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Resumos para o exame de filosofia

2020
racionalidade argumentativa

argumentação e lógica formal


teses
➔ São respostas possíveis aos problemas filosóficos.
➔ São proposições.

proposições
➔ É o pensamento que uma frase declarativa exprime literalmente.
➔ Têm valor de verdade (ou são verdadeiras ou falsas, de acordo com a realidade).
➔ Podem ser de três tipos.
Categóricas- afirmam ou negam sem restrições;
Condicionais- afirmam ou negam sob algumas restrições;
Disjuntivas- afirmam ou negam em forma de alternativas que se excluem ou não.
➔ Se duas diferentes significam o mesmo, então exprimem a mesma proposição.
➔ Se uma frase pode significar coisas diferentes (isto é, se for ambígua), então pode exprimir
proposições diferentes.

proposições categóricas
Tipo A- universais afirmativas (todos são ...)
Tipo E- universais negativas (nenhum é ...)
Tipo I- particulares afirmativas (alguns são ...)
Tipo O- particulares negativas (alguns não são …)

proposições condicionais
➔ Numa proposição condicional: A antecedente é uma condição suficiente para a consequente.
A consequente é uma condição necessária para a antecedente.
➔ Podem ser expressas por frases com a forma “Se P então Q”.

proposições bicondicionais
➔ Numa proposição bicondicional estabelece-se uma relação de equivalência entre as duas
proposições que a constituem: Cada uma é uma condição suficiente e necessária para a outra.
➔ Podem ser expressas por frases com a forma “P se, e apenas se, Q”.
➔ São condicionais que funcionam nos dois sentidos.

contraexemplos
➔ Quando se pretende refutar uma tese que consiste numa proposição universal, uma forma de o
fazer é apresentar contraexemplos.
➔ Um contraexemplo é um caso particular que contraria uma proposição universal.

consistência
➔ Um conjunto de proposições é consistente se, e apenas se, é possível que todas elas sejam
verdadeiras.
➔ Se duas proposições são consistentes isto significa apenas que são logicamente compatíveis
entre si.
➔ Se, pelo contrário, são falsas, formam um conjunto inconsistente (basta apenas uma delas ser
falsa).
➔ Se um conjunto de proposições é consistente, isso não garante que alguma das proposições
seja verdadeira (podemos ter conjuntos consistentes apenas de proposições falsas).

conceitos
➔ Os conceitos são aquilo que os termos significam. Se dois termos significam o mesmo então
exprimem o mesmo conceito.
➔ Um termo é ambíguo se pode significar coisas diferentes (ex: banco de sentar e banco,
instituição financeira)
➔ As definições explícitas são um das formas principais de clarificar conceitos. Uma definição
explícita correta não é demasiado lata (abrange mais do que devia abranger) nem demasiado
restrita (abrange menos do que devia abranger).
● Uma definição explícita é errada se aquilo que se pretende definir surge na expressão
definidora (são insatisfatórias).
● Uma definição explícita é errada se a expressão definidora for mais obscura (não elucida
o significado) do que aquilo que se pretende definir (é insatisfatória).

argumentos
➔ Conjunto de proposições devidamente articuladas e com nexo lógico em que se pretende que
uma delas (a conclusão) seja apoiada pelas outras (as premissas).
➔ Podem ser válidos ou inválidos.
➔ Para avaliar um argumento é preciso:
● Determinar se as premissas são todas verdadeiras;
● Determinar se as premissas apoiam suficientemente a conclusão.

premissas e conclusão
➔ Premissa- proposição usada num argumento para defender uma conclusão.
➔ Conclusão- proposição que se defende, num argumento, recorrendo a premissas.

argumentos válidos
➔ Um argumento válido exclui a seguinte possibilidade- que as premissas sejam verdadeiras e a
conclusão falsa.
➔ Um argumento é mau/inválido se as premissas forem falsas ou a verdade das premissas não
possuir validade.

argumentos sólidos
➔ Argumento válido com premissas e conclusão verdadeiras.
➔ Solidez pressupõe validade.

argumentos dedutivos
➔ A sua validade depende apenas da forma lógica dos argumentos.
➔ É impossível as premissas serem verdadeiras e a conclusão falsa.
➔ São argumentos que preservam a verdade.
argumentos não dedutivos
➔ A verdade das premissas apenas sugere a plausibilidade da conclusão ou a probabilidade de
ela ser também ver
➔ As premissas apenas dão um suporte parcial à conclusão, fornecendo razões a seu favor, mas
não a tornando necessariamente verdadeira.
➔ Um argumento não dedutivo é válido quando é improvável, mas não impossível, ter premissas
verdadeiras e conclusão falsa.
➔ A sua validade depende de aspetos que vão além da lógica do argumentos.
➔ Estes podem ser de três tipos.
Por analogia-Baseia-se, na comparação que se estabelece entre as realidades, supondo
semelhanças novas a partir das já conhecidas.
De autoridade-É o argumento que se apoia na opinião de um especialista ou de uma
autoridade para fazer valer a sua conclusão.
Indutivos- por previsão-Argumento que, baseando-se em casos passados, antevê casos não
observados, presentes ou futuros.
por generalização-Argumento cuja conclusão é mais geral do que a(s) premissa(s).

argumentos dedutivamente válidos


➔ Um argumento é dedutivamente válido se, e apenas se, é impossível que tenha premissas
verdadeiras e conclusão falsa .
● As premissas implicam a conclusão

argumentos indutivamente válidos


➔ Um argumento é indutivamente válido se, e apenas se, é muito improvável, mas não impossível,
que tenha premissas verdadeiras e conclusão falsa.
● As premissas confirmam a conclusão

falácias
➔ São argumentos incorretos ou inválidos embora aparente ser válido.
➔ Podem ser de dois tipos.
Falácias formais- Decorrem apenas da forma lógica do argumento.
São cometidas ao nível dos argumentos dedutivos.
Falácias informais- Resultam de aspetos que vão para lá da forma lógica do argumento.
São cometidas ao nível dos argumentos não dedutivos.

lógica formal
➔ Visa determinar a validade dos argumentos unicamente a partir do estudo da sua forma,
ignorando o conteúdo.

argumentos dedutivos

quadrado da oposição
➔ utiliza os quatro tipos de proposições categóricas na forma “S é P”
● O termo sujeito é aquele que ocupa o lugar de S.
● O termo predicado é aquele que ocupa o lugar de P.
➔ A classificação de proposições parte de dois fatores: quantitativos e qualitativos;
Quantidade = proposições universais (tipo A e E) e particulares (tipo I e O).
Qualidade = proposições afirmativas (tipo A e E) e negativas (tipo I e O).

➔ A proposição de Tipo A e a de Tipo O são contraditórIas. Assim como a de Tipo I e Tipo E.


● Proposições contraditórias têm sempre valores de verdade opostos.
➔ A proposição do Tipo A e a
do Tipo E são contrárias.
● Proposições contrárias
não podem ser ambas
verdadeiras, mas podem
ser ambas falsas.
➔ A proposição do Tipo I e a
do Tipo O são subcontrárias.
● Proposições subcontrá-
rias podem ser ambas
verdadeiras mas não podem ser ambas falsas.
➔ A proposição do Tipo I é subalterna da de Tipo A. Assim como a de Tipo E e a de Tipo O.
● Nesta relação, se a proposição universal é a verdadeira, a particular também é verdadeira.
Se a particular é falsa, a universal também é falsa.

lógica proposicional
➔ A lógica proposicional ocupa-se de argumentos cuja validade depende de conectivas
proposicionais. Reconhecem-se seis conectivas:
● Negação (ᆨ)
● Conjunção (⋀)
● Disjunção inclusiva (⋁)
● Disjunção exclusiva (⩒)
● Bicondicional (↔)
● Condicional (→)
➔ A negação é a única conectiva unária; Todas as outras são conectivas binárias, pois “ligam”
duas proposições.
➔ Uma proposição simples não tem conectivas. Uma proposição complexa tem pelo menos uma
conectiva.

tabelas de verdade
➔ Uma tabela de verdade é um dispositivo gráfico que apresenta todas as condições possíveis
de valores de verdade para as letras de uma fórmula da lógica proposicional e nos diz qual é
o valor de verdade dessa fórmula em cada caso.
➔ As conectivas proposicionais
são definidas pelas
seguintes tabelas:
● Uma negação tem sempre um valor de verdade diferente do da proposição negada.
● Uma conjunção é verdadeira apenas no caso de ambas serem verdadeiras.
● Uma disjunção inclusiva é falsa apenas no caso de ambas serem falsas.
● Uma disjunção exclusiva só é verdadeira quando uma é verdadeira e a outra é falsa.
● Uma condicional é falsa apenas quando a antecedente é verdadeira e a consequente é
falsa.
● Uma bicondicional é verdadeira apenas quando a antecedente e consequente tem o
mesmo valor de verdade.

➔ A conectiva principal de uma fórmula é aquela que tem maior âmbito e aplica-se a toda a
fórmula.
➔ Na construção de tabelas de verdade com mais do que uma conectiva, avança-se das
conectivas de menor âmbito para as de maior âmbito. O resultado final da tabela surge na
coluna da connectiva principal.

