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PERÍODO: 20/06 A 24/06 DE 2022.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

STF
20/06 a 24/06

Notícias do STF mais relevantes para o cargo de DELEGADO DE POLÍCIA

• Pedido de vista suspende julgamento sobre validade de tramitação direta de inquérito


policial entre MP e Polícia Civil.

Demais notícias importantes do STF

• Ministra Rosa Weber acolhe pedido da PGR e determina arquivamento de investigação


contra Ricardo Barros.

• Aras questiona salário-esposa concedido a servidores de São Vicente (SP).

• Ministro Barroso prorroga por mais 60 dias inquérito contra os senadores Chico Rodrigues
e Telmário Mota.

• STF recebe ação sobre alcance da competência dos TCEs para julgar prestação de contas
de prefeitos.

• STF invalida veto presidencial e restabelece regra sobre tributação de petróleo na Zona
Franca de Manaus.

• STF confirma prazo de 90 dias para entrada em vigor da MP sobre compensação fiscal para
consumidor final de combustíveis.

• DPU propõe ao STF criação de súmula vinculante sobre princípio da insignificância.

• STF reafirma que requisição administrativa de bens de uma unidade federativa por outra
é inconstitucional.

• Plenário começa a julgar ADI sobre diferenciação entre advogado público e privado.

• Governadores de 11 estados questionam lei que impôs alíquota uniforme de ICMS sobre
combustíveis.

• Aras questiona leis do Acre e do Amazonas sobre porte de armas para atiradores
desportivos.

• STF derruba repasse de taxas cartoriais de Goiás para fundos não ligados à Justiça.

• Lei de Pernambuco que autorizava Executivo a usar depósitos judiciais é invalidada.

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17/06

Ministra Rosa Weber acolhe pedido da PGR e determina


arquivamento de investigação contra Ricardo Barros

A investigação preliminar teve início com base nas conclusões da CPI da Pandemia e relacionava-se
com suposta intermediação irregular de venda de vacinas contra Covid.
A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o arquivamento de uma
apuração preliminar instaurada contra o deputado federal Ricardo Barros (Progressistas-PR) na
Petição (PET) 10058. A ministra atendeu a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR),
que não verificou indícios mínimos que justifiquem o prosseguimento da investigação criminal.
Advocacia administrativa
O procedimento foi instaurado, em novembro de 2021, a pedido da própria PGR, a partir das
conclusões do Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, do
Senado Federal, que apontava o indiciamento do parlamentar pela suposta prática do crime de
advocacia administrativa (patrocinar interesse privado perante a administração pública,
valendo-se da qualidade de funcionário público, conforme o artigo 321 do Código Penal).
Segundo o relatório da CPI, haveria “fortes indícios” de que Barros teria praticado ao crime em
favor da Belcher Farmacêutica, empresa que pretendia intermediar a venda, ao Ministério da
Saúde, da vacina Convidecia, fabricada pelo Laboratório Cansino. Para embasar o indiciamento,
foram anexados uma carta de intenção de compra de 60 milhões de doses, por US$ 17 a dose,
e uma foto de Barros com os sócios da empresa e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em
reunião no ministério em 15 de abril de 2021.
Elementos indiciários
Na petição em que solicitou o arquivamento do procedimento, a PGR afirma que os dados
enviados pelo Legislativo não apresentam nenhum elemento indiciário de que Ricardo Barros
tenha atuado em prol das empresas citadas.
Reunião
Em relação à reunião com o ministro da Saúde, a PGR assinala que, nos depoimentos à CPI,
Emanuel Ramalho Catori, sócio da Belcher, afirmou que não houve nenhum tipo de interferência
nas negociações envolvendo a compra do imunizante pelo Estado brasileiro e que Barros havia
participado do encontro em que foi tirada a fotografia na condição de presidente da Frente
Parlamentar de Medicamentos, com o intuito de tratar de um medicamento denominado
Favipiravir. A PGR destacou, ainda, que não foi elaborada ata da reunião, não havendo, portanto,
elemento que indique que a compra da vacina tivesse sido objeto do encontro.
Ainda de acordo com a PGR, a Belcher obteve autorização da CanSino para negociar a vacina
somente em 19 de abril de 2021, e a expedição de carta de intenção de compra pelo Ministério
da Saúde ocorreu em 4 de junho, "tratando-se apenas de mero requisito para o início das
negociações, não vinculando o órgão interessado". Porém, em 10 de junho de 2021, a
farmacêutica teve suas credenciais revogadas pela indústria chinesa, não se concretizando o
negócio.
Arquivamento

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Ao deferir o pedido, a ministra observou que a jurisprudência do STF é clara no sentido da


inviabilidade da recusa a pedido de arquivamento de inquérito ou de peças de informação
formulado pelo Ministério Público com base na ausência de elementos suficientes à persecução
penal. Assim, uma vez que a PGR afirma inexistir base para o oferecimento de denúncia contra
o parlamentar, o pedido deve ser acolhido. Ela ressalva, contudo, a possibilidade de que o
procedimento seja reaberto, conforme prevê o artigo 18 do Código de Processo Penal (CPP),
caso surjam novas provas.

20/06

Aras questiona salário-esposa concedido a servidores de São Vicente


(SP)

Para o procurador-geral da República, a concessão da vantagem ofende diversos princípios da


Constituição Federal.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, ajuizou a Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF) 985, no Supremo Tribunal Federal (STF), contra dispositivos de lei
do Município de São Vicente (SP) que instituíram “salário-esposa”, pago a servidores casados ou
unidos a suas companheiras há, pelo menos, cinco anos, desde que ela não exerça atividade
remunerada.
Na avaliação de Aras, a concessão de vantagem pecuniária aos servidores homens em razão tão
somente de seu estado civil estabelece uma discriminação ilegítima em relação aos demais
servidores públicos. A seu ver, a vantagem representa um ônus excessivo para a administração
municipal, paga sem que exista justificativa ou contrapartida razoável dos beneficiários.

O procurador-geral da República alega que os dispositivos contrariam os princípios republicano,


da igualdade, da moralidade, da razoabilidade e da vedação de diferenciação salarial em razão
do estado civil do trabalhador, todos previstos na Constituição Federal.

A ação foi distribuída ao ministro Nunes Marques.

Ministro Barroso prorroga por mais 60 dias inquérito contra os


senadores Chico Rodrigues e Telmário Mota

As investigações abrangem irregularidades na utilização de verbas federais destinadas ao combate à


pandemia.
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a prorrogação,
por mais 60 dias, de um Inquérito (INQ 4852) que apura o possível envolvimento dos senadores
Chico Rodrigues (União Brasil-RR) e Telmário Mota (PROS-RR) em esquema de fraudes e desvio

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de verbas federais destinadas ao combate da pandemia de covid-19 em Roraima. A prorrogação


atende a pedido da Polícia Federal e visa a realização de diligências faltantes, inclusive a
renovação do interrogatório do senador Chico Rodrigues.
O inquérito foi aberto, em setembro de 2020, para investigar possível fraude na aquisição de
kits de testes rápidos para detecção da doença e irregularidades no processo de compra de
centrais de ar condicionado para a maternidade de Rorainópolis (RR).
Na ocasião, a Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que os elementos obtidos
demonstrariam o potencial envolvimento do senador Chico Rodrigues com a empresa Quantum
Empreendimentos de Saúde, que forneceu os kits de teste rápido para a detecção da covid-19,
“havendo indícios de atuação do investigado no direcionamento da contratação à referida
empresa”. Já o senador Telmário Mota é autor de emenda parlamentar com o objetivo da
aquisição das centrais de ar-condicionado.
Em manifestação em que se posicionou favorável à prorrogação, a PGR ressaltou que ainda
faltam realizar diligências importantes para o deslinde das investigações. Segundo o documento,
o aprofundamento das apurações é necessário para esclarecer os fatos imputados aos
senadores Chico Rodrigues e Telmário Mota.

STF recebe ação sobre alcance da competência dos TCEs para julgar
prestação de contas de prefeitos

O pedido é para que o STF declare a possibilidade de os TCEs julgarem os prefeitos que agem na
qualidade de ordenadores de despesas e condená-los ao pagamento de multa e à reparação ao erário.
A Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon) ajuizou, no Supremo
Tribunal Federal (STF), a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 982, em
que pede a concessão de medida cautelar para suspender decisões judiciais que anulam penas
aplicadas a prefeitos quando atuam na qualidade de ordenadores de despesas.
A entidade alega que as decisões de Tribunais de Justiça de todo o país impedem que os
julgamentos das contas de gestão de prefeitos, realizados por Tribunais de Contas estaduais
(TCEs), produzam efeitos não só eleitorais, mas, também, quanto à aplicação de multas e à
reparação ao erário. A ação foi distribuída ao ministro Luís Roberto Barroso.
Ordenador de despesas
Segundo a associação, nas decisões questionadas, os Tribunais de Justiça têm entendido que o
papel dos Tribunais de Contas é apenas o de apresentar parecer, cabendo às câmaras de
vereadores, com exclusividade, julgar as contas do prefeito. Contudo, argumenta que, de acordo
com o artigo 71, inciso II, da Constituição Federal, cabe às cortes de contas julgar
administradores e demais responsáveis por bens e valores públicos, o que abrangeria os
prefeitos que assumiram essa tarefa.
Para a Atricon, a avocação da função de ordenador de despesas não pode se converter em
instrumento para que o prefeito “imunize” a gestão municipal do julgamento pelos Tribunais de
Contas, quando essa hipótese é expressamente prevista no texto constitucional.
Assim, a entidade pede que o STF declare a possibilidade de os TCEs julgarem os prefeitos que
agem na qualidade de ordenadores de despesas e de condená-los ao pagamento de multa e à

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reparação ao erário. No pedido de medida cautelar, a Atricon sustenta que essa indefinição
quanto aos poderes dos Tribunais de Contas está causando insegurança jurídica aos julgadores.

21/06

STF invalida veto presidencial e restabelece regra sobre tributação de


petróleo na Zona Franca de Manaus

O Plenário, por maioria, declarou a inconstitucionalidade do veto adicional publicado em edição extra
do Diário Oficial da União.
O Supremo Tribunal Federal (STF) restabeleceu a vigência de dispositivo da Lei 14.183/2021 que
excluiu a isenção do Imposto de Importação e do Imposto sobre Produtos Industrializados nas
operações com petróleo e derivados por empresas da Zona Franca de Manaus. Para o Plenário,
o veto do presidente da República, Jair Bolsonaro, ao trecho do projeto de lei é inconstitucional,
uma vez que foi exercido após o prazo de 15 dias. A decisão majoritária foi tomada na apreciação
da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 893, julgada procedente na
sessão virtual encerrada em 20/6.
Prevaleceu, no julgamento, o voto do ministro Luís Roberto Barroso, para quem o poder de veto
de que trata o artigo 66, do parágrafo 1°, da Constituição Federal não pode ser exercido após o
decurso do prazo estabelecido. O dispositivo estipula que o presidente da República deve vetar
um projeto de lei que considere inconstitucional, total ou parcialmente, no prazo de 15 dias
úteis contados da data do recebimento do texto e deverá comunicar, dentro de 48 horas, ao
presidente do Senado Federal os motivos do veto.
Controvérsia
Autor da ação, o partido Solidariedade apontou lesão ao preceito fundamental da separação de
Poderes diante do veto do presidente da República ao artigo 8º da Lei 14.183/2021, divulgado
na edição extra do Diário Oficial da União (DOU) do dia 15/07/2021. A divulgação do veto,
explicou o partido, foi feita horas depois da promulgação e publicação da norma, resultado da
sanção do Projeto de Lei de Conversão (PLV) 12/2021.
A legenda sustentou que houve desrespeito aos prazos e procedimentos rigidamente
estabelecidos pela Constituição Federal. Ressaltou que o veto tardio decorreu de pressão
política da bancada do Amazonas no Congresso Nacional e que acabou sendo mantido em
sessão conjunta das duas Casas Legislativas, realizada em 27/09/2021. A Presidência da
República, por sua vez, argumentou que o procedimento ocorreu de forma tempestiva e que a
republicação da Lei 14.183/2021, em edição extra do DOU, foi necessária tão somente em razão
de erro material.
Expiração do prazo
Em seu voto, o ministro Roberto Barroso explicou que o exercício da prerrogativa de vetar o
projeto de lei de conversão foi até o dia 14/07/2021, quando Bolsonaro editou a mensagem de
veto – na qual o artigo 8º não era mencionado – e encaminhou o texto da lei para publicação.
Segundo o ministro, somente no dia seguinte, quando o prazo já havia expirado, ocorreu a
publicação de edição extra do Diário Oficial para a divulgação de novo texto legal com a aposição

