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VIABILIDADE ECONÔMICA EM ENERGIAS RENOVÁVEIS

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Sumário
Unidade 1: Viabilidade econômica de sistemas fotovoltaicos no Brasil e
possíveis efeitos no setor elétrico..........................................................................4
Seção 1.1: Introdução .................................................................................................4
Seção 1.2: Situação atual da energia fotovoltaica no Brasil ........................................5
Seção 1.3: Dimensionamento do sistema FV..............................................................7
Seção 1.4: Custo da energia fotovoltaica .................................................................. 10
Seção 1.5: Estrutura tarifária da energia elétrica convencional................................. 13
Seção 1.6: Viabilidade da energia solar fotovoltaica distribuída................................ 15

Unidade 2: A Viabilidade Econômica da implantação de Energia Solar


Fotovoltaica para a redução dos custos com energia elétrica das famílias com
diferentes níveis de renda ...................................................................................... 22
Seção 2.1: Introdução ............................................................................................... 22
Seção 2.2: Energias Renováveis .............................................................................. 24
Seção 2.3: A Matriz Elétrica Brasileira ...................................................................... 26
Seção 2.4: Principais políticas públicas voltadas à produção de energia renovável no
Brasil ......................................................................................................................... 27
Seção 2.5: Crescimento Econômico, Classes de Renda e Consumo de Energia ..... 29
Seção 2.6: Descrições dos Dados, Procedimentos e Instrumentos de Pesquisa ..... 30
Seção 2.7: Modelo Teórico para Análise de Viabilidade Econômico-financeira ........ 31
Seção 2.8: A Estatística Descritiva e o Modelo de Regressão Linear ....................... 31
Seção 2.9: As Características de Renda e Consumo de Energia Elétrica nas
Residências em Estudo ............................................................................................. 34

Referências .............................................................................................................. 40

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Unidade 1: Viabilidade econômica de sistemas
fotovoltaicos no Brasil e possíveis efeitos no setor elétrico

Seção 1.1: Introdução


A busca por fontes de energia renováveis é um dos grandes desafios
enfrentados pela humanidade nos últimos anos e vem ganhando mais importância
com a intensificação do efeito estufa. Uma das formas mais promissoras de contornar
esse problema é aproveitar a energia fornecida pelo sol, fonte limpa e gratuita de
energia.
Atualmente, existem duas formas de gerar energia elétrica a partir dos raios
solares, conhecidas como fotovoltaica e heliotérmica. A heliotérmica utiliza espelhos
e lentes para concentrar os raios solares em um ponto específico, aquecendo uma
solução que gera vapor e aciona uma turbina que é utilizada para produzir eletricidade.
Já a fotovoltaica consiste na geração de energia elétrica por meio de materiais
semicondutores que apresentam o efeito fotovoltaico. Esse fenômeno químico/físico
pode ser definido como a formação de tensão elétrica ou corrente em um material que
é exposto à luz.
Os avanços tecnológicos recentes na área de semicondutores e o aumento da
produção de células solares ajudaram a diminuir o preço de sistemas fotovoltaicos
(FVs). Esse fato é ilustrado no gráfico 1, no qual se pode observar que o valor por watt
de energia produzido caiu de US$ 79,67 para U$$ 0,36 em menos de quarenta anos
(Diamandis, 2014).
A diminuição dos preços é um dos principais fatores que impulsionam o
crescimento do mercado fotovoltaico. Em 2015, a produção mundial chegou à marca
de 230 GW, mais de quarenta vezes a produção de 2006 (Schmela, 2016). As
projeções apontam até 700 GW de potência instalada em 2020.
O principal objetivo deste estudo é analisar a viabilidade financeira da
implantação de sistemas FVs no Brasil, mais especificamente nas regiões menos
favorecidas socioeconomicamente, e estudar seu impacto na estrutura tarifária atual.
As regiões mais vulneráveis economicamente são atraentes, pois apresentam, em
geral, as maiores incidências solares do país, fator fundamental para a geração
fotovoltaica.

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Outra finalidade deste trabalho é atualizar os dados obtidos no Texto para
Discussão do Ipea intitulado Energia Fotovoltaica Ligada à Rede Elétrica: atratividade
para o consumidor final e possíveis impactos no sistema elétrico, publicado em
fevereiro de 2013 (Cabello e Pompermayer, 2013). Desde então, o barateamento dos
equipamentos, o aumento das tarifas cobradas pelas distribuidoras de energia elétrica
e a atualização dos dados disponíveis sugeriram um novo trabalho acerca do mesmo
tema.

Seção 1.2: Situação atual da energia fotovoltaica no Brasil


Em abril de 2012, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) publicou a
Resolução Normativa no 482/2012, que regulamentou a geração distribuída de
energia. Isso se deu por meio da definição do sistema de compensação, conhecido
internacionalmente como net metering, um arranjo no qual a energia ativa injetada na
rede por uma unidade distribuidora é cedida à distribuidora e posteriormente
compensada com o consumo de energia. Este esquema incentiva o desenvolvimento
de sistemas FVs em outros países da América Latina. O México entrou 2016 com
mais de 100 MW instalados. Além dele, Costa Rica, Panamá e República Dominicana
são outros países nos quais a energia solar vem sendo explorada.
Ao fim do mês, se a geração for maior que o consumo, o saldo restante,
chamado crédito de energia, pode ser usado para abater o consumo em algum mês

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subsequente, restando ao consumidor somente o pagamento da tarifa básica (30 kWh
para instalações monofásicas, 50 kWh para bifásicas e 100 kWh para trifásicas). Se
o consumo for maior que a geração, o consumidor paga a diferença entre a energia
total consumida e a gerada.
A geração distribuída apresenta diversos benefícios ao sistema elétrico, como
o baixo impacto ambiental, a redução das cargas na rede, a diversificação da matriz
energética e a diminuição das perdas. Apesar do enorme potencial de geração
fotovoltaica no Brasil, a quantidade de energia produzida dessa forma ainda não é
significativa. O país conta com cerca de 176 MW de potência centralizada instalada,
totalizando 0,1% da potência total. Esse valor é bem inferior ao dos países líderes do
ranking de produção, como Estados Unidos, China e Alemanha. Entretanto, é evidente
o crescimento desse tipo de geração no Brasil. Foram registradas mais de 3,5 mil
novas conexões de sistemas FVs em 2016 e projeções apontam o país entre os vinte
maiores produtores de energia solar em 2018.
Em 2015, a ANEEL publicou a Resolução Normativa no 687/2015, que
acrescentou alguns benefícios aos micro geradores. Entre eles, a possibilidade de
geração distribuída conjunta, isto é, a energia gerada pode ser repartida entre várias
residências de acordo com seus interesses, desde que elas façam parte da mesma
área de concessão. Além disso, a validade dos créditos de energia passou de 36 para
60 meses, a potência máxima de geração por unidade aumentou de 1 MW para 5 MW
e o processo de adesão para conectar a geração distribuída à rede de distribuição foi
simplificado. Essa resolução normativa parece ter contribuído bastante para o
crescimento no número de instalações de sistemas FVs nos últimos dois anos.
Atualmente, os estados que apresentam o maior número de conexões à rede
elétrica são Minas Gerais e São Paulo. Já os estados do Norte e alguns do Nordeste
não apresentam um número significativo de usuários com sistemas FVs conectados.
As regiões mais interessantes para a instalação desses sistemas serão expostas
adiante neste trabalho. O gráfico 2 mostra como era a distribuição de conexões nos
estados ao final de 2015.