➔ Para determinar se um argumento é válido, realizam-se os seguintes passos :


● Constrói-se um dicionário atribuindo uma letra proposicional a cada proposição simples;
● Formaliza-se o argumento;
● Constrói-se a tabela do argumento, onde se representam as premissas e a conclusão;
● Analisa-se a tabela, concluindo-se que o argumento é válido se, e apenas se, em nenhum
caso possível tiver todas as premissas verdadeiras e a conclusão falsa.

tautologias ou verdades lógicas


➔ São fórmulas proposicionais que são sempre verdadeiras , qualquer que seja o valor de
verdade das proposições simples que as constituem.

contradições ou falsidades lógicas


➔ Fórmulas proposicionais que são sempre falsas, independentemente do valor de verdade das
proposições simples que as compõem.

contingências ou proposições indeterminadas


➔ Fórmulas proposicionais que tanto podem ser verdadeiras como falsas, consoante os valores
lógicos das proposições simples que as compõem.
Formas de inferência válidas
modus ponens
➔ Afirmação do antecedente na segunda premissa e do consequente na conclusão.

modus tollens
➔ Negação do consequente na segunda premissa e do antecedente na conclusão.

contraposição

modus tollendo ponens ou silogismo disjuntivo


➔ Parte de uma disjunção inclusiva.

silogismo hipotético

Leis de Morgan
➔ Indicam-nos que de uma conjunção negativa podemos inferir uma disjunção de negações, e que
de uma disjunção negativa podemos inferir uma conjunção de negações.
● Negação da conjunção

● Negação da disjunção

negação dupla
principais falácias formais

falácia da afirmação do consequente


➔ Comete-se quando, a partir de uma proposição condicional, se afirma o
consequente na segunda premissa, concluindo-se com a afirmação do
antecedente.

falácia da negação do antecedente


➔ Comete-se quando, a partir de uma proposição condicional, se nega o
antecedente na segunda premissa, concluindo-se com a negação do
consequente.

argumentos não dedutivos

argumentos não dedutivos


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falácias informais
➔ As falácias informais são argumentos inválidos, aparentemente válidos, e cuja invalidade não
resulta de uma deficiência formal, antes decorre do conteúdo do argumento, da sua matéria,
da linguagem natural comum usada nesses argumentos.
➔ Uma vez que este tipo de falácias não depende de forma lógica do argumento, pode haver
argumentos com a mesma que sejam fortes ou fracos, bom ou maus, válidos ou inválidos.

falácia da generalização precipitada


➔ Nesta falácia extrai-se uma conclusão geral a partir de uma amostra demasiado pequena.

falácia da amostra não representativa


➔ Nesta falácia extrai-se uma conclusão geral a partir de uma amostra que não é suficiente e
proporcionalmente diversificada.
➔ A amostra, a parte, não é uma boa representação do todo.

falácia da falsa analogia


➔ Nesta falácia ignoram-se diferenças relevantes entre os objetos comparados.

falácia de apelo à autoridade


➔ Nesta falácia invoca-se uma autoridade que não é qualificada ou imparcial;
➔ Ou ignora-se não haver consenso entre as autoridades mais qualificadas e imparciais.

falácia da circularidade ou petição de princípio


➔ Nesta falácia pressupõe-se indevidamente nas premissas aquilo que se pretende provar com
o argumento;
➔ As petições de princípio geram circularidades lógicas, pelo que também são conhecidas como
falácias circulares.

falácia dos falsos dilemas


➔ Os falsos dilemas são são argumentos em que se parte de uma disjunção enganadora;
➔ Sugere-se que existem apenas duas hipóteses, quando na realidade essas duas hipóteses
não esgotam todas as possibilidades.

falácia da falsa relação causal


➔ Nesta falácia infere-se precipitadamente uma certa relação causal a partir de certos dados.

falácia ad hominem
➔ Esta falácia consiste em ataques pessoais.
➔ Argumenta-se que uma certa posição é falsa descrevendo de uma forma depreciativa aquele
que a defende.

falácia ad populum
➔ Nesta falácia o simple facto de a generalidade das pessoas acreditar numa proposição é
tomado como prova de que essa proposição é verdadeira.

falácia de apelo à ignorância


➔ Nesta falácia afirma-se que não se sabe que uma certa proposição é verdadeira, inferindo-se
daí que ela é falsa;
➔ ou então afirma-se que não se sabe que uma certa proposição é falsa, inferindo-se daí que
ela é verdadeira.
falácia do boneco de palha ou espantalho
➔ Esta falácia consiste em distorcer ou caricaturar a posição do oponente de modo a atacá-la
mais facilmente.

falácia da derrapagem ou bola de neve


➔ Esta é cometida quando, invocando uma cadeia causal implausível, se defende que não
devemos aceitar algo porque, se o fizermos, esse será o primeiro passo em direção a algo
terrível.

A ação humana

determinismo e liberdade na ação humana


o problema do livre arbítrio
➔ Consiste em saber se é possível conciliar duas convicções aparentemente incompatíveis; se o
ser humano é dotado de liberdade genuína ou se é inteiramente determinado por fatores que
não controla.
➔ O problema não consiste numa opção entre “Todas as ações são livres” e “Todas as ações
são determinadas” (a primeira opção é obviamente falsa).

O livre arbítrio consiste na liberdade de escolher entre as várias ações possíveis.


Para isso é necessário que não esteja tudo determinado
Logo, para que exista livre arbítrio não pode haver determinismo.

➔ Para os liberalistas e os deterministas moderados, somos livres e temos controle sobre nós
mesmos.
➔ Para os deterministas radicais, o livre arbítrio é uma ilusão.

teorias acerca do livre arbítrio


➔ Determinismo: Um acontecimento resulta de uma causa ou conjunto de causas e que sempre
que essa causa(s) ocorre dará inevitavelmente origem ao acontecimento.
➔ Livre arbítrio: Consiste em poder escolher entre as várias ações possíveis; Há livre arbítrio se
pudermos agir de modo diferente do que agimos.
➔ Compatibilismo: temos de facto livre arbítrio e há ações livres mesmo que o determinismo seja
verdadeiros. (determinismo e libertismo são compatíveis)
➔ incompatibilismo: Ou há livre arbítrio ou há determinismo. (determinismo e libertismo não são
compatíveis)

determinismo radical:
➔ Rejeita a crença no livre arbítrio;
➔ Afirma que:

Tudo no universo obedece a leis causais invariáveis;


Assim, não há espaço para liberdade de vontade;
Logo, todo o nosso comportamento é constrangido e predizível.
➔ A tese do determinismo defende que todas as nossas decisões e ações são inteiramente
determinadas por fatores que não controlamos.
➔ Para o determinista radical, todo e qualquer acontecimento é o desfecho necessário de
acontecimentos anteriores. São, por isso mesmo, efeitos de causas necessárias. Assim, como
as nossas ações não dependem de nós, mas de fatores que não podemos controlar, não
somos livres.
➔ As nossas escolhas são o resultado da influência de fatores biológicos-genéticos e fisiológicos-
e ambientais- as circunstâncias em que fomos socializados e educados. Assim, se um estado
psicológico causa uma determinada ação numa dada situação, esse estado mental é, por sua
vez, o produto de múltiplas causas anteriores.

objeções:
➔ A sensação de liberdade de escolha é tão poderosa que somos incapazes de a abandonar.
➔ Não é possível construir a vida social sem a ideia de responsabilidade moral.
● Se o determinismo implica a negação da liberdade e da responsabilidade, se podemos
afirmar que as nossas ações são o resultado de causas que de modo algum podemos
controlar; então que diferença há entre nós e os humanos?
➔ Rejeitar o livre arbítrio implica recusar a moralidade e a responsabilidade individuais.

determinismo moderado ou compatibilismo


➔ Para o determinista moderado, o determinismo é compatível com o livre arbítrio.
➔ Existe conciliação entre ciência e humanidade.
➔ Segundo o determinista moderado existem dois tipos de ações.
● Ações livres- São aqueles cuja causa imediata são estados psicológicos do agente
(desejos, motivos, crenças ou outros estados internos do sujeito que age).
● Ações não livres- São aqueles cuja causa imediata são estados de coisas ou situações
exteriores ao agente (forças e condições físicas existentes fora do sujeito).
➔ As nossas ações são ao mesmo tempo livres e determinadas. Somos livres quando as
nossas ações são determinadas (causadas), mas não constrangidas (forçadas).

objeções:
➔ ao admitir que o determinismo é verdadeiro aceita-se a tese que defende que todas as
ações são consequências das leis da natureza e acontecimentos que não controlamos.
➔ a teoria não explica o comportamento compulsivo: ao agir compulsivamente, agimos de acordo
com desejos e crenças mas não se pode dizer que somos livres.
➔ a nossa personalidade está determinada pelo nosso passado (educação e meio em que
fomos criados), sem um constrangimento.

libertismo
➔ rejeita o determinismo;
➔ o ser humano transcende as leis naturais;
➔ o comportamento humano não é constrangido nem previsível, mas isso não significa que seja
aleatório.
➔ as nossas ações decorrem das nossas deliberações e crenças e não de acontecimentos
anteriores sobre as quais não temos controlo.
➔ apesar de influências hereditárias e do meio que nos rodeia, escolhemos livremente o que
fazemos.

objeções:
➔ o facto de a mente funcionar dentro de nós à margem das leis causais não ser plausível e
contradizer o que conhecemos cientificamente; O nosso corpo não tem liberdade de ação, o
nosso pensamento controla as ações, e não podemos separá las,pois condicionam-se
mutuamente (o pensamento está sediado no cérebro).
➔ as causas imediatas dos nossos estados mentais e comportamentos são acontecimentos que
ocorrem no cérebro.
➔ as ações são livres se não tiverem nenhuma causa, nem mesmo desejos e crenças
individuais.

