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BÁSICO DA FILOSOFIA

Para os interessados nos métodos filosóficos de argumen-


tação, existem inúmeros livros relevantes, incluindo o meu Capítulo 1

Pensando de A a Zi *e A Rulebook for Arguments, de Anthony


Weston (Indianapolis: Hackett, 1992); A lágica dos verda-
deiros argumentos, de Alec Fisher (São Paulo: Novo Con.
ceito, 2008). Mais dois livros sobre este tópico, ambos fora
de catálogo, mas que podem estar disponíveis em bibliote-
cas, são Thinking abous Thinking, de Anthony Flew (Los
dres: Fontana, 1975), e Straight and Crooked Thinking, de
Robert H. Thouless (Londres: Pan, 1974).

e
Sobre o tema da clareza da li ;uagem sua importância, o
ensaio de George Orwell “Politics and the English Lan-
guage”, em The Penguin Essays of George Orwell (Londr Deus existe? Esta uma pergunta fundamental sobre a qual
é

Penguin, 1990), vale a pena ser lido. Para conselhos práti- todos paramos para pensar em algum momento de nossa
cos nessa área, experimente The Complete Plain Words, de vida. À resposta afeta não somente a maneira como nos
Ernest Gowers (Londres: Penguin, 1962), e Plain English, comportamos, mas também o modo como compreende-
de Diané Collinson, Gillian Kirkup, Robin Kyd e Lynne mos e interpretamos o mundo e o que esperamos para o
locombe (Milton Keynes: Open University Press, 1992), futuro. Se Deus existe, há um propósito para a vida huma-
ambos exceler es. na, e podemos até ter esperança de vida eterna. Se não, é
preciso criar por nós mesmos algum sentido para nossa vida;
A Open U rersity oferece uma série de cursos de filosofia nenhum sentido com origem exterior será dado a ela, e a
distância. Para mais informações consulte www.open.ac.ul morte é provavelmente definitiva,
"ou escreva para Course Enquiry Service, The Open Uni ando consideram a religião, os filósofos costumam
versity, FREEPOST,** PO Box 625, Milton Keynes, MK7 examinar os vários argumentos apresen: idos a favor e con-
GAA, Inglaterra. tra a existência de Deus — tanto as evidências qua:
estrutura e a implicação de cada argumento, Examin:
igualmente conceitos como fée crença para comprovar se
há algum sentido no que as pessoas falam sobre Deus.
O ponto de partida para boa parte da filosofia da religião
TA ser publicado em breve peia editora José Olyimpio. (1 de E,
*"Franqueado, ivre de taxas. (N. da E) E uma doutrina mais geral sobre a natureza de Deus conhecida

6
O BÁSICO DA FILOSOFIA DEUS

como teísmo, É o ponto de vista segundo o qual existe um de objetos naturais, como o olho, são evidência de que
Deus onipotente (capaz de fazer qualquer coisa), onisciente devem ter sido criados por Deus. De que outra maneira
(conhece tudo) e benevolente (supremamente bom). Em ge- poderiam ter ser como são? Assim como ao olhar
vindo a

ral, é a visão sustentada por cristãos, judeus e muçulmanos, para urá relógio podemos dizer que foi projetado por um
A , vou me concentrar na visão cristã
de Deus, e: bora a relojoeiro, também, afirmam, podemos dizer, examinando
maioria dos argumentos se aplique igualmente outras religiões o olho, que foi feito por alguma espécie de Relojoeiro Di-
teistas e alguns sejam relevantes para qualquer religião. " o. É como se Dets tivesse deixado sua marca registrada
Porém, esse Deus descrito pelos teístas de fato existe? em todos os objetos que fez.
Podemos provar que n? Há muitos
argumentos diferen- Trata-se de um argumento que obtém, a partir de um
tes para provar à Sua existência, Considerarei os mais im- c to, olhamos para o efeito (o relógio ou o olho)
à causa:

portantes neste capítulo. €, por seu exame, nos arriscamos a dizer o que o causou
(um relojoeiro ou um Relojoeiro Divino). Ele se apoia na
O Argumento do Desígnio ideia de que um objeto projetado, como um relógio, asse-
melha-se de certa forma a um objeto natural, como o olho.
Um dos argumentos usados com mais frequência para afir- Esse tipo de argumento, baseado na semelhança, é conhe-

mar a existência de Deus é o Argumento do Desígnio, tam- cido como argumento por analogi
bém conhecido como Argumento Teleológico (da palavra de que, se duas coisas são semelhantes em alguns
aspectos,
mui to provavelmente serão semelhantes em outros,
grega “telos”, que significa “propósito”).* Este afirma que,
se olharmos para o mundo natural à nossa volta, não po- Os que aceitam Argumento do Desígnio nos dizem
o

deremos deixar de notar como tudo nele se adequa à fun que, para qualquer lugar que olharmos, particularmente no
ido natural — seja
(ção que executa: tudo traz a evidência de ter sido projetado m para árvores, colinas, an mais, es-
trelas ou o que for —, podemos encontrar ainda mais con-
para um fim. Supõe-se portanto que isso demonstra a exis-
tência de um Cr iador, Se, por exemplo, examinarmos o olho firmações da existência de Deus. E, porque essas coisas são
muito mais engenhosamente construídas do que um reló-
humano, veremos como suas mínimas partes se encaixam,
gio, o Relojoeiro Divino deve ter sido correspondentemente
cada parte inteligentemente adequada àquilo para o que foi
feita: ver.
mais inteligente do que o relojoeiro humano. De fato, o
Relojoeiro Divino deve ter sido tão poderoso e tão inteli-
Defensores do Argumento do Desígnio, como Wi liam
gente que faz sentido aceitar que ele era Deus, como tradi-
Paley (1743-1805), alegam que a complexidade e a eficiência
nalmente entendido pelos teístas
Existem, no entanto, fortes argumentos contra o Ar-
mas aqui, por extensão, “mais à frente”
“,

sor, “longe, “af

'projetado para 6 futuro” finalidade”, (N do 1) mento do Desígnio, a maioria levantada pelo filósofo
DEUS
(O BÁSICO DA FILOSOFIA

Evolução
David Hume (1711-1776) em seus póstumos Diálogos so-
não é a única expli-
existência de um Relojoeiro Divino
i
bre a religião
figiãe
natural e na Seção XI de seu livro Investigação
h

A
entendimento humano. de animais e plantas à suas
sobre o cação possível para a adapração
teoria de Charles Darwin (1809-
funções. Em particular, a
Críticas ao Argumento do Desígnio 1882) da evolução por seleção
natural, explicada em seu
livroA das espécies (1859), fornece ao fenômeno uma
origem
aceir Darwin mostrou
Fraqueza da analogia explicação alternativa amplamente
de sobrevivência dos mais bem
Uma objeção ao argumento que acaba de ser apresentado é como, por um processo
mais adequados a seu meio
adaptados, os animais e plantas
que ele se baseia em uma analogia fraca, tomando como adiante suas características a
ambiente viveram para passar
certa a existência de uma semelhança significativa entre ob- posteriores conseguiram ex-
seus descendentes, Cientistas
jetos naturais e objetos que sabemos terem sido projetados. da evolução em termos da herança
Mas não é óbvio que, para voltar a usar o mesmo exemplo, plicar o mecanismo
como adaptações tão mara-
10 olho humano seja realmente como um relógio em alg:
genérica. Este processo explica
são encontradas
n

