
do Código Penal. Conforme o princípio da
especialidade das normas a norma especial
3. Resposta: C.
prefere a norma geral.
Além dos delitos previstos na Lei 9.605/1998,
há outros crimes ambientais previstos em
outras leis.

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Unidade 4
A teoria da pena ambiental

Objetivos
1. Dar continuidade ao estudo da res-
ponsabilidade ambiental penal atra-
vés da análise da aplicação da pena
nos delitos ambientais, em especial o
capítulo II da Lei 9.605/1998.
2. Verificar as regras especiais, previstas
na lei ambiental, acerca das circuns-
tâncias judiciais, substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de
direitos, agravantes, atenuantes, Sur-
sis, fixação da pena da multa e repa-
ração dos danos civis arbitrada pelo
juízo criminal.

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Introdução

No último tema você verificou quais inova- notar que o sujeito ativo do crime ambiental
ções foram introduzidas ao ordenamento poderá ser qualquer pessoa e o sujeito pas-
jurídico com a edição da Lei 9.605/1998. sivo é toda coletividade. Em outros termos,
Também abordamos as disposições gerais qualquer pessoa, física ou jurídica, poderá
acerca da Lei de Crimes Ambientais que de- cometer o crime ambiental e toda coletivi-
terminam a adoção da Teoria Monista para dade é atingida quando o bem jurídico am-
o concurso de pessoas, que criam a figura biental é prejudicado.
do garantidor nos delitos ambientais e a
desconsideração da personalidade jurídica, 1. A teoria da pena na lei am-
quando esta for óbice ao ressarcimento do biental
dano ambiental.
Para iniciar este estudo você deverá ler os
Neste momento prosseguiremos o estu-
artigos 6o a 24 da Lei 9.605/1998. Este ca-
do dos aspectos penais da Lei 9.605/1998.
pítulo tratará da aplicação da pena nos cri-
Agora você precisará saber: quem poderá
mes ambientais.
ser sujeito ativo e sujeito passivo dos deli-
tos ambientais e como se dá a aplicação da Conforme verificado anteriormente, a Par-
pena nos crimes ambientais. te Geral do Código Penal (artigos 1o a 120),
as disposições processuais do Código de
Ao longo de seu estudo você conseguirá
93/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental
Processo Penal ou da Lei dos Juizados Espe- Desta forma, agora que você analisará as
ciais Criminais apenas serão aplicadas às le- disposições da Lei 9.605/1998, deverá no-
gislações especiais, caso estas leis especiais tar as regras criadas pela norma ambiental
não prevejam regras específicas. Isto é o que que são aplicadas em detrimento da regra
disciplina o princípio da especialidade. geral prevista no Código Penal. Vale lembrar
Reforçando este princípio, o artigo 79 da Lei que para aplicar a pena o juiz persegue três
9.605/1998 estabeleceu que “aplicam-se etapas:
subsidiariamente a esta lei as disposições • Fixação da quantidade da pena: para
do Código Penal e do Código de Processo realizar a dosimetria da pena, o juiz
Penal” (BRASIL, 1998). deve atentar aos critérios do artigo 68
do Código Penal;
Para saber mais • Fixação do regime inicial de cumpri-
Para relembrar o princípio da especialidade você mento da pena privativa de liberdade;
deve recordar que a lei especial deve ser aplicada, • Verificação da possibilidade de subs-
em detrimento da lei geral, quando ela, expressa- tituição da pena privativa de liber-
mente, tratar de modo diverso o previsto na regra dade por pena restritiva de direitos.
geral. Não sendo possível a substituição,
94/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental
verificação da possibilidade da con- Essa regra, então, cria circunstâncias judi-
cessão de Suspensão Condicional da ciais específicas da lei ambiental que devem
Pena (Sursis). ser respeitadas pelo juiz na primeira fase da
dosimetria da pena, conforme estabeleci-
2. As Circunstâncias Judiciais do no artigo 59 do Código Penal. Por con-
Ambientais seguinte, o magistrado, além de considerar
as circunstâncias do artigo 59 do Código
O artigo 6o da Lei 9.605/1998 estabelece os Penal, ele também deverá considerar as cir-
critérios que deverão ser observados pelo cunstâncias judiciais específicas contidas
juiz para realizar a gradação da pena am-
no artigo 6o da Lei 9.605/1998.
biental. Então, o magistrado deverá consi-
derar: (i) a gravidade concreta do fato, (ii) os
antecedentes ambientais do infrator e (iii)
sua situação econômica. Atente que esta
regra serve tanto para gradação da sanção
penal quanto para gradação da sanção ad-
ministrativa, pois a Lei 9.605/1998 também
disciplina acerca da responsabilidade admi-
nistrativa ambiental.
95/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental
3. Substituição da pena privativa
Para saber mais de liberdade por restritiva de di-
Você se lembra de como é realizada a dosimetria reitos
da pena privativa de liberdade no Brasil? O critério
que adotamos é o denominado critério trifásico, Os artigos 7o a 13 da Lei 9.605/1998 dis-
pois há três fases que o juiz deve percorrer até ciplinam acerca das penas restritivas de
arbitrar a pena final, conforme artigo 68 do Código direitos aplicáveis às pessoas físicas. Note
Penal. Na primeira fase da dosimetria o juiz fixará que elas possuem como características: a
a pena-base, com auxílio das circunstâncias autonomia, a substitutividade e a conversi-
judiciais estabelecidas no artigo 59 do Código bilidade em prisão (artigo 44, parágrafo 4o
Penal; na segunda fase aplica as agravantes e do Código Penal). Vale ressaltar que as pe-
atenuantes genéricas, previstas nos artigos 61 a nas restritivas de direitos são, efetivamen-
66 do Código Penal; e, finalmente, serão aplicadas te, penas; independentemente da ausência
as causas de aumento e de diminuição de pena. de privação de liberdade.
A substitutividade e a autonomia estão
elencadas, respectivamente, nos artigos 44
e 54 do Código Penal.

96/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental


As penas restritivas de direitos são substitutivas, porque resultam do pro-
cedimento judicial que, depois de aplicar uma pena privativa de liberda-
de, efetua a sua substituição por uma ou mais penas restritivas de direi-
tos, desde que presentes os requisitos legais. (...) São também dotadas de
autonomia, isto é, uma vez substituídas, não podem ser cumuladas com a
pena privativa de liberdade. Em suma, o magistrado deve aplicar isolada-
mente uma pena privativa de liberdade para, em seguida, substituí-la por
uma ou mais restritivas de direitos. É vedado, contudo, soma-las (MAS-
SON, 2012, p.676-677).

97/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental


após ter sido condenado, por sentença transitada em julgado, por delito anteriormente prati-
cado. Logo, a reincidência é a prática de novo crime após condenação definitiva, que pode ter
ocorrido no Brasil ou no exterior, pela prática de crime anterior.
O parágrafo primeiro, do artigo 7o, da Lei 9.605/1998 estabeleceu, assim como o previsto no ar-
tigo 55 do Código Penal, que as penas restritivas de direitos terão a mesma duração das penas
privativas de liberdade.

há uma sutil diferença porque a substituição prevista no artigo 44, I,


do Código Penal, menciona pena privativa de liberdade não superior a
4 anos. Ou seja, uma pena privativa de liberdade de exatos 4 anos não
poderá ser convertida em restritiva de direito à luz do artigo 7o, da Lei
9.605/1998, o que não ocorre nos crimes que não sejam ambientais
(AMADO, 2016, p.660).

O artigo 8o da Lei 9.605/1998 apresenta o rol das penas restritivas de direitos que podem ser
aplicadas as pessoas físicas. São elas: a prestação de serviços à comunidade, a interdição tem-
porária de direitos, a suspensão total ou parcial das atividades, a prestação pecuniária e o reco-
lhimento domiciliar.
Em relação às penas restritivas de direito, estabelecidas pelo Código Penal no artigo 43, notamos
98/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental
que para os crimes ambientais não há a pre- cometido a título de culpa, por negligencia,
visão de limitação de fim de semana e perda imprudência ou imperícia.
de bens e valores. Também, houve a criação A sanção de suspensão total ou parcial das
da suspensão parcial ou total das atividades atividades consiste em mais uma inovação
e o recolhimento domiciliar. da Lei 9.605/1998. De acordo com o artigo
A prestação de serviços à comunidade, de 11, esta pena será aplicada quando a ativi-
acordo com o artigo 9o da Lei 9.605/1998, dade não estiver obedecendo às prescrições
nada mais é que a atribuição de tarefas gra- legais. Logo, quem estiver exercendo suas
tuitas ao condenado que deverá cumpri-las atividades de modo regular não poderá so-
visando a restauração do dano ambiental frer esta sanção.
ou a conservação de bens públicos. Cabe ressaltar que a extensão da suspensão,
A Interdição temporária de direitos, prevista que poderá ser parcial ou total, considerará
no artigo 10, consiste na proibição de con- a gravidade do crime e o dano causado ao
tratar com o Poder Público, proibição de re- meio ambiente.
ceber incentivos fiscais e a proibição de par- Por sua vez, a prestação pecuniária, de acor-
ticipar de licitações. Estas proibições sub- do com o artigo 12, traduz-se no pagamento
sistirão por 5 anos, caso o delito ambiental em dinheiro à vítima ou à entidade pública
seja doloso, ou por 3 anos, caso o crime seja
99/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental
ou privada com finalidade social, a ser de- restante do tempo.
duzido da reparação cível do dano causado
pelo crime ambiental.
Por fim, o recolhimento domiciliar, criado
pela lei ambiental em seu artigo 13, muito
se assemelha ao cumprimento de pena pri-
vativa de liberdade no regime aberto, dis-
posto no artigo 113 e seguintes da Lei de
Execução Penal – Lei 7.210/1984.
O que os difere é que o regime aberto se
trata de cumprimento de pena privativa de
liberdade e, durante o período de recolhi-
mento noturno e nos dias de folga, o con-
denado irá para casa de albergado. O con-
denado deve demonstrar responsabilidade
e autodisciplina para, sem vigilância, traba-
lhar, frequentar cursos ou exercer ativida-
de autorizada, permanecendo recolhido no
100/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental
Por seu turno, no recolhimento domiciliar genéricas elencadas nos artigos 65 e 66
o condenado poderá ficar em sua residên- do Código Penal. As circunstâncias agra-
cia no período de recolhimento noturno e vantes estão elencadas no artigo 15 da Lei
nos dias de folga, consistindo em uma pena 9.605/1998.
restritiva de direitos. Também deve haver Merece destaque a reincidência, prevista no
responsabilidade e autodisciplina para as I, pois a reincidência na lei ambiental, ape-
atividades laborais, educativas e as demais nas agrava a pena se for reincidência espe-
atividades autorizadas. cífica em crimes ambientais. Para ilustrar, se
um condenado definitivamente pelo come-
4. Agravantes e atenuantes am- timento de crime contra o patrimônio pra-
bientais ticar, posteriormente, um delito ambiental
sua pena, em tese, não será agravada, pois
A lei ambiental prevê suas próprias circuns-
não é reincidente em crimes ambientais,
tâncias agravantes e atenuantes nos artigos
conforme disciplina do artigo 15, I, da Lei
14 e 15 da Lei 9.605/1998. As circunstân-
9.605/1998.
cias atenuantes estão arroladas no artigo
14 da Lei 9.605/1998. Fique atento que elas Ademais, você deverá ficar atento, pois,
divergem das circunstâncias atenuantes conforme o artigo 79 da Lei 9.605/1998 há,
também, a aplicação das causas gerais de
101/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental
aumento e diminuição de pena previstas no Por outro lado, no Código Penal, o tema da
Código Penal (artigos 61 e seguintes). Desta suspensão condicional da pena é aborda-
forma, há coexistência das causas agravan- do nos artigos 77 a 79, sendo que a regra é
tes e atenuantes, gerais e especiais. que o Sursis pode ser concedido quando a
pena privativa de liberdade não ultrapassar
5. Suspensão condicional da 2 anos.
pena- sursis Tanto na lei ambiental como na regra geral
prevista no Código Penal o período de sus-
O Sursis é a suspensão condicional da exe-
pensão da pena é de 2 a 4 anos. Este período
cução da pena privativa de liberdade, na
de suspensão é conhecido como período de
qual o réu, se assim desejar, se submete du-
prova, pois o condenado deve cumprir cer-
rante o período de prova à fiscalização e ao
tas condições para que seja mantida a sus-
cumprimento de condições judicialmente
pensão da pena cominada. Se não ocorrer
estabelecidas (MASSON, 2012).
a revogação, finalizado o período de prova
De acordo com o artigo 16 da Lei 9.605/1998 está extinta a punibilidade do agente.
o sursis poderá ser aplicado aos condenados
por crimes ambientais em que a pena priva-
tiva de liberdade não ultrapasse 3 anos.
102/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental
O artigo 17 da Lei 9.605/1998 determina
Para saber mais que, no Sursis ambiental, para o agente não
ser obrigado ao cumprimento de limitação
No Código Penal também é possível, excepcio-
de final de semana e prestação comunitá-
nalmente, suspender penas privativas de liber-
ria, previstas no artigo 78, parágrafo 1o, do
dade maiores que 2 anos, conforme o artigo 77,
Código Penal, o sujeito deve reparar o dano
parágrafo 2o. Estas hipóteses são chamadas pela
ambiental, apresentando laudo comproba-
doutrina de Sursis humanitário e Sursis etário. Em
tório. Também, as condições a serem cum-
ambos os casos a pena privativa de liberdade não
pridas no período de prova, impostas pelo
superior a 4 anos poderá ser suspensa por 4 a 6
juiz, devem relacionar-se com a proteção
anos. O Sursis etário é concedido quando o sujei-
ambiental.
to ativo do crime é maior de 70 anos e o Sursis
humanitário tem vez quando o condenado é por- Para compreender melhor esta situação é
tador de doença grave e esteja em estado termi- necessário pontuar que o artigo 78 do Có-
nal de vida. Considerando que não há disposição digo Penal impõe ao condenado que, no
em contrário na lei ambiental, o Sursis etário e o primeiro ano do período de prova, cumpra
Sursis humanitário se aplicam também aos con- a obrigação de prestar serviços comunitá-
denados por crimes ambientais. rios ou submeter-se a limitação de final de
semana.
103/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental
Entretanto, a mesma norma estabelece que, ambiental, pois, nos delitos comuns a sus-
se o agente tiver reparado o dano causado pensão da pena pode ocorrer para agentes
pelo crime, ele poderá cumprir outras condi- condenados a pena privativa de liberdade
ções para não ser submetido à limitação de de até 2 anos. A regra ambiental é benéfica
final de semana ou prestação comunitária. ao agente, considerando que a suspensão
Essas condições são: (i) proibição de fre- pode ocorrer para condenados a pena de
quentar determinados lugares, (ii) proibição até 3 anos.
de ausentar-se da comarca sem autoriza-
ção do juiz, e (iii) comparecimento mensal 6. A fixação da pena de multa
em juízo. Esta é a regra do Código Penal.
O artigo 18 da Lei 9.605/1998 determina
Para cumprir este Sursis especial, sem as que o cálculo da pena de multa seja realiza-
limitações de final de semana e prestação do pelo magistrado de acordo com as dis-
comunitária, na lei ambiental, é necessário posições do Código Penal sobre o tema.
demonstrar a reparação do dano ambiental
O dispositivo que regula o tema é o artigo
cometido, através de laudo pericial.
49 do Código Penal, que estabelece que a
Fique em alerta com a regra do Sursis pena de multa seja revertida ao Fundo Peni-
tenciário e seu cálculo terá como unidades
104/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental
os denominados dias-multa. mesmo que arbitrada em seu máximo, não
Os dias-multa poderão ser arbitrados entre representa uma sanção, pois o ganho pa-
10 a 360 e o seu valor será de um trigésimo trimonial com o cometimento do dano am-
(1/30) a 5 vezes o salario mínimo. Em outras biental foi maior que o valor despendido
palavras, a unidade da multa pode ser de com a multa.
10 a 360 dias-multa e o valor de cada um Para estas situações a Lei 9.605/1998 de-
destes dias-multa pode ser de um trigésimo terminou que o magistrado possa triplicar
(1/30) a 5 salários mínimos. a pena máxima visando garantir o ressarci-
Esta é a regra para fixação da pena de mul- mento do dano ecológico causado.
ta. Entretanto, a lei ambiental, no artigo
18 determina que se esta multa se mostrar 7. A reparação do dano civil cau-
ineficaz ela poderá ser aplicada em seu tri- sado pelo delito ambiental
plo, considerando o valor da vantagem eco-
De acordo com o que você estudou ante-
nômica auferida pelo poluidor.
riormente a responsabilidade ambiental é
Isto porque, para alguns agentes com gran- tríplice. Deste modo, o agente que cometeu
de poder econômico, sobretudo as gran- um crime ambiental também causou um
des empresas poluidoras, a pena de multa, dano ambiental que deve ser ressarcido na
105/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental
esfera civil. Ademais, conforme artigo 91, I, do Código Penal, a obrigação de indenizar pelo dano
causado é um dos efeitos da condenação.
Assim,

