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Julho 2022

Julgados em destaque
DIREITO CONSTITUCIONAL
„ É constitucional a previsão regimental de rito de urgência para proposições que
tramitam na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, descabendo ao Poder
Judiciário examinar concretamente as razões que justificam sua adoção
A previsão regimental de um regime de urgência que reduza as formalidades processuais em casos
específicos, reconhecidos pela maioria legislativa, não ofende o devido processo legislativo.
A adoção do rito de urgência em proposições legislativas é matéria genuinamente interna corporis,
não cabendo ao STF adentrar tal seara. Precedente.
Quando não caracterizado o desrespeito às normas constitucionais pertinentes ao processo legis-
lativo, é defeso ao Poder Judiciário exercer o controle jurisdicional em relação à interpretação do
sentido e do alcance de normas meramente regimentais das Casas Legislativas.
STF. Plenário. ADI 6968/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 20/4/2022 (Info 1051).

„ Polícia Federal pode recusar pedido de inscrição no curso de vigilante pelo fato
de o indivíduo ter praticado delito que envolve o emprego de violência contra
a pessoa ou por ter demonstrado comportamento agressivo incompatível com
as funções do cargo
Quando o delito imputado envolve o emprego de violência contra a pessoa ou demonstre compor-
tamento agressivo incompatível com as funções de vigilante, é válida a recusa de pedido de inscri-
ção em curso de reciclagem para vigilantes profissionais, porquanto configurada, em regra, a ausên-
cia de idoneidade do indivíduo.
Caso concreto em que o indivíduo restou condenado pela prática de lesão corporal no âmbito do-
méstico, com sentença penal transitada em julgado e pena já cumprida, não se evidenciando, desse
modo, ilegalidade na recusa à matrícula no curso de reciclagem pela Polícia Federal, porquanto se
trata de delito que atrai valoração negativa sobre a conduta exigida do profissional, revelando sua
inidoneidade para o exercício da profissão.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.952.439-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 26/04/2022 (Info 734). 1
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DIREITO CONSTITUCIONAL
„ Condenação do ex-Deputado Federal Daniel Silveira
A liberdade de expressão existe para a manifestação de opiniões contrárias, jocosas, satíricas e até
mesmo errôneas, mas não para opiniões criminosas, discurso de ódio ou atentados contra o Estado
Democrático de Direito e a democracia.

A Constituição garante a liberdade de expressão, com responsabilidade. A liberdade de expressão


não pode ser usada para a prática de atividades ilícitas ou para a prática de discursos de ódio, con-
tra a democracia ou contra as instituições.

Nesse sentido, são inadmissíveis manifestações proferidas em redes sociais que objetivem a aboli-
ção do Estado de Direito e o impedimento, com graves ameaças, do livre exercício de seus poderes
constituídos e de suas instituições.

Ademais, conforme jurisprudência do STF, a garantia constitucional da imunidade parlamentar inci-


de apenas sobre manifestações proferidas no desempenho da função legislativa ou em razão desta,
não sendo possível utilizá-la como escudo protetivo para a prática de atividades ilícitas.

Não configurada abolitio criminis com relação aos delitos previstos na Lei de Segurança Nacional
(Lei nº 7.170/83).

Quando determinada conduta típica (e suas elementares) permanece descrita na nova lei penal,
com a manutenção do caráter proibido da conduta, há a configuração do fenômeno processual
penal da continuidade normativo-típica.

Na hipótese, o legislador não pretendeu abolir as condutas atentatórias à democracia, ao Estado de


Direito e ao livre exercício dos poderes. Na realidade, aprimorou, sob o manto democrático, a defe-
sa do Estado, de suas instituições e de seus poderes.

Observa-se, assim, a ocorrência de continuidade normativo-típica entre as condutas previstas nos


arts. 18 e 23, IV, da Lei nº 7.170/83 e a conduta prevista no art. 359-L do CP (com redação dada pela
Lei nº 14.197/2021), bem como entre a conduta prevista no art. 23, II, da Lei nº 7.170/83 e o conduta
típica prevista no art. 286, parágrafo único, do CP, com redação dada pela Lei nº 14.197/2021.

STF. Plenário. AP 1044/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/4/2022 (Info 1051).

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DIREITO CONSTITUCIONAL
„ A Medida Provisória 144/2003, convertida na Lei nº 10.848/2004, que dispõe sobre
a comercialização de energia elétrica, não viola o art. 246 da Constituição Federal
O autor da ADI alegava que, como a MP 144/2003 estipulou um novo modelo para o setor elétrico
após a EC 06/95, o que essa MP fez foi regulamentar o § 1º do art. 176 da CF/88 (alterado pela EC
06/95). Logo, a MP teria violado o art. 246 da CF/88:

Art. 246. É vedada a adoção de medida provisória na regulamentação de artigo da Constituição cuja
redação tenha sido alterada por meio de emenda promulgada entre 1º de janeiro de 1995 até a pro-
mulgação desta emenda, inclusive. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32/2001)

O STF não concordou.

A EC 6/95 não promoveu alteração substancial na disciplina constitucional do setor elétrico.

O que a EC 06/95 fez foi tão somente substituir a expressão “empresa brasileira de capital nacional”
pela expressão “empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração no
país”, que foi incluída no § 1º do art. 176 da CF/88.

O setor elétrico já estava, antes dessa alteração, aberto ao capital privado. Houve apenas ampliação
colateral em relação às empresas que poderiam ser destinatárias de autorização ou concessão para
explorar o serviço.

Além disso, a MP 144/2003 não se destinou a dar eficácia às modificações introduzidas pela EC
6/1995. O que ela fez foi regulamentar o art. 175 da CF/88, que dispõe sobre o regime de prestação
de serviços públicos no setor elétrico.

Logo, não houve violação ao art. 246 da CF/88.

STF. Plenário. ADI 3090/DF e ADI 3100/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 20/4/2022 (Info 1051).

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DIREITO CONSTITUCIONAL
„ É obrigatória a presença da União no polo passivo de ação na qual se pede medi-
camento registrado na Anvisa, mas não incorporado aos protocolos do SUS?
Regina está acometida de uma doença e precisa de um medicamento, que já foi registrado na ANVISA,
mas que não está incorporado aos atos normativos do SUS. Ela quer ajuizar uma ação para que seja
fornecido esse medicamento. A União precisa necessariamente figurar no polo passivo da demanda?

O STJ decidiu que não:

Em ação que pretende o fornecimento de medicamento registrado na ANVISA, ainda que não incor-
porado em atos normativos do SUS, é prescindível a inclusão da União no polo passivo da demanda.

STJ. 2ª Turma. RMS 68.602-GO, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 26/04/2022 (Info 734).

O problema foi que a 1ª Turma do STF, no mesmo dia, decidiu, aparentemente, em sentido contrá-
rio ao que foi explicado:

É obrigatória a inclusão da União no polo passivo de demanda na qual se pede o fornecimento gra-
tuito de medicamento registrado na Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas não incorporado
aos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do Sistema Único de Saúde.

Esse entendimento está em consonância com a tese fixada pelo STF nos embargos de declaração do
RE 855.178 (Tema 793).

STF. 1ª Turma. RE 1286407 AgR-segundo/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 26/4/2022
(Info 1052).

No informativo 1052 do STF não foram fornecidos mais detalhes e o acórdão ainda não foi publi-
cado. Assim, não se pode ter certeza se houve alguma distinção entre os dois casos. Tão logo haja
alguma novidade, você será avisada (o).

„ O Poder Judiciário pode determinar, ante injustificável inércia estatal, que o


Poder Executivo adote medidas necessárias à concretização de direitos constitu-
cionais dos indígenas
Caso concreto: MPF ajuizou ACP contra a União e a FUNAI para que concluíssem o Processo Admi-
nistrativo instaurado pelo Grupo Indígena Fulkaxó, no prazo de 4 meses, a contar da intimação da
sentença, bem como para destinar área à posse e ocupação dessa tribo, no prazo de 1 ano, ante a
impossibilidade de convivência pacífica com os índios da etnia Kariri-Xocó (de quem os primeiros se
originam), nas terras originariamente demarcadas pela administração pública.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.623.873-SE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 26/04/2022 (Info 734).

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DIREITO CONSTITUCIONAL
„ Município resultante de desmembramento realizado em desacordo com o art.
18, § 4º, da CF não detém legitimidade ativa para a cobrança de IPTU de imóvel
situado em território a ele acrescido
A EC nº 57/08 não convalidou desmembramento municipal realizado sem consulta plebiscitária e,
nesse contexto, não retirou o vício de ilegitimidade ativa existente nas execuções fiscais que haviam
sido propostas por município ao qual fora acrescida, sem tal consulta, área de outro para a cobran-
ça do IPTU quanto a imóveis nela localizados.

STF. Plenário. RE 614384/SE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/4/2022 (Repercussão Geral – Tema
559) (Info 1052).

„ É inconstitucional norma estadual que restabeleça, no âmbito do Poder Judiciá-


rio local, cargos de Advogado da Justiça Militar vocacionados a patrocinar a
defesa gratuita de praças da Polícia Militar
Esse modelo não se coaduna com aquele implementado pela ordem constitucional inaugurada em
1988, o qual dispõe que a função de defesa dos necessitados, quando desempenhada pelo Estado,
é própria à Defensoria Pública (art. 134 da CF/88).

A função de defesa dos necessitados, quando desempenhada pelo Estado, é própria da Defensoria Pública.

STF. Plenário. ADI 3152/CE, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 26/4/2022 (Info 1052).

„ É inconstitucional lei estadual que obriga as operadoras de planos saúde a assegu-


rar atendimento médico-hospitalar integral e adequado às pessoas com deficiência
É formalmente inconstitucional lei estadual que estabelece obrigações referentes a serviço de assis-
tência médico-hospitalar que interferem nas relações contratuais estabelecidas entre as operadoras
de planos de saúde e seus usuários.

STF. Plenário. ADI 7029/PB, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6/5/2022 (Info 1053).

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DIREITO CONSTITUCIONAL
„ Não estão protegidas pela imunidade parlamentar as manifestações injuriosas
de Senador proferidas em redes sociais de forma dolosa e genérica, com inten-
ção de destruir reputações, sem qualquer indicação de prova que pudesse corro-
borar as acusações
A liberdade de expressão não alcança a prática de discursos dolosos (actual malice), com intuito
manifestamente difamatório, de juízos depreciativos de mero valor, de injúrias em razão da forma
ou de críticas aviltantes.