s 1osas ao meio ambiente como que


as
aspecto importante. Ar mentos por analogia baseiam-se ocorrer sem a necessi-
nos reinos animal e vegetal puderam
na asserção de uma forte semelhança entre dois elementos,
dade de introduzir a noção de Deus.
Se a semelhança for fraca, então as conclusões que pode- de nenhum
É claro que à teoria darwiniana da evolução
Tiam tiradas com base em uma comparação serão cor-
ser de fato, muitos cris-
modo refita a existência de Deus —
respondentemente fracas. Assim, por exemplo, um relógio melhor explicação de como plan-
tãos aceitam-na como a
de pulso um de bolso são suficientemente semelhantes
e

para que possamos a tir que nbos foram projetados tas, animais e seres humanos
chegarama ser como sá
mecanismo da evo-
des

acreditam que o próprio Deus criou o


a

por relojoeiros. Embora exista alguma semelhança entre um à teoria de Darwin enfraquece
o Argu-
lução. Entretanto,
relógio e um olho — ambos são mecanismos intricados e explica os mesmo efeitos
mento do Desígnio, uma vez que
cumprem suas funções particulares trata-se de uma se- —,
Deus como causa. Como resulta-
sem qualquer menção a
melhança apenas vaga, e quaisquer conclusões baseadas na de adaptação biológica im:
do, a teoria sobre o mecanismo
analogia serão, em resultado, correspondentemente vagas. de ser uma prova conclusiva
pede o Argumento do Desígnio
da existência de Deus.
1Hógio
é do clio viam estende em era; per dirido

do relógio)
ea, Contea esta

analogia (embora bem me ie


a levama-
que estãosendo agora apresentadas.
ss
(N. do 7)

EH
oe ÁSICO DA
FILOSOFIA. DEUS

Limitações à conclusão fogo depois de criar o universo, deixando-o à própria sor-

Se, apesar das objeções até agora mencionadas, você não te. O Argumento do Desígnio fornece tantas evidências para
estas conclusões quanto para a existência do Deus descrito
encontra falhas no Argumento do Desígnio, deveria obser-
pelos teístas. Sozinho, o Argum: to do Desígnio não pode
var que ele não prova a existência de um Deus único, oni-
potente, onisciente e benevolente. Um exame mais atento provar a existência do Deus dos teístas, apenas a de algum
mostra que à ideia é limitada em diversos aspectos, tipo de deus inespecífico.
Primeiro, o argumento é completamente incapaz de Finalmente, sobre benevolência e onisciência, é ideia
servir de apoio ao monoteísmo — crença em apenas um comum que o mal que há no mundo — a crueldade hu-
Deus. Ainda que se aceite que o mundo mostra claros in- mana, assassinatos e torturas, sofrimentos causados por de-
dícios de ter sido feito com um propósito, não há motivo sastres naturais, docnças-— atesta contra um deus com essas
para acreditar que foi tudo projetado por um só Deus, Por qualidades. Se, como o Argumento do Desígnio sugere,
que não poderia ter sido projetado por uma equipe de deu- devemos olhar à nossa volta para ver à evidência da obra de
ses menores trabalhando juntos? Afinal, se equipes inteiras Deus, m gente vai achar difícil aceitar que o que veem
são responsáveis por construções humanas complexas e de é ação de Criador benevolente. Um Deus onisciente
grande escala, como arranha-céus, pirâmides, foguetes es- saberia que o mal existe; um Deus onipotente seria capaz
paciais e assim por diante, então com certeza, levando a ana- de impedi-lo de ocorrer; e um Deus benevolente não ia de-
logia à sua conclusão lógica, ela nos conduzirá à crença de sejar que ele existisse. Mas o mal existe. Esse sério desafio à
que o mundo foi projetado por um grupo de deuses traba- crença no Deus dos teístas foi muito discutido por filóso-
Ihando em conjunto, fos. É conhecido como o Problema do Mal. Em uma seção
Segundo, o argumento não corrobora necessariamente posterior nós o exa inaremos mais detidamente, bem como
10
ponto de vista de que o projetista (ou os projetistas) era(m) asdiversas soluções propostas para seu fim, Menciono-o aqui
oniporente(s). Poderia-se argumentar que o u rerso tem um
porque pode nos precaver contra as alegações de que o
bom número de “falhas de projeto”: por exemplo, o olho
Argumento do Desígnio fornece prova conclusiva da exis-
humano tem tendência à miopia e à catarata na velhice — tência de um Deus supremamente bom.
dificilmente se poderia dizer que isso é a obra de um Criador (Como se pode ver por esta discussão, o Argumento do
onipotente desejoso de criar o melhor mundo possível, Tais Desígnio só pode nos proporcionar, no melhor dos casos,
observações dão a entender que o Projetista do universo,
a muito | in itada conclusão de que o mundo foi projeto de
longe de ser onipotente, foi um deus, ou deuses, de com-
algo ou alguém. Ir além disto seria exceder o se se pode
parativa fraqueza, ou talvez um jovem deus fazendo expe- concluir logicamente a partir do argumento.
Tiências com seus poderes, Talvez o Projetista tenha morrido

EA
O BÁSICO DA FILOSOFIA DEUS

O Princípio Antrópico continua possível. O erro que cometem os defensores do


Princípio Antrópico é presumir que, quando acontece algo
Apesar dos fortes argumentos contra o Argumento do De- improvável, deve haver para isso uma explicação extra
mai:

sígnio, alguns pensadores recentes tentaram defender uma plausível. Nossa presença no mundo pode ser adequada-
É
variante dele, conhecida como Princípio Antrópico. Este é mente explicada sem o recurso a causas sobrenaturais,
0 ponto de vista de que a sobrevivência e o desenvolvimen- muito natural estarmos em um universo onde as condições
to humano eram possibi idades tão mínimas eram exatas para que surgissem seres de nossa espécie, uma
que o mundo
só pode ser obra de um vez que não haveria qualquer chance
de surgirmos em ou-
o

arquiteto divino. Segundo esse ar-


gumento, o fato de que seres humanos
evoluíram e sobre- tra parte. Então, o fato de que estamos aqui não pode ser
viveram nos fornece uma boa prova da existência de Deus. tomado como prova de desígnio de Deus. Além do mais, o
Deus deve ter controlado as condições físicas
em
nosso Princípio Antrópico também é vulnerável a uma série de
críticas às versões tradicionais do Argumento do Desígnio
universo, aprimorando-as para que exatamente este tipo de
forma de vida evo ísse. À ideia é favorecida delineadas anteriormente,
por pesquisas
científicas que indicam o âmbito limitado de condições
a

iniciais adequadas para um universo em O Argumento da Causa Primeira


que a vida pudes-
se de todo se desenvolver,
O Argumento do Desígnio e sua variante, o Princip!
Crítica ao Princípio Antrópico Antrópico, baseiam-se na observação direta do mundo.
Como tal, são o que os filósofos chamam de argumentos
Primei-
A Objeção da Loteria empíricos. Em contraste, o Argumento da Causa
ra, às vezes conhecido como Argumento Cosmológico,
Existe uma importante objeção ao Argumento do Princf- de que o universo existe,
apoia-se apenas no fato empírico
pio Antrópico, Imagine que você comprou um bilhete ele é.
para e não em quaisquer fatos particulares sobre como
uma loteria federal, Existem, talvez,
muitos milhões de bi- O Argumento da Causa Primeira afirma que tudo foi
lhetes, mas só um ganhará. É
estatisticamente muito “á causado por alguma outra coisa que lhe é anterior: nada brota
provável que você ganhe, Mas é possível. Se você
3,

sabemos que o uni-


ganhar, para a existência sem uma causa, Porque
no entanto, trata-se simplesmente de sorte: ser escolhido
verso existe, podemos pressupor com segurança que toda uma
dentre todos aqueles milhões de bilhetes não é
resultado de por trás de seu surgimento. Se
série de causas e efeitos está
algo mais que acaso. Você poderia, sendo superstícioso,
en- investigarmos, podemos descobrir uma causa original, a
todo tipo de significados no fato de
xergar ter ganhado na primeiríssima (ou o primeiro motor). Essa primeira e sa,
loteria. Mas algo que é estatisticamente
assim nos diz o Argumento da Causa Primeira, Deus.
improvável ainda é