se a instância penal reconheceu a existência de um ato ilícito, não há


mais necessidade, tampouco interesse jurídico, de rediscutir essa ques-
tão na esfera civil. Se o fato constitui infração penal, por óbvio caracteri-
za ilícito civil, dado que este último configura grau menor de violação da
ordem jurídica. Só restará saber se houve dano e qual o seu valor (CAPEZ,
2012, p.211).
Os artigos 19 e 20 da Lei 9.605/1998 tratam acerca do ressarcimento civil devido pelo cometi-
mento do crime ambiental.
O artigo 19 estabelece que a perícia do dano ambiental deva fixar o valor do prejuízo ecológico
sofrido para fins de fiança e cálculo de multa. Desta forma, o perito que irá quantificar, economi-
camente, a perda do equilíbrio ecológico, se isto for possível.

106/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental


prova emprestada, não há necessidade de
Link nova produção da prova existente em outro
processo. Isto causaria um dispêndio des-
Considerando que o meio ambiente é um bem necessário de tempo e de recursos das par-
imaterial há inúmeras dificuldades para sua va- tes e do poder judiciário. Então, a prova em-
loração econômica. Entretanto, ela se faz ne- prestada pode ser aproveitada no processo
cessária para que haja ressarcimento do prejuízo em curso, desde que haja contraditório e
ecológico causado à coletividade. Acerca deste ampla defesa acerca de seu conteúdo.
tema, confira o artigo: Disponível em: <file:///C:/
Users/Andre/Downloads/521-1057-1-SM. Esta é a regra estabelecida pela lei ambien-
pdf> Acesso em: 24 set. 2017. tal. Caso exista uma perícia produzida em
um inquérito civil ou em um processo cível
O parágrafo único, do artigo 19, trata acer- ela poderá ser utilizada no processo penal
ca do tema da prova emprestada. Esta prova ambiental, desde que haja contraditório.
é aquela que foi produzida no bojo de ou-
tro processo, no entanto, será aproveitada O artigo 20 da Lei 9.605/1998 dispõe acer-
no processo em curso com vistas a dar mais ca do arbitramento do dano civil na senten-
eficiência e celeridade ao processo. ça penal, tema também tratado no artigo
387, inciso IV, do Código de Processo Penal.
Desta forma, conforme o regramento da
107/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental
Este dispositivo determina que o juiz, ao descumpriu uma norma criminal, ferindo a
proferir a sentença condenatória, deverá fi- harmonia de todo corpo social. Não é o in-
xar o valor mínimo para reparação dos da- tuito precípuo deste ramo do Direito a bus-
nos causados pela infração, considerando ca por ressarcimento da vítima, no caso dos
os prejuízos sofridos pelo ofendido. delitos ambientais, toda a coletividade.
Não obstante, poderá ser apurado no juízo
cível se o valor mínimo arbitrado no proces-
so penal foi ou não suficiente para o res-
sarcimento do dano causado. Se o valor se
mostrar insuficiente poderá ser revisto e,
eventualmente, aumentado, conforme pro-
cedimento previsto nos artigos 509, I e 511
do Código de Processo Civil.
Isto porque a finalidade do Direito Pe-
nal é a aplicação da sanção penal a quem

108/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental


Glossário
Efeitos da condenação: conforme artigos 91 e 92 do Código Penal são efeitos da condenação a
obrigação de indenizar o dano causado pelo crime; a perda em favor da União dos instrumentos
e produtos do crime; a perda do cargo, função pública ou mandato eletivo; dentre outros.
Espécies de penas: segundo o artigo 32 do Código Penal as penas são privativas de liberdade,
restritivas de direitos ou multa.
Sursis: é a suspensão condicional da pena. É instituto que visa estimular o condenado ao prosse-
guimento das atividades sociais regulares, sem que ele volte a delinquir. Para isto ele é submeti-
do a um período de prova em que deverá cumprir restrições estabelecidas pelo juiz.

109/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental


?
Questão
para
reflexão

Para você é adequada a criação de disposições criminais


benéficas quando o agente comete um crime ecológico?
Você deve considerar que o princípio da legalidade esta-
belece que todos são titulares do direito ao exato cumpri-
mento das leis e suas garantias fundamentais. Ademais,
lembre que sem equilíbrio ecológico não há vida no pla-
neta Terra.

110/229
Considerações Finais
• A lei especial deve ser aplicada, em detrimento da lei geral, quando ela tra-
tar de modo diverso alguma disposição geral;
• As circunstâncias judiciais, previstas no artigo 6o da Lei de Crimes Ambien-
tais, são aplicadas tanto para os crimes ambientais quanto para as infra-
ções administrativas cometidas contra o meio ambiente;
• As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de
liberdade quando preenchidos os requisitos legais, previstos no artigo 7o da
Lei 9.605/1998;
• É possível a aplicação das agravantes e atenuantes do Código Penal que não
possuem disposições especiais na Lei de Crimes Ambientais, em seus arti-
gos 14 e 15.

111/229
Referências

AMADO, Frederico. Direito Ambiental Esquematizado. 7. ed. São Paulo: Método, 2016. 660p.

BRASIL. Decreto-lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.

_________. Lei n° 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.

________. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.

_________. Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e


administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso
em: 24 set. 2017.

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado. 6. ed. São Paulo: Método, 2012. v.1. Parte Geral.

112/229 Unidade 4 • A teoria da pena ambiental


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co I II
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a3d0ca75e945040784d6d37aee320775>. 1939ce15cfecf6eeaa100403b661da>.

113/229
Questão 1
1. Acerca da reincidência nos delitos ambientais assinale a alternativa corre-
ta.

a) A reincidência sempre será uma circunstância que agrava a pena, quando não constitui ou
qualifica o crime.
b) A reincidência específica é causa atenuante da pena nos crimes ambientais.
c) Se um agente foi definitivamente condenado pelo cometimento de um crime contra a Admi-
nistração Pública, previsto no Código Penal, e em seguida, foi condenado pela prática de um
crime ambiental, sua pena não será agravada por conta da reincidência.
d) A reincidência específica impede a aplicação da suspensão condicional da pena nos crimes
ambientais.
e) Não é exigida a reincidência específica para que seja agravada a pena nos delitos ambientais.

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Questão 2
2. A pena de multa nos crimes ambientais poderá ser aumentada:

a) Nove vezes, ainda que aplicada no valor máximo, em virtude da situação econômica do réu.
b) Quatro vezes, ainda que aplicada no valor máximo, tendo em vista o valor da vantagem eco-
nômica auferida.
c) rês vezes, ainda que aplicada no valor máximo, tendo em vista o valor da vantagem econô-
mica auferida.
d) Cinco vezes, se não aplicada no valor máximo, em virtude da situação econômica do réu.
e) Cinco vezes, ainda que aplicada no valor máximo, em virtude da situação econômica do réu.

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Questão 3
3. Assinale a alternativa INCORRETA, segundo a Lei 9.605/1998.

a) Poderá ser desconsiderada a personalidade jurídica sempre que esta for obstáculo ao res-
sarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.
b) Dentre outras, são circunstâncias que atenuam a pena imposta pelo crime ambiental, o bai-
xo grau de escolaridade do agente e a colaboração com os agentes encarregados da vigilân-
cia e do controle ambiental.
c) Para a pessoa jurídica, a proibição de contratar com o Poder Público e dele obter subsídios,
subvenções ou doações não poderá exceder o prazo de 10 dias.
d) Nos delitos ambientais é admitida a suspensão condicional da pena nos casos de condena-
ção a pena privativa de liberdade não superior a 2 anos.
e) A perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o montante do pre-
juízo causado para efeitos de prestação de fiança e cálculo de multa.

116/229
Questão 4
4. Sobre os aspectos a serem considerados para a fixação da pena de mul-
ta um dos mais relevantes envolve a unidade da multa e seus valores. As-
sinale a alternativa que apresenta a unidade correta e seus valores:

a) Dias-multa, que podem possuir como valor um trigésimo a 5 salários mínimos.


b) UFIR, que podem possuir como valor um trigésimo a 5 salários mínimos.
c) VERA- Valor Econômico do Recurso Ambiental, que podem possuir como valor um trigésimo
a 5 salários mínimos.
d) Dias-multa, que podem possuir como valor um terço a 50 salários mínimos.
e) Dias-multa, que podem possuir como valor um vigésimo a 50 salários mínimos.

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Questão 5
5. As penas restritivas de direito especificamente aplicáveis aos crimes
ambientais, previstas na Lei 9.605/1998 NÃO incluem:

a) O recolhimento domiciliar.
b) A prestação pecuniária à vítima ou à entidade pública ou privada com fim social.
c) A Prestação de serviços à comunidade junto a parques públicos.
d) A suspensão total de atividades que não obedecerem à prescrição legal.
e) A proibição de participar de licitação por prazo indeterminado.

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Gabarito
1. Resposta: C. 5. Resposta: E.

Conforme artigo 15, I, da Lei 9.605/1998. Baseado nos artigos 8o, 9o e 10 da Lei
Apenas a reincidência específica agrava a 9.605/1998.
pena ambiental.

2. Resposta: C.

A questão está em acordo com artigo 18 da


Lei 9.605/1998.

3. Resposta: D.

Conforme artigo 16 da Lei 9.605/1998.

4. Resposta: A.

De acordo com artigo 49 do Código Penal.

119/229
Unidade 5
Crimes ambientais contra a fauna

Objetivos
1. Conhecer e compreender as especi-
ficidades dos tipos penais ambien-
tais, em especial os crimes contra a
fauna tipificados no Capítulo V da Lei
9.605/1998;
2. Analisar os tipos penais ambientais
contra a fauna verificando os precei-
tos primários e secundários destes
crimes;
3. Saber identificar os crimes contra a
fauna verificando as principais dis-
posições dos artigos 29 a 36 da Lei
9.605/1998.
120/229
Introdução

Até este momento você verificou quais são A norma penal incriminadora é aquela que
as regras gerais acerca da tutela do meio estabelece quais são as infrações penais e
ambiente no ordenamento jurídico brasilei- proíbe a prática destas condutas, impondo
ro, você já compreendeu que a responsabi- as respectivas sanções penais. Desta forma,
lidade ambiental é tríplice e que na esfera o tipo penal é composto de dois preceitos: o
criminal vigora o princípio da especialidade. preceito primário que é a tipificação da con-
Foram expostas a você as disposições es- duta criminosa, e o preceito secundário que
pecíficas para a aplicação da lei penal am- estabelece qual a respectiva sanção penal
biental, como se dá a gradação da sanção para os que praticarem aquela conduta. A
penal ambiental, quais as penas restritivas título de exemplo veja o caput do crime de
de direitos e as circunstâncias agravantes e homicídio, previsto no artigo 121, do Códi-
atenuantes dos crimes ambientais. go Penal:

Agora você estudará os crimes ambientais • Homicídio simples


em espécie. Antes de mais nada, você deve • Art.121. Matar alguém:
compreender que todo tipo penal é forma-
• Pena – reclusão, de seis a vinte anos.
do por um preceito primário e um preceito
secundário.

121/229 Unidade 5 • Crimes ambientais contra a fauna


A descrição da conduta criminosa realizada as pessoas habilitadas para estabelecerem
na expressão “matar alguém” integra o pre- padrões de qualidade ambiental e determi-
ceito primário, enquanto a determinação narem o que é importante para preserva-
do quantum da pena a ser aplicada a quem ção de um ambiente sadio são os técnicos,
comete a conduta criminosa (reclusão, de ou seja, biólogos, químicos, geólogos, entre
seis a vinte anos) representa o preceito se- outros profissionais.
cundário do crime em comento. Desta forma, é impossível que o legislador
Passemos agora a analisar os principais ti- estabeleça todas as condutas que são, ou
pos penais da Lei 9.605/1998. possam vir a serem, danosas ao equilíbrio
ecológico. Por esta razão, quando o legisla-
1. O tipo penal ambiental dor estabeleceu a Lei de Crimes Ambientais,
visou dar maior efetividade à tutela penal do
O tipo penal ambiental possui característi- meio ambiente, utilizando-se dos seguintes
cas peculiares que o diferencia dos demais instrumentos: (i) normas penais em branco,
tipos penais, senão vejamos. (ii) tipos penais abertos e (iii) crimes de pe-
Para eficiência da proteção ambiental é ne- rigo abstrato.
cessário que haja multidisciplinariedade
das normas ambientais. Em outras palavras,
122/229 Unidade 5 • Crimes ambientais contra a fauna
As normas penais em branco são normas Como exemplo de normas penais em
penais que necessitam de complementação branco, podemos citar o artigo 38, da Lei
de outra norma penal. Esta complementa- 9.605/1998, que estabelece ser crime:
ção não ofende o princípio da reserva legal, “destruir ou danificar floresta considerada
pois é impossível precisar todos os elemen- de preservação permanente, mesmo que
tos do tipo penal ambiental, por conta da em formação, ou utilizá-la com infringência
sua multidisciplinaridade. das normas de proteção” (BRASIL, 1998). Ao
estabelecer esta conduta criminosa o tipo
Para saber mais penal não determinou qual o conceito de
área de preservação permanente.
O princípio da reserva legal está previsto no ar-
tigo 1o, do Código Penal e no artigo 5o, XXXIX, da Por conseguinte, é necessário consultar o
Constituição Federal, estabelecendo que não há artigo 3o, inciso II, da Lei 12.651/2012, Novo
crime sem lei anterior que o defina e não há pena Código Florestal, que conceitua área de
sem prévia cominação legal. preservação permanente como a área pro-
tegida, coberta ou não por vegetação na-
Isto significa que apenas a lei é capaz de criar cri- tiva, com a função ambiental de preservar
mes e contravenções penais, arbitrando suas de- os recursos hídricos, a paisagem, a estabili-
terminadas penas. dade geológica e a biodiversidade, facilitar
123/229 Unidade 5 • Crimes ambientais contra a fauna
o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o dificuldade para o legislador positivar todas
solo e assegurar o bem-estar das popula- as condutas que possam vir a ser lesivas ao
ções humanas. equilíbrio ecológico.
As normas penais que necessitam de com- Desta forma, os tipos penais abertos são
plementação de outras leis são, então, de- aqueles que exigem que o intérprete bus-
nominadas leis penais em branco. que elementos interpretativos externos
Para compreender os tipos penais abertos para verificar se houve subsunção do fato a
é necessário que você tenha em mente que norma. Ou seja, no caso concreto, é o juiz da
o princípio da legalidade penal estabelece causa que irá determinar qual o alcance da
que o tipo penal deva descrever por com- norma.
pleto todas as características do fato crimi- Você deve ficar atento para não confundir
noso, para possibilitar que o agente possa a norma penal em branco com os tipos pe-
se defender da imputação criminal feita a nais abertos. Na norma penal em branco a
ele. complementação é normativa, pois há uma
Em matéria de Direito Penal Ambiental, nem lei que complementa o tipo penal. Por outro
sempre há possibilidade de alcançar a com- lado, no tipo penal aberto o complemento é
pletude na descrição do tipo penal, pois há interpretativo.