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Seção 1.3: Dimensionamento do sistema FV
Para avaliar a atratividade da energia fotovoltaica, é fundamental conhecer o
custo dos equipamentos, de instalação e manutenção. Para isso, é necessário
analisar previamente a carga desejada do sistema FV, ou seja, quanta energia será
produzida por ele. Inicialmente, o intuito era dimensionar sistemas FVs para suprir
parcial, total e excessivamente a demanda de energia elétrica média residencial.
No caso em que a produção é maior que o consumo, a diferença é injetada na rede
de distribuição, caracterizando uma instalação do tipo grid-tie. Esse modelo de
sistema é conectado diretamente na rede elétrica, exigindo equipamentos mais
complexos que os de sistemas isolados (off-grid), que utilizam baterias para
armazenar a energia sobressalente.
Um dos principais componentes de um sistema FV é o inversor de frequência.
Sua função é transformar a corrente contínua que é gerada pelas placas solares em
corrente alternada, que pode ser usada pelos aparelhos elétricos convencionais.
Por estar conectado diretamente na rede elétrica, um inversor do tipo grid-tie deve
fazer a sincronização de frequência da energia produzida com a fornecida da rede
pública de eletricidade. Esse é o principal fator que torna os preços de inversores de

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frequência desse tipo de sistema maiores que os de off-grid. A tabela 1 mostra um
comparativo do preço dos inversores para as duas configurações fotovoltaicas
existentes.

Existem modelos de inversores mais sofisticados, que contam com suporte à


conexão para comunicação de dados sem fio, para administrar e acompanhar a
geração do sistema. Esses modelos não foram considerados devido ao seu elevado
custo e por essas funcionalidades não serem essenciais a este trabalho.
Em virtude do alto valor do inversor, o intuito de gerar energia para suprir
parcialmente uma residência foi abandonado. Com o aumento do número de placas
no sistema, o preço do inversor é diluído no valor total. O custo unitário do sistema
por unidade de potência, ou seja, por watt-pico (Wp), fica mais barato à medida que a
capacidade de geração aumenta. Esse fato pode ser observado na tabela 2.

As placas solares contidas na tabela 2 foram escolhidas levando em


consideração alguns aspectos, como preço, reputação da marca no mercado,
eficiência e geração de energia. A tabela 3 apresenta três modelos de placa
analisados.

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A placa Globo Brasil é de uma empresa brasileira de painéis solares. O seu
valor foi bastante superior ao das concorrentes, que apresentaram o mesmo custo por
watt-pico. Optou-se, para fins de simulação, pela utilização da placa Canadian CSI
CS6P-265P, visto que sua disponibilidade no mercado nacional é maior
que a da Yingli.
O último equipamento necessário para o sistema FV é o quadro de proteção de
corrente contínua para esse tipo de sistema, conhecido como stringbox. Esse
dispositivo serve para protegê-lo de eventuais distúrbios elétricos que podem afetar
as placas e o inversor. O modelo que apresentou o melhor custo-benefício foi o ABB
02 Strings 1000V, por R$ 1.757, encontrado na loja Minha Casa Solar. Esse
equipamento suporta todas as configurações de sistemas que serão testados neste
trabalho.
A tabela 4 mostra os valores totais dos sistemas FVs, para seis, dez e dezoito
placas solares. O custo da instalação foi aproximado com base em um valor de R$ 250
por placa, já considerando o suporte físico, a partir de entrevistas a empresas e
profissionais do ramo.

O gráfico 3 mostra a constituição dos custos referente a cada parte do sistema,


em que as placas fotovoltaicas correspondem a quase metade do valor total. Ainda
há bastante espaço para o barateamento do sistema, uma vez que o preço das células
de silício vem caindo ano após ano. Apesar do valor elevado dos sistemas FVs, esses

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são conhecidos pela longa vida útil, podendo chegar a mais de 25 anos de
funcionamento pleno.

Seção 1.4: Custo da energia fotovoltaica


Com os custos de implantação definidos, pode-se calcular o valor da energia
produzida pelo sistema FV utilizando o total de gastos iniciais e de manutenção
divididos pelo total de energia produzida. Foram considerados três horizontes de
tempo de dez, quinze e vinte anos. A fórmula utilizada para o cálculo do custo unitário
por energia gerada é apresentada a seguir.

Em que N é o número de anos considerado; Invi é o investimento no ano i;


CO&Mi são os custos de operação e manutenção no ano i; EneProd é a energia
produzida no ano i; h é o fator de decaimento anual da eficiência da placa; e taxa é a
taxa de desconto ao ano.
Os investimentos ocorrem em dois momentos distintos: no ano inicial (i = 0) no
qual são comprados todos os equipamentos necessários no valor especificado na
tabela 4 e ao final do 15o ano, quando o inversor e o stringbox são substituídos.
Não existem dados sobre os custos de manutenção e operação de um sistema FV.
A única recomendação é retirar a poeira das placas de tempos em tempos. Adotou-
se, então, R$ 20, R$ 30 e R$ 40 como os valores anuais desse parâmetro para os
sistemas de seis, dez e dezoito placas, respectivamente.

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A taxa de desconto utilizada foi de 5% ao ano. Esse valor se aproxima do
rendimento real de um título da dívida pública, depois de descontada a inflação
do período e o imposto de renda. Essa taxa foi adotada tendo em vista a condição de
que o indivíduo que for investir no sistema já possua os recursos financeiros para tal,
e que eles estejam aplicados em algum título da dívida pública. Outra opção é
considerar o custo de empréstimos junto a bancos, que em geral seriam superiores.
Entretanto, há linhas específicas de crédito no Banco do Nordeste, com custo menor.
Para o cálculo da energia anual produzida foram considerados diversos
aspectos. O primeiro deles é o decaimento da potência de saída máxima da placa (h),
cerca de 0,7% por ano (Canadian Solar, 2016). Os dados de radiação solar média
incidente no território são fornecidos em quilowatt-hora por metro quadrado (kWh/m2),
logo, era necessário calcular a área do painel solar e descobrir sua eficiência. Essas
informações foram encontradas nas especificações da placa disponibilizadas pelo
fabricante (Canadian Solar, 2016). A geração diária em kWh por placa é dada pela
equação a seguir.
Geração = Radiação Incidente x Eficiência x Área

A geração calculada pela equação (2) não leva em conta as perdas inerentes
a qualquer sistema FV. Fatores como eficiência do inversor, perdas de sincronismo e
no circuito, térmicas, por reflexão, entre outros, diminuem a quantidade de energia
aproveitada pelo sistema. Para modelar essas perdas, adotou-se um fator
de aproveitamento de 75% da energia gerada em (2), com base em estudos
semelhantes como Cabello e Pompermayer (2013) e EPE (2012). Uma das métricas
mais utilizadas para se referir à geração de uma placa solar é o número de horas de
sol pleno, período no qual a placa consegue fornecer sua potência máxima. Esse valor
pode ser calculado dividindo a geração efetivamente obtida em um dia representativo
(em kWh) pela potência de pico da placa (em kW). Com o número de horas de sol
pleno é possível calcular a produção total do sistema FV, multiplicando esse número
pela potência de pico total das placas.
A média de incidência solar diária nos municípios do Brasil é de 5,26 kWh/m2.3
Considerando esse valor no cálculo da geração fotovoltaica, os custos unitários para
os cenários considerados são apresentados na tabela 5.

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Os menores custos unitários foram obtidos no investimento que considera o
horizonte de tempo de quinze anos, no qual não há necessidade da reposição de
equipamentos. Como esperado, quanto maior o número de placas solares no sistema,
menor o custo unitário (em R$/kWh). Os valores de incidência solar diária média
podem ser observados no mapa 1.

