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611-62
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Informativo comentado:
Informativo 962-STF
Márcio André Lopes Cavalcante
Julgamentos que ainda não foram concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados
assim que chegarem ao fim: ADI 3763/RS; ADI 4914/AM; RHC 170559/MT; Rcl 24810 AgR/MG.
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
PROCESSO LEGISLATIVO
▪ A Constituição estadual só pode exigir lei complementar para tratar das matérias que a Constituição Federal
também exigiu lei complementar.
DIREITO ELEITORAL
PRESTAÇÃO DE CONTAS
▪ Resolução do TSE não pode determinar a suspensão automática de partido por ausência de prestação de contas,
devendo ser cumprido o procedimento previsto no art. 28 da Lei 9.096/95.
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
▪ É inconstitucional o pagamento de subsídio mensal e vitalício a ex-Governadores de Estado, assim, como o
pagamento de pensão às viúvas dos ex-ocupantes deste cargo; contudo, as pessoas beneficiadas com o
pagamento não terão que devolver as quantias recebidas.
DIREITO TRIBUTÁRIO
TAXA
▪ É inconstitucional lei estadual que cria taxa de fiscalização da exploração de recursos hídricos na qual o valor
cobrado é muito superior em relação ao custo da atividade estatal relacionada.
PROCESSO LEGISLATIVO
A Constituição estadual só pode exigir lei complementar para tratar das matérias
que a Constituição Federal também exigiu lei complementar
Importante!!!
Mudança de entendimento!
Atualize o Info 790-STF
A Constituição Estadual não pode ampliar as hipóteses de reserva de lei complementar, ou
seja, não pode criar outras hipóteses em que é exigida lei complementar, além daquelas que
já são previstas na Constituição Federal.
Se a Constituição Estadual amplia o rol de matérias que deve ser tratada por meio de lei
complementar, isso restringe indevidamente o “arranjo democrático-representativo
desenhado pela Constituição Federal”.
Caso concreto: STF declarou a inconstitucionalidade de dispositivo da CE/SC que exigia a
edição de lei complementar para dispor sobre: a) regime jurídico único dos servidores
estaduais; b) organização da Polícia Militar; c) organização do sistema estadual de educação
e d) plebiscito e referendo. Esses dispositivos foram declarados inconstitucionais porque a
CF/88 não exige lei complementar para disciplinar tais assuntos.
STF. Plenário. ADI 5003/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/12/2019 (Info 962).
ADI
O Governador do Estado ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra esses incisos do parágrafo
único do art. 57 da CE/SC.
O autor alegou que a Constituição Federal não exigiu lei complementar para disciplinar essas matérias.
Logo, a Constituição Estadual não poderia fazer essa exigência, tendo havido, portanto, afronta aos
princípios da separação dos poderes e da simetria.
Assim, o Governador pediu a declaração de inconstitucionalidade desses dispositivos.
Em suma:
A Constituição Estadual não pode ampliar as hipóteses de reserva de lei complementar, ou seja, não
pode criar outras hipóteses em que é exigida lei complementar, além daquelas que já são previstas na
Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5003/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/12/2019 (Info 962).
Mudança de entendimento:
Vale ressaltar que o STF possui um julgado mais antigo em sentido contrário ao que foi explicado acima:
Constituição estadual poderá prever que a Lei Orgânica da Polícia Civil daquele estado tenha status de lei
complementar.
Não há nada na CF/88 que impeça o constituinte estadual de exigir quórum maior (lei complementar)
para tratar sobre essa questão.
Seria uma demasia (um exagero) negar à Constituição estadual a possibilidade de escolher determinados
temas como mais sensíveis, exigindo, para eles, uma aprovação legislativa mais qualificada por meio de
lei complementar.
STF. Plenário. ADI 2314/RJ, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
julgado em 17/6/2015 (Info 790).
DIREITO ELEITORAL
PRESTAÇÃO DE CONTAS
Resolução do TSE não pode determinar a suspensão automática de partido por ausência de
prestação de contas, devendo ser cumprido o procedimento previsto no art. 28 da Lei 9.096/95
Res./TSE 23.546/2017:
Art. 48. (...)
§ 2º O órgão partidário, de qualquer esfera, que tiver as suas contas julgadas como não prestadas
fica obrigado a devolver integralmente todos os recursos provenientes do Fundo Partidário que
lhe forem entregues, distribuídos ou repassados, bem como terá suspenso o registro ou a
anotação, no caso de órgão de direção estadual ou municipal.
Res./TSE 23.571/2018:
Art. 42. Será suspenso o registro ou a anotação do órgão de direção estadual ou municipal que
tiver suas contas partidárias julgadas como não prestadas, devendo o órgão ser inativado e novas
anotações indeferidas até que seja regularizada a situação.
Interpretação conforme
O STF decidiu que as normas acima transcritas, ao determinarem a suspensão do registro ou a anotação
do partido como consequência imediata do julgamento das contas, violam o devido processo legal.
A legislação eleitoral prevê um procedimento específico para o cancelamento do registro em relação ao
partido em âmbito nacional. Por questão de coerência, relativamente aos órgãos regionais ou municipais,
consequência análoga deve ser precedida de processo específico em que se possibilite o contraditório e a
ampla defesa.
Assim, não permitir a suspensão do órgão regional ou municipal que omita a prestação de contas da
Justiça Eleitoral abre uma lacuna no sistema eleitoral e inviabiliza a fiscalização desses órgãos de direção
partidária, o que acarreta riscos para a própria democracia. Entretanto, é necessário compatibilizar as
diversas normas incidentes sobre o dever dos partidos políticos de prestar contas em todos os níveis de
direção partidária, de modo a concluir que a suspensão do órgão regional ou municipal por decisão da
Justiça Eleitoral só poderá ocorrer após o citado processo específico.
Nesse sentido, confira o que diz o art. 28 da Lei nº 9.096/95:
Art. 28. O Tribunal Superior Eleitoral, após trânsito em julgado de decisão, determina o
cancelamento do registro civil e do estatuto do partido contra o qual fique provado:
(...)