Es]
DEUS
O BÁSICO DA
FILOSOFIA

No entanto, assim como se dá com o Argumento do efeitos projerando-se infinitamente, assim como não existe
Desígnio, existe um grande número de críticas a ele. um número mais elevado que todos, porque sempre po-
demos adicionar um a qualquer número. Se é de todo
Críticas ao Argumento da Causa Primeira possível a existência de uma série infinita, por que,
então,
Os efeitos e as cáusas não poderiam
estender-se infinita
Autocontraditório mente pelo passado?
O Argumento da Causa Prime ira
começa com a
pressupo-
sição de que cada coisa isolada foi causada por alguma ou-
Limitações à conclusão

tra, mas logo se contradiz, afirmando que Deus foi a Mesmo que essas duas críticas ao argumento pudessem ser
des-
primeiríssima causa; e que existe uma causa não causada: rebatidas, ele não prova que a causa primeira é o Deus
Deus. Isso sugere a pergunta: “E o que causou Deus?” to pelos tefstas. Assi como vimos com o Argumento
Alguém convencido pelo Argumento da Causa Primeira do Desígnio, há sérias rações ao que se pode concluir a
poderia objetar que não se havia sugerido que tudo tinha da Causa Primeira.
partir do Argumento
uma causa, apenas que tudo, excero Deus, tinha uma cau- Primeiro, é verdade que a causa primeira deve ter sido
movimento
sa. Mas isso não melhora a situação, Se a série de efeitos e extremamente poderosa, a fim de criar e pôr em i:

causas vai parar em algum ponto, por que deve parar em asérie de causas e cfeitos que resultou no universo
Deus? Por que não pode parar mais cedo na regressão, com tal como o co: recemos. Então poderia haver alguma jus-
o surgimento do próprio universo? tificativa para sustentar que o argumento demonstra a exis-
tência de im Deus muito poderoso, se não onipotente,
Não é prova Mas não qualquer prova a fa-
o argumento apresenta
be-
O Argumento da Causa Primeira pressupõe que efeitos e vor da existência de um Deus que seja onisciente ou
causas não teriam a possibilidade de recuar para sempre no nevolente. Nenhum desses atributos seria necessário a
do Desig-
que é chamado de um regresso infinito: uma série inces- uma causa primeira. E, como no Argumento
sante recuando no tempo. Ele pressupõe que houve uma nio, um defensor do Argumento da Causa
Primeira ain-

a
causa primeira que deu origem todas as outras coisas. Mas da teria de lidar com o problema de como um Deus
tolerar o mal
deve ter sido realmente assim? onipotente, onisciente e benevolente pode
Se usássemos um argumento semelhante sobre o fu- que existe no mundo.
turo, pressuporíamos que haveria algum efeito final, que
não seria causa de coisa alguma. Mas, embora seja de fato
difícil de imaginar, parece plausível pensar em causas e
OO
BÁSICO DA FILOSOFIA DEUS

O Argumento Ontológico Críticas ao Argumento Ontológico

O Argumento Ontológico é muito diferente dos dois ar- Consequências absurdas


gumentos anteriores para a existência de Deus, pois deixa Uma crítica comum ao Argumento Ontológico é que pa-
O Argumento do Desígnio,
de se apoiar em evidências.
rece nos fazer crer na existência de todo tipo de coisas por
como vimos, depende de evidências sobre a natureza do
tmeio de uma definição. Por exemplo, podemos muito fa-
mundo; o Argumento da Causa Primeira requer menos
cilmente imaginar uma ilha perfeita, com uma praia per-
evidências, baseando-se apenas na observação de que algo
ta, vida silvestre perfeita, e assim por di: nte, mas disso
existe, em vez de nada. O Argumento Ontológico, no en-
ão resulta que essa ilha perfeita de fato exista em algum
tanto, é uma tentativa de mostrar a existência de Deus
lugar, Então, como o Argumento Ontológico parece justi-
parte necessariamente da definição de Deus como o ser su-
ficar conclusão tão ridícula, pode-se ver facil ente que é
premo, Como essa conclusão é alcançada antes da experiên-
cia, ele é conhecido
mau argumento. Ou a estrutura do argumento deve
como um argumento a priori.
De acordo com o Argumento Ontológico, Deus é defi- ser defeituosa, ou então pelo menos um de seus pressupostos
iniciais deve ser falso; se não, dele não decorreriam conse-
nido como imaginável mais perfeito; ou, na famosíssi-
o ser
quências tão obviamente absurdas.
ma formulação do argumento, dada por Santo Anselmo
Um defensor do Argumento Ontológico poderia mui-
(1033-1109), como “aquele ser do qual nada maior pode
to bem replicar a essa objeção q ; embora seja absurdo
ser concebido”. Um dos aspectos dessa perfeição ou gran-
pensar que da definição conclui-se a existência de uma ilha
deza acredita-se ser a existência. Umser perfeito não seria
perfeita, não é absurdo aplicar o raciocínio a Deus. Isto
perfeito se não existisse. Consequentemente, da definição
de Deus, supõe-se que ele ou ela necessariamente existe, tal porque perfeitas, ou carros perfeitos, dias perfeitos
ilhas

como segue-se da definição de um triângulo cuja soma dos ou e que for, são apenas exemplos de tipos particulares
de coi as. Mas Deus é um caso especial: Deus não é só
de

ângulos internos será 180 graus.


Este argumento, que foi usado por diversos filósofos, um exemplo perfeito de um tipo de coisa, mas a mais per-
incluindo René Descartes (1596-1650) na quinta de suas feita de todas elas.
Meditações, convenceu muito pouca gente da existência de Entretanto, mesmo que esse argumento implausível seja
Deus, mas não é fácil perceber sua inconsistência, aceito, existe uma crítica adicional ao Argumento O.
lógico fei ja originalmente por Imman el Kant (1724-
4), que algum defensor terá de rebater.