Apesar dos diferentes tipos de clima existentes no país, a irradiação solar


apresenta boa uniformidade. O valor máximo de irradiação global – 6,5 kWh/m² – é
identificado no norte do estado da Bahia, na fronteira com o Piauí. Além disso, essa
região apresenta uma baixa média anual de cobertura de nuvens (Pereira, 2006). Já
a menor irradiação é encontrada no litoral de Santa Catarina. Entretanto, a região Sul
recebe mais radiação solar durante o verão do que a Norte, mesmo estando mais

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próxima da linha do Equador. No inverno, a tendência se inverte, a maior variação
entre estações do ano é observada na região Sul do país.
A tabela 6 apresenta os custos unitários médios em cada estado brasileiro.
Esses valores foram calculados com base na fórmula (1), com a energia produzida
estimada a partir da irradiação média de cada estado. É possível observar que os
custos são menores onde a radiação solar é maior, como no Nordeste.

Seção 1.5: Estrutura tarifária da energia elétrica convencional


O valor pago pela energia elétrica vai muito além do preço de aquisição da
energia, paga-se também pela sua disponibilidade 24 horas por dia, sete dias por
semana. A tarifa deve ser suficiente para arcar com os custos de operação e expansão
de todo sistema de transmissão e distribuição, desde onde a energia é gerada até o
consumidor final. Além disso, existe a compensação pelas perdas e os tributos
cobrados pelo governo. Resumidamente, a tarifa é composta por cinco partes:
• custos com a aquisição de energia elétrica;
• custos relativos ao uso do sistema de distribuição;
• custos relativos ao uso do sistema de transmissão;
• perdas técnicas e não técnicas; e

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• encargos diversos e tributos.
Os custos com a aquisição de energia são resultantes de processos de
contratação de valores de energia por meio de leilões regulados, nos quais a empresa
distribuidora compra a quantidade suficiente para atender os consumidores de sua
área de concessão. Os custos dessa operação são repassados integralmente ao
consumidor, sem margem de lucro para a distribuidora.
Os custos relativos ao uso de sistema de distribuição e transmissão estão
inseridos na tarifa para cobrir as despesas de capital e os custos de operação e
manutenção tanto do sistema de distribuição quanto do de transmissão de energia.
As perdas elétricas são divididas em duas porções, técnicas e não técnicas. A
energia dissipada pelos condutores quando há passagem de corrente é considerada
uma perda técnica, inerente a qualquer circuito elétrico. Esse tipo de perda é
ocasionado pelo próprio consumo dos usuários. Já as não técnicas são resultantes de
furtos e problemas com os medidores.
A última parte da composição da tarifa é referente aos tributos e aos encargos
setoriais. O objetivo destes é garantir o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos
das distribuidoras, compensando alguns subsídios dados a grupos específicos de
usuários. Os tributos incidentes na tarifa são o Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS), o Programa de Integração Social (PIS) e a
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). A incidência de
impostos e encargos pode representar mais de 40% do valor total da tarifa,
dependendo do estado.
Outro fator que influencia o valor da tarifa é a bandeira tarifária, que representa
o custo sazonal na geração de energia. Ou seja, a variação do custo para gerar
energia com relação a aspectos que mudam de acordo com a época do ano, como
volume de chuva, disponibilidade hídrica e outras variantes. Existem três bandeiras
atualmente que são acionadas dependendo do custo variável de geração térmica:
verde (sem acréscimo na tarifa), amarela (acréscimo de R$ 0,02 por kWh) e vermelha
(patamar 1 gera um acréscimo de R$ 0,03 por kWh e patamar 2, de R$ 0,035).
A tarifa média cobrada pelas concessionárias do Brasil em março de 2017 foi
de R$ 0,45 por kWh,4 sem a incidência de ICMS e PIS/Cofins. Considerando os
impostos, o valor da tarifa aumenta significativamente. Esses fatores são levados em
conta na seção seguinte, que trata do estudo da viabilidade do sistema descrito.
O gráfico 4 mostra a composição média da conta de luz dos brasileiros.

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Seção 1.6: Viabilidade da energia solar fotovoltaica distribuída
Para avaliar a viabilidade da adoção do sistema FV por consumidores
residenciais, devemos levar em consideração dois aspectos principais: o custo da
energia produzida por esse sistema e o custo da energia fornecida pela
concessionária no local em questão.
O valor da energia produzida foi calculado pela metodologia apresentada
anteriormente neste trabalho, levando em conta os custos dos equipamentos e da
instalação e a incidência solar de cada município brasileiro (mapa 1). O cálculo do
custo da energia fornecida pela concessionária foi feito tendo em vista o valor
fornecido pela ANEEL para cada distribuidora, acrescido dos impostos incidentes na
tarifa. O ICMS varia de estado para estado e de acordo com a faixa de consumo em
kWh. Todos esses fatores foram considerados para uma melhor estimativa do valor
da tarifa.
Como já mostrado na tabela 5, o sistema FV que produziu a energia com menor
custo foi o de dezoito placas em um horizonte de investimento de quinze anos. Esse
valor é utilizado para calcular a razão do custo da energia produzida pela tarifa
correspondente. Essa proporção é fundamental para avaliar onde a energia
fotovoltaica pode ser competitiva.
O mapa 2 apresenta os valores atualmente cobrados pelas distribuidoras, sem
considerar ICMS e PIS/Cofins. A tarifa média é de aproximadamente R$ 0,46 por kWh.

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Pará, Rio de Janeiro e Minas Gerais são os estados que apresentam a maior tarifa
média; Roraima e Amapá, por sua vez, são os que exibem a menor. O mapa 3 expõe
os valores médios das tarifas com a incidência de tributos. Pará e Rio de Janeiro
continuam com as tarifas mais elevadas, assim como Roraima e Amapá com as mais
baixas. Diferentes alíquotas de ICMS fazem alterar a ordem entre os estados.

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O mapa 4 mostra as regiões onde a utilização de energia fotovoltaica é mais
economicamente viável quanto mais verde escuro, mais viável. O estado do Pará
apresenta uma das melhores razões, o que se deve ao valor da tarifa da distribuidora,
a quarta mais cara do país de acordo com dados da ANEEL, e ao fato da incidência
solar ser razoavelmente alta. Já Roraima, apesar de apresentar bons índices de
radiação, não possui uma relação tão vantajosa, visto que a tarifa e o ICMS incidente
estão entre os menores do país. De qualquer forma, em todos os municípios
brasileiros o custo de geração fotovoltaica é menor que o da energia fornecida pelas
distribuidoras na tarifa residencial com tributos, conforme o gráfico 5.

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O Convênio ICMS no 16, de 22 de abril de 2015, autorizou alguns estados a
conceder isenção de ICMS incidente sobre a energia elétrica fornecida pela
distribuidora à unidade consumidora. Isso devia ser feito na quantidade
correspondente à soma da energia elétrica injetada na rede de distribuição pela
mesma unidade consumidora com os créditos de energia ativa originados nesta
própria unidade no mesmo mês, em meses anteriores ou em outra unidade
consumidora do mesmo titular, nos termos do Sistema de Compensação de Energia
Elétrica, estabelecido pela Resolução Normativa no 482, de 17 de abril de 2012. Nos
casos em que os créditos de energia são consumidos por outro titular (geração
remota), não há isenção de tributos. Desse modo, o gráfico 6 mostra a distribuição da
razão de custos de energia fotovoltaica e da tarifa cobrada pela concessionária sem
tributos. Apesar de menos viável economicamente, mais de 40% dos municípios estão
com uma razão menor que 0,9.