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adicional de veto ao dispositivo que havia sido sancionado anteriormente. Ou seja, ao contrário
do que argumentado pela Presidência da República, não ocorreu erro material, mas aposição de
novo veto. Para o ministro, trata-se "de procedimento heterodoxo e que não se coaduna com
Constituição", tal como reconhecido pelo Plenário no julgamento das ADPFs 714, 715 e 718.
Portanto, como foi ultrapassado o prazo de 15 dias, a prerrogativa não pode mais ser exercida.
Barroso acrescentou que o fato de o veto extemporâneo ter sido mantido pelo Congresso
Nacional não altera a conclusão pela sua inconstitucionalidade, porque o ato apreciado pelo
Legislativo não poderia sequer ter sido praticado. "Caso o Congresso Nacional deseje encerrar a
vigência de dispositivo legal por ele aprovado, deverá retirá-lo da ordem jurídica por meio da
sua revogação", concluiu.
Acompanharam esse entendimento os ministros Gilmar Mendes, Edson Fachin, Ricardo
Lewandowski, Alexandre de Moraes e Luiz Fux e a ministra Rosa Weber.
Relatora
Ficaram vencidos a relatora, ministra Cármen Lúcia, e os ministros Dias Toffoli, André Mendonça
e Nunes Marques, que votaram pela improcedência da ação. Segundo a ministra, o pedido
trazido pelo partido é inviável, pois demandaria deliberação da Corte sobre matéria estranha ao
objeto da petição inicial, ou seja, saber se a manutenção do veto pelo Congresso Nacional
convalidaria eventual vício alegado na tramitação do projeto de lei na Presidência da República.

STF confirma prazo de 90 dias para entrada em vigor da MP sobre


compensação fiscal para consumidor final de combustíveis

Em decisão unânime, a Corte referendou liminar deferida pelo ministro Toffoli no dia 7 deste mês.
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) manteve decisão do ministro Dias Toffoli que
estabeleceu o prazo de 90 dias para entrada em vigor de medida provisória que retirou das
empresas consumidoras finais de combustíveis o direito ao uso de créditos de contribuições
sociais. Na sessão virtual concluída em 20/6, o colegiado seguiu, por unanimidade, o voto do
ministro no referendo da liminar concedida na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7181.
A ação foi ajuizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) para questionar dispositivo
da Medida Provisória (MP) 1.118, de 17 de maio de 2022, que retirou das empresas
consumidoras finais de combustíveis o direito de compensar créditos do PIS/Pasep e da Cofins
decorrentes de operações com isenção fiscal. A entidade contesta a alteração promovida no
artigo 9º da Lei Complementar (LC) 192/2022, que garantia, até o dia 31 de dezembro deste ano,
a alíquota zero dessas contribuições em operações com combustíveis e a manutenção dos
créditos para todas as empresas da cadeia produtiva. Com a medida provisória, no entanto,
apenas produtoras e revendedoras puderam se beneficiar do direito à compensação.
Anterioridade
Em seu voto, o ministro Toffoli reafirmou os fundamentos que justificaram a concessão parcial
da medida cautelar. Segundo ele, o caso revela majoração indireta da carga tributária, em razão
da revogação da possibilidade de as pessoas jurídicas adquirentes finais dos produtos sujeitos à
alíquota zero manterem os créditos vinculados. Por isso, a alteração deve se submeter à regra
constitucional da anterioridade nonagesimal, conforme entendimento predominante do STF.

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Ele explicou, ainda, que a liminar deferida tem efeitos retroativos e, por isso, as empresas têm
assegurado o direito de manter os créditos vinculados em relação a todo o período protegido
pela noventena, o que abrange o período entre a data da publicação da medida provisória e a
sua decisão monocrática.

22/06

DPU propõe ao STF criação de súmula vinculante sobre princípio da


insignificância

O pedido é para que o entendimento consolidado do STF seja de observância obrigatória pelas demais
instâncias da Justiça.

O defensor público-geral federal, Daniel de Macedo Alves Pereira, apresentou no Supremo


Tribunal Federal (STF) a Proposta de Súmula Vinculante (PSV) 144, em que pede que seja
aplicada por todas as instâncias da Justiça do país a jurisprudência pacífica da Corte no sentido
de que o princípio da insignificância ou da bagatela é compatível com o sistema jurídico
brasileiro.
Ele lembra que o STF tem aplicado o princípio em inúmeros processos, envolvendo, por
exemplo, furtos simples de fraldas, peças de roupa, chinelos, desodorantes, entre outros. Para
a caracterização da bagatela, a Corte entende que devem estar presentes no caso concreto, de
forma cumulativa, os seguintes requisitos: a mínima ofensividade da conduta do agente, a
nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do
comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Entretanto, o defensor público-geral sustenta que, apesar de entendimento pacificado do STF,
diversos tribunais do país insistem em afirmar que o princípio não possui previsão no
ordenamento jurídico brasileiro e que sua aplicação fere o princípio da legalidade. "Há forte
recalcitrância, por parte de diversos julgadores espraiados pelo país, em aplicar o princípio da
insignificância", aponta.
Condutas irrelevantes
Segundo o chefe da Defensoria Pública da União (DPU), as consequências da não aplicação do
princípio acarretam prisões desnecessárias, e por longo tempo, de pessoas que praticaram
condutas irrelevantes na seara penal. "Não raras vezes, as condutas singelas como o furto de
um par de sandálias infantis ou de um pacote de fraldas decorrem da necessidade urgente, da
carência absoluta que, lamentavelmente, assolam boa parte da população brasileira”, ressalta.
Além disso, a não aplicação pelas instâncias ordinárias gera "movimentação processual
exacerbada", pois, antes de chegar ao STF, o caso tramitou por três instâncias, tomando tempo
de juízes, membros do Ministério Público, defensores públicos e servidores, para, ao final, ser a
conduta considerada insignificante.
Tramitação de PSV

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Quando chega ao STF um pedido requerendo a edição, a revisão ou o cancelamento de


enunciado de súmula vinculante, a petição é classificada como PSV e passa a tramitar sob rito
específico previsto no Regimento Interno da Corte. Podem apresentar as propostas os próprios
ministros do STF e entidades ou autoridades externas, dentre elas o defensor público-geral
federal. Verificado pelo presidente do STF a adequação formal da proposta, o Tribunal publica
edital para ciência e manifestação de interessados no prazo de cinco dias e, depois, os autos são
encaminhados ao procurador-geral da República. Em seguida, as manifestações e a proposta
são submetidas aos ministros que integram a Comissão de Jurisprudência. Cabe ao ministro-
presidente submeter a proposta ao Plenário, e o texto será aprovado se receber oito votos
favoráveis (dois terços dos integrantes do Tribunal).

STF reafirma que requisição administrativa de bens de uma unidade


federativa por outra é inconstitucional

O Tribunal entendeu que a possibilidade de requisição administrativa de bens e serviços públicos de


titularidade de outros entes federativos fere o pacto federativo.
O Supremo Tribunal Federal (STF) julgou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADI) 3454 e reafirmou entendimento de que constitui ofensa ao princípio federativo a
requisição administrativa de bens ou serviços por uma unidade federativa a outra.
Em sessão virtual encerrada em 20/6, por unanimidade, o Tribunal excluiu do artigo 15, inciso
XIII, da Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde – SUS (Lei 8.080/1990) interpretação que
possibilite a requisição administrativa de bens e serviços públicos de titularidade de outros entes
federativos.
Conflito com a Constituição
Na ação, o partido Democratas (DEM) argumentava que o dispositivo embasou a intervenção
decretada pelo governo federal em hospitais do Rio de Janeiro (RJ) em 2005. Segundo a legenda,
o dispositivo deixa em aberto a interpretação sobre quais pessoas jurídicas ficam sujeitas à
requisição, em conflito com a Constituição, que só permite, em caso de perigo iminente, a
requisição de bens de propriedade particular, e não públicos, como aconteceu no caso da
intervenção no Rio de Janeiro.
Horizontalidade
No voto condutor do julgamento, o ministro Alexandre de Moraes explicou que o dispositivo
impugnado trata da possibilidade de requisição no contexto das atribuições do SUS e, portanto,
de competência comum entre os entes federativos. A hipótese, segundo ele, pressupõe a
existência de uma situação de necessidade coletiva, urgente e transitória, que afetará todos os
níveis de entes federativos, exigindo coordenação horizontal entre eles.
Nesse sentido, para o ministro, não é possível estender a hipótese do artigo 5, inciso XXV, da
Constituição da República, que prevê a requisição administrativa de bens particulares em caso
de iminente perigo público, às relações entre entes federativos, que devem ser caracterizadas
pela horizontalidade e cooperação.
A seu ver, a interferência da União sobre bens e serviços dos entes subnacionais foi admitida
pelo constituinte apenas nas excepcionais hipóteses de intervenção federal e estado de sítio,

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sendo descabida a interpretação que a permita em cenário de normalidade institucional, mesmo


no contexto extraordinário de pandemia de covid-19.

Ele lembrou o recente julgamento da Ação Cível Originária (ACO) 3463, em que o Plenário
referendou medida cautelar para impedir que a União requisitasse insumos para a fabricação
de vacina contra o coronavírus adquiridos pelo Estado de São Paulo, sob pena de violação da
autonomia estatal.
Para o ministro, a possibilidade de requisição pela União de bens públicos afetados ao
desempenho de competências dos entes federativos diversos subverte a própria repartição
constitucional de competências administrativas, em desfavor da autonomia e equilíbrio do
pacto federativo; sendo, portanto, flagrantemente inconstitucional.
Reajuste
Relator do processo, o ministro Dias Toffoli havia votado em sessão anterior pela improcedência
do pedido, mas reajustou seu voto para acompanhar o entendimento do ministro Alexandre de
Moraes, na linha da mais recente jurisprudência da Corte.

Plenário começa a julgar ADI sobre diferenciação entre advogado


público e privado

Ação da OAB questiona dispositivo prevendo que a relação empregatícia dos advogados de órgãos
públicos e sociedades de economia mista é distinta da estabelecida pelo Estatuto da Advocacia.
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou, nesta quarta-feira (22), o julgamento da
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3396, ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) contra dispositivo da Lei 9.527/1997 que determina que a relação
empregatícia dos advogados de órgãos públicos e sociedades de economia mista é distinta da
estabelecida pelo Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/1994).
Na sessão, foram realizadas as sustentações orais da OAB e dos amici curiae (amigos da Corte)
e, em seguida, foi apresentado o voto do relator, ministro Nunes Marques, que julgou o pedido
parcialmente procedente. O julgamento será retomado nesta quinta-feira com os votos dos
demais ministros.
Na ação, a OAB alega que o artigo 4ª da lei viola o princípio constitucional da isonomia ao prever
que as disposições constantes do Capítulo V, Título I, do Estatuto da Advocacia, não se aplicam
àqueles profissionais. As regras preveem a jornada de trabalho, o salário e o recebimento dos
honorários de sucumbência.
Sustentações
Em sua sustentação oral, o representante da OAB, Vicente Martins Prata Braga, reiterou que
não há embasamento legal para diferenciar os advogados que trabalham em empresas públicas
e sociedades de economia mista. Na sua avaliação, essas entidades, exercendo atividade
empresarial, em regime de monopólio ou não, devem conservar bons advogados. Por isso, a seu
ver, a retirada de direitos assegurados a outros advogados seria um desestímulo àqueles
profissionais, o que ocasionaria perda de quadros qualificados.