124/229 Unidade 5 • Crimes ambientais contra a fauna


A Lei de Crimes Ambientais tipifica uma sé-
rie de crimes de perigo abstrato, ou seja, Para saber mais
crimes que independem da verificação do Crimes de perigo abstrato são o contrário dos cri-
dano efetivo ao meio ambiente. Basta a mes de dano. Essa classificação se refere à inten-
exposição do bem ambiental ao perigo de sidade do resultado pretendido pelo agente como
dano. consequência da conduta delituosa. Nos crimes
de dano, também conhecidos como crimes de
lesão, a consumação somente ocorre se houver
uma efetiva lesão ao bem jurídico tutelado pela
norma penal. Por exemplo, os crimes de lesão cor-
poral e homicídio em que a integridade física ou
a interrupção da vida devem ocorrer, respectiva-
mente, para a consumação do crime. Por sua vez,
os crimes de perigo são aqueles que estão con-
sumados com a mera exposição do bem jurídico
penalmente tutelado a uma situação de perigo,
ou seja, basta a probabilidade da ofensa.

125/229 Unidade 5 • Crimes ambientais contra a fauna


A tipificação destas condutas mostra-se ne- • Crimes contra a fauna: artigos 29 a 37;
cessária para a proteção do meio ambien- • Crimes contra a flora: artigos 38 a 53;
te, pois implementa o princípio ambiental
da prevenção, que estabelece que o Direito • Crimes de poluição: artigos 54 a 61;
Ambiental deve visar, sobretudo, evitar a • Crimes contra o ordenamento urbano
ocorrência dos danos, e não remediá-los. e meio ambiente cultural: artigos 62 a
Você deve ficar atento ao fato de que o Di- 65;
reito Penal Ambiental também atua com • Crimes contra a administração am-
prevenção. A título de exemplo, a criação biental: artigos 66 a 69-A.
dos crimes de perigo estabelecidos na Lei A partir de agora você analisará os princi-
9.605/1998. pais pontos destes tipos penais ambientais.
É importante que você leia estes artigos e
2. Crimes ambientais em espécie conheça as suas disposições, bem como as
considerações que serão dadas acerca dos
A Lei 9.605/1998 divide os crimes conforme
principais crimes.
as esferas de proteção ao meio ambiente.
Desta forma a lei reparte os crimes ambien-
tais em:
126/229 Unidade 5 • Crimes ambientais contra a fauna
3. Crimes contra a fauna Em outros termos, o comércio de animais
nativos ou em rota migratória realizado ile-
Fauna constitui o conjunto de animais que galmente, ou seja, não autorizado ou sem
habitam uma determinada região. Assim, a a devida permissão, licença ou autorização
palavra fauna se relaciona com a vida ani- da autoridade competente, constitui um
mal no planeta. A proteção da fauna se faz tipo penal ambiental.
necessária para que seja garantida a biodi-
versidade e o equilíbrio dos ecossistemas,
necessários para a sadia qualidade de vida
Link
Para aprofundar seu estudo acerca do comér-
humana.
cio ilegal de fauna silvestre e a respectiva fisca-
O artigo 29, da Lei 9.605/1998, traz um cri- lização do governo brasileiro recomendamos a
me de menor potencial ofensivo, de acordo leitura deste artigo sobre os esforços do IBA-
com o estabelecido no artigo 61 da Lei dos MA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
Juizados Especiais Criminais – Lei 9.099/95. dos Recursos Naturais Renováveis – para com-
O parágrafo primeiro, inciso III, desta norma bater este delito. Disponível em: <http://www.
tipifica o comércio ilegal de animais silves- ibama.gov.br/sophia/cnia/periodico/esfor-
tres como crime ambiental. cosparaocombateaotraficodeanimais.pdf>.
Acesso em: 13 out. 2017.

127/229 Unidade 5 • Crimes ambientais contra a fauna


É importante você colocar sua atenção no as circunstancias do caso (AMADO, 2016).
parágrafo 2o, do artigo 29, que estabele- O parágrafo 3o do dispositivo estabe-
ce uma hipótese de perdão judicial, que lece uma norma penal não incriminadora
constitui causa extintiva da punibilidade do explicativa. Ela nos traz o conceito de es-
agente. Este dispositivo estabelece que: “no pécimes silvestres que pode ser sintetizado
caso de guarda doméstica de espécie silves- como os animais com ciclo de vida no terri-
tre não considerada ameaçada de extinção, tório brasileiro, terrestres ou aquáticos. Fi-
pode o juiz, considerando as circunstancias, que atento ao fato de que os pássaros inte-
deixar de aplicar a pena”. gram o conceito de animais terrestres.
Então, por questões de política criminal, é
possível que o magistrado deixe de aplicar a
pena caso haja guarda doméstica de animal
silvestre (não há intenção de exploração co-
mercial do animal), desde que não seja ame-
açado de extinção, conforme listagem ela-
borada pelo Ministério do Meio Ambiente
(Lista Nacional das Espécies da Fauna Bra-
sileira Ameaçadas de Extinção), observadas
128/229 Unidade 5 • Crimes ambientais contra a fauna
O parágrafo 4o traz causas de aumento de
Para saber mais pena deste crime contra a fauna. O pará-
grafo 5o estabelece o aumento do triplo da
As normas penais podem ser incriminadoras ou
pena caso o delito seja praticado por caça-
não incriminadoras. As normas penais incrimina-
dor profissional. E o parágrafo 6o determina
doras, como você já verificou anteriormente, es-
que este artigo não se aplique para a pesca,
tabelecem os crimes e cominam suas respectivas
pois para esta prática há um dispositivo es-
penas. As normas não incriminadoras estabele-
pecifico que é adequado, de acordo com o
cem formas de aplicação e interpretação da nor-
princípio da especialidade.
ma penal. Elas podem ser: permissivas, comple-
mentares e explicativas. As permissivas trazem O artigo 30, da Lei 9.605/1998, estabele-
causas de exclusão de antijuridicidade da con- ce como crime a exportação de couros re-
duta. As complementares são acessórias do tipo tirados de animais e não tratados. Por ób-
penal primário, possuindo função de adição de vio, não há conduta criminosa se há licença
informações relevantes. As explicativas conceitu- do órgão ambiental competente para rea-
am e esclarecem elementos do crime. lização da exportação, o que torna o fato
atípico.

129/229 Unidade 5 • Crimes ambientais contra a fauna


Note que este crime possui pena de reclu-
são de 1 a 3 anos, o que faz a vara criminal Para saber mais
comum como competente para seu julga- As medidas despenalizadoras não se confundem
mento, não podem ser processo e julgado com as medidas descriminalizadoras. Nas medi-
pelo Juizado Especial Criminal, conforme das despenalizadoras incide a punibilidade, ou
artigo 61 da Lei 9.099/1995. seja, há a punição do agente, mas são atenuadas
As disposições do artigo 32 criminalizam o as consequências diretas da sanção penal. Por
abuso e os maus tratos de animais silves- outro lado, na descriminalização de uma conduta
não há punibilidade do agente, pois não há figura
tres, domésticos ou domesticáveis. Fique
típica e não é autorizada a intervenção penal do
atento que este delito é de menor potencial
estado.
ofensivo, cabendo as medidas despenaliza-
doras da Lei 9.099/1998.
O parágrafo 1o deste artigo veda a expe-
riência dolorosa em animais vivos, quan-
do houver recursos alternativos para estas
intervenções em animais com finalidades
científicas e didáticas.

130/229 Unidade 5 • Crimes ambientais contra a fauna


Você deve ficar alerta quanto a esta questão Para ilustrar, imagine uma doença huma-
da pesquisa realizada em animais. O animal na grave que necessite, urgentemente, de
possui proteção jurídica inferior a dos hu- uma vacina para seu combate. Pense que a
manos, pois o artigo 225 da Constituição elaboração desta vacina dependa de uma
Federal adotou uma visão antropocentrista, experiência cientifica dolorosa, realizada
em que o homem é o centro da tutela jurí- em animais vivos, sem que haja um méto-
dica do meio ambiente, em detrimento de do alternativo de fabricação deste remédio.
uma visão biocentrista em que a natureza é Nesta situação, poderá ser realizada a ex-
o centro da proteção ambiental. periência nos animais, sem configurar cri-
Por esta razão, podemos vislumbrar uma si- me ambiental.
tuação em que a experiência cientifica em
animais vivos é necessária à vida humana.
Link
Neste caso, sem qualquer juízo de valor, você O artigo 14 da Lei 5.197/1967 exige uma licen-
deve compreender que a lei permite a rea- ça especial para estas atividades científicas. Há
regulamentação específica para uso científico
lização de experiência dolorosa em animal
de animais na Lei 11.794/2008. Disponível em:
vivo, se não houver recursos alternativos e
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
se ela for imprescindível à saúde humana. ato2007-2010/2008/lei/l11794.htm>. Acesso
em: 14 out. 2017.
131/229 Unidade 5 • Crimes ambientais contra a fauna
Outra disposição importante deste artigo é que sejam manifestações culturais, sejam
o seu parágrafo 2o que estabelece uma cau- registradas como bens de natureza imate-
sa de aumento de pena, a ser aplicada na rial integrantes do patrimônio cultural bra-
terceira fase da dosimetria da pena, de um sileiro, devendo ser regulamentadas por lei
sexto a um terço se o ato de abuso, os maus especifica que assegure o bem-estar dos
tratos ou a experiência em animais provo- animais envolvidos.
car a sua morte. Desta forma, há atipicidade destas condutas
É importante salientar que a conduta de que envolvem animais em atividades des-
matar animais silvestres configura o deli- portivas que integrem o patrimônio cultural
to do artigo 29, enquanto a crueldade que brasileiro, como é o exemplo da Vaquejada
possui como resultado a morte de animais e dos Rodeios, conforme Lei 13.364/2016.
se aplica ao disposto no artigo 32, parágra- O artigo 34 da Lei 9.605/1998 estabelece
fo 2o, todos da Lei 9.605/1998. o crime de pescar no período de defeso ou
Em 07 de junho de 2017 foi publicada a em lugares interditados pelo poder públi-
emenda constitucional 96/2017. Ela inseriu co. Ademais, também incorre na pena de
o parágrafo 7o no artigo 225 da Constitui- detenção de um a três anos ou multa se o
ção Federal. Esta norma estabelece que não agente pratica as seguintes condutas des-
sejam considerados maus tratos as ativida- critas no parágrafo único do dispositivo:
des desportivas que utilizem animais, desde

132/229 Unidade 5 • Crimes ambientais contra a fauna


I. pesca espécies que devam ser preser- O artigo 35 da Lei de Crimes Ambientais es-
vadas ou espécimes com tamanhos tabelece que seja crime a pesca realizada
inferiores aos permitidos; com explosivos ou substâncias tóxicas. Ve-
II. pesca quantidades superiores às per- rifique que a pena deste delito é de reclusão
mitidas, ou mediante a utilização de de um a cinco anos, constituindo um delito
aparelhos, petrechos, técnicas e mé- grave que não admite processo e julgamen-
todos não permitidos; to pelo Juizado Especial Criminal.
III. transporta, comercializa, beneficia ou O artigo 36 é outra norma classificada como
industrializa espécimes provenientes norma penal não incriminadora explicativa
da coleta, apanha e pesca proibidas que dispõe que para os efeitos desta Lei,
(BRASIL, 1998). considera-se pesca todo ato tendente a re-
Fique atento que o ato de utilização de pe- tirar, extrair, coletar, apanhar, apreender ou
trechos proibidos constitui um crime for- capturar espécies ameaçadas de extinção,
mal, ou seja, não necessita da produção do constantes nas listas oficiais. Isto inclui: pei-
resultado naturalístico de conseguir realizar xes, moluscos, vegetais e crustáceos.
a pesca. Basta a utilização dos materiais.

133/229 Unidade 5 • Crimes ambientais contra a fauna


O artigo 37 apresenta uma excludente de
ilicitude específica para os crimes contra a
fauna. Deste modo, não constitui crime o
abate de animal em estado de necessida-
de para saciar a fome do agente ou de sua
família, bem como o abate animal que visa
proteção de lavoura, com a respectiva au-
torização da autoridade competente. Igual-
mente, não há ilicitude e, por conseguinte,
crime quando o animal é considerado noci-
vo por órgão competente.
Esta última hipótese é exemplo de nor-
ma penal em branco, vez que necessária a
complementação e consulta da deliberação
do órgão ambiental competente que deter-
mina a nocividade ou não do animal.

134/229 Unidade 5 • Crimes ambientais contra a fauna


Glossário
Crimes de perigo abstrato: crimes que independem da verificação do dano efetivo ao meio am-
biente. Basta a exposição do bem ambiental ao perigo de dano. Ele não exige que haja a configu-
ração de um resultado naturalístico.
Normas penais em branco: são normas penais que exigem a complementação de outras nor-
mas penais para completa compreensão de seu significado e alcance.
Tipos penais abertos: são aqueles que possuem elementos que necessitam de complementação
interpretativa para verificar se há subsunção do fato à norma penal.

135/229 Unidade 5 • Crimes ambientais contra a fauna


?
Questão
para
reflexão

Considerando que o equilíbrio ecológico é um direito fundamen-


tal da pessoa humana e levando em consideração que o artigo
60, parágrafo 4o da Constituição Federal brasileira não admite a
edição de emenda constitucional que enfraqueça estes direitos,
na sua opinião a emenda constitucional número 96 de 2017 é
inconstitucional?

136/229
Considerações Finais

• Nos tipos penais ambientais o legislador se vê obrigado a utilizar tipos pe-


nais abertos, normas penais em branco e crimes de perigo abstrato, pois há
enorme dificuldade em antever todas as condutas que podem ser lesivas ao
meio ambiente.
• O Direito Penal Ambiental também deve respeito ao princípio da preven-
ção. Um exemplo de aplicação deste princípio no Direito Penal Ambiental é
a criação dos crimes de perigo estabelecidos na Lei 9.605/1998.
• A Lei 9.605/1998 divide os crimes ambientais de acordo com as esferas de
proteção do meio ambiente. Por esta razão os crimes ambientais podem ser:
contra a fauna, contra a flora, crime de poluição, contra o ordenamento ur-
bano, contra o meio ambiente cultural e contra a administração ambiental.
• Os crimes contra a fauna estão elencados nos artigos 29 a 37 da Lei de Cri-
mes Ambientais.

137/229
Referências

AMADO, Frederico. Direito Ambiental Esquematizado. 7. ed. São Paulo: Método, 2016.

BRASIL. Decreto-lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.

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_________. Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e


administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso
em: 24 set. 2017.