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Apesar de a demanda por energia elétrica variar ao longo do dia, o valor
cobrado dos consumidores residenciais pelas concessionárias é o mesmo,
independentemente do horário. Visando beneficiar os usuários que consomem
energia fora dos horários de pico, a ANEEL estabeleceu a possibilidade de adesão a
uma nova modalidade de cobrança, chamada tarifa branca. Essa metodologia adota
valores de tarifa menores que o convencional para horários fora de ponta e maiores

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para períodos intermediários e de ponta. No momento, essa modalidade aplica-se
somente a pessoas jurídicas. Existem dois picos de consumo durante o dia, um de
manhã (por volta das 7h/8h) e outro no início da noite (18h/19h), mas somente este
último é considerado como horário de ponta na cobrança da tarifa branca. Segundo a
Resolução Normativa no 733/2016, o consumidor pode solicitar a mudança para esse
método tarifário a partir de 1o de janeiro de 2018.
A implantação desse novo modelo é extremamente relevante no que tange à
energia fotovoltaica. A geração desse tipo de energia é concentrada no período das
9h às 15h, quando a tarifa fornecida pela concessionária é mais barata na modalidade
branca, por ser, geralmente, do tipo fora de ponta. Em outras palavras, a energia
gerada pelo sistema FV é considerada mais barata que o valor convencional.

Por esse motivo, outra comparação foi realizada, utilizando o custo de geração
solar e os valores de tarifa branca fora de ponta. Cada concessionária adota um valor
diferente para os postos tarifários. O preço fora de ponta é, em média, 17% menor do
que a tarifa convencional cobrada pelas distribuidoras.
De modo geral, não houve notável diferença na distribuição espacial dos
municípios onde a utilização da energia fotovoltaica é mais vantajosa
economicamente. Todavia, a razão entre o custo da energia produzida e o valor

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cobrado pela concessionária aumentou como um todo, visto que a tarifa fora de ponta
é mais barata que a convencional, utilizada na comparação anterior.

Apesar de os cálculos serem um tanto simplificados, considerando valores


médios de tributos e tarifas das distribuidoras, eles indicam uma alta viabilidade dos
sistemas FVs conectados à rede. Ressalta-se, também, que o custo da energia
fotovoltaica foi calculado considerando preços de equipamentos divulgados por sites
especializados, mas nenhuma negociação de valor foi realizada. É possível que
preços ainda menores possam ser obtidos, o que aumentaria ainda mais a atratividade
da energia fotovoltaica. Para consumidores que usufruem de tarifas subsidiadas,
como os de baixa renda e os rurais, a atratividade é, naturalmente, menor.

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Unidade 2: A Viabilidade Econômica da implantação de
Energia Solar Fotovoltaica para a redução dos custos com
energia elétrica das famílias com diferentes níveis de renda

Seção 2.1: Introdução


A utilização da energia elétrica sem dúvida foi um passo importante para a
melhoria da qualidade de vida da humanidade. Sua utilização tornou-se essencial para
países em desenvolvimento, uma vez que, quanto maior for a oferta de energia
elétrica maior será o crescimento econômico, sendo a sua utilização também
relacionada a questões sociais, tais como: a redução da pobreza, o crescimento
populacional e o grau de urbanização. Dada a importância da energia elétrica para o
ser humano, sua utilização tornou-se vital e seu uso indispensável para todas as
classes sociais, até mesmo para os que dispõe de menos recursos financeiros.
(NADIMI; TOKIMATSU, 2018a).
Para a população, energia elétrica significa qualidade de vida, e está ligada as
condições de saúde, trabalho, habitação, etc. Portanto, não podendo ser relacionado
tão somente ao conforto, logo a quantidade de energia que cada família utiliza
influência na renda e no nível de pobreza. Assim, os consumidores com menor renda
enfrentam diversos obstáculos, pois o consumo de energia elétrica é inevitável e, parte
da sua renda está vinculada com as despesas desta. (NADIMI; TOKIMATSU, 2018b;
PASTEN; SANTAMARINA, 2012).
Um outro tema que vem sendo discutido com maior intensidade nos dias atuais
é a preocupação socioambiental dos impactos ambientais causados durante os
processos de geração de energia elétrica no mundo, no qual as atuais preocupações
perpassam a atual forma de sua geração, entretanto, faz-se necessário encontrar
outras formas de geração de energia que reduzam ou limitem a degradação
ambiental, em que pese respeitar os recursos naturais torna-se uma questão
fundamental para a vida humana (HOSENUZZAMAN et al., 2015).
O racionamento enfrentado no ano de 2001 evidenciou que o setor elétrico
brasileiro, necessitava ser modificado. Novas fontes de energia elétrica precisavam
ser incentivadas. Neste sentido, buscou-se a implantação de um novo modelo, este
efetivado a partir do ano de 2004 através das leis nº 10.847 e 10.848 buscando alterar

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e fundamentar o sistema elétrico brasileiro em prol de uma melhor segurança
energética, diferentes tarifas e atendimento universalizado.
Embora tenha ocorrido uma maior diversificação da matriz elétrica brasileira,
os dados apresentados no Balanço Energético Nacional (BEN), elaborado pela
Empresa de Pesquisa Energética (EPE) (2018a), a composição da matriz energética
brasileira está pautada na exploração dos recursos hídricos (65,2% da capacidade
instalada), seguida pela geração termoelétrica (25,3%) e o restante (9,43%) pela
geração de energia nuclear, eólica e solar. Números que evidenciam uma matriz
energética com predominância hidráulica na sua geração.
Na contramão, a escassez de chuvas no período entre 2013-2015 contribuiu
para aumentar a crise hídrica e por consequência impactando negativamente a
produção da energia elétrica, sendo necessário o acionamento de inúmeras usinas
termoelétricas para suprir a demanda por energia, porém, a custos mais elevados.
Além disso, a decisão governamental a partir da medida provisória 579 do ano de
2012 contribuiu para acelerar o problema estrutural na geração de energia elétrica no
Brasil, pois promoveu a redução das tarifas de energia elétrica reduzindo assim a
receita, sendo essas tarifas, modificadas apenas no ano de 2015 com a criação das
bandeiras tarifárias de energia.
Em detrimento das modificações políticas relacionadas ao consumo de energia
elétrica no Brasil, dados da Agência Internacional de Energia (International Energy
Agency – IEA) apontam que a demanda global por energia deverá aumentar
aproximadamente 36% entre 2015 e 2050, sendo que, deste total, as fontes
renováveis deverão representar em torno de 29,6% do fornecimento da matriz
energética mundial em 2050, e, considerando esse prognóstico para o Brasil, a
demanda por energia deverá aumentar em 40% no período entre 2015 e 2050
(INTERNATIONAL ENERGY AGENCY - IEA, 2014).
Dentre as fontes consideradas renováveis, a energia solar vem se
consolidando no mercado, despertando interesse mundial. Sua exploração recebeu
inúmeras melhorias tecnológicas possibilitando seu máximo proveito energético.
Entretanto, a energia solar abastece apenas uma pequena parcela na matriz
energética. (DUPONT; GRASSI; ROMITTI, 2015).
Neste sentido, a energia solar é caracterizada por ser uma fonte de energia
limpa e renovável, cujos impactos causados ao meio ambiente são menores do que
as de uma usina hidrelétrica, nuclear ou termelétrica no ato da geração elétrica, que