A garantia da imunidade parlamentar, que deve ser compreendida de forma extensiva para a garan-
tia do adequado desempenho de mandatos parlamentares, não alcança os atos que sejam pratica-
dos sem claro nexo de vinculação recíproca do discurso com o desempenho das funções parlamen-
tares (teoria funcional) ou nos casos em que for utilizada para a prática de flagrantes abusos, usos
criminosos, fraudulentos ou ardilosos.

Caso concreto: em vídeos divulgados no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube, o Senador Jorge
Kajuru afirma que determinado Senador seria um “pateta bilionário” que “entrou na política por
negócio”. Também disse que um ex-Deputado Federal teria feito parte de esquema de jogos de azar
e seria “chefe de quadrilha”.

Prevaleceu o voto-vista do Ministro Gilmar Mendes no sentido de que as declarações de Kajuru são
desvinculadas do mandato parlamentar. Para o Ministro, as manifestações do Senador têm conteú-
do injurioso e foram proferidas de forma dolosa e genérica, com intenção de destruir reputações,
sem qualquer indicação de prova que pudesse corroborar as acusações.

STF. 2ª Turma. Pet 8242, 8259, 8262, 8263, 8267 e 8366 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, redator do
acórdão Min. Gilmar Mendes, julgados em 3/5/2022 (Info 1053).

DIREITO AMBIENTAL
„ É possível a queima da palha de cana-de-açúcar em atividades agroindustriais,
se houver autorização do órgão ambiental?
Sob a vigência da Lei nº 4.771/65 (antigo Código Florestal), é lícita a queima da palha de cana-de-açú-
car em atividades agroindustriais, desde que devidamente autorizada pelo órgão ambiental com-
petente e com a observância da responsabilidade civil por eventuais danos de qualquer natureza
causados ao meio ambiente ou a terceiros.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.443.290-GO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 19/04/2022 (Info 734).

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DIREITO AMBIENTAL
„ A indenização de dano ambiental „ São inconstitucionais decretos que
deve abranger a totalidade dos da- restrinjam a participação da socie-
nos causados, não sendo possível ser dade civil em órgãos ambientais
decotadas em seu cálculo despesas
São inconstitucionais as normas que, a pre-
referentes à atividade empresarial texto de reestruturarem órgãos ambientais,
(impostos e outras) afastam a participação da sociedade civil e
dos governadores do desenvolvimento e da
Caso concreto: ACP ajuizada pela União ob- formulação de políticas públicas, bem como
jetivando condenação dos réus na obrigação reduzem, por via de consequência, o controle
de restauração de área degradada e ao pa- e a vigilância por eles promovidos.
gamento de valor total do lucro obtido com a
extração ilegal de areia e argila. O TRF fixou a Com base nesse entendimento, o STF decla-
indenização no montante de 50% do fatura- rou a inconstitucionalidade:
mento total da empresa proveniente da extra-
• do art. 5º do Decreto nº 10.224/2020, que
ção irregular do minério, por ter descontado
extinguiu a participação da sociedade civil
as despesas referentes à atividade empresa-
no Conselho Deliberativo do Fundo Nacional
rial (impostos e outras).
do Meio Ambiente; e
O STJ não concordou com o TRF. A indeniza-
• do Decreto nº 10.239/2020, especificamente
ção deve abranger a totalidade dos danos
no ponto em que excluída a participação
causados ao ente federal, sob pena de frus-
de governadores no Conselho Nacional da
trar o caráter pedagógico-punitivo da sanção
Amazônia Legal; e
e incentivar a impunidade de empresa infra-
tora, que praticou conduta grave com a extra- • do inciso CCII do art. 1º do Decreto nº
ção mineral irregular. 10.223/2020, especificamente no ponto em
que se extinguiu o Comitê Orientador do
STJ. 2ª Turma. REsp 1.923.855-SC, Rel. Min. Fran-
Fundo Amazônia.
cisco Falcão, julgado em 26/04/2022 (Info 734).
STF. Plenário. ADPF 651/DF, Rel. Min. Cármen
Lúcia, julgado em 28/4/2022 (Info 1052).

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DIREITO CONSTITUCIONAL
„ É inconstitucional a concessão automática de licença ambiental para funciona-
mento de empresas que exerçam atividades classificadas como de risco médio
É inconstitucional a concessão automática de licença ambiental no sistema responsável pela inte-
gração (Redesim) para o funcionamento de empresas que exerçam atividades de risco médio nos
termos da classificação estabelecida em ato do Poder Público.
O licenciamento ambiental dispõe de base constitucional e não pode ser suprimido, ainda que de
forma indireta, por lei. Também não pode ser simplificado a ponto de ser esvaziado, salvo se a nor-
ma que o excepcionar apresentar outro instrumento apto a assegurar a proteção ao meio ambiente
com igual ou maior qualidade.
Nesse contexto, a simplificação do procedimento pelo argumento da desburocratização e desen-
volvimento econômico, com controle apenas posterior, configura retrocesso inconstitucional, pois
afasta os princípios da prevenção e da precaução ambiental. A automaticidade, por sua vez, con-
traria norma específica sobre o licenciamento ambiental, segundo a qual as atividades econômicas
potencial ou efetivamente causadoras de impacto ambiental estão sujeitas ao controle estatal.
Não possui fundamento constitucional válido a vedação da coleta adicional, pelos órgãos competen-
tes, de dados que não tenham sido disponibilizados na Redesim previamente ou no ato do protoco-
lo do pedido de licenciamento.
STF. Plenário. ADI 6808/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 28/4/2022 (Info 1052).

„ Ainda é constitucional a Resolução 491/2018 do Conselho Nacional do Meio Am-


biente (Conama), que dispõe sobre padrões de qualidade do ar. Entretanto, nova
norma deve ser ditada
O STF decidiu que essa resolução está em trânsito para a inconstitucionalidade e precisa ser aperfei-
çoada, não cabendo, contudo, ao Poder Judiciário substituir o juízo discricionário técnico na elabora-
ção da norma. Logo, o Conama deve editar norma atualizada tendo em conta os novos parâmetros
de qualidade do ar recomendados pela OMS.
Diante disso, a Corte julgou improcedente o pedido formulado na ADI e declarou que a Resolução
491/2018-Conama ainda é constitucional. Contudo, determinou que, no prazo de 24 meses, o Cona-
ma edite nova resolução sobre a matéria, a qual deverá levar em consideração:
a) as atuais orientações da OMS sobre os padrões adequados da qualidade do ar;
b) a realidade nacional e as peculiaridades locais; bem como
c) os primados da livre iniciativa, do desenvolvimento social, da redução da pobreza e da promoção
da saúde pública.
Decorrido o prazo de 24 meses concedido, sem a edição de novo ato que represente avanço mate-
rial na política pública relacionada à qualidade do ar, passarão a vigorar os parâmetros estabeleci-
dos pela OMS enquanto perdurar a omissão administrativa na edição da nova resolução.
STF. Plenário. ADI 6148/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, redator do acórdão Min. André Mendonça, 8
julgado em 4 e 5/5/2022 (Info 1053).
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DIREITO ADMINISTRATIVO
„ Reconhecida a responsabilidade estatal por acidente com evento morte em rodo-
via, é devida a indenização por danos materiais aos filhos menores e ao cônjuge
do de cujus
Caso concreto: ação de indenização ajuizada contra o Departamento de Estradas e Rodagens de
Sergipe (DER/SE), em face da morte do pai e companheiro dos autores, decorrente de acidente de
veículo em rodovia estadual, ocasionado por buraco não sinalizado.

Segundo o entendimento do STJ, a responsabilidade civil do Estado por condutas omissivas é subje-
tiva, sendo necessário, dessa forma, a comprovação da conduta omissiva e culposa (negligência na
atuação estatal - má prestação do serviço), o dano e o nexo causal entre ambos.

No caso, restou incontroverso que o acidente com evento morte ocorreu em rodovia estadual, me-
diante a queda de caminhão em buraco de 15 metros de profundidade, decorrente da ausência de
manutenção e fiscalização estatal da via pública, não havendo quaisquer indícios de culpa exclusiva
da vítima.

Desse modo, é possível concluir pela existência de omissão culposa por parte do ente público, con-
substanciada na inobservância ao dever de fiscalização e sinalização da via pública, bem como pelo
nexo causal entre a referida conduta estatal e o evento danoso, que resultou na morte do pai e ma-
rido dos recorrentes, causando-lhes, evidentemente, prejuízos materiais e morais, os quais devem
ser indenizados.

Presentes os elementos necessários para responsabilização do Estado pelo evento morte, deve-se
reconhecer devida a indenização por danos materiais, visto que a dependência econômica dos côn-
juges e filhos menores do de cujus é presumida, dispensando a demonstração por qualquer outro
meio de prova.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.709.727-SE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 05/04/2022 (Info 733).

„ Valores recebidos por servidores públicos por força de decisão judicial precária,
posteriormente reformada, devem ser restituídos ao erário
Se o servidor recebeu os valores amparado por uma decisão judicial precária, não há como se admi-
tir a existência de boa-fé, pois a Administração em momento algum gerou-lhe uma falsa expectativa
de definitividade quanto ao direito pleiteado.

Se não fosse permitida a restituição, isso iria gerar o desvirtuamento do próprio instituto da an-
tecipação dos efeitos da tutela, haja vista que um dos requisitos legais para sua concessão reside
justamente na inexistência de perigo de irreversibilidade.

STJ. 2ª Turma. AREsp 1.711.065-RJ, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 03/05/2022 (Info 735).

