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RODOLFO DA SILVA COSTA

VIVIAN ALVES PACHECO

O CASO DOS DENUNCIANTES INVEJOSOS


Resumo do caso e novo parecer

Araraquara - SP
2018
O Caso dos Denunciantes Invejosos:
Você foi democraticamente eleito para o cargo de Ministro de Justiça em uma
nação de aproximadamente vinte milhões de habitantes, que viveu por décadas em
uma estabilidade política e econômica. Entretanto, em detrimento de conflitos
causados por diferentes linhas econômicas, políticas e religiosas a vida dos
cidadãos passa a ser afetada de forma drástica. Com uma crise grave instalada no
país, surge um partido que se autodenominava Camisas-Púrpuras, liderado um
líder extremista que era considerado um salvador pela nação.
Na eleição presidencial que sucedeu, os camisas-púrpuras supostamente
usaram promessas infundadas e meios fraudulentos para garantir a presidência e a
maioria das cadeiras na Assembleia Nacional, Além de coação física nas ruas,
gerando uma onda de terror país toda que se arrastou até o fim do governo dos
camisas-púrpuras.
Durante o governo, nenhuma alteração foi feita na constituição, Código Civil
ou Código Penal, eleições eram supostamente feitas de maneira honesta, contudo
juízes que contrariavam o regime eram agredidos e assassinados. O código civil
passou a ser utilizado conforme o desejo do governo, interpretações perniciosas
foram utilizados para o desmonte de partidos opositores e para libertação de presos
pertencentes aos Camisas-Púrpuras.
O partido também utilizou uma política de atuação flexível, algumas vezes
agiam politicamente nas ruas outras como aparelho estatal, com fins de manter
revolucionários sobre o controle do estado, aqueles que fossem considerados
inimigos do governo tinham seus bens automaticamente confiscados, ação que o
chefe do partido utilizou de meios duvidosos para tornar legal.
Conquanto, o partido dos camisas-púrpuras foram derrotados e se
estabeleceu novamente um governo democrático e constitucional. entretanto, com a
saída do antigo regime diversos problemas causados por eles começaram a cair
sobre o novo governo. Um desses problemas ficou conhecido como o caso dos
Denunciantes Invejosos.
Durante o antigo regime, muitas pessoas denunciaram inimigos pessoais ao
partido ou a autoridades do governo. Críticas ao governo, escutas em estação de
rádio estrangeiras, relacionamento com baderneiros e revolucionários, ovos em pó
acima do limite e perda de documentos não informados ao governo foram utilizados
para cárcere e assassinatos de cidadãos.
Após a derrota do camisas-púrpuras, surgiu um movimento que exigia a
punição do Denunciantes Invejosos. Em detrimento do apelo público, sua primeira
iniciativa como Ministro de Justiça foi estudar o caso e pedir a cinco deputados que
refletissem sobre o caso e dessem sua opinião em uma Conferência.
Os deputados tomaram sucessivamente a palavra, fazendo as seguintes
ponderações:

Primeiro deputado:
O primeiro deputado não tem dúvidas que nada pode ser feito. As denúncias
versavam sobre fatos que realmente eram ilícitos, isto é, contrários às regras
estabelecidas pelo governo que, nessa época, exercia o poder do Estado.
A sentenças de condenação das vítimas dessas denunciantes foram
pronunciadas em conformidade com os princípios a legais então vigentes. Esses
princípios apresentam tamanhas diferenças tem relação aos nossos, que podemos
considerá-los como detestáveis. Mas isso não impede reconhecemos que tais leis
estavam vigentes no país.
O deputado então conclui que uma das principais diferenças entre o direito
dos púrpuras e o nosso. O juiz tem muito menos liberdade para julgar um caso, em
nosso direito, meios pré estabelecidos por uma instituição democraticamente eleito e
define regras que vai de interesse com população.Além de ser necessário a
apresentação de testemunhas e provas,, enquanto os Camisas-Púrpuras davam
uma liberdade ilimitada para o juiz (os que compactuavam com ideias do regime), o
que demonstra que assim como qualquer governo, havia uma filosofia na forma de
julgar, enfrento, é inegável que nosso sistema dá uma liberdade de expressão muito
maior enquanto a eles tentaram impor a todos o próprio código monolítico.

