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ALGUMAS RESPOSTAS AO ATEÍSMO

Tenho decidido, após algumas experiências incômodas (ocasionadas de


infantilidades e extremismo) que o entreomalhoeabigorna.blogspot.com não dará
enfoque no diálogo com os ateus, a menos que alguns realmente queiram trocar
ideias, dedicando-se mais a informar e enriquecer os argumentos dos próprios
cristãos que, por fim, poderão fazer uma diferença maior em seus contextos de
atuação no mundo real - igrejas, trabalho, escola, faculdade... Essa postagem,
portanto, mesmo que tenha um título provocativo, objetiva uma organização de
conhecimentos em tópicos que facilitem a conversa do cristão com o ateu,
capacitando-o para responder algumas de suas alegações mais comuns.
Não entendi ser necessário falar sobre a "existência de Deus" aqui, o enigma que
quase sempre é usado como escape no tipo de situação retratada e que só é
satisfatoriamente respondido através da experiência individual (mas se você deseja
ter alguma informação sobre isso, pode dar uma lida nas seguintes postagens: "Deus
Existe? O Deus Cristão Existe?"; "A Simplicidade do Cristianismo - Introdução e
Índice"). Que o material disponibilizado na sequencia possa lhe ser útil.

CAPITULO 1 - Sobre a Bíblia:

O ANTIGO TESTAMENTO ORIGINOU-SE DE RELIGIÕES PAGÃS?

Há alguns dias deparei-me com um relativamente extenso vídeo de determinado


ateu desenvolvido com o revolucionário e supremo objetivo de "destruir a
'mitologia' judaica", como o próprio autor adjetiva o seu trabalho. O engraçado é
que esse "destruidor do judaísmo" afirma, como se fosse grande coisa, que estudou
uma semana inteira para fazer aniquilar a Bíblia - como se isso fosse muito, em
comparação com estudiosos altamente graduados que passam trinta, quarenta ou
até cinquenta anos estudando esse magnífico livro.
No mais, são mais de quarenta minutos mostrando que os hebreus não podem
ter escrito o Antigo Testamento antes do Exílio Babilônico e apontando, com base
em semelhanças "mitológicas", para uma cópia hebraica dos textos mesopotâmicos -
mais de quarenta minutos de desnecessárias, porém interessantes, leituras, que
facilmente podem ser revertidas em argumentos pró-Antigo Testamento. Que ironia!
Segue o vídeo, conforme postado no youtube no espaço "Ateuinforma",
20/03/2012, sob o título "Ateu Prova: A Bíblia Vem do Politeísmo da Suméria [E
Desafia Qualquer Um À Contraprova]" - verifique o típico posicionamento arrogante
e pretensioso típico dos neo-ateus.
Nisso me lembro de um recente artigo aqui publicado: "A Ditadura dos
Rinocerontes".

Para facilitar o entendimento, listarei logo abaixo os principais argumentos pelo


jovem ateu usados. É aconselhável que o vídeo seja assistindo, para que se
compreenda adequadamente o que segue.

- Proteção ao Deus "Jeová da Samaria". Astarote. ("Quem és tu entre os deuses")


Monolatria ("sei que o Senhor é maior que todos os outros deuses"). Mitologia
- Vários nomes prum deus só - "adaptações religiosas"
- Uma das línguas mais antigas é a suméria. Nosso alfabeto vem do escrito fenício,
pai do grego e do hebraico. Alf. fenício - hieróglifos ou rupestres egípcios no Sinai. A
inscrição mais antiga hebreia é de 950 a.C.
- A história de Moisés foi escrita depois de 1500 a.C.
- Caim e Abel - semelhante a Rômulo e Remo, "Pais de Roma".
- Mundo tem 6000 anos segundo a soma das idades dos personagens da Bíblia.
- Todos falavam uma única língua - depois ocorre a variação das línguas. Babel
refere-se à Babilônia e descreve, ou simboliza, um evento histórico de fracasso
militar.
- Abração de Ur dos caldeus, Suméria. Abraão personifica o desenvolvimento de um
povo de saiu da Mesopotâmia.
- Biblioteca de Nínive. Epopeia de Gilgamés e Enuma Elish - poema de Criação.
Oceano Primordial. Deuses foram criados. = Gênesis 1.
- Cap 2 de Gênesis dispensa capítulo 1. "Homem do pó da terra". "Árvore da Vida".
"Rio Tigre e Eufrates". Não é o processo de criação do mundo! É o processo de
criação da Suméria!
- Epopeia de Gilgamés, Uruk. Herói vem da argila. Ninguém pode subir no monte e
ver os deuses, senão morre, igual a Êx 33:20. Igual ao Olimpo.
- Utnapishtim. Jardins dos Deuses, frutas de rubi. Oceano do Mundo, águas da
morte. Árvore da Vida. Gilgamés 2/3 humano, semelhante a um filho de
Utnapishtim. Dilúvio. Filho de Deus que matou o dragão Tiamat.
- Dilúvio: barco sobre monte Nissir, soltar pomba, sacrifício. Deus Baal.
- Planta milagrosa cresce no fundo do mar, planta da vida eterna, "Planta da Vida".
Uma serpente come a planta.
- El - Elohim = "deuses". "Deuses fazendo".
- Semelhanças entre a descrição da Criação de Gênesis 1 com o mito da Criação
grego.
- Antes os deuses gregos não tinham forma humana, mas os deuses do Olimpo
passam a ter semelhança com os homens. "Façamos o homem a nossa imagem e
semelhança".

Respostas:

Primeiramente, preciso deixar bem claro um ponto: quase todo o vídeo que se
propõe a "destruir o judaísmo" trabalha com argumentos que eu mesmo tenho
usado em favor da Bíblia, não contra! Desde 2011 tenho estudado as semelhanças
entre as histórias da Bíblia e de outros povos, entendendo que tais semelhanças
favorecem a compreensão de uma memória coletiva relativa ao que
verdadeiramente aconteceu com o ser humano num passado remoto e comum a
toda a Humanidade, havendo, com o tempo, uma variação maior entre a história de
um povo e de outro, com base no isolamento e nas experiências locais, incutindo o
relato de exageros míticos, de politeísmos e demais traços religiosos e culturais. No
que me baseio?

1 - Relatos universais, não locais:

o vídeo afirma que, pelas semelhanças "mitológicas", a Bíblia brotou do


pensamento mesopotâmico e grego, mas, felizmente, existem semelhanças
"mitológicas" não só entre as histórias antigas do Oriente Próximo, Médio e Europa
Mediterrânica, mas entre os relatos de ameríndios, de habitantes do Extremo
Oriente e de nativos do Novíssimo Mundo. Determinados conceitos "mitológicos"
são revelados em quase todas as "mitologias" de quase todos os povos do mundo e
de quase toda a História Humana, o que gera o problema do isolamento: como
povos que nunca tiveram nenhum tipo de contato nas últimas dezenas de milhares
de anos poderão concordar em vários pontos de suas "mitologias"? Ora, se as
semelhanças entre o relato bíblico e os contos gregos e mesopotâmicos sugere uma
cópia judaica, tal conceito não deveria aplicar-se às infindáveis semelhanças
existentes entre as "mitologias" do mundo todo? Faço questão de reforçar que
determinados pontos do Antigo Testamento se aproximam mais de histórias de
índios americanos do que de relatos babilônicos! Os hebreus também copiaram dos
ameríndios?! Com base nisso, podemos entender que não houve uma impossível
cópia universal de "mitos", mas, sim, a perpetuação, com suas devidas alterações, de
memórias comuns de um longínquo passado. No que me baseio? Em vários livros,
que fiz questão de usar como fontes para a seguinte postagem do EOMEAB,
essencial para o entendimento desse conceito: "As Mitologias Indicam um Passado
Comum?"

2 - O princípio sugerido pelo texto:

a minha declaração nesse tópico pode soar estranha, por isso oriento para a
leitura do texto até que ele se conclua. O meu ponto é o seguinte: entendendo que
o "mitos" antigos quase que certamente sugerem a existência de uma memória
coletiva deturpada com o tempo, podemos compreender que, mesmo se o Antigo
Testamento tivesse sido copiado de documentos doutro povo, a sua mensagem
histórica central seguiria relativamente firme, uma vez que a Bíblia não é a única
fonte antiga que prega a criação do homem com base no barro, a Árvore da Vida, a
Queda, a Serpente Maligna, o Dilúvio, etc. Havendo uma memória coletiva a
preservar os aspectos principais dos primeiros milênios da Humanidade, a fonte
literária na qual me basear, nesse sentido, não fará muita diferença, uma vez que
quase todas convergem para os mesmos pontos. Eu escrevi algo sobre a
possibilidade de Moisés ter se baseado, em parte, em várias tradições escritas de
períodos pré-diluvianos de diversos povos, coisa que você pode conferir na
postagem "A Origem do Judaísmo e a Conquista de Canaã". Se os pilares centrais
são, pelo menos em parte, os mesmos, e o cristão possui o Novo Testamento como
fonte básica para a interpretação do Antigo Testamento, a origem dele não chega a
ser um grande problema.

3 - A sobriedade do relato bíblico:

para termos o Antigo Testamento como o herdeiro mais fiel das memórias pré-
diluvianas precisamos analisar, primeiramente, se os relatos por ele transmitidos são
mais coerentes do que as histórias paralelas doutras tradições - devemos verificar
onde existe mais sobriedade, menos firulas mitológicas típicas de relatos tardios.
Vamos começar com o relato da Criação de Gênesis, o mais coerente com a
realidade da História Natural:

"[Dia] Um - Ativação dos elementos físicos do cosmos.


Dois - Formação da atmosfera e da hidrosfera.
Três - Formação da litosfera e da biosfera.
Quatro - Formação da estratosfera.
Cinco - Formação da vida na atmosfera e na hidrosfera.
Seis - Formação da vida na litosfera e na biosfera.
Sete - Descanso da obra completada de criar e fazer." Fonte: O Enigma
das Origens, Henry M. Morris, Origens, 1974, pg 208.

Consideremos que a Bíblia não se posiciona com relação a um processo


evolutivo para as origens dos seres vivos, também devemos considerar que a Bíblia
não determina a idade do Universo, de modo que é bem mais provável supor que os
Dias da Criação foram "Dias Era", expressões de eventos ocorridos dentro de
grandes períodos de tempo sugeridos no breve, simbólico e dinâmico Gênesis 1.
"A duração dos dias da Criação, de Gênesis 1, não é especificada na Bíblia. A
palavra 'dia' pode significar um período de luz entre dois períodos de escuridão, um
período de luz mais o período precedente de escuridão ou um período prolongado
de tempo. (...) A Bíblia não oferece nenhuma informação que nos ajude a
determinar com clareza há quanto tempo foi criada a matéria a data do primeiro dia
da Criação ou quando terminou o sexto dia." Fonte: Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013,
pg 4.

Sobre a idade do Universo é aconselhável a leitura dos trechos iniciais da


seguinte postagem do EOMEAB: "Primórdios: Autoria da da Torá, Idade do Universo
e Dilúvio". Dessa postagem faço questão de aqui postar a reflexão sobre as
genealogias bíblicas, que supostamente sustentam uma idade de 6 mil anos para a
Terra:

As genealogias do Antigo Testamento, seguindo os padrões hebraicos, são


lacunosas, dando evidência aos heróis mais proeminentes de períodos relativamente
grandes - Jesus, por exemplo, era considerado filho de Davi, mil anos de diferença.
Entre Jarede e Enoque várias gerações podem ter se desenvolvido, já que é da
tradição dos hebreus ressaltarem apenas os nomes mais significativos de sua
história. Os termos hebraicos “gerar”, “filho” e “filha”, encontrados nas genealogias
do início de Gênesis, podem indicar tanto descendentes distantes quanto imediatos;
as 10 gerações de Adão até Noé e as 10 de Noé até Abraão são mais um recurso
simétrico, que enaltece a beleza do texto; na genealogia de Lucas 3, verso 36, vemos
que entre Afraxade e Salá houve Cainã, entretanto Cainã não aparece na genealogia
de Gênesis 10, por exemplo. Fonte: Manual Bíblico Unger, Merril Frederick Unger, Edit. VidaNova,
pg 45.

Outro aspecto do Gênesis que demonstra sobriedade está na sua descrição da


Arca de Noé, muito mais coerente em termos de engenharia naval do que os relatos
mesopotâmicos. Você pode ler um estudo completo sobre isso na seguinte
postagem do EOMEAB: "A Arca de Noé Era Grande o Suficiente?". Quero enfatizar
alguns pontos:
"A história da Arca, em Gênesis, é semelhante ao Épico de Gilgamesh, porém as
dimensões da embarcação do mito mesopotâmico são insanas: 59 metros de lado,
formando um cubo perfeito, o que certamente levaria a embarcação ao naufrágio. A
Arca de Noé, por sua vez, possuía as dimensões apropriadas para a navegação,
sendo longa e retangular. A capacidade da Arca de alojar muitas espécies precisa ser
melhor interpretada: no hebraico a palavra "espécie" possui definições muito
genéricas - os animais que foram para a Arca eram representantes de gêneros ou
grupos de espécies, havendo uma especiação posterior ao Dilúvio. De qualquer
forma, a Arca possuía o espaço interno, somando os seus três pisos, de
aproximadamente 1,4 milhões de pés cúbicos." Fonte: Bíblia de Estudo Defesa da Fé, CPAD,
2010, pg 19.

Certa vez o engenheiro e inventor Vogt declarou ao periódico Dagbladt: "durante


anos tenho-me ocupado em experiências relacionadas com a navegação. (...) Refiro-
me às medidas da arca de Noé. Com relação a estas medidas, é de se notar que,
depois de milhares de anos de experiência na arte da construção de barcos, temos
que confessar que são ainda as proporções ideias para a construção de uma
embarcação de grande porte."
O professor Simonsen diz que na leitura do texto original de Gênesis fica claro
que o formato da arca era triangular - foi encontrada uma antiga moeda contendo o
nome de Noé e o desenho de uma arca triangular. Tal formado soluciona todas as
possíveis dificuldades acerca da resistência e capacidade de navegação - é impossível
construir embarcação em formato melhor para se resistir às forças do mar. Vale
lembrar que a arca foi construída apenas para flutuar.
Sr. Vogt diz: "estou convencido de que se déssemos ao engenheiro mais famoso
do mundo e encargo de construir uma embarcação tão grande como a Arca e com a
mesma capacidade de flutuar estavelmente, não lhe seria possível fazer uma
embarcação melhor nem tão simples quanto a de Noé. (...) Noé [tinha] vastíssimo
conhecimento de engenharia naval, o que prova o alto grau de civilização que
alcançou a primitiva Humanidade." Fonte: As Religiões, R. Coppel, Cedibra, 1972, pgs 13-16.

Ainda dentro da questão da sobriedade, podemos considerar a longevidade dos


antigos descritas pelos mesopotâmicos e descritas pelos hebreus, comparando os
relatos. É claro que o entendimento de um homem recém criado e, portanto, pleno
geneticamente, indica uma excelência física e intelectual, o que também coopera na
longevidade, mas há um exagero absurdamente maior no relato mesopotâmico do
que no relato de Gênesis. Vejamos:
"A Lista de reis sumérios, antigo registro dos reis da Suméria e da Acádia, que foi
composta originalmente no final do III milênio a.C. (...) apresenta notáveis
semelhanças com as genealogias de Gênesis. (...) Os registros indicam reinados
incrivelmente longos. Por exemplo, 'En-men-lu-Anna reinou 43.200 anos; En-men-
gal-Anna reinou 28.800 anos'. Há registro também de um grande dilúvio, que teria
inundado a terra, e depois disso os reis tiveram reinados significativamente mais
curtos" Fonte: Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 12.

Se houver interesse em ler algo relativo às 12 Pragas do Egito e ao Êxodo,


aconselho a leitura da postagem "A Escravidão no Egito, as 10 Pragas e o Êxodo".

4 - O monoteísmo é mais coerente (inclusive cientificamente)

Além da precisão e sobriedade do relato bíblico, superando de longe as


perspectivas pagãs, o próprio monoteísmo pregado pela Bíblia mostra que a tradição
antiga preservada nas Escrituras é mais pura e original do que as variações
politeístas. Primeiramente, o Antigo Testamento foi extremamente revolucionário
em seu contexto histórico e cultural (vide a postagem "A Bíblia e as Suas
Revoluções"), sendo o primeiro a introduzir o registro da história e o Direito Escrito
no Oriente Médio, isso sem contar com a superioridade da Lei por sobre os demais
códigos legais do período e com a insanidade lógica que foi propôr o monoteísmo e
a existência de um único templo em Israel (leia na última postagem sugerida); em
segundo lugar, a percepção de divindade, de relacionamento entre Deus e o mundo
e do papel humano, descritos no Antigo Testamento, deram o mais sólido aval
ideológico para o desenvolvimento da ciência moderna (vide "A Bíblia e a Ciência").
A perspectiva religiosa, "científica" e filosófica que a Bíblia propõe está muitíssimo à
frente de qualquer sugestão literária pagã de qualquer período da História Humana.
O que isso indica? Ou que o relato bíblico é o mais original e bem preservado dentre
todos os antigos documentos ou que os hebreus eram absurdamente geniais,
copiando tradições mitológicas pagãs e, ao invés de enfeitá-las e encorpá-las, como
normalmente acontece com o tempo, reduziram a concentração de absurdos e
tornaram tudo muito mais racional do que era anteriormente. Ora, como os
"analfabetos" e "primitivos" hebreus exilados na Babilônia foram capazes de
humilhar tão severamente o centro intelectual de seu período, copiando e
aperfeiçoando assombrosamente as suas compreensões de mundo? Não me parece
razoável supor algo assim!

5 - O Antigo Testamento é monoteísta:


O jovial "destruidor do judaísmo", autor do vídeo citado no início da postagem,
também sugeriu que a Bíblia, por usar expressões indicadoras de politeísmo, não
trabalha com um monoteísmo, mas uma "monolatria". Será que isso é verdade?

Bom, ele começa citando tal "politeísmo" com a inscrição samaritana sobre o
"Jeová de Samaria", como sendo uma versão diferente do Deus hebreu, o que não é
verdade, uma vez que "Jeová" é um dos nomes de Deus e os samaritanos brotaram
de uma extensa tradição hebraica, que o próprio Antigo Testamento trata de
evidenciar. Na sequência alguns versículos bíblicos são citados pelo ateu, todos
fazendo referência à "superioridade do Deus de Israel sobre os demais deuses", uma
suposta "monolatria", mas isso não indica que os hebreus eram incentivados
biblicamente a acreditar no politeísmo, de um Deus existente maior do que outros
deuses existentes - na verdade, todos os versículos que enaltecem Iavé sobre os
demais deuses simplesmente estão colocando o declarado Único Deus
(Deuteronômio 6:4 e 2 Samuel 7:22) em evidência sobre os falsos deuses pagãos,
que existiam no imaginário popular e que se resumiam a objetos de fundição e
madeira, sem vida e sem poder (Deuteronômio 5:7-9; Salmos 115:2-8; Isaías 44:8-
20).
Deus é colocado, nesses casos, como um poder superior a todos os demais
poderes religiosos do mundo, que realmente exercem, sob o nome de supostas
divindades, influência sobre as pessoas. O vídeo também apresenta a multiplicação
de divindades que é natural com o passar do tempo, citando um punhado de nomes
dados para Osíris com o andar da História, o que, na verdade, nada tem de
"multiplicação de divindades", uma vez que é da cultura antiga dar vários nomes aos
mesmos deuses, cada nome indicando um atributo específico de cada deus -
portanto, é natural que um deus que dá a vida, protege e traz a paz, possua, pelo
menos, três nomes diferentes, cada um referindo-se a cada uma das qualidades
ressaltadas.

Sobre a questão do "falso monoteísmo", o jovem ateu ainda levanta a questão


de "Elohim" indicar um plural de deus, ou seja, um panteão, um politeísmo, mas tal
afirmação não possui sustentação nos costumes linguísticos judaicos. Vamos analisar
as fontes:

"A palavra hebraica para 'Deus', Elohim, é gramaticalmente plural, mas não
indica um plural número (isto é, 'deuses'). O idioma hebraico usa a forma plural para
indicar honra ou intensidade, às vezes chamado de 'plural de majestade'. A aparição
consistente de um adjetivo singular (Sl 7:9) ou verbo no singular (Gn 20:6) usado
com Elohim mostra que o significado desejado é de um único Deus. Onde aparece o
adjetivo plural ou verbo no plural, o contexto determina se Elohim significa os
'deuses' das nações (Êx 20:3) ou se a concordância plural é devida simplesmente a
uma maior precisão gramatical dos escribas (Gn 19:13). Do ponto de vista israelita, a
unicidade da verdadeira Divindade nunca é questionada. Em Deuteronômio 6:4, "o
Senhor", isto é, Yahweh, o Deus de Israel, é chamado de 'nosso Elohim', e declarado
como 'único'.(...)[Gn 1:26-27] 'Façamos...' (3:22; 11:7; Is 6:8) não indica múltiplos
deuses. Essa teoria politeísta seria inconsistente com a teologia sublime do capítulo
e com a expressão singular 'à sua imagem' (Gn 1:27). Antigas teorias da origem do
universo explicam a criação como o resultado de uma coabitação sexual de
divindades do sexo masculino e feminino, ou de uma batalha entre a principal
divindade e alguma outra entidade hostil.
A Bíblia afirma, uniformemente, que Deus é assexuado e não tem o que
corresponderia a uma consorte do sexo feminino; Deus criou o universo pela sua
palavra poderosa, e não pelo combate às divindades do caos. Gênesis 1 foi escrito,
em parte, para mostrar que a visão do mundo físico que havia naquele tempo (isto
é, entidades física representando várias divindades) estava errada.
O cosmos é inanimado, e está inteiramente sob o controle do único Deus." Fonte:
Bíblia de Estudo Defesa da Fé, CPAD, 2010, pgs 5-8.

A Trindade na Bíblia:

-A unidade de Deus no Antigo Testamento: Deuteronômio 6:4; Isaías 44:6, 8 e


45:5.
-A pluralidade de Deus no Antigo Testamento: Elohim (2.570 x usado), significa
"os poderosos". Adonai: "meus senhores". Vide mais: Gênesis 1:26 e 27; Isaías
9:6-7, 44:6, 48:16, 55:11, 63:7-14; Provérbios 8:22-31; Salmos 2, 33:6, 119:89,
147:15-10. - Essa evidência plural indica que o AT é da mesma natureza que o
NT.
-A unidade de Deus no Novo Testamento: Marcos 12:29; 1 Coríntios 8:4; 1
Timóteo 2:5.

