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ENERGIA ELÉTRICA

NA ÓTICA DE INVESTIMENTOS

Quais são as características do setor


e quais são importantes para o
investidor?

Rafael Pestana, CNPI


12/06/2022
Setor Elétrico
Um dos setores mais queridos pelos investidores de renda variável de longo prazo é o de energia elétrica.
Neste artigo vamos discorrer brevemente sobre ele, trazendo suas particularidades, riscos e vantagens. Vamos,
também, apresentar porque é um setor resiliente, rentável e que você deveria considerar como oportunidade
para compor seu portifólio.

O mundo está cada vez mais conectado e tecnológico e a demanda de energia elétrica vem
aumentando consideravelmente. A busca por maior capacidade de geração, eficiência1 e atenção aos impactos
ambientais e sociais, têm desprendido um grandioso volume de recursos em seu desenvolvimento.

Vamos combinar, é um setor de utilidade pública, ao qual a humanidade não consegue ficar sem. Gera
evolução e o principal: fornece bem-estar à sociedade.

Em 2018 – sim, esse é o dado mais recente publicado – o Brasil ocupava a 7ª posição entre países que
mais consumiam energia elétrica no mundo, representando 2,3% desse total, estando a frente de países como
Coreia do Sul, Alemanha e França. O líder era a China com 27,6% do consumo mundial, seguido pelos EUA com
17,2% (EPE, 2021).

Do ponto da geração da energia elétrica até você conseguir acender uma lâmpada dentro da sua casa,
a energia precisa percorrer uma série de processos chamados de ecossistema da cadeia de valor do setor
elétrico. Podemos separá-lo sinteticamente em 3 segmentos fundamentais, são eles:

1) Geração;

2) Transmissão;

3) Distribuição;

Fonte: ANEEL. Modificado pelo autor.

1
A eficiência energética é um importante vetor no atendimento à demanda futura de energia da sociedade. O ponto aqui
é produzir, transportar e distribuir mais energia com menos perdas ao longo da cadeia, ou seja, com alto rendimento.
2
Avaliando os custos de produção do setor, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, os
contribuintes aos preços da tarifa de energia seguem a relação percentual mostrada abaixo:

Fonte: ANEEL

Podemos ver que, os dois maiores ofensores aos custos de todo processo da energia elétrica são
provenientes de tributos pagos ao Governo (35%) e aqueles atribuídos à atividade de geração (32%).

Antes de entrar nos segmentos, vamos as principais características do setor como um todo:

Setor maduro;
Alta geração de caixa;
Altas barreiras de entrada;
Previsibilidade de receitas;
Contratos longos (estamos falando de décadas!);
Poder de precificação (repasse dos reajustes inflacionários nos preços);
Baixo custo de capital;
Bons pagadores de dividendos (distribuição mais previsível);
Menor volatilidade das cotações;
Intenso capital investido;
Risco regulatório;
Risco de políticas públicas;
Riscos sociais e ambientais.

Dito isso, vamos entender as particularidades dos segmentos.

Geração

O início da cadeia produtiva é o processo de geração de energia e é onde ocorrerá a transformação de


uma outra fonte energética, seja ela mecânica ou térmica, em energia elétrica propriamente dita.

3
A geração de energia ocorre por vários tipos de matrizes energéticas2, sendo as mais comuns: hídrica,
solar, eólica, gás natural, carvão, derivados de petróleo e nuclear.

Fonte: Google imagens

As matrizes podem ser classificadas em fontes renováveis3 e não renováveis. No Brasil, 83% da geração
é proveniente de fontes renováveis e 17%, consequentemente, por não renováveis.

Em território brasileiro, a geração de energia é predominantemente hídrica (57%), ocupando a 3ª


posição dos maiores geradores de energia por essa matriz.

Usina de ITAIPU. Fonte: Google imagens

A seguir, podemos verificar a projeção da matriz energética brasileira para o ano de 2022.

Fonte: Apresentação Institucional 1T22. Site RI EDP.

2
Fontes iniciais de energia, estas que serão transformadas em energia elétrica.
3
Renováveis são fontes que utilizam recursos da natureza que não se esgotam com o uso. Ex: hídrica, eólica e solar. Já as
não renováveis são as que utilizam fontes que se esgotam, como o urânio, carvão, petróleo e gás.
4
Quem é quem no setor de energia?