Segundo Deputado:
O segundo deputado apresenta uma visão diferente do primeiro, para ele
considerar o governo dos camisas-púrpuras legal é impossível. Ele apresenta a tese
de que não basta ter sistema jurídico, é preciso que exista leis que sejam
minimamente conhecidas pela população, além de uma uniformidade no tratamento
dos casos. O deputado também cita o fato de existirem forças que atuavam de forma
unilateral ao sistema jurídico, supostamente utilizado pelo regime.
Os camisas-púrpuras também utilizavam de violência física e psicológica
como formas de coação para atender interesses próprios de maneira ditatorial o que
permitia a interferência na administração da justiça.
Na opinião do deputado quando os Camisas-Púrpuras conquistaram o poder,
deixou de existir o direito, independentemente da definição que será dada ao
sistema, a forma como o regime agia era ditatorial e muitas vezes apenas buscando
seu próprio interesse.
Enfim, os atos dos assim chamados Denunciantes Invejosos nada mais eram
do que tentativas de se libertar do sistema corrupto repressivo que era imposto, se
julgássemos e condenássemos tais atos como crimes, isso seria inadequado já que
muitas vezes esses crimes eram uma forma de sobrevivência.

Terceiro Deputado:
Para o terceiro deputado não é adequado admitir que o regime dos Camisas-
Púrpuras estava completamente fora da lei, nem considerar que todos os seus atos
merecem ser classificados como atos de um governo respeitoso da lei. E sim dar
ênfase nas questões nas quais o regime adentrou a administração jurídica, alterando
procedimentos e resultados conforme seu interesse.
Outro ponto ressaltado é que a vida da população não foi afetada ao ponto de
existir um sentimento de guerra de todos contra todos, afinal continuavam a
acontecer atos da vida normal de um ser humano ou seja contratempos como
acidentes, assassinatos e roubos, problemas comuns em uma sociedade continuam
a acontecer normalmente. Julgamentos também continuavam a acontecer como o
famoso caso de um homem que se apaixonou por uma mulher casada e provocou a
morte de seu cônjuge, denunciando-o pelo fato de não informar as autoridades da
perda de seus documentos de identidade dentro do prazo de cinco dias.
Esse denunciante cometeu homicídio, segundo a definição do código penal
que continuava em, vigor no momento da denúncia, já que continuava em vigor no
momento da denúncia.
Como podemos ver esse homem utilizou os tribunais como um instrumento
para realizar suas intenções criminosas, existem outros casos igualmente claros. Por
fim, o deputado que conclui não devemos tratar todos os casos de forma igual já que
as intenções das denúncias nem sempre eram boas ou ruins.
O deputado então decide não opinar sobre o tratamento de tais casos nem
fazer recomendações a esse respeito. Entretanto, a existência de casos complicados
e de difícil tratamento não servir como pretexto para impedir uma atuação imediata.

Quarto Deputado:
O quarto deputado também não concorda com a ideia apresentada pelos dois
primeiros. A proposta de escolher determinados casos entre todos acontecimentos
durante o regime e julgá-los conforme a leis atuais seria uma tarefa difícil, portanto
ele sugere a criação de uma lei especial voltada para o tratamento do caso dos
denunciantes invejosos.
Ele também defende a ideia de que sejam realizados estudos abrangentes e
detalhados dos diversos aspectos do problema dos Denunciantes Invejosos, coletar
todos os dados importantes e elaborar uma lei para regulamentar todos os
desdobramentos do problema.
O deputado também enfatiza que os encarregados de preparação dessa lei
enfrentarão problemas para dar respostas e definições para os casos, e cita como
exemplo uma definição legal de inveja.