[E
DEUS
O BÁSICO DA
FILOSOFIA

Existência não é uma propriedade Mal

Um homem sol:pode ser definido como aquele que


ciro Mesmo que se aceite o Argumento Ontológico, ainda há
não é casado. Não ser casado é a propriedade definidora vitas evidências de que pelo menos um aspecto de sua
essencial de um solteiro. Ora, se eu digo “solteiros existem”, conclusão é falso. À presença do mal no mundo parece se
é benevolente. Trato das possíveis
não estou dando aos solteiros uma propriedade a mais. Sua opor à ideia de que Deus
sobre o Problema do Mal.
existência não equivale à propriedade de não ser casado: para respostas a esta questão na seção
alguém não ser casado precisa primeiro existir, embora o
um solteiro
Conhecimento, prova e existência de Deus
conceito de permaneça o mesmo, quer soltei-
tos por acaso existam ou não,
Se aplicarmos o mesmo pensamento ao Argumento Os argumentos para a existência de Deus considerados até

Ontológico, vemos que seu erro é tratar a existência de Deus agora foram todos, ocasionalmente, apresentados como pro-
como ms uma propriedade, como onisciência, ou onipo- vas, Espera-se deles que transmitam o
conhecimento da exis-

tência. Mas Deus não poderia ser o isciente ou onipoten- tência de Deus,
Conhecimento, nesse contexto, pode ser definido como
te sem existir; sendo assim, ao dar uma definição completa
de Deus, já estamos reconhecendo que ele ou ela existe, Re- uma espécie de crença verdadeira, justificada, Para termos
hecimento de que Deus existe, teria de ser verdade que
lacionar a existência como mais uma propriedade essencial
Deus de fato existe, Mas nossa crença de que Deus existe
de um
ser
perfeito é cometer o erro de tratar a existência
também teria de ser justificada: reria de ser baseada no tipo
como uma propriedade, em vez de uma condição prévia
essencial para que algo possua qualquer propriedade. certo de evidência. Há crenças verdadeiras, porém injus-
tificadas: por exemplo, eu posso acreditar que é terça-feira,
Mas, e quanto como unicórnios? Certa-
a seres ficcionais,
acredito ser o jornal de hoje,
porque olhei o cabeçalho do que
mente podemos falar sobre as propriedades de um unicórnio,
Mas na verdade eu estava olhando um jornal velho que por
tais como o chifre e as quatro pernas, sem que unicórnios
acaso saiu em uma terça-feira. Embora eu acredite que ter-
é
tenham que de fato existir. Uma frase como “Unicórnios
ça-feira (o que de fato &), não adquiri minha convicção de
têm um chifre” equivale a "Se unicórnios existissem, eles
tum modo confiável, uma vez eu poderia, com igual fa-
que
teriam um único chifie”, Em outras palavras, “Unicórnios têm
cilidade, er me deparado com um jornal velho que teria me
um chifre" é na realidade uma afirmação hipotética. Então, a 'nta-feira. Isso significa que eu não
convencido de que era qui
inexistência de unicórnios não é um problema para a concep-
tinha realmente o conhecimento, embora achasse que sim.
ção de que existência não é propriedade.
“Todos os argumentos
a
favor da existência de Deus que
examinamos até aqui estavam abertos a um grande número

[a
O BÁSICO DA FILOSOFIA

de objeções. Se essas objeções são


válidas ou não, cabe ao “mal natural” ou escolhamos outro nome para lhe dar, a
leitor decidir. Certamente as objeções hão de levantar dú- existência de males como doenças e desastres naturais deve
vidas sobre se esses argumentos podem ou não ser conside-
ser levada em conta se quisermos manter à crença em um
rados provas da existência de Deus, Mas será
que poderíamos Deus benevolente.
ter o conhecimento — aquele tipo de convicção verdad: vista da existência de tantos males, como pode al-
Em

ra, justificada — de que Deus não existe? Em outras pal


guém acreditar na existência de um Deus benevolente? Um
vras, haveria argumentos que refutassem conclusivamente Deus onisciente saberia que o mal existe; um Deus oni-
4 existência do Deus descrito pelos teístas?
potente seria capaz de impedi-lo de ocorrer; um Deus
Existe de
fato
pelo menos um argumento muito forte benevolente não ia querer que ele existisse. Mas o mal
contra a existência de um Deus benevolente,
argumento
im
conti ua a existir, Esse é, portanto, o Problema do Mal: o
que já mencionei como uma crítica aos Argumentos do
problema de explicar como os supostos atributos de Deus
Desígnio, Ontológico e da Causa Primeira. É o chamado
podem ser compatíveis com esse fato inegável que é o mal.
Problema do Mal,
Esta é a contestação mais séria à crença no Deus dos tefstas.
O Problema do Mal levou muita gente a rejeitar totalmen.
O Problema do Mal
te a crença em Deus, ou pelo menos à rever sua opinião
sobre a suposta benevolência, onipotência ou onisciência
Não podemos negar que existe mal no mundo. Pense só
de Deus.
no Holocausto, nos massacres de Pol Pot, no Camboja, ou
Os tefstas sugeriram várias soluções para o Problema
na prática difundida da tortura. Estes são todos exemplos
de mal ou crueldade moral: seres humanos do Mal, três das quais consideraremos aqui.
infligindo so-
ftimento a outros seres humanos, seja lá
por que motivo. À.
crueldade também é infligida com frequência a animais. Tentativas de solucionar o Problema do Mal
Existe também um tipo diferente de mal, conhecido
como Santidade
mal natural ou mer: físico: terremotos, doenças e surtos de
fome são exemplos desse tipo de mal, Houve quem afirmasse que a presença do mal no mundo,
O mal natural tem causas naturais, embora ele longe
de ser boa em si, é justificável porque leva a uma maior
possa
ser piorado por incompetência ou descuido humano. bondade moral. Sem pobreza e doença, por exemplo, a
“Mal” pode não ser a palavra mais adequada grande bondade moral de Madre Tereza de Calcutá, ai
para descre-
ver esses fenômenos naturais que dão origem ao sofrimento dando os necessitados, não teria sido possível. Sem guerra,
humano, porque a palavra é geralmente usada para se refe- tortura e crueldade, nem santos nem heróis poderiam exis-
rir à crueldade deliberada. No entanto, quer o rotulemos tir. O mal permite o bem supostamente maior deste tipo

2 s
um
(O BÁSICO DA LOSOFIA DEUS

de triunfo sobre o sofrimento humano. No entanto, essa Primeiro, ela é simplesmente difícil de se acreditar, Por
solução fica aberta a pelo menos duas objeções. Primeiro, exemplo, é difícil entender como se pode afirmar que al
o grau e a medida de sofrimento são muito maiores do que guém morrendo em agonia, em uma cerca de arame farpa-
seria necessário para permitir que santos e heróis execurem do, em uma terra de ninguém na Batalha do Somme, esteja
É

suas ações de grande bondade moral. extremamente di- contribuindo para a harmonia geral do mundo, Se a ana-
mortes horrendas de vários milhões de logia com uma obra de arte realmente explica por que Deus
fícil justificar as

pessoas em campos de concentração nazistas com esse ar- permite tanto mal, isto é quase uma admissão de que o mal
Além disso, boa parte desse sofrimento passa des-
gumento. não pode ser satisfatoriamente explicado, uma vez que a
percebido e sem ser registrado, Em alguns casos, o indivíduo sua compreensão é situada muito além do alcance huma-
sofredor é a única pessoa capaz de aperfeiçoamento moral
no. Somente do ponto de vista de Deus é que essa har-
nessa situação, e seria altamente improvável que esse pro- monia poderia ser observada e apreciada. Se isso é o que
gresso ocorresse em casos de dor extrema, os teístas querem dizer quando declaram que Deus é be-
Segundo, não é óbvio que um mundo no qual existe nevolente, sua noção de “bem” é muito diferente da nossa
grande mal seja preferível a um mundo em que houvesse
ção habitual.
menos mal e, como resultado, menos santos e heróis. De
Segundo, um Deus que permite tanto sofrimento para
fato, existe algo ofensivo, por exemplo, em tentar justificar
fins meramente estéticos — a fim de apreciá-lo do modo
à agonia de uma criança pequena morrendo de uma doen- como se aprecia uma obra de arte — parece mais sádi-
ça incurável, afirmando que isto permi aos que testemu-
co do que a divindade benevolente descrita pelos tefstas.
te