Em suma:
O STF julgou parcialmente procedente ADI para conferir interpretação conforme à Constituição às
normas do art. 47, caput e § 2º, da Res./TSE 23.432/2014; do art. 48, caput e § 2º, da Res./TSE
23.546/2017; e do art. 42, caput, da Res./TSE 23.571/2018, afastando qualquer interpretação que
permita que a sanção de suspensão do registro ou anotação do órgão partidário regional ou municipal
seja aplicada de forma automática, como consequência da decisão que julga as contas não prestadas,
assegurando que tal penalidade somente pode ser aplicada após decisão, com trânsito em julgado,
decorrente de procedimento específico de suspensão de registro, conforme o art. 28 da Lei nº 9.096/95.
STF. Plenário. ADI 6032 MC-Ref/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 5/12/2019 (Info 962).
DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
É inconstitucional o pagamento de subsídio mensal e vitalício a ex-Governadores de Estado,
assim, como o pagamento de pensão às viúvas dos ex-ocupantes deste cargo; contudo, as
pessoas beneficiadas com o pagamento não terão que devolver as quantias recebidas
Importante!!!
Algumas Constituições estaduais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de
Governador do Estado fará jus, após deixar o mandato, a um subsídio mensal e vitalício.
Alguns chamam isso de representação, outros de pensão vitalícia e outros de pensão civil. A
previsão desse pagamento é compatível com a CF/88?
NÃO. A instituição de prestação pecuniária mensal e vitalícia a ex-governadores corresponde
à concessão de benesse que não se compatibiliza com a Constituição Federal (notadamente
com o princípio republicano e o princípio da igualdade, consectário daquele), por configurar
tratamento diferenciado e privilegiado sem fundamento jurídico razoável, em favor de quem
não exerce função pública ou presta qualquer serviço à administração.
Os ex-Governadores (ou as viúvas) que foram beneficiados com esse “subsídio” ou com a
“pensão” dela decorrente terão que devolver as quantias que receberam antes do STF
declarar inconstitucional a previsão da Constituição Estadual?
NÃO. Não é necessária a devolução dos valores percebidos até o julgamento da ação. Isso por
conta dos princípios da boa-fé, da segurança jurídica e, ainda, da dignidade da pessoa
humana.
STF. Plenário. ADI 4545/PR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 5/12/2019 (Info 962).
Enfim, os ex-Governadores teriam direito de ficar recebendo, até morrerem, um valor mensal igual ao
subsídio dos Desembargadores.
As Leis estaduais nº 16.656/2010 e Lei 13.426/2002, ambas do Paraná, regulamentaram esse subsídio e
estabeleceram que esse valor pode ser deixado como pensão por morte às viúvas dos ex-Governadores.
Outros precedentes
O STF possui entendimento consolidado a respeito do tema, conforme se pode inferir pela ementa a seguir:
(...) Segundo a nova redação acrescentada ao Ato das Disposições Constitucionais Gerais e Transitórias
da Constituição de Mato Grosso do Sul, introduzida pela Emenda Constitucional n. 35/2006, os ex-
Governadores sul-mato-grossenses que exerceram mandato integral, em 'caráter permanente',
receberiam subsídio mensal e vitalício, igual ao percebido pelo Governador do Estado. Previsão de que
esse benefício seria transferido ao cônjuge supérstite, reduzido à metade do valor devido ao titular.
2. No vigente ordenamento republicano e democrático brasileiro, os cargos políticos de chefia do Poder
Os ex-Governadores (ou as viúvas) que foram beneficiados com esse “subsídio” ou com a “pensão”
dela decorrente terão que devolver as quantias que receberam antes do STF declarar inconstitucional
a previsão da Constituição Estadual?
NÃO. O STF afirmou que:
Não é necessária a devolução dos valores percebidos até o julgamento da ação. Isso por conta dos
princípios da boa-fé, da segurança jurídica e, ainda, da dignidade da pessoa humana.
STF. Plenário. ADI 4545/PR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 5/12/2019 (Info 962).
Importante!!!
1. É constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira da UIF e da
íntegra do procedimento fiscalizatório da Receita Federal do Brasil (RFB), que define o
lançamento do tributo, com os órgãos de persecução penal para fins criminais, sem a
obrigatoriedade de prévia autorização judicial, devendo ser resguardado o sigilo das
informações em procedimentos formalmente instaurados e sujeitos a posterior controle
jurisdicional.
2. O compartilhamento pela UIF e pela RFB, referente ao item anterior, deve ser feito
unicamente por meio de comunicações formais, com garantia de sigilo, certificação do
destinatário e estabelecimento de instrumentos efetivos de apuração e correção de
eventuais desvios.
STF. Plenário. RE 1055941/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/12/2019 (repercussão geral –
Tema 990) (Info 962).
É POSSÍVEL QUE O FISCO REQUISITE DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS INFORMAÇÕES BANCÁRIAS SOBRE
OS CONTRIBUINTES SEM INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO?
O sigilo bancário é protegido pela CF/88?
SIM. A CF/88 não utiliza a expressão “sigilo bancário”, mas isso está sim protegido em dois incisos do art.
5º da CF/88. Confira:
Art. 5º (...)
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
Para que haja acesso aos dados bancários (“quebra do sigilo bancário”), é necessário autorização
judicial?
Em regra, sim. Em regra, para que se tenha acesso aos dados bancários de uma pessoa, é necessário
prévia autorização judicial por se tratar de verdadeira cláusula de reserva de jurisdição.
E no caso do Fisco (Administração Tributária)? A Receita Federal pode requisitar, sem autorização
judicial, informações bancárias das instituições financeiras?
SIM. Essa possibilidade está prevista no art. 6º da LC 105/2001.
O art. 6º afirma que as autoridades e os agentes fiscais tributários podem ter acesso às movimentações
bancárias, mesmo sem autorização judicial, desde que exista um processo administrativo instaurado ou
um procedimento fiscal em curso e essas informações sejam indispensáveis. Confira:
Art. 6º As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios somente poderão examinar documentos, livros e registros de instituições
financeiras, inclusive os referentes a contas de depósitos e aplicações financeiras, quando
houver processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais exames sejam
considerados indispensáveis pela autoridade administrativa competente.