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DIREITO ADMINISTRATIVO
„ Nos contratos administrativos, é vá- „ É inconstitucional a criação de car-
lida a cláusula que prevê renúncia do gos em comissão sem a devida obser-
direito aos honorários de sucumbên- vância dos requisitos indispensáveis
cia por parte de advogado contratado fixados pelo STF
Não contrariando a lei nem sendo abusivo, o O STF possui critérios para definir se as atri-
contrato administrativo pode tratar de renún- buições dos cargos podem ser enquadradas
cia a direito do contratado. Esta renúncia será como direção, chefia e assessoramento?
eficaz e produzirá seus regulares efeitos na
hipótese em que houver expressa concordân- SIM. O STF, ao analisar o Tema 1010, afirmou
cia do contratado. que a criação de cargos em comissão é ex-
ceção à regra de ingresso no serviço público
Especificamente com relação aos advogados, o mediante concurso público de provas ou
Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) dispõe serem provas e títulos e somente se justifica quando
do advogado os honorários de sucumbência. presentes os pressupostos constitucionais
Havia previsão expressa a respeito da impossi- para sua instituição. Na oportunidade, foram
bilidade de retirar-lhes esse direito. Estava no fixadas as seguintes teses:
art. 24, § 3º. Contudo, em 2009, o STF declarou
a inconstitucionalidade da regra, uma vez que a) A criação de cargos em comissão somente
se trata de direito disponível e, por isso, ne- se justifica para o exercício de funções de di-
gociável com o constituinte do mandato (ADI reção, chefia e assessoramento, não se pres-
1194, Relatora p/ Acórdão Min. Cármen Lúcia, tando ao desempenho de atividades burocrá-
Tribunal Pleno, julgado em 20/05/2009). ticas, técnicas ou operacionais;

Nessa linha, não se pode concluir pela abusi- b) tal criação deve pressupor a necessária
vidade ou ilegalidade da cláusula contratual relação de confiança entre a autoridade no-
que prevê a renúncia do direito aos honorá- meante e o servidor nomeado;
rios de sucumbência, notadamente quando a c) o número de cargos comissionados criados
parte contratada, por livre e espontânea von- deve guardar proporcionalidade com a neces-
tade, manifesta sua concordância e procede sidade que eles visam suprir e com o número
ao patrocínio das causas de seu cliente me- de servidores ocupantes de cargos efetivos no
diante a remuneração acertada no contrato. ente federativo que os criar; e
No caso em análise, a parte autora manifes- d) as atribuições dos cargos em comissão de-
tou, de forma expressa e consciente, a renún- vem estar descritas, de forma clara e objetiva,
cia e só procurou discutir a cláusula após o na própria lei que os instituir.
fim do contrato.
Caso não se respeite esses requisitos, a cria-
STJ. 1ª Turma. AREsp 1.825.800-SC, Rel. Min. ção dos cargos em comissão será considerada
Benedito Gonçalves, julgado em 05/04/2022 inconstitucional.
(Info 733).
STF. Plenário. ADI 6655/SE, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 6/5/2022 (Info 1053).

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DIREITO CIVIL
„ Fundo de investimento pode sofrer os efeitos da aplicação do instituto da descon-
sideração da personalidade jurídica
O fato de ser o Fundo de Investimento em participação (FIP) constituído sob a forma de condomínio
e de não possuir personalidade jurídica não é capaz de impedir, por si só, a aplicação do instituto da
desconsideração da personalidade jurídica em caso de comprovado abuso de direito por desvio de
finalidade ou confusão patrimonial.

O patrimônio gerido pelo Fundo de Investimento em Participações pertence, em condomínio, a to-


dos os investidores (cotistas), a impedir a responsabilização do fundo por dívida de um único cotis-
ta, de modo que, em tese, não poderia a constrição judicial recair sobre todo o patrimônio comum
do fundo de investimento por dívidas de um só cotista, ressalvada a penhora da sua cota-parte.

As cotas dos fundos de investimento podem ser objeto de penhora em processo de execução por
dívidas pessoais dos próprios cotistas, mas não podem ser penhoradas por dívidas do fundo, tam-
pouco de outros cotistas que não tenham nenhuma relação com o verdadeiro devedor.

A impossibilidade de responsabilização do fundo por dívidas de um único cotista, de obrigatória


observância em circunstâncias normais, deve ceder diante da comprovação inequívoca de que a
própria constituição do fundo de investimento se deu de forma fraudulenta, como forma de enco-
brir ilegalidades e ocultar o patrimônio de empresas pertencentes a um mesmo grupo econômico.

Comprovado o abuso de direito, caracterizado pelo desvio de finalidade (ato intencional dos sócios com
intuito de fraudar terceiros), e/ou confusão patrimonial, é possível desconsiderar a personalidade jurídi-
ca de uma empresa para atingir o patrimônio de outras pertencentes ao mesmo grupo econômico.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.965.982-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/04/2022 (Info 733).

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DIREITO CIVIL
„ Caso Campari
Situação adaptada: Campari é uma marca de bebida alcóolica surgida há muitos anos na Itália. Na
década de 1970, a Campari celebrou contrato de distribuição com uma empresa brasileira (DSB),
que seria a responsável pela produção, distribuição e comercialização da bebida no Brasil. Após
muitos anos de contrato, a Campari decidiu não mais renovar o contrato e constituiu uma empresa
própria para fazer as atividades que eram desenvolvidas pela contratada. A DSB ajuizou ação de in-
denização contra a Campari do Brasil Ltda alegando que a ré, de forma ilícita, apropriou-se de toda
a estrutura de vendas e distribuição montado pela DSB, com vistas a criar sua própria organização
de distribuição e venda do produto Campari. Requereu indenização pela apropriação indevida de
todo o seu know-how relativo à sua estrutura de vendas e distribuição de produtos, de sua clientela,
em resumo, de todo esse patrimônio incorpóreo desenvolvido por décadas.

Para o STJ, a autora não tem direito à indenização.

Nos contratos de distribuição é normal que o produtor seja amplamente informado e participe
das técnicas mercadológicas usuais de venda desenvolvidas pela distribuidora e de seu campo de
atuação. Essas informações não configuram expertise singular indenizável, ou seja, não é cabível,
em regra, indenização pelo simples fato de o produtor utilizar essas informações para continuar
vendendo o produto no futuro sem a participação da empresa distribuidora.

Para que a Campari fosse condenada a indenizar seria necessário se provar que ela se utilizou de
know-how secreto e original da distribuidora, o que não é o caso.

Sem essa demonstração, o que se conclui é que a Campari utilizou-se dos conhecimentos e infor-
mações que adquiriu ao longo de todos esses anos de contrato em função do exercício legítimo do
seu poder de controle na qualidade de fornecedor sobre o seu distribuidor exclusivo.

Vale ressaltar que, por força do próprio contrato, a empresa distribuidora deveria fornecer à Cam-
pari as informações sobre estratégias de vendas, marketing, base de consumidores etc. Assim,
aquilo que a autora afirma que a ré se apropriou são informações que, pelo contrato, já deveriam
ser fornecidas. Isso afasta o caráter original e/ou secreto desses dados.

Ademais, a formação de clientela está normalmente associada às estratégias de marketing utiliza-


das pelo fabricante, à qualidade do produto e à notoriedade da marca, e não ao esforço e à dedica-
ção do distribuidor.

Dessa feita, no caso, não se identifica nenhum elemento ou técnica distintiva original ou protegida
por sigilo, legal ou contratualmente, a indicar apropriação indevida de know-how, sendo certo que
a organização de lista de clientes ou a dinâmica de vendas transferida contratualmente não tem o
condão de embasar pedido indenizatório de danos emergentes ou de lucros cessantes.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.727.824-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/04/2022 (Info 733).

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DIREITO CIVIL
„ A prisão civil do devedor de alimen- „ É imprescindível perícia técnica para
tos pode ser excepcionalmente afas- quantificar dano moral, ante divul-
tada, quando a técnica de coerção gação não autorizada de obra, reco-
não se mostrar a mais adequada e nhecido em título executivo em que
eficaz para obrigá-lo a cumprir suas se determina que seja considerada a
obrigações repercussão econômica do ilícito
No caso concreto, o STJ decidiu afastar a pri- Caso concreto: ação de indenização por danos
são civil com base nas seguintes particularida- materiais e morais proposta por Benedito Ruy
des: (i) o credor é maior de idade, com forma- Barbosa, autor do texto da telenovela “Panta-
ção superior e inscrito no respectivo conselho nal”, contra o SBT, em razão de a emissora ter
de classe; (ii) o devedor de alimentos está com reexibido a novela sem sua prévia e expressa
a saúde física e psicológica fragilizada, razão autorização e com cortes de cenas.
pela qual não consegue manter regularidade
no exercício de atividade laborativa; e (iii) a Considerando que escapa das regras normais
dívida se prolongou no tempo e se tornou da experiência um conhecimento adequado
gravoso exigir todo seu montante para afastar acerca dos lucros obtidos com a divulgação
o decreto de prisão. indevida de novela, tem-se como imprescindí-
vel a realização da perícia para que, levando
De acordo com o quadro fático delineado, a em conta a observação relativa aos lucros per-
medida extrema da prisão civil, no caso, não cebidos, seja fixado percentual sobre tal verba
vai conseguir compelir o devedor a cumprir a que sirva de efetiva recomposição dos danos
obrigação alimentar na medida em que, pelo morais do autor.
menos desde 2017, nada foi pago ao credor,
mesmo com a ameaça concreta de sua cons- STJ. 3ª Turma. REsp 1.983.290-SP, Rel. Min. Mou-
trição, com a expedição do mandado de pri- ra Ribeiro, julgado em 26/04/2022 (Info 734).
são civil em 2019, que só não foi efetivada em
virtude da pandemia causada pelo Covid-19.

A medida coativa extrema, no caso concreto,


revela-se desnecessária e ineficaz, pois o risco
alimentar e a própria sobrevivência do credor,
não se mostram iminentes e insuperáveis,
podendo ele, por si só, como vem fazendo,
afastar a hipótese pelo próprio esforço.

STJ. 3ª Turma. RHC 160.368-SP, Rel. Min. Mou-


ra Ribeiro, julgado em 05/04/2022 (Info 733).

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DIREITO CIVIL
„ Terceiro ofensor também está sujeito à eficácia transubjetiva das obrigações,
haja vista que seu comportamento não pode interferir indevidamente na rela-
ção, perturbando o normal desempenho da prestação pelas partes, sob pena de
se responsabilizar pelos danos
Os contratos são protegidos por deveres de confiança, os quais se estendem a terceiros em razão
da cláusula de boa-fé objetiva.

Diante do reconhecimento e da ampliação de novas áreas de proteção à pessoa humana, resultan-


tes da nova realidade social e da ascensão de novos interesses, surgem também novas hipóteses de
violações de direitos, o que impõe sua salvaguarda pelo ordenamento jurídico.

