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Autores:
Victor Gomes
Julho de 2022
ASPECTOS CONCORRENCIAIS DO NOVO MERCADO VAREJISTA DE ENER-
GIA ELÉTRICA NO BRASIL: RECOMENDAÇÕES PARA GARANTIR JUSTA E EFE-
TIVA COMPETIÇÃO
Victor Gomes1
Juliana Villas Boas2
Fernando Colli Munhoz3
INTRODUÇÃO
O art. 15, § 3º, da mesma Lei, estabeleceu que o Poder Concedente poderia reduzir os
limites de carga e tensão do consumidor livre. Diante disso, em 27.12.2018, o Ministério de
Minas e Energia (MME) editou a Portaria 514/2018, alterada pela Portaria 465, de 12.12.2019,
que estabeleceu um cronograma de redução dos limites de carga, chegando a 500 kW
em 01.01.2023, mesmo limite de carga dos atuais consumidores especiais, nos termos do art.
26 da Lei 9.427/1996. Além disso, por meio dessas Portarias, o MME eliminou o critério de
tensão para abertura de mercado.
As referidas Portarias determinaram, ainda, que até 31.01.2022, a Agência Nacional de Ener-
gia Elétrica (ANEEL) e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) deveriam
apresentar estudo sobre as medidas regulatórias necessárias para permitir a abertura do
mercado livre para consumidores com carga inferior a 500 kW, incluindo o comercializador
regulado de energia, bem como proposta de cronograma de abertura iniciando em
01/01/2024.
Em setembro/2021, a CCEE elaborou Nota Técnica com proposta conceitual para abertura
do mercado livre, que foi apresentada à ANEEL.
1 Advogado e economista. MSc em Energy Studies pelo CEPMLP, University of Dundee. Coordenador Executivo
do GEEL-UnB.
2 Advogada e mestre em Direito da Regulação pela FGV Direito Rio. Coordenadora executiva do GEEL-UnB.
3 Engenheiro, mestre e doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos. Pesquisador do GEEL-UnB.
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Após a Tomada de Subsídios 10/2021, a ANEEL editou a Nota Técnica 10/2022-SRM/ANEEL,
que elencou 14 itens de aprimoramento regulatório para permitir maior abertura do mercado
livre. Dentre esses itens, encontram-se alguns que se relacionam direta ou indiretamente com
a promoção da efetiva competição no novo mercado varejista, como os seguintes:
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iii. separação, ainda que exclusivamente para fins tarifários e contábeis, das atividades
de comercialização regulada de energia e de prestação do serviço público de dis-
tribuição de energia elétrica; e
Para abordar o tema, este White Paper está estruturado da seguinte forma:
O segundo capítulo trará os princípios a serem seguidos para reduzir as barreiras à entrada
de novos comercializadores e garantir efetiva competição no mercado varejista.
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O último capítulo consolidará as recomendações das medidas a serem adotadas no Brasil
para a promoção de um mercado justo e competitivo.
Vale destacar, por oportuno, que o texto tem como objeto tão somente as medidas para
garantir um ambiente competitivo no mercado varejista de energia elétrica no mercado
brasileiro. Nesse sentido, parte-se da premissa que futuramente haverá no Brasil uma aber-
tura completa de mercado, com todos os consumidores tendo a possibilidade de contratar
seu próprio fornecedor de energia. A pesquisa não abordará, portanto, acerca da forma
como a abertura acontecerá, tampouco sobre os possíveis problemas no mercado ataca-
dista que devem ser solucionados para a abertura, tais como(i)o tratamento dos contratos
legados de energia das distribuidoras; (ii) o detalhamento do supridor de última instância,
(iii) o detalhamento da separação entre fio e energia; (iv) as questões técnicas e comerciais
relativas à medição e à adoção de smart meters; (v) a necessidade de adoção de tarifas
binômias; (vi) as questões concorrenciais no mercado atacadista caso haja modificação
no modelo de despacho por custo para despacho por oferta de preço dentre outros.
