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1. CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS.
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GOMES, Luiz Flávio. Curso de direito penal: parte geral. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 612.
2
Quanto à individualização da pena na fase judicial, a jurisprudência Alemã tem adotado a “Teoria do
Espaço de Jogo”, segundo a qual “[…] entre o mínimo e o máximo da pena existe um espaço para que o
juiz passa se mover com liberdade, sempre que o resultado seja proporcional à culpabilidade e que, assim,
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Dito isso, enquanto o Direito Penal trata da “anatomia” (estrutura e o que se tutela
por meio do sistema, os cognominados bens jurídicos), a Execução Penal esclarece a
“fisiologia” (mecanismos de funcionamento a respeito do cumprimento efetivo da pena).
Nesse contexto, dentro dos limites autorizados pelo texto constitucional, um dos
vetores da “tarefa preventiva” (expressão cunhada por Zaffaroni) é o sistema progressivo
de cumprimento da reprimenda. Na hipótese particular do Brasil, verificam-se três
regimes prisionais (artigo 33 do CP): fechado, semiaberto e aberto, cujas regras básicas
de progressão remontam ao artigo 112 da LEP, em verdadeira interlocução entre CP e
LEP.
A doutrina explica a lógica da progressão de regime com base na culpabilidade –
condições pessoais do apenado – e na presença de requisitos objetivos, ou seja, no
preenchimento de certas metas, o denominado mark system (sistema de marcas),
consoante o qual, atingindo determinadas marcas5, o apenado conquista novos direitos e
aproxima-se da liberdade (progressão de regime). No mesmo diapasão do ora explanado,
satisfaça os fins preventivos gerais e especiais”. (In: OLIVÉ, Juan Carlos Ferré. Direito penal brasileiro:
parte geral. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 653.)
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BRITO, Alexis Couto de. Execução penal. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 67-68.
4
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de direito penal brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2013, p. 134.
5
BRITO, Alexis Couto de. Execução penal. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, p. 367.
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QUEIROZ, Paulo. Curso de direito penal: parte geral. Salvador: Juspodivm, 2012, p. 473.
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n. 82.959/SP. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=79206>. Acesso em: 15 ago. 2020.
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n. 82.959/SP. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=79206>. Acesso em: 15 ago. 2020.
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Diante dos apontamentos trazidos pela jurisprudência do STF não se pode olvidar
que, em sede de execução da pena, existe a denominada “relação especial de sujeição”
entre o reeducando e o Estado, na qual, consoante abalizada doutrina, “[…] a Corte IDH
ressaltou que o Estado se encontra, em relação às pessoas privadas de liberdade, numa
posição especial de garante”.11
Antes da alteração promovida pela Lei 13.964/2019, o art. 112 da LEP era assim
redigido: “Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma
PROGRESSIVA com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo
juiz, quando o preso tiver cumprido (a) ao menos UM SEXTO da pena no regime anterior
E (b) ostentar BOM COMPORTAMENTO CARCERÁRIO, comprovado pelo diretor do
estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão”.
Em resumo:
Neste caso, verifica-se que o legislador, além de adotar novo requisito objetivo
(1/8), absorveu, em parte, os requisitos traçados pelo STF, no julgamento do HC 143.641,
de natureza coletiva, o qual tinha como paciente “todas as mulheres submetidas à prisão
cautelar no sistema penitenciário nacional, que ostentem a condição de gestantes, de
puérperas ou de mães com crianças com até 12 anos de idade sob sua responsabilidade, e
das próprias crianças”.
Isso porque, no citado julgamento, a Suprema Corte asseverou que não seria
possível o deferimento de prisão domiciliar caso o crime fosse cometido com violência
ou grave ameaça à pessoa (inciso I da novel legislação) ou contra o filho ou dependente
(inciso II da novel legislação). Por fim, na forma do § 4º, “O cometimento de novo crime
doloso ou falta grave implicará a revogação do benefício previsto no § 3º deste artigo”.
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▪ I – 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for PRIMÁRIO e o crime tiver
sido cometido SEM VIOLÊNCIA À PESSOA OU GRAVE AMEAÇA: (a) em regra,
considera-se o menor percentual de pena a ser cumprido para fins de progressão de
regime, ressalvada a possibilidade comentada acima, para situações específicas
envolvendo mulheres, que exige o cumprimento de 1/8, ou seja, 12,5%, no regime atual;
(b) embora seja próximo do menor vetor anteriormente utilizado, ainda assim deve ser
considerado como mais benéfico ao réu, visto que a fração de 1/6 significava o
cumprimento de 16,6% da pena no regime atual, ao passo que o novel requisito exige
apenas 16% (0,6% a menos); (c) exige que se trate de apenado PRIMÁRIO e que o crime
seja praticado SEM VIOLÊNCIA À PESSOA OU GRAVE AMEAÇA.
▪ II – 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido
sem violência à pessoa ou grave ameaça: (a) trata-se de dispositivo mais gravoso, visto
que antes do “Pacote Anticrime”, por conta da ausência de norma específica, a progressão
ocorreria com o cumprimento de 1/6 da pena no regime atual (equivalente a 16,6%), salvo
se envolvesse a prática de crime hediondo ou equiparado; (b) aplica-se aos apenados
reincidentes, restringindo-se a crimes cometidos sem violência à pessoa ou grave ameaça,
como furto, apropriação indébita, receptação, estelionato.
