The inertial of consumers in the electricity retail
market
Walter Soares Junior Suelen Ruy Gama
Departamento de Engenharia Elétrica Departamento de Engenharia Elétrica
Universidade Federal de Itajubá Universidade Federal de Itajubá
Itabira, Brasil Itabira, Brasil
waltersoaresjunior@hotmail.com suelenruy@gmail.com
Elcio Franklin de Arruda
Departamento de Engenharia Elétrica
Universidade Federal de Itajubá
Itabira, Brasil
elcio.arruda@unifei.edu.br
Abstract—The paradigm shift caused by electric sectors
reforms in the last century, has led to a development of diverse
markets of electric energy around the world, as international
experiences demonstrate. However, such changes have also led to
particularities that somehow check if those markets have
achieved their goals, such as the lack of consumers movement
among energy traders in electricity retail market. Therefore, the
present work aims at describing the tendency in some chosen
country, verifying which policies have been adopted by
governments and companies of this sector, in order to face such
singularity.
Keywords—energy market; retail market; sticky consumers;
competition; liberalization.
I. INTRODUÇÃO
Os processos de reformulação no setor elétrico mundial
foram em sua maioria iniciados nas décadas de 1980 e 1990,
impulsionados pela criação de um mercado competitivo de
energia, afim de um aumento da rentabilidade econômica.
Essas mudanças possibilitaram que antigos mercados antes
verticalmente integrados pudessem ser separados em geração,
transmissão, distribuição e comercialização, conforme
apresenta [1]. Dentre a separação dos segmentos, a
comercialização de energia tornou-se um dos pilares dessa
reestruturação, visto que seu potencial de concorrência entre as
empresas comercializadoras, provocando menores custos para
os consumidores, beneficia diretamente toda a esfera
envolvida.
Os benefícios desses processos já podem ser encontrados
no cenário global. Apesar da reforma não ser caracterizada
como um evento efêmero, e sim como um procedimento longo
e detalhado, exigindo necessidade de investimentos contínuos e
empenho político, de acordo com [2], os resultados já são
exibidos no crescimento e desenvolvimento de vários mercados
de energia, apresentando transparência para os consumidores e
uma clara tendência da diminuição tarifária, conforme
apresenta o mesmo autor.
No entanto, decorrente dessas evoluções no quadro
energético e de particularidades em determinados países,
Lucas Ribeiro Magalhães
Departamento de Engenharia Elétrica
Universidade Federal de Itajubá
Itabira, Brasil
lucasribeiro.m@hotmail.com
surgiram questões que contrastam com as ideias principais
desenvolvidas incialmente nesses processos, colocando em
dúvida se todos os objetivos antes propostos foram ou serão
alcançados. Um desses aspectos que é facilmente encontrado
em diversos países com esse tipo de mercado, é a inércia dos
consumidores no ambiente livre. Essa inatividade gerada pela
pouca movimentação dos consumidores finais entre as diversas
empresas de comercialização, taxa que chega a 10% em alguns
Estados na União Europeia [3], aumenta as incertezas sobre o
pleno funcionamento de todo o sistema apresentado.
Assim, o presente trabalho apresenta um estudo dessa
tendência nos mercados de energia do Reino Unido, setor base
para qualquer estudo regulatório e com as maiores taxas de
mudança contratuais dos consumidores nesse ambiente, e o
mercado de energia da Austrália, país que teve um crescimento
significativo nos últimos anos, tanto em âmbito econômico
como no setor elétrico. Esse artigo retrata a conjuntura desses
mercados nos respectivos países, apresentando os motivos de
tal peculiaridade, além dos meios regulatórios e políticos para a
minoração desse fato, permitindo assim, uma forte reflexão
quanto à evolução iminente no modelo do setor elétrico
brasileiro considerando proliferação de unidades de mini e
microgeração distribuída, bem como a abertura do mercado
para a baixa tensão.
II. O AMBIENTE LIVRE E A INERCIA DOS CONSUMIDORES
Antes das restruturações nos mercados de energia em
diversos países, os setores elétricos eram geralmente
organizados em duas possíveis estruturas: Empresas estatais
ou monopólios privados regulados. No primeiro caso, os
principais problemas atrelados a essa configuração residiam
no fato de que os consumidores estão diretamente expostos a
maiores riscos, como uma possível ausência de incentivos das
empresas estatais nos serviços prestados aos seus clientes e a
falta de investimento por parte do governo em infraestrutura,
acarretando em um serviço de baixa confiabilidade [4]. Já no
segundo contexto, quando há monopólios privados regulados,
como é o caso de determinados países com mercados
avançados, faz se a necessidade de políticas regulatórias
exigentes, mas não exclui também possíveis problemas, como
a segurança da oferta, riscos aos consumidores e desigualdade
dos preços [4].