-A Trindade no Novo Testamento:


a) Jesus como Deus: Mateus 1:23 -Emanuel significa "Deus conosco". João 5:18
-Filho de Deus. João 8:58 -Eu Sou. João 5:27 -Filho do Homem- Daniel 7:13-14.
Mateus 2:11, 14:32-33, 28:9 - Jesus é adorado, só Deus pode ser adorado.
Mateus 3:3 -Jesus é tido como Iavé- Isaías 40:3; Romanos 10:9-13 - Isaías 2:32.
Outras: Lucas 1:76 - Malaquias 3:1; Romanos 14:9-12 - Isaías 45:23; 1 Coríntios
2:13 - Isaías 40:13; Hebreus 1:10 - Salmos 102:25-27. - Repare na relação de
"cumprimento - profecia".
Referências explícitas: João 1:1, 18, 20:28; Tiago 2:13; Romanos 9:5; 1 João
5:20; Atos 20:28; Filipenses 2:6; Colossenses 2:9; 2 Tessalonicenses 1:12; 1
Timóteo 3:15-16; Hebreus 1:8; 2 Pedro 1:1.
Jesus mesmo disse: João 8:51-59, 10:22-39.
b) A divindade do Espírito Santo: Gênesis 1:2; Êxodo 31:3, 35:31; Números 24:2;
1 Samuel 10:10, 11:6, 19:20, 23; 2 Crônicas 15:1, 24:20; Jó 33:4; Ezequiel 11:24;
Mateus 3:16, 12:28; Romanos 8:9, 14; 1 Coríntios 2:11, 14, 3:16, 7:40; Efésios
4:30; Filipenses 3:3; 1 João 4:2; João 14:16; 2 Coríntios 3:17-18; Atos 5:3-4; 2
Samuel 23:2; Isaías 40:13-18; Isaías 9:6; Atos 28:25; Salmos 95:7; Hebreus 3:7;
Jeremias 31:31; Hebreus 10:15.
O Espírito Santo não é uma "força", é uma "pessoa": 1 Coríntios 2:10-13; Atos
8:29, 9:31, 13:2, 15:28, 16:6; 1 Coríntios 12:11; Efésios 4:30; Mateus 12:31;
Filipenses 2:5-8; João 15:26, 16:13-14.
-A pluralidade de Deus no Novo Testamento: 1 Coríntios 12:4-6; 2 Coríntios
13:14; Mateus 3:16-17, 26:39, 27:46, 28:19; Efésios 2:18; João 11:41-41; Marcos
1:9-11. Fonte: O Mirante, "Inescapável".
Observação: é interessante notar que o termo Elohim, embora gramaticalmente
plural, orienta-se para a apresentação de uma divindade única e suprema.
Associando o significado ao pé da letra com o contexto no qual se insere,
podemos sugerir a existência das Três Pessoas da Trindade a representar o
Único Deus.

6 - Sustentação arqueológica e profética:

É interessante notar que o relato bíblico possui uma gama de comprovações


arqueológicas assombrosamente mais numerosas do que os relatos pagãos, isso
além da cortina de ferro que se instala entorno das Escrituras com base no
cumprimento de milhares de suas profecias ao longo da História - tendo a
sustentação arqueológica e papirológica de que o texto profético fora escrito antes
da consumação da profecia.

7 - Natureza literária da Bíblia:

Alguns dos maiores equívocos com relação ao texto bíblico e o seu eventual uso
de figuras de mitologias pagãs, como "sátiros", "pilares da Terra" e "Hades", está na
compreensão de sua natureza literária. A Bíblia foi escrita primeiramente para o
entendimento de homens de milênios atrás, dentro de seus devidos contextos pré-
científicos - as Escrituras não poderiam servir apenas para o homem dos últimos
séculos. Há vários textos poéticos e filosóficos na Palavra, de modo que fazer uso de
símbolos variados não caracteriza erro.

8 - Abraão não existiu e Moisés não escreveu a Torá?

Se "Abraão" foi apenas uma figura para o desenvolvimento de um povo, então a


sugestão é que ele não tenha existido, mas as implicações de tal teoria são maiores
do que as soluções que ela proporciona. A ideia é que o suposto povo analfabeto de
Israel tenha escrito o Antigo Testamento basicamente na Babilônia ou em um
período bastante tardio com relação ao que se sugere tradicionalmente, de modo
que seria temporal e/ou geograficamente impossível construir um texto dos
patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó) com detalhes culturais precisos, somente
pouquíssimo atingíveis por meio de tradições orais diluídas no tempo ou por meio
de extensos estudos em bibliotecas palestinas ou, ainda, através de escavações
arqueológicas que se deparassem com documentos e monumentos que, de alguma
forma, preservassem correspondências do período patriarcal.
Os hebreus de alguns séculos antes de Cristo tinham pouquíssimas
possibilidades de desvendar a cultura patriarcal do terceiro ou segundo milênio
antes de Cristo, exceto por alguma herança oral e pela interpretação de uns poucos
monumentos remanescentes - nós temos acesso a mais materiais arqueológicos
relativos aos Patriarcas do que tinham os israelitas dos últimos tempos antes da
vinda do Messias. Apesar disso tudo, o relato patriarcal de Gênesis é historicamente
preciso com relação aos achados arqueológicos das últimas décadas, o que indica
que tal texto foi quase que obrigatoriamente escrito nos dias de Moisés, ou quem
sabe até antes - pelo menos em parte.

Com base em minha fontes, é natural que não encontremos em nenhum


documento antigo os nomes dos Patriarcas, uma vez que suas atividades eram muito
insignificantes para os escribas dos grandes impérios da época, porém os relatos
bíblicos desse período são históricos, não mitos, se comparados aos achados
arqueológicos remanescentes daqueles tempos. Vejamos:

"Uma vez que os sistemas de escrita estavam em uso por volta do III milênio
a.C., o que torna desnecessário presumir que tenha existido um longo período de
transmissão oral entre os próprios fatos e a sua documentação em relatos escritos.
Os povos do final do III e início do II milênio a.C. mantinham registros escritos e não
dependiam da memória para os assuntos que consideravam importantes. Os
acontecimentos do período patriarcal podem ter sido registrados logo após sua
ocorrência em textos que o escritos bíblico utilizaria mais tarde como fontes.
Nomes similares aos de Serugue, Naor, Terá, Abrão/Abraão (Gn 11) e Jacó (25)
aparecem em documentos da primeira parte do II milênio a.C.
(...)
As viagens dos patriarcas não devem ser consideradas improváveis. Textos de
Ebla (2300 a.C.) e da Capadócia (2000 a.C.) indicam que as viagens, o comércio e os
negócios ocorriam de forma regular em todo o Oriente Médio.
A lei familiar hurrita, que vigorava em Harã (Gn 12 e 24) e em Nuzi, esclarece
algumas atividades da família de Abraão que, de outra forma, nos deixariam
perplexos. Outro paralelo foi encontrado numa carta de Larsa (antiga cidade suméria
do Eufrates), indicando que um homem sem filhos podia adotar seu escravo como
herdeiro (Gn 15:2).
As histórias patriarcais refletem fielmente costumes que não eram praticados e
as instituições que não existiam nos períodos posteriores, alguns dos quais foram
até mesmo proibidos pelas normas religiosas do Israel tardio. Por exemplo, o
casamento com a meia-irmã (Lv 18:9) e de duas irmãs simultaneamente (Lv 18:18)
eram permitidos nos tempos patriarcais, mas foram proibidos na sociedade israelita
posterior. Esse fato desmente a teoria de alguns críticos, segundo a qual essas
histórias foram inventadas durante o período da monarquia." Fonte: Bíblia de Estudo
Arqueológica, Vida, 2013, pg 73.

Há ainda outras fontes arqueológicas que comprovam a historicidade dos


costumes patriarcais, como as questões referentes à primogenitura: o primeiro filho
tinha precedência sobre os irmãos mais novos (Gn 43:33), ele recebia uma dupla
porção da herança e uma bênção especial (Gn 27:48), além de poder vender a sua
primogenitura, como aconteceu entre Esaú e Jacó. Documentos de Nuzi e de Mari
revelam que, se uma concubina gerasse o primeiro filho, seu direito de nascimento
podia ser retirado se a esposa principal gerasse um filho mais tarde (Ismael e
Isaque). Alguns documentos de Nuzi, chamados "tabletes de parentesco", dizem
respeito à venda de um direito de nascimento a alguém de fora da família. Fonte: Bíblia
de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 43.

Sobre a escrita na Palestina: as Cartas de Amarna demonstram que o


cuneiforme era utilizado em Canaã no século XIV a.C., e era lido na corte real
egípcia. Por volta de 1600 a.C., os fenícios inventaram o seu alfabeto, que foi o
precursor do alfabeto moderno. Fonte: Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 1108. Um
estudo mais profundo sobre a autoria da Torá você pode ler no artigo "A Origem do
Judaísmo e a Conquista de Canaã" - no artigo sugerido você também lerá algo sobre
as semelhanças entre o judaísmo e as religiões cananitas.

9 - "Imagem e semelhança de Deus":


O vídeo se encaminha para o encerramento tratando do tema "imagem e
semelhança" entre a divindade e o homem, comparando os deuses olimpianos,
fisicamente idênticos aos seres humanos, com o conceito bíblico de o homem ser
feito conforme a "imagem e semelhança de Deus", como um indício de que o relato
de Gênesis é nada mais do que uma cópia. Ora, não faz absolutamente nenhum
sentido comparar o conceito de semelhança pagão com o bíblico, uma vez que os
deuses pagãos são semelhantes em sua forma física, enquanto o Deus de Israel não
possui sequer um corpo físico, não possui sequer aparência visível ou acessível para
o homem na figura do Pai, tanto que o hebreu era proibido de retratar Deus em
escultura ou desenho - e, quando acabou fazendo isso, tratou de fundi-lo com a
imagem de um touro (Êxodo 32:8), algo altamente condenável, mas, acima de tudo,
uma evidência descarada de que os hebreus nutriam uma visão de divindade
astronomicamente diferente da dos gregos, na forma como concebiam Deus, e
igualmente diferente doutros povos pagãos, uma vez que, embora incomparável
com o ser humano, ainda assim o homem é a "imagem e semelhança de Deus".
Tratemos do que dizem as minhas fontes:

"Embora os seres humanos sejam criados à 'imagem' e 'semelhança' de Deus (as


palavras são praticamente sinônimas; Gn 5:3), não se quer afirmar e muito menos se
pode concluir que Deus tem um corpo. 'Imagem' e 'semelhança' frequentemente se
referem a uma representação física de alguma coisa que pode ser não material. O
homem foi criado para servir como representante de Deus, para governar a terra.
Como o homem traz a imagem de Deus, o assassinato merece a mais rígida
retribuição (Gn 9:6). O Antigo Testamento proíbe a confecção de qualquer imagem
material de Deus (Êx 20:1-4; Dt 4:16), porque Deus é espírito (Jo 4:24). Em Lucas
14:39, Jesus explica que um espírito 'não tem carne nem ossos' (Is 31:3). Como Deus
é espirito, Ele é invisível (Jo 1:18; Rm 1:20; Cl 1:15; 1 Tm 1:17)." Fonte: Bíblia de Estudo
Defesa da Fé, CPAD, 2010, pg 8.

"Mas como Deus ficou cansado no final da Criação?" Pode perguntar o cético. Eu
respondo com base na Bíblia de Estudo Defesa da Fé, pg 8: "A palavra 'descansou'
(hebraico shabat) não indica fadiga, mas somente 'cessou'".

10 - Semelhanças nos relatos da Criação e do Dilúvio:

o vídeo termina enfatizando as semelhanças, coisa que, ao longo do trabalho,


focou-se mais nos relatos semelhantes sobre a Criação do Universo - levantando a
possibilidade de a Bíblia ter sido copiada de outras fontes. Vejamos o que as minhas
fontes dizem:
Diferenças: em contraste com as antigas histórias de criação oriundas da
Mesopotâmia, do Egito e da Siro-Palestina, o relato bíblico faz mais do que apenas
tentar explicar como o mundo físico surgiu. Os mitos de Criação geralmente falam da
elevação de um deus de algum altar à supremacia sobre todos os deuses, de modo a
acrescentar prestígio para a determinada deidade e, por consequência, para a
cidade que a representa e para o templo que a tem como centro. Um exemplo está
no Egito Antigo: naquela cultura afirmava-se que uma colina primordial ou "ilha de
Criação", emergira de um oceano primevo e que um deus criara todas as coisas a
partir daquele local - os altares egípcios reivindicavam ser os locais daquela colina
primordial.
Os temas mais comuns nos mitos de Criação indicam uma geração espontânea
dos deuses, uma reprodução sexual entre eles e a deificação da natureza. A
tendência mais comum é que tais mitos destaquem elementos geográficos e
características exclusivas do local onde seu altar se encontra, como o Nilo para os
egípcios antigos. Não raramente esses mitos apresentam batalhas entre deuses e
monstros do primitivo e caótico oceano primordial, por meio das quais uma ou mais
divindades alcançaram a supremacia. Noutros mitos a Criação ocorreu quando um
determinado deus derrotou um monstro primitivo e dividiu seu corpo, que resultou
no Universo - quando Marduque derrota Tiamat, a corta ao meio e usa as parte de
seu corpo para formar o domo celestial. Através dessa luta, Marduque é
estabelecido como divindade central de seu povo.
Os mitos gregos também são similares. Do caos inicial surgem as deidades
primordiais, como Gaia e Urano (terra e céu, respectivamente). Deles nascem vários
deuses monstruosos, como Cronos, Tífon e os titãs, mas Zeus, filho de Cronos, lidera
uma revolta que os subjuga, estabelecendo-o como divindade máxima.
Em vários casos, os mitos apresentam a criação do homem como um capricho
divino, tendo-o mais como um "animal de carga" disposto a realizar o "trabalho
sujo", alimentando os deuses com suas orações e sacrifícios.

"O relato de Gênesis desafia de forma implícita esses antigos mitos da Criação
ao afirmar a unidade e a soberania de Deus e ao apresentar os corpos celestes e as
grandes criaturas marinhas como sua criação e os seres humanos como
administradores - e ainda portadores da imagem de Deus - em vez da ideia posterior
de algo nascido da necessidade ou indolência divina.
A narrativa de Gênesis refere-se ao Sol e à Lua como luminares 'maior' e
'menor'. (...) a Bíblia os reduz à condição de meros objetos físicos" - isso em
contraste com a compreensão pagã de que todos os objetos celestes são divindades.
"O relato de Gênesis rejeita o tema central da religião pagã: a deificação da
natureza. Também é muito interessante que não haja a pretensão de elevar Yaweh
(...) Não há conquista de outros deuses ou monstros e nenhum altar ou cidade é
apontado como o local do início do processo criador de Deus. Nenhum objeto
sagrado é mencionado. O Deus de Gênesis 1 é, de fato, o Deus universal." Fonte: Bíblia
de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg 5.

"O relato babilônico [Enuma Elish] é uma versão deturpada de uma tradição
original, cuja verdade foi assegurada a Moisés pela inspiração e, assim, livre de suas
incrustações politeístas." Fonte: Manual Bíblico Unger, Merril Frederick Unger, VidaNova, 2006, pg
41.

Na verdade, não há problema nenhum em encontrar semelhanças estruturais e


de determinados conceitos entre o relato de Gênesis e mitos do período de Moisés,
uma vez que o texto foi organizado segundo o padrão de escrita e aspectos da
mentalidade local, feito por um homem crescido nesse contexto e destinado a
garantir o entendimento de todo um povo inserido profundamente em seu tempo.

O Dilúvio: um outro aspecto de interesse fundamental no vídeo referiu-se ao


Dilúvio, indicando que o relato bíblico brotou da mentalidade babilônica ou pagã em
geral. Isso também está errado! Vou recorrer aos meus livros para justificá-lo:

Tradições de todo o mundo antigo falam de alguma grande inundação, mas não
há discussão maior do que a dada entre o relato de Gênesis e o babilônico, com a
Epopeia de Gilgamés, encontrado na biblioteca de Assurbanípal, rei da Assíria,
proveniente do séc. VII a.C. Vamos aos pontos de interesse:
"Enlil, uma das divindades mais elevadas, fica aborrecido com a cacofonia dos
ruídos que lhe chegam da parte dos seres humanos e decide inundar a terra e
destruir a todos os seres humanos (...). Enki, o deus das águas, revela a intenção de
Enlil ao mortal Utnapishtim, levando-o a construir um enorme barco e enchê-lo de
pares de animais. (...) Por terríveis sete dias e sete noites, Utnapishtim e sua esposa
são sacudidos na embarcação enquanto as águas do dilúvio cobrem a terra. Quanto
as águas finalmente diminuem, o barco se aloja no topo de uma alta montanha,
Utnapishtim solta uma pomba, uma andorinha e um corvo (...). O homem, então,
desembarca e oferece generosos sacrifícios aos deuses (...) [que] concedem vida
eterna e ele e à sua esposa (...)
Um texto acádio (1600 a.C.) reconta basicamente a mesma história (...), exceto
pelo fato de que o herói correspondente a Noé recebe o nome de Atra-Hasis. Uma
versão suméria ainda mais antiga, a Gênese de Eridu, contém (...) [o] relato de um
grande dilúvio. Aqui o herói é Ziusudra. (...)
De acordo com a Bíblia, Deus não apenas se irritou com o ruído da humanidade:
ele ficou profundamente ofendido, e a magnitude do pecado humano 'cortou-lhe o
coração' (Gn 6:5-7). Além disso, seu plano não foi frustrado pela esperteza de outra
divindade. (...) Gênesis atesta para o período mais longo para o Dilúvio, e Noé não
recebeu a imortalidade (...) a maioria dos estudiosos bíblicos acredita que o conto
bíblico não é uma simples adaptação das histórias mesopotâmicas, e sim uma das
várias versões de uma mesma história." Fonte: Bíblia de Estudo Arqueológica, Vida, 2013, pg
13.

"Mas em contraste marcante com o relato monoteísta hebraico, o babilônico é


politeísta e não possui uma concepção moral adequada da causa do dilúvio." Fonte:
Manual Bíblico Unger, Merril Frederick Unger, VidaNova, 2006, pg 46.

Conclusão: há mais material que poderia ser aqui disponibilizado - alguns dos
que decidi não incluir, pra não tornar o texto exaustivo, vou indicar logo adiante. De
qualquer forma, com o uso de alguns livros pude responder ao desafio do ateu e
evidenciar a sua prepotência ao afirmar que "destruiu a 'mitologia' hebraica". É
possível que alguns dos meus argumentos não sejam dos melhores, mas, mesmo
assim, o texto é suficiente para destruir de modo inquestionável a alegação absoluta
de que "chegou ao fim a 'mitologia' hebraica". Eu entendo que os inimigos da fé
precisam, realmente, estudar bem mais do que uma semana e fazer um uso maior
das fontes que se opõem ao seu pensamento, para realmente verificar se suas
interpretações baseadas no texto bruto e no superficial conhecimento são, de fato,
verazes - ao longo de bons milênios de tradição judaica e cristã é óbvio que todos os
argumentos e percepções que um ateu pode ter contra as Escrituras já foram
respondidos exaustiva e adequadamente. Basta procurar!

CAPITULO 2 - Sobre a Bíblia e a Ética:

QUESTÕES ÉTICAS DO ANTIGO TESTAMENTO E SOBRE A ORIGINALIDADE DA LEI

Uma das coletâneas de livros mais mal compreendidas pelo público leigo, sem
dúvida. O Antigo Testamento, observado sob a perspectiva dos tendenciosos e
emotivos olhos do Século XXI, tem sido apedrejado contínua e agressivamente,
sendo considerado um livro sanguinário e primitivo. Já trabalhei sobre o assunto nas
postagens "A Bíblia e a Ética" e "Deus e a Guerra", mas entendo ser necessário um
trabalho mais específico sobre o assunto. Tire as suas próprias conclusões.

Contexto histórico: agora que a ala mais leiga e numerosa da crítica das
Escrituras descobriu que é necessário se contextualizar antes de aplicar julgamentos
sobre questões antigas, seguidamente ouvimos a seguinte alegação: "para o cristão
tudo se resolve contextualizando, sendo essa uma forma de amenizar os erros
bíblicos." Ora, qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento e consciência
histórica, capacidade de interpretar textos e a coerência pregada pelos fundamentos
básicos de Direito, saberá que é imprescindível contextualizar tudo o que se analisa,
mesmo tendo se dado uma década atrás - é pretexto para a vilania anticristã
denunciar o uso da exegese e da hermenêutica em prol de um entendimento menos
bruto do Texto Sagrado. Isso não significa que o contexto histórico e cultural justifica
tudo, pois a própria Bíblia prega a existência de uma consciência universal de "certo
e errado", mas, de qualquer forma, não podemos julgar prontamente questões
culturais normativas em países do outro lado do mundo ou de um longínquo
período. Na verdade, as mesmas pessoas que julgam tendenciosamente tudo o que
discordam, se ofendem amargamente quando são julgadas de semelhante modo
("preconceito"). Precisamos da coerência da verdade, da evidência, não do emotivo
"achismo".

Concepção de guerra e religião no Mundo Antigo: a religião mergulhava em


todos os aspectos da vida no Mundo Antigo, inclusive, e mais do que qualquer coisa,
na guerra. As divindades das nações do Velho Mundo saíam engrandecidas e mais
bem aceitas quando o povo que as cultuava vencia uma batalha, enquanto as
divindades do perdedor eram difamadas e envergonhadas. Todas as vitórias
militares eram imediatamente associadas ao deus do povo vencedor e não havia
maior humilhação do que a de profanar o templo da divindade do inimigo
derrotado, demonstrando de modo inquestionável a superioridade dos deuses do
lado bem-sucedido por sobre os fracassados. Os soldados não somente
representavam o seu país ou o seu rei, mas eram emissários dos próprios deuses,
segundo se pensava, e era principalmente através da guerra que as religiões se
expandiam até para além das fronteiras de seus países, por meio da fama, ou
regrediam, subjugadas e difamadas. Embora o Deus de Israel sempre trabalhou de
modo largamente diferente dos demais cultos do Velho Mundo ("A Bíblia e as Suas
Revoluções"), era imprescindível para a manutenção da soberania israelita pelos
seus territórios (e sua sobrevivência) e para o reconhecimento do judaísmo no seu
devido contexto, que os israelitas vencessem diversas batalhas. Ao contrário de
nossos dias, nos quais o povo detentor das maiores proezas bélicas é o mais
desprezado e odiado, nos tempos do Antigo Testamento até os derrotados tendiam
a prestigiar a divindade do povo vencedor - os feitos militares eram a fonte de maior
honra e glória naqueles dias. Nesse sentido, não podemos usar nossa percepção
sobre as guerras, fomentada pelos traumas das Primeira e Segunda Guerras
Mundias e da Guerra do Vietnã, como parâmetro de julgamento para as guerras da
Antiguidade.

A História da Redenção, que culminou em Jesus Cristo, carecia, no contexto pré-


cristão, de uma nação geográfica e reconhecida. Num mundo no qual o Espírito
Santo ainda não podia habitar o ser humano, as formas de Deus convencer tanto
israelitas quanto gentios se davam através de apelos externos, muitos
necessariamente aceitáveis para os padrões do Mundo Antigo, como a vitória militar.
A verdade que é Deus prometera prosperidade para Israel naqueles tempos, como
estímulo e resultado da obediência e, portanto, o chamariz preferido do Criador
naquele período se dava através do fortalecimento econômico e da excelência moral
- coisa que foi dificultada e comumente pendeu para o apelo bélico por intermédio
da desobediência de Israel e da irredutibilidade das nações pagãs.