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são responsáveis por grande parte das emissões de CO2 na atmosfera. O objetivo da
revolução energética é reduzir as emissões de CO2 em torno de 50% e 80% até 2050.
(MENEGUZZO et al., 2015).
Dentre as demais fontes renováveis, a energia solar revela ser uma fonte com
recursos inesgotáveis, se tornando a fonte energética mais abundante do planeta
(KEMERICH et al., 2016). Segundo Nakabayashi (2014) e Medeiros, Villalva e
Siqueira (2018), por se tratar de uma fonte renovável em expansão, seu custo de
geração continua elevado comparado a outras fontes energéticas. No entanto, um
novo cenário demonstra as perspectivas de competitividade da energia fotovoltaica
no Brasil, motivado por diversos fatores tais como rápida redução dos custos e,
principalmente, questões relacionadas a mudanças climáticas.
Em função da interligação entre a maior parte do país, os aproveitamentos mais
baratos tendem a ser priorizados e complementados por soluções que garantam a
segurança. A incidência dessa transmissão, da distribuição, de encargos e tributos
leva, atualmente, a eletricidade representar cerca de 1/3 do valor pago pelo
consumidor final em suas contas mensais. Os recentes avanços tecnológicos
internacionais, associados à introdução da compensação energética, através da
Resolução 482/2012, da ANEEL, possibilitaram a geração distribuída a custos
competitivos para o consumidor final, que também passou a exercer o papel de
produtor.
Diante do exposto, este estudo busca verificar a existência de viabilidade
econômica para a geração de energia elétrica a partir de um sistema solar fotovoltaico
visando a redução dos custos com a energia elétrica para famílias de classe baixa,
média e alta localizadas no município do Sinop/MT. De forma complementar, buscou-
se verificar também a existência de uma relação econométrica entre o aumento da
renda e consumo de energia tradicional e os indicadores financeiros para a
implantação da energia fotovoltaica nos domicílios de acordo com a renda familiar.

Seção 2.2: Energias Renováveis


A preservação do meio ambiente se tornou uma preocupação dos habitantes
de todos os recantos do planeta, pois a estrutura energética se encontra constituída
basicamente por combustíveis não renováveis, considerados uma ameaça ao meio
ambiente. A fim de que haja desenvolvimento sustentável se faz necessária a

24
ampliação das fontes renováveis na matriz energética mundial. A busca por fontes
alternativas se tornou uma solução viável tanto do ponto de vista econômico quanto
ambiental, tornando-se fator essencial para o desenvolvimento econômico de um país
causando o mínimo impacto possível ao meio ambiente. Além dos benefícios sociais,
econômicos e ambientais, o uso das fontes renováveis diversifica a matriz energética,
reduzindo os riscos em abastecimento e possíveis crises energéticas (BORAN;
BORAN; MENLIK, 2012; KABAK; DAǦDEVIREN, 2014).
As pesquisas de Andrade Guerra et al., (2015) e Goldemberg e Lucon (2007)
evidenciam que os padrões de produção e consumo de energia são representados
por combustíveis fosseis, ou seja, energia não renovável. Encontrados na natureza
em quantidades limitadas e não regeneráveis, os combustíveis fosseis, em sua
maioria provenientes da extração de carvão, petróleo e gás natural, emitem gases
poluentes locais e globais, tais como o dióxido de carbono, provocando mudanças
climáticas que causam danos ao meio ambiente. A inserção das fontes de energia
renováveis na matriz energética tem papel fundamental para que os padrões de
consumo sejam alterados.
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética – EPE (2017) as fontes de energia
renováveis são fontes inesgotáveis geradas a partir de recursos naturais, podendo se
renovar naturalmente e serem rapidamente repostas. A composição atual da matriz
energética nacional tem destacada participação da energia hidráulica, ainda que o
país tenha grande potencial para exploração de outras fontes de energias renováveis,
como a eólica, a solar e a biomassa. Energia eólica - produzida a partir do vento;
biomassa, energia gerada através do processo de combustão de produtos (insumos
ou resíduos) orgânicos; e energia solar, aquela proveniente do efeito da luz e do calor
do sol sobre materiais semicondutores, que podem ser transformados em energia
térmica ou elétrica (GUERRA et al., 2015).
Em se tratando da energia solar, dois processos de geração merecem
destaque. O primeiro resulta a partir do efeito termoelétrico que ocorre através da
conversão da temperatura em tensão elétrica. O segundo processo de transformação
ocorre a partir do efeito fotovoltaico, onde a irradiação solar é convertida em energia
elétrica, por meio de células solares. A utilização destas duas tecnologias ainda
representa uma pequena parcela na matriz energética mundial, no entanto, suas
perspectivas de crescimento se mostram positivas. A energia fotovoltaica em especial,
tem sido reconhecida internacionalmente como uma tecnologia bastante promissora.

25
Experiências em outros países contribuíram para a expansão da capacidade instalada
deste mercado nos últimos anos, apontando ganhos na escala de produção e uma
redução de custos para os investidores, razões pelas quais a energia solar fotovoltaica
passou a ser vista como alternativa rentável no suprimento de energia (EPE, 2012).

Seção 2.3: A Matriz Elétrica Brasileira


Frente às demandas ambientais o governo brasileiro instituiu em 2002 o
Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), com a
finalidade de aumentar o aproveitamento das fontes eólica, biomassa e pequenas
centrais hidrelétricas disponíveis na matriz energética brasileira. Considerando o ano
base 2017, as principais fontes energéticas são: hidráulica, gás natural, biomassa,
petróleo, carvão e energia eólica. Os combustíveis fósseis representam 17,1% (2,5%
petróleo e derivados, 10,5% gás natural e 4,1% carvão e derivados), e as energias
renováveis representam cerca de 80,4% da matriz elétrica nacional, evidenciando a
grande vantagem do Brasil, que se posiciona com uma menor dependência de
recursos energéticos não renováveis. (EPE, 2018a). Em 2002, ano de criação do
PROINFA, essa composição apresentava dados bem diferentes. A Figura 1 evidencia
a composição da matriz elétrica brasileira em 2002 e 2017.

Passados 15 anos, a diversificação das fontes da matriz elétrica brasileira é


significativa. Com base na ilustração, verifica-se a predominância ainda da fonte
hidráulica, com 65,2% de participação, sendo, as fontes renováveis (biomassa, eólica,
solar e hidráulica) responsáveis por 80,4% da oferta de eletricidade brasileira,
contrastando significativamente com a média mundial, que é de 12,6% (EPE, 2018a).

26
Segundo IEA (2014) a demanda por energia no Brasil deverá aumentar em 40% entre
2015 e 2050. Nesse período, o petróleo deverá sofrer uma redução de
aproximadamente 12%, o que é um indicativo de que as fontes renováveis de energia
elétrica devam intensificar sua participação.
Dentre as fontes renováveis existentes, a energia solar vem despertando
grande interesse mundial. A exploração desta fonte recebeu inúmeras melhorias
tecnológicas possibilitando seu máximo proveito energético. A energia solar é
caracterizada por ser uma fonte de energia limpa e renovável, cujos impactos
causados no meio ambiente são significativamente menores do que as de uma usina
hidrelétrica, nuclear ou termelétrica, que são as grandes responsáveis pela maioria
das emissões de CO2 na atmosfera. O objetivo da revolução energética é reduzir as
emissões de CO2 em torno de 50% e 80% até 2050 (TESKE et al., 2010). Ademais,
a energia solar conta com recursos energéticos inesgotáveis, se tornando a fonte
energética mais abundante do planeta (KEMERICH et al. 2016). Segundo a Agência
Nacional de Energia Elétrica – ANEEL (2015), por se tratar de uma fonte renovável
em expansão, seu custo de geração, embora elevado, se comparado a outras fontes
energéticas, demonstra perspectivas de competitividade na modalidade de
exploração fotovoltaica no Brasil.