Quinto Deputado:
O quinto deputado não concorda com quarto, para ele a criação de novas leis
seria apenas uma forma de utilizar meios que os próprios camisas-púrpuras
utilizaram.
O deputado então utiliza reapresenta o caso de um homem que não avisou as
autoridades que havia perdido o documento e acabou recebendo a pena de morte,
entretanto, para ele não a problema nenhum na denúncia desse e sim na força que
foi utilizada como punição.
Baseado nessa tese o deputado indica um autor respeitado que defendia a
ideia de que principal finalidade do direito é a de permitir que se manifeste o instinto
humano da vingança. Portanto ele sugere deixar nas mão da população o ato de
fazer justiça mesmo que isso acabe gerando conflitos e inocentes feridos.

Elaboração de um novo parecer:


Agradeço pelo convite, pois acredito que tenho algumas ideias a retomar, as
quais foram trazidas pelos colegas anteriores, e algumas propostas a acrescentar.
Dessa forma, procurarei dar um desfecho a tal discussão, de modo que esta
interpretação supra, nos limites do possível e no meu entendimento, tanto a
finalidade de satisfazer as vítimas do governo dos Camisas-Púrpuras e garantir que
tal experiência não se repita, quanto a pacificação de nossa sociedade, sendo estes
os princípios norteadores de nossa justiça de transição.
No que tange ao problema dos denunciantes invejosos, já inicio concordando
com o Terceiro Deputado a respeito de analisar em quais situações fica claro que o
denunciante fez uso da denúncia, como meio de se livrar de outra pessoa, ou para
apoiar normas que contrariam o sentimento de humanidade e justiça. Esse caso
exige cautela, para a balança da justiça não pender nem para o lado da punição
indiscriminada dos denunciantes, nem para a anistia geral, que não seria
considerada justa pelo nosso povo. Os denunciantes invejosos não estavam em um
regime legítimo, logo, por tirarem proveito desta situação e/ou apoiá-la, no meu
entendimento, causaram um dano moral coletivo.
A necessidade de uma reparação pressupõe que um dano foi causado. Neste
caso, os valores coletivos de uma sociedade foram feridos, na ocasião azarada em
que sofreu uma ruptura nas suas esferas de poder, por um governo que criou leis
retroativas e regulamentos secretos, contrariando textos jurídicos que continuavam
vigentes, como o Código Penal, o Código Civil e a Constituição Federal. Os
denunciantes, ao participarem ativamente - por meio das denúncias - do processo
de condenação e execução dos considerados “subversivos” ou inadequados para o
regime, também feriram os valores coletivos, impactando drasticamente na vida de
diversas famílias. Tanto essas famílias atingidas diretamente, quanto o resto da
sociedade, podem se sentir lesados por essas atitudes, resultando em um dano
moral coletivo.
Além da função reparatória, que objetiva compensar as vítimas de alguma
forma, seja por meio de indenizações ou pedidos de perdão, a responsabilidade civil
que sugiro impormos aos denunciantes pressupõe mais duas funções: punitiva e
educativa.
A respeito da função punitiva, devo salientar que sou cética quanto a eficácia
de nosso sistema prisional atual, pois além do vexame de serem sentenciados, os
denunciantes se tornariam ainda mais estigmatizados pela sociedade. Eles
adentrariam em verdadeiras “escolas do crime”, superlotadas, que são os nossos
presídios. Ademais, todos estamos cientes das dificuldades de ressocialização social
e profissional de um ex-detento. O encarceramento destas pessoas se tornaria
apenas problemas jogados debaixo do tapete, para ressurgirem após anos, como
humanos mais difíceis de serem aceitos pela população.
Reconhecer a deficiência de nosso sistema carcerário não significa que
descarto a necessidade de punição, que é tão clamada por movimentos de opinião.
Se eu ignorasse esta importante etapa, o sentimento nacional poderia ser de não