A Bíblia descreve o que aconteceu, não necessariamente o que foi aprovado: a


Bíblia não é um livro parcial, onde se encontram apenas histórias selecionadas para
se criar um ambiente perfeitamente atraente para que o leitor acredite em suas
palavras. Ela é honesta com a história de Israel, com seus pobres, juntamente com
os podres de seus maiores heróis. É aqui que se dividem os que, com coerência,
vivem no mundo real e saber discernir doutrinas de histórias, e os que, procurando
pretextos para não crer, mergulhados num infantil mundo de ilusões, enfiam tudo
propositalmente na mesma "caixinha". Os narradores bíblicos "tratam do mundo
real, e o descrevem como ele era, com toda a sua ambiguidade corrupta e decaída.
Não devemos confundir realismo com aprovação ética." Fonte: Bíblia de Estudo Defesa da
Fé, CPAD, 2010, pg 130.

A Conquista de Canaã deve ser entendida pelo que ela foi: de todas as
passagens mal compreendidas do Antigo Testamento, a história da Conquista de
Canaã é a mais famosa. Ela é usada pelos críticos das Escrituras como pretexto para
toda o desprezo pelo cristianismo: "com base nela os cristãos podem matar
qualquer um", "ela justifica as maiores atrocidades", "não creio que um Deus bom
possa permitir algo assim". Já cansei de "rinocerontes" em teologia e história
tentando falar sobre a Bíblia, já cansei de gente sem nenhum estudo procurando
destruir a Palavra (leia "A Ditadura dos Rinocerontes"), mas, vamos lá, mais uma vez!
1 - Tratou-se de um evento limitado. As narrativas da conquista descrevem um
período particular da longa história de Israel (lembremos que muitas outras guerras
do Antigo Testamento ocorreram sem a aprovação divina). Já me deparei com o
argumento de que, assim como os israelitas encontraram justificativas divinas para
seus atos, os membros de uma certa religião famosa pelos seus atos terroristas pode
encontrar em seu livro sagrado, mas a diferença é que estes últimos possuem
ordenanças para uma dominação mundial em prol da qual lhes é lícito fazer uso de
forças bélicas, ou seja: a abertura para o uso da força física não se enquadra em
nenhum espaço temporal ou geográfico delimitado, ao contrário do que ocorreu na
Conquista de Canaã, resumida no período necessário para vencer os povos que
haviam ocupado as terras que legalmente pertenciam aos descendentes de Abraão,
que, juntamente com seus filhos, comprara basicamente todos os territórios
cananeus.

2 - É possível que o relato tenha sido exagerado. Assim como outras nações do
Oriente Médio, Israel poderia ter uma retórica de que guerra que, eventualmente,
excedia a realidade.

3 - Tratou-se de uma punição moralmente aceitável. Agostinho dizia que o


"pecado não punido, por si só, é um mal" e que, portanto, a punição do pecado se
reflete num "bem", de modo que a punição dos cananeus resumiu-se num bem e
não num mal. Fonte: O Enigma do Mal, John W. Wenham, Vida Nova, 2012, pg 30. Os cananeus
eram povos especialmente depravados, praticantes do infanticídio, da prostituição
cultual e de outras formas de devassidão sexual e sacrifícios humanos, de modo que
interromper a existência dessas culturas traria mais benefícios do que malefícios
para a História Humana. A iniquidade de Canaã foi prevista (Gn 15:16) e descrita em
termos morais e socais (Lv 18:24; 20:23; Dt 9:5; 12:29-31). "Há uma imensa
diferença moral entre a violência que é arbitrária e a violência infligida na estrutura
moral da punição".

4 - Deus fez a mesma coisa com Israel. Deus usou Israel para punir os cananeus,
mas disse que, se os israelitas se comportassem da mesma forma que eles, também
seriam severamente julgados (Lv 26:17; Dt 28-25-68). Quando finalmente Israel
sacrificou bebês, foram igualmente destituídos de Canaã, primeiramente Israel
(Reino do Norte), por intermédio dos assírios, e, algum tempo depois, Judá, por
meio da Babilônia.
5 - Existe um aspecto profético nessa Conquista. Assim como Sodoma e Gomorra
e o Dilúvio, Canaã pode ser considerada como uma narrativa prototípica, que
prenuncia o que está por vir.

"Olho por olho": para muitos tal lei tem sido usada como o resumo do padrão
moral do Antigo Testamento, mas a realidade não comporta isso. Não se trata de
uma autorização para vingança ilimitada, pelo contrário: através de tal princípio se
estabelecia a ideia jurídica de proporcionalidade - a punição não deve exercer em
gravidade a transgressão. Se compararmos o restante da Lei do Antigo Testamento
aos outros códigos de leis contemporâneas (babilônicos, assírios e heteus),
percebemos um interesse notavelmente humanitário, especialmente pelos excluídos
("viúvas, órfãos e estrangeiros"). A Lei de Israel operava com prioridades éticas da
vida humana acima da propriedade material, e as necessidade humanas acima dos
direitos civis.

- As Leis de Eshnunna: Eshnunna, a leste da Babilônia, cidade dominante da


Mesopotâmia por volta de 1800 a.C., legou um código de leis razoavelmente curto
que ajuda a compreender a origem da Bíblia, mostrando que ela não veio à
existência de forma isolada de seu ambiente político e cultural mais amplo (por
exemplo, a lei a respeito de um boi perigoso e a responsabilidade de seu
proprietário, encontrada nas Leis de Eshnunna, assemelha-se à Êxodo 21:28-32),
dando a entender que a Torá fora escrita, realmente, em tempos bastante antigos.
Além da sofisticação das leis ser bem maior na Torá, há um detalhe discrepante
bastante evidente entre os dois códigos: Eshnunna celebra a bravura e os méritos do
rei Dadusha, enquanto Deuteronômio 9 enfoca a fraqueza e a indignidade de Israel,
enfatizando, portanto, a graça de Deus.

- As Leis Hititas: tais leis chegaram a nós em duas versões, a primeira da época
do Reino Antigo (1600-1400 a.C.) e a segundo do Reino Médio e do Império (1400-
1200 a.C.). A Leis Hititas contemplam vários temas que encontram eco na Bíblia:
brigas que resultam em mutilações ou homicídios intencionais (Êx 21-12-27);
casamentos e dotes (Êx 22-16-17); roubo, especialmente de animais (Êx 22:1-15);
incesto e relações sexuais ilícitas (Lv 18). Há porém uma divergência, em geral, maior
do que uma convergência (para os hititas, se um homem assassinado for encontrado
na propriedade de outra pessoa, o proprietário perderá sua casa, sua propriedade e
ainda pagará uma multa de 6.040 ciclos de prata; se o cadáver estiver em campo
aberto, a vila que estivar ao alcance de 4,8 Km é que pagará a indenização, enquanto
Dt 21:1-9 diz que, nesse caso, os anciãos da vila mais próxima deveriam oferecer um
sacrifício e jurar que não tinham conhecimento do autor do crime, assim se vendo
livres da culpa). As Leis Hititas revelam que longos e complexos códigos de leis já
existiam por volta do II milênio a.C., confirmando que Êxodo e Deuteronômio podem
datar de um período antigo.

- Leis médio-assírias: no Século XX foram encontrados vários tabletes


cuneiformes na antiga Assur, atual Iraque, datadas, provavelmente, do reinado de
Tiglate-Pileser I da Assíria (1114-1076 a.C.) - o que se sabe é que tais tabletes são
cópias de documentos mais antigos, tidos por volta dos Séculos XIV ou XV a.C. As leis
se referem essencialmente a assuntos da vida particular, como roubo, herança,
casamento, lei familiar, bruxaria, fornicação, falsa acusação, irrigação, direitos de
propriedade, aborto, blasfêmia e assim por diante. Uma exemplo de lei é: "Se a
esposa de um homem sair de sua casa e for a outro homem, onde ele resido, e ele
fornicar com ela, sabendo que ela é a esposa de outro homem, o homem e a esposa
serão mortos", o que entra em paralelo com Levítico 18:20 e Deuteronômio 22:22,
mas, noutros casos, as leis médio-assírias prescrevem punições mais severas que os
mandamentos bíblicos, como o roubo que, por exemplo, era punido com a morte ou
com a mutilação das orelhas e do nariz.
Muitas das leis médio-assírias demonstram que os homens tinham mais direitos
que as mulheres, por exemplo: se um homem casado estuprasse uma mulher
solteira, a esposa dele também seria estuprada, e o homem seria obrigado a se casar
com a mulher que ele violentou. O homem também podia, dentro das leis, punir sua
esposa com espancamento, chicotadas, arrancando seus cabelos e mutilando as
suas orelhas. Nos pontos de divergência entre a Bíblia e essas leis, a Bíblia
demonstra maior paridade entre os sexos e um mais alto nível de respeito pela vida
humana e pela pureza moral.

- Código de Hamurábi: detalhes você pode ler na postagem "A Bíblia e as Suas
Revoluções". O que eu gostaria de ressaltar, segundo a Bíblia de Estudo
Arqueológica, Vida, é que "não parece haver nenhuma conexão direta entre
Hamurábi e a Bíblia".

Declarações de Merril Frederick Unger sobre a antiguidade da Lei:


"Descobertas de textos de tratados firmados no Oriente Próximo esclarecem
muito a forma e a estrutura da aliança de Deus com Israel, conforme registrada em
Êxodo, Levítico, Deuteronômio e Josué. Mendenhall e Kline observaram
semelhanças estruturais entre a aliança do Sinai e os tratados hititas de suserania.
As correspondências atentam a autenticidade da revelação divina a Moisés no
monte Sinai."
"Fazem-se comparações entre a lei casuística da aliança mosaica e os códigos
mais antigos, como o Código de Hamurábi (1700 a.C.), o Código de Lipit-Ishtar (1875
a.C.) e o Código de Ur-Nammu (2050 a.C.). Existem semelhanças suficientes para
confirmar a antiguidade da aliança mosaica - e diferenças ainda mais notáveis para
atestar sua singularidade como revelação divina."

Fontes: Bíblia de Estudo Defesa da Fé, CPAD, 2010, pgs 130-131; Bíblia de Estudo
Arqueológica, Vida, 2013, pgs 179, 267, 271 e 281; Manual Bíblico Unger, Merril Frederick Unger,
Vida Nova, 2006, pg 84.

A BÍBLIA E O MAL - RESPOSTAS SOBRE VERSÍCULOS ESTRANHOS

A -Deus manda o povo de Israel, depois do Êxodo, destruir todas as cidades


palestinas e matar todos os seus habitantes, sem exceções - Josué 6:21;
Deuteronômio 13:12-17:
Antes de tudo, precisamos lembrar de um detalhe importantíssimo: nos tempos
de Abraão, ainda no livro de Gênesis, Deus, mesmo tendo motivos para aniquilar a
Palestina inteira devido à depravação dos cananeus, reconheceu que a vilania local
ainda não era grande o suficiente para receber tal juízo e, sabendo que os cananeus
perverteriam-se ainda mais naturalmente, levou o povo de Israel, até como forma
de protegê-lo da depravação local, à terra do Egito, afim de esperar o dia em que a
transgressão palestina chegasse no nível digno de aniquilação total -Gênesis 15:13-
16. Isso implica no fato de que Deus não julga sem razão.

Outro ponto de importante relevância está na proteção da nação israelita,


mantendo-a distante do paganismo que dominava o mundo inteiro, tirando de
dentro de si toda a espécie de idolatria, todo o perigo potencial para a soberania de
Deus e consequente risco para a consumação da história redentora - se Israel
acabasse igual às demais nações, todo o projeto envolvendo O Messias poderia cair
por terra e isso levaria todos os povos desse mundo à destruição eterna, então não
restaria alternativa para Deus senão a de deixar o mundo definhar totalmente ou
julgá-lo de modo derradeiro e sem esperança para ninguém, mas não, O Pai optou
pelo juízo local como forma de evitar um juízo global, fazendo aniquilar as nações
palestinas em prol da manutenção e continuidade da história da redenção e
consequente salvação ao mundo inteiro - a Palestina, pela localização, clima e
influência, tratava da faixa de terras melhor servida para que a vindoura estadia dO
Messias em nosso meio surtisse o efeito esperado no mundo inteiro. O fato é que
Israel desobedeceu a Deus e não destruiu as nações cananéias e seu paganismo,
paganismo que, com o tempo, fora penetrando na cultura israelita e pervertendo
lenta e profundamente o Povo Escolhido, chegando ao ápice da depravação hebréia,
de que temos conhecimento no livro de Juízes - caos político e religioso em Israel.
Deus tinha razão ao exigir medidas tão drásticas em prol de algo maior, já que a
desobediência hebréia em relação a isso quase resultou no fim da história redentora
- antes de influenciar positivamente o mundo, Israel tinha que purificar-se ou
manter-se puro.

Leia mais sobre isso nas seguintes postagens do EOMEAB: "Deus e a Guerra"; "A
Origem do Judaísmo e a Conquista de Canaã".

B -Leis difíceis de entender - Deuteronômio 21:18-21; Levítico 18:22, 21:5:


A Bíblia, no Antigo Testamento, parece ordenar coisas estranhas, como matar
filhos em demasia rebeldes, evitar o homossexualismo e o ato de se barbear, mas
por que isso? Antes de o leitor se revoltar com a Palavra, precisa entender que o
mundo veterotestamentário não se enquadra nos padrões de nosso mundo pós-
moderno, logo, não podemos partir de nosso ponto de vista como fator
determinante para se julgar algo consolidado há milênios. Quando entendemos isso,
podemos, então, aprofundar o raciocínio: nenhuma Lei do Velha Aliança existiu por
existir, resumindo-se no capricho de um Deus que quer apenas mandar e julgar, não!
Toda a Lei era, antes de tudo, protetora, com alto grau de sanidade, afim de manter
o povo israelita longe de doenças biológicas, livre de doenças morais e políticas e
livre do paganismo das cercanias.

Entenda que num mundo sem O Messias, Deus precisava, em paralelo ao livre-
arbítrio, construir um cenário propício para a Sua vinda, por isso medidas pesadas
tiveram de ser tomadas, afim de, pela privação de uns, haver salvação para todos.
Israel, como território e povo, era a peça-chave da revolução que O Pai desde a
Queda planejara, portanto, para o bem do mundo, o Povo Escolhido sofreu um
pouco mais - sofrimento construtivo, pois a Lei os manteve, pela dor, vivos. Uma
dessas leis protetoras é a da primeira passagem acima: todo o filho rebelde, ao
resistir continuamente à disciplina, deveria ser morto. Ora, essa lei se aplicava ao
contexto histórico em que fora inserida, afim de manter Israel vívido, mas como?
Evitando-se a rebeldia das novas gerações, o padrão moral divino inserido nas
primeiras manter-se-ia parcialmente intacto, assim como a unidade política, religiosa
e étnica. Isso é óbvio! Logo, tal medida era necessária em prol de um bem maior,
principalmente quando levamos em conta dois fatores: servia mais como um
símbolo do que uma máquina de matar, pois a sua simples existência evitava a
necessidade vasta de sua aplicação, já que os filhos potencialmente rebeldes
passavam a se conter e evitar a insurreição e, em segundo lugar, porque, com toda a
nação conhecendo-a, aqueles que a desrespeitassem não seriam mortos
diretamente pela Lei ou por Deus, mas estariam praticando uma espécie de suicídio,
pois pediram para morrer de forma consciente e voluntária - como que pisando, de
modo consciente, numa armadilha.

A lei da segunda passagem acima também tem aspectos protetores por dois
motivos: procurava evitar que se inserisse em Israel uma prática comum entre os
povos pagãos, principalmente se levarmos em conta que relações sexuais de todos
os tipos eram vastamente praticadas como rituais religiosos que poderiam perverter
a nação de Israel e, em segundo lugar, afim de abolir todo o potencial autodestrutivo
do Povo Escolhido, pois é lógico que, numa nação largamente homossexual, a
fidelidade conjugal e o amor pela prole seriam afetados, doenças venéreas se
espalhariam e a natalidade diminuiria, fatores letais para uma nação pequena, além
disso, há todo o aspecto profético: a descendência de Abraão seria herdeira da
promessa messiânica e no contexto veterotestamentário isso significava, além de um
nascimento espiritual, uma ligação genética com o Pai da Fé, coisa que mudou
depois de Cristo. Essa lei, porém, ao contrário da anterior, foi reforçada no Novo
Testamento, Romanos 1:26-27, por ser ato totalmente avesso ao plano original dO
Criador e uma real ameaça à existência da família, com potencial poder destrutivo se
levarmos em conta a quantidade de doenças que se propagam com tal ato e sua
improdutividade reprodutiva, resultando antes em caos do que ordem. No final das
contas, qualquer um que possua um bom conhecimento de psicologia e psiquiatria
entende que, sendo o homossexualismo fruto de lares destruídos e disfuncionais ou
traumas sexuais na infância, não vem como herança genética ou carregado de
bondade em si, mas, sim, como resultado de distúrbios em mentes feridas - e é claro
que não me esqueço de todo o aspecto espiritual envolvido nisso. Ora, se o
homossexualismo não se origina da normalidade e ordem, obviamente não pode ser
algo positivo -por isso deve ser tratado-, mas a diferença entre um mundo sem Jesus
e o nosso mundo depois de Sua Primeira Vinda está no fato de que hoje devemos
garantir a liberdade dos homens, pelo livre arbítrio, de serem como desejarem ser,
julgando-se a si mesmos perante Deus.

A lei da terceira passagem também vem carregada do mesmo padrão da


anterior: fica evidente no verso o aspecto pagão do ato de se barbear, que vem junto
com o masoquismo ritual - isso no contexto histórico e geográfico em questão. Essa
lei, portanto, vinha como mais um mecanismo protetor para Israel nas questões
religiosas, mas, nitidamente, trabalhou na proteção da nação como etnia, pois a
proibição do corte total das barbas promovia uma larga diferença física entre
homens e mulheres e tal diferença física gerava uma identidade sexual específica,
segundo a vontade original dO Criador e isso, por sua vez, cooperava na manutenção
da integridade sexual de Israel, logo que as coisas não se mesclavam ou confundiam,
mas estavam bem determinadas e separadas, o que certamente evitou o
homossexualismo ou algum atentado ao patriarcalismo. Assim como em todas as
leis, há uma verdade eterna que nos cabe e, nesse caso, fica nítido que a vontade de
Deus está na distinção entre homem e mulher, o que, sem dúvidas, coopera com a
vida e que, por estarmos lutando contra isso em nossos dias, vemos a morte de
nossa humanidade - leia "Geração Emoção".

Do Comentário Bíblico Vida Nova, D. A. Carson, VidaNova, 2012:

- Levítico 18:19-23, pgs 229-230: "Sabe-se que o sacrifício de crianças (21) (...),
relações genitorais entre homens (22) e relações tanto de homens quanto de
mulheres com animais (23) eram parte da adoração pagã no Egito, em Canaã e
outras regiões. Provavelmente esse é o motivo de essas práticas estarem agrupadas
aqui. Mas as expressões adicionais no final de cada versículo indicam que aí se
tratava de uma imoralidade mais fundamental do que apenas associação com ideias
pagãs."

C -Aparente carnificina contra pessoas indefesas - II Reis 2:23-24:


Eis um dos textos mais polêmicos do Antigo Testamento, mas somente o é se o
interpretarmos segundo nosso ponto de vista pós-moderno. Em português lemos o
termo "criancinhas", mas para os judeus tal termo não necessariamente se direciona
literalmente à crianças, daqueles que designamos terem menos de 13 anos, até
porque o indivíduo "criança" não era reconhecido pelos judeus, que tratavam os
pequenos como mini-adultos. Para o judeu, qualquer um com menos de 30 anos
podia ser chamado de "criança" e isso fica bem claro na oração de Salomão em I Reis
3:7 e mais claro ainda na vocação de Jeremias, em Jeremias 1:7. O julgamento divino
do texto me parece ter, pelo menos, três explicações: Eliseu vivia em tempos onde
os reis ainda eram maus, logo, padecia de perseguição, portanto, as "crianças" do
texto poderiam se tratar de jovens, aos nossos olhos até mesmo adultos, armando
uma perigosa cilada contra a pessoa do Profeta, leve em conta que se tratavam de
dezenas de "rebeldes"; outro motivo pode estar no fato de que a desonra -pois ser
"calvo" era motivo de menosprezo- ao Profeta do Senhor se tratava de uma desonra
ao próprio Deus e a zombaria para com O Criador é passível de morte, ainda mais se
levarmos em conta que as "criancinhas" faziam parte do Povo Escolhido, logo,
estavam submetidas à Lei, que seus pais concordaram em obedecer; a terceira
explicação está na demonstração do poder de Deus mediante uma nação profana.
Entendo, ainda, mas tenho algum receio de considerar isso, que Eliseu pode ter
usado mal o poder que Deus depositou nele. O fato é que tudo me leva a crer que a
morte de 42 "criancinhas" não foi um mero ato de crueldade, mas, sim, de proteção
ao Profeta e, logo, à toda nação de Israel, o que resulta na proteção de um mundo
inteiro, que dependendo do Profeta e de Israel, pôde ser posteriormente
presenteado com a vinda, morte e ressurreição dO Messias.

D -Deus mandou milhões para o Inferno durante os tempos do Antigo


Testamento:
É isso que alegam os críticos, os céticos, quando citam o Dilúvio, a destruição da
Torre de Babel, de Sodoma e Gomorra, as 10 Pragas do Egito e o afogamento dos
exércitos do faraó, a aniquilação dos inimigos de Israel e os juízos sobre o próprio
Povo Escolhido, esquecendo-se, primeiramente, que Deus não julga sem antes dar
chances, levando Noé a alertar seus conterrâneos sobre a Inundação -2 Pedro 2:5;
Hebreus 11:7-, planejando privar Sodoma e Gomorra se nela houvessem uns poucos
justos -Gênesis 18:20-33-, O Pai também não teria lançado as pragas mais violentas
sobre o Egito se o faraó não tivesse endurecido o seu próprio coração por cinco
vezes -Êxodo 7:14, 22, 8:19, 9:7, 35-, não teria desferido juízos sobre os oponentes
do Povo Escolhido se tivessem ouvido as profecias e se arrependido, lembremos dos
habitantes de Nínive que, ao ouvirem a ameaça pela boca de Jonas e se
arrependerem, escaparam da morte -Jonas 1:2, 3:2, 4-10, 4:2, 6-11- e lembremos
que Deus só julgou a nação de Israel após incontáveis avisos e revisões da Lei,
sempre dando-lhe novas chances de se redimir e prostrar diante dEle -Oséias. Deus
é amor, Deus é justo, por isso procura a reconciliação antes da aniquilação e quando
a reconciliação não é aceita, aniquila por amor ao mundo inteiro, enegrecido e
pervertido pela transgressão de um determinado povo e nação. Por amor Deus
limita o homem pelas regras, a prevenir doenças e rebeldia, a prevenir a
autodestruição, e pelo juízo também demonstra tal amor, ao, pelo forte exemplo de
uns poucos, mostrar ao mundo inteiro o Seu poder e a Sua vontade, que é a vida,
pela morte de uns, como já disse, construiu o caminho para a vinda dO Messias, a
salvar o mundo inteiro. Leve em conta que, dado o aviso, aquele que
voluntariamente se mantém na maldade não é mais julgado pela vontade de Deus,
mas julga-se a si mesmo por sua própria vontade - é quase como um suicida. Esse é
o primeiro ponto a ser observado.

