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PERÍODO: 27/06 A 01/07 DE 2022.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

STF
27/06 a 01/07

Notícias do STF mais relevantes para o cargo de DELEGADO DE POLÍCIA

• Atestado de frequência de ensino a distância basta para redução de pena, decide 1ª


Turma.

• Ministro Fachin pede que governo informe providências para garantir aborto nas
hipóteses legais.

Demais notícias importantes do STF

• Caso MEC: ministra Cármen Lúcia envia à PGR notícia-crime contra presidente da
República.

• STF invalida exigência de aprovação legislativa para construção de hidrelétricas no Paraná.

• Supremo recebe denúncia contra Roberto Jefferson por incitação ao crime.

• STF derruba retenção de receitas vinculadas para pagamento da dívida pública de Mato
Grosso.

• Mais uma notícia-crime sobre caso MEC é enviada à PGR pela ministra Cármen Lúcia.

• Petição de Randolfe Rodrigues sobre suposta interferência de Bolsonaro na PF é remetida


à PGR.

• Barroso encaminha à PGR notícia-crime contra Bolsonaro por declaração de ex-presidente


da Petrobras.

• Gilmar Mendes remete à Justiça Eleitoral investigação contra ex-governador da Paraíba


Ricardo Coutinho.

• Ministro Barroso mantém suspensão de pagamentos das dívidas de MG com União.

• STF derruba taxas para emissão de certidões e policiamento em eventos de grande porte
no Piauí.

• Supremo inicia julgamento sobre cancelamento de precatórios por instituições


financeiras.

• Caso MEC: ministra Cármen Lúcia envia terceira notícia-crime contra Bolsonaro à PGR.

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• Governadores questionam nova mudança no regulamento do ICMS.

• STF valida taxas pagas pelo setor de radiodifusão ao Fundo de Fiscalização das
Telecomunicações.

• Alíquota maior de ICMS de energia elétrica e comunicações em SC e no DF é inválida,


decide STF.

• Ministro Barroso prorroga até 31 de outubro decisão que suspende despejos e


desocupações.

• Cancelamento de precatórios não resgatados em dois anos é inconstitucional, decide STF.

• Associações pedem que STF garanta possibilidade de aborto nas hipóteses previstas em
lei.

• Ministro Nunes Marques autoriza Estado de Minas Gerais a pedir adesão ao RRF.

• STF começa a julgar cabimento de ADPF contra decisões judiciais sobre adicional a
servidores do PI.

• Ministro Lewandowski autoriza contratação temporária de professores em MG.

• STF invalida regra que previa iniciativa do governador do ES para propor leis sobre MP
estadual.

• Ação de governadores sobre mudanças no ICMS será julgada direto no Plenário.

• Planos de saúde: Barroso convoca audiência pública para debater rol taxativo e amplitude
das coberturas.

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27/06

Caso MEC: ministra Cármen Lúcia envia à PGR notícia-crime contra


presidente da República

Na petição, o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) afirma que Jair Bolsonaro não pode ser excluído das
investigações envolvendo a atuação de pastores no Ministério da Educação.
A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou ao procurador-geral
da República, Augusto Aras, a notícia-crime (PET 10426) em que o deputado federal Reginaldo
Lopes (PT-MG) pede a instauração de procedimento investigatório contra o presidente da
República, Jair Bolsonaro.
Na Petição (PET 10426), o parlamentar pede que sejam apuradas condutas e responsabilidades
de Bolsonaro nos fatos envolvendo a liberação de verbas do Ministério da Educação e do Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) em favor de prefeitos com a suposta
intermediação dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
Reginaldo Lopes ressalta que, em depoimento à Polícia Federal, o ex-ministro Milton Ribeiro
confirmou que recebia os pastores a pedido do presidente da República, o que demonstraria
que Bolsonaro “tinha total controle e dominava toda a empreitada delituosa, de modo que não
pode ser excluído da investigação em curso e das punições que vierem, em tese, a ocorrer”.

STF invalida exigência de aprovação legislativa para construção de


hidrelétricas no Paraná

O entendimento é de que foi violada competência legislativa privativa da União.


O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) invalidou dispositivo da Constituição do Estado do
Paraná que condiciona a construção de centrais hidrelétricas e termelétricas à realização de
projeto técnico de impacto ambiental e à aprovação da Assembleia Legislativa. Na sessão virtual
concluída em 24/6, o colegiado julgou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
7076, proposta pela Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel).
O colegiado seguiu, por unanimidade, o voto do relator, ministro Luís Roberto Barroso, no
sentido de invalidar o artigo 209 da Constituição estadual. Ele explicou que, no julgamento da
ADI 6898, também de sua relatoria, a Corte declarou a inconstitucionalidade do dispositivo na
redação conferida pela Emenda Constitucional estadual 37/2016, mas, por consequência,
restaurou a vigência de sua redação original, que agora é objeto de questionamento nos autos.
Precedente
Barroso lembrou que, naquela ocasião, o Tribunal declarou a inconstitucionalidade das regras
da Constituição estadual que tratavam de resíduos nucleares e impunham condições para a
construção das centrais e para perfuração de poços para a extração de gás xisto, sob o
fundamento de violação à competência privativa da União para explorar esses serviços e legislar

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a seu respeito. "Apenas a lei federal pode dispor sobre questões envolvendo águas, energia,
recursos minerais e atividades nucleares", ressaltou.
Ao aplicar à ADI 7076 o mesmo entendimento, o relator destacou que a redação original do
dispositivo da Constituição paranaense, que condiciona a construção das centrais à realização
de projeto de impacto ambiental e à aprovação da Assembleia Legislativa estadual, violou a
competência privativa da União para legislar sobre essas atividades. "Esta Corte tem
reconhecido, reiteradamente, a inconstitucionalidade formal de leis estaduais semelhantes",
concluiu.

Supremo recebe denúncia contra Roberto Jefferson por incitação ao


crime

O ex-deputado foi denunciado pela PGR, também, por calúnia e homofobia.


O Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu, integralmente, a denúncia formulada pela
Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-deputado Roberto Jefferson por incitação à
prática de crime e por tentar impedir ou restringir, com emprego de violência ou grave ameaça,
o livre exercício dos Poderes da União e dos estados, além de calúnia e homofobia. O colegiado
decidiu, também, remeter o processo à Justiça Federal no Distrito Federal.
Denúncia
A denúncia é fundamentada em sete episódios, seis entrevistas concedidas por Jefferson e
publicadas em canais no YouTube de empresa jornalísticas e em um vídeo postado em seu perfil
no Twitter. A PGR elencou entrevistas em que Jefferson incentivou o povo brasileiro a invadir o
Senado Federal e a “praticar vias de fato” contra senadores, especialmente os integrantes da
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia e a explodir o prédio do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), ambos crimes contra a segurança nacional.
Jefferson ainda foi denunciado pelos delitos de calúnia, por declarações em que imputou ao
presidente do Senado o delito de prevaricação (quando afirmou que ele não teria dado
andamento aos pedidos de impeachment contra ministros do STF para satisfazer interesse
pessoal) e homofobia, por dizer que os integrantes da comunidade LGBTQIA+ representam a
“demolição moral da família”.
Conexão
Em seu voto, o relator da petição (PET) 9844, ministro Alexandre de Moraes, afastou a alegação
da defesa de que Jefferson não teria prerrogativa de foro no STF. Ele destacou que, em razão da
conexão das condutas denunciadas pela PGR com as investigadas no inquérito das fake news
(INQ 4781) e do fato de que a denúncia já estava pronta para ser apreciada, a jurisprudência é
no sentido do exame da acusação e da posterior remessa à instância competente, caso aceita.
Segundo o relator, os fatos atribuídos a Jefferson na denúncia assemelham-se, “em acentuado
grau”, ao modo de operação das milícias digitais investigadas no INQ 4874, circunstância que
resultou na permanência da competência do Supremo para o prosseguimento das investigações,
“notadamente em razão da possível participação de diversas autoridades que detêm foro por
prerrogativa de função no STF”.
Suporte probatório

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Para propor o recebimento da denúncia, o ministro Alexandre de Moraes considerou que a PGR
narrou, de forma clara e expressa, sete eventos criminosos atribuídos a Jefferson,
demonstrando a autoria, os meios empregados, o malefício produzido, os motivos, o local e o
momento em que foram praticadas as condutas. O relator constatou que o inquérito policial e
as peças de informação que instruem a denúncia apresentam suporte probatório mínimo, com
elementos que demonstram a materialidade do crime e indícios razoáveis de autoria que
justificam a ação penal, conforme previsto no Código de Processo Penal (artigo 395).
Esse entendimento foi acompanhado pelos ministros Edson Fachin, Roberto Barroso, Dias
Toffoli, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Luiz Fux e pelas ministras Rosa Weber e Cármen
Lúcia.
Divergência
Ao abrir a divergência, o ministro Nunes Marques considerou que o simples fato de Jefferson
ter publicado em redes sociais ou dado entrevistas em programas jornalísticos no Youtube não
significa que tenha ele aderido a uma organização criminosa com o fim específico de atentar
contra o Estado Democrático e o Poder Judiciário. Nesse sentido, entendeu que não há
competência do STF para analisar o caso e se manifestou pelo envio da denúncia para análise
pela primeira instância da Justiça Federal do DF. Ele foi acompanhado pelo ministro André
Mendonça.

STF derruba retenção de receitas vinculadas para pagamento da


dívida pública de Mato Grosso

O entendimento adotado por unanimidade é o de que o legislador estadual desrespeitou a regra da


vinculação de recursos com destinação específica.
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) vedou a destinação de receitas vinculadas e
diretamente arrecadadas pelos órgãos e entidades do Poder Executivo de Mato Grosso ao
pagamento da dívida pública do estado. A decisão se deu, na sessão virtual finalizada em 20/6,
no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5564, ajuizada pelo Partido
Democrático Trabalhista (PDT).
A autorização constava de dispositivo da Lei Complementar estadual (LC) 360/2009, acrescido
pela LC estadual 480/2012, que autoriza a retenção de até 30% das receitas vinculadas ou não
arrecadadas por órgãos e entes do Executivo.
Previsibilidade
Em seu voto, a relatora da ação, ministra Rosa Weber, explicou que a lei estadual fixou a
retenção, para o pagamento da dívida pública, de despesas cuja receita tem destinação
específica. Contudo, segundo a relatora, a vinculação precisa ser respeitada, em razão da
necessidade de preservar a previsibilidade da alocação dos recursos nos propósitos previstos
pelas normas constitucionais e legais e de conferir segurança jurídico-financeira à realização das
despesas.
Ela salientou, ainda, que até mesmo a Emenda Constitucional (EC) 93/2016, ao autorizar a
desvinculação de receitas dos estados, excepcionou desse mecanismo algumas hipóteses, como
a destinação de recursos ao financiamento das ações e serviços públicos de saúde e educação.

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Assim, para Rosa Weber, o legislador mato-grossense, em momento anterior à emenda, quando
o orçamento público era mais rígido, "regulou, com indevida liberdade, fração da arrecadação
com destinação específica".
Dívida pública
Em relação à destinação das receitas estabelecida na norma, a ministra destacou que o artigo
204 da Constituição Federal faculta aos estados e ao Distrito Federal vincular parcela de sua
arrecadação a programas de apoio à inclusão e promoção social, mas veda a aplicação dos
recursos no pagamento do serviço da dívida.
Conta única
Por fim, quanto aos outros dispositivos questionados da lei, referentes ao Sistema Financeiro de
Conta Única para o gerenciamento dos recursos financeiros do Executivo, a ministra apontou
que grande parte da sua regulamentação está em consonância com os termos constitucionais e
não acarreta o desvio da aplicação dos recursos. “Ao contrário, cuida-se de diploma que busca
o equilíbrio contábil”, frisou.
Interpretação
Por unanimidade, o Plenário julgou parcialmente procedente a ação, para dar interpretação
conforme a Constituição ao artigo 1º, parágrafo 4º, inciso I, da LC 360/2009 de Mato Grosso, de
forma a excluir do seu âmbito de incidência as receitas vinculadas.

28/06

Mais uma notícia-crime sobre caso MEC é enviada à PGR pela


ministra Cármen Lúcia

Em petição ao STF, o deputado federal Professor Israel Batista também pede que seja apurado
eventual vazamento de informações sobre ações da PF pelo presidente da República.
A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou nesta terça-feira (28)
mais uma notícia-crime ao procurador-geral da República, Augusto Aras, para que,
“considerando os termos do relato apresentado e a gravidade do quadro narrado”, se manifeste
sobre pedido de instauração de procedimento investigatório contra o presidente da República,
Jair Bolsonaro. A peça aponta supostas irregularidades no âmbito do Ministério da Educação
(MEC) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), a partir da atuação dos
pastores evangélicos Gilmar Santos e Arilton Moura.
Na Petição (PET 10434) apresentada contra o presidente e contra o ex-ministro da Educação
Milton Ribeiro, o deputado federal Israel Matos Batista (PSB-DF), conhecido como Professor
Israel Batista, apresenta informações do próprio Ministério Público acerca de elementos que
indicariam a possibilidade de vazamento das apurações no caso e de interferência ilícita de Jair
Bolsonaro. Segundo ele, a prova de que isso ocorreu foi o envio de auto circunstanciado ao STF
apontando esses indícios.
O parlamentar cita, ainda, o relato de que Milton Ribeiro teria mantido conversa telefônica com
o presidente, em que teria sido advertido de eventual busca e apreensão. Batista pede a adoção

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de todas as medidas necessárias à elucidação dos fatos, especificamente quanto aos tipos penais
de peculato (artigo 312 do Código Penal) e prevaricação (artigo 319 do Código Penal), sem
prejuízo de outros a serem apurados pelo Ministério Público, como corrupção ativa e passiva.