Parágrafo único. O resultado dos exames, as informações e os documentos a que se refere este
artigo serão conservados em sigilo, observada a legislação tributária.
Logo, a lei autoriza que a Receita Federal requisite diretamente das instituições financeiras informações
sobre as movimentações bancárias dos contribuintes.
Exemplo:
Samuel era sócio administrador de uma empresa.
A Receita Federal instaurou procedimento fiscal contra a sociedade empresária sob a suspeita de que
estaria havendo sonegação de tributos.
No curso do procedimento, a Receita, sem autorização judicial, requisitou diretamente do banco, os
extratos com as movimentações bancárias da pessoa jurídica.
A Receita fundamentou sua requisição no art. 6º da LC nº 105/2001.
De posse dos extratos fornecidos pelo banco, o Fisco constatou que realmente houve sonegação de
tributos e, por conta disso, autuou a pessoa jurídica e fez a constituição definitiva do crédito tributário.
Tudo bem. Entendi que a Lei prevê essa possibilidade. Mas tal previsão é constitucional? Este art. 6º da
LC 105/2001, que autoriza o Fisco a ter acesso a informações bancárias sem autorização judicial, é
Mas o art. 6º não representa uma "quebra de sigilo bancário" sem autorização judicial?
NÃO. O STF entendeu que esse repasse das informações dos bancos para o Fisco não pode ser chamado
de “quebra de sigilo bancário”. Isso porque as informações são passadas para o Fisco (ex: Receita
Federal) em caráter sigiloso e permanecem de forma sigilosa na Administração Tributária. Logo, é uma
tramitação sigilosa entre os bancos e o Fisco e, por não ser acessível a terceiros, não pode ser
considerado violação (quebra) do sigilo.
Assim, repito, na visão do STF, o que o art. 6º da LC 105/2001 faz não é quebra de sigilo bancário, mas
somente a “transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco. Os dados, até então protegidos pelo sigilo
bancário, prosseguem protegidos pelo sigilo fiscal.
Para o STF, o simples fato de o Fisco ter acesso aos dados bancários do contribuinte não viola a garantia
do sigilo bancário. Só haverá violação se esses dados “vazarem” para pessoas estranhas ao órgão
fazendário. Aí sim haveria quebra do sigilo bancário por ter sido exposta a intimidade do contribuinte
para terceiros. Em casos de vazamento, a LC 105/2001 prevê punições ao responsável, que estará sujeito à
pena de reclusão, de 1 a 4 anos, mais multa, além de responsabilização civil, culminando com a perda do
cargo (art. 10).
As Receitas estadual e municipal também poderão requisitar dos bancos informações sobre
movimentações bancárias?
SIM. Se você ler novamente o art. 6º da LC 105/2001, irá observar que o dispositivo fala que estão
É LEGÍTIMO O COMPARTILHAMENTO DOS DADOS OBTIDOS PELA RECEITA FEDERAL COM MINISTÉRIO
PÚBLICO MESMO SEM AUTORIZAÇÃO JUDICIAL?
Em 2019, o STF debateu um desdobramento do tema acima explicado. O debate jurídico travado foi
agora o seguinte: é possível que as informações bancárias obtidas pelo Fisco sem autorização judicial
sejam compartilhadas com o Ministério Público para serem utilizadas em processos criminais?
O Procurador da República, com base nesses elementos informativos, denunciou Samuel como incurso
no crime do art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90 (sonegação fiscal):
Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição
social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;
(...)
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Ao se defender, Samuel sustentou a ilicitude da prova colhida (extratos bancários) alegando que teria
havido uma quebra de sigilo bancário sem autorização judicial.
Desse modo, esses dados não poderiam ser utilizados pelo Ministério Público no processo penal.
Desde 2016, não havia mais dúvidas de que o Fisco poderia requisitar diretamente as informações
bancárias. Isso está previsto no art. 6º da LC 105/2001 e foi considerado constitucional pelo STF. A
dúvida, como já dito, era a seguinte: esses dados podem ser compartilhados com o Ministério Público
para serem utilizados em processos criminais?
SIM. Em 2019, o STF pacificou que é legítimo que a Receita Federal compartilhe o procedimento
fiscalizatório que ela realizou para apuração do débito tributário com os órgãos de persecução penal para
fins criminais (Polícia Federal, Ministério Público etc.), não sendo necessário, para isso, prévia autorização
judicial.
STF. Plenário. RE 1055941/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/12/2019 (repercussão geral – Tema
990) (Info 962).
O raciocínio jurídico construído na decisão do STF de 2016 pode ser aplicado aqui
O STF, ao julgar, em 24/02/2016, as ADIs 2390, 2386, 2397 e 2859 e o RE 601314/SP, declarou ser
possível à Receita o acesso a dados genéricos e, se houver indícios de irregularidades e presentes os
pressupostos legais, a instituição de procedimento fiscalizatório, admitida a quebra do sigilo fiscal e
bancário, para verificar se há ou não ilicitude.
Naquela ocasião, o STF entendeu que a previsão do art. 6º da LC 105/2001, que relativizava o sigilo
financeiro e o sigilo de dados, atendia aos requisitos de excepcionalidade, razoabilidade e
proporcionalidade.
Cumpridos os padrões internacionais, esse compartilhamento, mecanismo de inteligência financeira,
tinha dupla finalidade: evitar o descumprimento de normas tributárias e combater práticas criminosas.
Assim, a Unidade de Inteligência é um grande banco de dados que recebe informações dos bancos, das
seguradoras, dos cartórios de registro de imóveis, de joalherias. Em seguida, cruza dados e produz
relatórios que poderão ser encaminhados à Receita Federal e aos órgãos de persecução penal em caso
de indícios de ilícitos tributários ou de infrações penais.
Antigo COAF
A UIF faz atualmente as mesmas funções que eram desempenhadas pelo Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (COAF). A MP 893/2019 transformou o COAF na Unidade de Inteligência
Financeira.