Além disso, é importante destacar que as recomendações e medidas propostas não buscam
de forma alguma trazer qualquer entrave ao desenvolvimento do mercado livre varejista.
Pelo contrário, as proposições buscam potencializar os benefícios da abertura, aumentar a
competição no mercado, ampliar o número de players (varejistas), e dotar os consumidores
de maior poder de escolha para atendimento de suas necessidades.
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I. CARACTERÍSTICAS DO MERCADO ATUAL NO BRASIL E IMPLICAÇÕES
DA ABERTURA DE MERCADO
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética - EPE (EPE, 2021), no fim de 2020, o Brasil
tinha cerca de 175 GW de capacidade instalada de geração, 67 GWmédios de carga de
energia e um consumo de cerca de 472.700 GWh (excluindo perdas e diferenças).
Ainda de acordo com EPE (2021), no ano de 2020, o país tinha 86,6 milhões de consumidores
de energia, sendo 86,3% consumidores residenciais, que representam 31,2% do consumo
total, e 0,5% de consumidores industriais, responsáveis por 35% do consumo do país. A Ta-
bela 1 detalha a participação de cada classe no número de consumidores e no consumo
total do país.
Consumo Consumidores
Classe
(GWh) (mil)
Iluminação
15.463 98
Pública
Ocorre que, no fim de 2021, apenas cerca de 10 (dez mil) mil consumidores no país (cerca
de 0,01% do número de consumidores) eram considerados livres ou especiais, ou seja, po-
diam escolher livremente o fornecedor de energia elétrica, nos termos dos arts 15 e 16 da
Lei 9.074/1995. Em junho de 2021, os consumidores livres e especiais representavam cerca
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de 35% do consumo de energia elétrica do SIN, com consumo de aproximadamente 22
GWmédios/mês (CCEE, 2021).
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mercado atacadista, os seguintes players: (1) Geradores; (2) Distribuidoras; (3) Con-
sumidores livres e especiais atacadistas; (4) Comercializadoras atacadistas; e (5) Co-
mercializadoras varejistas;
• De qualquer modo, vigora no Brasil o princípio do livre acesso dos geradores e con-
sumidores aos sistemas de transmissão e distribuição, mediante ressarcimento do
custo de transporte envolvido, conforme disposto na Lei 9.074/1995 e regras especí-
ficas da ANEEL (Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico
Nacional – Prodist e Regras de Transmissão), o que impede, ao menos em tese, o
tratamento não discriminatório no acesso à rede.
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Em relação à verticalização e concentração de mercado, é possível afirmar que na atua-
lidade não se verifica grande concentração no mercado brasileiro de energia elétrica, nem
relevante verticalização que demande maiores preocupações concorrenciais. Conforme
se denota da tabela abaixo, que elenca os 10 maiores grupos econômicos que atuam nos
segmentos de geração, distribuição e comercialização, o Índice Herfindahl-Hirschman-HHI)5
desses segmentos é de 525 (geração)6,1156 (distribuição)7 e 1828, (comercialização ataca-
dista), o que denota baixa concentração de mercado nesses segmentos. Além disso, é
possível perceber que nenhum dos 10 maiores grupos de distribuição no país ultrapassa 3,5%
da capacidade instalada de geração.
5 O HHI é um índice largamente utilizado para quantificar a concentração de mercado. A fórmula do HHI é
definida pelo somatório dos quadrados das participações (normalmente utiliza-se os percentuais em números
inteiros) de cada grupo econômico atuante no mercado em referência. O HHI pode chegar a 10 mil pontos,
situação em que uma empresa detém 100% de participação no mercado (100x100 = 10.000).
Quanto maior o HHI, maior é a concentração no mercado analisado. Não há um número específico de HHI a
partir do qual devem ser adotadas medidas estatais para redução da concentração de mercado. O HHI uma
ferramenta de apoio para adoção de políticas públicas e para as decisões de autoridades antitruste, que deve
ser analisado em conjunto com avaliações mais profundas em relação à estrutura do mercado estudado.