As principais empresas de geração, listadas na B3, são:

Um dado interessante é que 60% da energia gerada no Brasil é proveniente de empresas privadas, valor
que ainda pode aumentar pois a maior empresa do setor em capacidade instalada, a Eletrobras, está em um
processo de privatização.

Fonte: Apresentação Institucional 1T22. Site RI Engie.

As geradoras têm a opção de comercializar a energia gerada de duas formas distintas, através do
mercado regulado e do mercado livre.

1) Mercado Regulado. Negociando energia através dos leilões, vendendo sua capacidade para as
distribuidoras com preços definidos nos leilões (tarifas contratadas). Estes leilões são promovidos
pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e sob deliberação ANEEL.

O mercado regulado tem característica de ser um processo bastante competitivo (leilão) e de contratos
longos, gerando grandes previsibilidades de fluxo de caixa. Os contratos podem ser utilizados como garantia no
financiamento do projeto do próprio leilão arrematado.

5
2) Mercado Livre. Os consumidores4 finais negociam livremente o preço e demais condições de
fornecimento com as empresas geradoras e comercializadoras.

Neste mercado, as geradoras recebem um valor maior do que o preço de venda que conseguiriam em
mercados regulados.

A seguir, podemos ver o plano de venda da Engie para os próximos anos. Veja como há relativa
estabilidade das vendas do mercado regulado, fruto dos longos contratos, e ainda, uma quantia considerável
disponível para comercialização (43% em 2027). Essa é uma estratégia da empresa em ter espaço para
negociação e conseguir potencializar os ganhos através do Mercado Livre.

Fonte: Site de RI - Release de resultados Engie 1T22.

A definição de como será a venda da energia, depende do plano estratégico da empresa, como pode
ser observado no trecho publicado pela Engie no 1T22:

“A Companhia tem como estratégia de comercialização a venda


gradativa da energia disponível para determinado ano, de forma a mitigar o
risco de ficar exposta ao preço spot (Preço de Liquidação das Diferenças — PLD)
daquele ano. As vendas são feitas dentro das “janelas” de oportunidade que se
apresentam quando o mercado revela maior propensão de compra.”

Vamos as características do segmento:

Risco de oferta devido a exposição às condições climáticas (volumes de reservatórios5 hídricos,


intensidade de sol e vento etc.);

4
Não são todos os consumidores que conseguem comprar energia diretamente das geradoras, isso porque existe um
mínimo de consumo necessário, possibilitando a comercialização apenas com grandes consumidores como as indústrias.
5
Para saber os níveis atuais dos reservatórios nacionais, clique AQUI.
6
Consumo com dependência do nível de atividade econômica (forte correlação com o PIB – veja
curiosidade nº2, ao fim do artigo);
Risco de impacto ambiental e social;
Intensivo capital investido (construção de usinas);
Inadimplência do consumidor pode afetar suas receitas (aquelas que optam por negociar a
venda de energia diretamente com clientes finais – mercado livre ).

Para os pontos positivos, temos:

Produto com demanda pouco elástica6;


Necessidade básica da sociedade (consumo relativamente estável);
Possibilidade de comercialização direta com alguns consumidores finais (mercado livre);
Perenidade em condições macroeconômicas piores.

Em específico para o segmento de geração, o investidor deve estar atento quais são as matrizes
energéticas atuais e como está o posicionamento estratégico da empresa frente as transições de uso de
matrizes mais adversas, como o carvão, passando a utilizar matrizes renováveis e em linha com políticas ESG7;

Em suma, esta é a etapa inicial do processo, agora o desafio é conduzir essa energia elétrica gerada até
o ponto final da cadeia de valor - consumidores.

Transmissão

O segmento de transmissão inclui a implantação, operação e manutenção das linhas de instalações de


transmissão que constituem o elo entre a geração e a distribuição de energia elétrica.

Sabe quando estamos na estrada e visualizamos aquelas torres que passam fios de energia com bolas
laranjas8? Então, essas são as linhas de transmissão.

Fonte: Google imagens.