As competências do ex-COAF (atualmente UIF) estão previstas nos arts. 14 e 15 da Lei nº 9.613/98.
A conclusão do STF para o compartilhamento de dados da Receita vale também para os relatórios de
inteligência financeira da UIF? A UIF pode, sem autorização judicial, compartilhar com a Polícia e o
Ministério Público os relatórios de inteligência financeira para que esses órgãos utilizem tais dados em
investigações ou processos criminais?
SIM. O STF, neste mesmo julgamento, aproveitou o debate do tema e fixou a tese de que também é
constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira da UIF com os órgãos de
persecução penal para fins criminais, sem a obrigatoriedade de prévia autorização judicial.
STF. Plenário. RE 1055941/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/12/2019 (repercussão geral – Tema
990) (Info 962).
Assim, o relatório de inteligência que é enviado ao Ministério Público deve receber o mesmo tratamento
de qualquer peça de informação. Do contrário, o controle jurisdicional do sistema acusatório previsto no
CPP estaria sendo ferido.
Juiz condenou o réu, concedeu a ele o direito de recorrer em liberdade, mas lhe aplicou uma
série de medidas cautelares diversas da prisão previstas no art. 319 do CPP.
Em apelação, o Tribunal de Justiça manteve a condenação.
Contra esse acórdão, o réu interpôs, simultaneamente, recurso especial e extraordinário.
A decisão do TJ foi proferida na época em que o entendimento do STF era no sentido de ser
cabível a execução provisória da pena.
Diante disso, o TJ, logo depois de receber os recursos especial e extraordinário, determinou
que o condenado iniciasse imediatamente o cumprimento da pena.
Ocorre que logo depois, o STF alterou a sua posição e passou a proibir a execução provisória
da pena (ADC 43/DF, julgada em 7/11/2019).
A defesa do réu impetrou habeas corpus pedindo a liberdade imediata do condenado.
O STF concedeu a ordem, mas não para a liberdade imediata do condenado, e sim para que o
Tribunal de Justiça analise eventual necessidade de prisão preventiva ou a aplicação de
medidas cautelares diversas.
STF. 1ª Turma. HC 174875/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 3/12/2019 (Info 962).
Apelação
O condenado interpôs apelação.
O Tribunal de Justiça reduziu a pena para 8 anos.
Contra esse acórdão, João interpôs, simultaneamente, recurso especial e extraordinário.
Para o STF, é possível o início do cumprimento da pena caso somente reste o julgamento de recurso sem
efeito suspensivo (ex: só falta julgar Resp ou RE)? É possível a execução provisória da pena?
Resumindo as etapas históricas do tema:
• Antes de 07/11/2019: SIM. Era possível a execução provisória da pena.
• Depois de 07/11/2019: NÃO. O STF alterou a sua posição e, assim, atualmente, é proibida a chamada
“execução provisória da pena” (ADC 43/DF, julgada em 7/11/2019).
Habeas corpus
Diante disso, a defesa de João impetrou habeas corpus no STF pedindo a sua imediata liberdade tendo em
vista que o TJ determinou a sua prisão com base na execução provisória da pena.
Por quê?
O Min. Alexandre de Moraes explicou o seguinte:
O juiz, na sentença condenatória, concedeu ao réu o direito de recorrer em liberdade, mas lhe aplicou
uma série de medidas restritivas.
Para o STF, isso significa que o magistrado entendeu que estavam presentes os requisitos da prisão
preventiva previstos no art. 312 do CPP, no entanto, entendeu que as medidas cautelares eram
suficientes, nos termos do art. 282, § 6º do CPP:
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal,
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.
Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento
de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4º).
Portanto, para o STF, os requisitos do art. 312 do CPP estavam presentes no momento da condenação do
réu em 1ª instância. Isso significa que não é possível simplesmente determinar a sua liberdade. É
necessário que o Tribunal de Justiça, a partir do novo entendimento do STF, analise se é caso ou não de
decretação de prisão preventiva ou de concessão de outras medidas cautelares.
O Tribunal não fez essa análise antes porque quando examinou o caso bastava ele decretar a execução
provisória da pena. No entanto, como isso mudou, agora o Tribunal deverá analisar, de forma
particularizada, a necessidade ou não de prisão cautelar.
DIREITO TRIBUTÁRIO
TAXA
É inconstitucional lei estadual que cria taxa de fiscalização da exploração de recursos hídricos na
qual o valor cobrado é muito superior em relação ao custo da atividade estatal relacionada
Características
Diz-se que a taxa é um tributo bilateral, contraprestacional, sinalagmático ou vinculado. Isso porque a taxa
é um tributo vinculado a uma atividade estatal específica, ou seja, a Administração só pode cobrar se, em
troca, estiver prestando um serviço público ou exercendo poder de polícia.
Há, portanto, obrigações de ambas as partes. O poder público tem a obrigação de prestar o serviço ou
exercer poder de polícia e o contribuinte a de pagar a taxa correspondente.
Previsão
A disciplina sobre as taxas está prevista no art. 145, II da CF/88 e no art. 77 do CTN.
Espécies de taxas
As taxas podem ter dois fatos geradores:
• o exercício regular do poder de polícia; ou
• a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou
posto à sua disposição (art. 77 do CTN).
Com base nisso, pode-se dizer que existem duas espécies de taxa:
• taxa de polícia;
• taxa de serviço.
Qual critério o legislador deve adotar para fixara base de cálculo das taxas?
Vimos acima que a taxa é um tributo contraprestacional. Logo, sua base de cálculo deve estar relacionada
com o custodo serviço ou do poder de polícia exercido.
Vale ressaltar, no entanto, que não é necessário que a base de cálculo seja exatamente igual ao custo do
Algumas vezes nas provas é cobrada a redação literal do art. 78, razão pela qual vale a pena a sua
transcrição aqui:
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em
razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina
da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou
autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos
individuais ou coletivos.
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo
órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de
atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.
Exemplos de realização do poder de polícia: licença concedida pelo Município para construir segundo
determinados critérios, licença para dirigir, licença para ter porte de arma, alvará de funcionamento de
indústria etc.