O Guia de Análise de Atos de Concentração Horizontal do Conselho Administrativo de Defesa Econô-
mica(CADE) estabelece os seguintes parâmetros de HHI (CADE, 2016): (i) mercados não concentrados: com HHI
abaixo de 1500 pontos; (ii) mercados moderadamente concentrados: com HHI entre 1.500 e 2.500 pontos; (iii)
mercados altamente concentrados: com HHI acima de 2.500. Especificamente para o mercado varejista elé-
trico europeu, a ACER (2022) considera como referência de alta concentração de mercado um HHI maior do
que 2.000. O presente estudo calculou o HHI dos segmentos de geração, distribuição e comercialização, para
verificação da atual concentração de mercado no setor elétrico brasileiro. Foi considerado como mercado
relevante o Sistema Interligado Nacional (SIN). No segmento de geração, foram utilizadas as informações de
participações societárias constantes no site da ANEEL e dos diversos grupos empresariais envolvidos, conside-
rando o efetivo poder de controle societário dos grupos, tendo como base o mês de junho de 2022, já conside-
rando a capitalização da Eletrobras. O cálculo do HHI no segmento de geração é especialmente desafiador,
tendo em vista (i) as participações cruzadas dos grupos econômicos nas usinas, principalmente em usinas de
maior porte; (ii) o controle compartilhado de algumas usinas; (iii) bem como a grande quantidade de usinas
exploradas por meio de Sociedades de Propósito Específico (SPEs). Nesses casos, é necessário identificar o (s)
efetivo (s) grupo (s) empresaria (is) controlador (es). No caso de controle compartilhado, especialmente de
usinas de grande porte, a metodologia utilizada foi considerar a SPE como um agente independente, como no
caso da Norte Energia S.A. No segmento de distribuição, foram consideradas as informações de mercado do
ano de 2021 disponibilizadas pela ANEEL em seu website (ANEEL, 2022). No segmento de comercialização, foram
considerados os dados da CCEE em relação à energia comercializada pelos agentes no mês de fevereiro de
2022 (CCEE, 2022).
Deve-se alertar que os resultados são apenas uma referência em relação à concentração de mercado e uma
“fotografia” da situação no momento e que diferentes metodologias para cálculo dos valores podem trazer
variações no resultado. Por exemplo, no segmento de geração, foi utilizado como mercado relevante o SIN e
como referência a capacidade instalada de cada gerador. Outras metodologias mais complexas seriam igual-
mente aceitáveis, como por exemplo, a utilização da garantia física de cada usina, ou a utilização da garantia
física de cada usina livre para comercialização (sem contratos de longo prazo no Ambiente de Contratação
Regulada). Tais metodologias podem resultar em índices diferentes de concentração. No entanto, tais metodo-
logias aumentariam sobremaneira a complexidade do cálculo e podem ser objeto de estudo específico. O
objetivo do cálculo do HHI para este estudo é apenas ter uma referência do nível de concentração nos diversos
segmentos do setor elétrico, sendo que o mais relevante para o futuro mercado varejista é o monitoramento do
índice de concentração das próprias comercializadoras varejistas no futuro.
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Tabela 2. Participação dos maiores players nos segmentos de geração, distribuição e comercialização
Fonte: Elaboração própria com base em dados da ANEEL, CCEE, EPE e agentes.
Energisa 10,2% 0%
Fonte: Elaboração própria com base em dados da ANEEL, CCEE, EPE e agentes.
9 Não considera participações minoritárias da Eletrobras, como participação na UHE Belo Monte, UHE Teles Pi-
res, UHE Jirau, UHE São Manoel, dentre outras. Não considera mais a participação na UHE Itaipu e UTEs Angra 1
e 2, tendo em vista que, após a capitalização, essas usinas deixaram de ser controladas pela Eletrobras.
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De acordo com a CCEE (2021), no fim de 2020, havia 386 comercializadores atacadistas e
1.603 Produtores Independentes de Energia (PIE) registrados na Câmara. Até junho de 2021,
já haviam sido registrados 35 comercializadores varejistas perante a CCEE, representando
769 cargas.