Petição de Randolfe Rodrigues sobre suposta interferência de


Bolsonaro na PF é remetida à PGR

A decisão é do ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga alegações de Sérgio
Moro.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou para
manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR) petição em que o senador Randolfe
Rodrigues (Rede/AP) narra suposto acesso do presidente da República, Jair Bolsonaro, a
informações sigilosas sobre investigações e seu repasse ao ex-ministro da Educação Milton
Ribeiro, alvo de operação da Polícia Federal (PF).
O despacho do ministro foi assinado nos autos do Inquérito (INQ) 4831, instaurado a pedido da
PGR para apurar declarações do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro de que
teria havido tentativa de interferência política do presidente da República na PF. O relatório final
dessas investigações, em que a PF conclui que não há indícios de cometimento de delitos, foi
juntado aos autos e encaminhado pelo relator, em 27 de abril, também para manifestação da
PGR.
Segundo o senador, os fatos reportados pela imprensa indicam nova interferência do presidente
da PF. Ele pede a abertura de inquérito para apuração de violação de sigilo e de obstrução da
justiça.
Investigação
O ex-ministro Milton Ribeiro é investigado por fatos relacionados à liberação de verbas do
Ministério da Educação e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), durante
sua gestão, com a suposta intermediação dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura.
Randolfe cita reportagens em que o ex-ministro, em conversa interceptada com autorização
judicial, se refere a suposta fala do presidente sugerindo a ocorrência de busca e apreensão
contra ele. Na petição, o senador pede, ainda, que sejam tomadas "medidas cabíveis a fim de
evitar interferências indevidas da cúpula do Poder Executivo nas atividades-fim da Polícia
Federal".

Barroso encaminha à PGR notícia-crime contra Bolsonaro por


declaração de ex-presidente da Petrobras

A petição foi apresentada pelo senador Randolfe Rodrigues, que alega a possível prática de crimes.
Seguindo o que determina o Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro
Roberto Barroso encaminhou à Procuradoria Geral da República (PGR) notícia-crime

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apresentada pelo senador Randolfe Rodrigues contra o presidente da República, Jair Bolsonaro,
com base em declaração do ex-presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, de que teria,
em seu celular, mensagens que incriminariam o chefe do Executivo. O tema é objeto da Petição
(PET)10436.
De acordo com o senador, a declaração do ex-presidente da estatal, que repercutiu na imprensa
e na internet, aponta a possível prática dos crimes de prevaricação, corrupção passiva ou
peculato e violação de sigilo funcional, entre outros, por Bolsonaro. Randolfe pede a abertura
de inquérito contra o presidente da República, com a tomada de depoimentos de Castello
Branco e a busca e apreensão e perícia no seu celular.
No despacho, o ministro lembra que o artigo 230-B do Regimento Interno da Corte prevê que o
Tribunal não deve processar comunicação de crime, mas encaminhar o pedido à PGR.

Gilmar Mendes remete à Justiça Eleitoral investigação contra ex-


governador da Paraíba Ricardo Coutinho

A decisão segue o entendimento do STF sobre a competência da Justiça especializada para julgar os
crimes eleitorais e conexos.
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), remeteu à Justiça Eleitoral da
Paraíba investigação contra o ex-governador do estado, Ricardo Vieira Coutinho, denunciado no
âmbito da Operação Calvário, que apura a existência de organização criminosa com o objetivo
de desviar recursos públicos estaduais por meio da utilização de organizações sociais. A decisão
foi tomada na Reclamação (RCL) 53360.
Segundo os advogados, a denúncia recebida pelo Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba (TJ-
PB) contra Coutinho e outros 34 réus por formação de organização criminosa e outros crimes,
também descreveria a prática de crimes eleitorais, especialmente falsidade ideológica eleitoral.
Conexão
Na avaliação do ministro Gilmar Mendes, embora o Ministério Público não tenha pedido a
condenação por sua prática, a denúncia expõe um sistema criminoso em que estão
reconhecidamente inseridos delitos eleitorais, com a descrição dos elementos típicos
potencialmente suficientes para fundamentar a condenação por crimes eleitorais, caso o TJ-PB
fosse competente para analisar a matéria.
O ministro citou trechos da denúncia que narram, entre outros pontos, o pagamento de R$ 1,1
milhão para a campanha eleitoral de 2018, em troca da manutenção dos contratos em vigor das
organizações sociais e o pagamento de vantagens indevidas para agentes políticos, disfarçadas
de doação de campanha. A seu ver, os fatos demonstram a íntima conexão entre delitos de
cunho administrativo e de cunho eleitoral, na medida em que relatam que alguns dos valores
recebidos ilicitamente foram destinados a financiamento de campanha.
Com esses argumentos, o ministro declarou a incompetência do TJ-PB e reconheceu a
competência da Justiça Eleitoral para processar e julgar o ex-governador, nos termos do
paradigma fixado pelo Supremo no julgamento do Inquérito 4435, quando reafirmou sua
jurisprudência sobre a competência da Justiça Eleitoral para apurar e processar crimes eleitorais
conexos a quaisquer outros delitos conexos.

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De acordo com a decisão, a Justiça Eleitoral da Paraíba deverá se manifestar sobre a


convalidação dos atos já praticados, inclusive sobre o recebimento da denúncia.

Ministro Barroso mantém suspensão de pagamentos das dívidas de


MG com União

O relator, porém, determinou que o estado adote as restrições previstas no Regime de Recuperação
Fiscal, mesmo antes da adesão formal ao programa.
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), manteve a suspensão da
execução, pela União, das contragarantias de contratos firmados pelo Estado de Minas Gerais
com o Banco do Nordeste do Brasil S/A (BNB) e com o Banco Internacional para Reconstrução e
Desenvolvimento (Bird), além da vedação à inclusão do estado nos cadastros de inadimplência
da administração federal em razão do não pagamento das parcelas. Mas, na mesma decisão, o
ministro determinou que o governo mineiro adote imediatamente a série de vedações legais
impostas aos estados durante a vigência do Regime de Recuperação Fiscal (RRF),
independentemente da formalização da adesão ao regime.
Equilíbrio
A tutela de urgência foi concedida no âmbito da Ação Cível Originária (ACO) 3244, em que
Barroso havia suspendido por seis meses a execução das contragarantias. O Estado de Minas
Gerais requereu a prorrogação dos efeitos da liminar, alegando que tem adotado as
providências necessárias para aderir ao RRF, a despeito do cenário político desfavorável na
Assembleia Legislativa, que tem retardado o implemento das medidas. Para o ministro, sua
decisão impõe ônus razoável ao estado e atende parcialmente ao interesse da União.
Barroso ressaltou que a controvérsia envolve tema complexo que demanda atuação cautelosa
do STF, para resguardar o equilíbrio entre as partes envolvidas. No caso, os contratos de
operações de crédito envolvem valores elevados, que, se exigidos de imediato, podem
prejudicar a prestação de serviços públicos essenciais à população mineira.
Por outro lado, considerou que a União não deve responder indefinidamente pelos débitos do
estado sem que possa executar as contragarantias previstas em contrato e sem qualquer
contrapartida. Por esse motivo, a melhor maneira de Minas Gerais equacionar seus débitos é
ingressando no RRF, previsto na Lei Complementar (LC) 159/2017, com as alterações
promovidas pela Lei Complementar (LC) 178/2021.
Em informações prestadas nos autos da ACO, o Estado de Minas Gerais noticiou a aprovação do
regime de urgência ao projeto de lei que permite sua adesão ao RRF e a aprovação da lei
estadual que o autoriza a firmar com a União o contrato de confissão e refinanciamento de
dívidas de que trata o artigo 23 da LC 178/2021.
Restrições legais
O artigo 8º da LC 159/2017 veda ao estado a concessão de reajuste salarial ao funcionalismo
público, a criação de cargos ou alteração de estrutura de carreiras que impliquem aumento de
despesa, a realização de concurso público, a criação ou o reajuste de despesa obrigatória de
caráter continuado, a concessão ou a prorrogação de incentivos tributários, despesas com
publicidade e propaganda, exceto para as áreas de saúde, segurança e educação, entre outros

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pontos. Segundo Barroso, o cumprimento imediato dessas vedações, mesmo antes da adesão
ao RRF, “contribuirá para que o estado restabeleça, mais rapidamente, o equilíbrio das suas
contas, propiciando, assim, o adimplemento regular e tempestivo de suas dívidas”.

Atestado de frequência de ensino a distância basta para redução de


pena, decide 1ª Turma

Segundo o colegiado, o preso não pode ter seus direitos cerceados por incapacidade do Estado de
fiscalizar a frequência às aulas.
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), em sessão nesta terça-feira (28), decidiu
que o tempo de ensino a distância (EAD) deve ser computado para a remição de pena, bastando,
como comprovante, a certificação fornecida pela entidade. Segundo o colegiado, o sentenciado
não pode ter seus direitos cerceados por incapacidade do Estado de fiscalizar a frequência às
aulas.
A remição de pena é prevista na Lei de Execuções Penais (artigo 126 da Lei 7210/1984), que
permite a redução de parte do tempo de pena com frequência escolar, à base de um dia de pena
para cada 12 horas de estudo, limitadas a quatro horas diárias. No caso em análise, uma pessoa
cumprindo pena de 17 anos e seis meses de reclusão, na Penitenciária Estadual de Ponta Grossa
(PR), apresentou pedido de remição de 28 horas de estudo presencial e 16 horas de ensino a
distância.
O juiz da Vara de Execuções Penais de Ponta Grossa desconsiderou as horas de ensino a
distância, por entender que não havia fiscalização para comprovar a atividade. A decisão foi
mantida pelo Tribunal de Justiça local (TJ-PR) e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
No Recurso Ordinário em Habeas Corpus (RHC) 203546, a Defensoria Pública da União (DPU)
argumentava que o sistema interno da penitenciária impede que as horas estudadas em
modalidade EAD sejam computadas em dias diversos das aulas presenciais, “gerando a falsa
impressão de que o apenado teria estudado período superior a quatro horas”.
Alternativa
A relatora do recurso, ministra Cármen Lúcia, observou que o ensino a distância nas unidades
prisionais surgiu como alternativa às limitações para a implementação de estudo presencial,
contribuindo para a qualificação profissional e a readaptação da população carcerária ao
convívio social. Lembrou, ainda, que tem havido um número relativamente alto de controvérsias
sobre o tema, o que torna necessária uma definição colegiada.
Dupla punição
No caso específico, a ministra destacou que o juiz reconheceu a ocorrência do ensino a distância,
mas desprezou as horas apenas por falta de fiscalização. Segundo ela, se o sistema penitenciário
não oferece fiscalização e acompanhamento, o sentenciado não pode ser prejudicado. “Se o
Estado falha, não oferecendo o que a Constituição e a lei determinam, acho que é punir duas
vezes pela mesma falta um ser humano que já está numa situação de prisão, que é
absolutamente contrária à humanidade”, afirmou.
Cármen Lúcia assinalou, ainda, que, em razão das condições diferenciadas em relação aos
demais cidadãos, os presos devem ser tratados de forma diferente, em respeito ao princípio da

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dignidade humana. Ela considera que, como as pessoas que cumprem pena já então em situação
precária, é necessário sobrevalorizar a remição da pena, para que elas acreditem na superação
do erro e na possibilidade de vida diferente a partir da educação.
Exagero
O ministro Alexandre de Moraes observou que a remição da pena exige efetiva comprovação do
estudo ou do trabalho. No caso, a seu ver, houve um exagero das autoridades, pois a certificação
da frequência ao curso cabe às entidades educacionais, e não ao preso. “Se fosse assim, o preso
teria de comprovar que ficou de olhos abertos durante todo o período, ou que prestou atenção”,
assinalou. “Nós que damos aula por videoconferência, especialmente durante a pandemia,
temos dificuldade de comprovar que nossos alunos prestaram atenção durante todos os
minutos”.
Por unanimidade, o colegiado deu provimento ao RHC 203546, para acrescentar um dia de
remição à pena do sentenciado.
Balanço
Ao final da sessão, última do semestre, a ministra Cármen Lúcia, presidente da Primeira Turma,
observou que o colegiado realizou 31 sessões, 21 em ambiente virtual e 10 presenciais. No
período foram julgados 32 processos de forma presencial e 2.557 em sessões virtuais. Ainda
estão em julgamento 154 processos, incluídos na sessão virtual prevista para se encerrar em 1º
de julho.