O art. 6º, por sua vez, fixou o valor que deveria ser pago pelo contribuinte:
Art. 6º O valor da TFRH corresponderá a 0,2 (dois décimos) da Unidade Padrão Fiscal do Estado do
Amapá - UPF-AP por m³ (metro cúbico) de recurso hídrico utilizado.
§ 1º No caso de utilização de recurso hídrico para fins de aproveitamento hidroenergético, o valor
da TFRH corresponderá a 0,5 (cinco décimos) da Unidade Padrão Fiscal do Estado do Amapá - UPF-
AP por 1.000 m³ (mil metros cúbicos), no caso de utilização de recurso hídrico para fins de
aproveitamento hidroenergético.
(...)
ADI
A Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica – APINE ajuizou ação direta de
inconstitucionalidade contra esta Lei alegando:
1) Inconstitucionalidade formal: sob o ângulo formal, a autora afirmou que somente a União poderia
instituir essa taxa porque cabe a ela legislar sobre águas e energia (art. 22, IV, da CF/88).
2) Inconstitucionalidade material: a associação argumentou que a Lei estadual criou um “imposto
travestido de taxa”, já que não houve indicação de ação estatal concreta correspondente ao exercício
Desse modo, o valor da taxa deve refletir, nos limites do razoável, o custeio da atividade estatal
relacionada.
A TFRH tem por fato gerador o exercício, pelo ente estadual, do poder de polícia, considerados o
aproveitamento e a exploração de recursos hídricos no território do Amapá.
Confisco
O STF afirmou, ainda, que ao onerar excessivamente as empresas que exploram recursos hídricos, a
pretexto de suportar os gastos decorrentes do controle e da fiscalização das respectivas atividades, a
referida taxa adquire feições verdadeiramente confiscatórias, dificultando, ou mesmo inviabilizando, o
desenvolvimento da atividade econômica.
Há, portanto, violação ao que prevê o art. 150, IV, da CF/88:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
IV - utilizar tributo com efeito de confisco;
Em suma:
O STF declarou a inconstitucionalidade de Lei do Estado do Amapá, que instituiu a Taxa de Controle,
Acompanhamento e Fiscalização das Atividades de Exploração e Aproveitamento de Recursos Hídricos
(TFRH).
A Corte entendeu que o valor cobrado é muito superior em relação ao custo da atividade estatal
relacionada (fiscalização das empresas que exploram recursos hídricos). Logo, não há proporcionalidade
entre o custo da atividade estatal e o valor que será pago pelos particulares pela taxa. Isso viola as
características da taxa, que é um tributo orientado pelo princípio da retributividade e que possui caráter
contraprestacional e sinalagmático.
Além disso, a lei previa que apenas 30% dos valores arrecadados com a taxa seriam utilizados em
atividades relacionadas com a política de recursos hídricos e os 70% restantes iriam para a conta única
do Tesouro Estadual. Isso demonstra o caráter arrecadatório desta taxa.
Por fim, ao onerar excessivamente as empresas que exploram recursos hídricos, a referida taxa adquiriu
feições verdadeiramente confiscatórias, dificultando, ou mesmo inviabilizando, o desenvolvimento da
atividade econômica. Houve, portanto, violação ao que prevê o art. 150, IV, da CF/88, que proíbe que os
tributos sejam utilizados com efeito de confisco.
STF. Plenário. ADI 6211/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/12/2019 (Info 962).
Gabarito
1. C 2. E 3. C 4. C
OUTRAS INFORMAÇÕES
ACO 2086
RELATOR: MINISTRO DIAS TOFFOLI
Ação cível originária. Direito Administrativo, Previdenciário e Tributário. Cerne da controvérsia. Compensação
financeira entre regimes previdenciários. Artigo 201, § 9º, da Constituição Federal. Lei nº 9.796/99. Imposição de
obstáculos por atos normativos infralegais. Favorecimento da União e do RGPS em detrimento das unidades
subnacionais e dos respectivos RPPS. Ofensa ao pacto federativo. Necessidade de equilíbrio. Preservação do interesse
público. 1. Os desembolsos a título de compensação financeira a que se refere o art. 201, § 9º, da CF/88 somente
serão feitos pelos regimes de origem para os regimes instituidores que se mostrem “credores no cômputo [1] da
compensação financeira devida de lado a lado e [2] dos débitos pelo não recolhimento de contribuições
previdenciárias no prazo legal”, segundo a Lei nº 9.796/99. 2. Para efetivamente haver os desembolsos (ou,
eventualmente, a dação em pagamento de imóveis, como se dispôs na Lei nº 13.485/17), duas etapas precisam ser
ultrapassadas. A primeira etapa refere-se à realização da compensação financeira previdenciária devida de lado a
lado. Nesse ponto, importam os valores de natureza administrativo-previdenciária que um regime tem em face do
outro, e não os de natureza tributária. A segunda etapa consiste na possibilidade de se utilizar o crédito remanescente
da etapa anterior a favor de um regime instituidor para se abater, caso exista, débito de contribuição previdenciária
do respectivo ente federado. 3. O Decreto nº 3.112/99, com as alterações promovidas pelo Decreto nº 6.900/09, ao
ADI 3646
RELATOR: MINISTRO DIAS TOFFOLI
Ação direta de inconstitucionalidade. Artigo 22, caput e §§ 5º e 6º, da Lei nº 9.985/2000. Criação e modificação de
unidades de conservação por meio de ato normativo diverso de lei. Ofensa ao art. 225, § 1º, III, da Constituição
Federal. Não ocorrência. Improcedência da ação. 1. A proteção do meio ambiente e a preservação dos biomas é
obrigação constitucional comum a todos os entes da Federação (art. 23, VI e VII, CF/88). Para tanto, a Lei Fundamental
dota o Poder Público dos meios necessários à consecução de tais fins, incumbindo-o, inclusive, da atribuição de
definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, conforme estabelece o art. 225, § 1º, inciso III, da Constituição. 2. Constitucionalidade do art. 22, caput, da
Lei nº 9.985/2000. A dicção do texto constitucional não provoca maiores problemas quanto à definição de ato
normativo apto à instituição/criação de espaços territorialmente protegidos, dentre os quais se pode destacar as
unidades de conservação regulamentadas pela Lei nº 9.985/2000. Tendo a Carta se referido à reserva de legislação