Axiologia ou teoria dos valores

valores, juízos de valor e juízos de facto


valores
➔ São padrões ou referência em função das quais julgamos objetos, pessoas e atos.
➔ São guias fundamentais da ação humana, exprimem aquilo que julgamos que é importante e
significativo na nossa vida.
➔ São motivos fundamentais das nossas decisões.

Juízos
➔ Um juízo é uma proposição (aquilo que é expresso por uma frase declarativa)

Juízos de facto:
● são puramente descritivos.
● Afirmam afirmam estados de coisas que podem, ou não, corresponder à realidade, sendo
por isso verdadeiros ou falsos.
● Certas frases são usadas para exprimir valorações, mas são, em rigor, juízos de facto
sobre estados mentais do emissor.

Juízos de valor:
● exprimem a atribuição de algum valor, positivo ou negativo, ético, estética, religioso, etc.
● Podem exprimir uma preferência da parte do emissor.

➔ A distinção entre juízos de facto e de valor está comprometida com uma teoria acerca
desses juízos, o subjetivismo e relativismo, à luz da qual a distinção é real.
➔ Para o objetivismo, os juízos de valor são juízos de facto acerca de valores, pois estes são
propriedades reais do mundo.

teorias sobre os valores e juízos de valor


subjetivismo
➔ Os juízos de valor podem ser falsos podem ser verdadeiros ou falsos, têm valor de verdade.
➔ A sua verdade não é objetiva, varia de acordo com o ponto de vista.
➔ Baseiam-se nos nossos sentimentos;
➔ Não há verdades morais objetivas e universais (“A cada um a sua verdade, e assim deve
ser”).
➔ No que respeita aos juízos de valores só há discordância, se os juízos de valor fossem
objetivos, essas discordâncias não existiam
➔ De acordo com o subjetivismo não devemos julgar os outros, não temos o direito a um tal
exercício de autoridade. Cada um deve ter liberdade e a autonomia para decidir o que é
moralmente corretamente ou incorreto .
➔ Moralmente rejeita a subordinação do indivíduo ao modo de pensar da maioria da sociedade e
não acredita em verdades morais absolutas e objetivas.

objeções:
➔ É contraditório
➔ Não é verdade que discordemos quando a todos os valores.
➔ Existe um forte consenso entre as pessoas em certos temas.

relativismo cultural
➔ os juízos de valor são verdadeiros, mas não em todo lado e para todas; depende do que cada
sociedade acredita ser moralmente correto , do que esta aprova e desaprova.
➔ As convicções da maioria dos membros de uma sociedade são a autoridade suprema em
questões morais.
● O código moral de cada indivíduo deve-se subordinar ao código moral da sociedade em que
vive e foi educado.
➔ Os juízos morais são verdadeiros se estiverem em conformidade com o que a sociedade a
que pertence considera verdadeira.
➔ Devemos julgar as ações dos membros de uma sociedade pelas normas morais estabelecidas
no interior dessa sociedade e não mediante crenças morais de outras sociedades.
➔ Promove a tolerância entre culturas porque nenhuma pode julgar-se autoridade em assuntos: a
cada cultura a sua verdade.
➔ Promove a coesão social porque dá aos membros de uma sociedade uma forma de pensar e
de sentir que impede a moral seja uma questão de opinião pessoal.
➔ Promove o respeito pela diversidade de opiniões acerca do que é certo ou errado, convidando
cada cultura a ser humilde, a olhar para si antes de criticar ou de impor a sua perspetiva a
outra ou outras.

objeções:
➔ objeção ao argumento da tolerância- este argumento pressupõe erradamente que devemos
aceitar todos os costumes e tradições ainda que erradas e que prejudiquem as pessoas. Ora
assim sendo tínhamos que tolerar, até mesmo a intolerância.
➔ existem critérios transubjetivos- padrões neutros, objetivos e universais entre culturas.
➔ reduz a verdade ao que a maioria considera verdadeiro.
➔ convida ao conformismo moral.
➔ torna incompreensível o progresso moral.
objetivismo
➔ Defende que os valores são propriedades, qualidades das próprias coisas, pessoas, objetos,
situações ou instituições, embora sejam propriedades difíceis de reconhecer porque não
existem num sentido físico.
➔ São uma espécie de juízos de facto com a diferença de que sobre o seu conteúdo ainda não
obtivemos qualquer certeza.
➔ Não impede que haja verdades morais universais e objetivas
➔ Acreditam que os juízos de valor têm valor de verdade, mas a verdade ou falsidade não
depende de pontos de vista, de sentimentos ou de gostos, sejam estes individuais ou
coletivos.
➔ A tolerância não é um valor meramente relativo às sociedades, pois não é aceitável que outras
sociedades não sejam tolerantes.

Ética e moral

éticas deontológicas e consequencialistas


➔ A ética é o ramo da filosofia que analisa as questões que decorrem de as nossas ações
terem consequências que afetam, para bem ou para mal, as outras pessoas, os animais, etc.
↪ tenta resolver a questão: “como devo agir?”/ “o que é uma ação moralmente correta?”
➔ éticas deontológicas: são éticas do dever
● tem caráter objetivo e absoluto das obrigações morais;
● valorizam as intenções do agente e desprezam os resultados das ações.
➔ éticas consequencialistas:
● avaliam as ações em função dos seus resultados
● valorizam as intenções do agente e desprezam os resultados das ações

A teoria ética de Kant


➔ a ética kantiana é uma ética deontológica.
➔ segundo esta ética, só é correto atribuir um valor ético às ações em função da intenção do
seu agente, porque só ela, e não as consequências das nossas ações, pode ser controlada
pela nossa vontade.
➔ para kant existem três tipos de ações: por dever;
conforme o dever;
contra o dever.
mas apenas as ações por dever são moralmente corretas.

A boa vontade e a ação por dever


➔ para Kant, a única motivação moralmente boa para as nossas ações é o cumprimento do
dever.
➔ uma ação praticada por dever é única e exclusivamente motivada pelo puro respeito à lei,
independentemente das consequência ou dos resultados da ação.
➔ a boa vontade é o cumprimento do dever, não para a satisfação de interesses, desejos, etc.
mas apenas e só porque é correto;
➔ os conceitos de dever e boa vontade são inseparáveis nesta ética.
➔ A boa vontade é a condição necessária para uma ação ser moralmente correta.
imperativos
➔ são fórmulas ou leis (máximas) que expressam a noção de dever ser.
➔ existem dois tipos de imperativos:

imperativos hipotéticos imperativos categóricos

➔ uma ação é boa porque é um meio para ➔ uma ação é boa se for realizada por puro
alcançar um fim; respeito da lei;
➔ assume a forma:” se queres X, então tens ➔ assume a forma:” deves fazer X, sem mais”;
que fazer Y”; ➔ é incondicional : independentemente das
➔ é condicional:depende da existência de circunstâncias sendo uma lei a priori ;
circunstâncias que derivam da experiência; ➔ é universal e necessário (tem de ser
➔ é particular e contingente (pode ser verdadeiro)
verdadeiro ou falso); ➔ ações por dever
➔ ações conforme o dever; ➔ é a lei da moralidade, devido ao carácter
➔ é o enunciado típico da éticas materiais, formal; a obediência a este princípio deriva
traduz uma moral heterônoma (imposta/ da autonomia da vontade;
influenciada a partir do exterior);

➔ segundo Kant os imperativos categóricos podem-se resumir na frase: “ Age de modo que a tua
ação possa tornar-se uma lei universal”
● isto significa que se deve ter uma perspectiva universal e que as nossas ações devem
ser universalizáveis.
➔ esta ética respeita a dignidade individual pois segundo o imperativo categórico as pessoas são
fins em si mesmos, logo :”Trata sempre as pessoas como fins em si mesmos, nunca como
meros meios”.

objeções:
➔ não resolve os conflitos de deveres: não nos permite decidir em caso de o dever nos obrigar a
uma ação e a outra incompatível com ela, pois os valores são sempre categóricos e não existe
uma hierarquia de deveres.
➔ desculpa a negligência bem intencionada: ignora as consequências das ações para a sua
classificação moral; o cumprimento cego do dever pode levar a consequências catastróficas.
➔ ignora o papel das emoções na moralidade: considera moralmente irrelevante os aspetos
emocionais das nossas ações, como a generosidade ou a solidariedade.
➔ seres não racionais: a fórmula da humanidade exige respeito pelas pessoas (agentes racionais
e morais dotados de autonomia), mas e os outros seres (ex. bebés, deficientes, etc.)?