Nesse contexto, os processos de liberalização atuaram
nesses mercados com os propósitos de corrigir ou amenizar
impasses setoriais. A liberalização dos mercados avançados de
energia, segmentos onde são encontrados o foco central desse
trabalho, tiveram como base a constituição de um mercado
livre de energia, em que consumidores podem comprar energia
diretamente de geradores e comercializadores, pactuando
preços e condições de forma desregulada [1]. Na teoria, essa
divisão de mercado provoca uma concorrência efetiva criando
proteção natural para todos os consumidores, pois em situação
de competição de mercado, desenvolvem-se contratos e
produtos que criem maior valor agregado [2]. Atualmente,
diversos países estão inseridos nesse quadro, onde
consumidores, de acordo a legislação vigente, podem
comercializar energia elétrica realizando contratos bilaterais
com empresas. Além disso, muitas outras nações, como é o
caso do Brasil, possuem fortes tendências de uma maior
abertura para esse segmento.
O mercado livre tem possibilitado avanços significativos
nos mercados de energia atuais, como é o caso do Reino
Unido, que vê essa divisão como uma oportunidade para
enfrentar os problemas atrelados a sua matriz energética, onde
há o predomínio de usinas não renováveis [5]. No entanto,
nesse segmento é encontrado consumidores, conhecidos
popularmente na literatura internacional como “sticky
consumers”, especialmente na baixa tensão, que não migram
entre as comercializadoras podendo perder possíveis
oportunidades nessas transações. Segundo [6], essa classe de
clientes pode ter perdido 1,4 bilhões em libras só no ano de
2017 no Reino Unido, por não terem analisado outras
possíveis oportunidades geradas pela competição no mercado.
Há diferentes barreiras que podem estar atreladas a esse
evento. De acordo com [7], o mercado varejista de eletricidade
possui algumas particularidades que foram responsáveis por
gerar essa inatividade, sendo elas: Baixo retorno financeiro
para as empresas de energia quando realizadas negociações
com clientes de baixa potência, o que desestimula
investimentos massivos nesse segmento; O fato de que os
consumidores já possuem um relacionamento de longa data
com as antigas empresas no ambiente regulado, o que aumenta
as incertezas na hora de possíveis mudanças; Questões
relacionadas a liberdade de escolha. Os consumidores não
podem exercer seus interesses sem suportar custos de
mudanças, tanto em âmbito contratual e regulatório, bem
como os atrelados a pesquisa de mercado e identificação das
melhores oportunidades; E a homogeneidade do produto,
dificultando a realização de boas escolhas na hora da
negociação e que as empresas possam desenvolver maiores
variedades de serviços. Todos esses impasses, segundo o
autor, prejudicam o mercado de diversas formas,
principalmente por não oferecer lucros sólidos para novas
empresas participantes [7], estimulando que antigas
organizações aumentem os preços e diminuam suas atividades
empreendedoras, visto que a competição no segmento sofreria
uma diminuição significativa.
Já para [3], os principais empecilhos responsáveis pelo
acontecimento, são as tarifas governamentais geradas quando
há transição dos consumidores entre as comercializadoras, e o
desinteresse por parte dos mesmo em conhecer a sua conta de
eletricidade, como é visto no mesmo relatório descrito pelo
autor, onde apenas 47% dos consumidores conhecem o quanto
consomem. Segundo [8], grande parte desse problema está
atrelado ao comportamento dos consumidores nesse ambiente.
A complexidade tarifária está também diretamente
relacionada a esses impasses [7]. Os altos números de
consumidores que não conhecem a sua conta de eletricidade,
como foi apresentado anteriormente, mostra o quanto esse
mercado ainda é intangível para diversos clientes,
prejudicando drasticamente na dinâmica envolvida em um
segmento onde são necessárias objetivas e nítidas informações
para realização de boas escolhas contratuais.