STF derruba taxas para emissão de certidões e policiamento em


eventos de grande porte no Piauí

Por unanimidade, a Corte seguiu o voto da relatora, ministra Cármen Lúcia, para quem as cobranças
estão em desacordo com a Constituição da República.
O Supremo Tribunal Federal (STF) invalidou normas do Estado do Piauí que estabeleciam a
cobrança de taxas para a emissão de certidões e atestados para interesses particulares e para o
policiamento ostensivo em festas populares com aglomeração de grande número de pessoas. A
decisão unânime foi tomada na sessão virtual finalizada em 20/6, quando o Plenário julgou
parcialmente procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7035, ajuizada pelo
procurador-geral da República, Augusto Aras.
As regras constam da Lei estadual 4.254/1988 (com redação conferida pelas Leis estaduais
4.455/1991 e 5.114/1999), que institui e regula a cobrança de taxas para custeio de serviços
afetos à segurança pública. Aras questionava diversas cobranças previstas na lei, sob o
argumento de que as taxas devem incidir somente em decorrência do exercício de poder de
polícia ou da utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis
prestados a contribuintes ou postos à sua disposição.
Serviços públicos divisíveis
Em voto que conduziu o julgamento, a ministra Cármen Lúcia explicou que, de acordo com o
entendimento do STF, os serviços de policiamento ostensivo e investigativo a cargo das polícias
militar e civil dos estados, prestados de forma geral e indistinta a toda a coletividade, devem ser
financiados por impostos. Por outro lado, prestações oferecidas pelos órgãos de segurança

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pública e usufruídas de modo específico podem ser custeadas por taxas, ou seja, quando for
possível a identificação do sujeito alcançado pelo serviço público e a mensuração do proveito
obtido.
Em relação à taxa, prevista na lei piauiense, que tem como fato gerador a emissão de alvará para
a realização de festas populares com aglomeração de grande número de pessoas, com valor
fixado de acordo com o número de policiais a serem disponibilizados no evento, ministra
verificou que se trata de serviço de segurança pública geral e indivisível, destinado à coletividade
e à preservação da integridade física de quem estiver no evento particular e, portanto, não pode
ser remunerado por taxa.
A relatora também reconheceu a inconstitucionalidade da cobrança para a emissão de certidões
e atestados quando requeridos para interesses particulares. Isso porque a alínea "b" do inciso
XXXIV do artigo 5º da Constituição da República assegura a todos a obtenção de certidões em
repartições públicas, independentemente do pagamento de taxas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal.
Validade da cobrança
Quanto às demais taxas previstas na lei estadual, Cármen Lúcia considerou que elas decorrem
do efetivo exercício do poder de polícia estatal praticados no interesse específico de
determinados administrados, e não de serviços de segurança pública prestados indistintamente
à população. Entre elas estão as cobradas para alvarás de funcionamento de circos, parques de
diversão, casas de espetáculos ou afins com venda de mesas ou ingressos, entre outros; para
vistoria técnica de verificação das condições de segurança para a liberação do primeiro alvará
policial de funcionamento em hotéis, motéis, pensões, pousadas, casas de shows, agências
bancárias e lotérica; e para a emissão de atestado coletivo ou individual de interesse de empresa
privada e o fornecimento de cópias e plastificação de documentos.

29/06

Supremo inicia julgamento sobre cancelamento de precatórios por


instituições financeiras

Para a relatora, ministra Rosa Weber, o cancelamento após dois anos, se não houver saque dos
valores, é inconstitucional.
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou, nesta quarta-feira (29), o julgamento da
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5755, sobre o cancelamento dos precatórios e de
Requisições de Pequeno Valor (RPV) federais que não foram resgatados no prazo de dois anos.
O julgamento prossegue na sessão plenária de amanhã (30).
O objeto de discussão é a Lei 13.463/2017, que determina o cancelamento dos precatórios cujos
valores não tenham sido sacados pelos credores no prazo de dois anos e prevê que essa
providência seja tomada diretamente pelas instituições financeiras.
O PDT argumenta, entre outros aspectos, que a matéria é exaustivamente tratada pela
Constituição Federal e, por isso, está sujeita à reserva de emenda constitucional. Também alega
que não cabe à lei transferir às instituições financeiras controladas pelo Poder Executivo a

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competência para gerir os precatórios, atribuída pela Constituição exclusivamente ao Poder


Judiciário.
Interesse dos credores
Foram realizadas sustentações orais por representantes do PDT, da Presidência da República e
de entidades e associações de classe interessadas na matéria, além do Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Todos pediram que a Corte reconheça a
inconstitucionalidade da norma, com o argumento de que a usurpação desses recursos pelo
Estado configura confisco. Segundo as manifestações, o interesse dos credores dos precatórios
deve prevalecer, pois esses recursos não são mais do Estado.
Limite não previsto na Constituição
Para o procurador-geral da República, Augusto Aras, a Lei 13.463/2017 viola preceitos
constitucionais como a independência e a harmonia entre os Poderes, pois retira do Judiciário a
gestão administrativa do sistema de execução contra a Fazenda Pública. Aras também salientou
que a lei questionada impôs um limite temporal ao exercício do direito do cidadão não previsto
na Constituição.
De acordo com o procurador-geral, a indisponibilidade do valor devido faz com que o credor não
tenha acesso direto e imediato a seu crédito, decorrente de direito reconhecido por sentença
judicial definitiva e executada de acordo com as normas processuais e procedimentais
pertinentes. Além disso, não há possibilidade de intimação para se manifestar previamente a
respeito da providência bancária.
Separação dos Poderes
Para a relatora, ministra Rosa Weber, a norma viola o princípio da separação dos Poderes, uma
vez que a Constituição Federal, ao dispor sobre o regime de precatórios, não deixou margem
para limitação do direito de crédito pela legislação infraconstitucional. “Deve ser prestigiado o
equilíbrio e a separação dos Poderes, assim como a garantia da coisa julgada, mediante a
satisfação do crédito a conferir eficácia e efetividade às decisões”, afirmou.
Na visão da ministra, a lei questionada transfere do Judiciário para a instituição financeira a
averiguação unilateral do pagamento e autoriza indevidamente o cancelamento automático do
depósito, com a remessa dos valores à conta única do Tesouro Nacional. A medida, a seu ver,
configura “verdadeira burla aos freios e contrapesos indispensáveis ao bom funcionamento dos
Poderes”.
Princípios constitucionais violados
A seu ver, a demora do credor em relação ao saque dos valores depositados na instituição
financeira deve ser apurada durante o processo de execução, e o cancelamento automático
configuraria desrespeito ao devido processo legal e ao princípio da proporcionalidade. Para a
ministra Rosa Weber, a lei também afronta os princípios da segurança jurídica, da
inafastabilidade da jurisdição, da garantia da coisa julgada e do cumprimento de decisões
judiciais.
Garantia constitucional
De acordo com a relatora, o sistema de precatórios é garantia constitucional do cumprimento
de decisão judicial contra a Fazenda Pública e prestigia o direito de propriedade. No
entendimento da ministra, essa sistemática em momento algum fixou prazo específico para o
levantamento de valores, que, em regra, é efetivado após longo trâmite processual e em ordem
cronológica de preferência.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

Assimetria
Em seu voto, a relatora também entendeu que a lei questionada confere tratamento mais
gravoso ao credor, diante da criação de mais uma assimetria entre a Fazenda Pública e o
cidadão, em manifesta ofensa à isonomia, seja pela distinta paridade de armas ou pela
diferenciação entre os próprios credores (os que fazem o levantamento no prazo de dois anos e
os que não conseguem fazê-lo). Por fim, comentou que as razões do não levantamento podem
ser entraves processuais, deficiência de representação ou imperativos de direitos sucessórios,
entre outras causas “que não necessariamente denotam desinteresse ou inércia injustificada”.
Pedido de destaque
A análise da matéria teve início em âmbito virtual. Após o voto da relatora, ministra Rosa Weber,
pela procedência do pedido, houve pedido de vista do ministro Barroso. Em seguida, pedido de
destaque do ministro Gilmar Mendes remeteu a ação ao Plenário físico.

Caso MEC: ministra Cármen Lúcia envia terceira notícia-crime contra


Bolsonaro à PGR

Nesta petição, sete senadores pedem que o presidente da República seja investigado por possíveis
atos de obstrução da justiça e violação de sigilo processual.
Seguindo o que determina o Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra
Cármen Lúcia encaminhou para manifestação do procurador-geral da República, Augusto Aras,
a terceira petição sob sua relatoria em que parlamentares pedem que o presidente da República,
Jair Bolsonaro, seja investigado por supostas irregularidades no âmbito do Ministério da
Educação (MEC) e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
A Petição (PET) 10438 foi apresentada pelos senadores Paulo Rocha (PT-PA), Humberto Costa
(PT-PE), Fabiano Contarato (PT-ES), Jaques Wagner (PT-BA), Jean Paul Prates (PT-RN), Paulo
Paim (PT-RS) e Zenaide Maia (PROS-RN). Segundo eles, desdobramentos das investigações sobre
possíveis atos de corrupção passiva, tráfico de influência, advocacia administrativa e
prevaricação atribuídos ao ex-ministro da Educação Milton Ribeiro apontam para possível
prática de violação de sigilo processual e obstrução de justiça por Bolsonaro. Conversas do ex-
ministro e de sua esposa, captadas em interceptação telefônica, sinalizariam a atuação do
presidente da República para “proteger, precaver ou beneficiar” Ribeiro.
Ao encaminhar os autos à PGR, a relatora afirmou que a notícia-crime apresentada pelos sete
senadores relata “quadro de gravidade incontestável, o que impõe a manifestação da
Procuradoria-Geral da República, para se cumprirem os fins do direito vigente”

Governadores questionam nova mudança no regulamento do ICMS

Alteração classifica combustíveis, gás natural e outros itens como essenciais, o que limita as alíquotas
ao mesmo patamar das operações em geral.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

Governadores de 11 estados e o do Distrito Federal ajuizaram nova ação no Supremo Tribunal


Federal (STF) contestando alterações na cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias
e Serviços (ICMS). Desta vez, a ação questiona a Lei Complementar federal 194/2022,
sancionada na semana passada, que classifica combustíveis, gás natural, energia elétrica,
comunicações e transporte coletivo como bens e serviços essenciais, o que impede a fixação de
alíquotas acima da estabelecida para as operações em geral.
De acordo com os governadores de Pernambuco, Maranhão, Paraíba, Piauí, Bahia, Mato Grosso
do Sul, Rio Grande do Sul, Sergipe, Rio Grande do Norte, Alagoas, Ceará e Distrito Federal,
autores da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7195, com pedido de liminar, essa
inovação legal impõe ônus excessivo e desproporcional aos entes federados, comprometendo a
continuidade dos serviços essenciais prestados à população.
Segundo a ADI, a redução abrupta da arrecadação dos 26 estados e do DF, por ato unilateral
federal, quebra o pacto federativo e interfere indevidamente na autonomia política, financeira,
orçamentária e tributária desses entes. Também argumentam que a Constituição Federal
confere aos estados e ao DF o poder de fixar suas alíquotas de ICMS com base em estudos de
impactos e previsões de suas receitas. Nesse sentido, entendem que cabe à União apenas
disciplinar as normas gerais, e não reduzir o alcance de uma técnica tributária atribuída a outros
entes.
Outro aspecto apontado é que, em 2021, o ICMS representou 86% da arrecadação dos estados,
e combustíveis, petróleo, lubrificantes e energia responderam por quase 30% do valor
arrecadado. Segundo os governadores, a queda na arrecadação vai retirar recursos da educação
e da saúde. Eles apontam, ainda, impactos para os municípios, que recebem 25% da arrecadação
do ICMS.
A relatora da ação é a ministra Rosa Weber.

STF valida taxas pagas pelo setor de radiodifusão ao Fundo de


Fiscalização das Telecomunicações

O entendimento é o de que os tributos foram instituídos para garantir a fiscalização realizada pela
Anatel, que abrange os serviços de radiofrequência.
O Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a constitucionalidade de taxas pagas pelas
prestadoras de serviços públicos de radiodifusão ao Fundo de Fiscalização das
Telecomunicações (Fistel), arrecadadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A
decisão unânime foi tomada no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4039,
na sessão virtual concluída em 24/6.
A ação, ajuizada pela Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abratel), foi julgada
improcedente, conforme o voto da relatora, ministra Rosa Weber.
Fundo
Criado pela Lei 5.070/1966, o Fistel tem como finalidade prover recursos para cobrir despesas
do Governo Federal na fiscalização de serviços de telecomunicações, desenvolver os meios e
aperfeiçoar a técnica necessária a essa execução. Ele é constituído de diversas fontes previstas
na norma.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

A Abratel questionava dispositivos inseridos na norma de 1966 pela Lei 9.472/1997, que
estabeleceu a cobrança sobre o exercício de outorga do uso de radiofrequência e instituiu as
Taxas de Fiscalização de Instalação e de Fiscalização de Funcionamento devidas pelas
operadoras de telecomunicações e de radiofrequência. Entre outros pontos, a entidade
sustentou violação do artigo 145, inciso II, da Constituição Federal, sob o argumento de que as
taxas só devem ser cobradas em razão do exercício do poder de polícia ou da utilização, efetiva
ou potencial, de serviços públicos divisíveis e específicos.
Fiscalização
No entanto, segundo a ministra Rosa Weber, as taxas, no caso, são válidas, pois a fiscalização
efetivada pela Anatel se insere no seu poder de polícia, que abrange os serviços de radiodifusão,
conforme o artigo 211 da Lei 9.472/1997. “Trata-se de tributo vinculado quanto ao fato
gerador”, afirmou.
Isonomia
A ministra também afastou o argumento da Abratel de que as taxas beneficiariam unicamente
o setor de telecomunicações, apesar de também serem cobradas do setor de radiodifusão.
Segundo a relatora, os recursos do Fistel são empregados pela Anatel em ações que também
incluem esses serviços.

30/06

Alíquota maior de ICMS de energia elétrica e comunicações em SC e


no DF é inválida, decide STF

Foi aplicado o entendimento da Corte de que não podem incidir sobre esses serviços essenciais
alíquotas maiores que as previstas para as operações em geral.
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucionais dispositivos de leis de
Santa Catarina e do Distrito Federal que fixam alíquota do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre energia elétrica e serviços de comunicação em percentual
superior à alíquota geral. A decisão se deu por unanimidade, na sessão virtual finalizada em
24/6, no julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) 7117 e 7123, ajuizadas
pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.
Em seu voto pela procedência dos pedidos, o relator, ministro Dias Toffoli, explicou que deve
ser aplicado às duas ações o entendimento firmado pelo Supremo no julgamento do Recurso
Extraordinário (RE) 714139 (Tema 745 da repercussão geral). Na ocasião, o Plenário assentou
que, na hipótese de a lei estadual adotar a seletividade no ICMS (quando a tributação é
diferenciada de acordo com a essencialidade dos produtos e mercadorias), as alíquotas
incidentes sobre energia elétrica e serviços de telecomunicação, que são itens essenciais, não
podem ser maiores do que a incidente sobre as operações em geral.
Essa decisão produzirá efeitos a partir do exercício financeiro de 2024, ficando ressalvadas as
ações ajuizadas até 5/2/21 (data do início do julgamento do mérito). A mesma modulação foi
adotada nas duas ações diretas de inconstitucionalidade.
Dispositivos

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

Na ADI 7117, foi invalidado dispositivo da Lei 10.297/1996 de Santa Catarina que prevê que a
alíquota para operações com energia elétrica e prestações de serviços de comunicação é de
25%. A norma estadual estabelece a alíquota de 17% para as operações em geral.
Na ADI 7123, foi declarada a inconstitucionalidade de regras da Lei 1.254/1996 do Distrito
Federal que preveem as alíquotas de 28% para os serviços de comunicação e de 21% e 25% para
energia elétrica, de acordo com o tipo de consumidor e faixa de consumo. A alíquota geral do
ICMS fixada na lei do DF é de 18%.