Seção 2.4: Principais políticas públicas voltadas à produção de energia


renovável no Brasil
O Brasil possui grande potencial para exploração das fontes eólica, biomassa,
pequenas centrais hidrelétricas e solar fotovoltaica. Entretanto essas fontes enfrentam
dificuldades, principalmente da ordem econômica para se inserir no mercado e
expandir a sua atuação na matriz energética brasileira. Neste contexto, se faz
necessário que o poder público crie programas de incentivos que possibilitem
condições para que haja desenvolvimentos tecnológicos que possibilitem a
implantação dessas fontes renováveis (WORLD WIDE FUND FOR NATURE - WWF-
BRASIL, 2012).
Já foram implantados programas de incentivos às fontes renováveis de energia
no país, a exemplo do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia
Elétrica (PROINFA), criado em 2002 pelo Ministério de Minas e Energia, essa política
tem como objetivos diversificar a matriz energética brasileira, aumentar a segurança

27
no abastecimento, valorizar as capacidades regionais e locais (pequenas centrais
hidrelétricas, usinas eólicas e empreendimento termelétricos a biomassa), e reduzir
as emissões de gases de efeito estufa (ANEEL, 2017).
Outra ação institucional que possibilitou a inserção de projetos de geração
solar, especificamente a fotovoltaica no Brasil, foi o Projeto de Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) estratégico, que deu origem à chamada nº 013/2011, da
ANEEL, que tem como principal finalidade a geração de energia elétrica de modo
integrado e sustentável, visando alcançar o desenvolvimento tecnológico necessário
para que esta fonte possa ser inserida na matriz energética brasileira (ANEEL, 2011).
Na mesma linha de atuação, o Ministério de Minas e Energia promoveu o primeiro
leilão para contratar de energia solar fotovoltaica no ambiente de contratação regulada
– ACR (EPE, 2014).
Com propósito adverso, mas não menos importante, a criação e aprovação em
2012, da Resolução Normativa nº 482, estabeleceu as condições gerais para o acesso
de micro e mini geração distribuída. Dentre as oportunidades ofertadas por esta
resolução, a principal foi à possibilidade de conexão dos sistemas que utilizam fontes
com base em energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada à
rede de distribuição das concessionárias, gerando um sistema de compensação às
centrais geradoras e que possibilitou o consumo por meio de instalações de unidades
consumidoras à população (ANEEL, 2012).
Esse sistema de compensação ofertado pela Resolução nº 482 é conhecido
como On Grid. Ele possibilita que toda energia excedente proveniente de uma central
geradora de até 1 MW, seja injetada de imediato à rede das concessionárias. Portanto,
caso a quantidade de quilowatthoras de energia gerada por uma fonte local
(residencial) seja superior à demanda, o sistema envia esse excedente de energia
para a rede da concessionária responsável, e poderá ser compensado, caso haja
necessidade, no período de trinta e seis meses, em qualquer ponto de consumo
registrado com mesmo CPF ou CNPJ do ponto de injeção, desde que na área de
concessão da distribuidora. Em sendo a geração de energia inferior à demanda, a
diferença é fornecida e cobrada pela concessionária. Este projeto foi de extrema
importância para o Brasil, pois permitiu que o país fosse percebido por investidores e
grandes empresas multinacionais (CASTRO; JANNUZZI; DRUMOND JUNIOR, 2016).
Em 2015 ocorreu uma alteração na Resolução Normativa nº 482, dando origem
a Resolução Normativa nº 687, de 24 de novembro de 2015. Esta nova resolução

28
possibilitou uma ampliação do sistema de micro e mini geração, até 75 kW e daí até
5 MW, respectivamente, possibilitando que outros consumidores compensem a
energia injetada, de acordo com alguns critérios. Uma outra alteração refere-se à
ampliação do sistema de compensação da energia injetada que passa a expirar em
sessenta meses. Esta resolução entrou em vigor 1º de março de 2016 (ANEEL, 2015).
Em 2015 foi alterada a legislação sobre chamadas públicas, permitindo que as
distribuidoras contratem empreendimento mais caros que os ofertados nos leilões,
limitados a 10% de seus mercados, para resolver questões locacionais. Em 2018
foram publicados valores para diversas fontes (EPE, 2018b).
A redução de impostos estaduais e federais também é um estímulo às fontes
renováveis na medida e que reduz os custos de uma nova instalação. Percebe-se
que, em virtude da abundância de fontes energéticas renováveis e baratas, os
incentivos advindos de políticas públicas são cruciais para o desenvolvimento e uso
de tecnologias mais eficientes e assim, promover a inserção das fontes renováveis
distribuídas diversificando a matriz energética brasileira (EPE, 2018d; WWF-BRASIL,
2015).

Seção 2.5: Crescimento Econômico, Classes de Renda e Consumo de


Energia
O consumo de energia elétrica é considerado um dos principais indicadores do
desenvolvimento econômico e social de um país (AHMED; AZAM, 2016; NADIMI;
TOKIMATSU, 2018a). O aumento no consumo de energia influencia o nível de
produção e da renda da população, impactando todos os setores da economia, tais
como o setor industrial, comercial e de serviços. A população passa a adquirir bens e
serviços com tecnologia mais avançada e com aparelhos mais sofisticados que
exigem o acesso à rede elétrica, fazendo com que ocorra um aumento no consumo
de energia. Fatores estes que foram fundamentais para o crescimento acelerado no
consumo mundial de energia registrado nos últimos anos (ANEEL, 2008).
Uma vez que o consumo de energia elétrica exerce um papel fundamental no
crescimento econômico e no nível de renda da população, as diferentes classes
sociais se distinguem através de seu padrão de consumo, que demonstram o estilo
de vida e o padrão de renda da sociedade (NADIMI; TOKIMATSU, 2018a), estando
direta e indiretamente ligado ao processo de produção, pois o aumento no consumo

29
de energia acarreta um aumento no PIB (FRANCISCO, 2010; NETO; CORRÊA;
PEROBELLI, 2016), comprovando mais uma vez a importância da energia na
economia de um país.
Embora a expansão do consumo de energia esteja diretamente relacionada a
expansão da economia de um país e a qualidade de vida da sua população, ela
também pode afetar negativamente por três motivos. O primeiro se refere à
possibilidade de esgotamento das fontes utilizadas para a produção de energia, que
é o caso das fontes não renováveis. Um segundo motivo se refere ao impacto que
estas fontes causam no meio ambiente e, por fim, um último motivo refere-se aos
elevados investimentos em pesquisa de novas fontes alternativas e para a construção
de novas usinas geradoras de energia elétrica (ANNEL, 2008). Tais motivações
sugerem que novos investimentos no setor deem preferência às fontes renováveis de
energia elétrica, no sentido de alinhar crescimento econômico, bem-estar da
população e conservação do meio ambiente.

Seção 2.6: Descrições dos Dados, Procedimentos e Instrumentos de


Pesquisa
O universo da pesquisa consiste em identificar a viabilidade econômica para a
implantação de um sistema solar fotovoltaico conectado à rede concessionária (On
Grid) para geração de energia elétrica, com o intuito de reduzir o custo deste serviço
convencional para famílias de baixa, média e alta renda no município de Sinop/MT.
Para tanto, foram selecionados domicílios localizados nos bairros Jardim
Maringá (alta renda), Jardim Botânico (média renda) e Jardim Boa Esperança (baixa
renda), escolhidos de acordo com as características socioeconômicas das famílias ali
residentes no ano de 2017. Esses dados dividem-se entre investimento para
instalação do sistema fotovoltaico (custos dos equipamentos) coletados junto às
empresas A e B instaladas no município de Sinop/MT, estratificação de classes (baixa,
média e alta) com base na renda domiciliar a partir dos dados disponibilizados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2016), e as médias de energia
elétrica faturada em 2017 em cada bairro, fornecidas pela concessionária de
distribuição de energia elétrica no Estado de Mato Grosso, a empresa Energisa Mato
Grosso – Distribuidora de Energia S.A..