Podemos e devemos levar em conta ainda outro ponto: antes de Cristo não havia
"Inferno" para os homens, segundo o que eu constatei nas leituras bíblicas. O que é
chamado de Hades, ou Mundo dos Mortos, parecia mais um local para onde iam os
que morriam sem o conhecimento dO Messias -que ainda não tinha sido
apresentado ao mundo- para esperar a Sua vinda e poder, pelo livre arbítrio, optar
de modo derradeiro por Ele ou não, quando Ele se apresentasse. Toda a humanidade
que existira antes de Cristo ia parar nesse mesmo lugar, para "dormir" e esperar -
Salmos 13:3-, sejam pagãos, sejam Filhos da Promessa. Ainda não havia salvação
eterna no Céu, pois o sacrifício de animais não era nada além de um ato simbólico e
didático, já que nenhum animal era capaz de substituir a necessidade do sacrifício
dO Messias -Hebreus 10:4-, logo, sem Cristo, não pode haver salvação -João 14:6.
Sem Jesus como opção, nenhum humano poderia ser condenado por negá-Lo ou
salvo por aceitá-Lo, logo, todos aqueles que foram julgados por Deus no Antigo
Testamento não foram diretamente enviados ao Inferno, mas, por não conhecerem
O Messias, enviados a um lugar de espera para, posteriormente, terem uma segunda
chance. Sendo assim, os juízos de Deus no AT não foram tão cruéis quanto parecem
ter sido, pois não houve condenação eterna diretamente relacionada a eles. Tanto os
que esperavam pelo Cristo desde o Gênesis 3:15, os que esperavam desde Abraão -
Gênesis 12:1-3, 22:8-, da Primeira Páscoa -Êxodo 12:1-7- ou de Davi -2 Samuel 7:8-
17-, quanto os que não esperavam, tiveram a chance de, recebendo a visita dO
Próprio Messias no Hades, após o sacrifício na Cruz ter sido consumado, dizer-Lhe
"sim ou não". Essa é a justiça, esse é o amor de Deus! Vide 1 Pedro 3:18-20; Salmos
16:8-11; Atos 2:31; João 5:25 e 28. A Bíblia também parece deixar claro que para
alguns povos específicos, tamanha a sua abominação, a condenação eterna já estava
reservada desde o juízo -Judas 7-, mas, de modo geral, parece-me plausível entender
-segundo minha própria compreensão- que houve uma segunda chance para a
maioria -esvaziando-se o Hades de imediato, indo os que negaram Cristo ao Inferno
e os que O tiveram como salvador, ao Céu-, mas que agora, depois de Cristo, depois
de Seu sacrifício e ressurreição, as portas do Inferno se abriram aos que, em vida,
optam por não serem salvos pelo Filho e as portas do Céu estão abertas aos que, em
vida, O aceitam - João 5:29. A peça central do Universo, O Unigênito Filho de Deus,
está posta, a chance é HOJE. Apocalipse 1:18.

CAPITULO 3 - A Bíblia tem erros?:

A BÍBLIA: FALHAS MATEMÁTICAS, BIOLÓGICAS E GEOGRÁFICAS?


Me deparei com um texto que se propõe a provar que a Bíblia está errada (isso
sem ao menos entender o que significa "inerrância" quando nos referimos às
Escrituras). A publicação foi feita de modo inteligente, pelo menos na estética: o
leitor deve pensar sobre quem está mais certo com relação à ciência, a Bíblia ou a
ciência, e somar os pontos no final. É claro que a ciência é científica e a Bíblia não, o
que significa que o texto, por si só, é desonesto - é lógico que a ciência vai ganhar.
Mas o problema é que todos os pontos que o autor usou para mostrar que a Bíblia
está errada são absurdos, nada mais do que resultado de desonestidade, má
interpretação, pouco conhecimento de literatura e dos contextos históricos e
culturais dos textos das Escrituras. Refutei todos os seus pontos e aqui publicarei,
como mais um recurso do cristão para responder aos chavões mentirosos que os
críticos da Palavra comumente usam.

Texto: "Prova da Falsa Inerrância Bíblica", Milson, 18/10/2012, encontroracional.blogspot.com.br

Vamos aos pontos e ao que respondi:

A - Erros matemáticos e químicos?

“1 - Assinale a alternativa mais aproximada.


[ ] O valor de PI é exatamente 3 - (Afirmação Bíblica - I Reis 7.23 / II Crônicas
4.2)
[ X ] O valor aproximado de PI é 3,1416 - (Afirmação Científica)"

“Fez mais o mar de fundição, de dez côvados de uma borda até à outra borda,
perfeitamente redondo, e de cinco côvados de alto; e um cordão de trinta côvados o
cingia em redor.” 1 Reis 7:23 | “Fez também o mar de fundição, de dez côvados de
uma borda até a outra, redondo, e de cinco côvados de altura; cingia-o ao redor um
cordão de trinta côvados.” 2 Crônicas 4:2

Eis uma contradição inventada. Se algum cristão um dia tentou provar que essas
passagens falavam alguma coisa sobre o valor de PI, fracassou, até porque a Bíblia
não está preocupada em informar conhecimento científico oculto nas suas
entrelinhas. De qualquer modo, as medidas ali reveladas, sobre as dimensões do
Mar de Bronze, usado no Templo, são apenas medidas, tidas em côvados, sem
preocupações milimétricas. Nada além disso.

“2 - Assinale a alternativa correta.


[ ] Pode-se somar 1+1 e o resultado ser diferente de 2 - (Afirmação Bíblica -
Marcos 9.23)
[ X ] 1+1 = 2 - (Afirmação Científica)"

“E Jesus disse-lhe: Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê.” Marcos 9:23

É terrivelmente triste ter que se deparar com uma alegação dessas, pois é
simplesmente impossível imaginar que a Bíblia, alguma vez, tenha sugerido que
“1+1 não é 2”, isso em termos materialmente matemáticos. Qualquer um, em
qualquer momento e cultura da História, é capaz de saber disso – e os primeiros
escritores do Oriente Médio o sabiam mais do que ninguém.
Eu ainda não consigo acreditar no fato de alguém ter usado o versículo de
Marcos 9 como justificativa, pois, se for assim, tal versículo poderia justificar
qualquer bobagem. Jesus foi reconhecidamente o maior sábio do seu tempo, de
modo que é óbvio que ele não se referia a questões matemáticas ou de qualquer
espécie de ciência em sua frase, que é muito mais espiritual do que carnal: o Deus
que criou tudo do Nada pode fazer reais todas as coisas que, para ti, parecem
impossíveis. Ele está acima de qualquer Lei Natural. Que eu saiba, de relativista o
cristianismo não tem nada!

“3 - Assinale a alternativa correta.


[ ] Ouro enferruja - (Afirmação Bíblica - Tiago 5.3)
[ X ] Ouro não enferruja - (Afirmação Científica)”

“O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará


testemunho contra vós, e comerá como fogo a vossa carne. Entesourastes para os
últimos dias.” Tiago 5:3

Usar esse versículo como justificativa para um "erro bíblico" é desonesto: é óbvio
que os antigos sabiam das qualidades do ouro, que já era conhecido e trabalhado há
milênios (é por isso que o Templo de Jerusalém foi coberto de ouro por dentro: não
haveria necessidade de troca do material com frequência, nem no Santo dos Santos,
acessível só uma vez por ano). A figura da “ferrugem” é usada mais com um símbolo
para a morte, para o desfragmentar de toda a matéria e carne ao longo do tempo,
em oposição aos “tesouros espirituais”. No mais, os antigos não tinham uma
variedade grande de palavras para falar de "desfragmentação", de modo que
"ferrugem" era usado, naquele contexto, para questões além da oxidação do metal.
Ao conhecimento do antigo o ouro era um metal (e é) e, assim como qualquer
matéria, se desgastava e desaparecia com o tempo, mas não se encaixava na
categoria de roupas (traças) e nem na dos organismos (decompositores e
predadores), indo parar na categoria de “corrosão metálica”, que era generalizada
como “enferrujamento”.

"Ferrugem - Em nossa versão portuguesa, essa é tradução de um vocábulo


hebraico e de outro grego, cujo sentido é inteiramente diferente.
1 - Em hebraico, yeraqon, "palidez", "coisa verde" (...). Uma espécie de fungo (...)
que produzido pela umidade, ataca as colheitas da Palestina. (...)
2 - Em grego, brosis, "corrosão", ("ingestão", "alimento" (...). Quando é traduzido
com o primeiro desses três sentidos (...), está em vista mais do que simplesmente a
oxidação de metais ferrosos, mas, no dizer de Alford, 'o desgaste e o envelhecimento
do tempo' que come e consome até as melhores possessões."
Fonte: Novo Dicionário da Bíblia, J. D. Douglas, VidaNova, 2012, pg 503.

"Ferrugem: secreção corrosiva, que os gregos chamavam de 'ios', referindo-se à


que se forma na superfície do ferro; é o verdete do cobre e o óxido do ouro e da
prata que lhe tira o brilho, Tg 5:3. A palavra grega 'brosis', corrosivo, encontra-se em
Mt 6:19-20." - Lembro que Tiago fazia referência ao que Jesus disse em Mt 6.
Fontes: Dicionário da Bíblia, John D. Davis, JUERP, 1983, pg 225; Comentário
Bíblico Vida Nova, D. A. Carson, VidaNova, 2012, pg 2047.

B - Erros biológicos?

“4 - Assinale a alternativa correta.


[ ] O grão de trigo precisa morrer para germinar - (Afirmação Bíblica - João
12.24)
[ X ] O grão de trigo não precisa morrer para germinar - (Afirmação Científica)"

“Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não
morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.” João 12:24

Grande carência de conhecimento do contexto bíblico! Para o antigo hebreu a


palavra "morte" era, além de um evento real, uma figura simbólica, indicando
transformação e passagem. O "grão" tinha que morrer para si mesmo, ou seja,
deixar de ser grão, assim como o homem "morre" para si mesmo ao se converter a
Cristo: ele deixa de ser quem era antes.

“5 - Assinale a alternativa correta.


[ ] Coelhos são animais ruminantes -(Afirmação Bíblica - Levíticos 11.6)
[ X ] Coelhos não são animais ruminantes - (Afirmação Científica)”
“E a lebre, porque rumina, mas não tem as unhas fendidas; essa vos será
imunda.“ Levítico 11:6

Apenas há uns poucos séculos os seres vivos foram categorizados do modo como
hoje aprendemos nos livros de biologia, isso depois de extensas análises de
comportamento, de anatomia e até de genética. Mas o hebreu antigo, uns 1,5 mil
anos atrás, não tinha acesso a esse conhecimento recente - para ele a classificação
dos animais se dava por métodos diferentes que, segundo os critérios do período,
não caracterizavam erro, mas apenas análises diferentes, para nós peculiares: para
categorizar o coelho era levado em conta o comportamento daquela criatura que,
assim como a vaca, ficava mastigando o pasto por vários minutos sem abocanhar
nada do chão. Como o hebreu ainda não tinha criado coelhos em laboratório para
observação mais científica e, tampouco, aberto vários exemplares para estudar a sua
anatomia, o categorizou dessa forma. É errado? Aos nossos olhos sim, mas
funcionada dessa forma naqueles tempos. Lembro que a Bíblia foi escrita para o
entendimento cultural e histórico de todos os povos, de todos os cantos da Terra, de
todas as culturas e períodos – seria ineficaz divulgar um conhecimento somente
compreensível para a humanidade dos últimos séculos.

“6 - Assinale a alternativa correta.


[ ] Morcegos são aves - (Afirmação Bíblica - Levíticos 11.13-19)
[ X ] Morcegos são mamíferos - (Afirmação Científica)"

“Das aves, estas abominareis; não se comerão, serão abominação: a águia, e o


quebrantosso, e o xofrango,” (Levítico 11:13) “E a cegonha, a garça segundo a sua
espécie, e a poupa, e o morcego.” Levítico 11:19

Mais um pouco de desonestidade da parte do autor. Como já disse, o hebreu


antigo não detinha a mesma compreensão de biologia que o homem dos últimos
séculos. Ninguém sabia que morcegos mamavam e eram fecundados no útero! Para
o hebreu, "animais voadores" eram "aves" e qualquer criatura maior e voadora caía
nesse padrão. Era nada além de observação. A Bíblia não foi escrita como um livro
científico e nem só para o homem dos últimos séculos.

"Morcego - Tradução razoável da palavra 'atalef' (Lv 11:19; Dt 14:18),


especialmente se esta última passagem for considerada ao lado de Lv 11:20, que se
refere a 'insetos' que voam e se arrastam de quatro pés. Assim é que o morcego se
locomove em qualquer superfície plana." Fonte: Novo Dicionário da Bíblia, J. D. Douglas,
VidaNova, 2012, pg 897.
“7 - Assinale a alternativa correta.
[ ] Insetos têm 4 patas - (Afirmação Bíblica - Levíticos 11.20)
[ X ] Insetos têm 6 patas - (Afirmação Científica)”

“Todo o inseto que voa, que anda sobre quatro pés, será para vós uma
abominação.” Levítico 11:20

Para o hebreu antigo, qualquer ser que fizesse uso de mais de duas patas para
caminhar era encaixado na mesma categoria. Eles não eram burros para não ver que
insetos possuem mais do que 4 patas, na verdade, o termo usado é mais uma “força
de linguagem”, do que uma informação científica. Sobre essas questões mais
biológicas da Bíblia, farei uso do livro “Uma História Politicamente Incorreta da
Bíblia”, Roberto J. Hutchinson, Agir, 2012, pg 64:

“Entretanto, esses ‘erros’ são realmente apenas tentativas de impor uma


precisão científica a textos que nunca tiveram como pretensão ser lidos por esse
viés. A Bíblia usa a língua casual e imprecisa da vida cotidiana, e não a língua da
ciência empírica. (...) não dizemos, hoje, que alguém está ‘equivocado’ ou
‘mentindo’ se fala que o sol nasceu às seis da manhã (...) e isso também é válido
para as descrições bíblicas de plantas, animais e do mundo natural. O que a Bíblia faz
é transmitir amplas ideias morais e filosóficas, e não minúcias sobre zoologia. (...) a
palavra em hebraico para ‘ave’ (ohf) poderia, sem perigo, ser também traduzida para
‘coisa voadora’. (...) A expressão ‘andar com quatro pés’ é apenas um coloquialismo,
não tem cunho científico (...) Se no livro Levítico os coelhos são classificados como
ruminantes, hoje sabemos que eles pertencem, na verdade, à família dos leporídeos
coprófagos – ou seja, eles mastigam seus excrementos para digerir melhor sua
comida, mas o processo não se assemelha ao dos ruminantes. No entanto,
repetimos: essa era uma descrição popular, não científica.”

C - Erros geográficos?

“8 - Assinale a alternativa correta.


[ ] A Terra tem a forma de um disco - (Afirmação Bíblica - Isaias 40.22)
[ ] A Terra tem a forma de um quadrado (tem 4 cantos) - Afirmação Bíblica -
Ezequiel 7.2
[ X ] A Terra tem um formato quase esférico - Afirmação Científica“

“Ele é o que está assentado sobre o círculo da terra, cujos moradores são para
ele como gafanhotos; é ele o que estende os céus como cortina, e os desenrola
como tenda, para neles habitar” Isaías 40:22 | E tu, ó filho do homem, assim diz o
Senhor DEUS acerca da terra de Israel: Vem o fim, o fim vem sobre os quatro cantos
da terra.” Ezequiel 7:2

Levemos em conta, primeiramente, o princípio estabelecido no ponto anterior,


sobre a linguagem coloquial do texto bíblico, de modo que “quatro cantos” é mais
uma expressão popular do que científica. As orientações cardeais (Norte, Sul, Leste e
Oeste) fazem dessa expressão algo ainda usável em nossos dias. Sobre Isaías 40, o
engraçado é que, na verdade, temos uma alusão para uma Terra esférica:

- Isaías 40:22 - "Ele é o que está assentado sobre o círculo da terra, cujos
moradores são para ele como gafanhotos; é ele o que estende os céus como cortina,
e os desenrola como tenda, para neles habitar." A expressão "círculo" ou
"redondeza", em hebraico "chug", significa "globo".
- "Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens? E Satanás respondeu ao Senhor,
e disse: De rodear a terra, e passear por ela." Jó 1:7
Fonte: Perguntas que Sempre São Feitas , Werner Gitt, Actual, 2005, pg 62.

9 - Assinale a alternativa correta.


[ ] A Terra é fixa - sustentada por colunas - (Afirmação Bíblica - Jó 9.6)
[ X ] A Terra gira no espaço - (Afirmação Científica)"

“O que sacode a terra do seu lugar, e as suas colunas estremecem.” Jó 9:6

A Bíblia foi escrita para o entendimento dos antigos, de modo não caracteriza
erro usar de figuras do conhecimento popular. De qualquer forma, por “pilares da
Terra” podemos entender “rochas do solo” e, portanto, tal passagem pode referir-se
à atividade tectônica da Terra, que fazia “estremecer” o chão. No mais, há outro
versículo de Jó que fala justamente sobre a “afirmação científica”:

Jó 26:7 - "O norte estende sobre o vazio; e suspende a terra sobre o nada." Na
Antiguidade era comum acreditar que a Terra repousava sobre um oceano primitivo,
porém o texto de Jó nos informa a verdade de que a Terra, por alguma forma que o
próprio Jó desconhecia, flutuava por sobre um vazio.

“10 - Assinale a alternativa correta.


[ ] Todos os rios correm para o mar - (Afirmação Bíblica - Eclesiastes 1:7)
[ X ] O rio Okavango, na África, nasce na Namíbia e termina em um pântano, em
Botsuana sem ligação com nenhum mar ou oceano - (Afirmação Científica)”
“Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar não se enche; ao lugar para onde
os rios vão, para ali tornam eles a correr.” Eclesiastes 1:7

É estranho usar um dos trechos mais “científicos” da Bíblia contra a sua


cientificidade, uma vez que ele dá a entender algo sobre o ciclo da água: os antigos
geralmente não sabiam que a água que desaguava no mar voltava para seu local de
origem de alguma forma, mas Salomão parece saber disso ao observar a chuva.
Além disso, esse texto é poético, não científico! É claro que existem exceções e
Salomão sabia muito bem disso, já que o Rio Jordão, pertinho de seu palácio, nascia
do Mar da Galileia e morria no Mar Morto, sem tocar o Mar Mediterrâneo. Diante
de tal obviedade, é mais do que lógico que Salomão referia-se ao mais comum, ao
geral, não ao que era exceção – além de que, ele estava falando através de uma
linguagem poética!

Conclusão: o que a Bíblia não tem de científica, esses críticos têm de


desonestos! É muito simples resolver essas supostas “contradições”, mas sempre
tem que apelar pra má interpretação, exceções, detalhezinhos, censura, picote,
deturpação! Nem ao menos identificar o estilo literário, para facilitar o
entendimento, eles conseguem – tome como exemplo a linguagem poética, que não
é literal. No final das contas, a essência da Mensagem, que é espiritual, permanece
intacta!

EXISTEM ERROS NA BÍBLIA?

Aí aparece o cético apontando algum erro que encontrou na Bíblia e afirmando


que isso destrói totalmente a fé cristã. Tal cético está com a razão? Existem erros na
Bíblia? Se existirem, o que isso significa? Leia o breve estudo que segue e tire as suas
próprias conclusões.

Se a Bíblia provém de Deus, como pode conter erros? Para tal, precisamos
analisar duas esferas: a da mensagem principal, que provém da intervenção do
próprio Deus e se insere no fundamento do texto, e a forma do texto, produto do
homem, de sua cultura, de seu conhecimento, de suas limitações e, por fim, das
cópias ao longo dos anos. A Bíblia continua eficaz quando encontramos erros
somente no aspecto superficial, de modo que a mensagem principal permanece
intocada – e consolidada na sociedade Ocidental de tal modo que se pode
reconhecê-la independentemente de um erro de tradução atual.
Alguns erros comuns:

-Divergências numéricas: Os números são mais simbólicos do que literais para os


judeus, portanto, algumas variações numéricas sobre o mesmo evento em livros
diferentes da Bíblia podem ter raiz nisso –ou, diante de grandes números, tratarem-
se de especulações, pois não se podia, por exemplo, saber o número exato de
soldados no exército inimigo. Outra possibilidade está no esquecimento de um
“zero” ou algo assim da parte do copista. A divergência mais famosa está entre 1
Samuel 8:4 e 1 Crônicas 18:4 –no primeiro Davi matou 700, noutro, 7000.

-Divergências de perspectiva: Trata-se da variação do relato sobre o mesmo


evento da parte de autores diferentes, como o batismo de Cristo, narrado com
divergências entre os Evangelhos, dando ares de contradição, porém, quando isso
acontece, precisamos notar que cada autor presenciou e refletiu sobre o evento de
uma perspectiva diferente, preferindo ressaltar pontos específicos. Se juntarmos
todas as diferentes perspectivas, não teremos contradição, mas verdades que se
complementam.

-Contradição em relatos: Nesse caso não se trata de mera divergência de


perspectiva, mas, sim, de descarada e incompatível discrepância entre relatos do
mesmo evento. Um desses casos se lê nos textos de 1 Samuel 31:4 e 2 Samuel 1:4-
10: no primeiro relato vemos Saul cometendo suicídio, mas, no segundo, um
ganancioso indivíduo aparece afirmando para Davi que ele foi quem matou Saul. A
interpretação mais sóbria sobre esse texto está em entender a veracidade do
primeiro e um comportamento mentiroso no segundo.
-Diferenças textuais: Acontece quando vemos, por exemplo, Jesus falando
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”, em Mateus 5:6, e “Bem-
aventurados vós, que agora tendes fome”, em Lucas 6:21. A verdade é que o relato
depende do ponto de vista do autor, baseado em suas lembranças, seu
entendimento, os documentos utilizados como fonte ou o testemunho oral de quem
vivenciou o ocorrido, importando que a mensagem central se preservou –o relato
oral é variável, assim como o texto escrito, valendo lembrar, segundo a biografia de
Cristo, de Christiane Rancé, que a tradição oral, advinda de antes da formulação do
Cânon, procurava divulgar e preservar com exatidão as palavras originais de Cristo.

CAPITULO 4 - O texto da Bíblia é diferente do original?:


POSSO CONFIAR NO TEXTO BÍBLICO ATUAL?

Vamos começar com alguns fatos: o texto bíblico é muitíssimo antigo e já foi
copiado e traduzido inúmeras vezes. Desses pontos todos os entendedores devem
partir, cristãos ou não, defensores ou inimigos da fé. Ocorre que não é suficiente
apenas alegar antiguidade e quantidade de cópias e traduções para sustentar a
existência de erros ou uma configuração bíblica atual totalmente incompatível com o
texto original, embora seja apenas com base nessas duas premissas que os críticos
das Escrituras levantam as suas objeções ao texto bíblico. Eles se baseiam em
verdades inquestionáveis para disseminar deduções desprovidas de uma análise
séria dos materiais de estudo disponíveis sobre a questão, estão por fora do
desenvolvimento histórico da arte de preservar o texto escriturístico, aquém das
descobertas arqueológicas mais poderosas e distantes das melhores traduções. Com
base nas deficiências severas dos discursos que pregam a "inconfiabilidade do texto
bíblico" decidi escrever esse artigo, tomando informações já divulgadas nesse blog e
outras que detenho em minhas fontes. Tire as suas próprias conclusões.