_________. Lei n° 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa;
altera as Leis n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, n° 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e n°
11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis n° 4.771, de 15 de setembro de 1965, e
n° 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória n° 2.166-67, de 24 de agosto de 2001;
e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12651.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.

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e03b2f39192f8dc5733f74ba488d7093>. b7b77525daa3aa1cda6029a1b5483950>.

139/229
Questão 1
1. Acerca dos conceitos de normas penais em branco, tipos penais abertos e
crimes de perigo abstrato assinale a alternativa correta:

a) Normas penais em branco são consideradas como sinônimos dos tipos penais abertos.
b) Na norma penal em branco a complementação é normativa, pois há uma lei que comple-
menta o tipo penal. Por outro lado, no tipo penal aberto o complemento é interpretativo
para verificar se há subsunção do fato à norma.
c) Crimes de perigo abstrato são aqueles que exigem a ocorrência de um resultado naturalísti-
co, bem como uma real ofensa ao bem jurídico tutelado pela norma penal.
d) Normas penais em branco são aquela que exigem um complemento interpretativo do tipo
penal.
e) Tipo penal aberto é aquele que exige complementação de outra norma jurídica para total
compreensão de seus elementos funcionais.

140/229
Questão 2
2. Em relação aos crimes de perigo abstrato assinale a alternativa correta.

a) Crime de perigo abstrato é aquele crime em que a lei penal ou processual penal determina
abstratamente a conduta criminosa, não apontando nenhum elemento do tipo penal.
b) Crimes de perigo abstrato exigem a produção de um resultado naturalístico específico.
c) Crimes de perigo abstrato exigem a ofensa, direta ou indireta, ao bem jurídico tutelado pela
norma pena.
d) Crimes de perigo abstrato são sinônimos de crime de resultado.
e) Crimes de perigo abstrato são crimes que independem da verificação do dano efetivo ao
meio ambiente. Basta a exposição do bem ambiental ao perigo de dano.

141/229
Questão 3
3. Assinale a alternativa que apresenta a classificação NÃO contemplada
pela Lei 9.605/1998 acerca das espécies de delitos ambientais.

a) Crimes contra a fauna.


b) Crimes contra a administração ambiental.
c) Crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural.
d) Crimes contra o meio ambiente do trabalho.
e) Crimes contra a flora.

142/229
Questão 4
4. Julia, brasileira, com 28 anos, residente e domiciliada no Brasil, após
visitar a Austrália, traz consigo um casal de coalas, animais típicos da re-
gião, pois gostaria de introduzir a referida espécie no Brasil. Assinale a
alternativa correta acerca da conduta de Julia:

a) Julia não cometeu nenhum ilícito penal ou ambiental, não sendo responsabilizada na esfera
civil ou penal. Porém, somente na esfera administrativa Julia pode ser punida, pois não obte-
ve a licença adequada para introdução da espécie no país.
b) Julia cometeu o crime ambiental do artigo 31 da Lei 9.605/1998, pois ao trazer o casal de
animais introduziu no Brasil, sem licença e sem parecer técnico favorável, espécime animal.
c) Julia será responsabilizada apenas na esfera cível pelo dano ambiental que cometeu.
d) Julia não será responsabilizada na esfera cível, na esfera administrativa ou na esfera criminal.
e) Julia cometeu o crime do artigo 29, inciso III, da Lei 9.605/1998, pois realizou comércio ilegal
de animais.

143/229
Questão 5
5. Carla, residente e domiciliada em Florianópolis, foi para Manaus passar
as férias com sua família. Ao chegar lá se encantou com os pássaros da re-
gião e apanhou algumas espécies para vender em Santa Catarina. Acerca
da conduta de Carla assinale a alternativa correta:

a) Carla cometeu o crime do artigo 29, inciso III, da Lei 9.605/1998 e será responsabilizada pelo
crime de tráfico ilegal de animais, mesmo que não consiga vender os referidos pássaros.
b) Carla não será responsabilizada na esfera cível, na esfera administrativa ou na esfera criminal.
c) Carla praticou o crime de maus tratos contra animais nativos, conforme artigo 32 da Lei
9.605/1998.
d) Carla será responsabilizada apenas na esfera cível pelo dano ambiental que cometeu.
e) Carla cometeu o crime do artigo 29, inciso III, da Lei 9.605/1998 e será responsabilizada pelo
crime de tráfico ilegal de animais caso consiga vender os referidos pássaros.

144/229
Gabarito
1. Resposta: B. 3. Resposta: D.

Não podemos confundir a norma penal em Você deve ter cuidado. O meio ambiente do
branco com os tipos penais abertos. Na nor- trabalho integra o conceito de meio am-
ma penal em branco a complementação é biente no ordenamento jurídico brasileiro.
normativa, pois há uma lei que complemen- Entretanto a Lei 9.605/1998 não contem-
ta o tipo penal. Por outro lado, no tipo penal pla espécies de crimes ambientais contra o
aberto o complemento é interpretativo. meio ambiente do trabalho.

2. Resposta: E. 4. Resposta: B.
Crimes de perigo abstrato são crimes que Em conformidade ao artigo 31 da Lei
independem da verificação do dano efeti- 9.605/1998.
vo ao meio ambiente. Basta a exposição do
bem ambiental ao perigo de dano. Eles dife-
rem dos crimes de dano ou crimes de lesão
que exigem a efetiva lesão ao bem jurídico
tutelado pela norma penal.

145/229
Gabarito
5. Resposta: A.

Artigo 29, inciso III, da Lei 9.605/1998. Sen-


do um crime de perigo abstrato não exige
que haja a venda dos animais. Basta que
haja a guarda dos animais com o dolo espe-
cífico de venda dos mesmos.

146/229
Unidade 6
Crimes ambientais em espécie

Objetivos

1. Examinar e diferenciar os princi- 3. Conhecer os tipos penais ambientais


pais tipos penais ambientais previs- em espécie, analisando os preceitos
tos na Lei de Crimes Ambientais – Lei primários e secundários destes crimes.
9.605/1998;
2. Saber identificar os crimes contra a
flora, os crimes de poluição, os crimes
contra o ordenamento urbano e o pa-
trimônio cultural e os crimes contra a
administração da justiça, verificando
as principais disposições dos artigos
38 a 69 da Lei 9.605/1998;
147/229
Introdução

Conforme você viu anteriormente a Lei de a vegetação de um país ou região, uma épo-
Crimes Ambientais separa os tipos penais ca, ou determinado meio ambiente(EDITO-
ambientais conforme as esferas de pro- RA MELHORAMENTOS LTDA, 2017). Em ra-
teção do meio ambiente. Neste momento zão disto, os delitos praticados contra a flo-
passaremos a verificar as principais disposi- ra visam a proteção da vegetação do país.
ções dos tipos penais ambientais previstos
nos artigos 38 a 69 da Lei 9.605/1998. Des-
te modo, você passará a estudar os delitos Para saber mais
contra a flora, os crimes de poluição, crimes No Brasil, a Lei 12.651/2012, denominada Código
contra o ordenamento urbano, contra o pa- Florestal, estabelece normas gerais sobre a prote-
trimônio cultural e contra a administração ção da vegetação, Áreas de Preservação Perma-
ambiental. nente e as áreas de Reserva Legal; a exploração
florestal, o suprimento de matéria-prima flores-
1. Crimes contra a flora tal, o controle da origem dos produtos florestais
e o controle e prevenção dos incêndios florestais,
O conceito de flora trazido pelo dicionário e prevê instrumentos econômicos e financeiros
da língua portuguesa a define como o con- para o alcance de seus objetivos.
junto de todas as espécies que caracterizam

148/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie


Quanto à criação da proteção da flora no são tipificados em normas penais em bran-
Brasil, a Constituição Federal estabelece em co, que exigem complementação de outras
seu artigo 23, inciso VII, que a competência normas, é necessário o conhecimento das
material para preservar as florestas e a flo- disposições do Código Florestal para total
ra é comum. Isto significa dizer que a União, compreensão dos crimes contra a flora.
os Estados, o Distrito Federal e os Municí- A título de exemplo, o artigo 60 do Código
pios devem estabelecer uma forma de co- Florestal estabelece a possibilidade de fir-
operação para preservação destes recursos mar um termo de compromisso de regulari-
naturais. zação de imóvel rural com o órgão ambien-
Por sua vez, o artigo 24, inciso VI, da Cons- tal competente. A assinatura deste com-
tituição Federal, dispõe sobre a competên- promisso gera a suspensão da punibilidade
cia legislativa concorrente; que determina dos crimes dos artigos 38, 39 e 48 da Lei
que a União, os Estados e o Distrito Federal 9.605/98, enquanto esteja ocorrendo seu
podem legislar sobre florestas, cabendo aos cumprimento.
Municípios legislar de modo a suplementar
as normas destes entes conforme suas pe-
culiaridades locais.
Considerando que alguns delitos ambientais
149/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie
passamos a verificar.
Para saber mais O artigo 38 da Lei 9.605/1998 cria o
A suspensão da punibilidade implica na suspensão delito de destruir ou danificar floresta em
da pretensão punitiva do Estado, referentes aos área de preservação permanente. Por esta
crimes específicos previstos na norma que conce- razão, se o Código Florestal alterar o con-
de este benefício. Em outros termos, o Ministério ceito de área de preservação permanente,
Público não poderá oferecer denúncia, ou seja, ocorrerá, reflexamente, modificação das si-
iniciar a ação penal, por estes crimes, enquanto tuações contempladas pelo tipo penal.
perdurar a situação que autoriza a suspensão. O parágrafo único, do artigo 38, esta-
belece que a pena possa ser reduzida pela
metade se o crime for cometido a título de
Há também a possibilidade de alteração da
culpa. Conforme o artigo 18, inciso II, do
definição de área de preservação perma-
Código Penal o crime é culposo quando o
nente ou mata ciliar, pois estes conceitos
agente deu causa ao resultado por negli-
estão previstos em outras normas, que não
gência, imprudência ou imperícia.
a Lei de Crimes Ambientais. Essas mudan-
ças impactam, diretamente, na caracteri- O artigo 38-A determina a mesma
zação do tipo penal ambiental, conforme conduta criminosa do artigo 38, no entanto,

150/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie


neste tipo penal, a atividade criminosa deve
se dar em vegetação em fase de regenera- Link
ção no Bioma Mata Atlântica. O Ministério do Meio Ambiente estabelece, através
O artigo 39, da Lei 9.605/1998, dispõe que de Instrução Normativa, quais são as espécies da flo-
é crime cortar árvore em floresta considera- ra ameaçadas de extinção. Disponível em: <http://
da de preservação permanente, sem a per- www.mma.gov.br/estruturas/ascom_bole-
missão da autoridade competente. tins/_arquivos/83_19092008034949.pdf>.
Acesso em: 14 out. 17.
Você deve ficar atento, pois o corte de ár-
vore somente é crime se ocorrer em área de O artigo 41, da Lei 9.605/98 é um dispositi-
preservação permanente. Evidentemente, vo muito importante desta norma. Ele prevê
o corte de árvores fora de áreas de preser- o crime de incêndio em área de floresta ou
vação permanente, realizado sem a devida mata. Você deve ficar atento, pois a pena é
autorização da autoridade ambiental com- diferenciada para as situações de crime do-
petente é um ato ilícito. Entretanto, o corte loso (reclusão de 2 a 4 anos e multa) e de
ocorrido fora da área de preservação per- crime culposo (detenção de 6 meses a 1 ano
manente será punido na esfera cível e ad- e multa).
ministrativa, não sendo punido na esfera
criminal.
151/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie
Desta forma, a modalidade culposa pode ser incêndios em área urbana ou de assenta-
processada e julgada pelo Juizado Especial mento humano ou em área de florestas.
Criminal, enquanto a modalidade dolosa Inclusive se o balão possuir tamanho pe-
será processada e julgada pela vara criminal queno há configuração do delito. O que im-
comum. porta é a aptidão a causar incêndios. Este é
Este tipo penal não pode ser confundi- um crime formal, pois há crime ainda que
do com o do artigo 250 do Código Penal. O não ocorra o incêndio. Basta a exposição do
incêndio previsto no Código Penal é um cri- bem jurídico (proteção das zonas urbanas,
me contra a incolumidade pública, ou seja, com assentamentos humanos e áreas de
o bem jurídico protegido é a vida, a saúde da florestas) a perigo.
população e o patrimônio das pessoas. Verifique que o crime pune quem fabrica,
Por outro lado, o crime de incêndio previs- vende, transporta ou solta balões que pos-
to no artigo 41, da Lei de Crimes Ambien- suem capacidade de causar incêndio. Des-
tais, protege o equilíbrio ecológico da mata te modo, apenas não haverá crime quando
afetada. se demonstrar que não há potencialidade
O artigo 42 da Lei 9.605/98 estabelece como de causar incêndio ou que não há florestas,
crime soltar balões que possam provocar nem humanos no local.

152/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie


Merece destaque no seu estudo as disposi- atividades que direta ou indiretamente: (i)
ções do artigo 53 da Lei 9.605/98. Este dis- prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-
positivo estabelece que nos crimes contra a -estar da população, (ii) criem condições ad-
flora haverá aumento de pena de um sexto versas às atividades sociais e econômicas,
a um terço se o fato provoca diminuição de (iii) afetem desfavoravelmente a biota, (iv)
águas, erosão do solo, modificação do regi- afetem as condições estéticas ou sanitárias
me climático e se o delito for praticado no do meio ambiente, (v) lancem matérias ou
período de queda de sementes, no período energia em desacordo com os padrões am-
de formação de vegetação, contra espécies bientais estabelecidos.
raras ou ameaçadas de extinção, em época Segundo o artigo 54 da Lei 9.605/98 consti-
de seca ou inundação, durante a noite, em tui crime causar poluição de qualquer natu-
domingo e feriado. reza em níveis tais que resultem ou possam
resultar em danos à saúde humana, ou que
2. Crimes de poluição provoquem a mortandade de animais ou a
destruição significativa da flora.
Conforme o artigo 3o da Lei 6.938/81 – Po-
lítica Nacional o Meio Ambiente - poluição O objetivo deste tipo penal é proteger a
pode ser conceituada como a degrada- saúde humana, a fauna, a flora e os recur-
ção da qualidade ambiental resultante de sos naturais em geral. Você deve notar que
153/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie
não é qualquer poluição que é criminalizada por este delito. Conforme entendimento do Tribunal
Regional Federal da 2a região:

não é toda poluição que ensejará enquadramento criminal. A realização


do tipo objetivo é dependente de prova técnica delimitadora da poten-
cialidade lesiva à saúde humana ou a vida dos animais e plantas. Qual-
quer introdução de elementos exógenos no meio é poluição, mas é polui-
ção criminosa somente aquela que é capaz gerar riscos à saúde humana
ou a que causa os danos que o tipo legal prevê. O conceito de poluição
é mais amplo do que a caracterização administrativa da poluição, e o
conceito de poluição criminosa é, ainda, mais estreito (falta referência
).(TRF 2ª REGIÃO – Apelação Criminal: ACR 4086 RJ 2000.51.02.005956-
3. Relator Desembargador Federal Alexandre Libonati de Abreu. Data de
julgamento: 14.12.2005. 1ª Turma Especializada. Data de publicação DJU
03.02.2006 .