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Falando em nome dos amici curiae Federação Nacional dos Advogados e Fórum Nacional de
Advocacia Pública Federal, Hugo Mendes Plutarco apontou que o artigo 4º da Lei 9.527/1997 é
manifestamente inconstitucional. Em relação aos honorários de sucumbência, ele afirmou que
o novo Código de Processo Civil (artigo 85, parágrafo 19) permite seu recebimento pelos
advogados públicos.
Relator
O ministro Nunes Marques votou pela procedência parcial do pedido para dar interpretação
conforme ao artigo 4º da Lei 9.527/1997, excluindo de seu alcance apenas os advogados de
empresas públicas e de sociedade de economia mista não monopolísticas, ou seja, com
concorrentes.
No entanto, ele afirmou que esses advogados também estão sujeitos ao teto remuneratório do
serviço público, previsto no artigo 37, inciso XI, da Constituição Federal, com exceção daqueles
vinculados a empresa pública e a sociedade de economia mista que não recebam recursos do
estado para pagamento de pessoal e custeio nem exerçam atividade em regime monopolístico.
Advogados estatutários
Em relação aos advogados públicos regidos pela Lei 8.112/1990 (Estatuto dos Servidores
Públicos Civis da União, das Autarquias e das Fundações Públicas Federais), o ministro Nunes
Marques apontou que eles já possuem vários direitos e que, se tivessem mais benefícios, haveria
ofensa a isonomia com os demais servidores.
Sobre os advogados de empresas públicas e de sociedade mista que não possuem concorrência
no mercado, o relator ponderou que a jurisprudência do STF é no sentido de que elas se
assemelham ao regime das estatais.
Sem monopólio
Já no caso de empresas públicas ou de sociedades de economia mista que não atuam no regime
de monopólio, o ministro salientou que devem ser aplicados aos seus advogados as regras dos
profissionais da iniciativa privada, portanto devem incidir as normas do Estatuto da Advocacia.
“Esses advogados devem se submeter aos mesmos ônus e bônus do setor para não desequilibrar
a concorrência”, frisou.
O relator destacou também que o STF já decidiu que os advogados públicos têm direito aos
honorários sucumbenciais.

23/06

Governadores de 11 estados questionam lei que impôs alíquota


uniforme de ICMS sobre combustíveis

A ação foi distribuída ao ministro Gilmar Mendes, que já relata outro processo que trata da matéria.
Governadores de 11 estados acionaram o Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a
declaração de inconstitucionalidade de regras da Lei Complementar federal 192/2022 que
determinaram a uniformidade, em todo território nacional, das alíquotas do Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) incidente sobre combustíveis. A alegação na Ação

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Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7191, que tem pedido de liminar, é de que essa inovação
legal impõe ônus excessivo e desproporcional aos estados e ao Distrito Federal,
comprometendo continuidade dos serviços essenciais prestados à população.
De acordo com os governadores de Pernambuco, do Maranhão, da Paraíba, do Piauí, da Bahia,
de Mato Grosso do Sul, de Sergipe, do Rio Grande do Norte, de Alagoas, do Ceará e do Rio
Grande do Sul, autores da ADI, a redução abrupta da arrecadação dos 26 estados e do DF, por
ato unilateral federal, importa em quebra do pacto federativo e interferência indevida na
autonomia política, financeira, orçamentária e tributária desses entes.
Observam, ainda, que, como o ICMS decorrente das operações com combustíveis e lubrificantes
representa de 20% a 25% da arrecadação estadual, a imposição apresenta riscos à
governabilidade, em função dos imensos prejuízos gerados para os estados e o DF com a perda
de arrecadação direta. Apontam, ainda, a existência de impactos para os municípios, que terão
redução nas transferências constitucionais obrigatórias.
Segundo os governadores, a imposição de alíquota uniforme ocorreu sem qualquer estudo de
impacto fiscal e sem a demonstração de que esse novo instrumento será eficaz de reduzir os
preços dos combustíveis, que são atrelados aos valores praticados nos mercados internacionais.
Relator
Por prevenção, a ADI foi distribuída ao ministro Gilmar Mendes, relator de uma Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 984), na qual o presidente da República pede
que a alíquota do ICMS incidente sobre combustíveis nos 26 estados e no Distrito Federal não
ultrapasse a prevista para as operações em geral.

Aras questiona leis do Acre e do Amazonas sobre porte de armas para


atiradores desportivos

Para o procurador-geral da República, as normas impugnadas tratam de tema que deve ter regras
uniformes em todo o país.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, ajuizou no Supremo Tribunal Federal (STF) duas
Ações Diretas de Inconstitucionalidade, com pedido de liminar, contra leis dos Estados do Acre
(ADI 7188) e do Amazonas (ADI 7189) que dão prazo de 90 dias, a partir da edição das normas,
para que os Executivos estaduais regulamentem o porte de arma para atirador desportivo. A
ADI 7188 também abrange uma norma acreana que reconhece o risco da atividade exercida por
vigilantes de empresa de segurança privada e a efetiva necessidade de que esses profissionais
tenham porte de armas de fogo.
Aras argumenta que a Constituição Federal estabelece a competência exclusiva da União para
legislar sobre o tema e que o Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/2003) previu os ritos de
outorga de licença e descreveu a relação de agentes públicos e privados detentores de porte de
arma de fogo. Ele afirma que, embora os atiradores desportivos e as empresas de segurança
privada estejam incluídos nesse rol, a efetiva autorização para porte de arma de fogo deve ser
concedida pela Polícia Federal.
Estatuto do Desarmamento

12
NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

Em relação aos atiradores desportivos, Aras explica que o Estatuto do Desarmamento prevê a
possibilidade de concessão, pelo Comando do Exército, de porte de trânsito para essa categoria
nos deslocamentos para treinamento ou participação em competições, por meio da
apresentação do Certificado de Registro de Colecionador, Atirador e Caçador (CAC) e da Guia de
Tráfego válida.
Quanto aos empregados das empresas de segurança privada, ele explica que a lei permite a
utilização de armas de fogo somente quando estiverem em serviço e que a autorização de porte
deve ser expedida, pela Polícia Federal, apenas no nome da empresa de segurança privada – e
não para seus respectivos empregados, conforme prevê a lei do Acre.
Segundo o procurador-geral, as normas estaduais tratam de matéria que deve ter regras
uniformes em todo o país, além de estar ligada à formulação de política criminal de âmbito
nacional, que deve ficar a cargo exclusivo da União.
Normas
A ADI 7188 questiona as leis estaduais acreanas 3.941/2022 e 3.942/2022 e a ADI 7189 se volta
contra a lei amazonense 5.835/2022. As duas ações foram distribuídas à ministra Cármen Lúcia.

Pedido de vista suspende julgamento sobre validade de tramitação


direta de inquérito policial entre MP e Polícia Civil

O caso paradigma da repercussão geral trata de provimento da Corregedoria-Geral de Justiça de Mato


Grosso.
Pedido de vista do ministro Gilmar Mendes suspendeu o julgamento de um Recurso
Extraordinário (RE 660814), com repercussão geral (Tema 1.034), em que se discute a
constitucionalidade de norma da Corregedoria-Geral de Justiça de Mato Grosso (TJ-MT) que
estabelece procedimentos simplificados, no âmbito de inquérito policial, deliberados
diretamente por membro do Ministério Público, sem a interveniência de juiz.
Até o momento foram proferidos três votos. O relator, ministro Alexandre de Moraes, entende
que, como a norma regulamenta uma questão procedimental, não há inconstitucionalidade. Já
os ministros Ricardo Lewandowski e André Mendonça consideram que o Provimento 12/2005
da Corregedoria-Geral de Justiça invadiu a competência da União para legislar sobre matéria de
processo criminal.
O recurso foi interposto pelo Sindicato dos Delegados de Polícia Judiciária Civil do Estado de
Mato Grosso (Sindepo/MT) contra acórdão do Tribunal de Justiça local (TJ-MT) que manteve a
validade do provimento da Corregedoria que implementou alterações na Consolidação das
Normas Gerais do órgão.
Para o sindicato, a regra viola a independência e a autonomia da Polícia Civil, pois o Ministério
Público não pode determinar o método de trabalho a ser seguido em atividades policiais, além
de invadir a competência da União para legislar sobre matéria processual.
Norma procedimental
Para o ministro Alexandre de Moraes, normas sobre inquéritos são procedimentais e não
processuais, portanto, não há vedação constitucional para que os estados regulamentem
questões específicas. Para o ministro, a tramitação direta não diminui o papel da polícia na

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investigação criminal, apenas dá maior celeridade ao processo, evitando uma “triangulação


dispendiosa” entre autoridade policial, Judiciário e MP, em que o juiz precisa despachar cada
vez que uma diligência rotineira for requisitada.
O ministro frisou que a atuação do juiz continua necessária para medidas como busca e
apreensão, interceptação telefônica, quebra de sigilo bancário e fiscal ou decretação de prisão
temporária.
O relator destacou que, embora se trate de um procedimento administrativo diferenciado, por
atuar no campo das liberdades individuais, a Constituição Federal prevê a competência
concorrente dos estados para editar normas complementares. Observou, ainda, que o STF já
reconheceu a constitucionalidade da instauração, pelo Ministério Público, de procedimentos de
investigação criminal (PICs), um procedimento equivalente aos inquéritos e que é disciplinado
por atos do próprio Ministério Público.
Garantias individuais
Primeiro a divergir, o ministro Ricardo Lewandowski entende que a norma impugnada invadiu
competência legislativa reservada à União. Ele considera que a persecução penal está submetida
a rigorosas balizas normativas, constitucionais e infraconstitucionais, que estabelecem limites
objetivos ao poder de investigar do Estado.
Lewandowski ponderou que, para evitar abusos e assegurar a manutenção dos direitos e
garantias individuais do investigado, não é possível abrir mão do estrito controle judiciário da
investigação policial. Esse entendimento foi seguido pelo ministro André Mendonça, que
destacou a necessidade da participação de magistrado, como figura imparcial, na fase
inquisitorial que é o inquérito.

24/06

STF derruba repasse de taxas cartoriais de Goiás para fundos não


ligados à Justiça

Plenário considerou que os valores cobrados pelos serviços notariais e de registro devem financiar
somente a estrutura do Judiciário ou de órgãos e funções essenciais à Justiça.

O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a inconstitucionalidade de dispositivos


da Lei 19.191/2015 de Goiás que destinam parcelas dos emolumentos dos serviços notariais e
de registro para fundos e despesas que não são voltados ao financiamento da estrutura do Poder
Judiciário ou de órgãos e funções essenciais à Justiça. A decisão se deu, por unanimidade, em
sessão virtual finalizada em 20/6, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
5539, ajuizada pelo Partido Republicano da Ordem Social (Pros).
Em seu voto, o relator, ministro Gilmar Mendes, apontou que o entendimento do STF é no
sentido de que é constitucional norma estadual que destina parcela da arrecadação de
emolumentos extrajudiciais a fundos dedicados ao financiamento da estrutura do Poder
Judiciário ou de órgãos e funções essenciais à Justiça, a exemplo do Ministério Público e da
Defensoria Pública.