Assim, viu-se a necessidade de analisar o comportamento daquele terceiro que interfere ou induz o
inadimplemento de um contrato sob o prisma de uma proteção extracontratual, do capitalismo éti-
co, da função social do contrato e da proteção das estruturas de interesse da sociedade, tais como a
honestidade e a tutela da confiança.

De acordo com a Teoria do Terceiro Cúmplice, terceiro ofensor também está sujeito à eficácia tran-
subjetiva das obrigações, haja vista que seu comportamento não pode interferir indevidamente na
relação, perturbando o normal desempenho da prestação pelas partes, sob pena de se responsabi-
lizar pelos danos decorrentes de sua conduta.

A responsabilização de um terceiro, alheio à relação contratual, decorre da sua não funcionalização


sob a perspectiva social da autonomia contratual, incorporando como razão prática a confiança e o
desenvolvimento social na conduta daqueles que exercem sua liberdade.

Uma das hipóteses em que a conduta condenável do terceiro pode gerar sua responsabilização é a
indução interferente ilícita, na qual o terceiro imiscui-se na relação contratual mediante informações
ou conselhos com o intuito de estimular uma das partes a não cumprir seus deveres contratuais.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.895.272/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/4/2022 (Info 734).

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DIREITO CIVIL
„ Tem direito ao recebimento de alu- „ Promovido o leilão do bem pelo cre-
guéis a parte que, sem vínculo de dor hipotecário, a permanência do
parentalidade com a cônjuge supérs- mutuário no imóvel caracteriza pos-
tite, possuía imóvel em coproprieda- se de má-fé
de com o de cujus
Situação hipotética: João tomou um emprésti-
Situação hipotética: João faleceu. Regina, a mo junto à Caixa Econômica para adquirir um
viúva, ficou morando no apartamento a título imóvel, comprometendo-se a pagar a dívida
de suposto direito real de habitação. Esse em 180 prestações. Como garantia, o imóvel
imóvel pertencia a João e sua filha Letícia, em ficou hipotecado para a Caixa Econômica.
copropriedade. Letícia não é filha de Regina. Ocorre que, por dificuldades financeiras, o
Letícia terá direito de receber alugueis refe- adquirente se tornou inadimplente. Diante
rente à sua fração ideal. disso, a instituição financeira iniciou a exe-
cução hipotecária extrajudicial e o imóvel foi
Vale ressaltar que “a copropriedade anterior à levado a leilão.
abertura da sucessão impede o reconhecimen-
to do direito real de habitação, visto que de titu- No caso, quando foi comprado o bem, ainda
laridade comum a terceiros estranhos à relação que mediante contrato de financiamento, não
sucessória que ampararia o pretendido direito” havia tecnicamente nenhum impedimento
(STJ. 2ª Seção. EREsp 1.520.294/SP, Rel. Min. Ma- para que fosse adquirida a propriedade do
ria Isabel Gallotti, DJe 02/09/2020. Info 680). imóvel, pelo que de boa-fé a posse; ao revés,
no momento em que, em razão do inadim-
Em verdade, o direito de habitação só existe plemento das parcelas daquele contrato, a
sobre bem que pertence, em sua integralida- credora hipotecária promove o leilão do bem,
de, ao de cujus. A existência de coproprietá- ao permanecer o particular de maneira irre-
rios impede o uso pelo sobrevivente. gular no imóvel, a posse passa a se caracteri-
zar como de má-fé.
No caso, além da preexistente copropriedade,
a parte, filha do primeiro casamento do de STJ. 1ª Turma. AREsp 1.013.333-MG, Rel. Min. Gur-
cujus, não guarda nenhum tipo de solidarie- gel de Faria, julgado em 03/05/2022 (Info 735).
dade familiar em relação à cônjuge supérstite,
não havendo se falar em qualquer vínculo de
parentalidade ou até mesmo de afinidade.

Nessa linha de intelecção, portanto, não lhe


cabe suportar qualquer limitação ao seu
direito de propriedade, que é, justamente, a
essência do direito real de habitação.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.830.080-SP, Rel. Min.


Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
26/04/2022 (Info 734).

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DIREITO CIVIL
„ Pode ser válida a estipulação que confira ao credor a possibilidade de exigir, “tão
logo fosse de seu interesse”, a transferência da propriedade de imóvel
Situação adaptada: em 1970, Hugo e sua esposa Maria assinaram um documento particular reco-
nhecendo que metade de uma gleba de terra pertencia a Diogo, irmão de Hugo. No mesmo docu-
mento os signatários ainda consignaram que a fração de Diogo lhe seria transmitida tão logo ele
manifestasse interesse nesse sentido.

Esse documento foi levado a registro em 1977, mas apenas em 2006 Diogo interpelou seu irmão e
sua cunhada para que lhe transferissem a sua fração. Como não foi atendido, promoveu ação de
obrigação de fazer pleiteando a outorga da escritura pública correspondente ao seu quinhão no
imóvel.

Os réus alegaram que essa condição segundo a qual a propriedade do imóvel seria transferida a
Diogo “quando fosse de seu interesse”, seria vedada pelo art. 115 do CC/1916 e pelo art. 122 do
CC/2002, por se tratar de condição puramente potestativa. Assim, referida condição deveria ser con-
siderada não escrita e, portanto, inapta para suspender a fluência do prazo prescricional.

O STJ não concordou com os argumentos dos requeridos.

O art. 122 do CC/2002 (correspondente ao art. 115 do CC/1916) proíbe as condições puramente potes-
tativas, assim compreendidas como aquelas que sujeitam a eficácia do negócio jurídico ao puro arbí-
trio de uma das partes, comprometendo a seriedade do acordo e depondo contra a boa-fé objetiva.

No caso, a estipulação assinalada mais se assemelha a termo incerto ou indeterminado do que,


propriamente, a condição potestativa. E mesmo admitindo tratar-se de condição, seria de rigor veri-
ficar quem ela beneficiava (credor e devedor), não havendo falar, por isso, em falta de seriedade na
proposta ou risco à estabilidade das relações jurídicas.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.990.221-SC, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 03/05/2022 (Info 735).

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DIREITO CIVIL
„ O imóvel dado em caução em contrato de locação comercial que pertence a de-
terminada sociedade empresária e é utilizado como moradia por um dos sócios
recebe a proteção da impenhorabilidade de bem de família
É impenhorável o bem de família oferecido como caução em contrato de locação comercial. Isso
porque a exceção prevista no art. 3º, VII, da Lei nº 8.009/90 não se aplica à hipótese de caução, mas
apenas para os casos de fiança.

O instituto do bem de família é um corolário da dignidade da pessoa humana e tem o condão de


proteger o direito fundamental à moradia (arts. 1º, III, e 6º da Constituição Federal).

Assim, o imóvel no qual reside o sócio não pode, em regra, ser objeto de penhora pelo simples fato de
pertencer à pessoa jurídica, ainda mais quando se trata de sociedades empresárias de pequeno porte.
Em tais situações, mesmo que no plano legal o patrimônio de um e outro sejam distintos - sócio e
sociedade -, é comum que tais bens, no plano fático, sejam utilizados indistintamente pelos dois.

Se a lei tem por escopo a ampla proteção ao direito de moradia, o fato de o imóvel ter sido objeto
de caução, não retira a proteção somente porque pertence à pequena sociedade empresária. Caso
contrário, haveria o esvaziamento da salvaguarda legal e daria maior relevância do direito de crédi-
to em detrimento da utilização do bem como residência pelo sócio e por sua família.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.935.563-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 03/05/2022 (Info 735).

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DIREITO DO CONSUMIDOR
„ O médico é civilmente responsável por falha no dever de informação acerca dos
riscos de morte em cirurgia
Todo paciente possui, como expressão do princípio da autonomia da vontade (autodeterminação),
o direito de saber dos possíveis riscos, benefícios e alternativas de um determinado procedimento
médico, possibilitando, assim, manifestar, de forma livre e consciente, o seu interesse ou não na
realização da terapêutica envolvida, por meio do consentimento informado.

Esse dever de informação decorre do art. 22 do Código de Ética Médica e dos arts. 6º, III, e 14 do CDC.

Além disso, o Código Civil também disciplinou sobre o assunto no art. 15.

Justamente por isso, é indispensável o consentimento informado do paciente acerca dos riscos ine-
rentes ao procedimento cirúrgico. O médico que deixa de informar o paciente acerca dos riscos da
cirurgia incorre em negligência, e responde civilmente pelos danos resultantes da operação.

Vale ressaltar, ainda, que a informação prestada pelo médico ao paciente, acerca dos riscos, benefí-
cios e alternativas ao procedimento indicado, deve ser clara e precisa, não bastando que o profissio-
nal de saúde informe, de maneira genérica ou com termos técnicos, as eventuais repercussões no
tratamento, o que comprometeria o consentimento informado do paciente, considerando a defi-
ciência no dever de informação.

Com efeito, não se admite o chamado “blanket consente”, isto é, o consentimento genérico, em que
não há individualização das informações prestadas ao paciente, dificultando, assim, o exercício de
seu direito fundamental à autodeterminação.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.848.862-RN, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/04/2022 (Info 733).

