1° Período – Noturno Natal, 2020 PRISÃO EM 2° INSTÂNCIA, CONSTITUCIONAL, INCONSTITUCIONAL OU INTERESSE POLÍTICO?
Prisão em segunda instância, é constitucional ou inconstitucional? É um
debate que se popularizou de forma super abrangente nos últimos anos. Um dos motivos para que houvesse essa popularização, foi o caso que envolveu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2017, o ex-presidente foi condenado a nove anos e meio de reclusão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo juiz Sérgio Moro, em primeiro grau de jurisdição. Após tal condenação, a defesa do ex-presidente recorreu à segunda instância do Judiciário, no Tribunal Regional Federal 4, em Porto Alegre/RS. Os desembargadores negaram o pedido de recurso da defesa e, inclusive, aumentaram a pena para 12 anos de reclusão. Por causa dessa decisão e da negação do seu pedido de habeas corpus no STF, Lula foi condenado à prisão e se entregou à Polícia Federal no dia 07 de Abril de 2018. Após a prisão do ex-presidente, debates se espalharam pelo país inteiro, pois haviam pessoas que afirmavam que a prisão só poderia ser feita após a última instância, ou seja, após esgotar-se todas as chances de recursos, mas por que só agora, após o caso do ex-presidente Lula vir à tona, as pessoas começaram a discordar das decisões passadas sobre o assunto? Seriam interferências políticas? Seria porque tem alguém influente envolvido? Ou seria porque o nosso país é refém de um sistema podre onde quem manda são exatamente quem deveria dar exemplo? Impossível responder, ou pelo menos, é muito difícil responder essas questões, justamente pelo histórico de indecisões do próprio STF sobre o que é certo ou errado, nesta ocasião. Em 2009, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que o réu só podia ser preso após o trânsito em julgado, ou seja, quando esgotar-se todos os recursos, o réu poderia ter no máximo prisão preventiva decretada contra si. Em fevereiro de 2016, o mesmo STF decidiu que um réu condenado em segunda instância já pode começar a cumprir a sua pena, ou seja, pode parar na cadeia mesmo enquanto recorre aos tribunais superiores. Naquele momento, a regra foi aplicada ao caso de um réu específico, no mesmo ano o STF reafirmou a sua decisão, que passou a ter validade para todos os casos no Brasil.
Em 2019, a constitucionalidade da condenação em segunda instância voltou
ao Supremo Tribunal Federal para novo julgamento. Apesar de a questão ser, em grande medida, um dos pilares da Operação Lava Jato – a operação tem cerca de 100 condenados em segunda instância – o ministro Dias Toffoli afirmou que “o julgamento não se refere a nenhuma situação particular”. Assim, de outubro a novembro de 2019, o Supremo analisou três Ações Declaratórios de Constitucionalidade – ou seja, ações que colocam à prova a própria lei – capazes de discutir o alcance da norma constitucional de presunção de inocência, considerado uma Cláusula Pétrea – que seria o principal argumento contra a condenação em segunda instância. Uns falam que fere o princípio da presunção de inocência, que diz “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”, outros consideram que o recurso a instâncias superiores se tornou uma forma de protelar ao máximo a decisão final. É para evitar esse quadro que a prisão logo após a segunda instância seria mais justa etc. Diante de todo esse debate, ao meu ver, nada disse refere-se a questões propriamente jurídicas, são situações e opiniões muito mais ligadas a jogadas políticas. Infelizmente, o nosso Poder Judiciário ainda é muito interferido por políticos, a influência de poderosos políticos no Poder Judiciário ainda é ABSURDAMENTE REAL, começando por criações de várias leis que no fundo acabam beneficiando muito mais a categoria deles do que a sociedade em geral. O caso do ex-presidente que citei no início do texto é um grande exemplo, faziam anos que a lei era cumprida de outra forma, bastou chegar em alguém de “PODER” para que o famoso “jeitinho brasileiro” fosse desencadeado. Respeito os argumentos de quem defende, ao modo que respeito também aos que se contrapõem, o que não respeito e não concordo é a fragilidade e a falta de clareza que o nosso código penal tem, por que para uma pessoa “comum” essa forma de interpretar a lei funcionava de um jeito, e após envolver um ex-presidente, ela se tornou inconstitucional? Fica claro que nem todos os casos são tratados de forma igualitária como pede a lei, não é? Sendo assim, finalizo o meu texto, pedindo para que você, leitor, reflita sobre que país você quer ter daqui a alguns anos, um país justo ou um país onde só caminha para os interesses dos que o administra? A justiça foi feita para ser tratada de forma igualitária para todos, independentemente do cargo, cor, sexo, grau social ou gênero. Que tenhamos forças para lutar por um país mais justo e que a lei um dia seja igual para todos. Finalizo o meu texto com uma última pergunta, se o ex-presidente Lula, não estivesse se envolvido neste caso que expus, qual seria a atual situação relacionada à prisão após segunda instância? Prisão? Ou resposta em liberdade até que todos os recursos se esgotem? Acho que estaria tudo como era.
A prisão após a segunda instância no Supremo Tribunal Federal: uma análise dos discursos jurídico e midiático ante as ações de controle abstrato e o habeas corpus do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva