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O argumento do desígnio

Um dos argumentos a favor da existência de Deus usado com mais frequência é o


argumento do desígnio, por vezes também conhecido como argumento teleológico (da
palavra grega telos, que significa finalidade). Este argumento afirma que, se
observarmos a natureza, não podemos deixar de notar como tudo é apropriado à
função que desempenha: tudo mostra sinais de ter sido concebido. Isto demonstraria a
existência de um Criador. Se, por exemplo, examinarmos o olho humano,
verificaremos que todas as suas ínfimas partes se adaptam entre si e que cada parte
está judiciosamente adaptada àquilo para que aparentemente foi feita: ver.
Os defensores do argumento do desígnio, tais como William Paley (1743-1805),
defendem que a complexidade e a eficiência de objetos naturais como o olho são
indícios de que tiveram de ser concebidos por Deus. De que outra forma poderiam ter
chegado a ser como são? Tal como, ao observar um relógio, podemos ver que foi
concebido por um relojoeiro, também ao observar o olho, argumentam eles, podemos
ver que foi concebido por uma espécie de Relojoeiro Divino. É como se Deus tivesse
deixado uma marca em todos os objetos que fez.
Este é um argumento que parte de um efeito e infere a sua causa: observamos o efeito
(o relógio ou o olho) e tentamos descobrir o que o causou (um relojoeiro ou um
Relojoeiro Divino) a partir do exame que fizemos. O argumento apoia-se na ideia de
que um objeto que tenha sido concebido, como acontece com um relógio, é em certos
aspetos muito semelhante a um objeto natural, como um olho. Este tipo de
argumento, baseado na semelhança entre duas coisas, é conhecido como argumento
por analogia. Os argumentos por analogia baseiam-se no princípio de que, se duas
coisas são análogas em alguns aspetos, serão também, muito possivelmente, análogas
noutros. Aqueles que aceitam o argumento do desígnio afirmam que, para onde quer
que olhemos, sobretudo tratando-se da natureza – quer olhemos para árvores,
falésias, animais, estrelas, quer seja para o que for –, encontramos cada vez mais
indícios que confirmam a existência de Deus. Porque estas coisas são concebidas de
formas mais engenhosas do que um relógio, o Relojoeiro Divino deve,
concomitantemente, ter sido mais inteligente do que o relojoeiro humano. De facto, o
Relojoeiro Divino deve ter sido tão poderoso e tão inteligente que faz sentido presumir
que terá sido o Deus tradicional dos teístas.
N. Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, Gradiva, 2007, pp. 32-34.

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