Dentre as diversas barreiras apresentadas que tentam
explicar esse fenômeno, grande parte dos estudiosos referem-
se a conduta dos consumidores na hora de escolher as ofertas
como uma das maiores dificuldades do mercado. Embora a
liberalização tenha sido inspirada nos conceitos da escola
austríaca de pensadores, sobre a natureza dos mecanismos
competitivos e seu comportamento supostamente positivo [7],
as negociações nesse ambiente não são apenas regidas pela
razão, conforme os pensamentos dessa escola apresentam, mas
sim sobre a ótica do consumidor, sendo interferida por
questões históricos e pessoais de cada cliente, exibe [7]. Todos
esses fatores são levados em conta no momento de escolha das
melhores oportunidades no varejo.
A Fig. 1 apresenta de forma clara essa ideia. Nela, são
apresentados os fatores que levam os clientes a realizarem
suas operações no mercado de energia, sendo influenciados
por diversas questões, desde fatores pessoais até as
informações que chegam aos clientes finais.
Fig. 1. Motivos que levam os consumidores a suas respectivas escolhas em
contratos energéticos (DEFEUILLEY, 2018).
Inicialmente, esses consumidores estão sujeitos a acertos e
erros, em um processo de aprendizagem e descobertas
contínuas. Na primeira fase do mercado, assim que o mesmo
sofre uma abertura, as taxas de mudança contratuais podem
ser baixas, resultado da inexperiência dos envolvidos e
possíveis falhas nas regras regulatórias, conforme exibe [7].
Com o passar dos anos, as taxas devem aumentar,
possibilitando um desenvolvimento do mercado, beneficiando
os clientes e as empresas atuantes nesse setor. Sendo assim,
esse trabalho seguirá uma ordem cronológica no estudo dos
países, verificando qual era o cenário encontrado incialmente
nesses processos, os principais acontecimentos e a situação
exibida até o presente momento nesse ambiente de
comercialização.
III. OS CONSUMIDORES NO REINO UNIDO
O Reino Unido é conhecido internacionalmente como um
dos mercados de energia mais sólidos do planeta, visto sua
experiência histórica pioneira e suas efetivas políticas
regulatórias. No entanto, esse sistema elétrico também é
conhecido pela existência dos “sticky consumers” em diversas
áreas ao longo do seu território, sendo distribuídos de maneira
heterogênea entre as empresas de comercialização, muitas
delas advindas como herança das privatizações no século
passado [9]. Essas empresas, conhecidas como Big six,
possuem monopólios de determinadas regiões e quase todos os
clientes inertes se encontram nelas [10].
Historicamente, o processo de abertura terminou em 1999,
e diversos acontecimentos marcaram o mercado desde então,
principalmente no que tange as estratégias adotadas pelas
empresas de energia para conquistar uma parcela maior de
clientes, bem como também as políticas regulatórias
envolvidas. Desde os processos de liberalização, algumas
estratégias foram tomadas para que a livre concorrência fosse
incentivada. Incialmente, a venda combinada de eletricidade e
gás, junto com as garantias fixas de preços, tornaram-se
atividades relativamente populares nesse ambiente [11]. Além
disso, venda pela internet de energia e o desenvolvimento de
pacotes contendo eletricidade, telefonia e acesso à internet [5],
contribuíram também para um aumento dos consumidores no
ambiente de varejo. Só nos primeiros anos de abertura total de
mercado, que compreenderam de 1999 até 2001, segundo [7],
as taxas de mudanças entre as empresas de comercialização
foram de aproximadamente de 32%, envolvendo 8,5 milhões
de clientes nesse contexto. Esse número é atribuído em grande
parte as estratégias de marketing e publicidade adotada pelas
empresas, o que contribuiu para um crescimento do ambiente
nos anos iniciais e uma melhora dos serviços prestados pelas
companhias. Inicialmente, nos 3 anos seguintes após 1999,
observou-se também um crescimento das taxas de novas
empresas no mercado de varejo, exibe [12].
Os anos posteriores a esse primeiro período apresentaram
uma diminuição das taxas de mudança entre os possíveis
contratos. Grande parte do acontecimento, apresenta [12], está
relacionada ao aumento do preço da eletricidade decorrente do
alto valor do gás no cenário internacional, além da
necessidade de descarbonização da matriz energética. O autor
exibe que de 2003 até 2008, o valor da eletricidade subiu 66%
em termos reais no Reino Unido. Além disso, a diminuição
desses valores de novas negociações no ambiente livre,
também está relacionada a grande convergência de preços
entre os possíveis contratos nesses anos. A diferença entre o
preço médio oferecido pelo titular e a oferta média do melhor
fornecedor alternativo não diminuiu significativamente desde
2000, apresenta [5].