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No entanto, ele apontou que o Supremo vem ajustando sua jurisprudência para estabelecer
limites e tem declarado a invalidade de leis estaduais que afetam o produto da arrecadação de
custas ou emolumentos extrajudiciais a entidades de natureza privada, estranhas à estrutura
estatal.
Requisitos ausentes
Assim, o decano verificou, que, na norma goiana, não atendem aos requisitos necessários os
seguintes fundos: Estadual de Segurança Pública; Especial de Apoio ao Combate à Lavagem de
Capitais e às Organizações Criminosas; Penitenciário Estadual; Especial de Modernização e
Aprimoramento Funcional da Assembleia Legislativa; Estadual dos Direitos da Criança e do
Adolescente.
De acordo com o relator, também não pode haver repasse dos valores para “reforma, aquisição
e/ou locação de imóveis para delegacias de polícia”, “aplicação em programas e ações no âmbito
da administração fazendária” e para o Estado de Goiás. A seu ver, essas destinações violam o
comando constitucional de universalização e aperfeiçoamento da jurisdição como atividade
básica do Estado.
Utilização incorreta
O ministro Gilmar Mendes acrescentou, ainda, que esses repasses afrontam a Constituição
Federal devido à incorreta utilização de taxas para o financiamento de despesas e serviços a
serem custeados por impostos. A Constituição prevê que a União, os estados, o Distrito Federal
e os municípios poderão instituir taxas em razão do exercício do poder de polícia ou pela
utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao
contribuinte ou postos a sua disposição.
Segundo o ministro Gilmar Mendes, atendem aos propósitos constitucionais de universalização
e aperfeiçoamento da própria jurisdição como atividade básica do Estado o fornecimento de
recursos suficientes e adequados aos fundos destinados ao Reaparelhamento e Modernização
do Poder Judiciário; à Modernização e Aprimoramento Funcional do Ministério Público do
Estado de Goiás; aos Advogados Dativos e ao Sistema de Acesso à Justiça; à Manutenção e
Reaparelhamento da Procuradoria-Geral do Estado; à Manutenção e Reaparelhamento da
Defensoria Pública do Estado; e de Compensação dos Atos Gratuitos Praticados pelos Notários
e Registradores e de Complementação da Receita Mínima das Serventias Deficitárias.
Dessa forma, o Plenário julgou parcialmente procedente a ADI para declarar a
inconstitucionalidade dos incisos II, III, IV, X, XI e XII do artigo 15 da Lei 19.191/2015 de Goiás.

Lei de Pernambuco que autorizava Executivo a usar depósitos


judiciais é invalidada

O entendimento é de que a norma traz regra sem previsão na legislação federal e invadiu a
competência da União para legislar sobre direito processual.
O Supremo Tribunal Federal (STF) invalidou lei do Estado de Pernambuco que permitia a
utilização de depósitos judiciais e extrajudiciais de terceiros em programas e ações sociais e no
pagamento de precatórios judiciais relativos a créditos de natureza alimentar. Por unanimidade,

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

o colegiado julgou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6660, apreciada na


sessão virtual encerrada no dia 20/06.
A ação foi ajuizada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra a Lei estadual
12.305/2002 (alterada pela Lei 12.337/2003), que destina para a Conta Central de Depósitos
Procedimentais os depósitos judiciais e extrajudiciais, em dinheiro, à disposição do Poder
Judiciário estadual ou da Secretaria da Fazenda. De acordo com a lei, de 50% a 80% dos créditos
transferidos à conta central deverão compor um fundo de reserva, recomposto mensalmente
pelo estado.
A PGR argumentou que, como os depósitos judiciais são valores confiados pelas partes ao Poder
Judiciário, que fica responsável pela sua conservação e sua restituição ao final do processo, para
a efetivação da tutela jurisdicional, sua utilização pelo Poder Público é tema diretamente
relacionado com o campo do direito civil e do processual civil, de competência privativa da União
para legislar.
A relatora da ação, ministra Rosa Weber, constatou que a lei cria desarmonia no sistema de
pesos e contrapesos, pois autoriza a ingerência do Executivo em valores depositados por
terceiros em razão de processos dos quais o ente federativo não faz parte. A ministra observou
que a norma configura expropriação de valores pertencentes ao jurisdicionado, violando o
direito de propriedade, já que esses recursos não compõem as receitas públicas. A relatora
salientou que a lei pernambucana possibilita ingerência indevida de um poder sobre outro.
Em seu voto, Rosa Weber destacou que a permissão para o uso de recursos de depósitos judiciais
instituiu uma situação sem qualquer previsão na legislação federal e invadiu a competência da
União para legislar sobre direito processual e normas gerais de direito financeiro. A ministra
frisou que a jurisprudência do Supremo é clara no sentido de que a matéria relativa aos
depósitos judiciais é de competência legislativa privativa da União.
Também, por unanimidade, o colegiado aprovou a proposta de modulação dos efeitos da
decisão, para assentar a validade da lei até a data da publicação da ata do julgamento da ADI
6660. A relatora verificou que, como a aplicação da norma possibilitou o manejo dos recursos
depositados judicialmente, a medida é necessária para proteger a confiança legítima e a boa-fé
objetiva.

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STJ
20/06 a 24/06

Notícias do STJ mais relevantes para o cargo de DELEGADO DE POLÍCIA

• Advogado criminal consegue mudança de nome por existência de homônimo acusado de


crime.

• Sexta Turma afasta configuração de estelionato em fraude no uso de incentivo fiscal da


Lei Rouanet.

• Acordo de delação premiada é cabível em qualquer crime cometido em concurso de


agentes.

• Conselheiro do TCE do Rio e ex-esposa viram réus por lavagem de dinheiro.

• Ex-governador do DF não consegue suspender efeitos de condenação em ação de


improbidade.

• Presidente do STJ autoriza retomada de processo no TCU que investiga ex-procurador


Deltan Dallagnol por recebimento de diárias e passagens.

Demais notícias importantes do STJ

• Imóvel de empresa usado como moradia de sócio e dado em caução de locação comercial
é impenhorável.

• Ação de usucapião não depende de procedimento extrajudicial prévio.

• Tribunal confirma validade de penhora do bem de família dado por fiador em garantia de
locação comercial ou residencial.

• Quarta Turma nega redução proporcional de mensalidades escolares em virtude da


pandemia.

• ECA assegura pensão por morte a menor que esteve sob guarda da avó, mas só até os 18
anos.

• Vendedora de ingressos responde solidariamente por cancelamento de evento.

• Baixa de micro e pequenas empresas não impede que sócios respondam por seus débitos
tributários.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

• Pedido de majoração de honorários em sentença de improcedência configura requisito


para recurso adesivo.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

20/06

Advogado criminal consegue mudança de nome por existência de


homônimo acusado de crime

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu provimento ao recurso de um


advogado criminal e professor universitário que requereu a inclusão em seu registro civil do
sobrenome de sua avó materna, com o objetivo de evitar constrangimentos, em virtude da
existência de homonímia com réus em ações penais.
"A possibilidade de um potencial cliente do advogado fazer uma consulta em sites de buscas na
internet sobre o profissional e encontrar o seu nome vinculado a processo criminal pode causar
um embaraço que atinge diretamente sua imagem e sua reputação, configurando motivo
bastante para justificar a retificação do registro", afirmou o relator do recurso, ministro Marco
Aurélio Bellizze.
Segundo os autos, o advogado, ao ajuizar a ação de retificação de registros públicos, também
alegou a intenção de homenagear sua avó materna, com quem sempre manteve fortes laços
afetivos. Em primeira instância, por se reconhecer a confusão trazida pelo homônimo, o pedido
foi julgado parcialmente procedente para autorizar o autor a acrescentar o patronímico paterno,
sob o argumento de que o sobrenome pretendido não constava do nome dos ascendentes
diretos do advogado.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), após recurso interposto pelo autor da ação,
reconheceu, de ofício, que a sentença foi ultra petita, pois o pedido inicial estava limitado ao
acréscimo do nome da avó materna, e julgou improcedente o pedido.
O STJ considera a nova realidade social para decidir sobre a retificação do registro civil
No STJ, o relator lembrou que o nome é responsável por individualizar seu portador no âmbito
das relações civis, de forma que seu registro civil é imprescindível para garantir a proteção
estatal sobre ele.
"O direito ao nome está ligado a seu aspecto público dado pelo registro de pessoas naturais,
segundo o qual o Estado determina limites para os nomes e seus elementos constitutivos, tal
como a obrigatoriedade de conter ao menos um prenome e um nome (sobrenome) ".
Destacou ainda que a legislação que trata sobre o tema consagra o princípio da imutabilidade
do nome, de maneira que o prenome e nome são, em regra, imutáveis, com a finalidade de
garantir a segurança jurídica e a estabilidade das relações jurídicas.
Entretanto, Bellizze, que citou precedente da Terceira Turma, ponderou que o STJ vem
evoluindo em sua interpretação, de forma a considerar a nova realidade social e acompanhar a
velocidade de transformação das relações jurídicas, passando a entender que o tema está
inserido no âmbito da autonomia privada, apesar de não perder seu aspecto público, visto que
somente será admissível a retificação quando não se verificarem riscos a terceiros e à segurança
jurídica.
Existência de homonímia não basta para alterar registro, é necessário comprovar o prejuízo
O relator pontuou ainda que, de fato, uma das reais funções do patronímico é diminuir a
possibilidade de homônimos e evitar prejuízos à identificação da pessoa a ponto de lhe causar

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

algum constrangimento. Porém, ressaltou que a alegação do prejuízo não basta, sendo
necessária a comprovação dele.
"A mera existência de homonímia não é argumento suficiente para determinar a retificação do
registro civil, sendo imprescindível a demonstração de que o fato impõe ao sujeito situações
vexatórias, humilhantes e constrangedoras, que possam atingir diretamente a sua
personalidade e sua dignidade".
No caso dos autos, o relator recordou que o juiz expôs que a existência de homônimo estaria
gerando constrangimentos ao advogado e que a Corte Estadual, também, consignou a existência
de um homônimo respondendo a processo criminal no Rio Grande do Sul.
"O recorrente é advogado atuante na área criminal e professor universitário de direito
processual penal, de modo que a existência de um homônimo que responde a processo criminal,
ainda que em outro estado da federação, pode ensejar um constrangimento capaz de configurar
o justo motivo para fundamentar a inclusão do patronímico pretendido".
Sem ofensa à segurança jurídica e à estabilidade das relações jurídicas
Para o ministro, a alteração do nome, nesta situação, não representa qualquer ofensa à
segurança jurídica e à estabilidade das relações jurídicas, já que haverá tão somente a inclusão
do sobrenome da avó materna do autor, sem exclusão de nenhum outro patronímico.
Quanto à pretendida homenagem à avó, Bellizze afirmou não ser tal argumento idôneo para a
mudança no nome. "O sobrenome não tem a função de estreitar vínculos afetivos com os
membros da família, pois sua função primordial é revelar a estirpe familiar no meio social e
reduzir as possibilidades de homonímia".
 Leia o acórdão do REsp 1.962.674.