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DIREITO DO CONSUMIDOR
„ A sociedade empresária que comer- „ A declaração de ilegalidade de ta-
cializa ingressos no sistema on-line rifas bancárias, com a consequen-
responde civilmente pela falha na te devolução dos valores cobrados
prestação do serviço indevidamente, em ação ajuizada
anteriormente, faz coisa julgada em
A venda de ingresso para um determinado
espetáculo cultural é parte típica do negócio. relação ao pedido de repetição de
Logo, trata-se de um risco da própria ativida- indébito dos juros remuneratórios in-
de empresarial que visa ao lucro e que integra cidentes sobre as tarifas
o investimento do fornecedor, compondo,
portanto, o custo básico embutido no preço. Caso concreto: a parte autora ajuizou a pri-
meira ação pedindo a devolução em dobro de
Desse modo, as sociedades empresárias que
todos os valores pagos com as tarifas declara-
atuaram na organização e na administração
das nulas. Nessa ação é possível concluir que
da festividade e da estrutura do local inte-
o pleito abarcou também os encargos inci-
gram a mesma cadeia de fornecimento e, por-
dentes sobre as respectivas tarifas. Se a parte
tanto, são solidariamente responsáveis pelos
eventualmente esqueceu de deduzir, de forma
danos, em virtude da falha na prestação do
expressa, a pretensão de ressarcimento dos
serviço, ao não prestar informação adequada,
juros remuneratórios que incidiram sobre as
prévia e eficaz acerca do cancelamento/adia-
tarifas declaradas nulas na primeira ação, não
mento do evento.
poderá propor nova demanda com essa finali-
Os integrantes da cadeia de consumo, em dade, sob pena de violação à coisa julgada.
ação indenizatória consumerista, também são
O acessório (juros remuneratórios incidentes
responsáveis pelos danos gerados ao consu-
sobre a tarifa) segue o principal (valor corres-
midor, não cabendo a alegação de que o dano
pondente à própria tarifa), razão pela qual
foi gerado por culpa exclusiva de um dos seus
o pedido de devolução de todos os valores
integrantes.
pagos referentes à tarifa nula abrange, por
Caso concreto: ação de indenização proposta dedução lógica, a restituição também dos res-
pelos consumidores em razão dos custos ad- pectivos encargos, sendo incabível, portanto,
vindos da compra de ingresso para o evento nova ação para rediscutir essa matéria.
Pretty Little Weekend, a ser sediado na cida-
Desse modo, a declaração de ilegalidade de ta-
de do Rio de Janeiro-RJ, cancelado, contudo,
rifas bancárias, com a consequente devolução
sem qualquer satisfação aos consumidores.
dos valores cobrados indevidamente, em ação
A sociedade empresária que comercializou os
ajuizada anteriormente com pedido de forma
ingressos no sistema on-line possui responsa-
ampla, faz coisa julgada em relação ao pedido
bilidade pela falha na prestação do serviço, a
de repetição de indébito dos juros remunera-
ensejar a reparação por danos materiais e a
tórios incidentes sobre as referidas tarifas.
compensação dos danos morais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.899.115-PB, Rel. Min.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.985.198-MG, Rel. Min. Nan-
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/04/2022
cy Andrighi, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
(Info 733).

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DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL
„ A remuneração do interventor de Cartório de Registro de Imóveis, com base no
art. 36, §§ 2º e 3º, da Lei 8.935/94, não se submete ao teto previsto no art. 37, XI,
da Constituição
Os §§ 2º e 3º do art. 36 da Lei nº 8.935/94 deixam claro que ao interventor caberá depositar em con-
ta bancária especial metade da renda líquida da serventia, sendo certo que esse montante, em caso
de condenação do cartorário titular, caberá ao próprio interventor, que terá indiscutível direito ao
seu levantamento.

No caso, não há controvérsia quanto a ter o titular da serventia sido condenado administrativamen-
te, com o que perdeu a delegação. Assim, nos expressos termos da legislação vigente, aquela meta-
de arrecadada durante o afastamento do titular deverá ser paga ao interventor.

Vale ressaltar que o STF decidiu que: “Os substitutos ou interinos designados para o exercício de
função delegada não se equiparam aos titulares de serventias extrajudiciais, visto não atenderem
aos requisitos estabelecidos nos arts. 37, inciso II; e 236, § 3º, da Constituição Federal para o provi-
mento originário da função, inserindo-se na categoria dos agentes estatais, razão pela qual se aplica
a eles o teto remuneratório do art. 37, inciso XI, da Carta da República.” (STF. Plenário. RE 808202 RS,
Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/08/2020. Repercussão Geral – Tema 779).

Ocorre que a hipótese dos autos diz respeito a interventor e é distinta, em princípio, da situação
que envolve “substitutos ou interinos”. Ademais, ainda que se aplique o precedente referido, o STF
– na apreciação dos declaratórios – modulou os efeitos do aludido acórdão “a partir da data em que
foi encerrada a sessão de julgamento virtual (21/8/20)”, sendo certo que a questão em julgamento é
de período anterior.

STJ. 1ª Turma. RMS 67.503-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 19/04/2022 (Info 733).

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
„ Para a prorrogação do prazo recur- „ A concessão da gratuidade de justiça
sal é necessária a configuração da ao microempreendedor individual -
justa causa, que deve ser demonstra- MEI e ao empresário individual pres-
da de maneira efetiva cinde de comprovação da hipossufi-
ciência financeira
A Corte Especial do STJ firmou o entendimen-
to de que o equívoco na indicação do término O empresário individual e o microempreende-
do prazo recursal contido no sistema eletrô- dor individual são pessoas físicas que exer-
nico mantido exclusivamente pelo Tribunal cem atividade empresária em nome próprio,
não pode ser imputado ao recorrente (EREsp respondendo com seu patrimônio pessoal
1805589/MT, relator Ministro Mauro Campbell pelos riscos do negócio, não sendo possível
Marques, Corte Especial, DJe de 25/11/2020). distinguir entre a personalidade da pessoa
Entretanto, também conforme o entendimen- natural e da empresa.
to deste Tribunal Superior, para a prorroga- O microempreendedor individual e o empre-
ção do prazo é necessária a configuração da sário individual não se caracterizam como
justa causa, que deve ser demonstrada de pessoas jurídicas de direito privado pro-
maneira efetiva. priamente ditas. Portanto, para a finalidade
O STJ também já reconheceu que apenas o precípua da concessão da benesse da gratui-
“print” do sistema não serve para efetivamen- dade judiciária a caracterização como pessoa
te demonstrar justa causa (AgInt no AREsp jurídica deve ser relativizada.
1.640.644/MT, Rel. Ministro Gurgel de faria, Assim, para a concessão do benefício da
Primeira Turma, julgado em 31/08/2020). gratuidade de Justiça aos microeempreende-
Diante desse cenário, tem-se exigido que dores individuais e empresários individuais,
a parte recorrente demonstre, de maneira em princípio, basta a mera afirmação de
efetiva, a justa causa para obter o excepcional penúria financeira, ficando salvaguardada à
afastamento da intempestividade recursal. parte adversa a possibilidade de impugnar o
deferimento da benesse, bem como ao ma-
STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp gistrado, para formar sua convicção, solicitar
1.837.057/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, a apresentação de documentos que considere
julgado em 29/3/2022 (Info 733). necessários, notadamente quando o pleito é
realizado quando já no curso do procedimen-
to judicial.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.899.342-SP, Rel. Min.


Marco Buzzi, julgado em 26/04/2022 (Info 734).

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
„ Não é possível considerar válida a ci- „ É necessária a indicação da alínea
tação de pessoa jurídica em seu antigo do inciso III do art. 105, da Constitui-
endereço, cuja mudança fora comuni- ção, no momento da interposição do
cada à Junta Comercial, mas sem alte- recurso especial, para que este seja
ração no sítio eletrônico da empresa conhecido pelo STJ?
Caso concreto: a citação da pessoa jurídica foi A falta de indicação expressa da norma consti-
feita por carta dirigida a determinado endereço tucional que autoriza a interposição do recur-
que não é mais a sede da empresa. Vale ressal- so especial (alíneas “a”, “b” e “c” do inciso III do
tar que o novo endereço foi atualizado na Junta art. 105 da CF/88) implica o seu não conheci-
Comercial. Apesar disso, no site da empresa ain- mento pela incidência da Súmula 284 do STF,
da consta o antigo endereço. Será considerada salvo, em caráter excepcional, se as razões
válida essa citação feita no antigo endereço? recursais conseguem demonstrar, de forma
inequívoca, a hipótese de seu cabimento.
Não. A verificação da validade da citação deve
levar em consideração a grande importân- Súmula 284-STF: É inadmissível o recurso
cia desse ato, que está relacionado com os extraordinário, quando a deficiência na sua
direitos e garantias que envolvem o sistema fundamentação não permitir a exata com-
processual. Justamente por isso, o formalis- preensão da controvérsia.
mo desse ato de comunicação assume papel
fundamental e não pode ser afastado. STJ. Corte Especial. EAREsp 1.672.966-MG, Rel.
Min. Laurita Vaz, julgado em 20/04/2022 (Info 734).
A empresa cumpriu a obrigação legal de
registro da alteração do contrato social com o
novo endereço, nos termos do art. 32 da Lei „ É admissível o pagamento de hono-
nº 8.934/94, garantindo-se a publicidade da rários advocatícios contratuais com
modificação e, portanto, o acesso da autora a verbas provenientes dos juros mo-
tal informação.
ratórios incidentes sobre o valor do
Não existe norma jurídica prevendo qualquer precatório devido pela União
tipo de presunção de validade de citação en-
caminhada a endereço desatualizado e, como Os juros de mora incidentes sobre o valor do
se trata de ato processual de suma importân- precatório devido pela União em ações pro-
cia para o exercício do contraditório e da am- postas em favor dos Estados e dos Municípios
pla defesa, não é lícita qualquer citação ficta relativos às verbas destinadas ao FUNDEF/
além daquelas expressamente previstas em FUNDEB podem ser utilizadas para pagamen-
lei (citação por hora certa e citação por edital). to de honorários advocatícios contratuais.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.976.741-RJ, Rel. Min. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.880.972-AL, Rel.
Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em Min. Og Fernandes, julgado em 19/04/2022
26/04/2022 (Info 734). (Info 735).