A teoria de stuart Mill


➔ o utilitarismo é uma teoria ética consequencialista (considera que são as consequências que
da ação que determinam o seu valor moral e não a intenção do agente).

o princípio da maior felicidade


➔ a felicidade é o único bem com valor intrínseco.
➔ consiste em ter o maior número de experiências de prazer e o menor número de experiências
de dor.
➔ exige estrita imparcialidade: importa não só a felicidade do agente mas a felicidade geral.
➔ Um ato só é moralmente correto se não houver um alternativo que resulte em maior felicidade
geral.
➔ Justificar o princípio é provar que a felicidade geral é o único fim último desejável.
➔ É impossível viver sempre motivado para aumentar imparcialmente a felicidade geral, e não
conseguimos prever muitas das consequências dos nossos atos; em vez disso devemos
guiar-nos por princípios secundários mais fácies de aplicar e que, pela experiência, levem a
consequências boas.
objeções:
➔ Crime azarento: se aceitarmos o utilitarismo, alguém claramente mal-intencionado age
corretamente se, por uma acaso, a ação lhe correr mal e tiver consequências benéficas que
não foram por só desejadas; o oposto também se pode verificar. A resposta utilitarista é
distinguir entre afirmar que alguém é bom ou mau e dizer o mesmo de uma ação sua.
➔ Males sem prejuízo: algumas ações são más (ou boas) mesmo quando os visados por elas não
experimentam as consequências más (ou boas) dessas ações. Mas não poderão ser
consideradas más (ou boas) segundo o utilitarismo.
➔ Os benefícios de sacrificar: segundo o utilitarismo, seria moralmente correto provocar muito
sofrimento a uma pessoa se daí resultasse poupar-se mais do que uma igual a sofrimento,
pois o cálculo da utilidade de tal ação teria saldo positivo.
➔ a máquina do prazer: a identificação entre felicidade e prazer leva a concordar que alguém a
quem possibilitam ter experiências de prazer artificialmente criadas por uma máquina está a
ter uma vida feliz e boa.
➔ Cálculo da utilidade: pressupõe que prazeres e dores de tipos variáveis, sentidos de modos
diversos por pessoas diversas, podem ser reduzidos a alguma escala numérica, para calcular
se o saldo é positivo ou negativo; pressupõe que sabemos quais poderão ser as
consequências prováveis das ações, quando na realidade não o sabemos, especialmente no
caso das consequências a longo prazo.
➔ A prova do utilitarismo:

➔ Exigências excessivas: cumprir a obrigação de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para
promover a felicidade geral consumiria quase todo o nosso tempo e recursos a ajudar os
mais necessitados e seria viver quase exclusivamente em função dos Interesses alheios.

A organização de uma sociedade justa

A teoria da justiça de Rawls


➔ Para Rawls a justiça basicamente na equidade. Os seres humanos devem ter os mesmos
direitos e liberdades porque, enquanto seres humanos, têm igual valor moral.
➔ Uma sociedade justa é a que melhor garante a equidade. É esta que tem valor intrínseco, e
não o saldo de felicidade geral, como no utilitarismo.
➔ Rawls justifica a existência do Estado pela ideia do contrato social, um acordo hipotético entre
todos, em obedecer a um poder político em troca de benefícios

A posição original e o véu da ignorância


➔ Para determinar que princípios de justiça seriam acordados, devemos imaginar que partimos
de uma posição original, sob um véu de ignorância acerca das nossas qualidades, defeitos ou
posição social o que garante a imparcialidade: para quê favorecer ilegitimamente uma qualidade
sem sabermos se a vamos ter?
↪ véu de ignorância: obriga os indivíduos à imparcialidade e à cooperação; sob o véu de
ignorância agimos apenas em função do que é racional escolher pois desconhecemos todas
as características naturais e condições sócio econômicas em que nos encontramos. assim,
o véu de ignorância garante equidade e universalidade.

Os princípios da justiça
princípio da liberdade:
● Cada pessoa tem direito igual ao mais vasto sistema total de liberdades básicas iguais
compatível com um sistema semelhante de liberdade para todos.
● este princípio tem prioridade sobre os restantes.

princípio da diferença:
● As desigualdades económicas e sociais serão dispostas de forma a serem para o maior
benefício dos menos favorecidos.
● a única razão para aceitar que uns tenham mais é isso funcionar como compensação para
os mais pobres por aquilo que, sem culpa sua, não possuem.
princípio da oportunidade justa/ igualdade de oportunidades:
● As desigualdades econômicas e sociais serão dispostas de forma que sejam
consequência do exercício de cargos e funções acessíveis a todos em circunstâncias de
igualdade equitativa de oportunidades.

A regra maximin
➔ princípio da maximização do mínimo
➔ deve haver equidade na sociedade e esta é medida pelo nível de vida dos mais
desfavorecidos.
críticas:
Michael Sandel e o comunitarismo:
➔ Rawls vê as pessoas na posição original como seres humanos abstratos, isolados, sem família,
comunidade ou história pessoal. As pessoas não como borboletas sócias. Muito da nossa
identidade e consciência é produto de todas estas circunstâncias; se elas fossem diferentes,
seríamos outras pessoas.
➔ A posição original e o véu da ignorância são hipotéticos, mas Rawls perde o contacto com a
realidade, e as conclusões neles baseadas não são transferíveis para a realidade social.
➔ Sandel segue o comunitarismo, filosofia política para a qual a aplicação dos princípios liberais
individualistas e concepções atomísticas de pessoa (como os de Rawls) geram isolamento,
perda de laços comunitários e desagregação da sociedade.

Robert Nozick e o libertarismo radical::


➔ Para o libertarista, o estado deve servir apenas como garante da segurança e da resolução de
conflitos (polícia e tribunais), e não para fornecer educação e cuidados de saúde; cobrar
impostos para prestar estes serviços é interferir indevidamente com as liberdades individuais.
➔ Nozick crítica o princípio da diferença. segundo este desigualdades económicas e sociais só
se justificam se melhorarem a situação dos mais desfavorecidos. só assim uma sociedade
poderá ser considerada justa.
➔ mas será possível manter este padrão? O estado teria que constantemente rearranjar a
riqueza pois uns iriam trabalhar de modo a ganhar mais e outros iriam esbanjar. Para NOzick
isso é imoral pois é tratar as pessoas como meios para fins.
● afirma a titularidade legítima e aplica a fórmula da humanidade de Kant: não usar os
outros como meios para fins de outros

Epistemologia

descrição da atividade cognoscitiva


caracterização de conhecimento
➔ o conhecimento é a relação entre um sujeito e um objeto, transcendentes entre si mas que,
apresentam um relação de correlação um para com o outro para manterem as suas
respectivas designações.
➔ estes têm funções específicas:
● sujeito: aprender o objeto (cognoscente)
● objeto: ser aprendido pelo sujeito (cognoscido)

análise fenomenológica e a definição tradicional do conhecimento

➔ para saber, preciso acreditar;


➔ não faz sentido acreditar em algo falso;
➔ a crença deve ser justificada, ou sustentada, para que
possamos falar em conhecimento; é fundamental “sabermos
como sabemos”.

problemas da definição tradicional de conhecimento


➔ levantado por Gettier.
➔ relaciona-se com as condições exigidas para que o
conhecimento seja definido desta forma.
➔ à primeira vista, as condições parecem necessárias para
definir o conhecimento; o problema está em se são
suficientes.

problema da origem do conhecimento


➔ tipos de conhecimento:
a priori- independente da experiência a postriori- dependente da experiência

sintético-o predicado não está contido no analitico-o predicado está contido no sujeito
sujeito , logo acrescenta algo de novo

necessário- é necessariamente verdadeira contingente-a sua veracidade depende de


circunstâncias e variáveis específicas
inato- possuído à nascença

teorias explicativas do conhecimento


descartes e o seu tempo
“A origem do conhecimento é a razão”
➔ para os racionalistas, o pensamento, ou razão é a principal fonte de conhecimento e a sua
justificação
➔ desprezam o papel dos sentidos e defendem que um conhecimento deve satisfazer dois
critérios:
● necessidade lógica;
● universalidade.
➔ a tese racionalista opõe-se à tese empirista.

“A razão por si só constrói um conhecimento universalmente válido”


➔ Descartes foi um filósofo, físico e matemático francês que estabeleceu os fundamentos
filosóficos da ciência moderna.
➔ A época de descartes é fortemente marcada pela dúvida, insegurança e incerteza.
➔ No centro das suas preocupações estava:
● O combate ao ceticismo e a reabilitação da razão;
● Criação de um método que conduzisse a razão à verdade;
● A construção de um sistema baseado em princípios firmes e indubitáveis (fundacionismo).
➔ A teoria racionalista de Descartes baseia-se na dúvida metódica. De modo a encontrar um
fundamento absolutamente seguro para o conhecimento, devemos começar por rejeitar todas
as crenças que admitam a menor dúvida.
➔ a dúvida cartesiana apresenta as seguintes características:
● universal- todos os conhecimentos são postos a prova;
● provisória- não permanece na dúvida, é temporária;
● metódica- é usada como método;
● voluntária- é auto-instituída;
● hiperbólica- é elevada ao extremo (incluído o mundo/ Deus e um génio maligno) e
obedece a dois princípios:
↪ considerar falso tudo o que for minimamente duvidoso;
↪ considerar sempre enganador aquilo que alguma vez me engane
○ ex: Erros de raciocínio
➔ existem várias razões para duvidar como por exemplo: os sentidos são enganadores; os erros
de raciocínio são possíveis; indistinção entre a vigília e o sonho; hipóteses da existências de um
Génio Maligno (deus mau e enganador que o engana deliberadamente).
A primeira verdade indubitável/alicerce:
1. o génio maligno pode fazer-me
acreditar em falsidades;
2. não há nada em que possa ter certeza;
3. mas… quando afirmo “eu sou”/”eu
existo” não posso estar errado;
4. o génio maligno só me pode fazer
acreditar nisto se eu realmente existir;
5. cogito ergo sum (penso, logo existo)

➔ O critério de verdade é a clareza e distinção;


● as coisas que concebemos de forma clara e distinta são todas verdade.
➔ O cogito apresenta as seguintes características:
● é uma verdade evidente (uma ideia clara e distinta);
● é uma verdade indubitável;
● é uma verdade absolutamente primeira (a partir da qual se vão deduzir outras);
○ oferece um ponto de partida para o conhecimento.
● é uma verdade inata, estritamente racional e exclusivamente a priori.