Ministro Barroso prorroga até 31 de outubro decisão que suspende


despejos e desocupações

Decisão que estende o prazo de medida cautelar considera a alta nas taxas da pandemia de covid e
será submetida a referendo do Plenário, em sessão extraordinária.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso prorrogou até 31 de outubro
deste ano a suspensão de despejos e desocupações, em razão da pandemia de covid-19, de
acordo com os critérios previstos na Lei 14.216/2021.
A decisão foi tomada na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 828.
Nela, o ministro ressalta que a nova data determinada evita qualquer superposição com o
período eleitoral.
O ministro destacou que, após um período de queda nos números da pandemia, houve, em
junho, uma nova tendência de alta. Ele informou que, entre os dias 19 e 25 de junho deste ano,
o Brasil teve a semana epidemiológica com mais casos desde fevereiro, em todo o território
nacional.
Para Barroso, diante desse cenário, em atenção aos princípios da cautela e precaução, é
recomendável a prorrogação da medida cautelar, que já havia sido deferida, pela segunda vez,
em março deste ano. Ainda segundo ele, com a progressiva superação da crise sanitária, os
limites da sua jurisdição se esgotarão e, por isso, é necessário estabelecer um regime de
transição para o tema.
Medida temporária
Para o ministro, a suspensão não deve se estender de maneira indefinida. “Embora possa caber
ao STF a proteção da vida e da saúde durante a pandemia, não cabe a ele traçar a política
fundiária e habitacional do país”, afirmou na decisão.

Ele registrou ainda que está em trâmite na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 1.501/2022,
com o objetivo de disciplinar medidas sobre desocupação e remoção coletiva forçada. “É
recomendável que esta Corte não implemente desde logo um regime de transição, concedendo
ao Poder Legislativo um prazo razoável para disciplinar a matéria”, disse.

Na decisão, o ministro intimou a União, o Distrito Federal e os estados, assim como a Presidência
dos Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais para ciência e imediato cumprimento da
decisão. Ele também intimou, para ciência, as Presidências da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, o Conselho Nacional de Direitos Humanos e o Conselho Nacional de Justiça.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

Por fim, o relator solicitou à Presidência do STF a convocação de sessão extraordinária do


Plenário Virtual (PV) para análise do referendo da decisão. Atendendo ao pedido, o ministro Luiz
Fux convocou sessão extraordinária para apreciação da matéria, que ocorrerá entre a 0h do
próximo dia 4/8 com término previsto no dia 5/8, às 23h59.

Cancelamento de precatórios não resgatados em dois anos é


inconstitucional, decide STF

Para a maioria do Plenário, a indisponibilidades de valores não sacados pelo credor afronta os
princípios da segurança jurídica, da garantia da coisa julgada e do devido processo legal.
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), na sessão desta quinta-feira (30), declarou que o
cancelamento, pelas instituições financeiras, de precatórios e Requisições de Pequeno Valor
(RPV) federais que não forem resgatados no prazo de dois anos é inconstitucional. Para a maioria
da Corte, essa restrição temporal não está prevista na disciplina constitucional sobre a matéria.
A decisão se deu no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5755, proposta
pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) para invalidar a Lei 13.463/2017. O partido
argumentava, entre outros aspectos, que não cabe à lei transferir às instituições financeiras
controladas pelo Poder Executivo a competência para gerir os precatórios, atribuída pela
Constituição exclusivamente ao Poder Judiciário.
Segurança jurídica
Prevaleceu no julgamento o voto da relatora, ministra Rosa Weber, proferido na sessão de
quarta-feira (29), no sentido de que, ao prever a indisponibilidades de valor devido ao credor, a
lei afronta os princípios da segurança jurídica, da garantia da coisa julgada (decisões judiciais
definitivas) e do devido processo legal.
Ao acompanhar a relatora, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que a lei questionada criou
restrição temporal ao exercício do direito de recebimento do precatório, inovando a disciplina
constitucional sobre a matéria. A seu ver, essa espécie de cancelamento pelo mero decurso do
tempo vai de encontro ao princípio da separação de Poderes e da efetividade da jurisdição, na
medida em que cria obstáculo ao cumprimento de condenações judiciais.
Para o ministro Edson Fachin, o direito é consumado apenas com o saque do dinheiro. A
ausência do resgate, no entanto, não significa a perda do direito ao recebimento. Nesse sentido,
no entendimento da ministra Cármen Lúcia, não é suficiente que haja o direito, mas é necessário
que ele seja de fato efetivado por meio do saque. Seguiram essa corrente os ministros Dias
Toffoli e Ricardo Lewandowski.
Intimação prévia
Ficaram vencidos, em parte, os ministros Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Nunes Marques,
André Mendonça e Luiz Fux. Para eles, o cancelamento é válido, desde que precedido de
intimação pessoal do credor pelo Juízo da Execução, em observância ao princípio do devido
processo legal.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

Na avaliação do ministro Gilmar Mendes, a medida é necessária para evitar a perpetuação da


desídia do credor, além de estabelecer prazo para que o saque ocorra, não ofendendo, assim, o
direito de propriedade.

Associações pedem que STF garanta possibilidade de aborto nas


hipóteses previstas em lei

A ação é assinada por entidades que representam setores sociais e científicos e atuam na efetivação
da saúde pública e dos direitos humanos.
Quatro entidades da sociedade civil ingressaram com uma Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF 989) em que pedem que Supremo Tribunal Federal (STF)
determine a adoção de providências para assegurar a realização do aborto nas hipóteses
permitidas no Código Penal e no caso de gestação de fetos anencéfalos. Elas afirmam que a
proteção dada às mulheres e às meninas vítimas de estupro que precisem interromper a
gestação é insuficiente e caracteriza uma segunda violência, desta vez por parte do Estado.
De acordo com o Código Penal (artigo 128, incisos I e II), o aborto não é passível de punição
quando realizado por médico para salvar a vida da gestante ou quando a gravidez resulta de
estupro. Já no julgamento da Arguição de Preceito Fundamental (ADPF 54), em 2012, o STF
afastou a criminalização no caso de gestação de feto anencéfalo.
A ação é assinada pela Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), pela Associação Brasileira de
Saúde Coletiva (Abrasco), pelo Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) e pela Associação
Rede Unida, que integram a “Frente pela Vida”. Elas reconhecem que o tema é sensível, mas
sustentam que a legislação brasileira é clara ao afirmar o dever do Estado de assegurar o aborto
nesses casos.
Além das dificuldades de acesso, estrutura e informação, as entidades ressaltam que, neste mês,
o Ministério da Saúde editou protocolo de restrição à realização do aborto nos casos previstos
em lei, orientando que os profissionais da saúde só realizem o procedimento até a idade
gestacional de 22 semanas. Por esse motivo, pedem que o Supremo ordene que o Poder
Executivo, em suas diversas esferas, efetive os direitos fundamentais de vítimas de estupro.
“Cuida-se, apenas e tão somente, de dar aplicabilidade à lei, fazendo cessar o comportamento
omissivo e comissivo que reiteradamente a desrespeita”, ressaltam, citando recentes casos de
descumprimento da lei noticiados pela imprensa.
As autoras da ação pedem ao STF que declare a inconstitucionalidade de qualquer ato do Estado,
especialmente do Ministério da Saúde e do Poder Judiciário, que restrinja a possibilidade de
realização de aborto nas hipóteses previstas no Código Penal e na ADPF 54 ou que imponham
burocracia ou barreiras, como exigências não previstas em lei. Outro pedido é que seja
reconhecida a omissão do Ministério da Saúde em fornecer informações adequadas, em seus
canais de comunicação oficiais ou de atendimento ao público, sobre os procedimentos para a
realização de aborto nas hipóteses legais.
A ação foi distribuída ao ministro Edson Fachin.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

01/07

Ministro Nunes Marques autoriza Estado de Minas Gerais a pedir


adesão ao RRF

Segundo o ministro, as circunstâncias do caso concreto revelam um quadro de bloqueio institucional


no estado que justificam a atuação do STF.
O ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o governo de Minas
Gerais a tomar as providências necessárias à formalização do pedido de adesão ao Regimento
de Recuperação Fiscal (RFF) junto ao Ministério da Economia. Ele reconheceu a omissão da
Assembleia Legislativa em apreciar projeto de lei sobre a adesão e considerou preenchido o
requisito da autorização legislativa para ingresso no programa. A decisão atende parcialmente
pedido de medida cautelar formulado na Arguição de Descumprimento Fundamental (ADPF)
983, ajuizada pelo governador Romeu Zema.
Colapso fiscal
O ministro explicou que a situação de desequilíbrio fiscal dos estados, agravada pela pandemia
da covid-19, é amplamente conhecida, e o Regime de Recuperação Fiscal instituído pela Lei
Complementar 159/2017 foi pensado para fomentar o ajuste estrutural das contas públicas e a
sustentabilidade econômico-financeira dos entes subnacionais. No caso de Minas Gerais, o
ministro verificou que a adesão ao RFF é indispensável para que o estado não entre em colapso
fiscal.
Omissão legislativa
Nunes Marques verificou que, apesar dos esforços do ente federado em alcançar as soluções
adequadas para o restabelecimento fiscal, as circunstâncias narradas nos autos sinalizam
omissão da Assembleia Legislativa mineira em apreciar o Projeto de Lei 1.202/2019, que, mesmo
depois de reapresentado, teve, uma vez mais, vencido o prazo de urgência. Como o Decreto
federal 10.681/2021 exige que a adesão conste de lei estadual, o relator considerou necessário
suprir a omissão legislativa que tem inviabilizado o relacionamento dos dois Poderes estaduais.
"Parece haver verdadeira falta de vontade e motivação política, bem como de harmonia em prol
do bem comum e da concretização dos direitos básicos da coletividade, enquanto os bloqueios
políticos e institucionais se traduzem em barreiras à efetividade dos direitos e garantias
fundamentais", afirmou.
Bloqueio institucional
Segundo o ministro, não compete ao Supremo determinar o deferimento do pedido de adesão,
pois se trata de atribuição legalmente conferida ao Ministério da Economia. Mas, a seu ver, é
prudente o deferimento parcial da tutela de urgência, de modo a reconhecer tanto a omissão
do Legislativo estadual quanto o estado de bloqueio institucional que se instaurou. Para Nunes
Marques, a medida por ele implementada "concede o suficiente para que o estado, mediante
atuação harmoniosa entre os Poderes, prossiga a passos próprios nos trilhos da recuperação da
saúde fiscal, com a consequente colocação em prática do plano de recuperação, a ser trabalhado
conjuntamente com a União".
Pacificação dos conflitos

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

O ministro ressaltou ainda que a intervenção judicial em contextos como o de Minas Gerais deve
promover o desbloqueio institucional e o movimento das engrenagens políticas, visando à
pacificação dos conflitos, mediante incentivos efetivos, "para que os atores políticos adiram
dialogicamente às suas competências constitucionais outrora negligenciadas”.
A decisão será submetida a referendo do Plenário.

STF começa a julgar cabimento de ADPF contra decisões judiciais


sobre adicional a servidores do PI

Na última sessão do semestre, a ministra Cármen Lúcia votou no sentido de manter sua decisão de
julgar incabível a ADPF. Análise do agravo será retomada em agosto.
Na sessão de encerramento do semestre, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou,
nesta sexta-feira (1º), o julgamento de agravo na Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) 495, que questiona decisões da Justiça do Piauí que têm reconhecido o
direito adquirido de servidores estaduais à forma de cálculo do adicional por tempo de serviço
definida em legislação vigente antes da Lei Complementar estadual 33/2003. A análise do
recurso será retomada em 3/8, na primeira sessão plenária depois do recesso.
O agravo foi interposto pelo governo do Piauí, autor da ação, contra decisão da relatora, ministra
Cármen Lúcia, que negou seguimento (julgou incabível) à ADPF, sob o entendimento de que não
foi cumprido o requisito da subsidiariedade, previsto na Lei 9.882/1999, segundo o qual não é
cabível a arguição quando houver outro meio eficaz de sanar a lesividade. O recurso estava em
julgamento no Plenário Virtual, mas o ministro Gilmar Mendes pediu destaque, levando-o ao
Plenário físico.
Nesta sexta-feira, a ministra Cármen Lúcia votou pela manutenção da sua decisão. Para ela, há
outras vias processuais adequadas para resolver a controvérsia, e o ajuizamento da ADPF seria
uma forma de adiantar ou suprimir vias processuais próprias.