nham esse fato tornar se pessoas moralmente melhores, Um


Se esse é o papel que o sofrimento desempenha, Deus esta-
Deus benevolente realmente usaria esses métodos para aju
tia constrangedoramente próximo do psicopata que joga
dar nosso desenvolvimento moral?
tuma bomba em uma multidão a fim de admirar as belas
form: s criadas pela explosão e pelo sangue. Para muitos, a
Analogia artística
anal gia entre uma obra de arte e o mundo teria mais su-
Há alegação de que existe uma analogia entre o mundo e
a cesso como um argumento contra a benevolência de Deus
uma obra de arte. À harmonia geral em uma peça músical do que a favor dela,
geralmente envolve dissonâncias que são subsequentemente
resolvidas; uma pintura tem tipicamente amplas áreas de .A Defesa do Livre-Arbítrio
pigmentação mais escura e outras mais claras. De modo
semelhante, assim diz o argumento, o mal contribui para a De longe a tentativa mais importante de uma solução para
harmonia ou beleza geral do mundo. Essa opinião também à Problema do Mal é a chamada Defesa do Livre-Arbítrio,
está aberta a pelo menos duas objeções. segundo a qua! Deus dotou os seres humanos de capacidade

[25] [5
DEUS
O BÁSICO DA FILOSOFIA

de escolha. Se não tivéssemos livre-arbítrio, seríamos como. ilusão déle. Algum psicólogos acreditam que podemos ex-
robôs, ou autômatos, sem qualquer poder de decisão pes- plicar cada decisão ou escolha tomando como referência
soal. Os que aceitam a Defesa do Livre-Arbítrio afirmam algum condicionamento antigo que o indivíduo tenha so-
ser o mal uma consequência necessária da liberdade de es- frido, de forma que, embora o indivíduo possa se sentir livre,
colh 1a; caso contrário, não seria de fato livre-arbítrio, Afir- sua ação é na verdade inteiramente determinada pelo pas-
sado. Não podemos saber com certeza se não é este 0 caso.
mam que um mundo em que os seres human os possuem
essa escolha, o que às vezes leva ao mal, é preferível a um Entretanto, deve-se destacar em favor da Defesa do Li-
vre-Arbítrio que a maioria dos filósofos acredita que temos
mu: ndo em que a ação humana é predeterminada, um mun-
do no seríamos como robôs, programados apenas para livre-arbítrio em alguma medida, e que este seria um dos
qual
realizar boas ações. De fato, se fôssemos pré-programados traços definidores do ser humano.
desse modo, não poderíamos nem mesmo chamar nossas
Livre-Arbítrio sem o mal
ações de moralmente boas, uma vez que a bondade moral
depende da opção que fazemos, De novo, há várias obje- Sendo onipotente, Deus teria o poder de criar um mundo
ções a essa proposta. houvesse livre-arbítrio, mas isento do mal.
em que
verdade, esse não é um mundo pa icularmente
Críticas à Defesa do Livre-Arbítrio se imaginar. Embora o livre-arbítrio sempre inclua a possi-
bilidade do mal, não há motivo para que chegue a existir.
Dois pressupostos É possível ter livre-arbítrio ao mesmo tempo que se decide

O principal pressuposto da Defesa do Livre-Arbítrio é que interromper o curso de algum mal,


Os que aceitam a Defesa do Livre-Arbítrio provavelmer te
um mundo onde ele exista e haja a possibilidade do mal é
responderiam que semelhante estado de coisas não consisti-
preferível a um mundo de pessoas semelhantes a robôs pro-
ria em livre arbítrio legítimo, Isto fica aberto ao debate,
gramados para fazer o be Mas seria de fato ass! PO so-
..

frimento pode ser tão doloroso que sem dúvida muita gente,
Deus poderia intervir
dada a escolha, iria preferir que o fosse, Esses seres pré-pro-
gramados poderiam até ser projetados para acreditarem ter Os teístas acreditam que Deus pode e de fato intervém no
livre-arbítrio, embora não otivessem; poderiam ser manti- mundo, basicamente realizando lages. Se Deus intervém
dos na ilusão do livre-arbítrio, com todos os benefícios de às vezes, por que escolhe fazer o que pode parecer a um des-

se crer livres, mas sem nenhum dos reveses. crente “truques” relativamente menores, tais como produzir
buracos de
Isto nos leva ao segundo pressuposto da Defesa do Li- estigmas (marcas nas mãos das pessoas, como os
vinho?
vre-Atbítrio, o de que realmente o temos, e não apenas a pregos nas mãos de Cristo) ou transformar água em

47]

DEUS
O BÁSICO DA FILOSOFIA

Por que Deus não interveio para impedir o Holocausto, ou grande dificuldade para prever o que iria acontecer em
qualquer ocasião em que quiséssemos chutar uma
toda a Segunda Guerra Mundial, ou a epidemia de aids? bola. À

Mais uma vez, os teístas respondem que tal interven- falta de regularidade em outros aspectos do mundo pode-
ção negaria o livre-arbítrio, Mas isto seria abandonar um ria tornara própria vida impossível. À ciência, bem como

aspecto da crença da maioria dos reístas em Deus: a ocor- a vida cotidiana, apoia-se na enorme regularidade que ca-
rência esporádica de intervenção divins a. racteriza a natureza: causas semelhantes tendendo a pro-
duzir efeitos semelhantes.
Não explica o mal natural que, como essa regularidade geral
Às vezes afirma-se
mente nos é benéfica, o ma! natural está justificado, uma
Uma crítica importante Defesa ao Livre-Arbítrio é que
à
colateral das leis
vez que é apenas um infortunado efeito
ela, na melhor das hipóteses, só pode justificar a existência
da natureza continuando a operar de modo regular, Acre-
do mal moral, isto é, o mal causado diretamente por seres
dita-se que os efeitos benéficos gerais dessa regularidade su-
humanos. Não há qualquer ligação concebível entre o li-
peram os prejudiciais, Mas esse argumento é vulnerável de
vre-arbítrio existência do mal natural, como terremo-
e a
pelo menos duas maneiras,
tos, doenças, erupções vulcânicas e assim por diante, a não
Primeiro, ele não explica por que um Deus oniporente
ser que se aceite algum tipo de doutrina como a da Queda,
não poderia ter criado leis da natureza que jamais levassem
pela qual acredita-se que a traição da confiança de Deus
de fato a algum mal natural. Uma possível resposta a isto é
por Adão e Eva causou todos os diferentes tipos de mal que limitado pelas leis da natureza; mas isto
há no mundo, À doutrina da Queda torna os seres huma- que até Deus é
sugere que Deus na realidade não onipotente,
é
nos responsáveis por toda forma de mal no mundo. Entre-
Segundo, ele não consegue explicar por que Deus
ainda

tanto, essa doutrina só seria aceitável para-alguém que já


não intervém realizando milagres mais frequentemente. Caso
acreditasse na existência do Deus judaico-cristão,
se conteste que ele nunca intervém, então é
retirado um
Há outras explicações mais plausíveis para o ma! natu-
importante aspecto da crença da maioria dos tefstas em Deus
ral. Uma delas é que à regularidade das leis da natureza traz
benefícios mui stiperiores ãos ocasionais desastres,
Argumento dos Milagres
to
O