Decorrente do cenário de incertezas, em 2008 foi
desenvolvido pelo OFGEM (Office of Gas and Electricity
Markets), órgão regulador do país, uma pesquisa com o
propósito de diagnosticar os problemas encontrados nesse
cenário e propor possíveis soluções. Dentre os obstáculos
encontrados, foi verificado que: As empresas conhecidas
como Big Six, não operavam com uma margem competitiva de
lucros; Ainda existia uma grande barreira para a entrada de
novos adeptos ao mercado; Os clientes não conseguiam ter
acesso a todas as propostas, cometendo diversos erros
decorrentes de suas precipitadas escolhas realizadas. Esse
contexto, resultou em uma maior intervenção regulatória,
principalmente na tarifa, dividindo a opinião dos agentes do
setor, pois especulava-se se tal ação prejudicaria a livre
concorrência no varejo [12].
Mais tarde, em 2013, novas políticas regulatórias vieram à
tona. O objetivo geral das estratégias adotadas com esse
conjunto de reformas, aponta [12], era de: Diminuir o número
de tarifas no mercado, visto que o alto número de
oportunidades de contratos dificultava para o cliente realizar
escolhas bem informadas; simplificar a estrutura tarifaria para
que todas as contas sejam compostas por uma taxa fixa e por
uma unitária; e melhoria da transparência tarifária, exigindo
que os fornecedores disponibilizem quais são as tarifas mais
baratas e a economia gerada pela sua respectiva contratação.
Essa proposta incentivou o ambiente de varejo, como pode ser
verificado na Fig. 02, onde após 2013 houve-se um
crescimento das taxas estudadas no presente trabalho
(A Fig. 2 apresenta as taxas de mudanças dos clientes de
eletricidade em azul e de gás em laranja, no intervalo de 2010
até 2017).
Fig. 2. Taxa de mudança dos consumidores no mercado do Reino Unido,
2010 à 2017. (taxas de mudanças dos clientes de eletricidade em azul e de gás
em laranja) (OFGEM, 2016).
Analisar a concorrência em um mercado de eletricidade é
algo extremamente complexo, tendo em conta a grande
heterogeneidade de cada região, bem como os processos
históricos que podem influenciar diretamente nesse contexto.
Assim, existem diversos trabalhos que discorrem sobre os
motivos que levam a essa tendência. As principais explicações
para o fraco engajamento dos clientes no Reino Unido, estão
atreladas a falta de informação clara para facilitar as
comparações, visto a complexidade tarifária e a pouca
confiança de alguns fornecedores [9]. Outra particularidade
encontrada nessa fração do mercado, são as poucas instruções
para o encorajamento dos clientes nesse ambiente, mesmo
após as políticas tratadas anteriormente. Em 2015, dois terços
dos consumidores com os seis maiores fornecedores de
eletricidade, estavam em contratos padrão que não forneciam
ao cliente formas de tomar decisões ativas sobre o
fornecimento de energia, afirma [9]. Para [10], essa falta de
instrução aos clientes pode ser classificada como uma má
conduta das empresas associadas ao mercado.
Os resultados alcançados com a livre comercialização não
foram como o esperado no Reino Unido, o que levou o
governo a várias políticas internas e uma maior intervenção
regulatória [5]. O órgão regulador britânico introduziu
medidas, tais como as Retail Market Review policies (RMR),
para aumentar a pressão competitiva sobre os fornecedores,
tornando mais fácil para os consumidores se envolverem no
mercado [9]. O governo, preocupado com a inercia dos
consumidores e outras tendências nesse sentido, desenvolveu
um departamento governamental que busque possíveis
recomendações para o setor elétrico, esse órgão foi nomeado
como Competition & Markets Authority, realizando uma
importante pesquisa em 2016 sobre o fenômeno tratado nesse
trabalho. Algumas das recomendações foram uma maior
transparência para o cliente, reafirmando as ideias propostas
em 2013, como forma de incentivo a participação do mercado,
e políticas sobre as empresas que atuam na maior parte do
território, as Big Six [13].
Outra importante arma apontada pelo governo para que
aumente o nível de concorrência, é o uso da internet. Segundo
[14], 49% dos consumidores que trocaram de contratos no
ambiente livre descobriram ofertas utilizando sites de
comparações de tarifas de terceiros, verificando quais os
melhores planos e serviços conforme sua demanda requerida.