Ministro Lewandowski autoriza contratação temporária de


professores em MG

A decisão vale até que o Plenário do STF julgue embargos em que Romeu Zema pede mais tempo
para cumprir a decisão do STF.
O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o Estado de
Minas Gerais a contratar professores sem vínculo durante o período da modulação dos efeitos
da decisão da Corte na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 915). Em
maio passado, o STF concluiu que leis mineiras de 1977 e 1986 que permitiam a convocação
temporária de profissionais, sem vínculo com a administração pública, para a educação básica e
superior do estado nos casos de vacância de cargo efetivo não foram recepcionadas pela
Constituição Federal.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

Para preservar a segurança jurídica e o interesse social dos envolvidos no julgamento da ação, o
Plenário modulou os efeitos da decisão para preservar os contratos já firmados por 12 meses, a
contar da publicação do acórdão da ADPF. O entendimento foi o de que, como foram efetivadas
inúmeras contratações de pessoal, seria injusto obrigar os contratados ou os próprios
contratantes a devolver aos cofres públicos as importâncias recebidas.
Mais tempo
Nos embargos de declaração apresentados, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema,
argumenta que o estado precisa de, no mínimo, cinco anos para fazer as alterações necessárias
em uma legislação vigente há mais de 40 anos. Segundo ele, não seria possível suprir
temporariamente as vacâncias definitivas de cargos de professor sem fazer contratações, ainda
que um novo concurso seja feito em tempo recorde. A modulação dos efeitos da decisão pelo
STF, embora com o objetivo de preservar o interesse público, impossibilita, a seu ver, a
continuidade da prestação do serviço e poderá ocasionar um “colapso do sistema de ensino
público estadual”.
De acordo com os números apresentados pelo governador, a título de exemplificação, entre
15/5 e 1º/6 deste ano, os afastamentos por licença para tratamento de saúde exigiram 4.596
contratações (70,1%), casos de gestação, maternidade e paternidade ocasionaram 451
contratações (6,9%) e as demais substituições (férias-prêmio, substituição de cargos etc)
resultaram em 1.508 contratações (23%).
Para Lewandowski, “diante desse gigantismo”, a modulação dos efeitos da decisão merece ser
rediscutida, pelo Plenário, no julgamento dos embargos de declaração apresentados pelo
governador, pautados para a sessão virtual que ocorrerá entre 5 e 15/8 próximos. A decisão
considera o melhor interesse dos alunos, que poderão ser prejudicados pela descontinuidade
do serviço, e as limitações impostas em razão do período eleitoral.

STF invalida regra que previa iniciativa do governador do ES para


propor leis sobre MP estadual

O entendimento adotado é que a Constituição Federal reservou aos procuradores-gerais de Justiça a


iniciativa de lei para estabelecer a organização do Ministério Público estadual.
O Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou entendimento de que o chefe do Poder Executivo
estadual não tem competência para propor leis que tratem da organização do Ministério Público
local. Na sessão virtual encerrada em 20/6, o Plenário julgou procedente o pedido formulado na
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 400 para invalidar regra da Constituição do Estado
do Espírito Santo que conferia ao governador competência privativa para a iniciativa de lei sobre
a matéria.
Em voto que prevaleceu no colegiado, o ministro Luís Roberto Barroso explicou que, na esfera
estadual, coexistem dois regimes de organização para o MP: o da Lei Orgânica Nacional (Lei
8.625/1993) e o da Lei Orgânica do estado, que delimita, em lei complementar de iniciativa do
procurador-geral de Justiça, a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério
Público.
Barroso ressaltou que, no julgamento da ADI 4142, de sua relatoria, o Plenário entendeu que,
em âmbito federal, os projetos de lei que tratem da organização do MP podem ser apresentados

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

pelos chefes tanto do Poder Executivo quanto do próprio Ministério Público, mas que essa lógica
não se aplica em âmbito estadual.
O ministro citou trecho daquele julgado em que a Corte assentou que a Constituição Federal,
com exclusividade, reservou aos procuradores-gerais de Justiça dos estados a iniciativa para lei
complementar para estabelecer a organização, as atribuições e o estatuto de cada MP. Assim, o
chefe do Poder Executivo estadual não tem competência para deflagrar o processo legislativo
de normas sobre a Lei Orgânica do Ministério Público local.
Com esse fundamento, Barroso votou pela procedência do pedido para invalidar a expressão
“do Ministério Púbico”, contida no artigo 63, parágrafo único, inciso V, da Constituição do Estado
do Espírito Santo. Seu voto foi seguido pela maioria do Plenário.
Relator
Ficou vencido o relator da ação, ministro Nunes Marques, que votou pela procedência parcial
do pedido para fixar interpretação de que a iniciativa do governador quanto à organização do
Ministério Público diz respeito à elaboração de normas gerais, em suplementação, diante do
interesse regional, da disciplina federal, cabendo ao procurador-geral de Justiça a iniciativa da
legislação complementar sobre organização, atribuições e estatuto do Ministério Público.

Ação de governadores sobre mudanças no ICMS será julgada direto


no Plenário

A ministra Rosa Weber pediu informações ao governo e ao Congresso, conforme prevê a legislação.
A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), requisitou informações ao
presidente da República, Jair Bolsonaro, à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal sobre a
norma que passou a classificar combustíveis, gás natural e outros itens como essenciais. Ela é
relatora da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7195, em que governadores de 11
estados e do Distrito Federal argumentam que a inovação promovida pela Lei Complementar
federal 194/2022, sancionada na semana passada, impede a fixação de alíquotas acima da
estabelecida para as operações em geral.
De acordo com os governadores de Pernambuco, Maranhão, Paraíba, Piauí, Bahia, Mato Grosso
do Sul, Rio Grande do Sul, Sergipe, Rio Grande do Norte, Alagoas, Ceará e Distrito Federal, a
medida impõe ônus excessivo e desproporcional aos entes federados, comprometendo a
continuidade dos serviços essenciais prestados à população.
As autoridades têm o prazo comum de 10 dias para prestarem as informações e,
sucessivamente, a Advocacia-Geral da União e a Procuradoria-Geral da República terão cinco
dias para manifestação.
Em razão da relevância e do especial significado da matéria para a ordem social e a segurança
jurídica, a relatora submeteu a ação ao rito abreviado previsto no artigo 12 da Lei 9.868/1999
(Lei das ADIs), que dispensa a análise liminar e autoriza o julgamento da ação pelo Plenário do
Supremo diretamente no mérito.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

Ministro Fachin pede que governo informe providências para


garantir aborto nas hipóteses legais

Segundo o ministro, o quadro narrado por entidades da sociedade civil com relação a ações e
omissões do poder público é bastante grave.
O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu informações ao Ministério
da Saúde e à Presidência da República, a serem prestadas no prazo de cinco dias, em ação que
pede providências do governo federal em relação à adoção de medidas para assegurar a
realização do aborto nas hipóteses permitidas no Código Penal e no caso de gestação de fetos
anencéfalos.
De acordo com o despacho na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF
989), após a resposta do governo, os autos devem ser remetidos à Procuradoria-Geral da
República (PGR), para que se manifeste no prazo de três dias.
Proteção insuficiente
A ADPF foi ajuizada por entidades que representam setores sociais e científicos e atuam na
efetivação da saúde pública e dos direitos humanos, que pedem que o Supremo ordene ao
Poder Executivo, em suas diversas esferas, a efetivação dos direitos fundamentais de vítimas de
estupro. Elas apontam dificuldades de acesso, estrutura e informação e ressaltam que, neste
mês, o Ministério da Saúde editou protocolo de restrição à realização do aborto nos casos
previstos em lei, orientando que os profissionais da saúde só façam o procedimento até a 22ª
semana de gestação.
Na avaliação das entidades, a proteção dada às mulheres e às meninas vítimas de estupro que
precisem interromper a gravidez é insuficiente e caracteriza uma segunda violência, desta vez
por parte do Estado.
Quadro grave
No despacho, o relator destacou que o quadro narrado na ação é bastante grave e parece
apontar para um padrão de violação sistemática do direito das mulheres. “Se nem mesmo as
ações que são autorizadas por lei contam com o apoio e o acolhimento por parte do Estado, é
difícil imaginar que a longa história de desigualdade entre homens e mulheres possa um dia ser
mitigada”, disse.
No pedido de informações, o ministro ressaltou ainda que, apesar da gravidade das alegações,
a Lei das ADIs (Lei 9868/1999) recomenda a cautela de ouvir dos órgãos responsáveis pela
omissão apontada, antes do exame da medida cautelar.

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STJ
27/06 a 01/07

Notícias do STJ mais relevantes para o cargo de DELEGADO DE POLÍCIA

• Quinta Turma nega soltura de ex-vereador acusado de mandar matar sindicalista rival em
Belo Horizonte.

• Quinta Turma considera peculato inaplicável a dirigentes do Sistema S e tranca ações


contra ex-presidente do Sest/Senat.

• Site de prostituição que retirou anúncio sem conteúdo sexual e a pedido da vítima não
responde por dano moral.

• Sexta Turma mantém prisão preventiva de homem flagrado ao transportar mais de 118
kg de cocaína em Goiás.

Demais notícias importantes do STJ

• Quarta Turma afasta responsabilidade do Metrô de São Paulo por morte de passageira
que caiu na linha após desmaio.

• Segunda Seção vai definir, em repetitivo, se demora excessiva em fila de banco gera dano
moral presumido.

• Prazo para apresentação do pedido principal nos autos de tutela cautelar é contado em
dias úteis.

• Primeira Seção altera tese repetitiva para permitir inclusão do ICMS na base de cálculo da
CPRB.

• Para Segunda Turma, decisão do STF não impede concessionária de rodovia de cobrar por
uso da faixa de domínio.

• Primeira Seção fixa teses para o bloqueio de ativos do executado pelo BacenJud em caso
de parcelamento fiscal.

• Segunda Seção confirma possibilidade de produtor rural inscrito em Junta Comercial pedir
recuperação.

• Na recuperação judicial, produtos agrícolas não podem ser enquadrados como bens de
capital essenciais.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

• Franqueador responde solidariamente apenas por falhas do franqueado em serviços


relacionados à franquia.

• Quarta Turma aplica instituto da surrectio e mantém curatelado no plano de saúde da


irmã.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

27/06

Quarta Turma afasta responsabilidade do Metrô de São Paulo por


morte de passageira que caiu na linha após desmaio

A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que não houve responsabilidade
objetiva da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) na morte de uma passageira que
caiu nos trilhos e foi atropelada pelo trem após sofrer mal súbito. Para o colegiado, não foi
provado o nexo de causalidade entre a conduta da empresa e o dano.
O acidente ocorreu em outubro de 2010, na estação de Barra Funda. O viúvo e os filhos da
falecida, que tinha 29 anos na época, ajuizaram pedido de indenização por danos morais e
materiais, apontando que o serviço prestado pela companhia teria sido defeituoso, pois era sua
obrigação transportar a usuária ilesa ao destino.
Omissão da concessionária ou culpa exclusiva da vítima
Na primeira instância, os pedidos foram julgados improcedentes. A decisão foi reformada pelo
Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), o qual entendeu que houve defeito na prestação do
serviço e omissão do transportador, pois a estação não tinha as chamadas "portas de
plataforma", que mantêm os passageiros isolados do espaço dos trilhos enquanto o trem não
chega. Por reconhecer a responsabilidade objetiva da empresa, a corte estadual concluiu que
ela deveria indenizar os familiares da vítima mesmo na ausência de culpa.
Em recursos ao STJ, o Metrô de São Paulo e sua seguradora sustentaram que, na
responsabilidade objetiva, é preciso haver a demonstração do nexo causal entre os danos
sofridos pela vítima e a atividade do agente supostamente causador desses danos.
Alegaram ainda que não houve defeito no serviço, pois o acidente teria ocorrido por culpa
exclusiva da passageira, que, sendo portadora de epilepsia e apresentando sintomas de crise,
como dores de cabeça, preferiu entrar sozinha na estação, em vez de procurar atendimento
médico.
Nexo de causalidade é essencial para comprovar a responsabilidade objetiva
Relator dos recursos, o ministro Luis Felipe Salomão destacou que, na discussão sobre
responsabilidade objetiva, é preciso examinar com atenção o nexo de causalidade, cuja ausência
é o único meio de excluir o dever de indenizar.
Ele afirmou não haver dúvidas de que o "lamentável e fatídico" acidente decorreu de caso
fortuito – a convulsão sofrida pela passageira na estação –, que não seria possível antever ou
prevenir.
"Não há, no caso ora examinado, segundo penso, como considerar, à luz da teoria da
causalidade adequada, a conduta da ré causa específica e determinante para o evento danoso,
pois o risco de a passageira cair na linha férrea, sem que seja por fatores ligados à própria
organização do serviço, é fortuito externo, isto é, o risco não está abrangido pela esfera
imputável objetivamente à concessionária de serviço público", disse o magistrado.
O serviço estava funcionando em condições normais
O relator lembrou que, no âmbito das relações de consumo, somente existe responsabilidade
civil por fato do produto ou do serviço quando houver defeito, e desde que esse defeito seja a

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

causa dos danos sofridos pelo consumidor – o que não ocorreu, pois o serviço estava
funcionando em condições normais, inclusive quanto à fiscalização do local.
Salomão considerou, também, que o sistema de "portas de plataforma" ainda estava no início
de sua implantação no metrô paulistano quando houve o acidente, e mesmo hoje não chegou a
todas as estações. Segundo ele, nem países com altíssimo nível de desenvolvimento dispõem
desse recurso ao longo de todas as linhas de metrô.
"Em sendo confirmado o entendimento da corte local e considerado o serviço defeituoso, estar-
se-ia tacitamente a impor o dever, em violação da tripartição de poderes, de a companhia
instalar imediatamente a tecnologia mais moderna de segurança, sem qualquer necessário
criterioso exame das repercussões econômicas e dos efeitos externos da decisão, como eventual
abrupto aumento do preço da tarifa de transporte", declarou o ministro.