Para que a abertura total do mercado de energia elétrica seja possível, o PL 414 também
propõe as seguintes medidas adicionais:
(i) Os consumidores com cargas abaixo de 500 kW deverão ser representados na CCEE
por comercializadores varejistas;
(iii) Os consumidores que não optarem por outro fornecedor ou que estiverem sem for-
necedor serão alocados automaticamente para a comercializadora regulada (ori-
unda da separação de atividades da distribuidora)
Observa-se, assim, que haverá um “novo” mercado de energia no país, com características
muito distintas do atual: no atacado, haverá comercialização livre de energia entre (1) ge-
radores, (2) comercializadores atacadistas, (3) comercializadores varejistas e (4) consumi-
dores livres atacadistas. Além disso, no atacado, haverá comercialização regulada de
energia entre o comercializador regulado e os geradores e outros comercializadores (no
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Ambiente de Contratação Regulada). Já no varejo, haverá comercialização livre de ener-
gia entre (1) comercializadores varejistas e (2) consumidores livres varejistas e haverá co-
mercialização regulada de energia entre a comercializadora regulada e alguns consumi-
dores, chamados aqui de “consumidores livres em condições especiais”.
Para fins didáticos, as figuras abaixo ilustram o desenho do mercado de energia no Brasil
antes e após a abertura total do mercado de energia elétrica conforme proposto no PL
414.
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Figura 2. Estrutura simplificada do mercado de energia elétrica após a abertura de mercado
Não é por outra razão que em diversos países e mercados, a abertura total do mercado de
energia elétrica foi acompanhada de medidas concretas para impedir a prática de con-
dutas anticompetitivas.
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Dada a relevância do tema, observa-se das várias jurisdições em que há abertura do mer-
cado de energia elétrica, que a concentração no mercado varejista é objeto de constante
monitoramento. Como exemplo das práticas adotadas, a Agência para Cooperação dos
Reguladores de Energia da União Europeia (ACER) publica um relatório anual sobre o mo-
nitoramento do mercado varejista de energia elétrica na União Europeia. Neste relatório, a
ACER mostra recorrente preocupação com o nível de concentração no mercado varejista
dos países europeus. Com efeito, observa-se do relatório de 2020, publicado em 2021, que:
Consoante proposta pela ACER, existe uma relação direta entre a concentração de mer-
cado e o efetivo direito à escolha do consumidor de energia.
10Market concentration levels in 16 out of 25 electricity markets remained high (above 2.000), indicating that
consumer choice, in fact, was limited in many markets. Non-household markets were less concentrated, but the
concentration levels still show room for improvement.
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Nesse contexto, tendo em vista que as medidas para garantir um mercado competitivo no
varejo são essenciais para o sucesso da própria abertura, os próximos Capítulos elencarão
algumas medidas que podem ser utilizadas no Brasil para que a abertura seja realizada em
um ambiente justo e competitivo.
Para que sejam tomadas medidas concretas para evitar a concentração no mercado va-
rejista, primeiramente é importante refletir sobre o que poderia causar a concentração
nesse mercado, que será praticamente iniciado a partir da aprovação do PL 414.
Sendo incumbentes, é possível que esses grupos econômicos tenham alguma vantagem
competitiva em relação aos demais comercializadores varejistas se não forem tomadas
medidas adequadas de proteção à concorrência.
Além disso, diante da complexidade inerente ao setor elétrico, considerando que o relaci-
onamento atual dos consumidores cativos ocorre com a distribuidora, há uma preocupa-
ção quanto a assimetria de informação e a falta de compreensão do consumidor em rela-
ção ao mercado pós abertura, o que pode vir a ser uma vantagem competitiva dos grupos
das distribuidoras em relação aos demais concorrentes. Além disso, por serem hoje respon-
sáveis pelo atendimento dos consumidores elegíveis a participar do futuro mercado vare-
jista, as distribuidoras detêm uma série de informações acerca desses clientes, obtidas atra-
vés dos sistemas de medição das unidades consumidoras. Essas informações incluem hábi-
tos e características das habitações observáveis a partir do perfil de consumo dos clientes
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e são relevantes para a formatação dos serviços a serem ofertados no novo mercado (Villas
Boas, 2021).