somente como requisito de modificação ou supressão de unidade de conservação, abriu margem para que outros atos
do Poder Público, além de lei em sentido estrito, pudessem ser utilizados como mecanismos de instituição de espaços
ambientais protegidos. Precedentes. 3. A teor do art. 225, § 1º, inciso III, da Constituição Federal, a alteração e a
supressão de espaços territoriais especialmente protegidos somente são permitidas por intermédio de lei. A finalidade
da Carta Magna, ao fixar a reserva de legalidade, deve ser compreendida dentro do espírito de proteção ao meio
ambiente nela insculpido. Somente a partir da teleologia do dispositivo constitucional é que se pode apreender seu
conteúdo normativo. Nesse sentido, a exigência de lei faz-se presente quando referida modificação implicar
prejudicialidade ou retrocesso ao status de proteção já constituído naquela unidade de conservação, com o fito de
coibir a prática de atos restritivos que não tenham a aquiescência do Poder Legislativo. Se, para inovar no campo
concreto e efetuar limitação ao direito à propriedade, a Constituição não requisitou do Poder Público a edição de lei,
tanto mais não o faria para simples ampliação territorial ou modificação do regime de uso aplicável à unidade de
conservação, a fim de conferir a ela superior salvaguarda (de proteção parcial para proteção integral). Por essa razão,
não incidem em inconstitucionalidade as hipóteses mencionadas nos §§ 5º e 6º do art. 22 da Lei nº 9.985/2000, as
quais dispensam a observância da reserva legal para os casos de alteração das unidades de conservação, seja
mediante transformação da unidade de conservação do grupo de Uso Sustentável para o grupo de Proteção Integral,
seja mediante a ampliação dos limites territoriais da unidade, desde que sem modificação de seus limites originais,
exceto pelo acréscimo proposto. 4. Ação direta julgada improcedente.
ADI 5211
RELATOR: MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES
ADI 5470
RELATOR: MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES
CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI ESTADUAL 16.132/2016 DO ESTADO DO CEARÁ.
CUSTAS JUDICIAIS ATRELADAS AO VALOR DA CAUSA. POSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 5º, CAPUT, XXXV e LIV; 24,
IV; 99, §§ 1º a 5º; 102, III; 105, III; 145, II; 150, IV; e 155, I, “a”, III, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NÃO OCORRÊNCIA. 1. A
jurisprudência pacífica firmada no âmbito deste SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL aponta a validade da utilização do
valor da causa como critério hábil para definição do valor das taxas judiciárias, desde que sejam estabelecidos valores
mínimos e máximos (Súmula 667 do SUPREMO; ADI 2.078, Min. GILMAR MENDES, DJe de 12/4/2011; ADI 3.826, Min.
EROS GRAU, DJe de 19/8/2010; ADI 2.655, Min. ELLEN GRACIE, DJ de 26/3/2004; ADI 2.040-MC, Min. MAURÍCIO
CORRÊA, DJ de 25/02/2000; ADI 2.696, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, DJe de 13/03/2017). 2. No caso, os valores previstos
na Lei cearense não impedem o acesso à justiça, pois fixados em patamar razoável e proporcional. 3. Ação Direta
julgada improcedente.
ADI 2354
RELATOR: MINISTRO DIAS TOFFOLI
Ação direta de inconstitucionalidade. Lei Federal nº 8.025/90. Decreto nº 99.266/90. Vedação de alienação dos
imóveis residenciais administrados pelas Forças Armadas destinados à ocupação militar. Violação dos princípios da
isonomia e da função social da propriedade. Não ocorrência. Conhecimento parcial. Improcedência da ação. 1.
Disposições do decreto regulamentar revogadas por atos normativos posteriores, em momentos anteriores à
propositura da ação. Impropriedade jurídica do objeto de controle, pois, em sede de ação direta de
inconstitucionalidade, há de se analisar direito vigente. Precedente. 2. A atividade militar sujeita-se a condições
específicas, tais como de regime jurídico e previdenciário, além de impor a seus membros atuação de elevada
rotatividade nas diversas instalações espalhadas pelo País, mormente na Capital Federal, onde se encontram os
comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. O Estatuto dos Servidores Militares da União estabelece como
direito do militar e de seus dependentes o de residir em imóvel público federal ou equivalente (custeado pela União),
quando disponível. Há, portanto, critério diferenciador de peso que legitima o tratamento diversificado dado pelo
legislador aos imóveis destinados à ocupação por militares, a fim de excluí-los da referida alienação. Causa que
justifica o tratamento diferenciado, sem que haja violação do princípio da isonomia. 3. Igualmente, não há qualquer
ofensa ao princípio da função social da propriedade, haja vista se tratar de imóvel público afetado (destinado) à
residência de servidores públicos militares, e não de simples bem dominical que não não cumpre qualquer finalidade
pública direta. A função social resta devidamente atendida, já que os imóveis em questão são afetados à utilidade
pública (moradia dos servidores militares), sendo ainda inexpropriáveis, nos termos do § 2º do art. 2º da Lei nº
3.365/41. 4. Ação direta de inconstitucionalidade da qual se conhece em parte, relativamente à qual ela é julgada
improcedente.
ADI 4461
RELATOR: MINISTRO ROBERTO BARROSO
Direito Constitucional e Administrativo. Ação direta de inconstitucionalidade. Plano de cargos, carreira e remuneração
da Polícia Civil do Estado do Acre. Conhecimento parcial. Improcedência do pedido. 1. Ação direta em que se discute a
constitucionalidade da Lei nº 2.250/2009 do Estado do Acre, que instituiu plano de cargos, carreira e remuneração da
Polícia Civil. 2. A petição inicial deve indicar “o dispositivo da lei ou do ato normativo impugnado e os fundamentos
jurídicos do pedido em relação a cada uma das impugnações” (art. 3º, I, da Lei nº 9.868/1999). O descumprimento
desse dever enseja o não conhecimento da ação direta de inconstitucionalidade. 3. A jurisprudência do STF é pacífica
e reiterada no sentido de que os servidores públicos não têm direito adquirido à imutabilidade de regime jurídico.