30
Utilizou-se também uma análise de regressão para estimar os resultados dos
coeficientes do modelo, a fim de verificar a existência de uma relação entre as
variáveis: despesas com energia elétrica, quantidade de cômodos, quantidade de
moradores, renda total do domicílio, material que predomina as paredes dos
domicílios, material da cobertura dos domicílios, todas extraídas do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE, 2011) através dos dados disponibilizados pelo IBGE
em sua última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2008-2009).
Neste aspecto, este estudo utilizou-se do método descritivo e quantitativo.
Segundo Sampieri, Collado e Lucio (2013), o método descritivo caracteriza-se em
especificar as propriedades, as características e os perfis de pessoas, grupos,
comunidades, processos, objetos ou qualquer outro fenômeno que se submeta a uma
análise. Já o enfoque quantitativo utiliza a coleta de dados para testar hipóteses,
baseando-se na medição numérica e na análise estatística para estabelecer padrões
e comprovar teorias.

Seção 2.7: Modelo Teórico para Análise de Viabilidade Econômico-


financeira
Para a tomada de decisão de um investimento é fundamental a avaliação das
variáveis financeiras em conjunto, para isso, utiliza-se uma ferramenta que auxilia no
agrupamento das mesmas, denominada “Fluxo de Caixa”. A partir dos fluxos de caixa
gerados, obtêm-se os valores de indicadores econômico-financeiros que auxiliam na
avaliação da viabilidade de um investimento. Para os fins deste estudo, os indicadores
utilizados foram o payback descontado, Taxa Interna de Retorno (TIR), Valor Presente
Líquido (VPL), Valor Presente líquido Anualizado (VPLA), Índice Custo Benefício (B/C)
e o Índice de Rentabilidade (IR).

Seção 2.8: A Estatística Descritiva e o Modelo de Regressão Linear


A Tabela 1 apresenta a estatística descritiva das variáveis coletadas para as
informações de média, desvio padrão e os valores mínimos e máximos relativos.
De acordo com os dados da tabela é possível identificar a discrepância entre
os valores da média das variáveis. Analisando o desvio padrão das variáveis, verifica-
se que as variáveis de intervalos mais estreitos tendem a ter um desvio padrão menor
que as demais.

31
Em relação a análise de regressão, essa diz respeito ao estudo da dependência
de uma variável, a variável dependente, em relação a uma ou mais variáveis, as
variáveis independentes, visando estimar e/ou prever o valor médio (da população)
(GUJARATI; PORTER, 2011). O modelo pode ser representado da seguinte forma:

Onde: Y𝑖= Despesa com energia elétrica; 𝑋2= Material que predomina as
paredes dos domicílios; 𝑋3= Quantidade de cômodos; 𝑋4= Quantidade de moradores
no domicílio; 𝑋5= Material da cobertura dos domicílios; 𝑋6= Renda Total do domicílio;
𝑢𝑖= Termo de erro; 𝛽1 = Coeficiente linear; 𝛽2, 𝛽3, 𝛽4, 𝛽5, 𝛽6= coeficientes angulares.

O método de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) consiste na escolha dos


valores dos parâmetros desconhecidos de maneira que a soma dos quadrados dos

resíduos (SQR) ∑ 𝑢̂𝑖2 seja minimizada (GUJARATI; PORTER, 2011). Os estimadores

de MQO possuem as seguintes propriedades estatísticas para validar as premissas


do MCRL: os estimadores são não visados; são eficientes, ou seja, variância mínima;
são consistentes, pois convergem aos verdadeiros valores da população; e a amostra
segue uma distribuição normal, ou seja, com média zero e variância constante Z ~ N
(0, 1) (GUJARATI e PORTER, 2011).

Agora, para estimar os coeficientes do modelo de regressão múltipla com três


variáveis considera-se primeiramente o método dos mínimos quadrados ordinários
(MQO), para assim obter os estimadores parciais de regressão populacional 𝛽̂1, 𝛽̂2 e
𝛽̂3 do modelo (GUJARATI; PORTER, 2011).

32
O modelo de regressão linear múltipla parte da mesma dinâmica do modelo de
regressão linear simples, ou seja, continua a operar com base nas premissas do
MCRL onde: o modelo é linear nos parâmetros; os valores fixos de X ou valores de X
independentes do termo de erro; o termo de erro 𝑢𝑖 tem média igual a zero;
homocedasticidade ou variância constante de 𝑢𝑖; ausência de autocorrelação, entre
os termos de erro; o número de observações n deve ser maior que o número de
parâmetros a serem estimados; não há colinearidade exata entre as variáveis X, não
há relação linear exata entre 𝑋2 e 𝑋3; e ausência de viés de especificação
(GUJARATI; PORTER, 2011).
A velocidade com a qual as variâncias e covariâncias aumentam pode ser vista
pelo Fator de Inflação da Variância (FIV), por isso, usa-se o teste de FIV para detectar
a presença de multicolinearidade no modelo, definido como (GUJARATI; PORTER,
2011):

O Teste de White será usado para verificar a variância do erro do modelo, essa
homocedástica ou heterocedástica, neste caso, apresenta-se como hipótese nula a
presença de homocedasticidade e como hipótese alternativa a heterocedasticidade.
O primeiro passo para executar o teste é obter os coeficientes da regressão, em
seguida obter os resíduos, 𝑢̂𝑖. O segundo passo consiste em obter a regressão
auxiliar:

𝑢̂𝑖 = ∝1+ ∝2 𝑋2𝑖 + ∝3 𝑋3𝑖 + ∝4 𝑋22𝑖 + ∝5 𝑋32𝑖 + ∝6 𝑋2𝑖𝑋3𝑖 + 𝑣𝑖

Sob a hipótese nula de que não há heterocedasticidade, pode-se mostrar que


o tamanho da amostra n multiplicado pelo R2 da regressão auxiliar segue
assintoticamente a distribuição qui-quadrada com graus de liberdade iguais ao

33
número de regressores (excluindo-se o termo constante) na regressão auxiliar
(GUJARATI; PORTER, 2011).
𝑛 ∙ R2 ~ X2gl

Utilizou-se o teste de Breusch-Pagan para detectar se os resíduos são


homocedástico ou heterocedástico, ou seja, se a variância do erro se comporta de
forma constante (GUJARATI; PORTER, 2011). Para estimar os coeficientes da
regressão foi utilizado o Software Stata®.

Seção 2.9: As Características de Renda e Consumo de Energia Elétrica


nas Residências em Estudo
Para o dimensionamento dos sistemas fotovoltaicos a serem instalados, foram
adotados procedimentos de análise pautados nos indicadores de renda e de consumo
de energia elétrica domiciliar. Para tanto, utilizamos a metodologia comumente
empregada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que estratifica
as classes com base na renda familiar auferida, conforme apresentado na Tabela 2.