1 - O Antigo Testamento
A - As bases do texto veterotestamentário:
- Parte do conteúdo do Antigo Testamento pode ter sido inicialmente transmitida
através o testemunho oral, porém isso não se aplica ao texto inteiro.
- Várias passagens bíblicas mostram que, desde o primeiro momento, trechos da
Escritura foram honrados e considerados detentores de autoridade (Êx 17:14-16 e
24:3-4 e 7).
- As tábuas dos 10 Mandamentos eram guardadas na Arca da Aliança (Êx 25:16,
21; Hb 9:4) e o livro da lei de Moisés era mantido no Tabernáculo, ao lado da Arca
(Dt 31:24-26).
- Moisés ordenou que os israelitas ensinassem as leis e os estatutos de Deus às
próximas gerações (Dt 4:9).
- A Lei de Moisés era confiada aos sacerdotes, que deveriam ensiná-las ao povo
(Dt 33:10). Os sacerdotes liam a Lei em voz alta publicamente a cada sete anos para
garantir que os israelitas se lembrassem dela (Dt 31:9-11).
- Os sacerdotes receberam ordens de não acrescentar ou retirar nada dos textos
recebidos por Moisés (Dt 4:2 e 12:32). Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento
falam da Lei de Moisés como algo à parte e revestida de autoridade (Js 23:6; 1 Rs
2:3; 1 Cr 22:13; Mc 10:5, 12:26; Lc 2:22 e 16:29 e 31).
Observação: a segurança do relato da Lei está no arquivar do texto original na
Arca da Aliança e no Tabernáculo - se alguém modificasse o texto original, haveria o
protegido material para contestar essas alterações. Em Israel a informação não
estava restrita aos sacerdotes, uma vez que "os pais eram responsáveis por
transmitir a Lei aos filhos" (o que também indica que os ensinavam a ler e a escrever
- os judeus tinham altos índices de alfabetização na época), a Lei era lida
publicamente a cada sete anos (se o texto lido apresentasse alterações, o próprio
povo teria condições de contestá-lo) e os sacerdotes mantinham o povo informado
sobre a Palavra de Deus. A Lei também afirmava que ninguém em Israel estava
acima dela, tornando as autoridades políticas e religiosas tão passíveis de
condenação quanto o povo comum, caso tentassem modificá-la. Vale ressaltar que
nos tempos do Antigo Testamento a disponibilidade de livros era escassa, fazendo
com que a transmissão comum do texto fosse passada oralmente ou decorada pelo
indivíduo quando honrado com a possibilidade de ler o documento, de modo que
muitos israelitas sabiam de cor livros inteiros do Antigo Testamento ou o próprio
Antigo Testamento, sendo capazes de corrigir as imperfeições relatadas
publicamente.
- Outro tipo de documento considerado inspirado no Antigo Testamento é o
"profético", que agrupa oráculos de figuras proeminentes da história do povo
hebreu que profetizaram em nome de Deus e que ganharam aceitação por advento
da realização de muitas de suas profecias (Is 30:8; Jr 25:13, 29:1; Ez 43:11; Dn 7:1; Hc
2:2). Os relatos históricos escritos por profetas também foram aceitos (1 Cr 29:29; 2
Cr 9:29, 12:15, 13:22 e 20:34).
- Daniel 9:2 apresenta a primeira menção a uma compilação de textos bíblicos,
dando a entender que Jeremias fazia parte de uma seção maior de obras revestidas
de autoridades, tidas como "os livros".
- Ao longo da redação do Antigo Testamento, muitos autores citaram os
escritores anteriores (2 Rs 14:6; 2 Cr 25:4 e 35:12; Ed 3:2 e 6:18; Ne 8:1).
- Ao longo da História de Israel os profetas tentaram assegurar o entendimento e
a prática correta dos princípios e ordenanças veterotestamentárias (Jr 7:25 e 25:4; Ez
38:17; Dn 9:6 e 10; Os 6:5 e 12:10).
- Há fortes evidências na tradição judaica e em outras fontes de que o povo
judeu acreditava que a voz profética tivesse cessado após a morte de Ageu, Zacarias
e Malaquias *, existindo a possibilidade de, por volta de 300 a.C., já se ter um cânon
do Antigo Testamento definido em todos os seus elementos fundamentais. *Toseftá,
Sotah 13:2; Talmude babilônico; Sotah 48b; Sanhedrin 11a e Baba Bathra 12a; Seder
Olam Rabbah 30; Talmude de Jerusalém; Taanith 2:1; 1 Macabeus 9:27; Baruque
85:3.
- Jesus aceitou a autoridade do cânon hebraico (Mt 5:17-18). A Igreja, que
brotou do povo judeu, manteve o mesmo cânon hebraico (Mt 23:34-35; Lc 11:50-
51), apenas acrescentando-lhe as obras do Novo Testamento.
B - Como o Antigo Testamento foi copiado?
- Os textos originais do Antigo Testamento provavelmente foram escritos em
pergaminhos de papiro ou de couro (Jr 36). Por terem sido vastamente utilizados, se
deterioraram e, depois de copiados, acabaram sendo enterrados de forma
reverente. Isso também ocorreu com as cópias. Algumas vezes os textos acabavam
sendo armazenados em um "lugar escondido", genizah, até atingirem o volume
suficiente para uma cerimônia de enterro ritual - um desses lugares foi encontrado
em uma antiga sinagoga no Cairo, por volta de 1890.
- Os primeiros responsáveis pela manutenção do texto veterotestamentário
foram os sacerdotes (ou um grupo especial dentre eles).
- Por volta de 500 a.C. a 100 d.C., surgiu o influente grupo de professores e
interpretes da lei, os escribas (soperim), que meticulosamente copiavam e
preservavam a forma mais exata do texto hebraico que pudessem confirmar.
Segundo o Talmude babilônico: "Os homens mais velhos se chamavam soperim
porque contavam todas as letras da Torá".
Atualmente se discute sobre a configuração do verdadeiro texto e o quanto ele
corresponde ao texto massorético. Vejamos algumas considerações:
- Evidências sugerem que de meados do terceiro século a.C. até alguns séculos
depois, vários textos do Antigo Testamento coexistiram, como o proto-TM (uma
forma primitiva do texto massorético hebraico), a Septuaginta e o Pentateuco
Samaritano. As cópias de antes do primeiro século mostram duas tendências por
parte dos escribas: alguns costumavam copiar o texto com exatidão, porém
revisando e atualizando alguns termos para o melhor entendimento do leitor, o que
não caracteriza "contradição", e outros alteravam intencionalmente os textos,
tratando de elementos que consideravam inadequados ou censuráveis, mas, ainda
assim, faziam questão de apontar com grande clareza onde e como fizeram tais
alterações.
- Um grupo de escribas era chamado de tannaim ("repetidores") e preservou as
Escrituras de 100 - 300 d.C. Tal grupo criou meticulosas regras para copiar os
pergaminhos das sinagogas: nenhuma palavra ou letra deveria ser escrita de
memória; se mais de três erros fossem cometidos em uma página, ela deveria ser
destruída. "Era uma prática comum em todo o Oriente Próximo antigo atualizar e
revisar textos."
- Após o primeiro século d.C. os escribas se dedicaram com uma precisão ainda
mais incrível na preservação da exatidão do Texto Sagrado. Manuscritos datados do
primeiro e do segundo século d.C. (por exemplo, de Massada, de Nahal Hever, do
wadi Murabba'at e de Nahal Se'elim), refletem o proto-TM com quase nenhuma
variação de ortografia ou conteúdo (prossegue o debate sobre como um texto tão
preciso foi produzido depois do Primeiro Século).
- Uma grande quantidade de manuscritos e citações rabínicas levam a crer que o
proto-TM foi o principal texto mantido pelo núcleo de autoridade do judaísmo, ao
mesmo tempo em que se distribuíam outras tradições textuais (a Septuaginta e o
Pentateuco Samaritano, por exemplo). Ao que tudo indica, o proto-TM passou a ser,
depois do Primeiro Século, a tradição textual dominante.

C - Lidando com os erros dos manuscritos do Antigo Testamento:


- Mesmo que o copista deseje produzir um texto fiel, erros podem se infiltrar no
processo de cópia: confusão de letras semelhantes, homofonia (substituição de
palavras e letras de som parecido), haplografia (omissão de uma letra ou palavra),
ditografia (duplicação de uma letra ou palavra), metátese (inversão na ordem de
duas letras ou palavras), fusão (unir duas palavras) e cisão (separar uma palavra). Na
verdade, grande parte desses erros podem ser solucionados com uma boa
interpretação baseada na compreensão geral do texto bíblico e de manuscritos
melhores.
- Existem edições modernas associadas ao Texto Massorético (TM), como a Bíblia
hebraica stuttgartensia (BHS) e a Bíblia hebraica quinta (BHQ), que seguem o Códice
leningradense (1008 d.C.) e o Projeto Bíblico da Universidade Hebraica, que segue o
Códice de Alepo (930 d.C.). O Códice leningradense é a cópia mais antiga do AT
completo do TM e o TM é a mais confiável das tradições textuais - quando os textos
dos massoretas foram comparados com os manuscritos de Qumran, mil anos mais
antigos, verificou-se que a sua precisão os superava.
- A crítica textual do Antigo Testamento abrange o exame das evidências
externas de várias fontes (por exemplo, os Manuscritos do Mar Morto, o Pentateuco
samaritano e os manuscritos medievais) e outras versões hebraicas (por exemplo, a
Septuaginta e a Vulgata Latina) para descobrir a variante original mais plausível do
texto. As evidências internas do texto são exaustivamente examinadas para verificar
se há alguma pista que ajude a identificar a redação original (por exemplo,
estruturas gramaticais e grafia comum). Às vezes achados de outras línguas semíticas
ajudam a ler e trabalhar com os textos mais complicados. Algumas diretrizes para se
alinhar com a possível redação original:
a - A redação com maior propensão de ser a fonte das demais; b - a redação mais
adequada ao seu contexto; c - o peso das evidências do manuscrito é avaliado para
descobrir se ele pode conter uma redação secundária ou uma glosa ("comentário ou
nota explicativa"). Somente uma pequena porção do texto hebraico possui leituras
questionáveis e, destas, apenas uma pequena parte faz uma diferença significativa
no sentido do relato.
- As principais fontes para a crítica textual do Antigo Testamento são:
a - O Códice leningradense, que é a cópia completa mais antiga do TM, datada
de 1008 d.C. A BHS e a BHQ seguem esse texto.
b - O Códice de alepo, que é a cópia mais antiga incompleta do TM, datada de
cerca de 930 d.C. O texto é muitíssimo semelhante ao Códice leningradense.
c - Os Manuscritos do Mar Morto, que constituem mais de duzentos manuscritos
bíblicos datados de 250 a.C. a 135 d.C. A maioria desses textos tem estreita
concordância com os trabalhos do proto-TM (35% dos manuscritos), confirmando a
precisão do TM.
- O leitor das traduções modernas do Antigo Testamento não precisa se
preocupar com as possíveis variantes textuais do texto, pois as equipes de tradução
das melhores obras, como a Versão Almeida século 21 e a NVI, indicaram todas as
variações significativas na própria página do texto. Se o leitor analisar essas
indicações, "verá que as variantes significativas causam impacto em muito menos de
1% das palavras do texto e mesmo entre esse 1% não existem variantes que
mudariam ponto algum de doutrina".

D - O número de manuscritos antigos do Velho Testamento:


Atualmente foram encontrados mais de 3 mil manuscritos hebraicos do Antigo
Testamento, 8 mil manuscritos da Vulgata latina, mais de 1500 manuscritos da
Septuaginta e mais de 65 mil cópias da Siríaca peshita.

Resumo: o Antigo Testamento possui conteúdo inteiramente confiável! Desde a


forma como o texto original foi preservado e divulgado, os métodos utilizados para a
cópia do relato original, a qualidade de algumas tradições textuais, até a quantidade
de manuscritos que atualmente dispomos, tudo aponta para um texto que, em
questão de doutrina, pode ser considerado em sua plenitude. O leitor pode
argumentar que a existência de muitas variações entre os manuscritos antigos
desqualifica o texto, mas, como vimos, existiram tradições textuais mais meticulosas
que as outras, responsáveis pela confecção de textos mais parecidos com os relatos
mais antigos - esses textos, portanto, devem receber uma atenção especial,
enquanto são reforçados pelas milhares de cópias inferiores. Texto original -> proto-
TM* -> tradições textuais diversas -> Texto Massorético* = o TM é dingo de maior
confiança (até porque é sustentando também pelos Manuscritos do Mar Morto).
Fonte: Origem, Confiabilidade e Significado da Bíblia, organizado por Wayne Grudem, C. John Collins
e Thomas R. Schreiner, Vida Nova, 2013, Capítulo 11 por Paul D. Wegner, pgs 101-110; observação sobre a
"transmissão oral" do livro "Em Defesa de Cristo", Lee Strobel, capítulo 2, Vida, 2001; O Jesus Fabricado,
Craig Evans, Cultura Cristã, 2009, pgs 34-37.

2 - O Novo Testamento
A - As bases do texto neotestamentário:
- Os textos que foram incluídos no Novo Testamento precisaram passar por um
rigoroso e crítico crivo de análises: autoria apostólica (direta ou indiretamente),
aceitação dos cristãos desde a sua primeira divulgação e concordância doutrinária
com demais relatos escriturísticos. Se a obra tivesse uma assinatura evidentemente
falsa, em discordância com a forma de escrita e o pensamento do autor falsamente
alegado, e se o seu conteúdo fosse histórica, teológica e doutrinariamente
incoerente, era sumariamente ignorada, acabando por circular apenas em um
restrito grupo ideológica e geograficamente distinto.
- Está bastante claro que os cristãos, desde muito antes dos concílios que
oficializaram o cânon do Novo Testamento (Laodiceia, Hipona e Cartago), já
entravam em consenso sobre os atuais 27 livros que constituem o Novo Testamento.
Se leitor desejar ler algo mais profundo sobre a formação dos cânons do Antigo
e do Novo Testamento, aconselho uma olhada nos seguintes artigos do EOMEAB:
Uma Análise dos Apócrifos, Parte 1: Os Deuterocanônicos (sobre o Antigo
Testamento); Uma Análise dos Apócrifos, Parte 2: Os Pseudepígrafos (sobre o Novo
Testamento); Como o Cânon das Escrituras foi Escolhido? (Bíblia em geral).

B - A credibilidade do Novo Testamento:


Existem dezenas de milhares de manuscritos antigos do Novo Testamento e
nenhum manuscrito é idêntico ao outro, o que levanta questionamentos quanto à
confiabilidade do Novo Testamento que atualmente nos é apresentado. Para isso
serve a crítica textual dessa documentação.
- Para atestar a confiabilidade do Novo Testamento e encontrar o texto mais
parecido com o original, devemos avaliar o número de manuscritos antigos do Novo
Testamento que possuímos (a), a idade dos manuscritos mais antigos (b) e verificar
as variações textuais dadas entre eles (c).
a - Há mais de 5700 manuscritos gregos do Novo Testamento, datando do século
2 ao 16 d.C. Mesmo que os primeiros, mais antigos, estejam bastante fragmentados,
podemos extrair deles uma grande quantidade do texto neotestamentário. Se
adicionarmos aos manuscritos antigos do Novo Testamento as traduções para o
latim, copta, sírio, armênio, georgiano, gótico e árabe, somaremos algo entre 20 e 25
mil cópias e, mesmo se todos esses manuscritos fossem destruídos, se poderia
retirar o Novo Testamento quase na íntegra das mais de um milhão de citações
neotestamentárias (catalogadas) feitas pelos Pais da Igreja em seus sermões,
tratados e comentários. A média de cópias dos escritos de autores gregos e latinos
antigos é inferior a vinte manuscritos - o Novo Testamento possui mil vezes mais do
que isso!
Mais sobre o número de manuscritos antigos da Bíblia no seguinte link: O
Número de Manuscritos da Bíblia.
b - Possuímos algo entre 10 e 15 manuscritos do Novo Testamento escritos nos
primeiros cem anos após a conclusão do texto original. Nenhum desses manuscritos
está completo, mas há alguns fragmentos grandes, que trazem muitos trechos dos
Evangelhos ou das cartas de Paulo, por exemplo. Em dois séculos, o número de
manuscritos chega possivelmente a mais de quarenta manuscritos; dos textos de
antes de 400 d.C. temos 99, o que inclui o Novo Testamento completo no Códice
sinaítico. A distância entre o manuscrito mais antigo que temos do Novo Testamento
e o relato original está em algumas décadas, enquanto a relação entre os
manuscritos mais antigos que possuímos dos autores clássicos e a data de confecção
do texto original está numa média de meio milênio.
Encontre mais informações sobre a idade dos manuscritos do Novo Testamento,
o que inclui fragmentos de algo entorno de 50 d.C., no seguinte artigo: A Idade dos
Manuscritos da Bíblia.
c - Existem cerca de 138 mil palavras no Novo Testamento grego e a melhor
estimativa é de que existam aproximadamente 400 mil variantes textuais entre os
manuscritos - logo, há, em média, três variantes para cada palavra do NT grego.
Ocorre que só existem tantas variantes porque existem milhares de manuscritos - só
temos tantas divergências entre os manuscritos gregos, as traduções antigas e os
comentários patrísticos, porque possuímos dezenas de milhares desses documentos.
Consideremos a quantidade de documentos como algo bom, não ruim, ainda mais
porque a absoluta maioria das variantes são apenas acidentes facilmente
identificáveis pelos críticos textuais.
Há quatro grupos de variantes textuais: 1 - o maior grupo abrange erros de
ortografia e de falta de sentido. A variante mais comum consiste no que é conhecido
como "nu" móvel. Trata-se de um "nu" (equivalente hebraico de "n"), colocado no
fim de certas palavras quando a seguinte começa por vogal - é o mesmo princípio
que diferencia o "são" de "santo". Os erros de falta de sentido se dão quando o
escriba escreveu uma palavra que não encontra sentido no contexto, geralmente por
fadiga, desatenção ou incompreensão - por exemplo: "éramos cavalos no meio de
vós" (hippoi, "cavalos", no lugar de epioi, "gentios", ou nepioi, "crianças pequenas"),
erro encontrado na passagem de 1 Tessalonicenses 2:7 de um posterior manuscrito.
2 - O segundo maior grupo se resume nas alterações de menor importância, que
incluem sinônimos e modificações que não afetam a tradução. Uma variante comum
é o uso do artigo definido como nome próprio (o grego pode dizer "o Barnabé",
enquanto as traduções para o português eliminam o artigo). Alguns manuscritos
trazem o artigo e outros não. Outra variante comum está na divergência na ordem
das palavras, mas como o grego é uma língua bastante flexionada, tal variante não
muda o significado do texto. 3 - Outra grande categoria é a das mudanças
significativas, mas inviáveis. Um exemplo dessa categoria está na frase "o evangelho
de Deus", 1 Tessalonicenses 2:9, presente nessa forma em quase todos os
manuscritos, mas discrepante num documento medieval, que fala do "evangelho de
Cristo" - é claro que tal variação é significativa, mas trata-se de algo inviável, pois é
improvável que um manuscrito medieval, tardio, seja mais fiel ao texto original do
que manuscritos mais numerosos e antigos. 4 - A menor das categorias abrange as
variantes que são significativas e viáveis. São significativas porque alteram, em certa
medida, o significado do texto - grande parte dessas variantes envolve apenas uma
palavra ou frase. Romanos 5:1, por exemplo, aparece em alguns manuscritos como
"temos paz", enquanto outros apresentam "tenhamos paz" - no grego a variação é
de apenas uma letra, mas na primeira Paulo fala sobre uma condição dos cristãos e,
na segunda, sobre um objetivo. Mesmo que essa variação seja importante, nenhuma
das possibilidades contradiz doutrina alguma da Bíblia e ambas as alternativas
apresentam algo teologicamente correto.
Existem duas grandes variantes textuais em todo o Novo Testamento, ambas
ocupando doze versículos: Marcos 16:9-20 e João 7:53-8:11. Os manuscritos mais
antigos e melhores não trazem esses versículos e tais passagens não se encaixam
muito bem com o estilo dos autores. Ocorre que as informações que esses textos
trazem não prejudicam o relato bíblico, se bem interpretados, e também não fariam
diferença se fossem omitidos - não há perda de verdades essenciais se os
excluirmos.
Nas traduções atuais as principais variantes não foram omitidas. Os textos da
NVI e da Almeia século XXI, por exemplo, trazem nas notas de rodapé as principais
alternativas às palavras duvidosas, que são devidamente indicadas. Os tradutores,
após extensos estudos, selecionaram as mais coerentes, mas fizeram questão de
deixar o leitor consciente das possibilidades (em alguns casos a variante é omitida,
pois os tradutores tinham plena certeza sobre a melhor alternativa). 99% das
palavras do Novo Testamento em português não necessitam dessas notas sobre as
variantes.
Fonte: Origem, Confiabilidade e Significado da Bíblia, organizado por Wayne Grudem, C. John Collins
e Thomas R. Schreiner, Vida Nova, 2013, Capítulo 12 por Daniel B. Wallace, pgs 111-118.

Se o leitor tomar as principais traduções da Bíblia em português e comparar os


textos verá que, mesmo tendo elas tomado diferentes manuscritos como fonte,
assemelham-se grandemente, sem nenhuma discrepância significativa de sentido e
doutrina.

"Reconstruir o original (...) [do] Novo Testamento [é fácil] - com uma precisão
acima de 99 por cento, com as incertezas restantes sendo insignificantes. (...)
Existem 5.300 manuscritos grego e porções, 10.000 da Vulgata Latina, e 9.300 de
outras versões. (...) [somando] mais de 24.000 porções de manuscritos (...) sendo
que os fragmentos mais antigos datam entre 50 e 300 anos após o manuscrito
original ter sido escrito. (...)
É essa abundância de material que tem permitido a estudiosos como Westcott e
Hort, Ezra Abbott, Philip Shaff, A. T. Robertson, Norman Geisler, e William Nix
colocarem a restauração do texto original com uma precisão acima de 99 por cento."
A estimativa de "variações circunstanciais" de Hort é de um décimo de 1 por centro,
e a de Abbot é de um quarto de 1 por cento - os números de Hort que incluem as
"variações triviais" ainda é inferior a dois por cento do texto.
"O número de manuscritos do Novo Testamento... é tão grande que é
praticamente certo que a leitura verdadeira de cada passagem duvidosa é
preservada em uma ou outra dessas autoridades antigas. Isto não pode ser dito de
nenhum outro livro do mundo." Sir Frederic Kenyon.
- A documentação do Novo Testamento é, pelo menos, 100 vezes mais confiável
do que o restante da literatura antiga.
Fonte: Os Fatos Sobre a Bíblia, John Ankerberg, John Weldon e Dilon Burroughs, Actual, 2011, pgs 23-
24.

"Aproximadamente um oitavo de todas as variações textuais [dos manuscritos


bíblicos] tem alguma importância, a maioria é apenas uma questão de mecanismos
de ortografia ou estilo, por exemplo. No total, apenas um sessenta avos pode não
ser considerado como 'trivialidade' ou pode ser entendida de alguma forma como
uma 'variação substancial'". Norman Geisler.
Fonte: Por Que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, Ultimato, 2008, pg 60.

