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Por que Lula foi solto?

O princípio da presunção de
inocência e o atual entendimento do
Supremo Tribunal Federal que
possibilitou a soltura do ex-
presidente Lula.

Publicado por Carlos Negrelli há 6 meses

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A presunção de inocência é um princípio


expresso na Constituição Federal no artigo
5º, LVII, que preceitua que “ninguém será
considerado culpado até o trânsito em jul-
gado da sentença penal condenatória”.
Isto é, independentemente do crime
cometido, o indivíduo é presumida-
mente inocente, cabendo ao Estado
a comprovação de sua culpa após o
devido processo legal e consequen-
temente, o trânsito em julgado.

Durante os 34 anos da Constituição Fede-


ral, o princípio da presunção de inocência
foi discutido pelo Supremo Tribunal Fede-
ral (STF) diversas vezes, voltadas, princi-
palmente, ante a possibilidade da execu-
ção provisória da prisão após a condena-
ção em segundo grau.

Em 1991, cita-se o julgamento do Habeas


Corpus (HC) 68.726 (Pleno, j. 28.06.1991)
em que o STF decidiu pela possibilidade
de execução provisória da pena, o
que inclusive ensejou a edição das Súmu-
las 716 e 717 da Corte, firmando o entendi-
mento.

Mais tarde, no ano de 2009, houve uma


inversão da interpretação no julgamento
do HC 84.078 (Pleno, Rel. Min. Eros Grau,
j. 05.02.2009) em que, ressalvados os ca-
sos de prisão cautelar previstos no Código
de Processo Penal ( CPP), a execução da
prisão provisória antes do trânsito
em julgado seria inconstitucional.

Em seguida, no ano de 2016, em decisão


bastante criticada pela doutrina, o STF, ao
denegar o HC 126.292 (Pleno, Rel. Min.
Teori Zavascki, j. 17.02.2016) reconheceu
a possibilidade da execução provisó-
ria de sentença penal condenatória
confirmada no segundo grau de ju-
risdição.

Por fim, em 2019, no emblemático julga-


mento das Ações Declaratórias de Consti-
tucionalidade nº 43, 44 e 54, o STF decla-
rou expressamente a constitucionalidade
do artigo 283 do CPP, consolidando o en-
tendimento de ser inaplicável a execu-
ção provisória da pena após a conde-
nação em segundo grau. A tese firma-
da foi de que só é possível o cumprimento
da pena (ressalvados os requisitos para a
prisão preventiva do CPP) após o esgota-
mento dos recursos e, consequentemente,
o trânsito em julgado.

No julgamento, alguns ministros mostra-


ram-se totalmente contrários à constituci-
onalidade do artigo 283 do CPP, alegando
ser a presunção de inocência, apenas um
princípio, não devendo ser declarado por-
tanto, como uma regra absoluta. Nesse
sentido foi o voto do ministro Luís Rober-
to Barroso:

“[...] a presunção de inocência é um


princípio, e não uma regra absoluta,
que se aplique na modalidade tudo ou
nada. Por ser um princípio, precisa ser
ponderada com outros princípios e va-
lores constitucionais. Ponderar é atri-
buir pesos a diferentes normas. Na me-
dida em que o processo avança e se che-
ga à condenação em 2º grau, o interes-
se social na efetividade mínima do sis-
tema penal adquire maior peso que a
presunção de inocência. [...] (STF Onli-
ne)

A decisão à época, teve como um de seus


principais beneficiários o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, que foi solto
após cumprir 580 dias de prisão na
Superintendência da Polícia Federal
de Curitiba-PR já que suas condena-
ções não haviam transitado em jul-
gado. Ademais, a decisão possibilitou a
soltura de outros 5.000 presos em conde-
nações em segundo grau pendentes de re-
curso.

A definição atual, portanto, é de que a pre-


sunção de inocência deve ser observada de
forma concreta em todos os casos. O cum-
primento da pena, deve ser efetivado so-
mente após o esgotamento de todos os re-
cursos possíveis, isto é, do trânsito em jul-
gado da sentença penal condenatória.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Constituição (1988). Constituição


da Republica Federativa do Brasil. Brasí-
lia, DF: Senado Federal: Centro Gráfico,
1988.

BRASIL, Decreto-Lei nº. 3.688. Código de


Processo Penal (1941)

LOPES JR. Direito Processual Penal.


16ª. Ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2019.

STF PÚBLICA ACÓRDÃOS DO JULGA-


MENTO SOBRE PRISÃO EM SEGUNDA
INSTÂNCIA. Revista Consultor Jurídico,
2020. Disponível em https://www.con-
jur.com.br/2020-nov-16/stf-pública-acor-
daos-julgamento-prisão-segunda-instan-
cia#:~:text=Na%20%C3%BAltima%20-
quinta%2Dfeira%20 (12,ap%C3%B3s%20-
condena%C3%A7%C3%A3o%20em%20-
segunda%20inst%C3%A2ncia.

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Carlos Negrelli
Estudante de Direito, amante da Justiça e apaixonado …

3° Sargento do Exército Brasileiro, estudante de Direito,


concurseiro apaixonado pela justiça e com um sonho de
contribuir para um país melhor através do diálogo e da
imparcialidade.

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