154/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie


Em linhas gerais, para configurar o delito de poluição deve haver (i) efetivo prejuízo à saúde hu-
mana, (ii) morte de animais ou (iii) destruição significa da flora, a ser constatada pelo magistrado
e, eventualmente, por técnico habilitado. Esta poluição pode ser do ar, da água, do lençol freáti-
co, dentre outras.
Segundo o Superior Tribunal de Justiça:

quando se trata de poluição que possa resultar em danos à saúde huma-


na, está-se diante de crime formal, que não exige a presença de resultado
naturalístico, consistente na efetiva afetação da saúde das pessoas. Des-
se modo, o fato de existir nos autos da ação penal laudo judicial no qual
se afirmaria a inexistência de danos ambientais vigentes, por si só, não
tem o condão de atestar a inocorrência do delito denunciado, de cunho
formal, sendo certo que a aludida prova pericial deve ser valorada em
conjunto com os demais elementos de prova pelo magistrado competen-
te por ocasião da análise do mérito da acusação (BRASIL, 2013).

155/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie


Atentar que o processo e julgamento deste
crime tipificado no artigo 54 são da compe- Para saber mais
tência da justiça comum, não sendo admi- Segundo artigo 89 da Lei 9.099/05 nos crimes em
tido o processo e julgamento pelo Juizado que a pena mínima cominada for igual ou inferior
Especial Criminal. a um ano, constituindo ou não infrações de me-
Entretanto, você precisa lembrar que nos nor potencial ofensivo, o Ministério Público, ao
crimes em que a pena mínima cominada for oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão
igual ou inferior a um ano é admitida a sus- do processo, por dois a quatro anos, desde que o
pensão condicional do processo, conforme acusado não esteja sendo processado ou não te-
o artigo 89 da Lei 9.099/95. Esta benesse é nha sido condenado por outro crime, presentes os
admitida também a infrações não conside- demais requisitos que autorizariam a suspensão
radas de menor potencial ofensivo, de acor- condicional da pena.
do com o artigo 61 e 89 da Lei do Juizado
Especial Criminal. É importante ressaltar que, nos crimes am-
bientais, para haver a suspensão condicional
do processo, e conseguinte extinção da pu-
nibilidade, é necessária a comprovação da
recuperação do dano ambiental. Ademais,
156/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie
se o crime de poluição for culposo será ad- filtros de gás da empresa ela está adstrita ao
mitido processo e julgamento pelos Juiza- cumprimento desta obrigação, sob pena de
dos Especial Criminal, conforme parágrafo incorrer neste crime. Verifique que não é ne-
primeiro, do artigo 54 da Lei 9.605/98. cessário que ocorra o dano ambiental gra-
O parágrafo 2o do artigo 54 da Lei 9.605/98 ve e irreversível. O crime se consuma com
prevê casos em que a poluição será severa, a não adoção das medidas de prevenção e
determinando uma pena de reclusão de 1 a precaução; basta a autoridade exigir medi-
5 anos. Para enquadramento neste delito é das preventivas e o agente não adotá-las.
necessário que o crime seja doloso. O artigo 58, da Lei 9.605/98, estabelece
Em seguida, o parágrafo 3o, deste mesmo causas de aumento de pena aos crimes de
dispositivo legal, estabelece a mesma pena poluição dolosos quando causar: (i) dano ir-
para quem não toma as medidas de precau- reversível ao meio ambiente, (ii) lesão cor-
ção, havendo risco de dano ambiental grave poral de natureza grave, ou (iii) morte.
ou irreversível.
A título de exemplo, se houver uma fiscali-
zação em um determinado empreendimen-
to e o órgão ambiental exigir a alteração de

157/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie


3. Crimes contra o ordenamento Quanto ao patrimônio histórico e cultural,
urbano e o patrimônio cultural a Constituição Federal o tutela nos artigos
215 e 216, bem como nos artigos 24, inci-
Não apenas a natureza, mas também o or- so VII e VIII, e 30, inciso IX, estes dividindo
denamento urbano, o patrimônio histórico, as atribuições entre a União, os Estados e os
cultural, artístico, arqueológico e paisagís- Municípios.
tico devem ser protegidos. A Constituição
A Lei de Crimes Ambientais optou por tipi-
Federal dispõe sobre o desenvolvimento ur-
ficar crimes específicos para proteger estes
bano nos artigos 182 e 183 e o Estatuto da
bens jurídicos culturais e urbanos, senão
Cidade (Lei 10.257/2001), trata do ordena-
mento das cidades brasileiras. Nesta linha, vejamos.
é de grande relevância o plano diretor dos O artigo 62 da Lei 9.605/98 estabelece que
municípios de população superior a 20.000 constitua crime destruir, inutilizar ou dete-
habitantes, através do qual se disciplina o riorar bem protegido por lei, por ato admi-
uso do solo, assentamentos urbanos, zo- nistrativo ou por decisão judicial, bem como
nas industriais, áreas de proteção ambien- arquivo, registro, museu ou biblioteca pro-
tal, tudo de modo a propiciar o crescimento tegidos por lei, por ato administrativo ou
adequado do município (FREITAS; FREITAS, por decisão judicial.
2012).
158/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie
Igualmente, o artigo 165 do Código Penal Código Penal.
criminalizou as mesmas condutas, o que O parágrafo único do artigo 62 estabele-
demostra que o legislador responsável pela ce a modalidade culposa deste tipo penal.
Lei 9.605/98 se olvidou de revogar expres- Para exemplificar uma situação em que este
samente este dispositivo. crime é praticado na modalidade culposa
Note que o bem jurídico tutelado por estas podemos considerar um agente que dirige
normas são os bens tombados ou conside- de maneira imprudente e colide contra uma
rados de valor histórico ou cultural. Ade- biblioteca ou contra uma casa tombada.
mais, este crime é um crime formal, que Nesta situação ocorre o crime do artigo 62,
exige o resultado de causar danos aos bens na sua modalidade culposa. Atentar que na
tombados ou considerados de valor históri- lei ambiental há dano culposo, enquanto no
co ou cultural. dano previsto no artigo 163, do Código Pe-
nal, não há a modalidade culposa.
Por sua vez, o Código Penal, em seu artigo
163, prevê o crime de dano que consiste em Em seguida, o artigo 63 da Lei 9.605/98 es-
destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. tabelece como crime a conduta de alterar
Mas, por conta do princípio da especialida- edifício tombado sem autorização ou em
de o artigo 62 da Lei de Crimes Ambientais desacordo com a autorização concedida.
é aplicado em detrimento do artigo 163 do

159/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie


Isto se justifica pelo fato de o bem tombado, religioso, cultural, dentre outros. A pena é de
considerado integrante do patrimônio ima- detenção de 6 meses a um ano, admitindo
terial brasileiro, passar a não ser somente julgamento pelo Juizado Especial Criminal.
uma propriedade do seu detentor ou pro- O artigo 65 da Lei 9.605/98 estabelece o
prietário, mas sim de toda a coletividade. crime de pichação. Segundo este dispositi-
vo pichar ou conspurcar edifício ou monu-
Link mento urbano é crime punido com deten-
ção de 3 meses a 1 ano e multa. A expressão
Acerca do valor dos bens tombados o IPHAN –
pichar significa escrever, desenhar; enquan-
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Na-
to conspurcar constitui sujar. É importan-
cional estabelece o procedimento para seu reco-
te destacar que mesmo que a pichação ou
nhecimento e registro. Disponível em: <http://
conspurcação seja cometida em uma pro-
portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/126>.
priedade privada o sujeito passivo do delito
Acesso em: 12 out. 2017.
continua sendo toda a coletividade. A pena
é diferenciada caso o ato seja praticado em
O artigo 64 da Lei 9.605/98 criminaliza a monumento tombado, conforme o pará-
construção realizada em local considerado grafo 1o, do artigo 65, da Lei 9.605/98.
patrimônio imaterial ecológico, artístico, Também cabe salientar que o parágrafo 2o,
160/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie
do artigo 65, da Lei 9.605/98 autoriza a prática de grafite, desde que haja autorização do Poder
Público e concordância do proprietário:

não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valo-


rizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística,
desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário
ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a auto-
rização do órgão competente e a observância das posturas municipais
e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela
preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional
(BRASIL, 1998).

161/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie


Glossário
Patrimônio cultural: conforme o artigo 216 da Constituição Federal, constituem patrimônio cul-
tural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em con-
junto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formado-
res da sociedade brasileira.
Poluição: é a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indire-
tamente: (i) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população, (ii) criem condições
adversas às atividades sociais e econômicas, (iii) afetem desfavoravelmente a biota, (iv) afetem
as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente, (v) lancem matérias ou energia em desa-
cordo com os padrões ambientais estabelecidos

162/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie


?
Questão
para
reflexão

Na sua opinião a arte urbana denominada grafite consti-


tui uma manifestação cultural ou, para você, ela é equi-
parada a pichação, constituindo um ato de vandalismo?

163/229
Considerações Finais

• A lei especial deve ser aplicada, em detrimento da lei geral, quando ela tra-
tar de modo diverso alguma disposição geral.
• Os delitos praticados contra a flora visam a proteção da vegetação do país.
• O Código Florestal estabelece a possibilidade de firmar um termo de com-
promisso de regularização de imóvel rural com o órgão ambiental compe-
tente. A assinatura deste compromisso gera a suspensão da punibilidade
dos crimes dos artigos 38, 39 e 48 da Lei 9.605/98.
• O sujeito passivo dos crimes ambientais é toda a coletividade.

164/229
Referências

BRASIL. Decreto-lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Civil. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.

_________. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://


www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 24 set.
2017.

_________. Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e


administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso
em: 24 set. 2017.
_________. Superior Tribunal de Justiça. Ementa nº 40.317 - SP, Recurso Ordinário em Habeas
Corpus. Poluição (artigo 54, Caput, da Lei 9.605/1998). Alegação de Falta de Descrição da Conduta
do Recorrente. Peça Inaugural que atende aos Requisitos Legais Exigidos e Descreve Crime em
Tese. Ampla Defesa Garantida. Inépcia Não Evidenciada. Relator MINISTRO JORGE MUSSI. Brasília,
DF, 22 de outubro de 2013. Recurso Ordinário em Habeas Corpus : Rhc 40317 SP. Brasília, 2013.

165/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie


Referências
EDITORA MELHORAMENTOS LTDA. Michaelis Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa.
Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/>. Acesso em: 02 dez. 2017.
FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes Contra a Natureza. 9. ed. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012.

Tribunal Regional Federal da 2a Região, AC 4.086, DJU 03.02.2006. TRF 2ª REGIÃO – Apelação
Criminal: ACR 4086 RJ 2000.51.02.005956-3. Relator Desembargador Federal Alexandre Libonati
de Abreu. Data de julgamento: 14.12.2005. 1ª Turma Especializada. Data de publicação DJU
03.02.2006

166/229 Unidade 6 • Crimes ambientais em espécie


Assista a suas aulas

Aula 6 - Tema: Crimes Ambientais em Espécie. Aula 6 - Tema: Crimes Ambientais em Espécie.
Bloco I Bloco II
Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/ Disponível em: <https://fast.player.liquidplatform.com/
pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f- pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/
1d/6b91b9a7e72c5a0e024c587ee77249f2>. f42e643454b2e316941086ad9e6f1d9e>.

167/229
Questão 1
1. O Código Florestal estabelece a possibilidade de firmar um termo de com-
promisso para regularização de imóvel ou posse rural perante o órgão am-
biental competente. Assinale a alternativa que apresenta o efeito da assina-
tura deste compromisso.

a) Gera a abolitio criminis.


b) Gera a extinção da culpabilidade.
c) Suspenderá a punibilidade dos crimes previstos nos artigos 38, 39 e 48 da Lei 9.605/98.
d) Suspenderá a culpabilidade.
e) Revoga os crimes dos artigos 38, 39 e 48 da Lei 9.605/98.

168/229
Questão 2
2. Conforme as disposições do artigo 53 da Lei de Crimes Ambientais NÃO
haverá aumento de pena nos crimes contra a flora praticados:

a) Em estado de necessidade.
b) No período noturno.
c) Em época de seca.
d) No período de formação de vegetação.
e) Contra espécies raras.

169/229
Questão 3
3. Assinale a alternativa correta acerca do crime de poluição, previsto na
Lei 9.605/1998:

a) Qualquer espécie de poluição é criminalizada pelo Código Penal brasileiro.


b) Dentre outras, são circunstâncias que agravam a pena o crime de poluição ser causado con-
tra criança ou adolescente.
c) Para a pessoa jurídica, o cometimento do crime de poluição exige circunstâncias específicas.
d) Para que haja o crime de poluição, segundo o artigo 54, da Lei 9.605/98, é necessário que
haja prejuízo à saúde humana, mortandade de animais ou destruição significativa da flora.
e) O crime de poluição é previsto no Código Penal brasileiro.

170/229
Questão 4
4. Assinale a alternativa correta acerca dos crimes ambientais.

a) Para haver a suspensão condicional do processo nos delitos ambientais é necessário que
haja comprovação da recuperação do dano ambiental.
b) A suspensão condicional do processo, prevista no artigo 89 da Lei 9.099/95 somente será
admitida nas infrações de menor potencial ofensivo.
c) Não é cabível suspensão condicional do processo nos crimes ambientais.
d) Não é cabível suspensão condicional do processo nos crimes ambientais de poluição.
e) Não é cabível suspensão condicional do processo nos crimes ambientais contra o ordena-
mento urbano.

171/229
Questão 5
5. Assinale a alternativa que apresenta o(s) diploma(s) legal(is) que tipifi-
ca(m) a seguinte conduta: destruir, inutilizar ou deteriorar bem protegido
por lei, por ato administrativo ou por decisão judicial, bem como arquivo,
registro, museu ou biblioteca protegidos por lei, por ato administrativo ou
por decisão judicial.

a) Código Florestal brasileiro – Lei 12.651/12.

b) Código Penal e Código de Processo Penal.

c) Política Nacional do Meio Ambiente – Lei 6.938/81.

d) Lei de Crimes Ambientais – Lei 9.605/98.

e) Lei de Crimes Ambientais – Lei 9.605/98 e Código Penal.

172/229
Gabarito
1. Resposta: C. 5. Resposta: E.

Conforme artigo 60 da Lei 12.651/2012 Artigos 62 da Lei 9.605/1998 e artigo 165


do Código Penal.
2. Resposta: A.
De acordo com o artigo 53 da Lei 9.605/1998.

3. Resposta: D.
Conforme artigo 54 da Lei 9.605/1998.

4. Resposta: A.

Artigo 89 da Lei 9.099/05. Para que haja


extinção da punibilidade após a suspensão
condicional do processo nos delitos am-
bientais é necessário que haja comprovação
da recuperação do dano ambiental
173/229
Unidade 7
Ação penal ambiental

Objetivos

1. Examinar os crimes contra a Adminis-


tração Ambiental e finalizar o estudo
dos delitos ambientais em espécie;
2. Verificar os aspectos processuais para
julgamento dos crimes contra o meio
ambiente, em especial as disposições
específicas da Lei 9.605/98;
3. Analisar as regras de aplicação dos
Juizados Especiais Criminais aos deli-
tos ambientais.

174/229
Introdução

Você agora finalizará o estudo dos crimes 1. Crimes contra a administra-


ambientais em espécie, através da análi- ção ambiental
se dos crimes contra a administração am-
biental previstos nos artigos 66 a 69 da Lei O Código Penal em seu Título XI estabelece
9.605/98. Em seguida, você aprenderá as crimes contra a Administração Pública. No
regras processuais aplicáveis aos delitos entanto, conforme você já estudou, o prin-
ambientais. Desta forma, após finalizarmos cípio da especialidade determina a aplica-
o estudo do direito material dos crimes am- ção da lei especial, em suas regras específi-
bientais veremos quais as regras proces- cas, em desprestígio da regra geral prevista
suais para aplicação do poder estatal de no Código Penal.
punição.
Certamente, as condutas não previstas na
Para tanto, veremos as regras de competên- lei ambiental, mas tipificadas no Código Pe-
cia que determinam os órgãos jurisdicionais nal, estão mantidas e devem ser aplicadas.
legitimados para processo e julgamento dos No entanto, conforme a regra da especiali-
crimes ambientais e verificaremos as dispo- dade é preferível a lei ambiental.
sições do Juizado Especial Criminal e suas
Assim, as condutas não previstas na lei am-
especificidades em relação à tutela penal
biental, mas tipificadas no Código Penal se-
ambiental.
rão aplicadas, na ausência de regra especial
175/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental
ambiental. Passamos, então, a verificar os concedida erroneamente, caso seja desco-
principais tipos penais ambientais contra a berto tempestivamente.
administração ambiental. Ademais, neste crime é admitido o concur-
O artigo 66 da Lei 9.605/98 estabelece uma so de pessoas quando a condição de cará-
modalidade de falsidade ideológica prati- ter pessoal for circunstância elementar do
cada por funcionário público. Desta forma, crime. Em outros termos, se comunicam no
este crime constitui um crime próprio, ou concurso de pessoas as condições pessoais
seja, exige uma condição especial do sujeito que integram o tipo penal. Ou seja, como a
ativo para configuração deste delito. condição exigida do sujeito ativo, ser fun-
Incorre, também, neste crime, aquele que cionário público, constitui elementar do
deixa de constar uma informação em pro- tipo ela se comunica aos que concorrerem
cedimento administrativo de autorização para a prática do delito.
ou licenciamento ambiental.
Além de constituir um crime próprio, este
delito é formal, pois basta a inserção da
informação falsa, não sendo necessá-
rio que a licença ou a autorização seja

176/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental


Para saber mais
Conforme o artigo 30 do Código Penal não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal,
salvo quando elementares do crime. O critério utilizado para saber se um determinado aspecto relativo ao cri-
me é elementar ou circunstância do crime é a regra da exclusão ou eliminação. Segundo este critério, retirar
uma elementar do tipo faz com que o fato não mais constitua aquele crime; assim, pode ocorrer a atipicidade
ou o enquadramento em outro delito. Por outro lado, retirada uma circunstância do tipo, apenas haverá a
diminuição ou aumento da pena, mantendo íntegra a tipificação da conduta. Em síntese, as elementares in-
tegram a definição jurídica da conduta típica, enquanto as circunstâncias são exteriores ao tipo penal, apenas
podendo qualificá-lo ou gerar uma causa de aumento ou diminuição. Além dos conceitos de elementares e de
circunstâncias do crime, temos o conceito de condições pessoais, explorado pelo artigo 30 do Código Penal.
As condições pessoais são as qualidades, os aspectos subjetivos inerentes a determinado indivíduo, que o
acompanham em qualquer situação, isto é, independem da prática da infração penal. É o caso da reincidência
e da condição de menor de 21 anos (MASSON, 2012). Deste modo, apenas as circunstâncias que são elemen-
tares do tipo que se comunicam, de acordo com a regra do artigo 30 do Código Penal.

177/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental


Este delito de falsidade ideológica de fun- Em seguida, merece destaque o artigo 68
cionário público em procedimentos am- da Lei 9.605/98 que traz um delito omis-
bientais não admite processo e julgamento sivo. Ele pune aquele que deixa de cumprir
pelo Juizado Especial Criminal, pois a pena obrigação de relevante interesse ambiental.
imposta é de reclusão de 1 a 3 anos e multa. Este também é classificado como um cri-
O artigo 67 da Lei 9.605/98 dispõe o crime me próprio, pois apenas poderá ser sujeito
de concessão de licença, permissão ou au- ativo do crime quem tinha o dever, legal ou
torização em desacordo com as disposições contratual, de agir, entretanto quedou-se
legais. inerte.
Note que este também é um crime próprio, Podemos citar, como exemplo de aplicação
que admite o concurso de pessoas entre o deste crime, a situação em que um empre-
funcionário público e particulares, por for- endimento, que possui dever legal de insta-
ça do artigo 30 do Código Penal. Ademais, lar instrumentos capazes de filtrar as subs-
a pena é diferenciada para o crime doloso tâncias químicas de sua atividade, porém,
(detenção de 1 a 3 anos e multa) e culposo não o faz.
(detenção de 3 meses a 1 ano).
É relevante notar que o parágrafo único,
do artigo 68, da Lei 9.605/98, estabelece a

178/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental


modalidade culposa deste crime e a apena
com detenção de 3 meses a 1 ano, sem pre- Para saber mais
juízo da multa. Atentar que a modalidade O artigo 329, do Código Penal, tipifica o crime de
culposa admite processo e julgamento pelo resistência segundo o qual é crime opor-se à exe-
Juizado Especial Criminal, enquanto a mo- cução de ato legal, mediante violência ou ameaça a
dalidade dolosa não. funcionário competente para executá-lo ou a quem
O próximo tipo penal ambiental que merece lhe esteja prestando auxílio. Com base no princípio
destaque é o do artigo 69 da Lei 9.605/98. da especialidade, o tipo penal do artigo 69 da Lei
Ele determina o crime de obstar ou dificultar 9.605/98 se sobrepõe a este delito do artigo 329
a ação do Poder Público de fiscalização am- do CP, quando a resistência envolver fiscalização
biental das atividades privadas. de cunho ambiental.

Este delito é classificado como um crime


comum, pois o sujeito ativo deste tipo penal
Com base no disposto no parágrafo 2o, do
pode ser qualquer pessoa. Ademais, é um
artigo 329, do Código Penal, se houver vio-
crime formal, pois não há necessidade de
lência o agente responderá pelo delito do
ocorrência de prejuízo à atuação da admi-
artigo 69 da Lei 9.605/98 sem prejuízo da
nistração pública ou perigo à coletividade,
pena equivalente à violência perpetrada.
basta dificultar o Poder Público.
179/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental
Por fim, o artigo 69-A da Lei 9.605/98 apre- Este crime de falsa perícia, conforme o prin-
senta a figura típica de elaborar ou apre- cípio da especialidade, não será aplicado
sentar estudo falso ou enganoso em proce- caso a falsidade seja cometida em âmbi-
dimento licenciatório. to de procedimento, processo ou inquérito
Trata-se de crime formal, pois não é neces- policial ou civil para apuração de ilícito am-
sário que a atividade seja autorizada ou li- biental. Nestes casos, incide o delito do ar-
cenciada por conta do estudo equivocado tigo 69-A da Lei 9.605/98.
que foi elaborado ou apresentado. Basta Trata-se, também, de um crime próprio, pois
apresentar ou elaborar o estudo contendo somente poderá ser praticado por quem
informações inverídicas. detém o dever legal de apresentar o estu-
Neste momento, é necessário lembrar que do ambiental para autorização ou licencia-
o artigo 342 do Código Penal tipifica o cri- mento de sua atividade.
me de falso testemunho ou falsa perícia, se- Em adição, é importante destacar que, se-
gundo o qual é punido quem faz afirmação gundo o parágrafo 1o do artigo 69-A, este
falsa, nega ou cala a verdade atuando em delito pode ser cometido na modalidade cul-
processo judicial, administrativo ou inqué- posa. Assim, quem apresenta o estudo falso
rito policial. ou enganoso por negligência, imprudência

180/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental


ou imperícia também poderá ser responsabilizado criminalmente.
Fique atento com a causa de aumento de pena, prevista no parágrafo 2o deste artigo, que incide
quando há dano significativo ao meio ambiente. Isto significa dizer que a ocorrência do evento
danoso não é um mero exaurimento do crime; ela caracteriza uma causa de aumento de pena, a
incidir na terceira fase da dosimetria da pena.

Para saber mais


Você sabe a diferença entre consumação e exaurimento? O iter criminis é o caminho que o criminoso deve
percorrer para alcançar a sua conduta criminosa. Ele é composto pelas seguintes etapas: (i) cogitação, (ii)
preparação, (iii) execução e (iv) consumação. O exaurimento não compõe o itinerário do crime. O exaurimen-
to constitui a intensificação do ataque ao bem jurídico ocorrido após a consumação. Ele refletirá na pena
a ser arbitrada ao agente pelo magistrado. Como exemplo de exaurimento podemos citar o artigo 158 do
Código Penal que tipifica o crime de extorsão. Este delito se consuma quando o agente constrange a vítima,
por exemplo, a fornecer a senha do seu cartão de crédito visando efetuar compras. A realização das compras
constitui mero exaurimento do delito, que se encontrava consumado no momento da prática do constrangi-
mento ilegal.

181/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental


2. Competência nos crimes am-
bientais Link
Acerca da competência material comum para
Competência é a regra que distribui o exer- preservação da qualidade ambiental, estabeleci-
cício da jurisdição. Ou seja, é a divisão do da no artigo 23, III, VI e VII da Constituição Fede-
poder de julgar que é atribuído aos órgãos ral, a Lei Complementar 140/2011 determina as
do Poder Judiciário. Nas palavras de José regras de cooperação entre os entes federativos.
Frederico Marques: “o poder de julgar, ou ju- Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
risdição, é distribuído entre os vários órgãos ccivil_03/leis/LCP/Lcp140.htm>. Acesso em:
do Poder Judiciário, por meio da competên- 20 out. 2017.
cia, que é a medida e o limite da jurisdição”
(MARQUES, 1961, p.220). A competência para processo e julgamento
Neste momento do seu estudo você pre- dos crimes ambientais, em regra, é da Jus-
cisa conhecer as regras de competência tiça Estadual. Isto significa que o órgão do
Ministério Público com atuação em primei-
para processo e julgamento dos crimes
ro grau de jurisdição é o legitimado para
ambientais.
propositura da Ação Penal Ambiental, con-
forme artigo 129, inciso I, da Constituição
Federal.
182/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental
Deve ficar claro para você o porquê da com- a Justiça Estadual será legitimada a exercer
petência dos crimes ambientais ser da jus- sua jurisdição.
tiça estadual. A competência da Justiça Fe- Passamos agora a examinar os crimes am-
deral é constitucional e taxativa, em outras bientais de competência da Justiça Federal.
palavras, somente nas hipóteses dos artigos Vale, também, lembrar que a Justiça Fede-
108 e 109 da Constituição Federal haverá ral não possui competência para julgar con-
competência da Justiça Federal. travenções penais; assim, todas as contra-
Em regra, os crimes contra o meio ambien- venções penais tipificadas no Decreto-lei
te não se amoldam, diretamente, nas situ- 3.688/1941 são de competência da Justiça
ações do artigo 109 da Constituição, sendo Estadual, por previsão expressa do inciso IV,
reconhecida a competência da Justiça Esta- do artigo 109, da Constituição Federal.
dual, que é residual. Os crimes ambientais praticados em de-
Entretanto, há casos em que a competên- trimento de bens, serviços ou interesses
cia será da Justiça Federal, de acordo com da União, de suas empresas públicas e au-
o disposto no artigo 109 da Constituição tarquias serão processados e julgados pela
Federal. Este dispositivo estabelece a com- Justiça Federal, conforme artigo 109, inciso
petência da Justiça Federal, sendo que nas IV, da Constituição Federal.
situações não contempladas por este artigo
183/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental
Ademais, se o crime ambiental for praticado a bordo de navios ou aeronaves (art. 109, inciso IX)
também será da competência da Justiça Federal, assim como o julgamento dos crimes previstos
em tratado internacional ratificado pelo Brasil quando, iniciada a execução no Brasil, o resultado
tenha ou devesse ocorrer fora do país, ou iniciada a execução no estrangeiro, mas o resultado se
deu no Brasil (artigo 109, inciso V).
A título de exemplo, o delito de tráfico de animais para o exterior ou introdução de espécie sem
autorização é da competência da Justiça Federal. Nas palavras de Vladmir e Gilberto Passos de
Freitas:

serão também da competência da Justiça Federal os casos de tráfico de


animais para o exterior. Isto porque o Brasil se comprometeu a reprimir
tal conduta através da Convenção sobre o Comércio Internacional de
Espécies da Flora e Fauna Selvagem em Perigo de Extinção – CITES, apro-
vada no Brasil pelo Decreto Legislativo 54, de 24.06.1975 (FREITAS; FREI-
TAS, 2012, p.58).

184/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental


O Superior Tribunal de Justiça reconheceu Federal, com exceção das situações que
(BRASIL, 2003), também, como hipótese de competem a Justiça Militar e Justiça Eleitoral.
competência da Justiça Federal a infração
penal cometida contra espécie da fauna
elencada na lista do Ibama como em extin-
ção, pois presente o interesse de autarquia Para saber mais
federal. Isto porque a Lei 9.985/2000, em A competência por conexão e continência é tra-
seu artigo 54, estabelece que caiba ao Iba- tada nos artigos 76 e seguintes do Código de
ma, autarquia federal, autorizar a captura Processo Penal. Em linhas gerais a conexão é um
de exemplares de espécies ameaçadas de vínculo, uma ligação existente entre duas ações
extinção destinada a programas de cria- e a continência ocorre quando o objeto de uma
ção em cativeiro ou formação de coleções ação está contido em outra ação com objeto mais
científicas. amplo.

Igualmente serão julgados pela Justiça Fe-


deral os crimes ambientais que houverem
sido praticados com grave violação aos Di-
reitos Humanos e os que guardam conexão
ou continência com outro crime da Justiça
185/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental
3. Ação penal ambiental

Os aspectos processuais da Lei de Crimes


Link
É importante que você conheça as disposições de
Ambientais encontram-se positivados nos
todas as normas mencionadas e que estude pela
artigos 26 a 28 da Lei 9.605/98. Verifica-
legislação atualizada. Desta forma, acesse a Lei
mos, anteriormente, que a ação penal refe-
dos Juizados Especiais pelo portal eletrônico do
rente aos crimes ambientais previstos na Lei
Planalto. Disponível em: <http://www.planalto.
9.605/98 é pública incondicionada. Desta
gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm>. Acesso em:
forma, para instauração do inquérito poli-
12 out. 2017.
cial ou da ação penal, basta a ocorrência da
infração. Esta regra está contida no artigo Você estudou, também, que alguns crimes
26. ambientais são considerados de menor po-
tencial ofensivo, nos termos do artigo 61 da
Lei dos Juizados Especiais Criminais, a Lei
9.099/95. Nestes casos, em que o processo
e julgamento dos crimes ambientais res-
peitarão as disposições estabelecidas nesta
norma:

186/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental


Em se tratando de infração de menor potencial ofensivo, ou seja, as con-
travenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não supe-
rior a dois anos, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento
especial, a autoridade policial que tomar conhecimento do fato lavrará
um termo circunstanciado e o encaminhará ao Juizado Especial.
A instauração do inquérito policial, contudo, deverá ocorrer quando não
seja possível estabelecer a autoria ou recolher os elementos necessários
para demonstrar a materialidade, ou, ainda, quando se cuidar de caso
complexo. O inquérito policial só pode ser instaurado pela autoridade po-
licial, ou seja, o Delegado de Policia Federal ou o Delegado de Polícia Civil,
conforme a natureza do delito. Em outras palavras, a Policia Militar pode
lavrar termo circunstanciado e enviá-lo a juízo, porém não pode proceder
a investigação, como a ouvida de testemunhas ou realização de prova
pericial (FREITAS; FREITAS, 2012, p.357-358).