3 - A cópia dos manuscritos na Idade Média:


Nós temos uma grande quantidade de documentos bíblicos anteriores à Idade
Média, de modo que a perpetuação das Escrituras nesse período, embora
imprescindível historicamente, não nos é essencial como fonte para a confecção de
traduções da Palavra. Mesmo assim parece-me interessante levantar algumas notas
sobre o trabalho dos monges copistas do medievo:
"Os monges consideravam que, quanto mais cópias fossem feitas de um mesmo
manuscrito, mais fácil seria possibilitar que alguma dessas cópias permanecesse";
"No século IX, com o reinício das invasões na Europa, temia-se a destruição dos
mosteiros e com isso a perda de muitos textos. Por isso, Beda, de Jarrow, insistia que
seus escribas escrevessem com maior rapidez, por temer os tempos vindouros";
"nos século VIII e IX quase todos os textos antigos existentes naquele momento
foram recopiados muitas vezes e, por isso, salvos"; "Nessa época, como muitas vezes
o texto copiado já era de uma cópia anterior, os monges tinham que ter cuidado e
procurar identificar emendas ou erros de ortografia cometidos pelos copistas
anteriores". Fonte: Monges Medievais, Ricardo da Costa, Eliane Ventorim e Orlando Paes Filho,
Planeta, 2004, pgs 29 e 33.
Maiores detalhes sobre a perpetuação do texto bíblico, bem como o nome de
alguns manuscritos, você pode encontrar nos seguintes artigos: A Preservação do
Texto Bíblico; A Idade dos Manuscritos da Bíblia.

4 - Curiosidades:
Os cristãos possuem dezenas de milhares de documentos antigos que podem ser
usados para verificar a exatidão do relato bíblico. Na sequência, alguns pontos da
história da produção textual bíblica e alguns dos seus manuscritos:
- Os massoretas: Entre 600 e 950 d.C., eruditos judeus, os massoretas,
inventaram um completo sistema de vogais e acentos para pontuar o texto bíblico,
além disso padronizaram o texto, incluindo leituras marginais e variações textuais.
Os mais antigos textos massoréticos são: o Códice do Cairo, 895 d.C., o Códice de
Alepo, 925 d.C., e o Códice de Leningrado, 1108 d.C.
- Os Manuscritos do Mar Morto Apresentam fragmentos de praticamente todos
os 39 livros do Antigo Testamento hebraico (com apenas uma exceção) e, em
especial, um rolo completo de Isaías.
- O Antigo Testamento de Qumran nos aproxima do original: Antes dos
achados, os mais antigos que dispúnhamos eram 1300 anos posteriores ao término
da redação do Antigo Testamento, agora teríamos uma variação de dois ou três
séculos. Nas cavernas de Qumran foi encontrado um rolo completo de Isaías do ano
125 a.C., 1000 anos mais antigo que o texto massorético, 916 d.C. Após análises
comparativas entre a preservação dos escribas massoretas e o texto de Qumran,
chegou-se a uma conclusão espantosa: a Bíblia hebraica e o manuscrito antigo são
95% idênticos, com pequenas variações nos outros 5%, por exemplo: das 166
palavras de Isaías 53, dezessete letras são duvidosas, sendo que dez delas são
diferenças de ortografia, quatro partem de variações de estilo e as outras três são o
acréscimo da palavra “luz” no verso onze, nada que altere o significado. Fonte: Por que
Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, Ultimato, 2008, pgs 48 e 49.
- Fontes da crítica textual do Novo Testamento: hoje existem mais de 75
fragmentos de papiro do NT, que datam do século II ao III d.C., e compreendem 40%
do texto do NT. O fragmento P52 data de 135 d.C. e contém partes de João 18:31-34
e 37-38; os P45, P46 e P47 pertencem aos Papiros de Chester Beatty I, II e III (200
d.C.); o P66, o famoso Papiro de Bodmer, apresenta o Evangelho de João e data de
aproximadamente 200 d.C.; o P75 pertence ao Papiro XIV-XV de Bodmer, contendo
João e Lucas, também datado de 200 d.C.; o fragmento de John Rylands contém
parte do Evangelho de João e data de 130 d.C. Existem cerca de 300 unciais (os
unciais são pergaminhos escritos com letras maiúsculas, utilizadas dessa forma nos
manuscritos do NT até por volta de 800 d.C.) e mais de dois mil seiscentos e
quarenta e sete minúsculos (textos que datam do século IX ao XVIII e apresentam
uma escrita cursiva ou corrente). Outra forma de literatura cristã é chamada de
"versão", escrita antes do ano 1000 d.C., e entre as versões mais valiosas estão: a
Antiga Latina (século II d.C.), a Vulgata (382-84 d.C.), a Siríaca (séculos IV e V d.C.), a
Copta (séculos II a IV), a Armênia (século V), a Antiga Georgiana (século V), e Etíope
e a Gótica (século IV). Temos também os lecionários, que eram livros usados no
ofício da Igreja, contendo lições das Escrituras - foram resgatados cerca de dois mil
documentos, que datam de 280-1600 d.C. Também temos óstracos, vinte e cinco, e
talismãs, nove, com trechos do NT, datando do século IV ao XIII d.C. Por fim, segundo
Unger, o Novo Testamento é citado cerca de 86 mil vezes pelos Pais da Igreja.
- Quais são os manuscritos mais antigos do Novo Testamento? Com 148 folhas,
o Códice Sinaítico, século IV, apresenta o NT completo; o Códice Alexandrino possui
a maior parte do AT e do NT e data do século V; o Códice Vaticano, século IV, contém
quase todo o AT e o NT - exceto Hb 9:14-13:25, as epístolas pastorais, Filemon e o
Apocalipse; o Códice Efraimita, do século V, contém 145 folhas de um total de 238
do NT; o Códice de Beza, século V, preservou todo o NT; o Papiro I de Chester Beatty,
do século III, contém 38 folhas do códice original de papiro dos evangelhos e de
Atos; o Papiro II de Chester Beatty, século III, contém 86 das 104 folhas originais do
códice de papiro das epístolas de Paulo; o Papiro III de Chester Beatty, século III,
possui 10 das 32 folhas originais do códice de papiro do Apocalipse; o Papiro II de
Bodmer, século III, possui 150 páginas de um códice de papiro do Evangelho de João;
o Papiro XIV-XV de Bodmer, século III, possui todas as 144 páginas dos evangelhos de
Lucas e João.
Fonte: Manual Bíblico Unger, Merrill Frederick Unger, Vida Nova, 2006, pgs 707, 714-716.

5 - "Erros" e "contradições" da Bíblia:


"(...) as obras dos Drs. John W. Haley,William Arndt, e Gleason Archer examinam
coletivamente mais de 1.000 supostos erros e contradições da Bíblia, e praticamente
todas são corretamente solucionadas por meio de atenção cuidadosa a detalhes
relevantes."
Fonte: Os Fatos Sobre a Bíblia, John Ankerberg, John Weldon e Dilon Burroughs, Actual, 2011, pg 37.

6 - Historicidade do relato bíblico:


- Há algumas décadas foram catalogados mais de "25.000 sítios do mundo bíblico
confirmados por achados arqueológicos".
- A obra de 17 volumes "Arqueologia, a Bíblia e Cristo", Dr. Clifford Wilson, ex-
diretor do Instituto Australiano de Arqueologia de Melbourne, traz mais de 5.000
fatos relacionados a arqueologia bíblica.
Fonte: Os Fatos Sobre a Bíblia, John Ankerberg, John Weldon e Dilon Burroughs, Actual, 2011, pgs 32
e 34.
7 - A confiabilidade profética da Bíblia:
- Existem 8.352 versículos preditivos na Bíblia, com 1.817 predições sobre 737
temas diferentes. "O número de predições messiânicas do qual podemos escolher é
imenso: os autores variam entre 73, mais de 125 e mais de 400 profecias." Peter
Stoner, Professor Emérito de Ciências no Westmont College, calculou a
probabilidade de um homem cumprir as oito principais profecias sobre o Messias,
recolhendo as estimativas em 12 salas diferentes e com um total de 600 alunos de
faculdade. Stoner encorajou céticos e cientistas a promoverem seus próprios
cálculos e estimativas e então submeteu os resultados a um comitê do American
Scientific Affiliation, que "verificou que seus cálculos foram precisos com relação ao
material científico apresentado". Resultado: a probabilidade mais conservadora de
um homem consumar todas as oito profecias foi de 1 em 1017- uma chance em 100
quadrilhões!
- Peter Stoner, noutro cálculo, tomou 48 profecias e chegou à probabilidade de 1
em 10157 das 48 profecias serem cumpridas por uma única pessoa. Conforme
demonstrado por Emile Borel e William Dembski, 1 "probabilidade" em 10157, na
realidade significa "chance nenhuma"! "A probabilidade é um zero absoluto".
Werner Gitt afirma que 3.268 versículos proféticos da bíblia já se cumpriram - quais
são as probabilidades de isso ter acontecido casualmente?!
Fonte: Os Fatos Sobre a Bíblia, John Ankerberg, John Weldon e Dilon Burroughs, Actual, 2011, pgs 47-
49; Perguntas que Sempre São Feitas, Werner Gitt, Actual, 2005, pg 33.

Conclusão: O que mais preciso falar? Diante de tantas evidências e fontes,


entendo que o leitor pode prosseguir nos estudos e, principalmente, tomar duas ou
três traduções da Bíblia em português, para verificar as notas sobre as variantes
textuais e comparar os relatos. O número de variantes não implica num texto
indigno de confiança!

AS FONTES DOCUMENTAIS DO NOVO TESTAMENTO

Há um ramo científico no estudo das Escrituras: a Crítica Textual. A Crítica Textual


da Bíblia começou como um recurso que os céticos pretendiam utilizar para provar a
falsidade da Palavra, mas sua iniciativa gerou uma força opositora massiva de
estudiosos extremamente bem graduados. Atualmente, a Crítica Textual tem
mostrado que o texto que hoje temos em mãos é basicamente o mesmo que fora
redigido pelos autores originais - especialmente no que se refere ao Novo
Testamento. Aprofundemos o assunto.

1 - O que é a Crítica Textual e sua origem:


A Crítica Textual procura estabelecer textos bíblicos que não contenham erros de
cópia e que encontrem a máxima proximidade dos autógrafos - uma vez que os
originais não mais estão disponíveis, os estudiosos que se envolvem nisso militam
em prol do preparo de novas edições do texto bíblico comparando centenas de
textos ou cópias antigas escritas à mão. E fontes textuais para tal trabalho não
faltam.

Além da análise dos manuscritos antigos disponíveis, os estudiosos da Crítica


Textual verificam os âmbitos linguísticos e literários dos documentos acessíveis,
objetivando determinar as intenções dos autores originais. Chama-se "exegese" a
busca pela circunstância e intenção do autor de determinado texto. Esse
entendimento é de grande relevância para o crítico que busca por um texto
fidedigno e para o leitor que estiver interessado em entender a Bíblia na sua
plenitude.

Orígenes, um dos Pais da Igreja, fez algo parecido com a Crítica Textual, já que é
o organizador da Héxapla, uma edição de seis textos do Antigo Testamento (o
original hebraico e várias traduções gregas) em colunas paralelas.
Fontes: A Bíblia e Sua História, Stephen M. Miller e Robert V. Huber, Sociedade
Bíblica do Brasil, 2006, pg 208.

2 - A importância do número de manuscritos:


Direcionemos o nosso estudo para a Crítica Textual do Novo Testamento. Como
já dito, não possuímos mais os manuscritos originais do texto neotestamentário, o
que nos faz depender de cópias e cópias das cópias - e temos muitas delas! Ao todo,
existem aproximadamente 24 mil manuscritos antigos do Novo Testamento (Por que
Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, Ultimato, 2008, pg 43), o que nos coloca diante
de centenas de milhares de variantes textuais entre os documentos. Como saber a
forma do texto original, se existem mais variantes entre as cópias do que o total de
palavras do Novo Testamento? Aí que está a questão: o elevado número de
documentos antigos faz com que o Novo Testamento tenha muito mais apoio do que
qualquer outro livro da Antiguidade.

A verdade é que quase a totalidade das variantes entre os manuscritos diz


respeito a questões de pouca ou nenhuma importância. Geralmente correspondem
a alterações na ordem das palavras numa frase, no uso de diferentes preposições,
conjunções e partículas, nas preposições que acompanham verbos, ou meras
modificações de natureza puramente gramatical - apenas a milésima parte do Novo
Testamento, há mais de um século, ainda não estava assegurada pela crítica; mais
atualmente, F. F. Bruce afirmou que as poucas variantes que subsistem não afetam
nenhum ponto importante, seja histórico, questão de fé ou de prática.

Como é possível usar da Crítica Textual para solucionar as variantes? Existem


manuscritos muito antigos e de melhor qualidade. O Novo Testamento estava
completo já por volta do ano 100 (e a maioria dos livros já existia há 20 ou 50 anos)
e as melhores cópias que dispomos são do século IV (embora existam manuscritos
do século II e fragmentos até de meados do século I) - uma distância muito pequena,
se comparada ao espaço de tempo que está entre a redação e a cópia mais antiga
dos demais documentos da Antiguidade, cuja distância geralmente fica em 1,5 mil
anos. Assim, tomando os documentos mais antigos, considerando os melhores e
analisando, por exemplo, os 5,5 mil manuscritos gregos inteiros e fragmentados e os
quase 13 mil manuscritos das versões, é possível verificar qual é a construção mais
adequada para cada frase do texto neotestamentário. Por comparação entre os
documentos, não resta dúvida sobre quase nenhuma palavra.

3 - O que aconteceu com os manuscritos originais do Novo Testamento?


Escritos em papiro, que não é mais durável que o papel, nenhum documento
neotestamentário original sobreviveu. A produção de um manuscrito exigia recursos
e um preparo especial, fazendo com que as redações dos apóstolos e evangelistas
fossem lidas e relidas incontáveis vezes pelos primeiros cristãos, até se desfazerem
por completo - é claro que, antes de se perderem, elas foram devidamente copiadas.
Além disso, devemos considerar as perseguições que recaíram sobre os cristãos no
início da Era Cristã, responsáveis pela destruição de muitos documentos - e esse
pode ter sido um dos destinos para alguns dos autógrafos do Novo Testamento.

4 - Fontes documentais:
O principal recurso da Crítica Textual é o manuscrito antigo. O bom andamento
dessa ciência depende de um bom número de manuscritos antigos de qualidade.
Segue a lista dos principais:

a - Manuscritos:

Papiros:
Foram catalogados, até agora, 96 papiros. Exceto 1 e 2 Timóteo, todos os livros
do Novo Testamento aparecem nos papiros, mesmo que a maioria não se veja em
sua totalidade. Os mais antigos manuscritos neotestamentários conhecidos estão
nessa categoria. Vejamos os principais:

- Papiro de Chester Beatty I: consiste em 30 folhas de um códice que continha os


quatro evangelhos e Atos - teria, então, 220 folhas. O documento data do século III.

- Papiro de Chester Beatty II: são 86 folhas de um códice das epístolas de Paulo,
contendo, originalmente, 104 folhas. Faltam as epístolas pastorais. Sua data está
entre o final do século II e o início do século III.

- Papiro Chester Beatty III: consiste em 10 folhas de um códice do Apocalipse -


originalmente possuía cerca de 32. É do século III.

- Papiro Rylands 457: tal papiro apresenta parte de João 8:31 a 33 e dos
versículos 37 e 38. Sua forma de escrita o coloca no início do século II (cerca de 130
d.C.). Henry Guppy, com algum exagero, disse que tal documento deve ter sido
escrito "quando a tinta do autógrafo original mal estava seca'.

- Papiro Bodmer II: abrange todo o evangelho de João, especialmente os


capítulos 1 a 14, que ocupam 104 folhas com poucas lacunas - os capítulos 15 a 21,
originalmente em 46 folhas, estão muito deteriorados. Foi escrito no final do século
II ou no início do século III.

- Papiros Bodmer VII e VIII: preserva o mais antigo texto de 1 e 2 Pedro e Judas,
além de outros textos relevantes. Remete ao século III ou IV.

- Papiros Bodmer XIV e XV: restaram 102 folhas de um total de 144. Apresenta a
maior parte de Lucas e uma boa parte de João, além de pressupor um cânon dos
quatro evangelhos. É do século III.

Unciais:
São chamados de unciais os manuscritos que começaram a ser preparados em
pergaminho quando o papiro caiu em desuso. O número de unciais catalogados está
em 299, indo até o século XI, cobrindo cerca de sete séculos. Vejamos os mais
importantes:
- Códice Sinaítico: o manuscrito contém 347 folhas com boa parte do Antigo
Testamento e a totalidade do Novo Testamento. Remete ao século IV.

- Códice Alexandrino: consiste em 773 folhas, contendo quase todo o Antigo


Testamento e o Novo Testamento. Data do início do século V.

- Códice Vaticano: trata-se de um manuscrito de excelente qualidade. Consiste


em 759 folhas de um códice que tinha, originalmente, 820. Apresenta quase todo o
Antigo Testamento e a maior parte do Novo - faltam Hebreus 9:15 a 13:25, 1 e 2
Timóteo, Tito, Filemon e Apocalipse, que podem ter formado cadernos adicionais,
embora desaparecidos. Foi escrito no início do século IV, mas apresenta uma forma
de texto que deve ter circulado no Egito antes do ano 200.

- Códice Efraimita: continha originalmente toda a Bíblia, tendo sobrado apenas


64 folhas do AT e 145 do NT - todos os livros neotestamentários estão nele
representados, com exceção de 2 Tessalonicenses e 2 João. Foi redigido no século V.

- Códice Beza: é o mais antigo códice bilíngue do NT (grego e latino).


Originalmente continha entorno de 510 folhas, sobrando atualmente 406. Foi escrito
no final do século V ou no início do século VI.

- Códice Claromontano: outro manuscrito bilíngue. Contém 533 folhas muito


bem escritas. Foi redigido no século VI.

- Códice Laudiano: trata-se de um manuscrito bilíngue de Atos contendo 227


folhas. Foi escrito, provavelmente, no final do século VI.

- Códice Washingtoniano: compreende 187 folhas dos quatro evangelhos. Foi


escrito no século V.

- Códice Korideto: é um manuscrito dos evangelhos do século IX, contendo 249


folhas. O texto de Marcos reflete um documento muito antigo, bastante semelhante
ao utilizado em Cesaréia por Orígenes e Eusébio, nos séculos III e IV.

Minúsculos:
São os manuscritos de escrita minúscula preparados do século IX ao XVI. A maior
parte está em pergaminho. Até hoje foram catalogados 2.812 minúsculos. Não
possuem muito valor crítico, pois são todos medievais.
- Família Lake: os manuscritos desse grupo foram escritos nos século XII e XIV.
Uma análise do evangelho de Marcos mostrou que o texto preservado nesses
manuscritos geralmente concorda com o Códice Korieto, parecendo vir de um texto
corrente nos séculos III e IV.

- Família Ferrar: os manuscritos desse grupo foram escritos entre os séculos XI e


XIII. Essa família apresenta afinidades com o tipo de texto que circulava em Cesaréia
nos tempos de Orígenes e Eusébio.

- 33: foi escrito no século IX e apresenta grandes similaridades com o Códice


Vaticano.

- 565: trata-se de um manuscrito dos evangelhos escrito no século IX.

- 1739: trata-se de um manuscrito de Atos e das epístolas, contendo


originalmente todo o Novo Testamento. Foi escrito no século X. O escriba utilizou
como base textos do século IV, material utilizado por Orígenes e um antiquíssimo
texto que circulava em Alexandria no final do século II.

- 2053: escrito no século XIII, contém Apocalipse.

Lecionários:
Os lecionários são documentos de uso litúrgico, para acompanhar os cultos e as
datas especiais. Até o momento foram catalogados 2.281 lecionários - eles
começaram a surgir entre o final do século III e o início do século IV, mesmo que o
mais antigo fragmento deles seja do século V. De um quarto a um terço dos
lecionários conhecidos são de Atos e das epístolas; perto de uma centena combina
Atos, os evangelhos e as epístolas; e todos os demais são dos evangelhos.

Óstracos:
Os óstracos são pequenas porções de texto escritas em restos de cerâmica. São
conhecidos 25 óstracos do Novo Testamento. Eles não possuem muito valor para a
Crítica Textual.

Talismãs:
São objetos em madeira, cerâmica, papiro ou pergaminho, e se destinavam a
servir de proteção contra o mal. Existem 9 talismãs do Novo Testamento, datados do
século IV ao XIII. Possuem pouco valor para a Crítica Textual.
b - Antigas versões:
Depois dos manuscritos gregos, as mais importantes fontes para a Crítica Textual
são as antigas versões, ou seja, as primeiras traduções. As versões começaram a
aparecer por volta de meados do século II. As mais antigas são a Siríaca, a Latina e a
Copta. Embora os mais antigos manuscritos das versões não ultrapassem o início do
século IV, ou o final do século III, elas evidenciam um estágio de desenvolvimento
não posterior ao final do século II.

Segundo a minha fonte, "as primeiras versões permitem-nos retroceder a uma


forma do NT que, do ponto de vista cronológico, aproxima-se quase como nenhuma
outra do texto original e possibilitam conclusões seguras a respeito do texto grego
que se achava em uso nos lugares onde foram feitas."

Siríaca:
As primeiras traduções do grego provavelmente foram feitas para essa língua,
isso já por volta do ano 150. São cinco traduções siríacas principais:

- Siríaca Sinaítica: tal tradução remonta meados do século II e se encontra em


dois manuscritos dos evangelhos. O primeiro deles é do século IV.

- Siríaca Curetoniana: o outro manuscrito, também escrito no século IV.

- Siríaca Peshita: aparece em mais de 350 manuscritos, muitos remontando ao


século V ou início do século VI. A tradução foi preparada no século V. Contem todo o
NT, menoes 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.

- Siríaca Palestinense: a data da tradução é questionável, mas geralmente se


sugere o século V. Seus documentos mais importantes datam dos séculos XI e XII,
contendo os evangelhos, partes de Atos e das epístolas paulinas.

- Siríaca Filoxeniana: foi preparada nos anos de 507 e 508. Soi conhecidos dois
manuscritos, contendo 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse.

- Siríaca Heracleana: ela é conhecida mediante cerca de 50 manuscritos, datados


a partir do século VIII. Foi preparada em 616 d.C.

Latina:
Existem duas versões latinas: a Antiga Latina, englobando as traduções feitas até
o século IV, e a Vulgata Latina, preparada por Jerônimo entre 383 e 405 d.C.
Evidências indicam que as versões latinas começaram a surgir no século II. Até hoje
foram catalogados cerca de 70 manuscritos da Antiga Latina - nenhum, porém,
apresenta o NT completo. Eles cobrem um período que vai do século IV ao século
XIII. Da Vulgata existem cerca de 10.000 manuscritos, sendo o mais antigo do século
V - podendo ter sido copiado quando Jerônimo ainda vivia. O melhor manuscrito
antigo da Vulgata é o Códice Amiatino, do século VIII.

- Códice Palatino: data do século V e contém os quatro evangelhos.

- Códice Fleury: data do século V. Possui uma quarta parte de Atos, porções das
epístolas católicas e o Apocalipse.