ADI 5455
RELATOR: MINISTRO LUIS FUX
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI COMPLEMENTAR 42/2015 DO ESTADO DE ALAGOAS. DISCIPLINA DO
REPASSE AO ESTADO DE RECURSOS DE DEPÓSITOS JUDICIAIS E ADMINISTRATIVOS. DESACORDO COM AS NORMAS
FEDERAIS DE REGÊNCIA. INVASÃO DA COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO PROCESSUAL E SOBRE
NORMAS GERAIS DE DIREITO FINANCEIRO (ARTIGOS 22, I, E 24, I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE CONHECIDA E JULGADO PROCEDENTE O PEDIDO. MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO.
1. A administração da conta dos depósitos judiciais e extrajudiciais, porquanto constitui matéria processual e direito
financeiro, insere-se na competência legislativa da União. Precedentes: ADI 2.909, Rel. Min. Ayres Britto, Plenário, DJe
de 11/6/2010; ADI 3.125, Rel. Min. Ayres Britto, Plenário, DJe de 18/6/2010; ADI 5.409-MC-Ref, Rel. Min. Edson
Fachin, Plenário, DJe de 13/5/2016; ADI 5392-MC, Rel. Min. Rosa Weber, DJe de 19/9/2016; ADI 5.072-MC, Rel. Min.
Gilmar Mendes, DJe de 16/2/2017. 2. A iniciativa de lei visando a disciplinar o sistema financeiro de conta de
depósitos judiciais não cabe ao Poder Judiciário, mercê de a recepção e a gestão dos depósitos judiciais terem
natureza administrativa, não consubstanciando atividade jurisdicional. Precedente: ADI 2.855, Rel. Min. Marco
Aurélio, Plenário, DJe de 12/5/2010. 3. In casu, a Lei Complementar 42, de 30 de dezembro de 2015, do Estado de
Alagoas, ao dispor sobre a transferência ao Estado de recursos de depósitos judiciais e administrativos, bem como
disciplinar sua utilização pelo Poder Executivo, usurpa competência da União para legislar sobre direito processual
(artigos 22, I, da Constituição Federal). 4. A lei complementar estadual sub examine, ao prever o repasse ao Estado de
depósitos extrajudiciais, estender seus efeitos a todas as entidades da Administração Indireta e permitir a utilização
dos recursos transferidos para o pagamento da dívida fundada do Estado e realização de despesas de capital,
contraria o âmbito normativo das normas em vigor (artigo 101, §§ 2º, I e II, e 3º, do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias e Lei Complementar federal 151/2015) e invade a competência da União para legislar
sobre normas gerais de direito financeiro (artigo 24, I, da Constituição Federal). 5. A segurança jurídica impõe a
modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade da lei complementar objurgada, a fim de que a
sanatória de um vício não propicie o surgimento de panorama igualmente inconstitucional, máxime porque a norma
possibilitou ao Poder Executivo estadual a utilização de percentual dos recursos em finalidades não previstas na
legislação federal, que poderiam ficar desamparadas pela aplicação fria da regra da nulidade retroativa. 6. Ação direta
de inconstitucionalidade conhecida e julgado procedente o pedido, para declarar a inconstitucionalidade da Lei
Complementar 42/2015 do Estado de Alagoas, com eficácia ex nunc, a partir da data do presente julgamento.
ADI 5908
RELATOR: MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES
CONSTITUCIONAL. FEDERALISMO E RESPEITO ÀS REGRAS DE DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIA. ART. 174, CAPUT E §§
1º E 2º, DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL 620/2011, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI COMPLEMENTAR 767/2014
DO ESTADO DE RONDÔNIA. PERDA PARCIAL DO OBJETO. ATRIBUIÇÃO DE PRERROGATIVAS PROCESSUAIS AOS
PROCURADORES DE ESTADO. USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO
PROCESSUAL (ART. 22, I, DA CF). PROCEDÊNCIA. 1. Proposta de conversão de referendo de medida cautelar em
julgamento definitivo de mérito, considerando a não complexidade da questão de direito em discussão e a instrução
dos autos, nos termos do art. 12 da Lei 9.868/1999. 2. A revogação expressa de alguns dos dispositivos da norma
impugnada enseja a perda parcial do objeto da ação. 3. As regras de distribuição de competências legislativas são
alicerces do federalismo e consagram a fórmula de divisão de centros de poder em um Estado de Direito. Princípio da
predominância do interesse. 4. A Constituição Federal de 1988, presumindo de forma absoluta para algumas matérias
HC 154544 AgR
RELATOR: MINISTRA ROSA WEBER
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS. DOSIMETRIA DA PENA. MAUS
ANTECEDENTES. CONDENAÇÕES ANTERIORES AO PERÍODO DEPURADOR. PENDÊNCIA DE JULGAMENTO DO RECURSO
COM REPERCUSSÃO GERAL (TEMA 150). PENA-BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. POSSIBILIDADE. REGIME PRISIONAL.
DECISÃO FUNDAMENTADA. AUSÊNCIA DE FLAGRANTE ILEGALIDADE. 1. A matéria relativa à consideração, como maus
antecedentes, de condenações anteriores ao período depurador de cinco anos de que trata o inciso I do artigo 64 do
Código Penal, está pendente de julgamento sob a sistemática da repercussão geral nesta Corte (Tema 150, RE
593.818, Rel. Min. Roberto Barroso). 2. Enquanto pendente de julgamento o recurso paradigmático, a Primeira Turma
deste Supremo Tribunal Federal firmara jurisprudência no sentido de que a decisão que opta por uma das correntes
não se qualifica como ilegal ou abusiva, âmbito normativo destinado à concessão de ‘habeas corpus’ de ofício (HC
132.120 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, Primeira Turma, DJe-041 de 6.3.2017). 3. A fixação do regime inicial de
cumprimento da pena não está condicionada somente ao quantum da reprimenda, mas também ao exame das
circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal, conforme remissão do artigo 33, § 3º, do referido diploma legal.