22
JULGADOS
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
„ A liquidação da sentença coletiva, pro- „ A ausência de expediente forense no
movida pelo Ministério Público, não dia de Corpus Christi deve ser com-
tem o condão de interromper o prazo provada pela parte, no momento da
prescricional para o exercício da pre- interposição do recurso, por meio de
tensão individual de liquidação e exe- documento idôneo
cução pelas vítimas e seus sucessores
O dia de Corpus Christi é feriado local, consi-
Não cabe ao Ministério Público promover a li- derando que não é não previsto em lei fede-
quidação da sentença coletiva para satisfazer, ral. Por essa razão, a ausência de expediente
um a um, os interesses individuais disponíveis forense em tal data deve ser comprovada pela
das vítimas ou seus sucessores, por se tratar parte recorrente, no momento da interposição
de pretensão não amparada no CDC e que do recurso, por meio de documento idôneo.
foge às atribuições institucionais do Parquet. A juntada de calendário extraído de página do
Logo, o requerimento de liquidação da sen- Tribunal de Justiça na internet não se revela
tença coletiva, acaso seja feito pelo MP, não é como documento idôneo a ensejar a compro-
apto a interromper a prescrição para o exercí- vação da existência do aludido feriado, na me-
cio da respectiva pretensão pelos verdadeiros dida em que, para tanto, é necessária a jun-
titulares do direito tutelado. tada de cópia de lei ou de ato administrativo
Em homenagem à segurança jurídica e ao in- que ateste, de modo inequívoco, a ausência
teresse social que envolve a questão, e diante de expediente forense na data em questão.
da existência de julgados anteriores desta STJ. 4ª Turma. AREsp 1.779.552-GO, Rel. Min.
Corte, nos quais se reconheceu a interrupção Marco Buzzi, julgado em 26/04/2022 (Info 735).
da prescrição em hipóteses análogas à destes
autos, gerando nos jurisdicionados uma ex-
pectativa legítima nesse sentido, faz-se a mo-
dulação dos efeitos desta decisão, com base
no § 3º do art. 927 do CPC/2015, para decretar
a eficácia prospectiva do novo entendimen-
to, atingindo apenas as situações futuras, ou
seja, as ações civil públicas cuja sentença seja
posterior à publicação deste acórdão.

Convém alertar que a liquidação das futuras


sentenças coletivas, exaradas nas ações civis pú-
blicas propostas pelo Ministério Público e relati-
vas a direitos individuais homogêneos, deverão
ser promovidas pelas respectivas vítimas e seus
sucessores, independentemente da eventual
atuação do Parquet, sob pena de se sujeitarem
os beneficiados à decretação da prescrição.

STJ. Corte Especial. REsp 1.758.708-MS, Rel.


Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/04/2022
(Info 734). 23
JULGADOS
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL
„ Não é cabível extinção da execução „ No caso de micro e pequenas empre-
pela ausência de juntada das aven- sas é possível a responsabilização
ças anteriores e subjacentes ao con- dos sócios pelo inadimplemento do
trato de confissão de dívida tributo, cabendo-lhes demonstrar a
insuficiência do patrimônio quando
O instrumento de confissão de dívida consti-
tui título executivo extrajudicial, sendo que a da liquidação para exoneração da
possibilidade de discussão dos contratos que responsabilidade pelos débitos
lhe antecedem não retira a sua força executi-
va, conforme se pode inferir das Súmulas 286 Tratando-se de execução fiscal proposta em
e 300/STJ. desfavor de micro ou pequena empresa regu-
larmente extinta, é possível o imediato redire-
STJ. 3ª Turma. REsp 1.805.898-MS, Rel. Min. cionamento do feito contra o sócio, com base
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/04/2022 na responsabilidade prevista no art. 134, VII, do
(Info 735). CTN. Cabe ao sócio demonstrar a eventual insu-
ficiência do patrimônio recebido por ocasião da
liquidação para, em tese, poder se exonerar da
responsabilidade pelos débitos exequendos.

Art. 134. Nos casos de impossibilidade de


exigência do cumprimento da obrigação prin-
cipal pelo contribuinte, respondem solidaria-
mente com este nos atos em que intervierem
ou pelas omissões de que forem responsá-
veis: (...) VII - os sócios, no caso de liquidação
de sociedade de pessoas.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.876.549-RS, Rel. Min.


Mauro Campbell Marques, julgado em
03/05/2022 (Info 735).

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DIREITO PENAL
„ É possível utilizar a quantidade e „ Em regra, é necessária perícia para
natureza da droga apreendida para comprovar a escalada no caso de furto
a modulação da causa de diminuição qualificado (art. 155, § 4º, II, do CP). Ex-
prevista no art. 33, § 4º, da LD? cepcionalmente, a prova pericial será
prescindível (dispensável) se houver
É possível a valoração da quantidade e natu-
reza da droga apreendida, tanto para a fixa- nos autos elementos aptos a compro-
ção da pena-base quanto para a modulação var a escalada de forma inconteste
da causa de diminuição prevista no art. 33, §
4º, da Lei nº 11.343/2006, neste último caso O STJ firmou orientação de ser imprescindí-
ainda que sejam os únicos elementos aferi- vel, nos termos dos arts. 158 e 167 do CPP,
dos, desde que não tenham sidos considera- a realização de exame pericial para o reco-
dos na primeira fase do cálculo da pena. nhecimento das qualificadoras de escalada e
arrombamento no caso do delito de furto (art.
STJ. 3ª Seção. HC 725.534-SP, Rel. Min. Ribeiro 155, § 4º, II, do CP), quando os vestígios não
Dantas, julgado em 27/04/2022 (Info 734). tiverem desaparecido e puderem ser consta-
tados pelos peritos.
„ A negativação de circunstâncias Contudo, excepcionalmente, pode-se dispen-
judiciais, ao contrário do que ocorre sar a prova pericial quando estiverem presen-
tes nos autos elementos aptos a comprovar a
quando reconhecida a agravante da
escalada de forma inconteste.
reincidência, confere ao julgador a
faculdade (e não a obrigatoriedade) No caso concreto, a circunstância qualificadora
foi comprovada pela prova oral, inclusive pela
de recrudescer o regime prisional confissão do próprio réu, além da existência
de laudo papiloscópico que identificou im-
Dadas as peculiaridades do caso concreto,
pressões digitais no local apontado pela vítima
admite-se que ao réu primário, condenado
como sendo o local onde o réu pulou o muro.
à pena igual ou inferior a 4 (quatro) anos de
reclusão, seja fixado o regime inicial aberto, STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.895.487-DF, Rel.
ainda que negativada circunstância judicial. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em
26/04/2022 (Info 735).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.970.578-SC, Rel. Min.
Olindo Menezes (Desembargador convocado do
TRF1ª Região), julgado em 03/05/2022 (Info 735).

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DIREITO PENAL
„ Configura o crime de corrupção ativa o oferecimento de vantagem indevida a
funcionário público para determiná-lo a omitir ou retardar ato de ofício relacio-
nado com o cometimento do crime de posse de drogas para uso próprio
Caso concreto: João foi surpreendido por policiais com drogas para consumo próprio. Ele ofereceu
um aparelho celular para os policiais com a finalidade de não ser preso em flagrante e conduzido à
delegacia de polícia. O MP alegou que João praticou corrupção ativa:

Art. 333. Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a prati-
car, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

A defesa argumentou que não havia ato de ofício a ser praticado por policiais porque não caberia
prisão em flagrante. Logo, o oferecimento do celular seria fato atípico.

O STJ não concordou com a defesa.

O art. 28 da Lei de Drogas, ainda que não preveja pena privativa de liberdade, permanece como
crime. Não houve descriminalização da conduta, mas tão somente sua despenalização, vez que a
norma especial conferiu tratamento penal mais brando aos usuários de drogas.

Em casos dessa natureza, muito embora não se imponha a prisão em flagrante, é obrigação do
policial conduzir o autor do fato diretamente ao juízo competente ou, na falta deste, à delegacia,
lavrando-se, neste caso, o respectivo termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos
exames e perícias necessários, nos termos do art. 48, §§ 2º e 3º da Lei nº 11.343/2006.

STJ. 5ª Turma. AREsp 2.007.599-RJ, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT),
julgado em 03/05/2022 (Info 735).

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
„ É aplicável a teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no curso
do inquérito policial quando autorizadas por juízo aparentemente competente
A jurisprudência do STJ tem entendido, de maneira ampla, que o desvio de verbas do SUS atrai a com-
petência da Justiça Federal, tendo em vista o dever de fiscalização e supervisão do governo federal.

No caso concreto, as decisões foram proferidas pelo Juízo estadual.

Assim, deve-se reconhecer a incompetência do Juízo estadual. No entanto, os atos processuais devem
ser avaliados pelo Juízo competente, para que decida se valida ou não os atos até então praticados.

É pacífica a aplicabilidade da teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no curso do
inquérito policial quando autorizadas por juízo aparentemente competente.

As provas colhidas ou autorizadas por juízo aparentemente competente à época da autorização ou


produção podem ser ratificadas a posteriori, mesmo que venha aquele a ser considerado incompe-
tente, ante a aplicação no processo investigativo da teoria do juízo aparente.

STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 156.413-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/04/2022 (Info 733).

„ Se a vítima é capaz de individualizar o autor do fato, é desnecessário instaurar o


procedimento do art. 226 do CPP
O art. 226 do CPP trata sobre o procedimento para reconhecimento de pessoa.

Vale ressaltar que esse dispositivo diz que o reconhecimento de pessoa somente será realizado
“quando houver necessidade”, ou seja, quando houver dúvida sobre a identificação do suposto autor.

Isso porque a prova de autoria não é tarifada pelo Código de Processo Penal, podendo ser compro-
vada por outros meios.

No caso concreto, houve um reconhecimento sem observância das formalidades do art. 226 do CPP.
No entanto, apesar disso, a condenação foi mantida porque havia outras provas e a autoria delitiva
não estava em dúvida mesmo antes desse reconhecimento.

STJ. 6ª Turma. HC 721.963-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/04/2022 (Info 733).

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
„ A apreensão de grande quantidade „ A denúncia anônima acerca da ocor-
e variedade de drogas não impede rência de tráfico de drogas acompa-
a concessão da prisão domiciliar à nhada das diligências para a consta-
mãe de filho menor de 12 anos se não tação da veracidade das informações
demonstrada situação excepcional prévias podem caracterizar as fun-
de prática de delito com violência ou dadas razões para o ingresso dos po-
grave ameaça ou contra seus filhos liciais na residência do investigado
(art. 318-A do CPP)
O ingresso de agentes públicos em residên-
O afastamento da prisão domiciliar para mu- cias sem ordem judicial ou autorização de
lher gestante ou mãe de criança menor de 12 morador deve estar amparado em fundadas
anos exige fundamentação idônea e casuísti- razões, devidamente justificadas pelas cir-
ca, independentemente de comprovação de cunstâncias do caso concreto, que indiquem
indispensabilidade da sua presença para pres- estar ocorrendo, no interior da casa, situação
tar cuidados ao filho, sob pena de infringência de flagrante delito.
ao art. 318, V, do CPP. No caso concreto, os policiais, após recebe-
O art. 318-A, do CPP, com a redação dada pela rem “denúncia anônima” acerca da existência
Lei nº 13.769/2018, dispõe que a prisão pre- de tráfico de drogas, realizaram diligências
ventiva imposta à mulher gestante ou que for para a constatação da veracidade da denún-
mãe ou responsável por crianças ou pessoas cia e, com base em fundadas razões sobre a
com deficiência será substituída por prisão existência da prática do delito, inclusive sobre
domiciliar, desde que: I) não tenha cometi- a existência de um “disque-drogas”, ingressa-
do crime com violência ou grave ameaça a ram na residência do investigado, encontra-
pessoa e que II) não tenha cometido o crime ram o entorpecente e realizaram o flagrante.
contra seu filho ou dependente. Na situação em tela, verifica-se a existência de
No caso, sendo a ré mãe de criança de 6 anos de justa causa para a atuação dos agentes, cujos
idade, deve ser aplicada a regra geral de prote- atos são revestidos de fé pública, sobretudo
ção da primeira infância, considerando que o juí- quando seus depoimentos se mostram coe-
zo não apresentou fundamentação idônea para rentes e compatíveis com as demais provas
a mitigação da referida garantia constitucional. dos autos.