Além disso, outro tema bastante discutido internacionalmente11, e é o acesso não discrimi-
natório às redes de transmissão e distribuição e a ausência de subsídios cruzados na rede.
Observa-se que caso a legislação não contemple regras que garantam o livre acesso à
rede ou regras que permitam subsídios cruzados entre atividades reguladas (transmissão e
distribuição) e não reguladas (geração e comercialização), os grupos econômicos deten-
tores dos ativos da rede possuem grande vantagem no mercado varejista.
Por fim, as barreiras formais à entrada (requisitos formais para autorização) também podem
induzir a concentração de mercado em grupos que tenham maior robustez financeira.
11Por exemplo, Ros et al (2018, p. 184) relata que na fase inicial da liberalização total do mercado
elétrico alemão, a alta concentração de mercado poderia também ser explicada pelas dificulda-
des de novos entrantes terem acesso às redes de transmissão e distribuição, em que as tarifas eram
negociadas. Tais dificuldades foram mitigadas a partir de 2005 com a criação do órgão regulador
(BNetzA) e com a determinação de que a BNetzA passasse a regular as condições e as tarifas acesso
de terceiros à rede de transmissão e transmissão.
Outro exemplo é o Código de Conduta das Utilities e suas Afiliadas do estado norte-americano do
Texas, em tem como objetivo principal evitar abuso de poder de mercado e subsídios cruzados entre
atividades reguladas e não reguladas, conforme §25.272. dos Substantive Rules Applicable to Electric
Service Providers da Public Utility Comission of Texas (PUCT).
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Diante disso, é possível listar os princípios fundamentais a serem seguidos para garantir efe-
tiva competição no mercado varejista:
Mais do que isso, é possível afirmar que a adoção de medidas concretas para impedir a
concentração no varejo é prática reiterada e comum nos mercados de energia elétrica
que foram totalmente liberalizados.
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Nesse sentido, serão elencadas a seguir medidas adotadas na abertura de mercados de
energia relacionadas à garantia de competição, bem como a justificativa para sua ado-
ção e aplicabilidade ou não para o caso brasileiro. As medidas são classificadas conforme
os princípios contidos no Capítulo anterior.
o Illinois: https://www.pluginillinois.org/
o Pensilvânia: https://www.papowerswitch.com/
o Texas: https://powertochoose.org/
o França: https://www.energie-info.fr/
o Austrália: https://www.energymadeeasy.gov.au/
o Portugal: https://simulador.precos.erse.pt/eletricidade/
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nível de padronização que permite o consumidor compará-las e decidir pela pro-
posta mais vantajosa.
Como exemplo, as imagens abaixo ilustram algumas ofertas retiradas dos websites
do Estado da Illinois e de Portugal.
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Figura 4. Simulação de comparação de preços no varejo no website da PURC, agência re-
guladora responsável pela regulação do setor elétrico no Estado da Pensilvânia.
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• Padronização de produtos
Aplicação ao Brasil:
12Conforme relatado por Littlechild (2020), a partir de uma ampla revisão das regras do mercado varejista em
2010, o regulador britânico (OFGEM) propôs a adoção de regras chamadas de Simple Tariffs, em que os forne-
cedores poderiam apenas adotar quatro tarifas por combustível.
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• Padronização da fatura de energia, para permitir a comparação dos compe-
tidores;
Aplicação ao Brasil: a ANEEL deve regular o conteúdo mínimo das faturas, para
permitir a comparação de produtos e preços e evitar práticas abusivas.
13Tais medidas estão detalhadas no “Illinois Administrative Code”, “Title 83 (Public Utilities), Chapter I (Illinois Com-
merce Commission), subchapter c (Electric Utilities)”, 7 November 1998, Part 452 (Standards of Conduct and
Functional Separation).