Segunda Seção vai definir, em repetitivo, se demora excessiva em fila


de banco gera dano moral presumido

A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) afetou o Recurso Especial 1.962.275 para
julgamento sob o rito dos recursos repetitivos. O processo discute se a lentidão excessiva para
atendimento bancário presencial, em tempo superior aos definidos em legislação específica,
gera dano moral presumido (in re ipsa) – modalidade em que o consumidor não precisa
comprovar ocorrência efetiva do prejuízo.
Diante da afetação, foi suspensa a tramitação dos recursos especiais ou agravos em recursos
especiais em segunda instância ou no STJ que tratam da mesma matéria.
O ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, relator do processo, entende que a afetação "se justifica
"porque existe número expressivo de processos com fundamento em idêntica questão de
direito", o que evidencia o caráter multitudinário da controvérsia. Importante destacar que a
controvérsia se relaciona ao Tema 1.156.
O magistrado apontou diversos precedentes do STJ que indicam o atual posicionamento da corte
no sentido de que a mera violação de lei, que estabelece o tempo máximo de espera em fila de
banco, não é suficiente para ensejar o direito à indenização, se ausente a comprovação de
ofensa aos direitos de personalidade.
Para TJGO, demora excessiva ocasiona dano moral presumido
O recurso representativo da controvérsia foi interposto pelo Banco do Brasil contra acórdão do
Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO), proferido em Incidente de Resolução de Demandas
Repetitivas (IRDR). Para o TJGO, a demora de atendimento bancário em prazo superior aos
definidos em legislação específica gera dano moral indenizável. Segundo o tribunal estadual,
apesar de presumido, esse dano admite a produção de prova em contrário.
Ao STJ, o banco alega que não houve efetiva repetição de processos acerca da controvérsia
jurídica para que o tema fosse elevado à IRDR e que inexiste a prova do dano alegado no caso
concreto.
Recursos repetitivos
O Código de Processo Civil de 2015, nos artigos 1.036 e seguintes, regula o julgamento por
amostragem, mediante a seleção de recursos especiais que tenham controvérsias idênticas. Ao

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

afetar um processo – ou seja, encaminhá-lo para julgamento sob o rito dos repetitivos –, os
ministros facilitam a solução de demandas que se repetem nos tribunais brasileiros.
A possibilidade de aplicar o mesmo entendimento jurídico a diversos processos gera economia
de tempo e segurança jurídica. Na página do STJ, é possível acessar todos os temas afetados,
bem como conhecer a abrangência das decisões de sobrestamento e as teses jurídicas firmadas
nos julgamentos, entre outras informações.
 Leia o acórdão de afetação do REsp 1.962.275.

28/06

Prazo para apresentação do pedido principal nos autos de tutela


cautelar é contado em dias úteis

Para a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o prazo de 30 dias para apresentação
do pedido principal nos mesmos autos da tutela cautelar requerida em caráter antecedente –
previsto no artigo 308 do Código de Processo Civil de 2015 (CPC/2015) – possui natureza
processual e deve ser contado em dias úteis.
O colegiado reformou acórdão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), que julgou extinto,
sem resolução de mérito, o pedido principal apresentado por uma empresa de hematologia, por
entender que o prazo de 30 dias seria decadencial e, por isso, deveria ser contado em dias
corridos.
A empresa ajuizou pedido de tutela de urgência de natureza cautelar e antecedente, requerendo
liminar para impedir a rescisão unilateral e imotivada do contrato de prestação de serviços de
hemoterapia com um hospital.
A cautelar foi deferida parcialmente para manter a relação contratual por 90 dias. No entanto,
apresentado o pedido principal nos mesmos autos, tanto o juízo de primeiro grau quanto o TJRJ
entenderam que ele era intempestivo.
Prazo do CPC de 2015 tem natureza processual e deve ser contado em dias úteis
Segundo o relator do recurso no STJ, ministro Antonio Carlos Ferreira, a jurisprudência da corte
é unânime ao considerar decadencial a natureza jurídica do prazo previsto no artigo 806 do
CPC/1973, que estabelecia o prazo de 30 dias para a propositura da ação principal após a
efetivação de medida cautelar preparatória.
A divergência, afirmou o magistrado, surgiu apenas com a vigência do novo CPC, que trouxe uma
importante alteração ao estabelecer que o pedido principal deve ser formulado pelo autor nos
mesmos autos da tutela cautelar deferida.
"Logo, pelo código vigente, não se trata mais de lapso temporal para ajuizamento de uma ação,
sujeita, por exemplo, aos prazos materiais de prescrição e decadência, mas sim de prazo para a
prática de um ato interno do processo, com previsão de ônus processual no caso do seu
descumprimento", explicou.
Para o ministro, estando o prazo do artigo 308 do CPC/2015 diretamente relacionado à prática
de um ato processual de peticionamento e, consequentemente, à efetivação da prestação

30
NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

jurisdicional, "possui, por desencadeamento lógico, natureza processual, a ensejar a aplicação


da forma de contagem em dias úteis estabelecida no artigo 219 do CPC/2015".
Antonio Carlos Ferreira lembrou que, nessa mesma lógica, a Terceira Turma firmou
entendimento segundo o qual o prazo de 15 dias do artigo 523 do CPC/2015, para pagamento
do débito advindo de condenação em quantia certa, possui natureza jurídica processual e deve
ser contado em dias úteis.

Primeira Seção altera tese repetitiva para permitir inclusão do ICMS


na base de cálculo da CPRB

Em juízo de retratação, a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) alterou a tese
fixada no Tema 994 dos recursos repetitivos, que passou a vigorar com a seguinte redação: "é
constitucional a inclusão do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na base
de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB)".
Segundo a relatora, ministra Regina Helena Costa, no julgamento do repetitivo, em 2019, foi
afastada a incorporação do montante do imposto estadual na base de cálculo da CPRB, pois "se
entendeu ausente a materialidade da hipótese de incidência, vale dizer, a receita bruta".
Contudo, a ministra destacou que, em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgar o Tema
1.048 da repercussão geral, fixou tese vinculante em sentido contrário, para permitir essa
incorporação. Desde então, esse entendimento também passou a ser adotado pelas turmas de
direito público do STJ.
"Nesse contexto, suplantado o entendimento encartado em tese repetitiva por ulterior
posicionamento vinculante contrário do STF, impõe-se o ajuste do seu enunciado – e não o seu
mero cancelamento –, porquanto a ausência de precedente qualificado deste STJ obstaria a
negativa de seguimento, na origem, aos recursos especiais interpostos (artigo 1.030, I, b, do
Código de Processo Civil), impactando, desfavoravelmente, a gestão do acervo recursal das
cortes ordinárias", explicou.
Em razão disso, o colegiado negou provimento ao REsp 1.638.772, representativo da
controvérsia, no qual uma empresa pedia a reforma de acórdão do Tribunal Regional Federal da
1ª Região que manteve o ICMS na base de cálculo do CPRB.
 Leia o acórdão no REsp 1.638.772.

Para Segunda Turma, decisão do STF não impede concessionária de


rodovia de cobrar por uso da faixa de domínio

A Segunda Turma entendeu que a decisão do Supremo Tribunal Federal no Recurso


Extraordinário 581.947 (Tema 261 da repercussão geral) não afetou a jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) segundo a qual é possível a cobrança pelo uso da faixa de
domínio administrada pelas concessionárias de rodovia.

31
NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

No julgamento do tema sob repercussão geral, o STF estabeleceu que "é inconstitucional a
cobrança de taxa, espécie tributária, pelo uso de espaços públicos dos municípios por
concessionárias prestadoras do serviço público de fornecimento de energia elétrica".
A decisão teve origem em ação ajuizada pela concessionária da Rodovia Presidente Dutra – que
liga São Paulo ao Rio de Janeiro – contra a Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo,
com o objetivo de obter remuneração pela instalação de postes de cabos de energia em área
integrante do lote de concessão.
Lei 8.987/1995 prevê cobrança pelo uso da faixa de domínio de rodovias
Na primeira instância, a ação foi julgada improcedente, decisão mantida pelo Tribunal de Justiça
de São Paulo (TJSP), ao fundamento de que a cobrança não seria possível porque as faixas de
domínio são bens públicos de uso comum do povo, prevalecendo, nesse caso, o interesse
público.
Interposto recurso ao STJ pela concessionária da rodovia, o acórdão do TJSP foi reformado com
base no entendimento da Primeira Seção de que, havendo previsão contratual de fontes de
receita alternativas, é possível cobrar da outra concessionária pela passagem de linha de energia
na faixa de domínio, nos termos do artigo 11 da Lei 8.987/1995.
A Eletropaulo interpôs recurso extraordinário para o STF, o qual ficou sobrestado. Julgado o
Tema 261, o processo voltou a julgamento na Segunda Turma, para eventual juízo de retratação
à luz do entendimento com repercussão geral.
Cobrança exige autorização do poder concedente e previsão contratual
O relator, ministro Francisco Falcão, afirmou que a situação colocada em julgamento não se
amolda ao que foi julgado pelo STF, visto que o Tema 261 não tratou de rodovia concedida, mas
sim da exploração direta da via pública pelo próprio poder público.
O magistrado destacou que já existem precedentes nesse sentido, tanto na Primeira quanto na
Segunda Turma do STJ, como o REsp 1.677.414, os EDcl no AgInt no AREsp 1.760.845 e o AgInt
no AREsp 1.607.050.
Conforme esses precedentes, o fato de os entes da federação não poderem cobrar pela
utilização de vias públicas – inclusive solo, subsolo e espaço aéreo – para a instalação de
equipamentos destinados à prestação de serviço público não impede que as concessionárias de
rodovia cobrem pelo uso das faixas de domínio, desde que essa cobrança esteja autorizada pelo
poder concedente e expressamente prevista no contrato de concessão.
"Diante da disposição contratual respectiva, a hipótese se amolda aos precedentes desta corte
e, por outro lado, não se enquadra no disposto no Tema 261/STF", concluiu o relator.
 Leia o acórdão no REsp 1.251.496.

29/06

Primeira Seção fixa teses para o bloqueio de ativos do executado


pelo BacenJud em caso de parcelamento fiscal

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Em julgamento no rito dos recursos repetitivos, a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) fixou orientações para o bloqueio de ativos financeiros do executado via sistema BacenJud,
em caso de concessão de parcelamento fiscal: 1) será levantado o bloqueio se a concessão for
anterior à constrição; e 2) fica mantido o bloqueio se a concessão ocorre em momento posterior
à constrição, ressalvada, nessa hipótese, a possibilidade excepcional de substituição da
penhora on-line por fiança bancária ou seguro garantia, diante das peculiaridades do caso
concreto, mediante comprovação irrefutável, a cargo do executado, da necessidade de
aplicação do princípio da menor onerosidade.
Segundo o relator do Tema 1.012, ministro Mauro Campbell Marques, a jurisprudência do STJ
há muito já firmou entendimento no sentido de que o parcelamento de créditos tributários, na
forma do artigo 151, VI, do Código Tributário Nacional (CTN), suspende a sua exigibilidade,
acarretando, por consequência, a suspensão da execução fiscal.
Contudo, lembrou, o parcelamento não afasta a constrição de valores bloqueados
anteriormente, "de modo que a suspensão da exigibilidade decorrente de parcelamento
mantém a relação jurídica processual no estado em que ela se encontra, isto é, se inexiste
penhora, a suspensão do feito obsta a realização posterior de medidas constritivas, ao menos
enquanto o parcelamento estiver vigendo; de outro lado, as medidas de constrição já efetivadas
deverão ser preservadas até a integral quitação ou a eventual rescisão do parcelamento".
Legislação relativa ao parcelamento do crédito tributário
O ministro ressaltou que a Corte Especial, no julgamento de arguição de inconstitucionalidade
no REsp 1.266.316, em 2014, concluiu que o parcelamento do crédito tributário – com
fundamento nos artigos 10 e 11, segunda parte, da Lei 11.941/2009, e 151, VI, do CTN – não
determina o cancelamento da penhora ou o desbloqueio de bens, consequência liberatória
reservada pela lei apenas a situações em que a penhora de bens na execução judicial ocorra
após o parcelamento.
De acordo com o relator, a legislação relativa aos parcelamentos fiscais pode prever ou não a
necessidade de apresentação de garantia idônea e suficiente como condição à concessão do
parcelamento. Como exemplo, citou o parágrafo 1º do artigo 11 da Lei 10.522/2002.
"Havendo ou não, conforme previsão legal, a necessidade de garantia do débito para fins de
concessão de parcelamento fiscal, as leis federais que veiculam parcelamentos fiscais trazem
em seu bojo, via de regra, a determinação de manutenção das garantias ou dos gravames
prestados em execução fiscal ou medida cautelar fiscal, conforme o caso, na hipótese de
concessão do parcelamento, ou seja, a adesão do contribuinte ao benefício fiscal não implica a
liberação dos bens e direitos que tenham sido constituídos em garantia dos valores objeto do
parcelamento", afirmou.
Não há diferenciação de bens na regra de manutenção das garantias já prestadas
Para o magistrado, não prospera o argumento que pretende diferenciar o dinheiro em depósito
ou em aplicação financeira, bloqueado via sistema BacenJud, dos demais bens passíveis de
penhora ou constrição, visto que não há diferença quanto ao bem dado em garantia na
legislação que trata da manutenção das garantias do débito objeto do parcelamento fiscal, "não
cabendo ao intérprete fazê-lo, sob pena de atuar como legislador positivo, em violação ao
princípio da separação dos poderes".
Na avaliação do ministro, o entendimento pela manutenção do bloqueio de ativos financeiros
mediante o sistema BacenJud, quando da adesão do contribuinte a programa de parcelamento
fiscal, harmoniza-se com precedente da Primeira Seção (Tema 578), em que se estabeleceu que
a Fazenda Pública pode recusar bem oferecido à penhora quando não observada a ordem legal

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

de preferência (na qual o dinheiro – em espécie, em depósito ou em aplicação financeira – figura


em primeiro lugar), sendo ônus da parte executada comprovar a necessidade de afastamento
dessa ordem, inexistindo a preponderância, em abstrato, do princípio da menor onerosidade
para o devedor sobre a efetividade da tutela executiva.
Excepcionalidade da substituição do tipo de penhora após o parcelamento fiscal
Mauro Campbell Marques esclareceu que, embora não seja possível a simples liberação dos
ativos bloqueados em caso de posterior concessão de parcelamento fiscal, existem hipóteses de
substituição da penhora de dinheiro por fiança bancária ou seguro garantia, a teor do artigo 15,
I, da Lei 6.830/1980.
O ministro ressaltou, contudo, que não existe direito subjetivo a obter a substituição da penhora
de ativos financeiros por fiança bancária ou seguro garantia, de modo que a substituição
somente pode ocorrer de forma excepcional, diante das peculiaridades do caso concreto,
mediante comprovação irrefutável, a cargo do executado, perante a autoridade judicial, da
necessidade de aplicação do princípio da menor onerosidade.
 Leia o acórdão no REsp 1.696.270.