O fato de se ter apreendido grande quantida- STJ. 5ª Turma. AgRg nos EDcl no RHC 143.066-
de e variedade de entorpecentes não impede RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
a concessão da prisão domiciliar se não de- 19/04/2022 (Info 734).
monstrados outros motivos que evidenciam
que a conduta praticada representa risco à or-
dem pública, como indícios de comércio ilícito
no local em que a agente cria os menores.

STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 712.258-SP, Rel.


Min. Olindo Menezes (Desembargador
convocado do TRF 1ª Região), julgado em
29/03/2022 (Info 733).
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
„ Expressões ofensivas, desrespeitosas e pejorativas proferidas pelo magistrado
na sessão de julgamento contra a honra do réu podem configurar quebra de im-
parcialidade e causa de nulidade absoluta
Expressões ofensivas, desrespeitosas e pejorativas proferidas pelo magistrado na sessão de julga-
mento contra a honra do jurisdicionado que está sendo julgado, podem configurar causa de nuli-
dade absoluta, haja vista que ofendem a garantia constitucional da imparcialidade, que deve, como
componente do devido processo legal, ser observada em todo e qualquer julgamento em um siste-
ma acusatório.

Caso concreto: em julgamento de apelação da defesa contra condenação pelo crime do art. 217-A,
caput, do Código Penal, o Desembargador afirmou oralmente: “[...] Declarações da vítima, da crian-
ça, eu fiquei horrorizado, eu não vi nada em que a vítima pudesse inventar! Uma criança, que foi
num período entre seis anos a onze anos, que ela sofreu esses abusos, que ela inventasse qualquer
coisa para denegrir a imagem de um suposto pai, porque nem pai podia ser... Uma pessoa dessas é
um animal! Um animal! [...] E eu fico lembrando da minha neta. Fico lembrando da minha neta! Uma
criança de tenra idade, na mão de um porco desse! Não me conformo! Não me conformo! Uma
criança desse tipo [...] Absolver um animal desse! Esse cara foi um animal! Pra mim, um animal!”.

O STJ reconheceu a parcialidade do magistrado e, como consequência, a nulidade do julgamento do re-


curso de apelação. Diante disso, determinou novo julgamento sem a participação do Desembargador.

STJ. 6ª Turma. HC 718.525-PR, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Re-
gião), julgado em 26/04/2022 (Info 734).

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
„ É possível que os crimes antecedentes sejam julgados em um processo e a acusa-
ção por lavagem seja apreciada em outro processo desmembrado, mesmo que o
MP esteja imputando a causa de aumento descrita na parte final do § 4º do art.
1º da Lei 9.613/98
Caso concreto: a denúncia envolvia dezenas de réus, acusados pelos crimes de organização cri-
minosa, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O juiz decidiu desmembrar os
processos e as imputações relacionadas com a lavagem de dinheiro estão sendo apuradas em outro
processo penal, distinto do processo que apura as infrações penais antecedentes.

A defesa de um dos réus alegou que não deveria ter ocorrido o desmembramento considerando
que: 1) as condutas apuradas nos processos sobre os crimes antecedentes podem ser úteis para a
comprovação da lavagem de dinheiro; 2) o MP imputou aos réus a causa de aumento do § 4º do art.
1º, da Lei de Lavagem (A pena será aumentada de um a dois terços se a lavagem de dinheiro tiver
sido cometida por intermédio de organização criminosa), razão pela qual no processo de lavagem
deve-se discutir a organização criminosa.

O STJ não concordou com os argumentos da defesa.

A reunião de processos em razão da conexão é uma faculdade do Juiz, conforme interpretação a


contrario sensu do art. 80 do CPP que possibilita a separação de determinados processos.

A eventual incidência da causa de aumento descrita na parte final do § 4º do art. 1º da Lei de Lava-
gem de Dinheiro não constituiu empecilho para o juiz manter a separação dos feitos, nos termos do
art. 80 do CPP.

STJ. 5ª Turma. RHC 157.077-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 03/05/2022 (Info 735).

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
„ A mera alegação genérica de “atitude suspeita” é insuficiente para a licitude da
busca pessoal
Para a busca pessoal ou veicular sem mandado judicial exige-se, em termos de standard probatório,
a existência de fundada suspeita (justa causa) baseada em um juízo de probabilidade, descrita com a
maior precisão possível, aferida de modo objetivo e devidamente justificada pelos indícios e circuns-
tâncias do caso concreto – de que o indivíduo esteja na posse de drogas, armas ou de outros objetos
ou papéis que constituam corpo de delito, evidenciando-se a urgência de se executar a diligência.

Entretanto, o art. 244 do CPP não se limita a exigir que a suspeita seja fundada. É preciso, também, que
esteja relacionada à “posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito”.

O art. 244 do CPP não autoriza buscas pessoais praticadas como “rotina” ou “praxe” do policiamento
ostensivo, com finalidade preventiva e motivação exploratória, mas apenas buscas pessoais com
finalidade probatória e motivação correlata.

Desse modo, a busca pessoal não pode ser realizada com base unicamente em:

a) informações de fonte não identificada (e.g. denúncias anônimas); ou

b) intuições e impressões subjetivas, intangíveis, apoiadas, por exemplo, exclusivamente, no tirocí-


nio (experiência) policial.

Assim, não é possível a busca pessoal unicamente pelo fato de o policial, a partir de uma classifica-
ção subjetiva, ter considerado que a pessoa:

• apresentou uma atitude ou aparência suspeita; ou

• teve uma reação ou expressão corporal tida como “nervosa”.

Essas circunstâncias não preenchem o standard probatório de “fundada suspeita” exigido pelo art.
244 do CPP.

O fato de haverem sido encontrados objetos ilícitos após a revista não convalida a ilegalidade pré-
via, pois é necessário que o elemento “fundada suspeita de posse de corpo de delito” seja aferido
com base no que se tinha antes da diligência. Se não havia fundada suspeita de que a pessoa esta-
va na posse de arma proibida, droga ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, não
há como se admitir que a mera descoberta casual de situação de flagrância, posterior à revista do
indivíduo, justifique a medida.

A violação dessas regras e condições legais para busca pessoal resulta na ilicitude das provas obti-
das em decorrência da medida, bem como das demais provas que dela decorrerem em relação de
causalidade, sem prejuízo de eventual responsabilização penal do(s) agente(s) público(s) que te-
nha(m) realizado a diligência.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Há três razões principais para que se exijam elementos sólidos, objetivos e concretos para a realiza-
ção de busca pessoal – vulgarmente conhecida como “dura”, “geral”, “revista”, “enquadro” ou “bacu-
lejo” –, além da intuição baseada no tirocínio policial:

a) evitar o uso excessivo desse expediente e, por consequência, a restrição desnecessária e abusiva
dos direitos fundamentais à intimidade, à privacidade e à liberdade (art. 5º, caput, e X, da Constitui-
ção), porquanto, além de se tratar de conduta invasiva e constrangedora – mesmo se realizada com
urbanidade, o que infelizmente nem sempre ocorre –, também implica a detenção do indivíduo,
ainda que por breves instantes;

b) garantir a sindicabilidade da abordagem, isto é, permitir que tanto possa ser contrastada e ques-
tionada pelas partes, quanto ter sua validade controlada a posteriori por um terceiro imparcial
(Poder Judiciário), o que se inviabiliza quando a medida tem por base apenas aspectos subjetivos,
intangíveis e não demonstráveis;

c) evitar a repetição – ainda que nem sempre consciente – de práticas que reproduzem preconceitos estru-
turais arraigados na sociedade, como é o caso do perfilamento racial, reflexo direto do racismo estrutural.

STJ. 6ª Turma. RHC 158.580-BA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 19/04/2022 (Info 735).

„ A escolha pelo Magistrado de medidas cautelares pessoais, em sentido diverso


das requeridas pelo Ministério Público, pela autoridade policial ou pelo ofendido,
não pode ser considerada como atuação ex officio
Caso adaptado: João foi preso em flagrante. Logo em seguida, ele foi levado para a audiência de cus-
tódia. O MP se manifestou pela concessão de liberdade provisória mediante o pagamento de fiança.
A juíza que presidia a audiência acolheu o parecer do Promotor, mas também fixou medida de reco-
lhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga, nos termos do art. 319, V, do CPP.

Impor ou não cautelas pessoais, de fato, depende de prévia e indispensável provocação; contudo, a
escolha de qual delas melhor se ajusta ao caso concreto há de ser feita pelo juiz da causa. Entender
de forma diversa seria vincular a decisão do Poder Judiciário ao pedido formulado pelo Ministério
Público, de modo a transformar o julgador em mero chancelador de manifestações do Parquet ou
de transferir a este a escolha do teor de uma decisão judicial.

STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 626.529-MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/04/2022 (Info 735).

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
„ O histórico prisional conturbado do apenado, somado ao crime praticado com
violência ou grave ameaça (uma condição legal do art. 83, parágrafo único, do
CP), afasta a constatação inequívoca do requisito subjetivo para a concessão do
livramento condicional
Para a concessão do benefício do livramento condicional, deve o reeducando preencher os requisi-
tos de natureza objetiva e subjetiva, nos termos do art. 83 do CP c/c o art. 131 da LEP.