6
Demanda pouco elástica é quando um aumento do preço do bem tem pouca influência na redução de seu consumo, ou
seja, a demanda (consumo) é pouco sensível a variação do preço – chamado de bens de necessidade.
7
ESG: Environment, Social and Governance. É uma abordagem para avaliar as práticas que a organização implementa em
prol de objetivos sociais, ambientais e de governança.
8
Na verdade, se chamam esferas de sinalização. São equipamentos de segurança que devem ser instalados nos cabos das
torres de transmissão que ficam em locais sujeitos a voos de aeronaves. Tem curiosidade em saber como são instaladas
essas esferas? Clique AQUI.
7
Atualmente, o Sistema Elétrico Brasileiro atingiu 161 mil km de linhas de transmissão, sendo 85% em
posse do setor privado e 15% pública. Ao fim do artigo, veja curiosidade nº1.

Segunda a ISA CTEEP (TRPL4), no primeiro trimestre de 2022, a empresa transmitiu aproximadamente
33% de toda a energia elétrica do Brasil e 94% da energia do Estado de São Paulo.

A seguir, podemos ver no mapa do Brasil as linhas de transmissões existentes e futuras (em projeto).

Fonte: ONS

A regulamentação vigente, determina que as empresas que operam na transmissão recebam sua receita
baseada na disponibilidade da linha e não pelo volume de energia transmitido pelo sistema.

Essa receita é chamada de Receita Anual Permitida (RAP). É obtida através do resultado do leilão de
transmissão e é pago às transmissoras a partir do momento de entrada em operação comercial de suas
instalações, com reajuste anual pela inflação - medido pelo indexador IPCA.

Assim como qualquer negócio, podemos distinguir seu crescimento em crescimento orgânico – aquele
que é obtido diretamente com aumento de receitas e eficiência operacional – e em crescimento inorgânico,
através de processos de Fusões e Aquisições, do Inglês Mergers and Acquisitions - M&A.

No segmento de transmissão, o crescimento orgânico é chamado de Greenfield e o M&A é chamado de


Brownfield. Este que se materializa através da compra de ativos já operacionais no mercado, reduzindo assim,
o risco de construção, obtendo receita imediata, porém com um alto investimento inicial.

8
O crescimento via Brownfield se justifica quando se espera obter sinergias9 dentro da estratégia de
negócio da transmissora.

Já no Greenfield o crescimento é concretizado apenas quando o projeto se torna operacional, isto é, já


passou pelo arremate em leilão (direito de concessão), construção do empreendimento e liberação para operar.

Neste, espera-se, obter um maior retorno no médio prazo com menor investimento inicial (em
comparação ao desprendimento de capital para adquirir linhas já operacionais - Brownfield). No início do projeto
há apenas saída de caixa para construção (risco de construção), contudo, a receita será obtida somente quando
entrar em linha operacional.

Leilão de transmissão

A ANEEL é o órgão responsável por realizar os leilões de concessão de energia elétrica.

O leilão funciona de uma forma bem simples: ganha o leilão quem consegue oferecer a menor proposta
em comparação ao RAP máximo estipulado pela ANEEL, ou seja, quem está disposto a receber menos por
aquela concessão de transmissão – chamamos isso de deságio. Quanto maior o deságio pior é para a
transmissora.

Por exemplo: A transmissora XPTO arrematou o leilão de um lote de RAP máximo de R$ 350 milhões por
um deságio de 50%, ou seja, ela irá receber uma RAP de R$ 175 milhões.

O primeiro leilão de 2022 será realizado no dia 30/06/22 e contará com R$ 15,3 bilhões em
investimentos (CAPEX) estimados pelo regulador para a construção de 5.425 km de linhas de transmissão e
6.180 MVA em capacidade em 13 estados brasileiros.

Estima-se que prazo para construção seja de 42 a 60 meses, ou seja, entrada de operação até 2027. A
RAP máxima estimada para a totalidade dos leilões irá ser próximo de R$2,2 bilhões anuais.

Estamos falando, em média, de leilões com RAP máxima / CAPEX de 14,38%, ou seja, para cada R$100
investidos terá como retorno uma receita média de R$14,38. Valor muito abaixo dos praticados nos últimos 5
anos, que estavam na faixa de 40 a 60%.