187/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental


Deste modo, para infrações comuns o dele- a reparação do meio ambiente degradado.
gado de polícia instaurará o inquérito poli- Esta regra não incidirá no caso de evidente
cial para obter justa causa para propositura impossibilidade de restauração do equilí-
da ação penal. Por sua vez, nos delitos de brio ecológico afetado, cabendo ao membro
menor potencial ofensivo, será utilizado o do Ministério Público ponderar se cabível ou
termo circunstanciado, de acordo com o ar- não a medida despenalizadora.
tigo 69 da Lei 9.099/05. Em seguida, o artigo 28 da Lei 9.605/98
Ademais, é importante conhecer as disposi- tratou acerca da suspensão condicional
ções do artigo 27 da Lei 9.605/98. Segundo do processo. Esta figura, prevista no artigo
este dispositivo a transação penal, prevista 89 da Lei 9.099/95, é aplicável aos delitos
no artigo 76 da Lei 9.099/95, somente po- ambientais.
derá ser proposta nos crimes ambientais de Desta forma, o Ministério Público poderá
menor potencial ofensivo quando houver propor a suspensão do processo penal am-
reparação do dano ambiental. biental. Entretanto, serão observadas as se-
Em outros termos, o Ministério Público po- guintes modificações:
derá propor a aplicação imediata de uma
pena de multa ou restritiva de direitos nos
crimes ambientais, desde que comprovada
188/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental
I. I - a declaração de extinção de puni- caput;
bilidade, de que trata o § 5° do artigo IV. IV - findo o prazo de prorrogação, pro-
referido no caput, dependerá de laudo ceder-se-á à lavratura de novo laudo
de constatação de reparação do dano de constatação de reparação do dano
ambiental, ressalvada a impossibi- ambiental, podendo, conforme seu
lidade prevista no inciso I do § 1° do resultado, ser novamente prorrogado
mesmo artigo; o período de suspensão, até o máximo
II. II - na hipótese de o laudo de cons- previsto no inciso II deste artigo, ob-
tatação comprovar não ter sido com- servado o disposto no inciso III;
pleta a reparação, o prazo de suspen- V. V - esgotado o prazo máximo de pror-
são do processo será prorrogado, até rogação, a declaração de extinção de
o período máximo previsto no artigo punibilidade dependerá de laudo de
referido no caput, acrescido de mais constatação que comprove ter o acu-
um ano, com suspensão do prazo da sado tomado as providências neces-
prescrição; sárias à reparação integral do dano
III. III - no período de prorrogação, não se (BRASIL, 1998, art. 28).
aplicarão as condições dos incisos II, III
e IV do § 1° do artigo mencionado no
189/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental
Em síntese, para declaração da extinção da
punibilidade será necessária a apresenta-
ção de laudo comprobatório da reparação
do dano ambiental causado pelo delito,
poderá haver a prorrogação do período de
prova e se ao final do período de prova não
comprovar a reparação integral do dano
poderá haver novo processo penal.

190/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental


Glossário
Crime formal: não exige a ocorrência do resultado naturalístico, previsto no tipo penal, para sua
consumação. Basta a mera prática da conduta criminosa.
Crime próprio: exige uma situação fática ou jurídica do sujeito ativo.
Exaurimento: é a intensificação ou agravamento do ataque ao bem jurídico ocorrido após a
consumação.

191/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental


?
Questão
para
reflexão

Vimos que a proteção do equilíbrio ecológico integra o


rol dos direitos humanos. Ademais, os crimes ambientais
que constituírem graves violações aos direitos humanos
serão processados e julgados pela Justiça Federal, con-
forme artigo 109 da Constituição. Na sua opinião, todos
os crimes ambientais deveriam ser processados e julga-
dos pela Justiça Federal?

192/229
Considerações Finais

• Os crimes ambientais contra a administração ambiental são aplicáveis sem


prejuízo das regras concernentes aos crimes contra a administração públi-
ca, previstos no Código Penal.
• A competência para processo e julgamento dos crimes ambientais é, em re-
gra, da justiça estadual.
• A ação penal referente aos crimes ambientais previstos na Lei 9.605/98 é
pública incondicionada

193/229
Referências

BRASIL. Decreto-lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Civil. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.

________. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.

_________. Lei n° 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
L9099.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.

_________. Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e


administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso
em: 24 set. 2017.
________. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de Competência nº 37.137 MG, Criminal. Conflito
de Competência. Crime Contra A Fauna. Manutenção em Cativeiro de Espécies em Extinção.
IBAMA. Interesse de Autarquia Federal. Competência da Justiça Federal. Relator: MINISTRO FELIX
FISCHER. Brasília, DF, 12 de março de 2003. Conflito de Competência Nº 37.137 - MG. Brasília,
2003.
194/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental
Referências
FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes Contra a Natureza. 9. ed. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012.

MARQUES. José Frederico. Elementos de direito processual penal. Rio de Janeiro: Forense, 1961.

MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado. 6. ed. São Paulo, Editora Método, 2012. v.1. Parte
Geral.

195/229 Unidade 7 • Ação penal ambiental


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Aula 7 - Tema: Ação Penal Ambiental. Bloco I Aula 7 - Tema: Ação Penal Ambiental. Bloco II
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ab13b4c36e0bbd9b1f5e429714a252fc>. 1d/2b2291ac62d30fc43cbe56fbcadaf940>.

196/229
Questão 1
1. Assinale a alternativa correta acerca do delito ambiental previsto no artigo
69-A da Lei 9.605/98, segundo o qual constitui crime elaborar ou apresen-
tar, no licenciamento, concessão florestal ou qualquer outro procedimento
administrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou parcialmente
falso ou enganoso:

a) Este delito não admite a modalidade culposa.


b) Gera a extinção da culpabilidade o cometimento do delito por funcionário público.
c) A ocorrência do evento danoso não é um mero exaurimento do crime, mas constitui causa
de aumento de pena.
d) Para configuração do delito é necessário que a atividade seja autorizada ou licenciada por
conta do estudo equivocado.
e) Revoga o crime de falsa perícia ou falso testemunho previsto no artigo 342 do Código Penal.

197/229
Questão 2
2. Conforme as disposições do artigo 66 da Lei de Crimes Ambientais cons-
titui delito ambiental fazer o funcionário público afirmação falsa ou enga-
nosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos
em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental. Assina-
le a alternativa correta acerca deste crime.

a) Constitui um crime próprio, pois exige uma condição especial do sujeito ativo para configu-
ração deste delito.
b) Não incorrem neste delito aqueles que deixam de constar uma informação em procedimen-
to administrativo de autorização ou licenciamento ambiental.
c) Não constitui crime próprio.
d) Este delito revoga alguns dispositivos do Código Penal.
e) Não se comunicam às circunstâncias e às condições de caráter pessoal elementares.

198/229
Questão 3
3. Assinale a alternativa correta acerca da aplicação das regras dos Juiza-
dos Especiais Criminais aos delitos ambientais previstos na Lei 9.605/1998.

a) Ao crime de poluição não são aplicadas as regras dos Juizados Especiais Criminais.
b) Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata de
pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de
1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia composição do dano
ambiental.
c) Para o crime ambiental praticado pela pessoa jurídica não são cabíveis as medidas despena-
lizadoras da Lei 9.099/05.
d) Não é admita transação penal aos delitos ambientais.
e) Não é admita suspensão condicional do processo aos delitos ambientais.

199/229
Questão 4
4. Assinale a alternativa que apresenta um crime ambiental que será julga-
do pela justiça federal.

a) Crime de poluição.
b) Elaborar ou apresentar em licenciamento ambiental estudo ou documento sabidamente
falso.
c) Conceder o funcionário público permissão em desacordo com as regras ambientais.
d) Desmatar área de floresta sem autorização do órgão competente.
e) Crimes ambientais cometidos contra interesses de entidade autárquica federal.

200/229
Questão 5
5. Acerca da competência para processo e julgamento dos crimes ambien-
tais, assinale a alternativa correta:

a) O delito de tráfico de animais para o exterior ou introdução de espécie sem autorização é da


competência da Justiça Federal.
b) Em regra, os delitos ambientais serão julgados pela Justiça Federal brasileira.
c) A competência da Justiça Federal brasileira é residual.
d) A competência da Justiça Estadual brasileira não é residual.
e) Lei de Crimes Ambientais – Lei 9.605/98 não prevê nenhum delito ambiental que será julga-
do pela Justiça Federal brasileira.

201/229
Gabarito
1. Resposta: C. 4. Resposta: E.

Artigo 69-A, parágrafo 2o, da Lei Artigo 109, inciso I, da Constituição Federal.
9.605/1998.
5. Resposta: A.
2. Resposta: A.
Artigo 109, inciso V, da Constituição Federal.
Artigo 66 da Lei 9.605/1998. Constitui cri-
me próprio, pois exige condição especial do
sujeito ativo consistente em ser funcionário
público.

3. Resposta: B.

Artigo 27 da Lei 9.605/1998.

202/229
Unidade 8
A responsabilização penal da pessoa jurídica

Objetivos

1. Estudar a responsabilização ambien-


tal penal da pessoa jurídica, verifican-
do os requisitos para sua punição e as
respectivas sanções aplicáveis;
2. Analisar as penas aplicáveis às pesso-
as jurídicas, em especial as penas de
multa, restritivas de direitos e presta-
ção de serviços à comunidade.
3. Tratar os aspectos gerais do princí-
pio da insignificância ou princípio da
bagatela, verificando os requisitos de
sua aplicabilidade na esfera criminal
ambiental.
203/229
Introdução

A responsabilização ambiental penal da pessoa jurídica também representa um mandado de cri-


minalização expresso, conforme o artigo 225, parágrafo 3o, da Constituição Federal:

as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeita-


rão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e adminis-
trativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados
(BRASIL, 1988, grifo nosso).
Desta forma, no artigo 225 da Constituição Federal encontra-se, igualmente, o fundamento para
a responsabilização penal da pessoa jurídica, já que este prevê que esse ente pode causar danos
ao meio ambiente, dotando-o de capacidade para responder criminalmente quando da ocorrên-
cia de ilícito penal.
Nesse mesmo sentido dispõe o artigo 2º, da Lei nº 9.605/1998, que prevê que infrações admi-
nistrativas e criminais contra a higidez do meio ambiente são imputadas a quem concorrer para
sua ocorrência, em especial o diretor, o administrador, o membro de conselho e de órgão técnico,
o auditor, dentre outros.
Assim, não restam dúvidas quanto à possibilidade de punição criminal às pessoas jurídicas.

204/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica


1. A responsabilidade penal da pessoa jurídica

Conforme verificamos a possibilidade de punição penal da pessoa jurídica encontra resguardo


constitucional. Ademais, vale reforçar que a responsabilidade ambiental da pessoa jurídica tam-
bém é tríplice, ensejando punição independente nas esferas civil, administrativa e criminal.
Certamente, a responsabilidade penal da pessoa jurídica representa uma flexibilização dos ins-
titutos clássicos do Direito Penal, vez que a personalidade jurídica constitui uma ficção jurídica,
ou seja, uma criação do Direito. É certo que a pessoa jurídica não possui dolo ou culpabilidade,
necessários à responsabilização penal, entretanto, fundado no princípio da reparação integral
dos danos e delitos ambientais, o Direito optou por estabelecer a responsabilidade criminal da
pessoa jurídica.

205/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica


Para saber mais
O dolo é a vontade consciente e livre de cometer uma conduta criminosa por ação ou omissão. O dolo pode
ser direto, indireto, genérico ou específico. Será direto quando um agente busca um resultado determinado
e almejado. Ao contrário, no dolo indireto o agente não se orienta de forma segura em relação ao resultado,
mas assume o risco de produzir um ou mais resultados com a conduta que emprega. O dolo genérico é aquele
que pretende acarretar a ofensa à lei penal; enquanto o dolo específico pretende algo além da conduta cri-
minosa. Por sua vez, a culpabilidade é o juízo de censurabilidade feito pelo julgador que busca determinar se
o autor tinha a possibilidade de realizar a conduta em conformidade com o ordenamento jurídico, evitando
o cometimento do crime, mas optou pela prática delituosa. Considerando que no Brasil não é admitida a
responsabilidade penal objetiva, a análise do dolo e da culpa passou a ser determinante para tipificação dos
crimes.

Como ponderam Vladimir e Gilberto Passos de Freitas:


observe-se que o criminoso ambiental, em regra, foge do padrão do delinquente
comum(...)os delitos ambientais são cometidos por pessoas que não oferecem
nenhuma periculosidade social e cometeram a infração penal levadas por
circunstâncias dos costumes do meio em que vivem (...) (FREITAS; FREITAS, 2012,
p.44).
206/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica
Outra característica marcante da respon- Estas regras merecem estudo aprofunda-
sabilidade criminal ambiental é a punição do. Verifique que este dispositivo estabele-
da pessoa jurídica mediante a criação desta ce dois requisitos para que a pessoa jurídica
ficção jurídica mencionada. seja responsabilizada criminalmente: (i) o
O dispositivo infraconstitucional que regu- crime deve ser cometido por decisão de um
lamenta a punição ambiental penal da pes- representante legal ou contratual da em-
soa jurídica é o artigo 3o da Lei de Crimes presa ou por uma decisão de seu órgão co-
Ambientais. Este dispositivo estabelece que legiado e (ii) a infração penal deve ser prati-
as pessoas jurídicas sejam responsabiliza- cada no interesse ou benefício da empresa.
das administrativa, civil e penalmente nos Fique atento, pois se o funcionário da em-
casos em que a infração seja cometida por presa praticar um delito ambiental visando
decisão de seu representante legal ou con- seu próprio interesse ou interesse de tercei-
tratual, ou de seu órgão colegiado, no in- ro a pessoa jurídica não poderá ser respon-
teresse ou benefício da sua entidade. Ade- sabilizada. Assim, é necessária a decisão de
mais, o parágrafo único, determina que a um funcionário ou representante, que haja
responsabilidade das pessoas jurídicas não em nome da pessoa jurídica, e visando o be-
exclui a das pessoas físicas, autoras, coau- nefício da sociedade.
toras ou partícipes do mesmo fato.
207/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica
Link
Verifique o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça acerca da responsabilização criminal da pes-
soa jurídica. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista//?componente=ATC&se-
quencial=1791281&num_registro=200302100870&data=20051219&tipo=51&formato=PDF>.
Acesso em: 14 out. 2017

Em seguida, merece discorrer acerca do parágrafo único, do artigo 3o, da Lei 9.605/98 que esta-
belece sobre a teoria da dupla imputação. Este dispositivo estabelece que a responsabilidade da
pessoa jurídica e das pessoas físicas responsáveis pela conduta criminosa são independentes.
Desta forma, cabe a indagação, o Ministério Público, como legitimado a ingressar com a ação
penal (artigo 129, inciso I, da Constituição Federal) é obrigado a responsabilizar primeiro as pes-
soas físicas e, posteriormente, as pessoas jurídicas? A responsabilização de uma depende da
responsabilização da outra?
O Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal já alteraram seus entendimentos
quanto a este tema algumas vezes. Mas, atualmente, prevalece que é possível a responsabiliza-
ção criminal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da responsabilização
concomitante da pessoa física que agia em seu nome (BRASIL, 2013; BRASIL, 2015).