- Códice Bobiense: escrito no final do século IV ou no início do século V.


Apresenta sinais que indicam ter sido cópia de um manuscrito do século II. O
documento consiste em 96 folhas com partes de Mateus e Marcos.

- Códice Varcelense: foi escrito no século IV. Segundo uma tradição, ele foi
copiado por Eusébio, bispo de Vercelli, martirizado em 370 ou 371. Contém os
evangelhos.

- Códice Veronense: data do século V e contém os quatro evangelhos.

- Códice Beza: foi escrito no século V e contém os evangelhos e Atos.

Copta:
As traduções do Novo Testamento para o copta começaram no século III.

- Copta Saídica: é conhecida através de manuscritos completos e fragmentos


datados do século IV em diante, compreendendo quase todo o NT. A tradução data
do início do século III.

- Copta Boaírica: tal tradução foi feita no século IV e é testemunhada por cerca
de 100 manuscritos, sendo um do próprio século IV.

- Copta Fiúmica: há poucos manuscritos dessa versão e um dos mais antigos data
do século IV, contendo João 6:11 a 15:11.

- Copta Acmímica: um dos mais antigos dessa versão é datado entre 350 e 375
d.C., contendo o evangelho de João.
Outras versões:
Há diversas outras versões antigas do NT, como a Gótica, a Armênia, a Etíope, a
Geórgica, a Nubiana, a Arábica e a Eslava. A maioria dessas versões não foi traduzida
do grego, com exceção da Gótica, do século IV.

c - Citações patrísticas:
O Novo Testamento também foi preservado nas diversas citações dos Pais da
Igreja, feitas em seus sermões, comentários, cartas e outros trabalhos. A maior parte
delas está entre os séculos IV e V. É possível reconstruir praticamente todo o Novo
Testamento só com essas citações - só com Orígenes isso quase é possível. Justino
Mártir citou o NT 387 vezes; Irineu, 1.819 vezes; Clemente de Alexandria, 2.406
vezes; e Orígenes, 17.922 vezes. Alguns dos Pais da Igreja (e inimigos dela) mais
importantes para a Crítica Textual são:

- Agostinho (354-430);
- Ambrósio (337-397);
- Atanásio (295-373);
- Basílio (330-379);
- Cipriano (200-258);
- Cirilo (370-444);
- Cirilo (315-386);
- Clemente (155-215);
- Eusébio (265-339);
- Gregório (330-394);
- Hipólito (170-235);
- Irineu (140-202);
- Jerônimo (340-420);
- João (345-407);
- Justino (100-165);
- Marcião (90-160);
- Orígenes (185-254);
- Taciano (110-172);
- Teodoro (350-428);
- Tertuliano (150-220).

Fonte: Crítica Textual do Novo Testamento, Wilson Paroschi, Vida Nova, 2008, pgs 15-21 e 43-73.

Conclusão:
Diante dessa fartura de documentos, considerando a sua antiguidade, a
qualidade de muitos, a abrangência de alguns e a quantidade, somando isso às
versões e às citações patrísticas, fica difícil sustentar a ideia de que perdemos
completamente a redação conforme nos foi deixada pelos apóstolos e evangelistas.
O texto dos autógrafos está preservado nesses manuscritos e é possível identificá-lo
com grande grau de segurança através de comparações e outros métodos da Crítica
Textual. Com base em coisas assim, é que hoje se pode desferir uma declaração tão
poderosa quanto a sequinte:

"Assim, depois dos quase 500 anos do texto impresso e das mais de mil edições
já surgidas desde Erasmo, além das centenas de outros estudos técnicos, a crítica
textual do NT chegou a um estágio tal de desenvolvimento que a concordância entre
os estudiosos quanto ao texto crítico moderno é espantosamente grande, ao passo
que ao número de variantes ainda contestadas é por demais reduzido. E, mesmo
que uma nova edição venha a divergir em alguns pormenores do texto que é hoje
geralmente aceito, as descobertas e pesquisas mais recentes mostram que nosso NT
grego 'deve estar muito próximo do texto primitivo dos escritos do NT, que foram
introduzidos no cânon'. O Texto Recebido é um caso completamente encerrado." Tal
dizer se encontra depois de um resumo da história da produção da Bíblia impressa e
suas versões.

Fonte: Crítica Textual do Novo Testamento, Wilson Paroschi, Vida Nova, 2008, pg 139.

CAPITULO 5 - O Novo Testamento foi escrito tardiamente?:

A IDADE DOS MANUSCRITOS DA BÍBLIA

É comum vermos os críticos da Palavra afirmarem que o texto bíblico de hoje é


extremamente diferente dos documentos originais, uma vez que a diferença de
tempo do término da Bíblia até os nossos dias é de aproximadamente 2 mil anos.
Será que o texto bíblico foi realmente tão alterado? Leia o estudo que segue e tire as
suas próprias conclusões.
Com base na Bíblia de Estudo Anotada Expandida, Charles C. Ryrie, Mundo
Cristão, 2007, pg 1307, temos uma noção da tamanha preservação do texto do Novo
Testamento: o estudo intensivo de mais de 2700 manuscritos do Novo Testamento
grego, datados do segundo século da Era Cristã em diante, mostra-nos que o Novo
Testamento no século XXI é estreitamente parecido com o dos primeiros cristãos.
As cópias do Novo Testamento que dispomos hoje são do séc. IV, mas, com base
em 5000 mil manuscritos neotestamentários, os paleógrafos desenvolveram um
rigoroso trabalho de reconstrução do Novo Testamento que era lido no séc. II,
possibilitando a análise da veracidade das versões do Novo Testamento que hoje
temos com base nos livros neotestamentários dos nossos mais antigos fiéis. Fonte:
Jesus, Christiane Rancé, L&PM Pocket, 2012, pg 22.
Os rolos do Antigo Testamento encontrados entre os Manuscritos do Mar Morto
nos aproximam do texto original: antes dos achados, os mais antigos que
dispúnhamos eram 1300 anos posteriores ao término da redação do Antigo
Testamento, agora teríamos uma variação de dois ou três séculos. Nas cavernas de
Qumran foi encontrado um rolo completo de Isaías do ano 125 a.C., 1000 anos mais
antigo que o texto massorético, 916 d.C. Após análises comparativas entre a
preservação dos escribas massoretas e o texto de Qumran, chegou-se a uma
conclusão espantosa: a Bíblia hebraica e o manuscrito antigo são 95% idênticos, com
pequenas variações nos outros 5%, por exemplo: das 166 palavras de Isaías 53,
dezessete letras são duvidosas, sendo que dez delas são diferenças de ortografia,
quatro partem de variações de estilo e as outras três são o acréscimo da palavra
“luz” no verso onze, nada que altere o significado. Fonte: Por que Confiar na Bíblia?, Amy
Orr-Ewing, Ultimato, 2008, pgs 48 e 49.
A página 11 do livro Por que Acreditar na Bíblia, de John Blanchard, Edit. Fiel,
edição virtual autorizada, além de levantar a mesma questão das 166 palavras e
somente 3 letras em desacordo, compara com textos de outros livros da literatura
antiga: o Mahabharata, épico nacional da Índia, possui entorno de 10% de suas
linhas corrompidas, e a Ilíada, de Homero, possui vinte vezes mais passagens
duvidosas entre suas cópias antigas e atuais do que a Bíblia.
O número de manuscritos não é o único fator de credibilidade bíblica: podemos
analisar a idade dos mais antigos. Atualmente temos 77 fragmentos de manuscritos
do Novo Testamento, segundo a página 1307 da Bíblia de Estudo Anotada
Expandida, Charles C. Ryrie, 2007, Mundo Cristão, e um deles, do Evangelho de João,
encontrado no Egito, pode ser datado de 125 d.C. –e, como já estava em circulação,
o Evangelho teria sido escrito algumas décadas antes.
Alguns fragmentos do Novo Testamento foram encontrados em Qumran,
abandonada e selada em 70 d.C. No complexo de cavernas, a Caverna 7 é a mais
surpreendente: o Fragmento 7Q6, de 50 d.C., pode ser de Marcos 4:28; o Fragmento
7Q15 pode referir-se a Marcos 6:48; o 7Q5, 50 d.C., a Marcos 6:52-53; o 7Q7, 50
d.C., a Marcos 12:17; o 7Q6, 60 d.C., a Atos 27:38; o 7Q9, +70 d.C., a Romanos 5:11-
12; o 7Q4, +70 d.C., a 1 Timóteo 3:16 e 4:1-3; o 7Q10, +70 d.C., a 2 Pedro 1:15; o
7Q8, +70 d.C., a Tiago 1:23-24. Fonte: Por que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, Ultimato, 2008,
pgs 49. Essas evidências nos levam para o período das testemunhas oculares de
Cristo!
Do livro Origem, Confiabilidade e Significado da Bíblia, Wayne Grudem, C. John
Collins e Thomas R. Schreiner, Edit. VidaNova, 2013, pg 113: entre dez e quinze
manuscritos disponíveis hoje foram escritos nos primeiros cem anos após concluído
o Novo Testamento, cerca de quarenta são de até dois séculos depois dos originais e
99 são de antes de 400 d.C., entre eles está o Códice Sinaítico, que contém o Novo
Testamento completo – entre os autores clássicos a média de tempo entre o texto
original e a cópia mais antiga geralmente é maior do que meio milênio.

Em comparação com outros documentos antigos já citados, a proximidade da


cópia com o original é assombrosa! O manuscrito mais importante da Bíblia é cerca
de 300 anos mais novo que o texto original, outros dois papiros datam de
aproximadamente 100 anos do original e o famoso Fragmento de John Rylands
parece ser de 117-138 d.C. É pouquíssimo tempo quando levamos em conta outros
textos antigos: a História Romana, de Livy, tem apenas uma cópia que se aproxima
menos de 400 anos do original; o lapso entre a cópia e o original da obra de Plínio, o
Jovem, é de 750 anos; de Tácito não há nada 900 anos mais novo que o original; o
manuscrito mais velho que temos da Guerra Gaulesa, de César, é 1000 anos mais
novo que o de seu autor. Ainda assim, não se questiona boa parte do conteúdo
desses documentos! Fonte: Por que Acreditar na Bíblia, John Blanchard, pg 9.
COMO O NOVO TESTAMENTO FOI ESCRITO?

Um dos tópicos de interesse para se entender a autoridade das Escrituras está


no modo como elas foram escritas - um assunto desconhecido pela maioria. Segue
um breve estudo sobre a confecção do Novo Testamento - tire as suas próprias
conclusões.

As fontes básicas do Novo Testamento são: testemunho ocular –do


autor e entrevistados-, tradição oral, alguns documentos guardando dizeres e ações
de Cristo (como as fontes “Q”, “M” e “L”) e alguns dos próprios livros do Novo
Testamento.
Sobre a tradição oral: antes da redação do Novo Testamento, os cristãos
transmitiam com exatidão os fatos acerca de Cristo, buscando preservar o melhor
possível da Verdade recebida. Mediante as heresias e o envelhecimento dos
Apóstolos, tornou-se necessário registrar por escrito o que Jesus disse e fez. No livro
Jesus, Christiane Rancé, L&PM Pocket, 2012, pg 24, temos uma breve colocação
sobre a transmissão oral: “era conveniente fixar as informações pertencentes a uma
tradição oral transmitida com rigor”.
- Fonte “Q”: uma das bases do texto de Mateus e Lucas, esclarecendo sobre as
semelhanças entre os dois evangelhos naquilo que não aparece no de Marcos.
Parece um documento registrando os ditos de Jesus, coisa que Marcos, voltado mais
ao que Jesus fez, não possuía em abundância. Deveria ser um original aramaico –
língua comum da Palestina-, mas da parte dos cristãos helenistas –influenciados pela
cultura grega. Fonte: Merece Confiança o Novo Testamento?, F. F. Bruce, Vida Nova, 2010, cap. 4, pgs
50 e 53.
- Fonte “M”: documento que explicaria aquilo que o texto de Mateus tem de
diferente de Marcos e Lucas, sendo uma coletânea de ditos de Jesus preservada pela
conservadora comunidade judaico-cristã de Jerusalém. Fonte: Merece Confiança o Novo
Testamento?, F. F. Bruce, Vida Nova, 2010, cap. 4, pg 53.
- Fonte “L”: documento que esclarece sobre aquilo que Luca tem de diferente de
Mateus e Marcos. Tais fontes são parábolas e narrativas próprias, tiradas de suas
andanças pelo Mediterrâneo. Fonte: Merece Confiança o Novo Testamento?, F. F. Bruce, Vida
Nova, 2010, cap. 4, pg 55.
- Evangelho de Marcos: considerado o Evangelho mais antigo, foi escrito por
João Marcos por volta de 50-60 d.C. O relato bíblico e da tradição nos informa que
Marcos era amigo íntimo do Apóstolo Pedro e acompanhou Paulo e Barnabé em sua
Primeira Viagem Missionária. Marcos, segundo o que se lê em História Eclesiástica
(III.39), de Eusébio, ao referir-se aos estudos de Papias, nos informa que o texto em
questão brotou essencialmente da redação daquilo que o Apóstolo Pedro dizia e
conforme Marcos considerava necessário durante suas viagens com o Grande
Discípulo, o que tem constatação bíblica, com narrativas em primeira pessoa e
detalhes oculares que só Pedro poderia transmitir. Ao que parece, Marcos tentou
incluir-se na história em Marcos 14:51, sendo o jovem que escapou na noite da
captura de Cristo, de modo que ele, andando com o Messias, podia também basear-
se em suas próprias lembranças – Marcos teve contato com todos os apóstolos,
incluindo os evangelistas João e Mateus, além de, muito provavelmente, o outro
evangelista, Lucas. Marcos fora escrito para o público romano. Fonte: Merece Confiança o
Novo Testamento?, F. F. Bruce, Vida Nova, 2010, cap. 4, pgs 45-54.

- Mateus e Lucas com base em Marcos: ao que parece, por Marcos ter escrito
seu evangelho antes, Mateus e Lucas tomaram como fonte, além da “Q” e “M”, o
evangelho em questão: a essência de 606 dos 661 versículos de Marcos reaparece
em Mateus e 380 em Lucas. Dos 1068 versículos de Mateus, aproximadamente 500
possuem o mesmo conteúdo de Marcos; dos 1149 de Lucas, cerca de 380 reforçam o
que lemos em Marcos. Há somente 31 versículos de Marcos que não aparecem em
Mateus e Lucas. Há 250 versículos de material em comum entre Mateus e Lucas,
porém inexistente em Marcos; 300 versículos exclusivos de Mateus e 520 exclusivos
de Lucas. Fonte: Merece Confiança o Novo Testamento?, F. F. Bruce, Vida Nova, 2010, cap. 4, pgs 41 e
42.

- Evangelho de Mateus: discípulo de Cristo, escreveu entre 50 e 60 d.C. Baseou-


se em suas memórias, no contato com os demais apóstolos, no Evangelho de
Marcos, na tradição oral e nas fontes “Q” e “M”. O público alvo é judaico. Fonte:
Merece Confiança o Novo Testamento?, F. F. Bruce, Vida Nova, 2010, cap. 4, pg 50-54.

- Evangelho de Lucas: segundo a tradição, Lucas era de Antioquia, centro a


primeira igreja gentílica, o que pode tê-lo influenciado, seu evangelho foi escrito por
volta de 60 d.C.. Como Pedro visitou tal igreja, Lucas pode tê-lo conhecido. Lucas
também conheceu o apóstolo Paulo, com quem passou duas semanas em Jerusalém
por volta de 35 d.C. (Gálatas 1:18), de modo que Lucas usufruiu a sabedoria paulina
e Paulo pôde ter acesso a seus estudos sobre Cristo. Também sabemos que Lucas se
encontrou com Tiago, irmão de Jesus, pelo menos uma vez. Lucas, Paulo e Marcos se
encontraram por volta de 60 d.C. em Roma (Colossenses 4:10, 14; Filemom 24).
Parece, ainda, que Lucas tomou uso do Evangelho de Mateus. Lucas escreveu no
mesmo volume também o livro de Atos, ambos destinados do público grego. Fonte:
Merece Confiança o Novo Testamento?, F. F. Bruce, Vida Nova, 2010, cap. 4, pg 55-57.

- Evangelho de João: escrito pelo Apóstolo João, por volta de 85-90 d.C.. João é
considerado o “discípulo a quem Jesus amava” e, portanto, tinha um relacionamento
emocionalmente estreito com o Messias, de quem escreveu com base em seu
próprio testemunho. Dorothy Sayers afirma: “é João o único a apresentar-se como
um relato direto de uma testemunha ocular. E para quem quer que esteja
acostumado com o tratamento construtivo de documentos, a evidência interna
confirma esse pressuposto”. A. T. Olmstead, falecido professor de história oriental
antiga da Universidade de Chicago afirmou que o capítulo 11 exibe “toda a minúcia
circunstancial da testemunha ocular convicta”, além de ter dito que a narrativa do
capítulo 20 é “narrada incontestavelmente por uma testemunha ocular – plena de
vida e destituída de qualquer detalhe a que possa o cético usar para fazer uma
objeção justificável”. Vale, ainda, lembrar que, depois da morte de Cristo, João ficou
responsável pelos cuidados de Maria, mãe de Jesus, de quem, de certo, ouviu
relatos. Seu alvo era o público tanto grego, quanto judeu. Fonte: Merece Confiança o Novo
Testamento?, F. F. Bruce, Vida Nova, 2010, cap. 4, pg 61-79.

- Sobre as demais cartas do Novo Testamento: Tiago escreveu provavelmente o


documento mais antigo, 45-50 d.C., mostrando que, antes da redação dos
Evangelhos, o testemunho oral sobre Cristo, além de uma série de documentos
escritos a seu respeito, já circulavam. Paulo é o autor da maior parte do Novo
Testamento, tendo como carta mais antiga possivelmente a para os Gálatas, 49 ou
55 d.C. Os cristãos primitivos, com base em sua própria experiência com Cristo, o
que viram Ele fazer e ouviram dizer, os relatos orais, pregações e documentos que
circulavam, além do contato direto com os Apóstolos, aceitaram desde cedo as
cartas que hoje formam o Novo Testamento, confirmando sua autoria embasados
nas afirmações dos próprios autores que, por sua vez, tinham autoridade apostólica
–convívio com Cristo- e se baseavam em testemunho ocular, memórias, relato oral,
documentos dos dias de Jesus e pouco posteriores e, por fim, em si mesmos. Fonte: A
Bíblia de Estudo Anotada Expandida, Charles C. Ryrie, Mundo Cristão, 2007.

EVIDÊNCIAS DE JESUS NO PRIMEIRO SÉCULO?

A arqueologia bíblica tem avançado - prova disso está na recente publicação da


Editora Vida, a "Bíblia de Estudo Arqueológica", que carrega centenas de evidências
capazes de sustentar basicamente todo o Texto Sagrado. Alguns dos achados mais
surpreendentes já foram trabalhados aqui no EOMEAB, como o Papiro de Rylands,
contendo um trecho do Evangelho de João e datado de 125 d.C., que, por ter sido
achado no Egito, demonstra ser uma cópia de um documento palestino uns vinte e
cinco anos mais velho; o fragmento do Evangelho de Marcos que foi encontrado na
Caverna 7 de Qumran e datado, no máximo, de 50 d.C. ("Os Mais Antigos
Testemunhos do Novo Testamento"); o Credo de 1 Coríntios 15, originado,
possivelmente, no ano 36 d.C. ("O Credo Cristão de 36 d.C.") e as declarações de
Filipenses 2:5-11 e Colossenses 1:15-20, também da década de 30 ("Os Mais Antigos
Testemunhos da Divindade de Cristo"). Essas são bases de autoridade
consideravelmente seguras, servindo com suficiência aos interesses apologéticos,
mas existem outras tão - ou mais - antigas quanto, porém de origem mais duvidosa.
Com cautela e sem muito otimismo, vamos trabalhar alguns dos possíveis achados
mais espetaculares da história da Igreja (ou os mais mentirosos): a primeira menção
à ressurreição de Cristo, de no máximo 70 d.C., a primeira imagem do rosto de
Cristo, do Primeiro Século, e o antiquíssimo ossuário de um suposto "Tiago, irmão de
Jesus", também do Século Primeiro.

1 - A mais antiga alusão à ressurreição de Cristo?


Se verdadeira, essa é a mais antiga menção à ressurreição de Jesus encontrada -
e talvez os sinais diretos mais antigos do cristianismo como um todo. A equipe de
James Tabor, formada por arqueólogos e historiadores da Universidade da Carolina
do Norte, Estados Unidos, conseguiu, entre 2009 e 2010, uma autorização da
comunidade judaica para adentrar um antigo sepulcro repleto de ossuários - não
pessoalmente, mas com o uso de câmeras de alta tecnologia manipuladas por
braços robóticos, uma tecnologia patrocinada pelo Dicovery Channel. O túmulo foi
descoberto em 1984, nas proximidades de Jerusalém, mas os judeus nunca antes
haviam permitido seu estudo.

Segundo a notícia veiculada pelo Correio Braziliense, a idade exata do local não
foi devidamente precisada, mas considerando o período no qual o povo judeu fez
uso de ossuários e a estética funerária, a estrutura pode ser datada com relativa
segurança entre os anos 20 e 70 do Século Primeiro - na última data, por advento da
destruição de Jerusalém pelos romanos, os ossuários de pedra deixaram de ser
utilizados na região. O que realmente impressionou no local foram algumas
inscrições em grego e o desenho do Grande Peixe com o profeta Jonas na boca -
desenhos de peixe eram proibidos pelo judaísmo do Século Primeiro (ainda mais
num sepulcro), indicando que o túmulo não era de judeus, mas, possivelmente, de
cristãos. O peixe era um símbolo bastante usado pelos cristãos - Jesus multiplicou
peixes, profetizou Sua ressurreição utilizando como ilustração os três dias nos quais
Jonas permaneceu na barriga do Grande Peixe e a palavra "ichthys" ("peixe" em
grego) servia de acrônimo para "Jesus Cristo". As inscrições gregas, porém, é que
realmente espantaram os pesquisadores.
Mesmo que algumas letras tenha se apagado, é possível ler uma das inscrições
da seguinte forma: "Deus, Jeová, ascenda, ascenda" - ou "O Divino Jeová se ergue";
“Divino Jeová, me levante, me levante”; “Divino Jeová, me levante até o Lugar
Sagrado”. Segundo Tabor, essa inscrição ou tem algo a ver com a ressurreição dos
mortos, ou é uma alusão direta à ressurreição de Cristo - a segunda interpretação
parece mais correta, unida-a ao desenho do Grande Peixe com Jonas, que, como já
dito, Jesus usou como ilustração profética para a Sua ressurreição. Trata-se apenas
de uma possível alusão, não sendo nada conclusivo.

O próprio Tabor reconhece que seu achado é bastante controverso, estando


consciente das complicações levantadas pelos seus opositores. De fato, muitos
estudiosos têm considerado tudo isso uma grande farsa e alegado que nenhuma
evidência levantada por Tabor sustenta sua teoria. Além disso, o cineasta é famoso
por ser tendencioso e foi duramente criticado pelo suposto "achado da família de
Jesus", em 1980; não é arqueólogo formado e estrelou vários documentários para
televisão, levando os críticos a acusarem-no de realizar autopromoção. A
recomendação de muitos especialistas é que se tenha cautela na análise das
descobertas de Tabor.