9
É quando se espera obter vantagens seja econômica ou operacional proveniente da junção dos negócios, em que
separadamente não haveria. Ganhos com marketing e logística, diminuição de despesas e impostos, aumento de receita,
diminuição da necessidade de capital de giro, são todos exemplos de sinergias. Resumindo: o negócio é melhor junto com
o outro do que separado.
9
Os recentes desafios vividos no cenário macroeconômico, como inflação e taxa
de juros elevadas corrobora para que, somente as empresas competitivas que
arrematarem os leilões terão feito um bom investimento. Espera-se alto deságio em
momentos macroeconômicos desafiadores, como este.

As transmissoras terão que ser disciplinadas e eficientes em entregar as obras


antes do prazo estabelecido, antecipando assim a RAP, além de, utilizar suas
vantagens competitivas e sinergias para que os projetos sejam concluídos com
menores investimentos daqueles inicialmente estimados pelo regulador (saving de
CAPEX).

Olhando agora para as características do segmento:

Grandes concorrentes nas disputas nos leilões;


Gastos com monitoramento ao longo das extensas linhas de transmissão (prevenir interrupções
provenientes de falhas);
Em caso de avaliação incorreta do projeto, ficará por décadas com investimento não rentável
(são contratos longos).

Nas vantagens competitivas, temos:

Receitas previsíveis (RAP) e corrigidas pela inflação;


Receitas são por disponibilidade das linhas e não pelo seu uso, isto é, oferta e demanda não
impacta na receita (para a empresa, esta é ótima!);
Contratos longos – 30 anos;
Maiores margens financeiras do setor;
Menor volatilidade das cotações – devido a previsibilidade das receitas;
Baixo custo de capital terceiro (custo de dívida);
Segmento menos exposto a externalidades.

Quem é quem no setor de energia?

As principais empresas de transmissão, listadas na B3, são:

10
Distribuição

Em sequência, a distribuição é o processo responsável por receber a energia das empresas de


transmissão e distribuí-la aos centros consumidores finais – indústrias, empresas e residências.

Atualmente, esse segmento é formado por 54 distribuidoras, sendo 77% proveniente do setor privado
e 23% estatal.

Dentro do segmento, dois fatores importantes a se acompanhar são os níveis de roubo de energia – o
famoso “gato” - e também as interrupções de sinal, relacionado com a qualidade e perdas ao longo das linhas.

A ANEEL exige que as distribuidoras mantenham um padrão de continuidade de fornecimento de


energia afim de manter a qualidade na prestação do serviço, esta que é medida por dois indicadores principais,
DEC e FEC.

O DEC representa a Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora, ou seja, mostra as
HORAS que um conjunto de consumidores ficou sem energia elétrica, considerando interrupções iguais ou
superiores a 3 minutos.

Já a FEC é a Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora, ou melhor descrito


como, o NÚMERO de interrupções que um conjunto de consumidores sofreu considerando interrupções iguais
ou superiores a 3 minutos.

Abaixo, pode-se observar o desempenho das 5 maiores distribuidoras do Estado de São Paulo,
considerando os indicadores de continuidade no período compreendido entre 2005 e 2021.

Fonte: Dados energéticos. https://dadosenergeticos.energia.sp.gov.br/. Consultado em 10/06/2022

Clique AQUI, para ter acesso ao dashboard da ANEEL com indicadores DEC e FEC, onde é possível
selecionar distribuidoras de interesse.

Vamos as características do segmento:

Risco de intervenções - altamente regulado;


11
Medidas governamentais de revisão tarifária negativa para empresa (através de medidas
populistas);
Risco de inadimplência mais alto;
Risco de furto de energia;
Mais exposto as externalidades;
Segmento mais volátil do setor.

Aos pontos positivos, temos:

Mercado monopolista na região de atuação (Copel-> Paraná, Cemig-> Minas Gerais, CPFL-> SP);
Faixa mínima de retorno conhecida;
Revisão tarifária a cada 5 anos;
Alta geração de caixa – principalmente em países emergentes (aumento da demanda).

Quem é quem no setor de energia?

As principais empresas de distribuição, listadas na B3, são:

12
O que é importante para o investidor?
Como vimos, o setor de energia elétrica esta cada vez mais competitivo e
aquelas empresas que tiverem disciplina de alocação de capital e eficiência
operacional terão melhores resultados ao longo do tempo.