Para que o magistrado negue o benefícios de execução penal sob o argumento da ausência de requisi-
to subjetivo, é necessário que isso seja feito com base em elementos concretos extraídos da execução.

O histórico prisional conturbado do apenado, somado ao crime praticado (uma condição legal do
atual art. 83, parágrafo único, do Código Penal), afasta a constatação inequívoca do requisito subje-
tivo para a concessão do livramento condicional.

STJ. 5ª Turma. HC 734.064-SP, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), julga-
do em 03/05/2022 (Info 735).

DIREITO TRIBUTÁRIO
„ Sociedade de economia mista estadual prestadora exclusiva do serviço público
de abastecimento de água potável e coleta e tratamento de esgotos sanitários
faz jus à imunidade tributária recíproca
Sociedade de economia mista estadual prestadora exclusiva do serviço público de abastecimento
de água potável e coleta e tratamento de esgotos sanitários faz jus à imunidade tributária recíproca
sobre impostos federais incidentes sobre patrimônio, renda e serviços.

Para a extensão da imunidade tributária recíproca da Fazenda Pública a sociedades de economia


mista e empresas públicas, é necessário preencher 3 (três) requisitos:

a) a prestação de um serviço público;

b) a ausência do intuito de lucro e

c) a atuação em regime de exclusividade, ou seja, sem concorrência.

STF. Plenário. ACO 3410/SE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/4/2022 (Info 1051).

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JULGADOS
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DIREITO TRIBUTÁRIO
„ O benefício da suspensão do IPI previsto no art. 5º, da Lei 9.826/99 e no art. 29 da
Lei 10.637/2002 não se aplica a estabelecimentos equiparados a industrial
O Código Tributário Nacional e a legislação específica do IPI não tratam o “estabelecimento indus-
trial” de forma idêntica ao “estabelecimento equiparado a industrial”. A equiparação somente existe
para determinadas finalidades expressas em lei.

O próprio CTN faz distinção entre estabelecimento industrial e equiparado a industrial. A equipara-
ção ali é realizada apenas para fins de sujeição passiva em relação ao IPI.

Se é a lei que equipara, a mesma lei pode desequiparar ou definir as situações onde a equiparação
deve se dar e quais os seus efeitos.

Todas as vezes que o legislador quer conceder determinado benefício fiscal também aos estabele-
cimentos equiparados a industrial ele o faz expressamente, em atenção ao disposto no art. 111, do
CTN e no art. 150, §6º, da CF/88.

Não se pode, portanto, presumir que todas as vezes que a legislação tributária mencione o estabe-
lecimento industrial estaria a mencionar implicitamente também os estabelecimentos equiparados
a industrial, sob pena de se tornar o sistema tributário, no que diz respeito ao IPI, imprevisível e
inadministrável, especialmente diante da função extrafiscal do tributo que exige intervenções calcu-
ladas e pontuais nos custos incorridos em cada etapa da cadeia econômica.

Tanto o art. 5º, da Lei nº 9.826/99, quanto o art. 29, da Lei nº 10.637/2002, são claros ao apontar
como beneficiário da suspensão do mencionado imposto apenas o estabelecimento industrial, sem
estender ao equiparado, de modo que o art. 23, da Instrução Normativa da SRF nº 296/2003 não limi-
tou o pretendido direito, mas apenas explicitou aquilo que a lei e o sistema já haviam determinado.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.587.197-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 19/04/2022 (Info 733).

„ Imposto de Renda não incide sobre juros de mora por atraso no pagamento de
verbas salariais
Não incide imposto de renda sobre os juros de mora devidos pelo atraso no pagamento de remune-
ração por exercício de emprego, cargo ou função.

STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.494.279-RS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 26/04/2022 (Info 734).

„ ICMS integra a base de cálculo da CPRBC


É constitucional a inclusão do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS na base
de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta – CPRB.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.638.772-SC, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 27/04/2022 (Recurso
Repetitivo – Tema 994) (Info 734).
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DIREITO TRIBUTÁRIO
„ O benefício do § 2º do art. 63 da Lei „ O fato gerador de ITBI é o registro
9.430/96 é aplicável ao contribuinte no ofício competente da transmissão
que renuncia ao direito sobre o qual da propriedade do imóvel, mesmo no
se funda a ação caso de cisão de empresa
O art. 63, § 2º da Lei nº 9.430/96 prevê o seguinte: Mesmo em caso de cisão, o fato gerador do
ITBI é o registro no ofício competente da
§ 2º A interposição da ação judicial favorecida transmissão da propriedade do bem imóvel,
com a medida liminar interrompe a incidên- em conformidade com a lei civil.
cia da multa de mora, desde a concessão da
medida judicial, até 30 dias após a data da Logo, não há como se considerar como fato ge-
publicação da decisão judicial que considerar rador da referida exação a data de constituição
devido o tributo ou contribuição. das empresas pelo registro de Contrato Social
na Junta Comercial, ocorrido em data anterior.
O que enseja a suspensão da exigibilidade do
tributo - e da multa de mora, de que trata o § Dessa forma, o fato gerador do ITBI ocorre,
2º do referido art. 63 da Lei nº 9.430/96 - é a no seu aspecto material e temporal, com a
obtenção da medida liminar. efetiva transmissão, a qualquer título, da pro-
priedade imobiliária, o que se perfectibiliza
Se o contribuinte obteve a medida liminar na com a consumação do negócio jurídico hábil
ação por ele proposta, mas depois renunciou a transmitir a titularidade do bem, mediante
ao direito sobre o qual se funda a ação, o tri- o registro do título translativo no Cartório de
buto ou contribuição será considerado devido Registro de Imóveis.
mas a incidência da multa de mora ficará in-
terrompida até 30 dias após a data da publica- Ainda sobre o tema: O fato gerador do im-
ção da decisão que homologar essa renúncia. posto sobre transmissão inter vivos de bens
imóveis (ITBI) somente ocorre com a efetiva
Assim, depois que o juiz homologar a renún- transferência da propriedade imobiliária, que
cia, ficarão cessados os efeitos da liminar e o se dá mediante o registro (STF. Plenário ARE
contribuinte terá restabelecida a sua condição 1294969 RG, Rel. Min. Presidente, julgado em
de devedor, devendo recolher o tributo em 11/02/2021. Repercussão Geral – Tema 1124).
até 30 dias, sem incidência da multa de mora.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.760.009-SP, Rel. Min.
STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 955.896-SP, Herman Benjamin, julgado em 19/04/2022
Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em (Info 734).
19/04/2022 (Info 733).

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DIREITO FINANCEIRO
„ Não podem ser realizadas junto a instituições financeiras estatais operações
financeiras com a finalidade de obtenção de crédito para pagamento de pessoal
ativo, inativo e pensionista, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios
Observa-se que a “regra de ouro” das finanças públicas versada no art. 167, III, da CF/88, segundo
a qual o ente público não deve se endividar mais que o necessário para realizar suas despesas de
capital, não impede a contratação de operações de crédito para o custeio de despesas correntes.

O estado pode financiar suas despesas de capital mediante receitas de operações de crédito, desde
que estas não excedam o montante das despesas de capital. Isso deverá ser observado pelo chefe
do Poder Executivo quando fizer a operação financeira autorizada por lei.

Ademais, o art. 167, X, da CF/88 não proíbe a concessão de empréstimos para pagamento de pes-
soal. O dispositivo veda, contudo, que os empréstimos realizados junto a instituições financeiras
dos governos federal e estaduais sejam utilizados para aquele fim. Impede-se, portanto, a alocação
das receitas obtidas com instituições financeiras estatais para o custeio de pessoal ativo e inativo.
Por oportuno, nada impede a realização de empréstimos com instituições financeiras privadas para
pagamento de despesas com pessoal, porquanto a proibição não as alcança.

STF. Plenário. ADI 5683/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/4/2022 (Info 1051).

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO
„ Para atender o parágrafo único do art. 124 da Lei 8.213/91, basta que o valor
recebido a título de seguro-desemprego, nos períodos coincidentes, seja abatido
do montante devido nos casos em que o benefício previdenciário foi equivocada-
mente indeferido pelo INSS
Caso concreto: João requereu administrativamente a aposentadoria. O INSS indeferiu o pedido.
Como não teve direito ao benefício, João continuou trabalhando. Ele, no entanto, ajuizou ação
pedindo a concessão da aposentadoria. O Poder Judiciário reconheceu que deveria ter recebido a
aposentadoria e concedeu o benefício determinando o pagamento retroativo das parcelas desde o
requerimento administrativo. Ocorre que João havia sido demitido sem justa causa e estava rece-
bendo seguro-desemprego. Assim, durante alguns meses João receberia seguro-desemprego mais
aposentadoria. Isso é possível? Não. Há vedação no art. 124, parágrafo único, da Lei nº 8.213/91:

Art. 124 (...) Parágrafo único. É vedado o recebimento conjunto do seguro-desemprego com qualquer
benefício de prestação continuada da Previdência Social, exceto pensão por morte ou auxílio-acidente.

O que fazer nesse caso?

Deverão ser pagos os valores atrasados da aposentadoria, abatendo-se os valores já recebidos a


título de seguro-desemprego do montante devido. Ex: se ele tinha R$ 10 mil para receber de apo-
sentadoria atrasada, mas recebeu R$ 2 mil de seguro-desemprego, ficará com R$ 8 mil.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.982.937-SP, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF5),
julgado em 05/04/2022 (Info 733).

„ Não é cabível a devolução de valores recebidos a maior a título de complementa-


ção de aposentadoria por força de decisão judicial transitada em julgado, mes-
mo que ela seja posteriormente desconstituída
Os valores de benefícios previdenciários complementares recebidos por força de tutela antecipada
posteriormente revogada devem ser devolvidos, observando-se, no caso de desconto em folha de
pagamento, o limite de 10% (dez por cento) da renda mensal do benefício previdenciário até a satis-
fação integral do valor a ser restituído.

Situação diferente ocorre no caso em que os valores (parcelas de natureza alimentar) foram recebi-
dos, durante anos, por força de sentença transitada em julgado. Neste caso, é inequívoca a boa-fé
objetiva da parte.

STJ. 4ª Turma. AREsp 1.775.987-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 03/05/2022 (Info 735).

Design e diagramação: Carla Piaggio, Keille Lorainne • Carla Piaggio Design (www.carlapiaggio.com.br)
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