Imóvel de empresa usado como moradia de sócio e dado em caução


de locação comercial é impenhorável

O imóvel dado em caução em contrato de locação comercial, que pertence a determinada


sociedade empresária e é utilizado como moradia por um dos sócios, recebe a proteção da
impenhorabilidade do bem de família.
Com esse entendimento, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
confirmou acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) que manteve a impenhorabilidade
de imóvel caucionado que se destina à moradia familiar do sócio da empresa caucionante.
A controvérsia teve origem em execução promovida por um shopping center contra uma
empresa de pequeno porte. O TJSP vetou a penhora do apartamento dado em garantia da
locação, no qual moram o dono da empresa proprietária do imóvel e sua esposa, que é sócia da
executada.
No recurso ao STJ, o shopping sustentou que, tendo sido o imóvel oferecido em caução no
contrato de locação comercial, não deveria ser aplicada a regra da impenhorabilidade.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

Caução não afasta proteção do bem de família


Para o ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, relator, a caução em locação comercial não tem o
poder de afastar a proteção do bem de família. O ministro lembrou que as exceções à regra da
impenhorabilidade são taxativas, não cabendo interpretações extensivas (REsp 1.887.492).
Ele mencionou precedentes do tribunal segundo os quais, em se tratando de caução em
contratos de locação, não é possível a penhora do imóvel usado como residência familiar (AREsp
1.605.913 e REsp 1.873.594). "Em caso de caução, a proteção se estende ao imóvel registrado
em nome da sociedade empresária quando utilizado para moradia de sócio e de sua família",
afirmou.
Em seu voto, o relator destacou que a jurisprudência do STJ se firmou no sentido de que a
exceção prevista no artigo 3º, VII, da Lei 8.009/1990 – a qual admite a penhora do imóvel do
fiador de locação – não se aplica à hipótese de caução nesse tipo de contrato.
Proteção se estende a imóvel de empresa
O caso analisado, observou Cueva, apresenta a peculiaridade de que o imóvel pertence a uma
sociedade empresária e é utilizado para a moradia de um dos sócios e de sua família. Além disso,
o bem foi ofertado em garantia no contrato de locação de outra empresa, que tem sua esposa
como sócia administradora.
Para o ministro, a finalidade do artigo 1º, caput, da Lei 8.009/1990 é proteger a residência do
casal ou da entidade familiar diante de suas dívidas, garantindo o direito fundamental à moradia
previsto nos artigos 1º, III, e 6º da Constituição Federal.
"O imóvel no qual reside o sócio não pode, em regra, ser objeto de penhora pelo simples fato
de pertencer à pessoa jurídica, ainda mais quando se trata de sociedades empresárias de
pequeno porte. Em tais situações, mesmo que no plano legal o patrimônio de um e outro sejam
distintos – sócio e sociedade –, é comum que tais bens, no plano fático, sejam utilizados
indistintamente pelos dois", explicou o relator.
Ao negar provimento ao recurso especial, o ministro enfatizou que, se a lei objetiva a ampla
proteção ao direito de moradia, o fato de o imóvel ter sido objeto de caução não retira essa
proteção somente porque pertence a uma sociedade empresária de pequeno porte.
 Leia o acordão no REsp 1.935.563.

21/06

Ação de usucapião não depende de procedimento extrajudicial


prévio

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que o ajuizamento de ação
de usucapião independe de pedido prévio na via extrajudicial. O relator do processo foi o
ministro Villas Bôas Cueva.
A decisão veio no julgamento de recurso especial interposto contra acórdão do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) que, ao manter a sentença, entendeu que configura falta de
interesse processual a proposição de ação de usucapião sem a demonstração de que tenha

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

havido empecilho na via administrativa – posição alinhada ao Enunciado 108 do Centro de


Estudos e Debates (Cedes-RJ), segundo o qual "a ação de usucapião é cabível somente quando
houver óbice ao pedido na esfera extrajudicial".
No STJ, a autora da ação sustentou que o acórdão violou o artigo 216-A da Lei 6.015/1973, o
qual dispõe que, "sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento
extrajudicial de usucapião, que será processado diretamente perante o cartório do registro de
imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do
interessado, representado por advogado".
Lei é expressa quanto ao cabimento do pedido diretamente na via judicial
Ao proferir seu voto, o ministro Villas Bôas Cueva destacou que a questão é definir se o artigo
216-A da Lei 6.015/1973 – com a redação dada pelo artigo 1.071 do Código de Processo Civil de
2015, que criou a figura da usucapião extrajudicial – passou a exigir, como pré-requisito para a
propositura da ação judicial, o esgotamento da via administrativa.
Ele ressaltou que a Terceira Turma, no REsp 1.824.133, decidiu pela existência de interesse
jurídico no ajuizamento direto da ação de usucapião, independentemente de prévio pedido
extrajudicial. Naquele caso, o acórdão impugnado havia baseado sua decisão exatamente no
Enunciado 108 do Cedes-RJ, mas a Terceira Turma entendeu que, apesar de louvável a intenção
de desjudicialização de conflitos, não é possível relativizar a regra legal do caput do artigo 216-
A da Lei 6.015/1973, que faz expressa ressalva quanto ao cabimento direto da via jurisdicional.
"Nota-se que o novel procedimento extrajudicial foi disciplinado 'sem prejuízo da via
jurisdicional', de modo que a conclusão das instâncias ordinárias – que entenderam necessário
o esgotamento da via administrativa – está em confronto com a legislação de regência", concluiu
Villas Bôas Cueva.
 Leia o acórdão do REsp 1.796.394.

Tribunal confirma validade de penhora do bem de família dado por


fiador em garantia de locação comercial ou residencial

A Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), sob a sistemática dos recursos especiais
repetitivos (Tema 1.091), estabeleceu a tese de que é válida a penhora do bem de família de
fiador dado em garantia em contrato de locação de imóvel – seja residencial ou comercial –, nos
termos do artigo 3º, inciso VII, Lei 8.009/1990.
Com o julgamento – que teve como base o entendimento firmado pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) no Tema 1.127 –, os juízes e tribunais de todo país poderão aplicar o precedente
qualificado em processos semelhantes.
"O fiador, no pleno exercício de seu direito de propriedade de usar, gozar e dispor da coisa
(Código Civil, artigo 1.228), pode afiançar, por escrito (CC, artigo 819), o contrato de locação
(residencial ou comercial), abrindo mão da impenhorabilidade do seu bem de família, por sua
livre e espontânea vontade, no âmbito de sua autonomia privada, de sua autodeterminação",
afirmou o ministro Luís Felipe Salomão, relator dos recursos especiais analisados pela seção.
O magistrado explicou que a afetação do tema como repetitivo se deu pela necessidade de
reanálise do precedente fixado no REsp 1.363.368 e do enunciado 549 da Súmula do STJ,

22
NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

segundo os quais é válida a penhora do bem de família de propriedade de fiador em contrato


de locação.
Lei afasta impenhorabilidade no caso de fiança em contrato de locação
Salomão lembrou que a Lei 8.009/1990 previu um rol de exceções à regra da impenhorabilidade
do bem de família, entre as quais está a obrigação decorrente de fiança concedida em contrato
de locação (artigo 3º, inciso VII, incluído pela Lei 8.245/1991).
Com base nesse cenário legislativo, afirmou o magistrado, as cortes superiores passaram a
discutir se o fato de a locação ser residencial ou comercial teria impacto na regra de
penhorabilidade do bem de família do fiador. Após vários julgamentos, em maio de 2022, o STF
decidiu pela constitucionalidade da penhora do bem de família do fiador de contrato de locação
– seja residencial, seja comercial (Tema 1.127).
Nesse mesmo sentido, Salomão ressaltou que, de fato, a lei não distinguiu os contratos de
locação para fins de afastamento de regra de impenhorabilidade do bem de família. O ministro
observou, como também entendeu o STF, que não seria possível criar distinções onde a lei não
o fez – sob pena de violar o princípio da isonomia no instituto da fiança, pois o fiador de locação
comercial teria protegido o seu bem de família, ao passo que o fiador de locação residencial
poderia ter o seu imóvel penhorado.
Ainda segundo o relator, reconhecer a impenhorabilidade do imóvel do fiador, além de violar o
princípio da autonomia da vontade negocial, geraria impacto na liberdade de empreender do
locatário e no direito de propriedade do fiador, especialmente porque a fiança é a garantia
menos custosa e mais aceita pelos locadores.
"Afastar a proteção do bem de família foi o instrumento jurídico de políticas públicas de que o
Estado se valeu para enfrentar o problema público da ausência de moradia e de fomento da
atividade empresarial, decorrente das dificuldades impostas aos contratos de locação", concluiu
o ministro.

22/06

Quarta Turma nega redução proporcional de mensalidades escolares


em virtude da pandemia

A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou provimento a recurso


especial interposto por uma mãe que pleiteava a redução proporcional das mensalidades
escolares de seus filhos e a devolução parcial dos valores pagos durante o período de calamidade
pública provocado pela pandemia da Covid-19.
A consumidora alegou que, com a determinação de fechamento temporário das escolas – fato
superveniente –, o contrato se tornou extremamente vantajoso para uma das partes. Segundo
ela, a instituição de ensino reduziu de forma considerável o número de aulas contratadas e, em
consequência, seus custos fixos, enquanto os pais continuaram a pagar o mesmo valor, em
visível desequilíbrio contratual.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

A autora da ação sustentou ainda que o fato de as aulas passarem a ser oferecidas
exclusivamente de forma on-line causou prejuízos ao processo de aprendizagem e aumentou os
gastos da família com tecnologia para viabilizar o acesso das crianças ao ensino remoto.
Na origem, os pedidos foram julgados improcedentes, sob o fundamento de que as escolas
foram impedidas de cumprir as obrigações contratuais por força de decretos do poder público.
Revisão de contratos por fato superveniente deve considerar especificidades da situação
Relator do processo no STJ, o ministro Luís Felipe Salomão ponderou que não há dúvida quanto
aos efeitos nefastos da pandemia na economia e nas relações privadas, em especial as de caráter
sucessivo, como ocorre com os contratos de prestação educacional.
Ele recordou que, apesar de terem sido proferidas decisões judiciais e editadas leis estaduais
que impuseram a redução do valor das mensalidades durante o estado de calamidade pública,
também foram publicados diversos normativos com a finalidade de manter os contratos,
assegurando-se, na medida do possível, a continuidade das relações sem a aplicação dos ônus
por eventual inadimplemento.
"A revisão dos contratos em razão de fatos supervenientes deve ter como norte, sempre e
sempre, a função social do contrato, a boa-fé objetiva das partes, a equivalência material, a
moderação e a higidez nas relações jurídicas", declarou.
Além disso, o magistrado destacou que o Supremo Tribunal Federal (STF), ao julgar a ADI
6.445/2020, consignou que "a estipulação de descontos lineares não necessariamente importa
em benefício para os usuários do sistema de ensino, pois retira das partes contratantes a
capacidade de negociar formas de pagamento que se adéquem à especificidade de cada
situação".
Critérios objetivos e seguros para a revisão dos contratos em razão da pandemia
Outro ponto levantado pelo relator é a importância de se estabelecerem critérios objetivos e
seguros para a revisão dos contratos em razão da pandemia, pois essa não é uma "decorrência
lógica e automática", devendo-se levar em conta a natureza do contrato e a conduta das partes
envolvidas, sobretudo porque o fato superveniente não se encontra na esfera de
responsabilidade da atividade econômica do fornecedor – caso fortuito externo.
"A análise do desequilíbrio econômico e financeiro deve ser realizada com base no grau do
desequilíbrio e nos ônus a serem suportados pelas partes", disse o ministro.
No caso analisado, Salomão ressaltou que os serviços, embora não tenham sido prestados da
forma como contratados, continuaram a ser oferecidos, de modo que não se pode falar em falha
do dever de informação ou em desequilíbrio econômico-financeiro imoderado para os pais de
alunos, sendo interesse de ambas as partes a manutenção do pacto firmado.