Com base na classificação disposta, os bairros residenciais do município de


Sinop-MT, segundo dados do censo do IBGE (2010) obtidos no Sistema IBGE de
Recuperação Automática – SIDRA, somam 59 (cinquenta e nove). Dos quais, 3 (três)
bairros foram escolhidos visando contemplar a estratificação por classe de rendimento
domiciliar, sendo eles: Jardim Maringá (Classe alta); Jardim Botânico (Classe média);
e, Jardim Boa Esperança (Classe baixa).
Os dados retornaram 567 domicílios habitados no bairro Jardim Maringá.
Destes, 10 desses possuem renda mensal domiciliar entre ½ à 2 salários mínimos,
outros 58 detém de uma renda domiciliar entre 2 a 4 salários mínimos, 168
compreendem uma renda de 4 a 10 salários mínimos, 205 com renda entre 10 a 20
salários mínimos, além de outros 118 domicílios ocupados com renda domiciliar
superior a 20 salários mínimos, e apenas 6 domicílios não possuem nenhum

34
rendimento, assim o bairro Jardim Maringá enquadra-se, segundo metodologia do
IBGE como um bairro de classe alta.
Outro bairro considerado na pesquisa, o Jardim Botânico, possui um total de
1.394 domicílios. Dos quais, 167 apresentam renda domiciliar entre ½ a 2 salários
mínimos, outros 489 destes apresentaram renda domiciliar entre 2 à 4 salários
mínimos, 435 domicílios apresentaram renda entre 4 à 10 salários mínimos, outros
164 possuem renda domiciliar entre 10 a 20 salários mínimos, 58 possuem rendimento
domiciliar de mais de 20 salários mínimos, e por fim 23 domicílios não possuem
nenhum tipo de rendimento mensal. Dados que segundo classificação do IBGE, o
enquadram como sendo um bairro de classe média.
Por último, pesquisou-se o bairro Jardim Boa Esperança, o qual segundo
informações do IBGE (2010) conta com um total de 1.536 domicílios, sendo 895 com
renda mensal domiciliar entre ½ a 2 salários mínimos, 442 possuem uma renda de 2
a 4 salários mínimos, outros 142 dispõe de 4 a 10 salários mínimos, apenas 2
domicílios usufruem de uma renda de mais de 20 salários mínimos, e os outros 46
domicílios que não possuíam nenhum tipo de rendimento mensal, enquadrando este
bairro como sendo de classe baixa. As informações detalhadas da renda mensal
domiciliar são importantes para que se possa verificar posteriormente a relação de
viabilidade econômica quando da implantação dos painéis fotovoltaicos em relação
ao consumo tradicional de energia elétrica.
Os domicílios em estudo são caracterizados por residencial bifásico e trifásico.
Para dimensionar a potência necessária para suprir a demanda por energia elétrica
alguns aspectos técnicos devem ser levados em consideração ao se instalar um
sistema fotovoltaico, tais como o consumo médio em kWh e a irradiação solar média.
As tabelas a seguir apresentam as médias de consumo e dos custos de energia
fornecidas pela concessionária Energisa Mato Grosso, referentes ao ano de 2017, dos
bairros participantes da pesquisa. Neste sentido, a Tabela 4 destaca esses dados
para os domicílios localizados no bairro Jardim Maringá.

35
A partir dos valores apresentados torna-se possível analisar a variação do
consumo de energia elétrica ao longo do ano de 2017 para o bairro Jardim Maringá,
tornando este consumo base para a realização do dimensionamento do sistema
fotovoltaico a ser instalado. Verifica-se que domicílios localizados neste bairro
apresentam um consumo médio de 1.447 kWh/mês com custo médio de R$ 1.121,20
ao mês. Além desses dados, verifica-se que o consumo médio total anual de 17.365
kWh/ano, apresentando um custo médio anual de R$13.454,30. Este consumo médio
de energia elétrica é considerado elevado visto que a média mensal brasileira de
consumo residencial foi de 157,9 kWh/mês em 2017, ou seja, um consumo anual de
aproximadamente 1.894,8 kWh segundo (EPE, 2018c).
A Tabela 5, apresenta dados dos domicílios localizados no bairro Jardim
Botânico, evidenciando consumo médio anual de 7.733 kWh, ou seja, um consumo
médio mensal de 644 kWh/mês, a um custo médio de R$ 504,00 ao mês e de R$
6.049,28 anualmente. Em relação ao bairro anterior, de elevada renda, nota-se que o
consumo médio foi 44,51% menor, além do custo ser menor em 44,95%. Cabe
ressaltar que os domicílios deste bairro são em sua maioria estratificados como de
classe média.

36
Para o bairro Jardim Boa Esperança, considerado na pesquisa como sendo de
baixa renda, o consumo médio total foi de 2.350 kWh/ano, com média de 196
kWh/mês a um custo de R$ 141,24 ao mês, e de R$ 1.694,80 anualmente, dados
apresentados na Tabela 6.

Com base nas informações sobre o consumo médio dos domicílios nos três
bairros, torna-se possível determinar o tamanho do sistema fotovoltaico para cada
categoria de domicílio suprir sua demanda por energia elétrica. Para esse cálculo, é
preciso considerar a irradiação solar média incidente na localidade.
De acordo com Braun-Grabolle (2010), a irradiação solar é utilizada no cálculo
para estimar a quantidade de energia elétrica que um sistema fotovoltaico é capaz de
produzir, logo a média de irradiação solar é fundamental para a eficiência dos painéis
fotovoltaicos, pois quanto maior for a quantidade de luz e calor recebida pelos painéis

37
maior será a produção de energia elétrica, sendo que o aproveitamento da irradiação
solar para geração de eletricidade varia ao longo dos meses de acordo com as
estações do ano e a localização geográfica.
Sendo assim, os domicílios estão localizados no município de Sinop/MT, com
latitude 11.855812º Sul e longitude 55.571828º Oeste, coordenadas geográficas para
obtenção dos valores de irradiação média diária fornecida pelo Centro de Referência
para as Energias Solar e Eólica Sérgio de S. Brito (CRESESB) como apresentado na
Tabela 3.

Baseados nas informações fornecidas pelo CRESESB, observa-se que a


irradiação solar média para o município foi de 4,80 kWh/m².dia, logo, era necessário
calcular a área do painel solar e descobrir sua eficiência. Com relação a área, essa
informação foi obtida nas especificações do produto. Quanto a sua eficiência, adotou-
se um fator de aproveitamento de 75% da energia gerada, baseado em estudo
realizado pela Empresa de Pesquisa Energética EPE (2012), que considerou fatores
como a eficiência do inversor, perdas de sincronismo e no circuito, térmicas, por
reflexão, entre outras, como perdas de quantidade de energia aproveitada pelo
sistema fotovoltaico.
Realizados os cálculos para obter o número de placas necessárias para suprir
100% da demanda dos domicílios em estudo, a Tabela 7 demonstra ainda a potência
gerada de cada equipamento e o preço médio de cada kit segundo informações das
empresas A e B que revendem esses equipamentos em Sinop/MT. Cada kit
fotovoltaico inclui painel solar (placas), cabo fotovoltaico, conector, grampos, perfil
perfurado, junção do perfil, StrigBox e inversor monofásico. Além do preço do kit, as
empresas cobram uma taxa de 30% sobre o preço, referente à custos com transporte,
mão-de-obra e projeto elétrico para a instalação do sistema solar fotovoltaico.

38
Conforme já mencionado, os sistemas fotovoltaicos propostos terão
capacidade para suprir 100% da demanda dos domicílios. Situações de produção
além da demanda necessária podem ocorrer a qualquer momento. Nesses casos, por
tratar de um sistema conectado à rede (On Grid), o excedente de energia é injetado à
rede elétrica da concessionária e fica como crédito por um período de até 60
(sessenta) meses, podendo ser compartilhada dentro de uma mesma área de
concessão ou permissão, ou deverá ser utilizada pela distribuidora local. No entanto,
deve-se ressaltar que mesmo que o sistema seja capaz de suprir 100% da demanda,
a conta de energia elétrica nunca terá valor igual a zero, pois o consumidor tem de
pagar a concessionária a taxa mínima de disponibilidade da rede elétrica (ANEEL,
2015).
Apresentados os cálculos e custos necessários para a implantação dos painéis
fotovoltaicos, o próximo passo da pesquisa foi analisar sua viabilidade econômica em
relação a renda domiciliar e o consumo de energia tradicional.

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