Génio Maligno:
➔ A hipótese do génio maligno consiste na suposição da existência de um deus mau e poderoso
que tolda a mente do sujeito a crer em falsidades.
➔ Esta hipótese serve para provar que, mesmo que tal ser existisse, a existência do cogito
continua a prevalecer.
➔ Reforça a indubitabilidade do primeiro princípio.

A existência de Deus (o argumento ontológico/da marca)


➔ Provada a existência do cogito, permanecem dois problemas sem solução:
● a existência de um génio maligno;
● por consequência do primeiro, a hipótese do mundo físico não existir.
➔ Para poder progredir, Descartes tem que solucionar tais problemas.
➔ Descartes assimila que tem dentro de si a ideia de um ser perfeito
➔ É usado o seguinte raciocínio:
1. tenho ideia de um ser perfeito;
2. eu, sujeito pensante, erro e duvido;
3. se erro e duvido, então não sou perfeito;
4. se tenho ideia de um ser perfeito, porém eu sou (sujeito pensante) sou imperfeito, a
causa desta ideia provém do exterior;
5. logo, Deus.
➔ Se Deus é perfeito, então não pode ser enganador e tem de, forçosamente, existir.

O papel de Deus no sistema cartesiano:


➔ Deus não é enganador, podemos confiar na nossa razão quando esta pensa ter descoberto
ideias claras e distintas;
➔ Para Descartes, Deus é, o garante do conhecimento absolutamente verdadeira. É ele quem
garante a verdade das ideias claras e distintas, futuras e passadas.
1. Dúvida metódica;
2. Cogito: 1ª evidência/alicerce;
3. Deus: garante do conhecimento e 2ª evidência/alicerce;
4. Mundo: o que o mundo descobre como evidente existe;
5. outras verdades: ideias claras e distintas (evidentes)
de tudo o que nos pode ser dado a conhecer.

objeções:
➔ É exclusivista: destaca a razão como a única forma de
obter o conhecimento e menospreza as vias tradicionais com as impressões sensíveis e a
experiência.
➔ É dogmático: afirma que unicamente a partir do cogito é possível construir (dedutivamente) um
conhecimento absolutamente seguro, universalmente válido e logicamente necessário. sendo
por isto acusado de acreditar e depender exclusivamente da razão.
➔ É circular: é cometida uma falácia de petição de princípio.
● As ideias claras e distintas são verdadeiras, logo Deus
(como ser perfeito e bom);
● Deus (como ser perfeito e bom) existe, logo as ideias
claras e distintas são verdadeira.
➔ Afirma a existência como predicado (Kant): Segundo
Descarte, Deus existe porque é perfeito, afirmando a
existência como qualidade inerente à perfeição. Segundo Kant, a existência não é condição
para que Deus tenha as suas características.
➔ Ideias de perfeição como princípio de causalidade: Nada nos garante que esta ideia que temos
de perfeição seja causada por um ser perfeito (Deus) daí que deduzir a sua existência a
partir da ideia que se tem de perfeição não levará a uma proposição necessariamente
verdadeira.
● Supor-se a existência de um génio maligno que constantemente nos engana, poderia ser
ele a criar essa ideia em nós, que inevitavelmente seria falsa e ilusória.
● A ideia de perfeição poderia ser também causada em oposição da ideia de imperfeição.

hume
“A origem do conhecimento é a experiência”
➔ Para o empirismo a principal fonte do conhecimento é a experiência sensível, pois nada está
na razão que não tenha estado nos sentidos.
➔ As principais teses empiristas são as seguintes:
● Todo o conhecimento deriva da experiência, exceto o que provém da matemática,
geometria e lógica formal;
● A mente é, à partida, uma tábua rasa (folha em branco);
● Não existem ideias inatas.
➔ Os empiristas radicais não consideram a existência de conhecimento a priori, porém os
empiristas moderados admitem a sua existência desse tipo conhecimento apenas que ele
nada acrescenta à nossa precessão do mundo, desvalorizando-o.

os conteúdos da mente:
➔ Todos os conhecimentos da mente são precessões.
➔ Estas dividem-se em dois tipos, de acordo com o seu grau de força e intensidade:
● As impressões- são mais vivas e intensas, e dizem respeito ao sentir. Correspondem às
nossas sensações internas (emoções) e externas (5 sentidos).
● As ideias- são menos vivas e intensas, e dizem respeito ao pensar. Correspondem a
cópias de impressões e podem ser simples (produto da memória) ou complexas
(resultado da imaginação).

o conhecimento:
➔ Resulta de uma associação de ideias, estas são fruto da imaginação que combina duas ou
mais ideias. Para isto existem leis de associação:
● semelhança: quando duas ideias são semelhantes, a consideração de uma delas
conduz-nos à consideração da outra.
● contiguidade: quando duas ideias são contíguas no espaço ou tempo, a consideração de
uma delas evoca a consideração da outra.
● causalidade: quando representamos duas ideias como correspondendo a uma relação
causa-efeito, é natural que a consideração da causa nos transporte para a consideração
do efeito.
➔ Existem duas formas de construirmos o conhecimento, relações de ideias e questões de
facto.
● relação de ideias:
○ constituído por proposições que apenas relacionam ideias;
○ a priori - puramente racional, podemos comprovar a sua veracidade sem recorrer à
experiência;
○ É contraditória- A sua verdade é necessária porque a sua negação implica uma
impossibilidade lógica;
○ Baseiam-se no raciocínio dedutivo e na intuição lógica.
↪ São exemplo disso a lógica e a matemática.
● questões de factos:
○ constituído por proposições que se referem ;
○ a postriori - não podemos demonstrar a sua verdade sem recorrer à experiência;
○ É contingente- A verdade das proposições que constituem os conhecimentos factuais
não é necessária porque a sua negação é logicamente concebível;
○ nunca poderá alcançar certeza absoluta como o conhecimento por relação de ideias;
○ baseia-se em raciocínios indutivos.
↪ são exemplo disso as ciências naturais e humanas.

O problema da causalidade:
➔ Ao raciocinarmos sobre questões de facto estabelecemos relações de causalidade, esta é a
base dos nossos conhecimentos sobre o mundo;
● Não pode ser justificada a priori (sem recorrer à experiência), nem à postriori implicaria a
existência de uma impressão do sucedido).
➔ Forma-se na nossa mente em virtude do costume ou do hábito de observarmos
repetidamente que dois fenômenos ocorrem conjunta e sucessivamente.
“O costume é o grande guia da vida humana”- D. HUme
O problema da indução:
➔ O problema da causalidade cruza-se com outro problema, o da indução.
➔ As inferências indutivas são a base do nosso conhecimento sobre o mundo.
➔ Segundo HUme, a indução só é fiável se partirmos do princípio da uniformidade da natureza;
● pressupõe-se que a natureza é uniforme e regular, comportando-se sempre da mesma
maneira.
➔ E justificamos a nossa crença na uniformidade da Natureza através do costume e do hábito,
porém isto é mais uma vez raciocinar indutivamente.
● Estamos a justificar a nossa crença na indução através de um princípio estabelecido
indutivamente.
➔ Estamos perante uma falácia de petição de princípio.
➔ Isto leva Hume a concluir que todas as afirmações baseadas no raciocínio indutivo são
injustificadas, o que acontece com as previsões e formulações das leis científicas.
● logo, quase todas as afirmações das ciências empíricas são injustificadas.
➔ Hume não defende que devemos abandonar a crença na causalidade, na indução e na
uniformidade da natureza, mas temos que admitir que estas crenças não são justificadas
racional e empiricamente.

Hume como Cético Moderado:


➔ Apesar das conclusões a que chega relativamente aos problemas da causalidade e da indução,
Hume defende que não devemos abandonar a nossa crença na regularidade da natureza, pois
não conseguimos pensar ou agir na sua ausência.

objeções:
➔ Se nenhuma das nossas crenças é racionalmente justificável, então não há diferenças
assinaláveis entre ciência e superstição e não há razões para preferir a primeira à segunda.