Os segmentos de transmissão, geração e distribuição de energia envolvem


riscos e oportunidades peculiares e distintos, cabe ao investidor avaliar e projetar essas
particularidades em suas considerações.

Muitas empresas do setor elétrico têm seu core business ligado ao um segmento em destaque, mas
muitas delas atuam em negócios integrados onde operam em todos os segmentos como: EDP, Neoenergia e
Eletrobras. A pluralidade de segmentos é orientada a obter sinergias e diminuição de riscos através da
diversificação.

De forma geral é um setor bem maduro e perene que apresenta vários players estatais relevantes.

Em geral, as empresas privadas negociam com um prêmio10 em relação às estatais, isto é, paga-se
menos11 pelas ações estatais do que para as empresas privadas.

Tal característica se dá ao risco de intervenção governamental nas estatais, como: “canetadas” do


governo interferindo nos preços do bem/serviço oferecido, mudanças de gestão/estratégia por questões
políticas e por aí vai – estamos falando da utilização de empresas públicas para fazer política.

Por esse motivo, é importante o investidor avaliar criteriosamente o estatuto da empresa bem como
sua Governança Corporativa (classificação da governança, direitos dos minoritário, tag along), verificando
mitigadores de risco e como se comportaram as ações do conselho ao longo do tempo no que diz respeito ao
tema. Avaliar se faz sentido ser sócio do governo.

Dessa forma, inevitavelmente, há uma volatilidade adicional nos preços das estatais em cima de
discursos e ações políticas. A volatilidade não é necessariamente ruim, o investidor conhecedor do papel pode
aproveitar esses movimentos para obter melhores resultados.

Ah! Lembrando também, que dentro das empresas estatais, a depender do governo, sempre existe
expectativa de privatização, aquela que o mercado adora.

10
Nesse contexto, o prêmio é um valor adicional pago neste momento por uma expectativa de melhoras de resultados
futuros.
11
Lembre-se que valor da cotação não tem nada a ver com estar mais cara ou barata em relação a cotação de outra
empresa. O ponto aqui é em relação ao valuation e múltiplos, como: preço justo, P/L, P/VPA e EV/EBITDA.
13
Fundamentado pela característica do setor em ter ótima previsibilidade de receita e aliado a
necessidade de intenso CAPEX12 em momentos de expansão, “aceita-se” um maior endividamento do que para
empresas de outros setores13.

Quando a companhia tem a intensão de expandir suas atividades, e opta por tomar dívida para o
financiamento, ela estará se alavancando financeiramente. Utilizará estes recursos para investir em novos
projetos, construir novas usinas, ampliar suas linhas, bem como modernizar suas instalações.

Após o início das operações dos novos projetos, ocorrerá entrada de caixa e isto irá gerar recursos para
diminuir as dívidas iniciais contraídas. Este ciclo de altos investimentos e alavancagem, com posterior geração
de caixa e diminuição da dívida, gera um mecanismo muito utilizado no setor de energia e deve ser
acompanhado pelo investidor.

Fonte: Desenvolvido pelo autor

O múltiplo Dívida Líquida / EBITDA é uma ótima métrica para avaliar este conceito. Em momentos de
captação de dívida e investimentos, como “regrinha de bolso”, este múltiplo estaria saudável próximo de 3,0x,
e para períodos de geração de caixa por volta de 2,0x.

Notoriamente outras avaliações se fazem necessárias, como custo da dívida, rating


de crédito, perfil de amortização, estrutura de capital, capacidade de geração de lucro
operacional etc.

12
CAPEX = Capital Expenditure (Despesas de capital). CAPEX representa investimentos em ativos que visa uma melhoria do
negócio a nível operacional.
13
Por exemplo, setores onde as empresas apresentam receitas cíclicas (commodities) ou com baixas margens (varejo),
interferindo assim, na previsibilidade e capacidade de honrar com suas dívidas.
14
Segundo a B3, atualmente existem 54 empresas listadas no setor de energia elétrica. A tabela abaixo
apresenta os segmentos de atuação de algumas das principais empresas do setor. O ticker apresentado é aquele
com maior liquidez da companhia.

Fonte: Site de Relação com o Investidor das Empresas e Oceans14 em 16/06/22. Desenvolvido pelo autor.