Segunda Seção confirma possibilidade de produtor rural inscrito em


Junta Comercial pedir recuperação

A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), sob o rito dos recursos repetitivos (Tema
1.145), estabeleceu que, ao produtor rural que exerça sua atividade de forma empresarial há
mais de dois anos, é facultado requerer a recuperação judicial, desde que esteja inscrito na Junta
Comercial no momento em que formalizar o pedido, independentemente do tempo de registro.
A tese fixada no rito dos repetitivos orienta os juízes e tribunais de todo o país no julgamento
de casos semelhantes. Além de confirmar posição firmada nas duas turmas de direito privado
do STJ, a seção levou em consideração a Lei 14.112/2020, que introduziu na Lei de Recuperação
e Falência o artigo 70-A, segundo o qual é permitido ao produtor rural apresentar plano especial
de reestruturação.
Participaram do julgamento, como amici curiae, a Federação Brasileira de Bancos e a
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.
Inscrição de empresário na Junta Comercial é ato declaratório
Segundo o relator dos recursos especiais, ministro Luis Felipe Salomão, como forma de preservar
a atividade empresarial, a legislação conferiu legitimidade ativa para o requerimento da
recuperação judicial ao titular da atividade empresária em crise econômica, seja ele empresário
individual ou sociedade empresária.
O ministro observou que, nos moldes definidos pelo Código Civil, o exercício profissional da
atividade econômica está associado à habitualidade, pessoalidade e à sua organização. O
mesmo código prevê, em seu artigo 967, a inscrição do empresário no Registro Público de
Empresas Mercantis – ato que, conforme precedentes do STJ, apenas declara a condição de
empresário, ou seja, não possui finalidade constitutiva.
Nesse sentido, Salomão apontou que, também no caso do produtor rural, a qualidade de
empresário deve ser atestada sempre que seja comprovado o exercício profissional de atividade

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econômica rural organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços,


independentemente de inscrição na Junta Comercial.
Para o ministro, de acordo com esse raciocínio, a inscrição do produtor rural na Junta Comercial
não o transforma em empresário, mas apenas "acarreta sua sujeição ao regime empresarial,
descortinando-se, então, uma série de benefícios e ônus de titularidade apenas daqueles que se
registram na forma preconizada no artigo 968 do Código Civil de 2002".
Lei não exige tempo de registro do produtor rural para o pedido de recuperação
Em relação à recuperação judicial, Salomão destacou que, nos termos do artigo 48 da Lei
11.101/2005, poderá requerê-la o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente
suas atividades há mais de dois anos.
"Assim, quanto ao produtor rural, a condição de procedibilidade da recuperação judicial estará
satisfeita sempre que realizado o registro na forma da lei e comprovada a exploração da
atividade rural de forma empresarial por mais de dois anos", afirmou.
As turmas de direito privado do STJ, segundo o relator, entendem que, apesar da necessidade
de registro anterior ao requerimento da recuperação, não há exigência legal de que esse registro
tenha ocorrido dois anos antes da formalização do pedido.
"O registro permite apenas que, nas atividades do produtor rural, incidam as normas previstas
pelo direito empresarial. Todavia, desde antes do registro, e mesmo sem ele, o produtor rural
que exerce atividade profissional organizada para a produção de bens e a prestação de serviços
já é empresário", concluiu o ministro ao estabelecer a tese repetitiva.

Quinta Turma nega soltura de ex-vereador acusado de mandar matar


sindicalista rival em Belo Horizonte

Ao confirmar decisão monocrática do relator, ministro Joel Ilan Paciornik, a Quinta Turma do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a prisão preventiva de Ronaldo Batista de Morais,
sindicalista e ex-vereador de Belo Horizonte, acusado de pagar R$ 40 mil pela morte de Hamilton
Dias de Moura, seu adversário no movimento sindical. Além de sindicalista, Moura era vereador
de Funilândia (MG) e foi morto após ser atingido por 12 tiros, próximo a uma estação de metrô
na capital mineira.
Por maioria, o colegiado considerou que a prisão cautelar foi adequadamente motivada pelas
instâncias ordinárias, com base na periculosidade do acusado e em elementos concretos como
a colaboração premiada de um dos réus e o temor de represálias contra os familiares da vítima.
Segundo a acusação, o crime teria sido motivado pelas denúncias que a vítima fez à imprensa e
ao Ministério Público do Trabalho (MPT) sobre supostos desvios de dinheiro de uma entidade
sindical. Em razão das denúncias, o suspeito de homicídio foi condenado ao ressarcimento de
R$ 6 milhões e sofreu o bloqueio de R$ 500 mil em seu patrimônio.
Além disso, de acordo com o Ministério Público, Morais seria líder da organização criminosa
conhecida como Máfia de Sindicatos, que praticaria diversos delitos – inclusive com a
participação de agentes de segurança pública –, como a intimidação de adversários para manter
seu domínio no meio sindical.

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Prisão foi baseada em diversos indícios


No recurso em habeas corpus dirigido ao STJ, a defesa pediu a soltura do acusado, alegando que
a prisão foi baseada apenas em informações da colaboração premiada, as quais, segundo ela,
não têm valor de prova. Também sustentou que o réu não tem ligação com o crime e possui
bons antecedentes.
Em seu voto, o ministro Paciornik observou que o recurso em habeas corpus não é a via
adequada para a análise das teses de negativa de autoria ou de veracidade das declarações
prestadas por colaborador, sobretudo considerando que a Justiça já decidiu submeter o réu ao
tribunal do júri.
O magistrado destacou que, segundo a corte estadual, além da colaboração premiada, há outros
elementos de convicção, como escutas telefônicas e indícios veementes sobre a desavença
entre o réu e a vítima – que criou e presidiu um sindicato concorrente –, os quais foram
corroborados por informações do MPT e pelo depoimento de testemunhas.
Diante disso, o relator considerou que a manutenção da prisão cautelar é necessária para a
garantia da ordem pública e, principalmente, para impedir a reiteração delitiva.
Testemunhas temem retaliação
Conforme registrou Paciornik, a prisão também foi fundamentada pela conveniência da
instrução processual, tendo em vista que as testemunhas, em especial os familiares da vítima,
afirmaram ter medo de represálias da organização criminosa que o réu supostamente comanda.
De acordo com o relator, as circunstâncias evidenciam que medidas cautelares menos rigorosas
do que a prisão não seriam suficientes para preservar a ordem pública.
Sobre os alegados bons antecedentes, o ministro registrou que, conforme precedentes do STJ,
a presença de condições favoráveis, como primariedade, emprego lícito e residência fixa, não
impede a decretação da prisão cautelar quando devidamente fundamentada (AgRg no HC
570.802).
 Leia a decisão no RHC 163.402.

30/06

Na recuperação judicial, produtos agrícolas não podem ser


enquadrados como bens de capital essenciais

Para a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), produtos agrícolas, como soja e
milho, não são bens de capital essenciais à atividade empresarial, não incidindo sobre eles a
norma contida na parte final do parágrafo 3º do artigo 49 da Lei de Falência e Recuperação de
Empresas (LFRE). Segundo o dispositivo, durante o prazo de suspensão de 180 dias previsto
no artigo 6º, parágrafo 4º, da lei, não é permitida a venda ou a retirada do estabelecimento do
devedor dos bens de capital considerados essenciais ao funcionamento da empresa.
Com base nesse entendimento, o colegiado reformou acórdão do Tribunal de Justiça do
Maranhão (TJMA) que determinou que as sacas de soja e de milho produzidas por uma fazenda

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em recuperação judicial, por serem bens de capital e essenciais ao soerguimento do grupo, não
fossem retiradas do estabelecimento para cumprimento de acordo firmado anteriormente.
No entendimento do TJMA – que confirmou decisão de primeiro grau –, os produtos agrícolas
eram fundamentais para o êxito da fazenda na recuperação judicial, motivo pelo qual não
poderiam ser entregues ao credor.
Diferenças entre bem de capital e bem de consumo
A relatora do recurso do credor, ministra Nancy Andrighi, afirmou que, para determinar se os
grãos de soja e de milho produzidos pela fazenda poderiam ser classificados como bens de
capital, é preciso definir o que se encaixa nessa classificação.
A ministra citou entendimento do STJ de que bens de capital são, na realidade, os imóveis, as
máquinas e os utensílios necessários à produção. Para ela, o elemento mais relevante nessa
definição não é o objeto comercializado pela pessoa jurídica em recuperação judicial, mas sim o
aparato, seja bem móvel ou imóvel, necessário à manutenção da atividade produtiva – como
veículos de transporte, silos de armazenamento, geradores, prensas, colheitadeiras e tratores.
Em contrapartida, a ministra definiu bens de consumo como aqueles produzidos com utilização
dos bens de capital, duráveis ou não duráveis, e que serão comercializados pela empresa ou
prestados na forma de serviços.
Assim, a relatora apontou que, no caso dos autos, "não há razão apta a sustentar a hipótese de
que os grãos cultivados e comercializados (soja e milho) constituam bens de capital, pois, a toda
evidência, não se trata de bens utilizados no processo produtivo, mas, sim, do produto final da
atividade empresarial por eles desempenhada".
Juízo de recuperação não pode fazer inferências sobre essencialidades dos bens
Nancy Andrighi invocou jurisprudência do STJ no sentido de que, se determinado bem não puder
ser classificado como bem de capital, o juízo da recuperação não pode fazer inferências quanto
à sua essencialidade.
Dessa maneira, a relatora afirmou que a ressalva disposta no final do parágrafo 3º do artigo 49
da Lei de Recuperação Judicial faz referência exclusiva a bens de capital essenciais à atividade
empresarial – não se enquadrando no dispositivo, portanto, os grãos de soja e de milho
produzidos pela fazenda.
Segundo a ministra, para que o juízo possa impedir a saída de bens da posse do devedor com
base na ressalva legal da Lei 11.101/2005, é preciso que dois pressupostos sejam preenchidos
cumulativamente: o bem precisa ser classificado como de capital e deve ser reconhecida sua
essencialidade à atividade empresarial.
"Note-se, nesse aspecto, que a própria pretensão deduzida perante o juízo de primeiro grau
pelos recorridos (que deu origem ao presente recurso especial) revela que não se trata de bens
a serem utilizados no processo de produção, pois o pedido de reconhecimento de sua
essencialidade tem como objetivo deliberado o incremento de sua disponibilidade financeira",
concluiu a ministra ao afastar a incidência da parte final do parágrafo 3º do artigo 49 da Lei de
Recuperação Judicial.
 Leia o acórdão no REsp 1.991.989.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

Quinta Turma considera peculato inaplicável a dirigentes do Sistema


S e tranca ações contra ex-presidente do Sest/Senat

Por reconhecer a atipicidade da conduta, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
trancou duas ações penais por peculato contra Clésio Soares de Andrade, ex-presidente nacional
do Serviço Social do Transporte e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte
(Sest/Senat).
Para o colegiado, conforme precedentes do Supremo Tribunal Federal (STF), não se aplicam aos
dirigentes do Sistema S a Lei 8.666/1993 (Lei de Licitações) nem o Capítulo I do Título XI do
Código Penal – que trata dos crimes praticados por funcionários públicos contra a administração.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o ex-presidente do Sest/Senat teria participado de
esquema de desvio de recursos das instituições para aportes diretos em fundos de previdência
privada, além de ter ciência de que dirigentes recebiam salários em duplicidade, em prejuízo do
patrimônio das entidades paraestatais.
Ao manter as ações penais em trâmite, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, apesar de
reconhecer que as entidades do Sistema S não integram a administração pública, entendeu, com
base em posição do STF, que seria competência da Justiça Federal a análise dos processos, tendo
em vista o interesse da União no caso.
Há distinção entre interesse da União e natureza jurídica privada do Sistema S
O ministro Joel Ilan Paciornik, relator do recurso em habeas corpus, explicou que não é possível
confundir o eventual interesse da União com a natureza jurídica privada das entidades do
Sistema S.
"Enquanto a simples irrigação de verbas públicas federais nas entidades privadas pode
caracterizar o interesse jurídico da União, não se cogita, só por isso, a convolação da estirpe das
empresas para órgãos da administração pública, legítimos sujeitos passivos dos crimes
tipificados no Capítulo I do Título XI do Código Penal", completou o magistrado.
No caso dos autos, Paciornik destacou que foi atribuída ao ex-presidente do Sest/Senat a
condição de funcionário público por equiparação, porém em virtude de aplicação incorreta da
extensão prevista pelo artigo 327, parágrafo primeiro, do Código Penal.
"Indiscutivelmente, é inviável a adequação típica alvitrada pelo Ministério Público, formal e
materialmente, pois, além de as condutas narradas não ofenderem a administração pública, os
seus gestores não são considerados funcionários públicos, nem por equiparação normativa",
concluiu o ministro ao trancar as ações penais.
 Leia o acórdão no RHC 163.470.