Filosofia da ciência

senso comum e ciência


tipos de conhecimento
➔ O conhecimento vulgar ou de senso comum abrange as crenças amplamente partilhadas pelos
seres humanos. A justificação dessas crenças resulta da experiência coletiva e acumulada ao
longo de muitas gerações.
● O senso comum é assistemático, isto é, não constitui um corpo organizado de
conhecimento.
➔ O conhecimento científico, além de sistemático, tem outras características que o distinguem do
senso comum.
● proporciona explicações dos factos;
● resulta de uma atitude crítica, pelo que está permanentemente sujeito a mudanças
radicais;
● assenta numa linguagem rigorosa que torna possível uma avaliação cuidada das teorias.
➔ As explicações científicas são obtidas a partir de teorias que unificam os fenómenos e que
são controláveis pela experiência.
verificabilidade, confirmabilidade e falsificabilidade
➔ Uma teoria ou proposição é verificável se, e apenas se, for possível comprovar recorrendo à
experiência.
➔ A comprovação empírica de uma proposição ou de uma teoria consiste em deduzir a sua
veracidade a partir da experiência.
➔ Uma proposição ou uma teoria é confirmável se, e apenas se, for possível confirmá-la (verificá
la parcialmente) recorrendo à experiência.
➔ A confirmação empírica de uma proposição ou de uma teoria consiste em mostrar a partir da
experiência, por indução, que provavelmente ela é verdadeira.
➔ Uma proposição ou teoria é falsificável se, e apenas se, é possível descobrir que ela é falsa
(isto é, refutá-la) através da experiência.

o problema da indução
➔ As inferências indutivas pressupõem o princípio da indução, segundo o qual a natureza é
uniforme.
● Justificamos a nossa crença na uniformidade da Natureza através do costume e do
hábito, porém isto é mais uma vez raciocinar indutivamente.
➔ Isto leva Hume a concluir que todas as afirmações baseadas no raciocínio indutivo são
injustificadas, o que acontece com as previsões e formulações das leis científicas.
➔ Hume não defende que devemos abandonar a crença na causalidade, na indução e na
uniformidade da natureza, mas temos que admitir que estas crenças não são justificadas
racional e empiricamente.
● logo, as inferências indutivas são injustificáveis.
➔ Popper aceita o argumento de Hume. Mas pensa que, como a ciência não precisa de indução,
este argumento não afeta a credibilidade do conhecimento científico. Deste modo, o problema
da indução fica “dissolvido”.

o problema da demarcação
➔ Baseia -se em encontrar um critério de cientificidade. este diz nos o que distingue teorias
científicas de outras teorias
➔ de acordo com o critério de verificabilidade uma teoria é científica apenas se é verificável.
➔ de acordo com o critério da confirmabilidade uma teoria é científica apenas se é confirmável.
➔ Popper rejeita estes dois critérios pois pensa que, ambos excluem da ciência as leis que os
cientistas propõe nas suas teorias.
● como tem caráter universal, essas leis não podem ser comprovadas pela experiência, já
que podem sempre surgir contraexemplos.
● e as leis nem sequer podem ser confirmadas pela experiência. como a indução é sempre
injustificada, a experiência nunca confirma seja o que for.
➔ para resolver o problema da demarcação, Popper sugere o critério da falsificabilidade, segundo
o qual uma teoria é científica se e só se for falsificável.
● uma teoria científica é aquela que está sempre sujeita à possibilidade de refutação pela
experiência.
● não exclui as leis, pois estas podem ser refutadas pela experiência.
➔ é desejável que as teorias científicas sejam falsificáveis em grau elevado, pois isso significa
que são ricas em conteúdo empírico, isto é, que nos dizem muito sobre o mundo que
observamos.
o método científico
indutivismo
➔ O indutivismo defende uma visão popular do método científico:
● o ponto de partida da investigação científica é a observação isenta, realizada sem
quaisquer pressupostos teóricos;
● as teorias científicas são obtidas por indução a partir das premissas que descrevem os
factos observados;
● apresentada a teoria, o cientista procura depois encontrar informações adicionais e
toma-a como ponto de partida para generalizações

objeções:
➔ A observação depende depende sempre de expectativas, de suposições e de interesses
teóricos;
➔ como certas leis referem objetos que não podem ser observados, é impossível que elas
tenham sido descobertas mediante uma generalização indutiva baseada na observação.

falsificacionismo
➔ Popper defende a visão falsificacionista do método científico, segundo a qual o método da
ciência é o das conjeturas e refutações.
● o ponto de partida da investigação científica é a colocação de problemas;
● o cientista propõe depois uma teoria para para resolver os problemas que lhe interessam.
esta teoria é uma conjetura concebida criativamente;
● de seguida, importa testar a teoria. os testes sérios consistem em tentativas de
refutação, e não na procura de confirmações;
● para testar a teoria, deduzem-se delas certas previsões empíricas.
● se algumas das previsões fracassarem, a teoria fica refutada e será necessário
encontrar uma conjetura melhor.
● se as previsões se revelarem corretas isso significa apenas que a teoria foi corroborada.
○ uma teoria corroborada é aquela que sobreviveu aos testes, mas este sucesso que
teve no passado não nos permite inferir que é provável que ela seja verdadeira.
➔ segundo Popper, a ciência evolui através da proposta de de conjecturas ousadas e da
eliminação dos erros por tentativas de refutação. Esta evolução traduz-se numa gradual
aproximação à verdade.

objeções:
➔ parece não estar de acordo com a prática científica, pois os cientistas muitas vezes não
rejeitam as teorias que conduziram as previsões erradas;
➔ parece tornar irracional a confiança em quaisquer teorias científicas. afinal, se as teorias
científicas nunca são minimamente confirmadas pela experiência, então nunca deixam de ser
meras conjecturas, e por isso não temos razões para confiar nelas.

a objetivamente da ciência
➔ Quem, como Popper, acredita na objetividade da ciência, pensa que as teorias científicas são
descrições da realidade, ainda que imperfeitas, e que, à medida que o conhecimento científico
avança, vamo-nos aproximando da verdade, obtendo uma imagem cada vez mais correta da
realidade. Kuhn rejeita esta perspectiva.
➔ Kuhn entende a história da ciência como uma sucessão de paradigmas;
● um paradigma centra-se numa teoria que proporciona problemas e soluções exemplares a
uma comunidade de investigadores.
● além dessa teoria, um paradigma inclui pressupostos filosóficos e regras de diversos
géneros para desenvolver a atividade científica.
● assim, a um paradigma corresponde toda uma forma de fazer ciência numa certa área de
investigação.
➔ A ciência normal é a atividade científica conduzida sob um paradigma. nos períodos de ciência
normal os cientistas pretendem reforçar o paradigma, e não refutá-lo. para esse efeito,
dedicam-se à sua “resolução de enigmas”, isto é, a solucionar os problemas especializados que
se colocam dentro do paradigma.
➔ As anomalias são enigmas que residem às tentativas de resolução. a acomulação de anomalias
gera uma crise. surge um paradigma rival e a ciência normal dá lugar à ciência extraordinária.
quando os investigadores mudam para um novo paradigma dá-se uma revolução científica.
➔ Kuhn defende que os paradigmas são incomensuráveis. não podem ser comparados
objetivamente de modo a se determinar qual é o melhor ou qual está mais próximo da
verdade.
● a incomensurabilidade dos paradigmas é uma consequência de eles serem radicalmente
diferentes: cada paradigma tem os seus próprios conceitos, problemas e regras.
● não existem critérios de escolha de teorias que permitam avaliar objetivamente
paradigmas rivais, pelo que essa avaliação envolve sempre fatores subjetivos.
➔ Kuhn reconhece alguns critérios objetivos para escolher teorias, como a exatidão empírica e a
simplicidade, mas defende que estes não são suficientes para ditar uma escolha objetiva.
● por um lado, esses critérios são vagos, pelo que a sua aplicação é bastante subjetiva.
● por outro lado, esses critérios podem entrar em conflito, e o modo como os conflitos são
resolvidos também é subjetivo, pois depende daquilo que cada cientista valoriza mais.
➔ A tese da incomensurabilidade dos paradigmas parece ter consequências implausíveis, como a
de que o heliocentrismo não está mais próximo da verdade do que o geocentrismo. além disso,
Kuhn parece ser incapaz de explicitar satisfatoriamente o crescente sucesso teórico e prático
da ciência.

filosofia da arte

o problema da definição de arte


➔ É um dos problemas mais centrais da
filosofia da arte e consiste em
procurar uma teoria filosófica que
define as características que formam
a essência da arte, sintetizando-as
num conceito que explique o que faz
com que algo seja arte (ou, por vezes,
propor o que deveria ser considerado
arte).
teorias essencialistas
teoria da arte como imitação/ representação (platão e aristóteles)
➔ teoria mais antiga da arte;
➔ defende que a arte consiste na imitação da natureza bela, ou na representação de
comportamentos humanos e mesmo de conceitos ou ideais belos, bons e justos;
➔ relaciona-se com o prazer que tiramos de jogar e assistir a jogos de imitação.

objeções:
➔ arte não imitativa- a música, a arquitetura e outras raramente são imitativas, porém são
consideradas arte.
➔ reduzido valor da melhor imitação- se a arte é imitação, então a melhor é aquela que nos leva
a acreditar que é realidade através do seu elevado nível de imitação. Mas muitas arte plástica
é representativa, não só realista e a literatura e o teatro fogem frequentemente à imitação.
➔ problemas com a noção de representação- mesmo na arte representativa, o realismo não
pode consistir numa simples correspondência bruta de propriedades entre original e obra,
senão todos os pares de coisas idênticas se imitavam e representavam mutuamente.

teoria formalista (bell) o que faz um objeto uma obra de arte é:


● possuir uma forma que pode ser apreciada esteticamente;
● as relações entre as suas qualidades;
● a “forma significante” (padrões de formas, linhas, cores, melodias, harmonias, ritmos,
instrumentação, intensidade, andamentos, etc.), e não o facto de representar algo ou
exprimir emoções.

objeções:
➔ a forma e o conteúdo são inseparáveis - ignorar a relação dos aspetos formais com os
materiais e a ligação das obras com a realidade, não nos permite perceber o sentido e valor
dos próprios elementos formais das obras, e isso seriam defeitos delas.
➔ vagueza do conceito de forma significante- é um conceito misterioso que é satisfeito por
praticamente tudo, pelo que não é uma condição suficiente para algo ser arte. e não se aplica
a certas artes, como o teatro, cinema, romance e música com texto ou ilustrativa.