A seguir, vamos olhar um pouco para a análise financeira do setor.

Estudo Analítico
O índice IEE14 - Índice de Energia Elétrica, tem como objetivo ser o indicador de desempenho médio das
cotações dos ativos de maior representatividade do setor de energia elétrica da B3. Atualmente conta com 18
representantes15, cada um representando em torno de 5,5% da carteira.

Vamos utilizar o IEE como ativo representativo do setor de energia e o IBOV para índice geral de ações
nos próximos estudos.

A figura, a seguir, apresenta o montante do capital final (em 05/2022), caso fosse investido R$1.000
em 01/2011, nos índices IEE e IBOV.

14
Para mais informações do índice IEE, clique AQUI.
15
Para conhecer as empresas que formam o índice, clique AQUI.
15
Retorno dos Índices
R$3.500
R$3.021
R$3.000

R$2.500

R$2.000
R$1.673
R$1.500

R$1.000

R$500

R$0
jan/11 mai/12 out/13 fev/15 jun/16 nov/17 mar/19 ago/20 dez/21

IBOV IEE

Fonte: B3 em 02/06/22. Desenvolvido pelo autor.

IBOV IEE
Crescimento total 67% 202%
Capital Multiplicado por 1,7x 3,0x
CAGR16 5% 10%
Volatilidade Média 22 18
Fonte: B3 em 02/06/22. Desenvolvido pelo autor.

Quem comprou IEE no início de 2011, obteve um retorno de +202%, ou seja, multiplicou por 3,0x o
capital investido. Para queles que seguiram o IBOV, obtiveram retorno de +67% (1,7x).

No período compreendido entre 01/2011 e 06/2016 (seta laranja) o IEE não teve retorno nominal,
sendo que esse retorno zero para o IBOV se estendeu até 08/2017 (seta verde).

Além do retorno ter sido maior no longo prazo, o IEE apresentou menor volatilidade17 dos retornos,
medido pelo desvio padrão18, como pode ser observado abaixo:

16
CAGR = Compound Annual Growth Rate = Taxa de crescimento anual composta, ou seja, na média está crescendo x% ao
ano.
17
Característica que foi apresentada no início deste artigo.
18
Desvio padrão da variação diária anualizada para o total de pregões anual.
16
Volatilidade Histórica
140
120
100
80
60
40
20
0
jan/11 mai/12 out/13 fev/15 jun/16 nov/17 mar/19 ago/20 dez/21

IBOV IEE

Fonte: B3 em 02/06/22. Desenvolvido pelo autor.

Olhando para outro índice, o de dividendos – IDIV19, observa-se que, 32,4% da participação das
empresas no índice é composta por empresas do setor de energia elétrica, ou seja, quase 1/3 das maiores
pagadoras de dividendos do IBOV é representada pelo setor.

Avaliando os indicadores do setor, pode-se observar que, para aqueles ativos selecionados, na média,
temos atualmente 7,6% de dividend yield20 (DY), sendo que, algumas companhias pagaram dividendos na casa
de 2 dígitos, como a ENBR3 e CPLE11. Valores excelentes para o investidor que buscar renda passiva recorrente
(opção de carteira previdenciária).

Obviamente, o investidor não deve escolher seu investimento olhando apenas


para o DY, este é apenas um de vários indicadores dentro de um contexto amplo de
informações que o investidor deve avaliar antes de tomar sua decisão.

Como já discutido dentro das características dos segmentos, observa-se também, que as melhores
margens estão para o segmento de transmissão.

Ainda, podemos verificar que, o mercado negocia a preço/lucro (P/L) menores para as empresas
estatais, como CPLE e CMIG (4~5x). Caso que não acorre com algumas empresas privadas, que se paga mais
pelos lucros, como EGIE e ENEV (16~20x).