Atualmente, acredita-se que 58% dos consumidores
existentes, nunca tenham mudado de fornecedor ou tenha
trocado apenas uma vez, o que implica que a concorrência
ainda não atingiu seus plenos objetivos [14]. No entanto, o
governo apresenta que tais valores tenham diminuído, com
uma taxa de 12% de clientes domésticos alterando seus
contratos, dois pontos percentuais acima de 2014 [15]. Além
disso, as empresas que possuem grande parte do mercado,
conforme anteriormente comentado, tiveram uma perda de%
entre os anos de 2016 a 2017, em relação ao número de
consumidores com o perfil estudado nesse trabalho, explica
[14].
IV. OS CONSUMIDORES NA AUSTRÁLIA
O mercado de energia na Austrália sofreu um processo de
abertura em 1994, impulsionado pelos aspectos positivos de
uma livre concorrência . Esse programa, segundo [16], foi
uma tarefa desafiadora, pois a Austrália necessitava de um
quadro regulamentar, no qual o país não tinha experiência
alguma, e houveram hostilidades por parte de movimentos
sindicais realizando oposição a tal processo. Até a data acima,
esse cenário era marcado por monopólios estatais
verticalmente integrado, que decorrentes da restruturação,
puderam ser desagregados em diferentes empresas com
aspectos competitivos de oferta, muitas delas sendo
propriedade privada ou em poder do governo. Os resultados
desta evolução foram as reduções nos preços, especialmente
para os usuários comerciais. O sistema reformado
proporcionou aumentos de capacidade de acordo com as
necessidades do mercado e grandes melhorias na
produtividade e confiabilidade em toda a indústria. Mesmo
assim, esse ambiente também possui um grupo de
consumidores com baixas taxas de mudanças entre as
empresas de comercialização, sendo brevemente aqui
apresentado.
O setor elétrico australiano possui algumas assimetrias
atreladas a disposição geográfica dos estados e suas
particularidades econômicas, apresentando também um dos
maiores sistemas interligados do planeta. Historicamente, o
processo de abertura terminou em todo o país em 2003, com
uma metodologia muito parecido com a que houve no Reino
Unido [17]. Durante os primeiros anos desse mercado,
algumas direções foram tomadas e levantaram muitas
discussões no cenário australiano. O fato de que algumas
empresas comercializadoras se vincularam a unidades
geradoras, provocou dúvida a respeito de um possível
monopólio e uma ineficiência na concorrência, no entanto,
com a diminuição tarifária vista no varejo, essa questão foi
logo sanada [16].
No início, houve também um aumento dos consumidores
nesse ambiente buscando fugir dos altos preços do mercado
regulado [18], mas logo foi observado os mesmos problemas
enfrentados no Reino Unido, a dificuldade dos clientes em
realizar diferentes contratos de energia, visto a complexidade
tarifária [17]. Essa preocupação tornou-se prioridades para a
Australian Competition and Consumer Commission,
verificando de maneira mais rigorosa os itens apresentados na
Competition and Consumer Act 2010, e realizando políticas
educacionais aos clientes sobre as tarifas de energia [18].
Em busca de uma melhora na concorrência do ambiente
livre de comercialização, o governo australiano introduziu
uma série de leis sobre os consumidores e empresas nesse
mercado. Para as autoridades, a transparência das propostas
emitidas pelas empresas deve ser primordial, sendo
orientações de qualidade e claras. Os revendedores de energia
são obrigados a enviar suas propostas de negociação ao site
Energy Made Easy, página em domínio do órgão regulador.
Esse site apresenta todas as possíveis negociações em função
do endereço do cliente, oferecendo maior transparência e
concorrência para o mercado, visto o acesso público e a
comodidade para negociações. As leis também são bem
rígidas no que diz respeito ao vínculo entre as empresas e os
clientes finais, afirmando que todas as empresas devem
oferecer auxílios aos consumidores com problemas
financeiros, disponibilizando opções de pagamento mais
flexíveis para os mesmos [19]. O marketing utilizado pelas
concessionárias de negociações, também foi um tema muito
discutido nos relatórios anuais do órgão regulador australiano
em diversos anos. Por isso, foram adotadas medidas sobre as
ofertas aos clientes, vendas de porta-a-porta e telemarketing
[20]. Nos primeiros anos após o processo de abertura, foi
contestado os malefícios que o marketing intensivo oferecia ao
mercado, visto que algumas vezes empresas de energia foram
levadas ao tribunal por possíveis ofertas que colocavam o
cliente final em situação de risco, conforme apresentou [18].