teoria expressivista (tolstoi)


➔ a obra de arte é um veículo de expressão imaginativa de emoções particulares do seu autor,
e é uma obra da sua mente, que ele projeta num objeto de arte. este por sua vez permite
que o autor comunique a sua ideias ,mas não é essencial, e o público, em contacto com o
objeto recria, pela imaginação, a emoção inicial do artista.

objeções:
➔ propriedades não intencionadas -estas podem ser consideradas fundamentais para o valor
artístico da obra, mas isso é incompatível com a tese de que a obra é o que esteve na mente
do artistas.
➔ inacessibilidade dos estados mentais do artista- pode não ser possível, e nem sequer
desejável, recriar apenas o que o artista exprimiu; (obras anónimas do passado, perda de
tudo o que nos dá o estudo das obras depois de os autores morrerem).
➔ o artista tem sempre que sentir o que a obra exprime?- é uma exigência injusta e irrealista. é
verdade em casos mas não em outros, e na maior parte dos casos o artista tem uma rotina
de trabalho, incompatível com esta tese.
➔ arte inexpressiva- alguma arte é apreciada por outras qualidades estéticas que não são as
expressivas (por exemplo uma obra abstrata/geométrica ou olaria japonesa).

teorias não essencialistas


➔ face à aceitação dos itens mais inesperados como arte no séc.XX, alguns filósofos colocaram
a hipótese de que não há uma essência de arte, e que este é um conceito aberto, em
constante expansão. não há ,assim, possibilidade de captar o conceito de arte numa lista de
condições necessárias e suficientes que todas as obras de arte, e apenas elas, satisfaçam.
➔ em qualquer obra haverá alguns aspetos relevantes que ela partilha com outras obras de arte,
mas esses aspectos variam consoantes o conjunto de obras considerado, pelo que não
encontramos propriedades universalmente exigidas por toda e qualquer obra de arte.

teoria institucional (dickie)


➔ baseia-se na noção de “mundo da arte”. (rede que inclui todas as pessoas que criam,
estudam, apreciam, criticam, comentam, explicam, avaliam ou estão de alguma maneira ligadas à
arte)
➔ são as ideias acerca do mundo e da arte, e a relação do objeto com elas e com as pessoas
que participam no mundo da arte que aceitam obras radicalmente inovadoras como arte
justificadora.

segundo dickie:
➔ uma obra de arte no sentido classificativo é 1º um artefacto, 2º com conjunto de aspetos ao
qual foi conferido o estatuto de candidato para apreciação por uma ou várias pessoas
atuando em nome de uma certa instituição social (mundo da arte).

objeções:
➔ arte adventícia - há objetos que merecem o estatuto de arte apesar de terem sido criadas
por autores por autores completamente à margem de qualquer mundo da arte, e que não se
consideram artistas nem que o que produziram fosse arte.
➔ circularidade- a definição utiliza o próprio termo a definir, de modo que não informa realmente
quem coloque a questão “o que é a arte?”, uma vez que, para compreender a
resposta/definição, tem de saber já o que é o mundo da arte.
➔ arbitrariedade ou critérios ocultos?- perguntemos se os agentes do mundo tomam as decisões
de admitir certos objetos como arte e de rejeitar outros de forma aleatória ou por capricho.
provavelmente, nenhum diria que sim, dando exemplos de justificação para as suas escolhas.
ora, isso mostra que a concepção do estatuto de arte não depende realmente de qualquer
agente do mundo da arte propor uma sua criação como arte e ela ser aceite por esse mundo,
mas de qualquer coisa de especial que as obras aceites têm e as rejeitadas não. então há
um critério subjacente á escolha, e a definição institucional nada nos diz sobre as condições
que levam a que uma proposta de algo como arte seja bem-sucedida.
teoria histórico-intencional (levingson)
➔ é impossível encontrar um critério/conjunto de propriedades comuns a todas as obras de arte,
mas o estatuto de arte concentra-se em aspetos que têm a ver com a intenção do artista
para com a obra e com a relação desta com a história da arte até aí:
● algo é uma obra de arte se, e apenas se,é um objeto acerca do qual uma pessoa que
seja proprietária dele tem a intenção não passageira de que ele seja visto de qualquer
modo como foram ou são vistas as obras de arte anteriores.
➔ embora sempre tenha havido uma grande diversidade de modos de encarar e contemplar a
arte, podemos dizer que o artista cria uma obra de arte se o faz com a intenção séria e
consistente de que ela seja considerada pelo menos de um de entre esses muitos modos de
encarar a arte passada e presente.

objeções:
➔ o direito de propriedade - caso não se verifique o direito de propriedade por razões causais,
pouco relevantes, e que até podem passar despercebidas ao artista e ao verdadeiro
proprietário, parece pouco credível que isso impeça a obra de arte;
➔ ausência de intencionalidade- há obras que foram concebidas pelos seus autores mas não
para serem apreciadas por um público de nenhuma maneira, e, contudo, se chegaram a ser
divulgados, adquiriram facilmente o estatuto de arte, por vezes até de grande valor artístico.
➔ o problema da “primeira arte”- a definição parece implicar que a arte não poderia sequer ter
começado a existir, uma vez que a “primeira arte” nunca poderia ser arte em virtude de
intenções e modos de ver que dependem de relações com a história da arte até esse ponto,
uma vez tal história simplesmente não existia.
➔ excesso de inclusividade- a definição deixa entrar modos de encarar o objeto que, apesar de
estarem na continuidade de modos artísticos de os encarar; mas não são considerados arte
(ex: fotografia-retrato)

filosofia da religião

o problema da existência de Deus


➔ a religião corresponde à necessidade do ser humano de explicar o universo e encontrar um
sentido para a sua existência.
➔ o universo e a vida humana são apresentados como criação de um ou vários deuses.
➔ a filosofia está interessada em razões (justificadas ou argumentos) que possam ser
apresentados em geral acerca das crenças religiosas mais fundamentais, a começar com a
existência de Deus.

o conceito teísta de Deus


➔ há inúmeras religiões e variantes delas, cada uma com uma concepção diferente de divindade.
➔ a concepção teísta de Deus baseia-se nas seguintes propriedades:
● único; perfeito; omnipotente; omnisciente; sumamente/supremamente bom.

argumentos sobre a existência de Deus


➔ há dois tipos de argumentos a favor, a priori e a postriori.
argumento cosmológico (são tomás de aquino)
➔ também conhecido como argumento da primeira causa.
➔ parte da constatação empírica da existência do universo, a postriori.

argumento:
➔ se generalizamos universalmente tudo aquilo de que a nossa experiência nos informa sobre os
acontecimentos com que contactamos diretamente (costume e hábito), podemos estabelecer
que a que se verifica a respeito de cada acontecimento em particular, também se aplica ao
universo como um todo.
➔ porém, a série de causas e efeitos não pode ser infinita uma vez que não é possível recuar
na ordem das causas sem parar.
➔ logo, a cadeia não pode ser infinita- Deus.
ou
1. tudo o que existe tem uma causa.
2. se tudo o que existe tem uma causa, então o universo (no seu todo) também tem uma
causa.
3. logo, o universo tem uma causa
porém:
4. a cadeia das causas não pode recuar infinitamente.
5. se a cadeia das causas e efeitos não é infinita na direção do passado, então existe uma
primeira causa.
conclusão: há uma primeira causa do universo- Deus.

objeções:
➔ é autocontraditório- este argumento defende ao mesmo tempo que. todas as coisas foram
causadas por outra e que, existe uma que não foi causada (Deus).
● poderíamos perguntar, então: qual é a causa de Deus? há filósofos que respondem de
Deus é a causa de si próprio. porém este conceito é suspeito pois:
○ se algo existe não precisa de se gerar;
○ se objetarmos tudo, exceto Deus, na sua causa, podemos também questionar porque
razão a série de causas e efeitos para em Deus e não antes (ex. criação do
universo)
➔ o universo podia ser incriado e eterno- se aplicarmos o mesmo raciocínio ao futuro, teremos
que supor a existência de uma causa que não terá efeitos ou um efeito que não será causa
de nada. porém é mais plausível pensar que as causas e efeitos se prolongam infinitamente
no futuro.
● temos assim razão para querer que a infinidade da cadeia causal no passado é
igualmente possível. (ex. cadeia numérica)
● isto significa que o universo pode existir desde sempre.
➔ a equipa de seres- uma causa originária (e incausada) é certamente muito poderosa, mas não
há razões para pensar que ela se identifique com o deus teísta (perfeito, omnipotente,
omnisciente e sumamente bom); esta causa originária pode ser uma equipa de deuses
(panteísmo).
➔ o mal- se Deus é omnipotente, omnisciente e sumamente bom, então não tolera o mal; o mal
existe; logo, Deus não existe.
argumento teológico ou do desígnio (são tomás de aquino)
➔ argumento por analogia e a postriori
➔ parte do facto de no mundo existirem ordem e finalidade.