208/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica


Assim, a jurisprudência não mais adota a te- O artigo 21 da Lei 9.605/98 estabelece
oria da dupla imputação que exigia primei- as penas das pessoas jurídicas. São elas: a
ro a responsabilização das pessoas físicas, pena de multa, a pena restritiva de direito
para, em seguida, ingressar contra a pes- ou a prestação comunitária. Deve ficar claro
soa jurídica. Este é o entendimento adotado que a pessoa jurídica não pode sofrer pena
acerca do parágrafo único, do artigo 3a, da privativa de liberdade, por esta razão, a lei
Lei de Crimes Ambientais. elencou quais penas são cabíveis às pessoas
Agora você precisa conhecer quais as penas jurídicas.
são aplicáveis às pessoas jurídicas. Em seguida, o artigo 22 elenca as penas res-
tritivas de direitos aplicáveis às pessoas ju-
Link rídicas. Fique alerta para não confundir com
as penas restritivas de direitos previstas no
A temática referente à aplicação da pena às artigo 43 do Código Penal.
pessoas jurídicas está elencada nos artigos 21
a 24 da Lei 9.605/98. Estude pela legislação
atualizada. Disponível em: <http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>.
Acesso em: 14 out. 2017.

209/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica


duração é de dez anos, conforme artigo 22,
Para saber mais parágrafo 3o, da Lei de Crimes Ambientais.
O artigo 23, da Lei 9.605/98, determina as
O artigo 43 do Código Penal estabelece que sejam
modalidades de prestação comunitária que
penas restritivas de direitos: prestação pecuniá-
poderão ser aplicadas às pessoas jurídicas.
ria, perda de bens e valores, prestação comunitá-
ria, interdição temporária de direitos e limitação Em remate, o artigo 24, da Lei de Crimes Am-
de fim de semana. bientais, estabelece que se a personalidade
jurídica for constituída ou utilizada com a
Vale afirmar que a suspensão das ativida- finalidade de cometer crimes ambientais o
des somente será aplicada quando não es- poder público determinará a liquidação for-
tiverem sendo observadas as normas am- çada desta pessoa jurídica. Ademais, seu
bientais. A interdição, por sua vez, é cabível patrimônio será considerado instrumento
quando o estabelecimento estiver funcio- do crime e, por conseguinte, revertido ao
nando sem licença ambiental válida ou em Fundo Penitenciário Nacional.
desacordo com as condicionantes estabe-
lecidas na licença.
Em relação à proibição de contratar com
o Poder Público o prazo máximo para sua
210/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica
2. O princípio da insignificância e os delitos ambientais

Desde os primórdios da ciência jurídica havia a cultura de que o Direito não deve ater-se a casos,
questões e preocupações consideradas de baixa relevância para o interesse social. Desta forma,
as situações fáticas consideradas antissociais, mas que não demonstram periculosidade ou re-
provabilidade do comportamento, não merecem ser solucionadas pelo Estado e, por isso, não
necessitam da ação do poder judiciário.
Assim, são consideradas atípicas as condutas que causem lesões desprezíveis ao bem jurídico.
Alguns autores apontam, como exemplo, o furto de uma fruta, praticado contra uma grande
rede de supermercados. Para muitos, esta conduta pode ser qualificada como insignificante.
Como explica Francisco de Assis Toledo,

segundo o princípio da insignificância, que se revela por inteiro pela sua


própria denominação, o direito penal, por sua natureza fragmentária, só
vai até onde seja necessário para a proteção do bem jurídico. Não deve
ocupar-se de bagatelas(TOLEDO, 1982, p.53).

211/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica


Ainda, de acordo com Julio Fabbrini Mirabete:

não há crime de dano ou furto quando a coisa alheia não tem qualquer
significação para o proprietário da coisa (...) É preciso, porém, que este-
jam comprovados o desvalor do dano, o da ação e o da culpabilidade (...)
(MIRABETE, 2005, p.121).

Há, portanto, certas situações, como as mencionadas, que não merecem a provocação do Poder
Judiciário para a sua solução. Assim, para haver a configuração de um crime deve ocorrer ofensa
a um interesse dirigido, atingindo um bem jurídico relevante.
Convém ressaltar que, no Brasil, não há previsão legal expressa para a aplicação do princípio da
insignificância. Entretanto, para parte da doutrina e da jurisprudência deve ser apontado o prin-
cípio da necessidade constante no caput do artigo 59, do Código Penal, como base legal para a
aplicação deste princípio.
Referido princípio reza que a tutela penal somente se faz necessária quando a incidência de ou-
tros ramos do direito se mostrem ineficazes para a proteção de um determinado bem jurídico.
Assim, com a aplicação da insignificância é extinta a tipicidade do delito.

212/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica


Considerando, assim, que esse princípio afasta por completo a tipicidade do fato criminoso é
necessário que alguns critérios sejam adotados no momento de sua utilização, com o intuito se
fazer cumprir a razão de ser da tutela penal, qual seja, punir aqueles que cometem crimes e re-
presentam periculosidade para a sociedade.
Conforme acórdão de autoria do Ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello, a aplica-
ção do postulado da insignificância, na aferição do relevo material da tipicidade penal, demanda
a presença de certos vetores, tais como (a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a
inexistência da periculosidade social da ação, (c) o reduzido grau de reprovabilidade do compor-
tamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada (BRASIL, 2004).

213/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica


Corroborando este entendimento, o Glossário Jurídico do Supremo Tribunal Federal dispõe:

o princípio da insignificância tem o sentido de excluir ou de afastar a pró-


pria tipicidade penal, ou seja, não considera o ato praticado como um
crime, por isso, sua aplicação resulta na absolvição do réu e não apenas
na diminuição e substituição da pena ou não sua não aplicação. Para ser
utilizado, faz-se necessária a presença de certos requisitos, tais como:
(a) a mínima ofensividade da conduta do agente, (b) a nenhuma peri-
culosidade social da ação, (c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade
do comportamento e (d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada
(exemplo: o furto de algo de baixo valor). Sua aplicação decorre no senti-
do de que o direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam
resultado cujo desvalor – por não importar em lesão significativa a bens
jurídicos relevantes – não represente, por isso mesmo, prejuízo importan-
te, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria
ordem social (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 2017).

214/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica


Em suma, sem o cumprimento de todos es- reconhecida a insignificância. No entanto,
ses requisitos objetivos não se pode, de ma- se todas as pessoas cometerem, também,
neira alguma, aplicar o princípio da insigni- este delito insignificante a somatória destes
ficância. Também, cabe enfatizar que a ha- danos ambientais não admite a aplicação
bitualidade, demonstrada através da rein- da insignificância.
cidência, afasta a bagatela, pois não pode Por essa razão, não caberia a aplicação do
o criminoso fazer da sua atividade delituosa princípio da insignificância aos delitos am-
um meio de vida. Este constitui um requisito bientais. Entretanto, este não é o entendi-
subjetivo de aplicação da insignificância. mento dos tribunais superiores.
Grande parte da doutrina do Direito Am- Conforme o Supremo Tribunal Federal e o
biental acredita que a aplicação do princí- Superior Tribunal de Justiça o princípio da
pio da insignificância aos delitos ambien- insignificância é aplicável aos crimes am-
tais é vedada. O argumento é a cumulati- bientais se presentes os requisitos objetivos
vidade dos delitos ambientais. Ou seja, o e subjetivos que justificam a sua aplicação.
crime ambiental possui natureza cumula-
tiva. Se uma pessoa matar uma espécie da Como vimos, os requisitos objetivos são: (i) a
fauna ou da flora que possui risco de ex- mínima ofensividade da conduta do agente,
tinção, pode, isoladamente, em tese, ser (ii) a inexistência da periculosidade social da

215/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica


ação, (iii) o reduzido grau de reprovabilidade do direito realizar esta ponderação, dentro
do comportamento e (iv) a inexpressividade dos limites exigidos pela lei, sob a ótica dos
da lesão jurídica provocada. preceitos da razoabilidade e proporcionali-
dade, bem como pelos princípios de mora-
O requisito subjetivo diz respeito ao agen-
lidade que regem a atuação administrativa
te que comete o crime que não pode ser
do Estado.
reincidente, pois a aplicação da insignifi-
cância não pode servir para estimular as A somatória de pequenos danos ambientais
práticas delituosas, mesmo as dotadas de pode ser devastadora para a qualidade am-
inexpressividade. biental, para o desenvolvimento socioeco-
nômico e para a dignidade da vida humana.
Desta forma, é reconhecida a aplicação
Por essas razões, a análise do caso concreto
da insignificância aos delitos ambientais,
deve ser cautelosa e criteriosa, baseando-
desde que preenchidos os requisitos obje-
-se nos princípios de prevenção e precau-
tivos e subjetivos exigidos pelos tribunais
ção que regem a ciência ambiental; para
superiores.
que não seja aplicado o postulado da insig-
Em linhas gerais, a possibilidade ou não nificância desviando da finalidade última da
pela aplicação deste princípio no Direito norma ambiental, qual seja, a defesa da hi-
Ambiental está atrelada à análise minucio- gidez do meio ambiente.
sa do caso concreto, cabendo ao aplicador
216/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica
Glossário
Pessoa jurídica: é um ente personalizado, formado pelo conjunto de bens ou de pessoas. É uma
ficção jurídica criada para que esta entidade seja suscetível de direitos e obrigações, não se con-
fundindo com os direitos e obrigações titularizadas por seus membros.
Princípio da Insignificância: é um princípio não positivado no ordenamento jurídico brasileiro,
apesar de aplicado pela jurisprudência e reconhecido doutrinariamente. Segundo este princípio
são consideradas atípicas as condutas que causem lesões desprezíveis ao bem jurídico tutelado
pela norma penal.

217/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica


?
Questão
para
reflexão

Para você, no Brasil, deveria ser adotada a teoria da Du-


pla Imputação que envolve os delitos ambientais come-
tidos por empresas?

218/229
Considerações Finais
• Os crimes ambientais exigem decisão de um funcionário da empresa e pre-
sença de interesse da corporação advindo da atividade criminosa para que
sejam praticados por pessoas jurídicas.
• As penas aplicáveis às pessoas jurídicas são: multa, restritivas de direitos ou
prestação de serviços à comunidade.
• Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça é aplicável o princí-
pio da insignificância aos delitos ambientais, desde que presentes os requi-
sitos objetivos e subjetivos de configuração da bagatela.

219/229
Referências

BRASIL. Decreto-lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Civil. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.

________. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 24 set. 2017.

_________. Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e


administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras
providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso
em: 24 set. 2017.
_________. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 84412 SP, Princípio da Insignificância -
Identificação dos vetores cuja presença legitima o reconhecimento desse postulado de Política
Criminal - Consequente Descaracterização da Tipicidade Penal em seu aspecto material - Delito
de Furto - Condenação Imposta a jovem desempregado, com apenas 19 Anos de Idade - “res
Furtiva” no Valor de R$ 25,00 (equivalente A 9,61% do Salário Mínimo Atualmente em Vigor)
- Doutrina - Considerações em Torno da Jurisprudência do STF - Pedido Deferido. O Princípio
da Insignificância qualifica-se como fator de descaracterização material da Tipicidade Penal.
Relator: MINISTRO CELSO DE MELLO. Brasília, DF, 19 de outubro de 2004. Habeas Corpus 84.412
- SP. Brasília, 2004.
220/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica
_________. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Extraordinário nº 548.181 PARANÁ, Recurso
Extraordinário. Direito Penal. Crime Ambiental. Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica.
Condicionamento da Ação Penal à Identificação e à Persecução Concomitante da Pessoa Física
Que Não Encontra Amparo na Constituição da República. Relator: MINISTRA ROSA WEBER. Brasília,
DF, 06 de agosto de 2013. Recurso Extraordinário 548181/PR. Brasília, 2013. Informativo nº
714.
_________. Superior Tribunal de Justiça. Recurso em Mandado de Segurança nº 39.173 - BA.
Relator: MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA. Brasília, DF, 06 de agosto de 2015. Recurso
em Mandado de Segurança Nº 39.173 - BA. Brasília, 2015.
FREITAS, Vladimir Passos de; FREITAS, Gilberto Passos de. Crimes Contra a Natureza. 9. ed. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012.

MIRABETE. Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 22. ed. São Paulo: Editora Atlas. 2005. Parte
Geral.
Supremo Tribunal Federal. Glossário Jurídico. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/
glossario/>. Acesso em: 02 dez. 2017.

TOLEDO. Francisco de Assis. Princípios Básicos de Direito Penal. São Paulo: Saraiva,1982.

221/229 Unidade 8 • A responsabilização penal da pessoa jurídica


Assista a suas aulas

Aula 8 - Tema: A Responsabilização Penal da Aula 8 - Tema: A Responsabilização Penal da Pes-


Pessoa Jurídica. Bloco I soa Jurídica. Bloco II
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1d/8737843a3e454c0eabc581fa2d9270b0>. e20a5c81d1281aade615fe0a048a83a0>.

222/229
Questão 1
1. Assinale a alternativa INCORRETA acerca dos conceitos envolvendo a fi-
gura penal do dolo:

a) O dolo é a vontade consciente e livre de cometer uma conduta criminosa por ação ou omissão.
b) O dolo constitui o juízo de censurabilidade feito pelo julgador que busca determinar se o
autor tinha a possibilidade de realizar a conduta em conformidade com o ordenamento jurí-
dico, evitando o cometimento do crime, mas optou pela prática delituosa.
c) O dolo pode ser direto, indireto, genérico ou específico.
d) O dolo genérico é aquele que pretende acarretar a ofensa à lei penal; enquanto o dolo espe-
cífico pretende algo além da conduta criminosa.
e) O dolo será direto quando um agente busca um resultado determinado e almejado.

223/229
Questão 2
2. Assinale a alternativa que apresenta os requisitos necessários à aplicação
de pena privativa de liberdade à pessoa jurídica.

a) Para que haja aplicação de pena privativa de liberdade à pessoa jurídica somente é necessá-
rio que haja manifestação de vontade expressa do representante legal da empresa.
b) O crime deve ser cometido por decisão de um representante legal ou contratual da empresa
ou por uma decisão de seu órgão colegiado e a infração penal deve ser praticada no interes-
se ou benefício da empresa.
c) Basta que o funcionário da empresa haja em desacordo com as regras ambientais.
d) A pessoa jurídica não pode sofrer pena privativa de liberdade.
e) É necessário que os crimes ambientais cometidos sejam praticados contra interesses de en-
tidade autárquica federal.

224/229
Questão 3
3. Acerca da responsabilização criminal ambiental, assinale a alternativa
que apresenta as penas que são aplicáveis às pessoas jurídicas:

a) Pena privativa de liberdade, multa, restritivas de direitos e prestação de serviços à comunidade.


b) Pena privativa de liberdade, multa e prestação de serviços à comunidade.
c) Restritivas de direitos e prestação de serviços à comunidade.
d) Pena privativa de liberdade e multa.
e) Multa, restritivas de direitos e prestação de serviços à comunidade.

225/229
Questão 4
4. Assinale a alternativa que NÃO apresenta uma pena restritiva de direitos
da pessoa jurídica.

a) Suspensão total das atividades.


b) Suspensão parcial das atividades.
c) Proibição de contratar com o Poder Público.
d) Interdição temporária de estabelecimento.
e) Limitação de final de semana.

226/229
Questão 5
5. O princípio da insignificância é causa de exclusão da:

a) Culpabilidade.
b) Aplicação da pena.
c) Tipicidade.
d) Punição criminal.
e) Lesividade.

227/229
Gabarito
1. Resposta: B. 5. Resposta: C.

O conceito apresentado pela alternativa é o O princípio da insignificância é causa de ex-


conceito de culpabilidade, não correspon- clusão da tipicidade da ação.
dendo ao conceito de dolo.

2. Resposta: D.

Artigo 21, da Lei 9.605/1998.

3. Resposta: E.
Artigo 21, da Lei 9.605/1998.

4. Resposta: E.

Artigo 22, da Lei 9.605/1998 e artigo 43 do


Código Penal.

228/229

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