Franqueador responde solidariamente apenas por falhas do


franqueado em serviços relacionados à franquia

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Por unanimidade, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reafirmou o


entendimento de que o franqueador responde solidariamente apenas por danos causados pelo
franqueado em relação aos serviços prestados em razão da franquia.
Com essa orientação, o colegiado deu parcial provimento ao recurso especial interposto pelo
Curso Objetivo, franqueador, para afastar sua responsabilidade civil diante da morte de um
aluno do Colégio Objetivo Mairiporã, franqueado, ocorrida em acidente de trânsito no qual foi
reconhecida a culpa do transporte escolar fornecido por este último. Os ministros consideraram
que o serviço de transporte é desvinculado da franquia de metodologia educacional.
Segundo os autos, o motorista dirigia em alta velocidade o micro-ônibus em que estavam as
crianças quando desviou de um veículo que vinha na contramão e caiu em uma ribanceira.
Em ação indenizatória movida pelos pais do aluno falecido, o Tribunal de Justiça de São Paulo
(TJSP) condenou solidariamente o motorista, a dona do micro-ônibus, o Colégio Objetivo
Mairiporã e o Curso Objetivo a pagarem R$ 500 mil por danos morais, além de pensão.
TJSP considerou que os réus fazem parte da mesma cadeia de fornecedores
No recurso dirigido ao STJ, o Curso Objetivo alegou que não tem responsabilidade pelo dano
causado, pois o serviço de transporte contratado pelo franqueado não tem relação com a sua
franquia de metodologia educacional, de forma que não pode ser considerado fornecedor de
serviço estranho ao objeto da franquia.
Ao levar o caso a julgamento na Quarta Turma, o relator, ministro Raul Araújo, observou que,
como o transporte escolar era fornecido pelo franqueado, o TJSP entendeu que tanto ele como
o franqueador seriam responsáveis pela integridade física dos alunos, por integrarem a mesma
cadeia de fornecimento do serviço educacional contratado pelos pais.
Contudo, o ministro afirmou que, para a jurisprudência do STJ, o franqueador somente responde
de forma solidária com o franqueado pelos danos decorrentes dos serviços prestados em razão
da franquia (REsp 1.426.578, AgRg no AREsp 398.786).
Franqueador não pode responder por obrigações alheias à franquia
O magistrado ressaltou que, no caso dos autos, o que há é uma franquia de metodologia de
ensino, em que o franqueado obtém lucro a partir da confiança que os consumidores têm nessa
metodologia; todavia, o processo não discute a responsabilidade por falha na prestação de
serviços educacionais, mas de serviço de transporte escolar contratado exclusivamente pelo
franqueado, conforme reconhecido nas instâncias ordinárias.
De acordo com o ministro, o franqueador não pode ser responsabilizado por obrigações
estranhas ao objeto da franquia, que diz respeito ao método de ensino e aos serviços
educacionais contratados.
Ao afastar a responsabilidade do franqueador, Raul Araújo afirmou que não é razoável
considerar o transporte contratado pelo franqueado como um serviço vinculado à franquia de
metodologia de ensino.
 Leia o acórdão no AREsp 1.456.249.

01/07

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

Quarta Turma aplica instituto da surrectio e mantém curatelado no


plano de saúde da irmã

Com amparo no instituto jurídico da surrectio, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) manteve um idoso no plano de saúde de sua curadora e irmã, após a operadora tentar
excluí-lo por considerar que ele não preenchia os requisitos para ser dependente.
Para o colegiado, ainda que não se possa dar interpretação ampliativa ao contrato de plano de
autogestão para incluir uma pessoa não prevista nas hipóteses de dependente, o fato de a
operadora haver permitido por mais de sete anos que o irmão figurasse nessa condição gerou a
aquisição do direito, pois o decurso do tempo fez surgir a expectativa legítima de que a situação
seria mantida.
O idoso, que sofre de enfermidade mental, está desde 2007 sob a curatela da irmã. Em 2011,
ela o inseriu no plano de saúde de autogestão como seu dependente. Contudo, em 2018, a
operadora comunicou que o curatelado seria excluído, pois o regulamento não admitia irmão
incapaz do titular como dependente.
O juízo de primeiro grau e o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios negaram o
pedido para mantê-lo no plano, entendendo que a exclusão era lícita.
Adesão a plano de saúde de autogestão não comporta interpretação ampliativa
O relator, ministro Marco Buzzi, explicou que o plano de saúde de autogestão, gerido por
associação sem fins lucrativos, é custeado pelos próprios beneficiários e pela empresa
patrocinadora, com a finalidade de prestação de serviços médicos a grupo fechado.
Segundo o magistrado, a inclusão de pessoas que não foram consideradas quando do
planejamento da cobertura e do cálculo da forma de custeio poderia gerar desequilíbrio atuarial,
o que traria prejuízo ao próprio grupo, seja sob a forma de declínio na qualidade do serviço, seja
em razão da necessidade de reajuste das mensalidades.
Dessa forma, esclareceu o ministro, não é adequada a proposta de interpretação ampliativa da
previsão contratual sobre quem pode ser dependente, como pretendiam os autores da ação
com o argumento de que seria aplicável, por extensão, a norma do regulamento do plano que
autoriza a inclusão de maiores incapazes que sejam filhos ou enteados do titular.
Violação à boa-fé objetiva e ao princípio da confiança é capaz de criar obrigações
De acordo com o relator, o Código Civil definiu a eticidade como um de seus princípios
fundantes, e estabeleceu a necessidade de observância de um comportamento de probidade,
lisura e respeito às legítimas expectativas entre as partes negociantes em todos os momentos
da relação obrigacional, sob pena, inclusive, de caracterização de abuso de direito.
O ministro lembrou que eventual violação à boa-fé objetiva e ao princípio da confiança é capaz
de criar, modificar ou até mesmo extinguir obrigações, tendo a jurisprudência do STJ admitido
a aplicação dos institutos da supressio e da surrectio nesses casos.
Citando a doutrina especializada, Marco Buzzi explicou que a supressio significa a supressão de
um direito em razão do seu não exercício por determinado tempo, enquanto a surrectio é o
surgimento do direito correspondente para a parte contrária.
Comportamento omisso da operadora durante prazo significativo
No caso sob exame, o relator verificou que houve entre as partes uma efetiva contratação na
qual, mediante pagamento, foi admitida a participação do irmão da titular no plano. Para o

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ministro, trata-se de situação já consolidada pelo tempo, que criou a legítima expectativa de
que o irmão fazia jus à cobertura.
"Com amparo no instituto da surrectio, na necessidade de tutela da boa-fé objetiva dos
contratantes, da proteção das legítimas expectativas, bem como da vedação à adoção de
comportamentos contraditórios, entende-se que, dadas as particularidades do caso, o
comportamento omisso da operadora de saúde durante significativo lapso temporal,
excepcionalmente, implicou a assunção da obrigação de prestação do serviço de assistência à
saúde ao curatelado, na qualidade de dependente de sua irmã e curadora", concluiu.

Site de prostituição que retirou anúncio sem conteúdo sexual e a


pedido da vítima não responde por dano moral

Com base no artigo 19 do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), a Terceira Turma do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) afastou condenação por danos morais imposta pelas instâncias
ordinárias à administradora de um site de prostituição em razão da divulgação, por terceiro, de
um anúncio que vinculava indevidamente a vítima à plataforma.
Segundo o colegiado, a página retirou o conteúdo indevido – que não possuía cenas de nudez
ou ato sexual privado, afastando a incidência do artigo 21 do Marco Civil – assim que recebeu a
notificação da vítima – ou seja, mesmo antes de ordem judicial no mesmo sentido –, não
podendo ser responsabilizada pelo conteúdo inserido na plataforma por terceiro.
A turma também enfatizou que, ao contrário do entendimento de segundo grau, existem
diferenças entre as publicações impressas – nas quais, em geral, há controle editorial do
conteúdo – e os sites na internet, os quais não possuem como atribuição o controle prévio de
publicações, sob pena de censura.
"A liberdade de expressão alcança conteúdos de toda natureza, e a censura é vedada pelos
termos da Carta Magna e dos tratados de Direitos Humanos que a União é parte. Assim,
o acórdão recorrido vai ao desencontro da jurisprudência do STJ ao vincular a aplicação do artigo
19 somente a conteúdos relacionados a 'opiniões políticas, manifestações culturais, críticas à
autora', razão pela qual merece ser reformado", afirmou a relatora do recurso, ministra Nancy
Andrighi.
O recurso teve origem em ação na qual a autora buscou a identificação do responsável por
divulgar os seus dados pessoais em página de internet destinada à prostituição. Em primeiro
grau, o juiz determinou que a administradora da página se abstivesse de veicular o anúncio,
fornecesse informações sobre o responsável pela publicação e pagasse à vítima indenização por
danos morais de R$ 10 mil. A sentença foi mantida em segunda instância.
Pornografia de vingança como instrumento de violência de gênero no mundo cibernético
A ministra Nancy Andrighi destacou que a chamada pornografia de vingança consiste na
divulgação de dados pessoais – sejam imagens, vídeos ou até mesmo número de telefone
pessoal – vinculados a teor sexual para ferir a imagem, a honra, a privacidade e a intimidade.
Ela mencionou que, para especialistas, essa prática é um instrumento de violência de gênero no
mundo cibernético, uma vez que a maioria das vítimas são mulheres. São elas que
recorrentemente sofrem danos físicos, psicológicos e sexuais relacionados a esse tipo de

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exposição, pois a divulgação de conteúdo sexual pode causar prejuízos irreversíveis, visto que
implica a visão pública sobre o caráter da vítima, sua imagem profissional e social, além de violar
o amor próprio e a autoestima, podendo até mesmo ocasionar suicídios.
Controle editorial do conteúdo define limites da responsabilidade dos provedores
A ministra Nancy Andrighi citou jurisprudência do STJ no sentido de que a responsabilidade dos
provedores de conteúdo de internet depende da existência do controle editorial do material
disponibilizado na rede. Caso não exista esse controle, afirmou, o provedor só pode ser
responsabilizado se, mesmo após notificação judicial para a retirada do material, não tomar as
medidas cabíveis.
"Ademais, por oportuno, cabe elucidar que a motivação da divulgação dos dados pessoais sem
a autorização, independentemente do propósito a que se propõe, seja por manifestação de
opiniões políticas ou culturais, seja por conteúdo de teor sexual, não se justifica a afastar a
incidência do artigo 19 do Marco Civil da Internet", afirmou a ministra.
Adicionalmente, como forma de afastar eventual censura na internet, a relatora comentou que,
no caso de eventos que justifiquem a aplicação do artigo 19 do Marco Civil, não há previsão de
que a notificação privada implique dever de remoção do conteúdo questionado – tampouco a
responsabilização do provedor, caso a notificação não seja atendida.
Por outro lado, Nancy Andrighi considerou não ser possível ignorar o sofrimento vivido pelas
vítimas de exposição de dados pessoais, especialmente nas situações relacionadas à intimidade
sexual.
Nesse sentido, a ministra apontou que a própria Lei 12.965/2014 prevê, em seu artigo 21,
exceção à reserva de jurisdição para retirada de conteúdo ofensivo na internet na hipótese de
imagens, vídeos ou outros materiais que contenham cenas de nudez ou atos sexuais de caráter
privado. Nessa situação, afirmou, provedor passa a ser subsidiariamente responsável a partir da
notificação extrajudicial formulada pelo particular, e não a partir da ordem judicial no mesmo
sentido.
Site atendeu pedido da vítima e prestou informações sobre o responsável pela publicação
No caso dos autos, a ministra ressaltou que a página oferece serviços de prostituição, para
maiores de idade, por meio de plataforma na internet. Assim, se enquadra no conceito de
provedora de aplicação e, por isso, responde pelas obrigações relativas a essa categoria.
Como a ação indica que houve divulgação de dados pessoais da vítima para vinculação de seu
nome aos serviços de prostituição, mas sem a publicação de cenas de nudez ou outros atos
sexuais de caráter privado, Nancy Andrighi afastou a aplicação do artigo 21 do Marco Civil,
entendendo estar configurada a hipótese do artigo 19 da legislação.
De acordo com a relatora, a administradora da página retirou a publicação indevida mesmo
antes da notificação judicial, atendendo ao pedido da vítima, e, além disso, prestou as
informações que detinha sobre o responsável pela postagem.
"A recorrente, portanto, logrou cumprir com o dever que lhe incumbia, nos termos do artigo 19
do Marco Civil da Internet, não havendo razões para que lhe seja imputada a obrigação de pagar
indenização por fato gerado por terceiro", concluiu a ministra ao afastar a condenação por
danos morais.
O número deste processo não é divulgado em razão de segredo judicial.

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Sexta Turma mantém prisão preventiva de homem flagrado ao


transportar mais de 118 kg de cocaína em Goiás

A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou recurso em habeas corpus para um
homem preso em flagrante pelo transporte de 118,2 kg de cocaína em Jataí (GO). Para o
colegiado, entre outros fundamentos, a prisão é necessária para a garantia da ordem pública.
A prisão, realizada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), ocorreu no fim de janeiro. O policial
responsável informou que sua equipe abordou um caminhão guincho por passar em alta
velocidade pelo posto policial da PRF na cidade. O veículo transportava um carro de passeio, no
qual foram encontrados 113 tabletes de droga.
O juízo de primeira instância, ao converter a prisão em flagrante em preventiva, destacou a
elevada quantidade de entorpecente apreendida, o que demonstraria a gravidade da conduta e
a periculosidade do agente.
A defesa requereu a revogação da prisão, mesmo com a decretação de medidas cautelares
alternativas. Os advogados apontaram que o investigado possui condições pessoais favoráveis,
tais como primariedade, bons antecedentes, ocupação lícita e residência fixa.
Prisão foi decretada com base na quantidade de droga apreendida
Em seu voto, a ministra relatora, Laurita Vaz, salientou que, de acordo com o decreto de prisão
– mantido pelo Tribunal de Justiça de Goiás –, a medida foi necessária, tendo em vista a
gravidade concreta do crime, especialmente em razão da grande quantidade de droga
apreendida.
Ao manter a prisão preventiva, a relatora assinalou que, para a jurisprudência da corte, as
condições pessoais favoráveis não são suficientes, por si só, para afastar a medida, caso estejam
presentes outros requisitos que a autorizem.
 Leia o acórdão no RHC 166.263.

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