ECA assegura pensão por morte a menor que esteve sob guarda da
avó, mas só até os 18 anos

A Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmou acórdão do Tribunal de Justiça
do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) que estabeleceu a uma menor de idade – sob guarda
da avó, servidora pública distrital, até o falecimento desta, em 2018 – o benefício de pensão por
morte, até que ela complete 18 anos. O TJDFT embasou sua decisão no artigo 2º do Estatuto da

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Criança e do Adolescente (ECA), segundo o qual a menoridade se encerra aos 18 anos, sendo
inaplicáveis as suas disposições a partir dessa idade.
No julgamento, o colegiado negou provimento ao recurso do Distrito Federal, sob o fundamento
de que, nos termos do artigo 33, parágrafo 3º, do ECA, comprovada a dependência econômica
do menor sob guarda, ele tem direito ao benefício de pensão por morte do seu mantenedor.
Por outro lado, a turma não conheceu do recurso da pensionista, que pretendia estender o
benefício até os 21 anos. Os ministros entenderam que a pensão concedida com base no ECA só
poderia, de fato, ser paga até os 18 anos.
Segundo a neta, o artigo 16, parágrafo 2º, da Lei 8.213/1991 e o artigo 217, parágrafo 3º, da Lei
8.112/1990 equipararam o menor sob guarda à condição de filho para fins previdenciários, de
modo que a concessão da pensão não deveria se ater apenas ao critério da minoridade.
Por seu lado, o Distrito Federal buscava a retirada do benefício, por entender que não há
previsão expressa de menor sob guarda de servidor distrital no rol de beneficiários constantes
da legislação previdenciária distrital.
ECA é norma específica em relação à legislação previdenciária
A relatora do caso, ministra Assusete Magalhães, mencionou precedentes do STJ segundo os
quais, embora existam leis estaduais e distritais sobre previdência social, crianças e adolescentes
também estão sob a jurisdição de norma específica: o ECA.
De acordo com a ministra, o ECA – norma especial em relação às disposições da legislação
previdenciária em regime geral ou próprio – confere ao menor sob guarda a condição de
dependente para todos os efeitos, inclusive previdenciários, com base no dever do poder
público e da sociedade quanto à proteção da criança e do adolescente, previsto no artigo 227
da Constituição Federal.
Assim, para Assusete Magalhães, a pensão por morte deferida judicialmente para a neta da
servidora pública falecida é válida, ao contrário do que defendia o Distrito Federal, e está
exclusivamente fundamentada na regra contida no artigo 33, parágrafo 3º, do estatuto – o que
exclui a possibilidade de invocar a legislação previdenciária distrital. Por isso, segundo a relatora,
é razoável que o termo final do pagamento da pensão por morte também seja extraído do ECA
(artigo 2º).
Desse modo, a ministra apontou que, como não se pode aplicar o estatuto a partir da data em
que a recorrente completou 18 anos, não há fundamento legal para manter o benefício da
pensão temporária por morte até a idade de 21 anos.
 Leia o acórdão no REsp 1.947.690.

Vendedora de ingressos responde solidariamente por cancelamento


de evento

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que uma sociedade empresária
atuante na venda de ingressos tem a obrigação de indenizar uma família de Belo Horizonte que
comprou bilhetes para um evento no Rio de Janeiro e só ficou sabendo do cancelamento depois
de viajar à cidade. A organizadora do evento também foi condenada pelo Tribunal de Justiça de
Minas Gerais (TJMG), solidariamente com a vendedora de ingressos, a arcar com a indenização.

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Para o colegiado, os integrantes da cadeia de consumo – incluindo-se a vendedora de ingressos,


que recorreu ao STJ – são responsáveis pelos danos gerados ao consumidor, não cabendo a
alegação de que o fato se deveu à culpa exclusiva de um deles.
"A recorrente e as demais sociedades empresárias que atuaram na organização e na
administração da festividade e da estrutura do local integram a mesma cadeia de fornecimento
e, portanto, são solidariamente responsáveis pelos danos suportados pelos recorridos, em
virtude da falha na prestação do serviço, ao não prestar informação adequada, prévia e eficaz
acerca do cancelamento/adiamento do evento", afirmou a relatora do recurso, ministra Nancy
Andrighi.
Recorrente alegou que não era responsável pelo evento
Na ação de indenização contra a organizadora e a vendedora de ingressos, a família alegou que
viajou ao Rio de Janeiro exclusivamente em razão do evento, arcando com todas as despesas de
transporte e hospedagem. Só ao chegar ao local da festa, a família descobriu que ela havia sido
cancelada.
Em primeiro grau, as rés foram condenadas ao pagamento dos danos materiais, além de danos
morais de R$ 5 mil para cada autor da ação – valor reduzido para R$ 3 mil pelo TJMG.
No recurso especial, a sociedade empresária alegou que não era responsável pela produção do
evento, tampouco por eventual cancelamento ou alteração, pois apenas vendeu as entradas em
sua plataforma digital. A recorrente também alegou ter informado antecipadamente os
consumidores sobre a não realização do evento.
Venda de ingressos é fase principal da cadeia produtiva
Nancy Andrighi explicou que o Código de Defesa do Consumidor (CDC), ao disciplinar a
responsabilidade pelo fato do serviço – quando um vício grave causa dano material ou moral ao
consumidor –, não faz distinção entre os fornecedores, motivo pelo qual toda a cadeia produtiva
se torna solidariamente responsável.
"Deve-se observar que, em se tratando de responsabilidade por vício, de acordo com os artigos
18 e seguintes do CDC, há responsabilidade solidária entre todos os fornecedores, inclusive o
comerciante, pouco importando a referência ao vício do produto ou do serviço", disse a relatora.
No caso dos autos – em que se discute exatamente a responsabilidade pelo fato do serviço –, a
ministra comentou que a venda de ingresso para determinado espetáculo é parte típica do
negócio, gerando lucro e compondo o custo embutido no preço. A magistrada destacou que a
venda das entradas corresponde à fase principal da cadeia produtiva, pois é nesse momento
que os serviços serão efetivamente remunerados e se determinará o sucesso ou não do negócio.
Como consequência, ela apontou que a vendedora de ingressos e todos os que atuaram na
organização da festa integram a mesma cadeia de fornecimento e, portanto, são solidariamente
responsáveis pelos danos sofridos pela família. "É dever de todos os fornecedores da cadeia de
consumo zelar pela disponibilização de condições adequadas de acesso aos eventos, a fim de
permitir a participação, sem percalços, do público em geral", declarou.
Ao manter o acórdão do TJMG, Nancy Andrighi ainda destacou que, segundo a corte mineira, a
recorrente não comprovou ter feito contato direto com a família, com antecedência razoável,
para avisar do cancelamento e dos meios disponíveis para o estorno do dinheiro.
 Leia o acórdão no REsp 1.985.198.

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23/06

Baixa de micro e pequenas empresas não impede que sócios


respondam por seus débitos tributários

Nas hipóteses de micro e pequenas empresas que tenham o cadastro baixado na Receita Federal
– ainda que sem a emissão de certificado de regularidade fiscal –, é possível a responsabilização
dos sócios por eventual inadimplemento de tributos da pessoa jurídica, nos termos do artigo
134, inciso VII, do Código Tributário Nacional (CTN).
O entendimento foi reafirmado pela Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao
reformar acórdão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) que, em execução de dívida
ativa, confirmou a sentença de extinção do processo após verificar que a microempresa já tinha
situação cadastral baixada na Receita antes do ajuizamento da ação.
Segundo o TRF4, a execução fiscal contra a microempresa dizia respeito a fatos geradores
ocorridos em período no qual não estava vigente a Lei Complementar 147/2014, porém havia a
previsão de responsabilidade solidária, nos termos do artigo 9º, parágrafos 3º e 5º, da Lei
Complementar 123/2006 (legislação que regula as micro e pequenas empresas).
Entretanto, no entendimento do TRF4, a responsabilidade dos sócios no caso analisado não
deveria ser reconhecida, tendo em vista a necessidade de comprovação das situações de
dissolução irregular previstas no artigo 135, inciso III, do CTN – como a presença de ato dos
sócios gestores com excesso de poder ou infração de lei, do contrato social ou do estatuto.
Micro e pequenas empresas podem ser baixadas sem certidão de regularidade fiscal
O ministro Mauro Campbell Marques destacou que o caso dos autos não pode ser enquadrado
na hipótese de dissolução irregular de empresa – situação em que seria, de fato, aplicável o
artigo 135 do CTN –, tendo em vista que a legislação incidente sobre as micro e pequenas
empresas prevê a possibilidade de dissolução regular sem a apresentação da certidão de
regularidade fiscal.
O relator ponderou que essa previsão busca facilitar o término das atividades da pessoa jurídica,
mas não pode servir de escudo para o não pagamento de dívidas fiscais.
"Há de se considerar que o próprio artigo 9º, parágrafos 4º e 5º, da LC 123/2006, ao tratar da
baixa do ato constitutivo da sociedade, esclareceu que tal ato não implica extinção da satisfação
de obrigações tributárias, nem tampouco do afastamento da responsabilidade dos sócios,
aproximando o caso ao insculpido no artigo 134, inciso VII, do CTN", apontou o relator.
Ao votar pelo provimento do recurso, Mauro Campbell Marques determinou que o sócio-
gerente da microempresa seja incluído no polo passivo da execução fiscal. Em seguida, o sócio
poderá apresentar defesa, a fim de afastar, eventualmente, a sua responsabilidade pelos
débitos.
 Leia o acórdão no REsp 1.876.549.

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Pedido de majoração de honorários em sentença de improcedência


configura requisito para recurso adesivo

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reafirmou a jurisprudência segundo a qual
o pedido de majoração de honorários advocatícios configura interesse recursal em obter
reforma da sentença de improcedência – o que atende ao requisito da sucumbência recíproca
para o cabimento de recurso adesivo.
Com esse entendimento, o colegiado reformou acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo
(TJSP) e determinou a análise do recurso adesivo interposto por uma imobiliária, em ação
movida por ela contra uma empresa para cumprimento de contrato de compra e venda.
Em primeiro grau, a ação foi julgada improcedente, tendo a imobiliária sido condenada a arcar
com as custas processuais e os honorários advocatícios. A parte ré apelou para pedir a
majoração dos honorários fixados na origem, e a autora recorreu, de forma adesiva, pleiteando
a reforma da sentença no mérito, com a consequente inversão integral dos ônus
da sucumbência.
Contudo, o tribunal estadual concluiu que a imobiliária não poderia aderir à apelação da parte
contrária para rediscutir o mérito da ação, uma vez que as questões de mérito necessitam de
recurso autônomo, que não foi manejado.
Sucumbência recíproca é pressuposto mínimo para interposição de recurso adesivo
O relator do caso no STJ, ministro Paulo de Tarso Sanseverino, explicou que o recurso adesivo
está previsto no artigo 997 do Código de Processo Civil (CPC), que disciplina o seu cabimento e
todos os pressupostos de admissibilidade.
Citando doutrina sobre o tema, o ministro ressaltou que o pressuposto mínimo para o
cabimento do recurso adesivo é a sucumbência recíproca, situação em que, a um só tempo e
pela mesma decisão, ambas as partes serão vencedoras e vencidas.
O relator lembrou tese fixada pela Corte Especial, sob o rito dos recursos repetitivos (Tema 459),
na qual se estabeleceu que "o recurso adesivo pode ser interposto pelo autor da demanda
indenizatória, julgada procedente, quando arbitrado, a título de danos morais, valor inferior ao
que era almejado, uma vez configurado o interesse recursal do demandante em ver majorada a
condenação, hipótese caracterizadora de sucumbência material".
Existência de interesse recursal da parte em obter tudo que poderia no processo
Para Sanseverino, o mesmo entendimento adotado no repetitivo deve ser aplicado ao caso em
análise. Assim, afirmou, a sucumbência recíproca deve ser compreendida sob o enfoque da
existência de interesse recursal da parte, ou seja, deve-se aferir se a parte deixou de "obter no
mundo dos fatos tudo aquilo que poderia ter conseguido com o processo".
Na hipótese, o ministro ponderou que o recurso da empresa ré para majorar o pagamento de
honorários advocatícios fez surgir para a imobiliária o interesse recursal em obter tudo o que
poderia ter conseguido quando prolatada a sentença de improcedência do seu pedido.
"Uma vez admitida a interposição da apelação principal (pois, como visto, configurada
a sucumbência recíproca sob o aspecto material), tem direito a empresa de, no caso, valer-se
do recurso adesivo, não estando obrigada a interpor apelação independente, como entendeu o
tribunal de origem", disse.

