Você está na página 1de 2

As consequências das privatizações das estatais brasileiras de

energia elétrica e seu impacto na vida do brasileiro

Já parou para pensar em como seria a vida do ser humano contemporâneo sem a energia
elétrica? Pois bem, é praticamente impossível pensar nisso pois quase tudo que possuímos
necessita dessa energia. E atrelado a isso, sabemos que é algo extremamente valioso e que
quem detém a maior parcela disso tem um poder gigantesco em “suas mãos”.

O Brasil, que tem um poder hídrico como nenhum outro país no mundo viu esse poder ser
explorado, inicialmente, por empresas estrangeiras até que, com o Código das Águas (que em
1934 regulamentou sobre a propriedade das águas e sua utilização) sendo o precursor disso,
pós Segunda Guerra Mundial começou-se o movimento do setor público começar a tomar
conta disso liderados pelo Rio Grande do Sul. Nessa perspectiva, visando as vantagens diretas
ao país e seus habitantes, como desdenhar de algo extremamente valioso, vendendo-o
novamente a iniciativa privada pode deixar a vida do brasileiro mais complicada do que já
está?

A Eletrobrás foi desestatizada e entrou para a bolsa de valores, onde o governo não é o
acionista majoritário. As ações da mesma começaram a ser negociadas, na bolsa, no valor de
R$42,00, onde o montante ficou em R$29,3 bilhões, sem levar em consideração lotes
adicionais, o que pode elevar a R$33,7 bilhões. A capitalização da Eletrobrás é a maior, desde a
Telebrás, em 1998. Segundo o ministro Paulo Guedes, o dinheiro pode ser usado para bancar
reduções de tributos sobre combustíveis.

A Eletrobrás é responsável por um terço de toda a capacidade de geração de energia elétrica


do Brasil e de quase metade das linhas de transmissão do país. A mesma teve um lucro de
R$5,7 bilhões em 2021. Com a aprovação deste projeto de privatização, foi incluída a
obrigação do governo de contratar quantidades fixas de energia de usinas termelétricas
movidas a gás natural, uma fonte com valor mais alto e bastante poluente. Com esta cláusula,
há probabilidade de um aumento na conta de luz, além da termelétrica movida a gás natural
ser mais cara, usinas ainda precisam ser construídas e, consequentemente, o custo das obras
serão repassados ao consumidor.

A gestão do governo atual aprovou a Lei 14.385, a mesma estabelece a devolução do ICMS,
que é um imposto estadual incluído na base do cálculo do PIS e COFINS, que foi recolhido,
equivocadamente, dos consumidores. Esta lei alterou as normas da ANEEL para agilizar a
devolução dos valores cobrados a mais, o que acarretará a menores aumentos nas tarifas de
energia. Entretanto este decréscimo no aumento da tarifa será realizado, “coincidentemente”
em período eleitoral, para que esta redução no aumento da tarifa seja algo positivo para a
reeleição do governo, entretanto esta redução de aumento da tarifa será cobrada
futuramente, e quem terá de arcar com isso será o consumidor.

Cabe destacar o que disse o professor Giovani Clark, doutor em direito econômico de
professor da faculdade de direito da UFMG, que trata exatamente do ponto abordado:
"Quando se pensa em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, o sistema federal
elétrico é uma questão de segurança nacional. As empresas europeias que foram privatizadas
estão sendo todas reestatizadas, como na Inglaterra. Então, o que nós percebemos é que: nós
não estamos pensando, absolutamente, na estrutura de produção, de consumo da energia
pela população brasileira e pelos agentes econômicos privados. Só no capital que vai adquirir
essas ações na bolsa".

Todo esse alarde encima da questão do aumento ou decréscimo das tarifas não esconde como
todo um conjunto de fatores envolta das privatizações acerca do setor elétrico brasileiro
impacta na vida de seus habitantes.

De acordo com o jornal Folha de São Paulo mostrou que em fevereiro deste ano (2022), 4 em
cada 10 (38%) regiões da Grande São Paulo atendidas pela Enel estouraram a meta máxima de
nove horas sem luz ao longo do último ano. Não vamos perder o pequeno detalhe que
estamos falando de uma das maiores metrópoles do mundo sofrendo com isso, com uma
tarifa que cada vez vem subindo. A situação é a mesma nas outras cinco regiões do país, onde
as empresas de energia elétrica foram vendidas para iniciativa privada: há quedas de energia,
falta de pessoal e contas caras, pontua Delmar Beloti, diretor do Sindicato dos Trabalhadores
Energéticos do Estado de São Paulo (Sinergia Campinas), que compreende ainda as cidades de
Araraquara e Pedregulho.

Outro ponto que podemos citar é o desemprego causado pelas privatizações. Após comprarem
as estatais, as empresas demitem muitos trabalhadores. Só em Franca, no interior de São
Paulo, dos 170 que trabalhavam na Eletropaulo Metropolitana, ficaram apenas 70, quando a
empresa foi vendida em 1998 para a Enel, uma empresa italiana com sede em Roma que atua
na geração e distribuição de energia elétrica e na distribuição de gás natural. Somado a isso,
essas empresas investem muito na terceirização para reduzir salários e o máximo de custos
trabalhistas possíveis.

Você também pode gostar