Benefício das leis da natureza


Ao discutir o Problema do Mal soluções tentadas para
e as
Sem regularidade na natureza, nosso mundo seria um mero ele, mencionei que os teístas geralmente acreditam que Deus
caos, e não teríamos meio de prever o resultado de nossas realizou certos milagres: na tradição cristã, entre estes in-
ações. Se, por exemplo, as bolas de futebol somente às vezes cluem-se a Ressurreição, a multiplicação dos pães, trazer
seafastassem de nossos pés quando as chutássemos, teríamos Lázaro de volta dos mortos e assim por diante. Estes foram

s [ss
O BÁSICO DA FILOSOFIA DE us

todos milagres que Cristo supostamente realizou, mas tanto À maior parte das religiões alega que Deus realizou
os cristãos quanto pessoas de outras religiões alegam que milagres, e que esses relatos deveriam ser tratados como con
milagres ainda ocorrem hoje, e em profusão. Aqui, vamos frmação de /que Deus existe. No entanto, há fortes argu-
considerar se a alegação de que milagres ocorreram pode- tnentos contra a atitude de bascar-se uma crença em Deus
ria fornecer evidências suficientes para se acreditar na exis- nesses relatos de milagres,
tência de Deus,
Um milagre pode ser definido como uma espécie de
Hume e os milagres
intervenção divina no rumo normal dos acontecimentos,
o que envolve nfringir uma lei estabelecida da natureza.
David Hume, na Seção X de seu Investigação sobre o enten-
a lei da natureza é uma generalização sobre o modo
«dimento humano, afirmou que uma pessoa racional jamais
como certas coisas se comportam: por exemplo, pesos caem
deveria acreditar na informação de que um milagre havia
o chão se os largamos, ninguém
se
levanta de volta dos
ocorrido, a não ser que fosse um milagre ainda maior, que
mortos e assim por diante. Essas leis da natureza basciam-
se em um vasto número de observações.
4
pessoa que relatou o milagre estivesse enganada. Afirmou,
nda, ser altamente impossível que isso um dia viesse a
Milagres deveriam, de saída, ser distinguidos de meras
ocorrências extraordinárias. Alguém pode tentar cometer acontecer. Deverfamos, como uma política pessoal, acre-
suicídio pulando de uma ponte altíssima, Por uma extra- ditar sempre no que seria o milagre menor, Nesta afirma-

vagante combinação de fatores, assim como condições dos ção Hume está deliberadamente jogando com o significado
Ventos, às roupas funcionando como um paraquedas, e as- de “milagre”. Como

vimos, um “milagre”, no sentido es-
sim por diante, essa pessoa pode, como já aconteceu, so- ito, é uma transgressão de uma lei da natureza que se pre-
breviver à queda. Embora isto seja extremamente incomum, sui ne ter sido operada por Deus, No entanto, quando
e possa até ser descrito pelos jornais como “um milagre”, Hume declara que deveríamos acreditar sempre no mila-
não é um milagre no sentido em que estou usando o ter- pre menor, está usando a palavra “milagre” no sentido co-
mo. Poderíamos dar uma explicação científica satisfatória tídiano, que pode incluir algo que é meramente fora do
sobre como este indi íduo veio a sobreviver: tratou-se ape- comum.
nas de um evento extraordinário, e não milagroso, uma vez Embora tenha admitido que milagres podem ocorrer,
que nenhuma lei da natureza foi infringida e, até onde po- " e achava que nunca houve um relato desses confiável
demos dizer, não houve intervenção divina envolvida, Se, 0 bastante para nele se basear uma crença em Deus, Ele usou
no entanto, essa pessoa houvesse pulado da ponte e miste- diversos argumentos fortes para apoiar essa opinião,
riosamente quicado na água, voltando para cima da ponte,
isso, sim, teria sido um milagre,

so
O BÁSICO DA FILOSOFIA

Milagres são sempre improváveis


Marte, ou em histórias de fantasmas, que apontam para a
Hume, em primeiro lugar, analisou as ibilidade de vida após a morte — por causa do prazer
provas que temos de
que alguma lei particular da natureza é válida. Para que algo que sentimos em nutrir essas convicções fantásticas. Da
sen

lei
jue

mesma maneira, somos inclinados a acreditar em relatos


Seja aceito como uma da natureza — por exemplo, de
que
alguém jamais volta à vida depois de morto —, deve haver rmilagres, já que a maioria de nós gostaria, secretamente ou
à maior quantidade possível de não, de que esses relatos fossem verdade,
provas que a confirmam.
O sensato sempre baseará o que acredita nas |
provas dis- igualmente agradável achar que fomos escolhidos para
É

poníveis. E, no caso de algum relato de um haverá testemunhar um mifagre, como alguma espécie de profeta.
milagre,
Sempre mais provas para sugerir que ele não ocorreu do que Muita gente gostaria de receber a aprovação que é dada a
para sustentar que ele aconteceu de fato. Isto é apenas uma
«quem alega haver testemunhado algum. Isso pode motivar
consequência de os milagres envolverem a infri ingência de
leis naturais bem estabelecidas.
A
interpretação de eventos meramente extraordinários como
Logo, usando este argumen- milagres reveladores da presença de Deus ou até a inven-
to, o sensato deveria sempre relutar muito em acreditar
no (ão de histórias sobre eventos miraculosos.
relato de um milagre. É logicamente
sempre possível que
alguém possa se levantar dos mortos, mas há um grande
As religiões os invalidam
volume de provas em apoio à opinião de
que isso jamais
ocorreu. Embora não possamos excluir em absoluto a
pos- Milagres foram alegados por todas as
principais religiões.
sibilidade de que a Ressurreição tenha ocorrido, de Há um bom número de evidências listadas por fiéis de cada
acordo
com Hume, deveríamos nos manter bastante relutantes
em uma dessas religiões de que tais milagres realmente aconte-
Acreditar que ela aconteceu de fato. ceram. Assim, o argumento dos milagres, se fosse confiável,
Hume forneceu diversos argumentos adicionais deuses que cada religião
para provaria a existência dos diferentes
tornar essa conclusão mais convincente, alega existir. Mas claramente esses diferentes deuses não
podem rodos existir: não pode ser verdade que existe ape-
Fatores psicológicos
nas o Deus único cristão e os muitos deuses hindus. Sendo
Fatores psicológicos podem levar
pessoas à ser autoiludidas im, os milagres alegados pelas diferentes religiões anu-
ou até fraudulentas sobre a ocorrência de milagres. Por exem- lam uns aos outros como provas da existência de um Deus
plo, é fato bem observado que o assombro e a admiração são ou deuses.
combinação desses fatores deveria funcionar como
1

emoções agradáveis, Temos uma forte tendência a acreditar A


em
coisas altamente improváveis — no aparecimento de alerta para manter as pessoas menos crédulas quanto à
m

OVNIS como
prova da existência de vida inteligente em relatos de milagres. Uma explicação natural, mesmo que