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Na avaliação do ministro, tem razão a imobiliária quando argumenta que, tendo sido julgada
totalmente improcedente a ação, surgiu o interesse recursal da empresa demandada em discutir
se a fixação da verba sucumbencial estaria de acordo com a lei, daí exsurgindo, em
consequência, a possibilidade de interposição do recurso adesivo para discutir o acerto da
decisão de primeiro grau.
 Leia o acórdão no REsp 1.854.670.

Sexta Turma afasta configuração de estelionato em fraude no uso de


incentivo fiscal da Lei Rouanet

A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou provimento ao recurso em que o
Ministério Público Federal (MPF) buscava a reclassificação, para estelionato, do crime imputado
a dois réus que teriam fraudado as normas da Lei Rouanet para reduzir o pagamento de imposto.
Para o colegiado, embora o MPF tenha alegado que os atos se amoldariam ao crime de
estelionato majorado, porque foram praticados contra a União, todos os elementos do processo
indicam que as fraudes foram cometidas por beneficiários da Lei Rouanet, com dedução do
Imposto de Renda, situação que se enquadra perfeitamente no delito previsto no artigo 40 da
própria lei especial.
O caso teve origem na Operação Boca Livre, em que foram investigados delitos na contratação
e na execução de projetos culturais aprovados pelo extinto Ministério da Cultura com base na
Lei Rouanet. Os réus foram acusados por desvio milionário de recursos públicos, devido à não
execução – total ou parcial – dos projetos para os quais foram captados recursos por meio de
renúncia fiscal, segundo os procedimentos previstos na Lei 8.313/1991.
Em primeiro grau, o juiz havia enquadrado os réus em estelionato, mas o Tribunal Regional
Federal da 3ª Região (TRF3) desclassificou a conduta para o crime do artigo 40 da Lei Rouanet.
Para o MPF, Lei Rouanet não traz sanção suficiente para o caso
No recurso especial, o MPF alegou que a capitulação penal da Lei Rouanet não abrangeria as
condutas descritas na denúncia, as quais ultrapassariam a obtenção de vantagens ilícitas com
intenção meramente fiscal.
Segundo o órgão acusador, haveria um desequilíbrio entre a gravidade da conduta dos réus, que
teriam causado o desvio de dezenas de milhões de reais do erário, e a pena prevista na Lei
Rouanet, que é de dois a seis meses de reclusão e multa. Para o estelionato, a pena fixada pelo
Código Penal é de um a cinco anos, aumentada em um terço quando o crime é cometido contra
entidade de direito público – o chamado estelionato majorado.
Lei especial descreve elementos específicos da conduta criminosa
Relator do recurso, o ministro Rogerio Schietti Cruz explicou que, no crime de estelionato, a
vantagem obtida por meio da fraude em prejuízo alheio pode ser qualquer uma com valor
material. Já no caso do crime descrito no artigo 40 da Lei Rouanet, a vantagem obtida é,
especificamente, a redução do Imposto de Renda, e o autor é a pessoa que se beneficiou do
incentivo fiscal.

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O parágrafo 2º do mesmo artigo prevê idêntica punição para a pessoa que se beneficia com os
recursos oriundos da renúncia fiscal e deixa de promover, sem justa causa, a atividade cultural
objeto do incentivo.
"Trata-se, portanto, de tipo penal (tanto o caput quanto o parágrafo 2º) que deve ser
considerado especial em relação ao estelionato, porque tem elementos da descrição geral com
alguns especializantes (específicos). A relação de especialidade ocorre quando um preceito
penal reúne todos os elementos de outro e só se diferencia dele por conter, ao menos, um
elemento adicional que permita antever a previsão fática de um ponto de vista específico",
completou o magistrado.
Execução do suposto desvio de recursos era complexa, mas não afasta a Lei Rouanet
Segundo o ministro Schietti, apesar de serem, aparentemente, aplicáveis ao mesmo fato uma
norma geral (o Código Penal) e outra norma especial (a Lei Rouanet), deve prevalecer a regra
que contenha os elementos especializantes, por identificarem melhor o caso concreto.
No caso dos autos, mesmo reconhecendo a complexidade do mecanismo pelo qual os recursos
captados teriam sido fraudulentamente utilizados, Schietti entendeu não ser possível deixar de
considerar que todo o esquema investigado pela Operação Boca Livre se destinava à obtenção
de vantagens ilícitas por meio da Lei Rouanet.
"De toda a narrativa feita na denúncia, é possível constatar que as condutas objetivavam auferir
fraudulentamente os benefícios da renúncia fiscal com a proposta de projetos que, em última
análise, obtinham valores que beneficiavam os próprios patrocinadores e as empresas
envolvidas no esquema, além de não serem aplicados nas atividades culturais", concluiu o
relator ao manter o acórdão do TRF3.

24/06

Acordo de delação premiada é cabível em qualquer crime cometido


em concurso de agentes

Para a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), é cabível a celebração de acordo de
delação premiada em quaisquer crimes cometidos em concurso de agentes, e não apenas se
houver investigação pelo delito de organização criminosa.
Com esse entendimento, o colegiado negou o pedido da defesa de um ex-magistrado que
alegava ilegalidade no uso da colaboração premiada como meio de obtenção de prova em
processo ao qual responde. Para a defesa, a colaboração premiada, nos termos da Lei
12.850/2013, só seria admissível se houvesse indícios de organização criminosa ou terrorista, ou
ainda de criminalidade transnacional (artigo 1º, parágrafos 1º e 2º).
O ex-juiz de direito do Rio de Janeiro, aposentado compulsoriamente após processo
administrativo disciplinar, é investigado pelos crimes de lavagem de capitais e corrupção passiva
e ativa. Em fiscalização na vara da qual era titular, a corregedoria da Justiça estadual constatou
que o magistrado determinou a realização de perícias em 762 processos, sendo 615 delas
(aproximadamente 80% do total) designadas para apenas quatro peritos.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

Um dos peritos foi preso em outra ação – desdobramento da Operação Lava-Jato – e passou a
colaborar com a Justiça, ocasião em que falou a respeito do pagamento de propina nas perícias
realizadas por designação do juiz, além de outras irregularidades.
Organização criminosa está configurada no caso
A relatora do habeas corpus, ministra Laurita Vaz, afirmou que, diante da definição de
organização criminosa contida no parágrafo 1º do artigo 1º da Lei 12.850/2013, a alegação da
defesa não se sustenta. Na sua avaliação, os pressupostos para que possa ser caracterizada a
organização criminosa estão configurados no caso.
Segundo a magistrada, muito antes da delação, a investigação se dedicou a apurar a existência
de uma organização hierarquicamente estabelecida na vara judicial, com o possível
envolvimento de pelo menos sete pessoas: o próprio juiz titular, quatro peritos a quem os
pedidos de laudos eram direcionados, o pai e a mulher do magistrado – os quais teriam
constituído uma pessoa jurídica, aparentemente estabelecida com a finalidade de lavar capitais.
Apesar disso, os investigados não foram acusados de integrar organização criminosa, mas, para
a relatora, tal circunstância não pode resultar no afastamento das provas obtidas no acordo de
delação premiada, uma vez que não se pode desconsiderar a hipótese de futura acusação por
esse crime.
Celebração de colaboração premiada em outros crimes
De todo modo, ressaltou Laurita Vaz, a doutrina e a jurisprudência têm admitido que sejam
celebrados acordos de colaboração premiada na investigação de outros crimes cometidos em
concurso de agentes, como já fez o Supremo Tribunal Federal em casos de corrupção passiva e
lavagem de capitais.
A ministra lembrou situações esparsas em que a legislação concede benefícios processuais e
penais aos colaboradores: extorsão mediante sequestro em concurso de agentes (artigo 159,
parágrafo 4º, do Código Penal); crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (artigo 25,
parágrafo 2º, da Lei 7.492/1986) e Lei de Crimes Hediondos (parágrafo único do artigo 8º), entre
outras hipóteses.
Além disso, segundo ela, o Código de Processo Penal não regulamenta o procedimento de
formalização dos acordos de delação premiada, e a Lei 12.850/2013 não prevê, de forma
expressa, que os meios de prova ali previstos sejam válidos apenas na apuração do delito de
organização criminosa.
Assim, concluiu, "não há óbice a que as disposições de natureza majoritariamente processual
previstas na referida lei apliquem-se às demais situações de concurso de agentes (no que não
for contrariada por disposições especiais, eventualmente existentes)".
"Em quaisquer condutas praticadas em concurso de agentes é possível celebrar acordo de
colaboração premiada – interpretação, inclusive, mais benéfica aos delatores", acrescentou.
 Leia o acórdão no HC 582.678.

Condômino que exerce posse sem oposição do coproprietário pode


pedir usucapião em nome próprio

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Para a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o condômino que exerce a posse do
imóvel por si mesmo – sem nenhuma oposição dos demais coproprietários – tem legitimidade
para pedir usucapião em nome próprio.
O entendimento foi firmado pelo colegiado ao confirmar acórdão do Tribunal de Justiça de São
Paulo (TJSP) que considerou o ex-cônjuge parte legítima para ajuizar a ação de usucapião em
nome próprio, após a dissolução da sociedade conjugal, desde que exerça a posse exclusiva
com animus domini e sejam atendidos os outros requisitos legais.
Segundo o processo, uma mulher pediu o reconhecimento de sua propriedade sobre a fração
ideal de 15,47% de vários imóveis. As partes, casadas desde 1970, se divorciaram em 1983, mas
não partilharam os bens. Por estar na posse exclusiva dos imóveis há mais de 23 anos (desde o
divórcio até o ajuizamento da ação, em 2007), sem oposição do ex-marido, a mulher ajuizou
ação objetivando a usucapião extraordinária.
No recurso especial apresentado ao STJ, o homem alegou que a coproprietária – no caso, sua
ex-esposa –, enquanto administrava a fração ideal dos imóveis comuns (alugando-os a
terceiros), não exerceu posse ad usucapionem, por mais longa que tenha sido essa posse; por
isso, não seria cabível o reconhecimento da usucapião em seu favor.
Posse de imóvel com ânimo de dono
De acordo com o relator, ministro Marco Aurélio Bellizze, a jurisprudência do STJ considera que,
dissolvida a sociedade conjugal, o imóvel comum do casal passa a ser regido pelas regras do
condomínio – ainda que não realizada a partilha de bens –, cessando o estado de mancomunhão
anterior.
"Nesse contexto, possui legitimidade para usucapir em nome próprio o condômino que exerça
a posse por si mesmo, sem nenhuma oposição dos demais coproprietários, tendo sido
preenchidos os demais requisitos legais", afirmou o ministro, citando vários precedentes do
tribunal (REsp 668.131; REsp 1.631.859; AgInt no REsp 1.787.720).
Segundo Bellizze, a posse de um condômino sobre o imóvel, exercida com ânimo de dono, ainda
que na qualidade de possuidor indireto, sem nenhuma oposição dos coproprietários, nem
reivindicação dos frutos que lhes são inerentes, confere à posse o caráter ad usucapionem, que
legitima a procedência da usucapião, quando atendidas as outras exigências da lei.
Ex-marido abandonou os bens após o fim do casamento
No caso julgado, observou o relator, após o fim do matrimônio, o ex-marido abandonou
completamente a fração ideal dos imóveis pertencente ao casal, sendo que a ex-esposa não lhe
repassou nenhum valor proveniente de aluguel – nem ele o exigiu – e tampouco prestou contas
por todo o período antecedente ao ajuizamento da ação.
Diante disso, o ministro entendeu ser descabida a alegação de que a mulher apenas
administrava os bens. "O que houve – e isso é cristalino – foi o exercício da posse pela ex-esposa
do recorrente com efetivo ânimo de dona, a amparar a procedência do pedido de usucapião,
segundo já foi acertadamente reconhecido na origem", afirmou o relator.
 Leia o acórdão no REsp 1.840.561.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