superação de uma fase, impotência diante de atrocidades cometidas e impunidade.
Tal qual aconteceu após o fim da ditadura argentina, quando a justiça de transição
concedeu anistia aos torturadores. As pressões populares por justiça continuaram e,
13 anos depois, a lei da Anistia foi considerada “insanamente nula” pelo Congresso
Nacional. Um caminho semelhante foi seguido no Chile e no Uruguai. Ao invés de
nossa justiça seguir o mesmo caminho, o ideal seria ater-se logo à finalidade social
do direito, interpretando os nossos textos jurídicos com responsabilidade para com a
população e para com o futuro do país.
Sendo assim, recomendo o uso de penas alternativas, como a Prestação
Pecuniária, a Prestação de Serviços à Comunidade ou à Entidades Públicas, a
Interdição Temporária de Direitos e/ou a Limitação de Fim de Semana, a qual
determina que o condenado, pelo tempo da pena privativa de liberdade substituída,
permaneça aos sábados e domingos, pelo período de cinco horas em Casa de
Albergado ou estabelecimento similar, onde serão ministrados cursos e palestras de
cunho educativo.
Seguindo nesse caminho, chegamos na terceira função que desejamos suprir
para conter o dano moral coletivo causado e, ao mesmo tempo, cumprimos nosso
princípio de garantir que essa experiência camisa-púrpura não se repita: a função
preventiva/educativa. Percebendo que, em nosso país, utilizamos da justiça para
combater a qualquer injustiça, certamente isso inibirá futuros denunciantes
invejosos. Além disso, trago como proposta adicional, a educação da população
quanto ao ocorrido, por meio de esclarecimento da opinião pública e resgate da
memória.
Além disso, se me permite acrescentar, com o fim de garantir a pacificação de
nosso país, vejo como necessário a aplicação de políticas sociais para a não-
marginalização dos denunciantes invejosos, que estarão cumprindo sua pena
segundos os preceitos da lei e justiça determinados pelas autoridades competentes.
Sei que não pertence ao escopo do judiciário aconselhar o governo sobre políticas
públicas, porém é da plena cooperação e harmonia entre os três poderes, cada um
trabalhando no âmbito que lhe compete em prol de uma coletividade, de uma nação
consciente, que um Estado Democrático de Direito se fortalece a cada dia mais.
É notável que seria mais fácil se estivéssemos debatendo o julgamento dos
assassinos diretos, isto é, os que ficaram encarregados por comandar essas
atrocidades, julgar as penas de morte e/ou executá-las. Neste caso, seria muito mais
simples se nós recorresse-mos aos atos internacionais de Direitos Humanos
ratificados pelo nosso país, pois existem algumas Convenções e Protocolos que
versam sobre os crimes contra os Direitos Humanos e prevêem a necessidade de
punição a todos envolvidos com a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis,
desumanas ou degradantes.
Acredito que ficou claro em meu parecer que concordo com os colegas que
dizem que o nosso direito tem o dever de ser justo, e concluo que, independente de
minhas sugestões serem aprovadas, acredito que o melhor caminho a se seguir é o
do compromisso com a tentativa de amenizar os problemas sociais derivados da
experiência camisa-púrpura. Assim, como bem levantou o Prof. Satene, estaremos
iniciando nossa nova era sob os princípios de igualdade, justiça e liberdade.

Referências bibliográficas
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988.
CRUZ, Walter Rodrigues. As penas alternativas no direito pátrio. São Paulo: Editora
Direito, 2000.
DIMOULIS, Dimitri. Manual de Introdução ao Estudo do Direito. São Paulo: RT,
2013.
DIMOULIS, Dimitri. O Caso dos Denunciantes Invejosos. 8ed. São Paulo: RT, 2012.
SENADO FEDERAL. Direitos Humanos. 4ed. Brasília: Coordenação de Edições
Técnicas, 2013.
XISTO TIAGO DE MEDEIROS NETO. Dano Moral Coletivo. 3ed. São Paulo: LTr,
2012.

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