Mas logo, com a crescente e rigorosa execução das leis
regulatórias, o problema foi amenizado de forma radical.
O cenário atual apresenta taxas de declínio e plana sobre as
mudanças no ambiente estudado, conforme é apresentado na
Fig. 3, onde há a movimentação dos clientes em quatro
estados australianos no intervalo de setembro de 2010 a junho
de 2016. Nos últimos anos, os consumidores vêm enfrentando
um aumento nas tarifas no mercado de atacado, impactando
diretamente o ambiente varejista, sendo causado pela falta de
investimentos criado pelas incertezas sobre a política de
redução de emissões; a aposentadoria de uma das maiores
empresas geradoras; e o aumento considerado no valor do gás.
[21]. Tudo isso, impulsionou a geração distribuída das
residências australianas, com taxas de 20% dos consumidores
produzindo sua própria eletricidade por meio de painéis
fotovoltaicos, e uma alta tendência a adeptos dessa ideia, de
acordo com [21].
Fig. 3. Taxa de mudança dos consumidores no mercado de varejo na
Austrália, 2010 à 2016. (AER, 2016).
Atualmente, existe uma forte tendência das
comercializadoras em reter os antigos clientes, utilizando
diferentes contratos de energia, ao invés de empenhar esforços
para aquisitar novos. Para [20], as preferências e expectativas
dos consumidores tiveram mudanças significativas nos
últimos anos, sugerindo que um número maior de clientes
procura mais flexibilidade e variedades de ofertas e serviço,
em particular no meio digital e físico. Para o governo, as taxas
planas na Figura 3 são explicadas por esse fenômeno [19].
V. CONCLUSÕES
O processo de restruturação abordado nesse trabalho se
caracteriza como um procedimento extenso e que está sujeito a
mudanças conforme as particularidades de cada país. Para uma
análise da concorrência nos mercados de energia estudados,
faz se necessário diversos critérios e dados para apuração,
visto que a cultura dos consumidores e empresas influenciam
diretamente nesse contexto. No entanto, o trabalho descreveu
as principais características dos segmentos de energia
escolhidos, no que tange a pouca movimentação dos
consumidores no ambiente de varejo, revelando informações
valiosas.
O processo de abertura beneficiou esses segmentos de
forma significativa, mas alguns problemas encontrados ainda
refletem a necessidade de mudanças. Conforme as
experiências estudadas, há duas particularidades que são
necessárias para que exista maiores benefícios sobre a
implementação desse sistema: políticas regulatórias e
transparência tarifária.
Esse tipo de ambiente não exclui a necessidade de um
órgão regulador exigente e politicas eficazes sobre o mercado.
Em ambos os países, foi necessária uma maior intervenção
regulatória decorrentes de problemas que prejudicariam os
clientes de energia, como a complexidade tarifária e os altos
números de possíveis contratos de energia. Além disso, foram
necessários também o desenvolvimento de departamentos que
se preocupassem com a livre concorrência como forma de
auxílio a enfrentar esse problema. Nos dois países esses
órgãos foram responsáveis por organizarem diretrizes para o
ambiente de livre comercialização, que seguissem os
principais objetivos dos países e suas singularidades, como foi
o caso do Reino Unido com as empresas responsáveis pela
maior parte dos consumidores inertes.
A transparência no mercado é necessária para que os
consumidores tenham total acesso as possíveis negociações. A
experiência internacional demonstrou que a complexidade
tarifária faz com que o cliente não esteja tão ativo nesse
cenário, prejudicando os ideais do livre mercado. Nesse
sentido, a Austrália mostra-se competente por utilizar um site
de fácil acesso para que qualquer cliente possa negociar e
verificar quais as melhores condições de oferta.
Salienta-se que os estudos apresentados compreendem
parte de um projeto de pesquisa que visa analisar impactos no
setor elétrico brasileiro decorrentes da possível abertura do
mercado para consumidores de baixa tensão, bem como da
proliferação de unidades de mini e microgeração distribuída.
AGRADECIMENTOS
Os autores do trabalho agradecem a Universidade Federal
de Itajubá, Campus de Itabira, pelo suporte em infraestrutura, e
a FAPEMIG pelo apoio financeiro no desenvolvimento deste
trabalho.
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