▪ III – 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime
tiver sido cometido com violência à pessoa ou grave ameaça: (a) deve-se observar as
considerações tecidas no item acima, a respeito da irretroatividade in malam partem; (b)
incide para apenados PRIMÁRIOS, condenados pela prática de crime COM violência à
pessoa ou grave ameaça.
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▪ IV – 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido
com violência à pessoa ou grave ameaça: (a) assim como nos itens II e III, aplica-se o
princípio que veda a retroatividade da lei mais gravosa; (b) o âmbito de incidência da
norma refere-se a apenados que são considerados REINCIDENTES em crimes cometido
COM violência à pessoa ou grave ameaça.
▪ V – 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de
crime hediondo ou equiparado, se for primário: (a) neste dispositivo, o legislador manteve
a previsão do art. 2º, § 2º, da Lei 8.072/1990, visto que a progressão de regime em crimes
hediondos, caso envolvesse apenado primário, ocorria com o cumprimento de 2/5 da
pena, ou seja, 40%; (b) por isso, não há falar em retroatividade ou irretroatividade da
norma, e sim de mero juízo de subsunção; (c) restringe-se a apenados PRIMÁRIOS, em
caso de condenação por crimes hediondos (rol do art. 1º da Lei 8.072, de 1990) ou
equiparados (tráfico de drogas, tortura e terrorismo – vide art. 5º, XLIII, da CRFB).
3. Ainda que provavelmente não tenha sido essa a intenção do legislador, é irrefutável que
de lege lata, a incidência retroativa do art. 112, V, da Lei n. 7.210/1984, quanto à hipótese
da lacuna legal relativa aos apenados condenados por crime hediondo ou equiparado
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e reincidentes genéricos, instituiu conjuntura mais favorável que o anterior lapso de 3/5,
a permitir, então, a retroatividade da lei penal mais benigna.
(REsp 1918338 MT, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 26/05/2021, DJe 31/05/2021) (REsp 1910240 MG, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/05/2021, DJe 31/05/2021)
• VI – 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: - condenado pela
prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o
livramento condicional; - condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de
organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; -
condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada; (a) neste ponto, trata-
se de inovação legislativa; (b) o percentual de 50% é mais gravoso do que a fração de 2/5
(40%) prevista na redação original do art. 2º, § 2º, da Lei de Crimes Hediondos, a qual se
aplicava ao “condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado
morte, se for primário”; (c) o percentual de 50% também é mais gravoso do que a fração
de 1/6 (16,6%), que incidia ao “condenado por exercer o comando, individual ou coletivo,
de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado” e
para o “condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada”; (c) por isso,
aplica-se a vedação à irretroatividade da lei mais gravosa; (d) a primeira hipótese,
restringe-se à condenação por crime hediondo ou equiparado, envolvendo agente
PRIMÁRIO – assim como no inciso V –, diferenciando-se pela ocorrência do
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Revela-se possível aplicação retroativa do art. 112, VI, “a”, da LEP aos condenados por
crime hediondo ou equiparado com resultado morte que sejam primários ou reincidentes
não específicos, sem que tal retroação implique em imposição concomitante de sanção
mais gravosa ao apenado, tendo em vista que, em uma interpretação sistemática, a
vedação de concessão de livramento condicional prevista na parte final do dispositivo
somente atingiria o período previsto para a progressão de regime, não impedindo
posterior pleito com fundamento no art. 83, V, do CP. Precedentes: ED no HC 692.140/SC
(Rel. Min. ROGERIO SCHIETTI CRUZ, DJe de 09/11/2021); HC 679.927/RJ (Rel.
Ministro OLINDO MENEZES – Desembargador Federal convocado, DJe de
05/10/2021).
• VII – 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de
crime hediondo ou equiparado: (a) neste dispositivo, o legislador manteve parcialmente
a previsão do art. 2º, § 2º, da Lei 8.072/1990, visto que a progressão de regime em crimes
hediondos, caso envolvesse apenado reincidente na prática de crime hediondo ou
equiparado, ocorria com o cumprimento de 3/5 da pena, ou seja, 60%; (b) por isso, não
há falar em retroatividade ou irretroatividade da norma, e sim de mero juízo de subsunção.
• VIII – 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime
hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional: (a) em
primeiro lugar, trata-se de inovação legislativa; (b) o percentual apresentado (70%) é mais
gravoso do que a fração de 3/5 (60%) da redação original da Lei 8.072/1990; (c)
anteriormente, não havia regra semelhante para os casos de apenados REINCIDENTES,
em crimes HEDIONDOS OU EQUIPARADOS, e COM RESULTADO MORTE; (d) a
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Deve-se atentar para o fato de que o legislador, no art. 112, § 5º, da LEP, trouxe
previsão expressa no sentido de que “não se considera hediondo ou equiparado, para os
fins deste artigo, o crime de tráfico de drogas previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343,
de 23 de agosto de 2006”. Tal previsão está de acordo com o posicionamento
jurisprudencial. Salienta-se, inclusive, que o STJ, acompanhando o posicionamento do
STF, cancelou o Enunciado 512, que mencionava: “A aplicação da causa de diminuição
de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime
de tráfico de drogas”.
• Confira-se, por oportuno, o caso paradigma no âmbito da Suprema Corte:
- Em caso de crime contra a administração pública, deve-se observar o art. 33, §4º,
do CP, consistente na reparação do dano causado ou na devolução do produto do ilícito
praticado, com os acréscimos legais.