19
O objetivo do IDIV é ser o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos que se destacaram em termos de
remuneração dos investidores, sob a forma de dividendos e juros sobre o capital próprio. Mais informações, clique AQUI.
20
Dividend yield é o retorno em dividendos + juros sobre capital próprio em relação ao preço da ação.
17
Div.Liq./ Margem Margem
Ticker EBITDA DY P/L ROE
EBITDA Bruta Líquida
ENBR3 R$ 4.747 mi 2,1x 10,4% 5,6x 23,0% 11,5% 18,9%
NEOE3 R$ 10.523 mi 3,2x 4,5% 5,3x 26,4% 9,2% 16,6%
EGIE3 R$ 6.093 mi 2,6x 5,9% 20,5x 48,9% 13,6% 20,1%
ELET6 R$ 15.026 mi 1,6x 3,7% 9,7x 67,0% 17,5% 8,6%
ENEV3 R$ 2.233 mi 3,8x 0,0% 16,3x 39,3% 23,4% 12,3%
TAEE11 R$ 3.481 mi 1,8x 9,3% 6,4x 84,5% 66,0% 30,6%
ALUP11 R$ 3.943 mi 2,0x 4,6% 6,4x 78,2% 24,9% 17,3%
CPFE3 R$ 9.837 mi 1,9x 15,4% 8,3x 24,7% 12,2% 30,2%
EQTL3 R$ 6.307 mi 3,7x 2,7% 7,0x 29,6% 15,1% 24,4%
ENGI11 R$ 6.660 mi 2,8x 6,5% 6,4x 23,6% 9,0% 28,1%
TRPL4 R$ 4.542 mi 1,5x 8,3% 5,3x 72,7% 51,3% 20,0%
CPLE11 R$ 6.716 mi 1,2x 16,1% 4,0x 20,4% 19,7% 21,8%
CMIG4 R$ 8.072 mi 0,9x 11,4% 5,3x 20,1% 13,9% 23,2%
Média R$ 6.783 mi 2,2x 7,6% 8,2x 42,9% 22,1% 20,9%
Fonte: StatusInvest em 16/06/22. Ocenas14 em 16/06/22. Desenvolvido pelo autor

Destaque em azul e vermelho – 2 melhores e piores múltiplos da série, respectivamente.

Os valores apresentados podem ter efeitos não recorrentes que impactam o dado. Para o melhor
entendimento dos múltiplos, a melhor prática seria avaliar os valores por trás de cada múltiplo, seu histórico
e ainda projetá-los para tomada de decisão.

O objetivo da tabela é apenas apresentar um panorama geral e didático de alguns múltiplos que reforçam
as características do setor apresentadas no início deste artigo.

Importante lembrar que as ações apresentadas nesse artigo não são recomendações
de investimento.

Agora você entende facilmente quais são as diferenças operacionais entre os


segmentos (serviços prestados), suas características financeiras e também uma análise
sob a ótica de investimento. Dessa forma, você está apto a avaliar os pontos levantados
nesse artigo dentro das empresas desse setor e decidir se vale a pena incorporá-las a sua
carteira de investimento.

Para o que precisar, dúvidas ou sugestões: Clique AQUI

Gostaria de mais materiais como esse? Clique AQUI.

Rafael Pestana, CNPI

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Alguns links interessantes para consultas:

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Veja algumas Curiosidades:

1. O plano para 2029 é ter 200 mil km de linhas de transmissão, capaz de dar 5x a volta no planeta
terra. Fonte (EPE)
2. Correlação oferta de energia e PIB. Fonte (EPE)

19
3. Nos EUA é possível pessoas físicas comprarem energia elétrica diretamente das geradoras,
caminho parecido como ocorre com telefonia do Brasil. Você escolhe de quem quer comprar, e
esta é uma tendência mundial.
4. Evolução do consumo doméstico de eletricidade por ano e por estado. Interessante que os picos
de consumo são nos meses de janeiro e fevereiro e o vale do consumo em junho e julho. Para
acesso a esse dashboard interativo, clique AQUI. Fonte (EPE)

20
Fonte: Visual Capitalist

21
Fonte: Visual Capitalist

22
Disclaimer

Este artigo foi desenvolvido por Rafael C B Pestana, analista certificado CNPI 3057.

As informações disponibilizadas neste relatório apresentam caráter informativo e não


configuram, em hipótese alguma, recomendação de investimentos e tampouco o autor se responsabiliza
por danos ou prejuízos decorrentes do uso destas informações, estas que foram obtidas de fontes
públicas.

Este material é de uso exclusivo do autor. A reprodução total ou parcial do conteúdo deste artigo,
em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização expressa do autor é
proibida.

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