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Em outros mercados, como em New York, o regulador determina que todos os ma-
teriais de marketing dos entrantes sejam enviados para sua avaliação (que pode
ser a posteriori)15.
O ato normativo deve ter regras rigorosas para o marketing, com regras específicas
que impeçam qualquer vantagem competitiva para varejistas com distribuidoras
em seu grupo econômico, vedando, nesse sentido, qualquer tipo de material ou
inferência por parte de representantes da varejista que deixe implícita a relação
entre varejista e distribuidora. Além disso, o ato normativo deverá prever que todos
os materiais de marketing serão enviados à ANEEL, para eventual fiscalização a
posteriori.
15Conforme Section 2, item B, das Uniform Business Practices do regulador estadual, a New York Public
Service Commission (NYPSC).
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Além disso, é imprescindível que a varejista da distribuidora não tenha acesso a
nenhum tipo de informação (chinese wall) das distribuidoras, incluindo, mas não se
limitando, aos dados dos clientes e dos varejistas concorrentes.
Todos os mercados estudados têm regras sobre a separação de fato das atividades
e sobre a proteção da informação, para permitir que a incumbente não tenha van-
tagem competitiva.
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Na França, por exemplo, a distribuidora do Grupo EDF foi obrigada a alterar a sua
marca, que atualmente tem o nome de Enedis16. Na Irlanda, a ESB também foi re-
querida a alterar a marca para entrar no mercado varejista competitivo17.
Aplicação ao Brasil: É uma medida rigorosa, mas parece razoável, para aprimorar
o entendimento dos consumidores acerca do funcionamento do mercado de ener-
gia elétrica, não confundindo os papeis de distribuição e comercialização varejista.
Essa solução se mostra equilibrada, pois permite que o grupo de distribuição se be-
neficie, no mercado competitivo (varejista), da credibilidade adquirida pela em-
presa em sua história de atuação, e ao mesmo tempo, impede que os consumido-
res confundam o papel da distribuição e da comercialização varejista.
Aplicação ao Brasil: Recomenda-se que este tipo de regra que dê vantagens co-
merciais a comercializadoras não incumbentes não deva ser aplicada ao Brasil, pois
há baixo nível de verticalização entre geração e distribuição atualmente. Dessa
forma, entende-se que não há necessidade de adoção de medidas extremas no
em 13 de maio de 2022.
18Conforme § 25.41. do Capítulo 25 das “Substantive Rules Applicable to Electric Service Providers. Subchapter
R. Customer Protection” da Public Utility Commission of Texas.
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início do processo de abertura. Além disso, este tipo de medida, se não for prevista
em lei, teria sua legalidade questionável no Brasil.
19As experiências internacionais estão descritas em London Economics (2012), Littlechild (2018) e Ros et. al
(2018).
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Aplicação ao Brasil: Deve ser aplicado no Brasil. Recomenda-se também que a no-
tificação de término tenha, em local destacado, instruções para acesso ao website
de comparação de preços, indicando que o consumidor poderá obter melhores
condições comerciais no website.
Conceito: A troca de fornecedor deve ser feita da forma mais célere e menos bu-
rocrática possível. O atual fornecedor não pode, de nenhuma forma, inibir ou pre-
judicar a troca de fornecedor.
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fiscalização por parte da ANEEL para evitar eventuais abusos de comercializadoras
em relação à previsão e aplicação de penalidades por término incompatíveis com
a natureza do produto vendido.
Em uma das medidas, a Agência Reguladora (OFGEM) fez, ao longo dos anos de
2018 e 2019, diversos testes para verificar a propensão à troca de fornecedores por
parte dos consumidores, chamados de “Collective Switch Trials”. Em um dos trials, a
Agência Reguladora enviou cartas do atual fornecedor e da própria agência para
grupos diferentes de consumidores, com ofertas de fornecimento de energia.