Conselheiro do TCE do Rio e ex-esposa viram réus por lavagem de


dinheiro

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) recebeu denúncia contra mais um membro
do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ): o conselheiro José Gomes Graciosa e sua ex-
esposa se tornaram réus em ação penal por lavagem de dinheiro.
Em maio, ao analisar outra ação penal envolvendo o TCE-RJ, a corte tornou réus, sob a acusação
de evasão de divisas e lavagem de dinheiro, o conselheiro Marco Antonio Barbosa e sua esposa.
Ambas as ações penais são desdobramentos das Operações Descontrole e Quinto do Ouro,
realizadas pelo Ministério Público Federal (MPF) com o apoio da Polícia Federal.
No processo do conselheiro José Gomes Graciosa e de sua ex-esposa, o MPF acusou o casal de
manter, de forma oculta e dissimulada, mais de um milhão de francos suíços em contas no
exterior, valor que, supostamente, seria fruto de crimes de corrupção praticados no âmbito do
TCE-RJ.
A defesa alegou que teria sido cerceada pela juntada incompleta das provas documentais e por
confusão criada pelo MPF ao alterar os nomes das pastas dos documentos entregues no curso
do processo.
No entanto, segundo a relatora do caso no STJ, ministra Isabel Gallotti, a defesa não especificou
quais seriam as parciais e incompletas juntadas de documentos, de modo que não há como
acolher a alegada nulidade.
Provas que fundamentam a denúncia foram entregues à defesa
"É indubitável que o arcabouço probatório que embasa a presente ação penal foi integralmente
disponibilizado à defesa, satisfazendo, assim, o direito assegurado na Súmula Vinculante 14",
afirmou a ministra. Além disso, segundo ela, a defesa deixou de demonstrar que as provas
supostamente sonegadas eram favoráveis aos denunciados e que teriam o potencial de levar à
rejeição da denúncia.
No mérito, a relatora lembrou que, nessa fase processual, não é possível proceder a uma análise
da suficiência ou da procedência das afirmações da peça acusatória oferecida pelo MPF,
bastando, para o recebimento da denúncia, o preenchimento dos requisitos previstos no artigo
41 do Código de Processo Penal.
Desnecessidade de condenação em crime antecedente
Isabel Gallotti rejeitou também a tese defensiva de que, para a caracterização do crime de
lavagem de dinheiro, seria necessária a condenação do conselheiro em crime antecedente – no
caso, o crime de corrupção investigado em outra ação penal.
A ministra afirmou que essa condenação prévia é dispensável, conforme farta jurisprudência do
tribunal sobre o assunto. Para o recebimento da denúncia por lavagem de dinheiro, explicou,
basta haver indícios da prática de crime antecedente.
Para a relatora, as teses da defesa sobre a licitude dos valores – como a de que seriam fruto de
rendimentos de aplicações anteriores ao período investigado – devem ser analisadas no curso
da ação penal, sob amplo contraditório.
"Como é pacífico na jurisprudência, descabe proceder, nesta fase procedimental, ao exame
aprofundado das provas contidas nos autos, bem como investigar a presença de dolo na
conduta do denunciado", concluiu Gallotti.

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NOTÍCIAS SEMANAIS DESTACADAS – STF E STJ

 Leia o acórdão na APn 927.

Ex-governador do DF não consegue suspender efeitos de condenação


em ação de improbidade

O ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gurgel de Faria não conheceu de dois pedidos
para atribuir efeito suspensivo ao recurso interposto por José Roberto Arruda, ex-governador
do Distrito Federal, contra o acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios
(TJDFT) que o condenou à suspensão dos direitos políticos e à devolução de R$ 11 milhões aos
cofres públicos, entre outras sanções por ato de improbidade.
Com os pedidos, a defesa do ex-governador pretendia que os efeitos da condenação fossem
suspensos até o julgamento do recurso pelo STJ. No entanto, segundo o ministro Gurgel de Faria,
o STJ não tem competência para atribuir efeito suspensivo a recursos sobrestados na origem,
como neste caso.
A condenação do ex-governador se deu no bojo de ação de improbidade administrativa em que
ele foi responsabilizado por suposta lesão aos cofres públicos, consistente no reconhecimento
de dívidas em favor da empresa Linknet, por serviços prestados ao governo do Distrito Federal
sem cobertura contratual, entre 2007 e 2009.
Aplicação retroativa da norma mais benéfica
No decorrer da ação, entrou em vigor a nova Lei de Improbidade Administrativa (Lei
14.230/2021), que modificou o regime jurídico das ações de improbidade. Com a nova lei, a
configuração de ato de improbidade passou a exigir a comprovação de dolo específico por parte
do agente público. Além disso, a lei trouxe o instituto da prescrição intercorrente ao rito
procedimental, com marcos interruptivos que preveem a contagem da prescrição pela metade
(de oito para quatro anos), quando esta recomeça a correr.
Em recurso especial interposto no TJDFT, a defesa buscou a aplicação retroativa da nova lei,
alegando que, com as mudanças, além de a ação ter sido alcançada pela prescrição, os atos
praticados por Arruda passariam a ser atípicos – pois ele fora condenado com base
em dolo genérico.
Reconhecimento de repercussão geral e sobrestamento do recurso
Com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de reconhecer a repercussão geral da
controvérsia sobre a possibilidade de aplicação retroativa das novas regras (Tema 1.199), foi
determinado o sobrestamento de todos os recursos que tratam da mesma matéria.
Inicialmente, a defesa de Arruda requereu ao TJDFT a atribuição de efeito suspensivo ao seu
recurso, mas não obteve êxito, o que levou ao ajuizamento dos pedidos de tutela de urgência
no STJ.
"Nesse contexto, o Superior Tribunal de Justiça não possui competência para antecipar o pedido
do recurso especial sobrestado na origem, nos termos do disposto na parte final do parágrafo
5º, III, do art. 1.029 do Código de Processo Civil de 2015", afirmou o ministro Gurgel de Faria ao
não conhecer dos pedidos.
De acordo com precedentes citados pelo relator, o STF decidiu que é do tribunal de origem a
competência para apreciar ações cautelares mesmo quando o recurso extraordinário já tiver

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passado pelo juízo de admissibilidade, caso ele esteja sobrestado pelo reconhecimento de
repercussão geral, e esse entendimento é aplicado no STJ, por analogia, aos recursos especiais.

25/06

Presidente do STJ autoriza retomada de processo no TCU que


investiga ex-procurador Deltan Dallagnol por recebimento de diárias
e passagens

O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Humberto Martins, suspendeu,


neste sábado (25), uma decisão que impediu a continuidade da tomada de contas especial
aberta pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para apurar suspeitas de recebimento indevido
de diárias e passagens pelo ex-procurador Deltan Dallagnol durante a operação Lava Jato.
Para o ministro, a decisão da Justiça Federal no Paraná, suspendendo o procedimento
instaurado pelo TCU, fere a autonomia da corte de contas.
“Os princípios da eficiência, da moralidade e da economicidade administrativa impõem a
liberdade de atuação fiscalizatória do tribunal de contas, cuja atividade institucional, ao final,
interessa e beneficia toda a sociedade, que clama por uma proba aplicação dos recursos
públicos", afirmou Martins.
Humberto Martins destacou ser salutar e legítima a atuação fiscalizatória, uma das razões da
existência dos tribunais de contas que atuam na verificação de eventual danos financeiros para
as contas públicas.
Pagamento de diárias e passagens supostamente indevidas
Em julho de 2020, após representações de parlamentares e do Ministério Público junto ao TCU,
a corte de contas abriu um processo para investigar o pagamento de diárias e passagens aos
procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, entre eles Deltan Dallagnol.
Em agosto de 2021, o ministro do TCU Bruno Dantas, ao despachar no processo, determinou a
apuração da diferença de custos com diárias e passagens em comparação ao que seria gasto,
caso a opção fosse pela remoção dos servidores para Curitiba.
No processo, o TCU apurou o montante de R$ 2,8 milhões pagos em diárias e passagens que
deveriam ser devolvidos pelos integrantes da força-tarefa. Com isso, Deltan Dallagnol acionou a
Justiça, alegando uma série de irregularidades no procedimento, como o fato de ser diretamente
responsabilizado na tomada de contas, mesmo sem nunca ter sido ordenador de despesas no
Ministério Público nem decidido sobre a estrutura da operação.
A 6a Vara Federal no Paraná concedeu a liminar suspendendo o processo de tomada de contas
em relação ao ex-procurador, decisão que foi mantida pela presidência do Tribunal Regional
Federal da 4ª Região (TRF4).
Ao pedir a suspensão da decisão do TRF4 no STJ, a União alegou que a liminar representa efetiva
lesão à ordem pública, na medida em que impede o exercício legítimo das atribuições
constitucionais e legais por parte do TCU. Além disso, sustentou que o órgão de controle precisa
se pronunciar sobre a regularidade da aplicação de recursos públicos no caso. Para a União, a

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manutenção da liminar poderá colocar em risco todas as demais tomadas de contas em


tramitação no TCU.
Risco de efeito multiplicador
Ao suspender a liminar confirmada pelo TRF4 até o trânsito em julgado do processo que discute
a legalidade da tomada de contas, o presidente do STJ destacou que, conforme apontado no
pedido da União, há risco de efeito multiplicador da liminar que suspendeu o trâmite do
processo no TCU.
"Está caracterizado o risco de efeito multiplicador impeditivo da atuação fiscalizatória regular e
legítima do tribunal de contas ao se permitir que prevaleça decisão que obste a devida
continuidade da apuração de eventual malversação dos recursos públicos", explicou Martins.
Esse cenário - afirmou o ministro - caracteriza grave lesão à ordem pública, na sua acepção
administrativa, ao impor entraves à execução normal e eficiente da competência do TCU.
"O Judiciário não pode atuar sob a premissa de que a atuação fiscalizatória do Tribunal de Contas
é realizada em desconformidade com a legislação, sendo presumivelmente ilegítima. Tal
concluir configuraria uma subversão do regime jurídico do Direito Administrativo, das
competências concedidas ao TCU e do papel do Judiciário", fundamentou o presidente do STJ.
Prejuízo irreversível com a manutenção da liminar
Humberto Martins enfatizou que a manutenção da decisão suspendendo o processo de tomada
de contas tornaria irreversível o prejuízo a ser concretizado com o impedimento de atuação
fiscalizatória da corte de contas.
Além disso, o ministro lembrou mudanças promovidas na legislação nacional quanto à lei de
introdução às normas ao direito brasileiro, impondo aos julgadores a necessidade de considerar
as consequências jurídicas e administrativas de suas decisões, não podendo os julgados se
fundamentarem apenas em valores jurídicos abstratos.
 Leia a decisão na SLS 3.133.

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