E)
O BÁSICO DA FILOSOFIA DEUS

improvável, tem sempre mais probabilidade de ser corre- fornecer provas, mas sim mostrar que um jogador seria sen-
ta do que uma miraculosa. Certame: o relato de um sato em “apostar” que Deus existe.
milagre não poderia nur a equivaler a uma prova da exis- O argumento começa partindo da posição de um agnó:
tência de Deus. tico, isto é, alguém que acredita não existir evidência sufi-
Esses argumentos não se restringem aos relatos de ciente para se decidir se Deus existe ou não. Um agnóstico
mila-
gres apresentados por outras pessoas, Se nós mesmos nos acredita que há uma genuína possibilidade de que Deus
encontramos na posição incomum de achar que testemunha- exista, mas que não há evidência suficiente para decidir a
mos um milagre, a maioria deles ainda se aplica. Todos já questão com segurança. Um ateu, em contraste, crê que há
tivemos a experiência de sonhos, de lembrar erroneamente evidência conclusiva de que Deus não existe.
de coisas, ou de achar
que vimos coisas que não estavam real O Argumento do Jogador consiste no segui uma vez
mente presentes, Em qualquer caso em que acreditamos ter que não sabemos se Deus existe ou não, estamos mais ou
testemunhado um milagre, é m is
provável que nos- menos na mesma posição de um jogador que aguarda o des-
sos sentidos nos tenham enganado, do que um milagre te- fecho de uma corrida ou uma carta ser virada. Devemos
ha de fato ocorrido. Ou então podermos ter testemunhado então calcular as chances. Mas para o agnóstico, pode pa-
apenas algo extraordinário e, devido aos fatores psicológicos recer igualmente provável que Deus exista ou não. À linha
já mencionados, achamos que foi um milagre deação do agnóstico é ficar em cima do muro, não tomando
É claro que qualquer
pessoa que ache cer testemunhado uma decisão por qualquer dos lados. O Argumento do Jo-
de fato
um milagre deve, com toda razão, levar essa expe- gador, no entanto, diz que a decisão mais racional a tomar
riência muito a sério, Mas, como é muito fácil estar é buscar as maiores possibilidades de ganhar o prêmio, cui-
engana-
do sobre essas coisas, ta! experiência nunca deveria ser levada dando ao mesmo tempo para que a possibilidade de derro-
em conta como uma prova conclusiva da existência de Deus. ta seja a menor possível. Em outras palavras, devemos
maximizar nossos possíveis ganhos e minimizar nossas pos-
O Argumento do Jogador: a Aposta de Pascal síveis perdas. Segundo o Argumento
umen do Jogador, o melhor
meio de conseguir isso é acreditar em Deus. Há quatro con-
Todos os argumentos a favor e contra a existência de Deus sequências possíveis: se apostarmos na existência de Deus e
que examinamos até agora visavam a provar que Deus existe ganharmos (i. e, se Deus de fato existir), então consegui-
ou não existe. Todos se propunham
mento de
a
nos dar o conheci-
sua existência ou inexistência. O Argumento do
mos avida eterna — um grande prêmio, O que perdemos,
se apostarmos nessa opção e Deus não existir, não é grande
Jogador, derivado dos textos do filósofo e matemático Blaise
Pascal (1623-1662), geralmente conhecido como a “Apos-
coisa, em comparação com
a
possibilidade da vida eterna:
podemos deixar passar certos prazeres mundanos, perder
ta de Pascal”, é muito diferente desses, Seu objetivo não é muitas horas rezando e levar nossa vida sob uma ilusão,

E] ss
na
DEUS
O BÁSICO DA FILOSOFIA

Mas, aqui, sou con-


No entanto, se resolvemos apostar opção de que Deus dente se cresse que ele de fato existe.
fim de crer em alguma
não existe, e ganharmos (i, e, se Deus io existe), então
n frontado com o problema de que, a
vivemos na vida sem ilusão (pelo menos à esse respeito) e coisa, preciso acreditar que
seja verdade,
livres para nos permitirmos os prazeres desta uma solução para esse problema de
acre-
nos sentimos Pascal tinha
contrário a nossos sentimen-
Yida, sem medo do castigo divino. Mas se apostamos nessa ditar em Deus se isto fosse
deveríamos agir como
opção e perdemos (i. e. Deus de fato existe), então no
se tos e convicções. Ele sugeriu que
mínimo perdemos a chance da vida eterna, correndo o ris- ;á

acreditássemos: ir
à igreja, recitar as preces apropria-
co da condenação perpétua, das e assim por diante. Afirmava que, se
déssemos os si-
Pascal afirmou
que, como jogadores diante dessas op- nais exteriores de uma crença em
Deus, então muito
ções, a inha de ação mais racional para nós é acreditar
Deus de fato existe. Desse modo, se estivermos certos,
po-
que rapidamente desenvolveríamos
efetiva crença. Em

palavras, há modos indirecos pelos quais


podemos deli- ge
demos ganhar a vida eterna. Se apostarmos que Deus exi
Deradamente gerar crenças.
te e estivermos errados, não podemos perder tanto quanto
se escolhermos acreditar que Deus não existe e estivermos Atitude inadequada
errados, Então, quisermos maximizar nossos ganhos pos-
se
com isso ganhamos à
síveis eminimizar nossas possíveis perdas, devemos acredi- Apostar que Deus existe porque
de um
tar na existência de Deus. chance da eterna, e em seguida usar
vida
truque para
devido ao prêmio que
obter uma efetiva crença em Deus
acertamos, parece uma atitude inadequada
a
Críticas ao Argumento do Jogador ganhamos se O filósofo e psicólogo William
tomar quanto à questão.
de dizer que, se esti-
Não conseguir se decídir a acreditar James (1842-1910) chegou ao ponto
vesse na posição de Deus,
teria grande prazer em impedir
Mesmo que o Argumento do Jogador seja aceito, ainda nos
acreditassem nele com base nesse procedi-
resta o problema de que não é possível para nós acreditar- que pessoas que
todo parece falso
mos naquilo em que queremos acreditar, Não se pode sim- mento fossem para o céu. O procedimento
e é inteiramente
motivado pelo egoísmo.
plesmente resolver acreditar em algo. Não posso resolver
amanhã acreditar que porcos podem voar, que Londres é a
Não realismo sobre Deus
capital do Egito e que existe um Deus onipotente, onis-
ciente e benevolente, Preciso estar convencido disso antes
de conseguir acreditar, Porém, o Argumento do Jogador não O não realismo sobre Deus proporciona uma controveti-
Os não realistas afir-
me fornece qualquer prova para me convencer de que Deus da alternativa ao tefsmo tradicional.
é um erro pensar na existência
de Deus como algo
existe: apenas me informa que, como jogador, eu seria pru- mam que
7
56]
O BÁSICO DA FILOSOFIA DEUS

independente dos seres humanos, O verdadeiro sentido da Críticas ao não realismo sobre Deus
linguagem religiosa não é descrever um ser objetivamente
existente; emvez disso, é um modo de representar Ateísmo disfarçado
para nós
mesmos a unidade ideal de todos os nossos valores morais
€ espirituais e as prerrogativas
A principal crítica ao não realismo sobre Deus é
que ele
é
que esses valores têm sobre um tipo de ateísmo muito ma! disfarçado. Dizer que Deus
nós. Em outras palavras, quando um não realista desse dizer que
tipo é apenas a soma de valores humanos equivale a
afirma acreditar em Deus, isso não
quer dizer que seu Deus Deus, como tradicionalmente concebido, não existe, sen-
seja uma entidade em uma esfera separada, o tipo de do a linguagem religiosa não mais que um meio útil de
Deus descrito pelos teístas tradicionais. Em vez disso, abordar valores em um mundo sem Deus. Isto pode pare-
que-
Tem dizer que se dedicam a um
conjunto de valores morais cer hipócrita, uma vez que os não realistas rejeitam a ideia
eespirituais, e que a linguagem da
religião proporciona um «da existência de Deus ao mesmo tempo que se apegam à
meio especial rente eficaz de representar esses valores.
Como disse Don Cupitt (1934-), um dos não realistas mais
linguagem
e ao ritual religiosos, Parece mais honesto acei-
taras consequências de que Deus não existe e tornar-se ateu.
: de Deus é falar sobre as metas morais e es-
“Falar