Houve maior troca de consumidores no grupo que recebeu carta dos atuais forne-
cedores em relação ao grupo que recebeu carta da Agência e em relação ao
grupo que não recebeu nenhuma comunicação. Assim, os consumidores têm mais
confiança quando recebem uma oferta do atual fornecedor, que em muitas vezes
é o incumbente, o que pode indicar a falta de conhecimento do consumidor em
relação ao mercado – o consumidor possivelmente não compreende a separação
entre distribuição e comercialização de energia21.
Aplicação ao Brasil: Apesar de a primeira medida descrita acima ser criativa e pro-
vavelmente eficaz, entende-se que as demais medidas para transparência, enga-
jamento e troca de fornecedores sejam, ao menos inicialmente, suficientes para
promover o engajamento. Além disso, a obrigatoriedade de envio de ofertas de
outros fornecedores pode ter forte oposição dos próprios varejistas.
21
Conforme descrito por OFGEM (2019).
22 Conforme descrito por Ros et al (2018).
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Já em relação à segunda medida relatada, de abertura de banco de dados, re-
comenda-se que as distribuidoras sejam obrigadas a compartilhar as informações
dos consumidores com os comercializadores varejistas e, eventualmente, com ter-
ceiros interessados, desde que haja expressa anuência dos consumidores e desde
que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) seja integralmente respeitada.
Evidentemente que sem acesso à energia, os varejistas não têm como oferecer
produtos aos clientes. Portanto, o acesso à energia para o maior número de players
possíveis no varejo é fundamental para a competição e o sucesso do mercado va-
rejista.
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4) Medidas destinadas ao acesso não discriminatório à transmissão e à distribuição
• Desverticalização total
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5) Barreiras formais à entrada que não prejudiquem a competição
Nesse sentido, as medidas propostas no capítulo anterior não serão eficazes se as institui-
ções setoriais não estiverem preparadas para as alterações profundas na estrutura do mer-
cado e para as novas competências.
Pelas medidas propostas com base em experiências internacionais, a ANEEL teria novas
competências relacionadas à regulação e fiscalização do novo mercado varejista, bem
como para o gerenciamento do website de comparação de preços, como as seguintes:
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• Administração de website de comparação de preços, podendo ser avaliada a pos-
sibilidade de a CCEE ser a administradora do website, com a regulação e fiscaliza-
ção da ANEEL;
• Monitoramento de mercado;
Todas essas novas competências demandarão treinamento específico dos servidores, tendo
em vista que nenhum dos órgãos organizacionais atuais tem (e nem poderiam ter) expertise
específica nas questões relativas à monitoramento de mercado varejista, regulação, e fisca-
lização das relações entre consumidores varejistas e fornecedores de energia atuando em
regime de livre mercado.
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V. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A redução dos limites para acesso ao ACL trará profundas alterações no setor elétrico bra-
sileiro, com aumento exponencial do número de consumidores que poderão escolher o seu
próprio fornecedor de energia, novos atores e novo desenho de mercado.
Foram estudadas neste paper algumas medidas adotadas nesses locais e que podem ser
aplicadas para a realidade brasileira antes do processo de abertura do mercado varejista.
Caso seja aprovada a atual versão do PL 414/2021 que tramita na Câmara dos Deputados,
o Poder Executivo poderia editar Decreto regulamentar, e/ou a ANEEL editar norma, con-
templando as linhas gerais das medidas aqui propostas. A tabela 4 resume as medidas es-
tudadas e propostas. Por fim, com base em experiências internacionais, o paper reco-
menda que a ANEEL tenha novas competências relacionadas ao monitoramento, regula-
ção e fiscalização do mercado varejista, bem como a administração de um website de
comparação de preços. É fundamental que a Agência tenha recursos humanos e técnicos
para a nova realidade.
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Tabela 4. Resumo das medidas estudadas e propostas para o novo mercado varejista brasileiro
APLICABILIDADE AO MERCADO
MEDIDAS
BRASILEIRO
Sim
Acesso não discriminatório à transmissão e à distribuição Lei e regulação já prevê.
Aprimoramento do monitoramento.
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BIBLIOGRAFIA
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