Precedentes. 4. Agravo regimental conhecido e não provido.
RE 1181244 AgR
RELATOR: MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES
AGRAVO INTERNO NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MUNICÍPIO. COMPETÊNCIA SUPLEMENTAR PARA LEGISLAR SOBRE
CONSUMO EM QUESTÕES QUE EVIDENCIAM O INTERESSE LOCAL. 1. Tem-se, na origem, ação direta de
inconstitucionalidade proposta perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo em face da Lei 7.282, de 18 de
maio de 2017, do Município de Mogi das Cruzes, que deu nova redação aos artigos 1º e 2º da Lei Municipal
6.809/2013 e outras providências, para dispor acerca da obrigatoriedade, em todas as bombas de abastecimento nos
postos revendedores de combustíveis do Município, de informações ao cliente em forma de percentual indicativo da
diferença de preço entre o litro do álcool/etanol e da gasolina comum, indicando ainda o combustível mais vantajoso
para os consumidores de veículos bicombustíveis. 2. Na inicial da ação direta, a Procuradoria-Geral de Justiça do
Estado de São Paulo sustenta violação ao princípio federativo, ao argumento de que o Município não detém
competência para legislar sobre proteção do consumidor, além do que inexiste interesse local a legitimar a
intervenção legislativa da municipalidade. 3. O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo julgou improcedente o
pedido por entender que, no caso, não houve violação ao pacto federativo. 4. A Federação nasceu adotando a
necessidade de um poder central, com competências suficientes para manter a união e a coesão do próprio País,
garantindo-lhe, como afirmado por HAMILTON, a oportunidade máxima para a consecução da paz e da liberdade
contra o facciosismo e a insurreição ( The Federalist papers, nº IX ), e permitindo à União realizar seu papel
aglutinador dos diversos Estados-Membros e de equilíbrio no exercício das diversas funções constitucionais delegadas
aos três poderes de Estado. 5. Durante a evolução do federalismo, passou-se da ideia de três campos de poder
mutuamente exclusivos e limitadores, segundo a qual a União, os Estados e os Municípios teriam suas áreas exclusivas
de autoridade, para um novo modelo federal baseado, principalmente, na cooperação, como salientado por KARL
LOEWESTEIN ( Teoria de la constitución . Barcelona: Ariel, 1962. p. 362). 6. O legislador constituinte de 1988, atento a
essa evolução, bem como sabedor da tradição centralizadora brasileira, tanto, obviamente, nas diversas ditaduras que
sofremos, quanto nos momentos de normalidade democrática, instituiu novas regras descentralizadoras na
distribuição formal de competências legislativas, com base no princípio da predominância do interesse, e ampliou as
hipóteses de competências concorrentes, além de fortalecer o Município como polo gerador de normas de interesse
local. 7. O princípio geral que norteia a repartição de competência entre os entes componentes do Estado Federal
brasileiro é o princípio da predominância do interesse, tanto para as matérias cuja definição foi preestabelecida pelo
texto constitucional, quanto em termos de interpretação em hipóteses que envolvem várias e diversas matérias, como
na presente Ação Direta de Inconstitucionalidade. 8. A própria Constituição Federal, portanto, presumindo de forma
absoluta para algumas matérias a presença do princípio da predominância do interesse, estabeleceu, a priori , diversas
competências para cada um dos entes federativos, União, Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios, e, a partir
dessas opções, pode ora acentuar maior centralização de poder, principalmente na própria União (CF, art. 22), ora
permitir uma maior descentralização nos Estados-membros e Municípios (CF, arts. 24 e 30, inciso I). 9. Verifica-se que,
na espécie, o Município, ao contrário do que alegado na petição inicial, não invadiu a competência concorrente da
União, Estados e Distrito Federal para a edição de normas geral ou suplementar atinentes aos direitos do consumidor
(CF, art. 24, V e VIII). Em realidade, o legislador municipal atuou no campo relativo à competência legislativa
INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
2 A 6 DE DEZEMBRO DE 2019
Emenda Constitucional nº 104, de 4.12.2019 - Altera o inciso XIV do caput do art. 21, o § 4º do art. 32 e o art. 144 da
Constituição Federal, para criar as polícias penais federal, estaduais e distrital. Publicado no Dou em 05.12.2019,
Seção 1, Edição 235, p.2.
Lei Complementar nº 169, de 2.12.2019 - Altera a Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006 (Lei do
Simples Nacional), para autorizar a constituição de sociedade de garantia solidária e de sociedade de
contragarantia. Mensagem de veto. Publicado no DOU em 03.12.2019, Seção 1, Edição 233, p.3.
OUTRAS INFORMAÇÕES
2 A 6 DE DEZEMBRO DE 2019
Decreto nº 10.153, de 3.12.2019 - Dispõe sobre as salvaguardas de proteção à identidade dos denunciantes de ilícitos e
de irregularidades praticados contra a administração pública federal direta e indireta e altera o Decreto nº 9.492, de 5 de
setembro de 2018. Publicado no DOU em 04.12.2019, Seção 1, Edição 234, p.1.
Decreto nº 10.152, de 2.12.2019 - Aprova o Regulamento do Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste. Publicado
no DOU em 03.12.2019, Seção 1, Edição 233, p. 7.
Decreto nº 10.151, de 2.12.2019 - Institui o Programa Ciência na Escola. Publicado no DOU em 03.12.2019, Seção 1,
Edição 233, p.6.
Decreto nº 10.147, de 2.12.2019 - Dispõe sobre a qualificação de unidades de conservação no âmbito do Programa de
Parcerias de Investimentos da Presidência da República e sobre a sua inclusão no Programa Nacional de
Desestatização. Publicado no DOU em 03.12.2019, Seção 1, Edição 233, p.3.
Supremo Tribunal Federal – STF
Secretaria de Documentação
Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência
cdju@stf.jus.br