pirituais a que deveriamos estar vis indo, e sobre o Implicações para a doutrina religiosa
que de-
verfamos nos tornar.” Uma segunda crítica à abordagem não realista da questão
De acordo com os não realistas, da existência de Deus é que ela tem implicações muito sé-
quem acredita que Deus
existe como algo autônomo esperando para ser descober- tias para à doutrina religiosa. Por exemplo, a maioria dos
to, como um outro planeta ou o Abominável Homem das teístas acredita na existência do céu; mas, se Deus não exis-
Neves, caiu nas garras do pensamento mitológico. O ver- te realmente, então tampouco existe o céu (nem, aliás, o
dadeiro sentido da linguagem religiosa, eles alegam, é
re- inferno). Da mesma forma, se Deus não existe, em um sen-
presentar para nós mesmos os mais elevados ideais humanos. tido realista, é difícil compreender como seria possível
1sso explica como as diferentes religiões vieram a existir: elas fornecer uma explicação plausível para os milagres. No en-
cresceram como uma personificação de diferentes valores tanto, a crença na possibilidade de milagres é crucial para
culturais, mas em certo sentido são todas muitos teístas. Adotar uma posição não realista quanto à
parte do mesmo
tipo de atividade. questão da existência de Deus envolveria uma revisão radi-
cal de muitas convicções religiosas básicas. Isto em si mes-
mo não precisa derrubar a abordagem não realista; se
alguém está preparado para aceitar essas revisões radicais,
pode fazê-lo consistentemente. À questão é que o ponto de

E
(O BÁSICO DA FILOSOFIA
DEUS

vista não realista envolve


uma revisão substancial de do extremo, pode tornar as pessoas completamente cegas a evi-
ina religiosa básica, uma revisão
que muita gente não es- (lências contra os seus pontos de vista: pode se assemelhar
taria preparada para fazer.
tmais a uma obstinação que a uma atitude racional.
Quais são os perigos de se adotar essa atitude de fé na

existência de Deus se você tem tal inclinação?

Todos os argumentos
para a existência de Deus que exami- Os perígos da fé
namos estiveram sujeitos a críticas. Essas
críticas não são
necessariamente conclusivas, Você pode A fé, como a descrevi, baseia-se em evidências insuficien-
conseguir encon-
trar contracríticas. Mas, se não Se houvesse evidências suficientes para declarar que
conseguir encontrar con
tractíticas adequadas, isso significa Deus existe, haveria menos necessidade de fé, pois tería-
que você deveria rejeiar
Por completo a crença em Deus? Os ateus mos o conhecimento de que Deus existe. Como não exis-
veria. Os agnósticos dariam um veredicto de “ tem evidências suficientes para se ter certeza da existência
de
provas”, Crentes religiosos, entretanto, de Deus, há sempre a possibilidade de que os fiéis estejam
poderiam afir-
mar que à abordagem filosófica, ponderando diferentes
ar-
equivocados em sua fé. E, com acrença em que já ocorre-
gumentos, é inadequada, À ram há um grande imero de fatores psicológi-
crença em Deus, poderiam milagres,

dizer, não é assunto cos que podem levar as pessoas a ter fé em Deus.
para especulação intelectual abstrata,
mas sim para comprometimento pessoal. É
uma questão
Por exemplo, a segurança que advém de
acreditar que
de fé, e não de
emprego inteligente da razão. um ser onipotente está cuidando nós é de
incgavelmente
fé envolve confiança. Se
AA
estou escalando uma mon- atraente. Acreditar em vida após a morte um ótimo antí-
é
ranha e tenho fé na força de minha doto para o medo de morrer. Esses fatores podem ser in-
corda, então confio que
la vai me segurar caso eu perca o apoio para os pés e caia centivos para se entregarem à fé em Deus. É claro
alguns

— embora eu não possa estar absolutamente


certo disso, que isso não torna sua fé ilusória e desencaminhada, mas
enquanto não a fizer passar por um teste. Para algumas
pes- simplesmente mostra que as causas de sua fé podem de vir
soas, a fé em Deus é como
a fé
na força da corda: não existe
prova confirmada de que Deus existe e cuida de cada indi-
uma combinação de insegurança e pensamento utópico.
Também, com: Hume afirmou, os seres humanos
víduo, mas o crente confia de fato na Sua
existência e leva obtêm um prazer m: grande dos sentimentos de espan-
ito
a vida de modo coerente com
sua crença, to e admiração que advêm da crença em ocorrências para-
te

Uma atitude de fé religiosa é


atraente para muitas pes- normais. No caso de ter fé em Deus, é importante distinguir
soas, tornando irrelevante o tipo de uma fé autêntica do prazer derivado de se nutrir à crença
argumento que es-
tivemos considerando. No
entanto, em seu
nível mais de que Deus existe.

[6]
O BÁSICO DA FILOSOFIA DEUS

Os fatores psicológicos deveriam nos tornar cautelosos introdução algumas áreas importantes da meta!
a
física,
uma
quanto à nos entregamos à fé em Deus, pois é muito fácil
como a natureza do tempo.
estar enganado quanto à sua motivação

Da
nesta área, No fi-
nal, cada crente deve julgar se Os póstumos Diálogos sobre a religião natural,

oram
sua fé é ou não adequada e
autêntica. lume, publicado primeiramente em
araque brilhante e
sistemático ao
Seas
À prosa do sécul
S Dale:
:

Eoe”
Conclusão nio para a existência de Deus.
pode ser bem difícil de se entender em certos vo
os principais argumentos são
DO
fáceis de

|
Neste capítulo consideramos a maior
parte dos argumen-
ilustrados com exemplos sagazes e memoráveis.

Ha
tos tradicionais a favor e contra a existência de
Deus,
edição é Dialogues and Natural ford:
mos que existem sérias críticas
que os teístas precisam rebater Relcio
Oxford University Press World's Classics, 1993).

=
Se quiserem
manter uma crença em n Deus
onipotente,
us

onisci nte e benevolente, Um alternativa não realista ao


meio de rebater muitas des- Don Cupitt esboça sua
sas críticas seria fazer uma revisão das The Sea ofFaith (Londres:
qualidades que cos- no capítulo final de seu livro
tumam ser atribuídas a Deus: talvez não seja inteiramente Books, 1984).
benevolente, ou talvez haja limites ao Seu
poder e conheci-
mento, Fazer isso seria rejeitar a descrição tradicional.
Mas
para muitas pessoas esta seria uma solução mais aceitável
do que rejeitar
por completo a crença em Deus,

Leituras adicionais

Recomendo irrestritamente The Miracle


of Theism, de ]. L,
Mackie (Oxford; Clarendon Press, 1982), É
muito claro,
inteligente e estimulante. Trata detalhadamente da
maior
Parte das questões abordadas neste capítulo. An Introduction
to the Philosophy ofReligion, de Brian Davies
(Oxford: Oxford
University Press, 1993), é uma introdução abrangente
a essa
Área escrita
por um frade dominicano. Anguing for Atheism,
de Robin Le Poidevin (Londres:
Routledge, 1996), é um li-
vro interessante e de amplo aleance,
que também serve como

62

Você também pode gostar