argumento:
➔ as coisas naturais, privadas de conhecimento, inteligência e consciência, encontram-se, mesmo
assim, dotados de uma finalidade/objetivo, comportando-se sempre (ou quase sempre) da
mesma forma e de modo a realizarem o que é melhor para elas. e não o fazem por acaso
mas mediante determinada intenção.
➔ isso só se verifica sob o governo e a direção de um ser dotado de inteligência e conhecimento,
assim como uma flecha só se dirige a um (qualquer) alvo sob iniciativa e obra de um arqueiro.
➔ logo, existe um ser inteligente pelo qual todas as coisas naturais são ordenadas, dirigidos e
orientadas visando o seu fim. esse ser é Deus.
➔ versão de William Paley:
● se nos depararmos com um objeto complexo, por exemplo um relógio, notamos na ordem,
harmonia e complexidade das suas partes trabalharem juntas para um resultado final sem
que nenhuma delas pareça não estar a contribuir para a sua finalidade/objetivo. concluímos
assim que o relógio não é fruto do acaso mas que um Ser inteligente (relojoeiro) o
concebeu e construir para que funcionasse e obtivesse um determinado resultado.
● os seres vivos apresentam também uma grande organização, harmonia e complexidade nas
suas partes. tendo sido engendrados de forma muito mais complexa.
● logo, também eles foram concebidos por uma força/ser inteligente, com um propósito. esta
é Deus.

objeções:
➔ baseia-se numa fraca analogia- a semelhança entre os objetivos naturais e os objetivos e os
objetos artificiais não é uma semelhança entre aspectos verdadeiramente importantes ou
relevantes, havendo também entre eles diferenças relevantes. trata-se de uma semelhança
muito vaga, pelo que quaisquer conclusões baseadas nessa analogia serão igualmente vagos.
➔ explicação natural para a originalidade- em “A origem das Espécies”, Darwin mostrou que a
variedade e a complexidade dos seres vivos resultam da seleção natural e da sobrevivência
dos mais aptos, os quais, por sua vez, irão transmitir os seus genes às gerações seguintes;
sem negar a existência de Deus, a teoria da evolução acaba, no entanto, por pôr em causa as
explicações do argumento teológico, apresentando uma explicação alternativa.
➔ limitações da prova- mesmo que aceitemos as analogias como prova de que algo inteligente
criou o universo, fica muito longe de provar a existência do Deus teísta. não implica que tal
criador seja omnipotente, omnisciente, bondoso, eterno, ou até que seja só um. para tal
criação, seria até mais provável que resultasse da corroboração entre vários cocriadores.
➔ o mal

argumento ontológico (santo anselmo)


➔ argumento a priori
➔ apoia-se apenas na análise do conceito de Deus.

argumento:
➔ deus é algo “maior do que o qual nada pode ser pensado”.
➔ ora, aquilo “maior do que o qual nada pode ser pensado” não pode existir só no intelecto, pois
se pensarmos que existe na realidade, já seria maior.
➔ assim, Deus é algo “maior do que o qual nada pode ser pensado” e existe necessariamente.
ou
➔ ao dizer que Deus é algo “maior do que o qual nada pode ser pensado”, estamos a considerar
que Deus possui todas as qualidades num grau máximo de perfeição ou grandiosidade.
➔ ora, é mais perfeito existir do que não existir. deste modo, a existência constitui um dos
aspectos dessa grandiosidade.
➔ por conseguinte, Deus existe necessariamente.

objeções:
➔ pode conduzir a consequências absurdas- se penso na ilha mais perfeita que é possível
conceber, ela tem de existir, se não seria realmente o que pensei, por lhe faltar uma perfeição,
a existência. seríamos forçados a admitir que todo e qualquer conceito de uma entidade que
consigamos imaginar no seu grau mais perfeito nos prova que essa entidade existe.
➔ a existência não é uma propriedade (Kant)- se dissemos que Deus existe, não estamos a
acrescentar qualquer predicado à essência divina. segundo Kant, a existência não é uma
propriedade essencial, como o poderão ser a omnipotencia ou a suma bondade. a existência é
apenas a condição de possibilidades para que algo tenha, realmente, esta ou aquela
propriedade. o termo “é” não constitui um predicado, antes o elemento que estabelece uma
relação entre predicado e sujeito (omnipotente-Deus)

o problema do mal
➔ baseia-se na incompatibilidade entre a
existência do mal e a de um Deus
omnipotente; omnisciente;
sumamente/supremamente bom.
● um Deus omnisciente sabe
necessariamente da existência do mal;
● um Deus omnipotente tem poder para ter
criado um mundo onde não houvesse
mal/sofrimento (ou não tanto);
● um Deus sumamente bom não pode
desejar o mal a ninguém, ou a sua
existência;
● logo, se o mal existe, Deus ou não possui
um (ou mais) dos seus atributos ou não
existe.

a justificação do mal moral:


livre-arbítrio
➔ o mal moral pode ser necessário para termos livre arbítrio. sem ele, não poderíamos ser livres
nem bons (ou maus).
● faríamos o bem, não por escolhermos ações boas sobre as más, mas porque Deus
suprimiu o mal.
objeções:
➔ o livre arbítrio exigirá a possibilidade do mal moral?- se supormos que Deus nos criou e ao
universo, de modo a termos capacidade para escolher as nossas ações, porém nenhuma das
escolhas possíveis origina o mal. assim, as nossas ações são sempre boas e neutras, mesmo
tendo liberdade de escolha, nunca causamos o mal.
ou
➔ podemos supor que Deus nos criou de tal modo que, mesmo dotados de livre arbítrio, quando
face a uma escolha boa e uma má, evitemos moralmente o mal. se quisermos fazer o mal,
temos essa liberdade porém isso nunca ocorre
● naturalmente pode pensar-se que, não há livre arbítrio genuíno.
➔ será que um mundo com mal moral mas livre arbítrio e melhor que um mundo sem mal moral e
sem livre arbítrio?- podemos pensar que a ausência do livre arbítrio é um preço pequeno por
um mundo sem o imenso sofrimento causado pela maldade humana. Deus poderia ter criado
um mundo sem possibilidade de mal moral, e criado os humanos de tal modo que tivessem a
ilusão de serem livres. finalmente, a justificação pressupõe que o livre arbítrio é compatível
com a existência de um Deus omnisciente. mas sê-lo-á de facto? se Deus já sabe todas as
opções que vamos fazer na vida antes de as tomarmos, seremos mesmo assim livres?

a justificação do mal natural (leibniz)


➔ este é o melhor mundo/universo possível, e qualquer estado de coisas alternativo a este teria
a mesma, se não maior, quantidade mal do que Deus efetivamente originou.
➔ embora pareça implicar que Deus não é omnipotente, o que realmente diz é que uma
alternativa melhor é rigorosamente impossível e, por isso, não ser capaz de criar isso não põe
em causa a Sua omnipotencia porque não existe tal possibilidade.
● um mundo com menos mal do que este é impossível pois, talvez, se Deus evitasse alguns
males, outros piores poderiam ser criados ou apareceriam. isto por existirem
(supostamente) leis naturais que determinam que este é (de entre todos os outros) o
mundo com equilíbrio, bem/mal mais favorável.

objeções:
➔ a justificação é mera suposição- não dá razões para aceitar uma hipótese especulativa,
complexa e rebuscada, como é a de este mundo ser o melhor possível, apesar de manter o
mal.
➔ parte do princípio de que a omnipotencia é verdade- devia dar pelo menos alguns fundamentos
para percebermos por que razões um mundo com menos mal seria impossível, e esses
fundamentos não podem recorrer à mera hipótese de que Deus é bom e omnipotente.

fideísmo (pascal)
➔ é a doutrina ou posição que defende que a razão e a fé religiosa se opõe, e que só pela fé
podemos chegar a crer em Deus.

objeções:
➔ crença sem apelo à razão ou contra ela- esta doutrina recomenda que se creia na existência
de Deus sem apelo à razão ou contra ela, mas forçar a mente a acreditar é muito
provavelmente. ou a razão não consegue mostrar que Deus existe e por isso devemos
apenas acreditar que sim; ou a razão consegue mostrar que Deus existe porém devemos
basear a nossa crença apenas na fé.
➔ estão todas as religiões certas?- se o sentimento interior é o nosso único guia em matéria
religiosa, todas as religiões estão corretas acerca daquilo em que acreditam. Mas como pode
isso ser se as religiões sustentam crenças contraditórias entre si?
➔ o ódio e a violência- geralmente, seguir o sentimento para identificar a verdade contra a razão
e os factos, a fé cega e o ignorar da avaliação de razões e argumentos levam pessoas ao
fanatismo, ao ódio e à violência contra as outras perspectivas sobre a religião.

o argumento do apostador
➔ procura concluir se é preferível acreditar na existência de Deus.
➔ analogia entre a situação de alguém descrente sem razões para acreditar se Deus existe ou
não (agnóstico), e um apostador, calculando as vantagens em acreditar na existência de Deus.

Deus existe Deus não existe

acreditar que Deus existe ganho: vida eterna= infinito perda de tempo e de
prazeres= perda finita

não acreditar que Deus perda da vida eterna e liberdade de prazeres e gozo
existe condenação= perda infinita sem medo= ganho finito

➔ o saldo é fortemente favorável à aposta da existência de Deus (ganho infinito).


➔ colocados nesta situação, e se queremos maximizar os ganhos é mais sensato acreditar na
existência.

objeções:
➔ não pudemos decidir ou obrigar-nos a acreditar.
➔ não há razões para seguir uma fé teísta e não um panteísta, por exemplo.
➔ Deus pode decidir, em função do comportamento e não da crença e culto; ou pode perdoar a
todos.
➔ acreditar em função da contabilização dos lucros e prejuízos parece imoral e hipócrita,
podendo desagradar a Deus.

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