Fontes: Extra.globo.com, Saúde e Ciência, 28 de fevereiro de 2012, "Exploração de tumba revela


sinais mais antigos do Cristianismo", Renato Grandelle - O Globo; notícias.gospelmais.com.br, Ciência e
Saúde/Internacional, 1º de março de 2012, Dan Martins; caixadepandora.xpg.uol.com.br, Curiosidades,
13 de abril de 2012, "Em suposto Túmulo de Jesus é encontrada descrição 'Divino Senhor levante'";
jornalciencia.com, R7, Sociedade/Diversos, 12 de abril de 2012, Osmairo Valverde, Brasília;
portugues.christianpost.com, Cristianismo, 1º de Março de 2012, "Tumba descoberta em Jerusalém pode
conter indícios da ressurreição de Jesus", Jussara Teixeira. Acessados no dia 18/09/2014.

2 - A mais antiga imagem do rosto de Cristo?


Se verdadeiro, esse achado pode ser equiparado ao dos Manuscritos do Mar
Morto, em 1947. Trata-se de uma porção de 70 pequenos livros do Século Primeiro,
feitos de lâminas de bronze e contendo de 5 a 15 "folhas" - o seu tamanho indica
que eram de uso particular, não litúrgico. Eles foram feitos para não serem lidos e
nem mesmo abertos, contendo anéis em todos os lados - isso levou alguns
pesquisadores a sugerir que eles fazem parte dos "códices perdidos", mencionados
no livro do Apocalipse. O material foi descoberto entre 2005 e 2007, numa caverna
remota da região do Jordão, de fronte para o Mar da Galileia. Nessa região já foram
encontrados outros artefatos e documentos de grande relevância.

O material é praticamente ilegível, sendo sugerida uma escrita criptografada em


hebraico antigo, aramaico antigo, grego e até em fenício (as fontes divergem nisso),
indicando um possível dialeto. Ele apresenta, na verdade, pouco material escrito.
Segundo a BBC, uma das poucas porções que foram traduzidas, afirma: "Vou andar
em retidão". Essa frase aparece no livro do Apocalipse, embora possa transmitir um
sentimento comum aos judeus da época.

A região onde está a caverna serviu de assentamento cristão quando, em 70


d.C., Jerusalém foi arruinada pelas tropas de Tito, forçando a fuga da cidade - muitos
judeus também se refugiaram nas localidades entre a metade final do Primeiro
Século e o início do Segundo. O fato de os documentos apresentarem diversas
gravuras, entre elas a menorá e um rosto humano - a menorá não podia ser
representada, pois ela estava no local mais sagrado do Templo, e o rosto com feições
humanas não podia ser reproduzido, pois isso induzia à idolatria -, indica serem
produto de cristãos, não de judeus. Isso também se mostra pelo fato de serem
códices, não rolos - era característica dos cristãos o uso de códices.

Os testes realizados nas amostras revelam uma idade de pouco menos de 2000
anos - Século Primeiro. Análises feitas na Universidade de Oxford e pelo Swiss
National Materials Laboratory, de Dubendorf, Suíça, reconheceram que o trabalho
feito nos metais é compatível com o que era realizado no período romano e verificou
que o material foi fundido com elementos extraídos na região do Mediterrâneo. A
corrosão do metal dos livros evidencia a sua antiguidade - tal corrosão é prova de
que não há fraude. Sendo assim, ele é de um período e uma região próximos ao
ministério de Cristo.

O objeto mais surpreendente dessa coleção apresenta a imagem de um rosto


humano em relevo. Trata-se de um homem jovem e de cabelos encaracolados,
aparentemente com uma coroa de espinhos na cabeça, o que, considerando a
origem cristã, parece sugerir uma ilustração do próprio Cristo, feita, possivelmente,
por alguém que o viu pessoalmente, dado o período. Em volta dos dois lados há
inscrições criptografadas, mas que parecem dizer: "Salvador de Israel" . Essa
proposta é sustentada por outras imagens: uma palmeira parece indicar a casa de
Davi e é acompanhada por linhas que parecem cruzes - sucessivas estrelas
representariam a "Árvore de Jessé", ou melhor: a própria árvore genealógica de
Cristo. A cruzes são romanas, em forma de "T", conforme o uso da época. Outra
ilustração apresenta um mapa de Jerusalém, contendo até a balaustrada do Templo,
mencionada nas Escrituras, algo que parece o sepulcro de Jesus (uma pequena
construção com uma abertura) e, ao fundo, os muros da cidade. Noutras páginas há
representações das muralhas e uma crucificação acontecendo fora delas.
Alguns dos nomes envolvidos na análise e defesa desses materiais são: Philip
Davies, professor emérito de Estudos Bíblicos da Universidade de Sheffield; David
Elkington, especialista britânico em arqueologia e história religiosa antiga; Ziad al-
Saad, diretor do Departamento de Antiguidades da Jordânia; Margaret Barker, ex-
presidente da Sociedade de Estudos sobre o Antigo Testamento; entre outros.

Há, porém, algumas objeções ao achado: quando o tradutor de aramaico, Steve


Caruso, realizou suas análises do material, percebeu que estavam misturadas formas
de escrita velhas e novas - as velhas não poderiam ter menos de 2500 anos de idade.
Os manuscritos mais novos, por sua vez, datam dos séculos segundo e terceiro -
segundo Steve Caruso. É claro que isso não corresponde a todos os variados
documentos. Outros estudos sugerem que os responsáveis pela confecção desses
materiais "não sabiam o que estavam fazendo", destoando das técnicas comuns dos
escribas - há caracteres tremidos, indicando que são cópias feitas às pressas, não
redações originais. Para Peter Thonemann, arqueólogo, a "imagem de Cristo"
retratada num dos documentos é, na verdade, uma alusão ao deus sol Hélios, de
Rodes - ele acredita que os códices foram falsificados nos últimos 50 anos.

Fontes: Cienciaconfirmaigreja.blogspot.com.br, 25 de abril de 2011, "Livros de bronze seriam a maior


descoberta de todos os tempos e falam de Nosso Senhor Jesus Cristo" e 2 de maio de 2011, "A mais antiga
representação de Cristo e de sua Paixão achada na Jordânia", Luis Dufaur; acidigital.com,
Notícias/Mundo, 5 de abril de 2011, "Arqueólogos poderiam ter encontrado o retrato mais antigo de
Jesus"; noticias.gospelmais.com.br, Ciência e Saúde, 7 de abril de 2011, "É encontrado possível primeiro
retrato de Jesus. Achado revelaria a verdadeira face de Cristo", Renato Cavallera;
geracaomaranata.com.br, Arqueologia/Notícias, 7 de abril de 2011, "Manuscritos de Chumbo
encontrados na Jordânia – um deles traz possível rosto de Cristo"; hypescience.com, 13 de abril de 2011,
"Antigos “códices cristãos” encontrados podem ser falsos", Natasha Romanzoti; livescience.com, 11 de
abril de 2011, "Exclusive: Early Christian Lead Codices Now Called Fakes", Natalie Wolchover;
dailymail.co.uk, Science, 30 de março de 2011, "Could this be the biggest find since the Dead Sea Scrolls?
Seventy metal books found in cave in Jordan could change our view of Biblical history", Fiona Macrae.
Acessados em 18/09/2014.

3 - O ossuário de um familiar de Jesus?


O objeto tem 25 quilos, 50 centímetros de comprimento e 25 de altura. Ele foi
comprado pelo engenheiro judeu Oded Golan. Em 2002, o renomado estudioso
francês André Lemaire viu a urna e, percebendo uma antiga inscrição que falava de
Jesus, verificou a sua importância - “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”. O ossuário,
então, foi examinado pelo Geological Survey of State of Israel e declarado autêntico -
ele data do Século I, por volta de 63 d.C. Segundo o The New York Times, "essa
descoberta pode muito bem ser o mais antigo artefato relacionado à existência de
Jesus". Apesar disso, em 2004 Golan foi acusado de falsificar o item, o que foi
resolvido em outubro de 2010, quando o juiz Aharon Far-kash, responsável por
julgar a suposta fraude cometida pelo antiquário judeu, deu o seu veredicto: o
objeto realmente é autêntico.

O "julgamento" do ossuário de Tiago foi bastante vasto. O objeto foi estudado


durante 5 anos, em 116 sessões - 133 testemunhas foram ouvidas e 12 mil páginas
produzidas. Segundo o arqueólogo Rodrigo Silva, todas as "provas" contra o ossuário
de Tiago foram derrubadas: “A paleografia mostrou que as letras aramaicas eram do
primeiro século.” E, ainda: “A primeira e a segunda partes da inscrição têm a mesma
idade. E o estudo da pátina indica que tanto o caixão quanto a inscrição têm dois mil
anos.” Rodrigo Silva pôde analisar o objeto pessoalmente.

Cerca de 200 especialistas participaram dos estudos, contando com peritos em


C14, arqueologia, história bíblica, paleografia, geologia, biologia e microscopia. O
próprio Yuval Gorea, perito acusador, teve que reconhecer que o nome "Jesus", ao
menos, era antigo.

Os opositores do artefato também alegam que não era costume colocar algo
além do nome do falecido no ossuário - no máximo se colocava também a filiação -,
mas o professor de história das religiões, André Chevitarese, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, apresenta uma boa justificativa: "A inscrição atribuiria a
Tiago uma certa honra e diferenciação por ser irmão de Jesus. Como se Jesus já
fosse um popstar naquela época.”

Fontes: Criacionismo.com.br, 21 de agosto de 2009, "O ossuário do irmão de


Jesus e o silêncio da mídia", e 16 de novembro de 2010, "Veredito: ossuário do
irmão de Jesus é verdadeiro", Michelson Borges; istoe.com.br, Reportagens, 10 de
novembro de 2010, "Peritos negam que ossuário de irmão de Jesus seja falso",
Rodrigo Cardoso; amaivos.uol.com.br, News, "Descoberta a mais antiga menção a
Jesus Cristo". Acessados em 18/09/2014.

Conclusão: mesmo que todos os achados sejam questionáveis, há boas razões


para crer na sua autenticidade. Se o tempo e os estudos evidenciarem sua
veracidade de modo quase inquestionável, teremos três espetaculares menções
diretas a Cristo do Primeiro Século: uma alusão à Sua ressurreição, uma ilustração de
Sua face e o Seu nome escrito. É claro que existem muitas possibilidades e
interpretações, mas tudo isso é muito interessante! Os dois primeiros achados
evidenciam a crença em Jesus como Messias e Deus, sendo cultuado - situados
apenas algumas décadas depois da Sua morte e ressurreição, não temos tempo
suficiente para deturpações míticas, que levam gerações. Já havia um culto cristão
desde as primeiras décadas da Era Cristã! E a ressurreição já era crida nos primórdios
do cristianismo, sem depender de exageros mitológicos posteriores ou de influências
romanas e pagãs. O último achado mostra um tal "Jesus", irmão de Tiago e filho de
José, um indivíduo especialmente ilustre, por constar nas inscrições de um ossuário.
As implicações desses achados são magníficas! Embora não possamos tê-los com
total certeza. Ainda assim, mesmo sem eles, não faltam evidências poderosas para
sustentar os estudos apologéticos sobre as origens da fé cristã.

Caso forem verdadeiros, temos inscrições e gravuras de quase 2 mil anos, não
apenas cópias de documentos mais antigos. Seriam, nesse caso, produtos do
interesse de alguns dos primeiros seguidores de Cristo!

OS MAIS ANTIGOS TESTEMUNHOS DA DIVINDADE DE CRISTO

Algumas das mais mirabolantes teorias (quase conspiratórias) sobre Cristo é a


que afirma que o Império Romano, na pessoa de Constantino, foi o responsável por
inventar Jesus ou, pelo menos, cobrir uma obscura figura histórica de mitos
favoráveis ao imperador, estando a divindade de Cristo entre eles. Tal teoria sugere
que os cristãos não tinham Jesus como Deus antes de Constantino, sendo este mais
um famoso curandeiro e sábio cínico. Sobre as suposições anti-históricas de que
Cristo foi apenas um sábio ou curandeiro, falarei noutro artigo, cabendo aqui apenas
mostrar que havia uma crença na divindade do Messias anterior ao Credo Niceno, de
325 d.C.

1 – A datação dos Evangelhos:


Gary Habermas, J. P. Moreland e Craig Bloomberg, um grupo de apologistas
modernos letrados e assertivos, nos oferecem satisfatórias evidências de que os
Evangelhos, especialmente os sinóticos, tenham sido escritos, no máximo, até 60
d.C. Para tal, eles apresentam uma tripla omissão que é verificável em todos os livros
do Novo Testamento: Atos não menciona a destruição de Jerusalém (70 d.C.), a
perseguição de Nero aos cristãos após o grande incêndio de Roma (64 d.C.) e o
martírio de Pedro e Paulo (65 d.C. ou antes). Tais eventos foram da maior
importância histórica para a Igreja Primitiva – a profética destruição da cidade onde
Cristo foi crucificado, estimulando o espalhar dos cristãos e uma maior cisão entre o
cristianismo e o judaísmo, a ferrenha perseguição de Nero e a morte dos principais
líderes do período necessariamente apareceriam em Atos dos Apóstolos, caso este
documento tivesse sido redigido posteriormente. Como Lucas e Atos configuram um
único registro disposto em ordem, o Evangelho de Lucas teve que ser escrito antes
de Atos – o segundo foi escrito em 64 ou até 62 d.C. e o primeiro, provavelmente,
em 60 d.C.

É sabido que o Evangelho de Marcos serviu de fonte para Lucas e isso torna
provável que tal documento tenha sido redigido em meados dos anos 50 d.C. – é
certo que não foi escrito após 60 d.C. Marcos, cuja redação se deu entre 25 e 30
anos após a crucificação, surgiu, no máximo, uma geração depois dos eventos que
descreve – centenas, ou milhares, de testemunhas da verdade dos fatos ocorridos na
Palestina ainda estavam vivas para concordar com o texto em circulação ou, se fosse
o caso, apontar seus erros. Nem os judeus da classe sacerdotal, muitos desejosos
por acabar com a mensagem cristã, conseguiram apontar erros históricos em
documentos como Marcos, sendo que eles também foram testemunhas. Como o
povo de Jerusalém, que, por exemplo, viu a morte de Cristo e presenciou muitas de
suas ações e mensagens, acreditaria num relato mentiroso escrito duas ou três
décadas depois dos eventos? Os inimigos do cristianismo do período jamais
questionaram a historicidade de Cristo, alegando que, na verdade, os milagres eram
realizados por intervenções demoníacas – muitos nem questionam a ressurreição,
sugerindo que a mesma se deu por encantamento.

2 – Uma Igreja incapaz de impor e censurar:


Sabemos que existia Igreja antes de Constantino e sabemos que essa Igreja
acreditava em Cristo. Mas tal era uma Igreja relativamente pequena, principalmente
nas primeiras décadas, e mais preocupada em sobreviver do que em se impor. Os
cristãos não tinham força para disseminar pelo Império Romano uma mensagem
inventada, forçando-o a aceitá-la – como alguns estudiosos afirmam sobre clérigos
malévolos e sedentos por poder. Perseguida, dispersa e ameaçada, a Igreja não tinha
poder para sustentar uma descarada mentira. Na verdade, os evangelistas nem
poderiam sê-lo se tivessem sede de poder: as únicas coisas que os cristãos
encontraram com a insistência em pregar Cristo e Sua divindade foram a tortura, a
perseguição, diversas privações sociais e a própria morte. Geralmente as pessoas
mentem quando desejam obter, com isso, algum privilégio: que benefício os
primeiros cristãos encontraram? Que lucro teve Paulo, que jogou fora todo o seu
prestígio na comunidade judaica, como aluno de Gamaliel e perseguidor dos
cristãos, ao lançar-se nos braços de Cristo? A única coisa que encontrou foi uma
morte, em semelhança com o que aconteceu com aquele sobre quem pregava.
Paulo foi decapitado e todos os demais discípulos e apóstolos, com exceção de João,
encontraram destino semelhante.

3 – A veracidade da Mensagem:
Josh McDowell, Lee Strobel e outros apologistas argumentam que as provas
apresentadas nos Evangelhos seriam aceitas em qualquer tribunal da Terra. Um dos
pontos mais interessantes dessa argumentação está no fato de que temos
testemunhas (os evangelistas) que corroboram umas com as outras, sugerindo a
veracidade dos fatos relatados, mas que não são tão exatamente idênticas para
sugerir uma conspiração. Pessoas diferentes escreveram coisas parecidas, mas em
lugares distantes e momentos particulares – os apóstolos não se reuniram num
comitê para, nalguns dias, produzirem um evangelho unificado. Como já falado, até
os inimigos da fé acabaram contribuindo, já que não negam a ocorrência dos fatos
da vida de Jesus, mas consideram-no blasfemo, insano ou possesso.

Qualquer sugestão de que os Evangelhos estão repletos de mitos formulados ao


longo das gerações cai por terra quando concebemos que sua redação se deu até,
no máximo, o ano 60 d.C., quando já estavam em circulação, pois uma geração entre
o evento e a redação não é tempo suficiente para a inserção de conteúdos lendários.
No mínimo três gerações são necessárias para que isso aconteça – podemos
perceber isso com os relatos mais míticos dos apócrifos neotestamentários, escritos
do Século II em diante.

A verdade é que os Evangelhos demonstram que brotado das penas de


indivíduos sóbrios e antissensacionalistas – isso fica evidente quando o apóstolo
João fez questão de desmentir um falso (lendário) rumor de que Jesus teria dito ao
evangelista que ele não morreria até o Seu retorno (Jo 21:23). Os redatores do Novo
Testamento se mantiveram fiéis a detalhes que só lhes trouxeram prejuízo ou que
enfatizavam a resistência do povo e dos religiosos a Jesus. Fatos embaraçosos e até
difíceis de explicar foram preservados.

4 – As mais antigas declarações da divindade de Cristo:


As cartas de Paulo, muitas escritas antes dos Evangelhos, pelo menos dos
sinóticos, já que ele morreu, no máximo, em 65 d.C., trazem fortíssimas declarações
da divindade de Cristo, como Filipenses 2:5-11 e Colossenses 1:15-20. O detalhe
mais espantoso desses trechos é que eles se parecem com antigos hinos da Igreja
Primitiva, aprendidos por Paulo quando este visitou Jerusalém no final dos anos 30,
menos de uma década depois da morte e ressurreição de Jesus. O prólogo poético
de João também soa como um hino da Igreja Primitiva sobre a divindade de Cristo –
Jo 1:1-5. Nem o maior dos profetas do Antigo Testamento é descrito nesses termos.
Temos aqui um conjunto de declarações do Primeiro Século sobre o Messias como
sendo o próprio Deus!
Além dessas passagens, também temos antigas declarações extra-bíblicas sobre
a divindade de Cristo, como ocorre nas primeiras cartas de Clemente (96 d.C.) e
Inácio (100 d.C.) e nos escritos de Justino e Irineu, no Segundo Século.

5 – O Concílio de Nicéia:
O Concílio de Nicéia, ocorrido em 325 d.C., atesta, de fato, a divindade de Cristo,
mas o que ele fez não foi inovar, apenas confirmar um ensino ortodoxo de longa
data. Era necessário emitir um credo oficial sobre a doutrina da Igreja,
particularmente a doutrina da encarnação, já entendida pela maioria dos cristãos há
muito tempo. Tal credo foi formulado também como resposta ao desenvolvimento
de ensinos heréticos, especialmente aqueles que questionavam a humanidade ou a
divindade de Jesus, como o arianismo, o gnosticismo e o docetismo.

Uma prova de que o Concílio de Nicéia, através do Credo Niceno, apenas tornou
mais claro aquilo que os cristãos anteriores já concebiam, está no credo batismal de
150 d.C., que diz: "Creio em Deus, o Pai, e em Jesus Cristo, seu único filho, nosso
Senhor, nascido do Espírito Santo e da virgem Maria, que foi crucificado sob Pôncio
Pilatos e sepultado, ressuscitou no terceiro dia de entre os mortos, subiu aos céus,
está assentado à direita do Pai, de onde virá para julgar os vivos e mortos; E no
Espírito Santo, a santa Igreja, a remissão dos pecados, a ressurreição da carne."

Conclusão: é impossível que Cristo e o cristianismo tenham sido inventados


pelos romanos depois de 70 d.C. ou depois de 325 d.C., já que temos diversas
evidências sobre os cristãos e a vida de Cristo datadas até mesmo da década de Sua
morte e ressurreição. Não havia força e nem motivação para que os cristãos
mentissem e impusessem tal mentira. Também é impossível que a divindade de
Jesus tenha sido inventada e forçada pelo Império Romano por advento do Concílio
de Nicéia, uma vez que há fortíssimas declarações da divindade de Cristo já dos anos
30 d.C. e que o Concílio de Nicéia tenha sido conclamado apenas para oficializar um
entendimento cristão anterior.

Uma palavrinha aos que sugerem que o cristianismo foi forjado pelos romanos
depois de 70 d.C.: é impossível encontrar uma resposta para as menções aos cristãos
e ao Messias de antes dessa data e não há como explicar os motivos que levaram o
Império Romano a perseguir tão ferozmente a religião que eles mesmos inventaram.
Por qual motivo o Imperador iria sugerir a criação de algo que feria a própria ideia
que sustentava o seu trono, sobre o fato de ele, o dirigente de Roma, ser
descendente dos filhos dos deuses e merecidamente digno de adoração? Tal
sugestão seria absurda, pois, de fato, levou muitos cristãos a evitar o culto ao
imperador, a negar o serviço militar e ao afastamento dos costumes romanos, sendo
interpretados como inimigos do pensamento, da religião, da cultura e do Imperador
romano. Apaziguar os judeus, sempre transtornados com o domínio romano da
Palestina, através de uma mensagem de amor, também não parece válido: depois de
70 d.C. não havia motivo para ter nos judeus uma ameaça digna de tal maquinação
que, no máximo, os manteria distantes do culto ao Imperador. Inventar e inserir o
cristianismo na Palestina para suprimir pequenos distúrbios em cidades de fora da
região também não me parece uma alegação satisfatória.

Fonte: Apologética Cristã Para o Século XXI, Louis Markos, Ph.D., Central Gospel, 2013, pgs 186-189 e
223-225; O Jesus Fabricado, Craig Evans, Cultura Cristã, 2009, pg 94; Mosaico Teológico, Rodrigo Bibo de
Aquino, Alexander Stahlhoefer, Maurício Machado e Alexandre Milhoranza, BTbooks, 2013, pg 12.

CAPITULO 6- A Bíblia é igual aos outros livros sagrados?:

A BÍBLIA NÃO É IGUAL AOS OUTROS LIVROS SAGRADOS?

Já cansei de ouvir críticos das Escrituras bradando que não há diferença alguma
entre a Bíblia e os demais livros sagrados, sendo que ou todos estão certos e não
importa a escolha ou todos estão errados. Será que a Bíblia é igual aos demais livros
sagrados? Segue um breve estudo - tire as suas próprias conclusões.

Devo entender os livros de outras religiões como tão sagrados quanto as


Escrituras? Não entremos muito nas cosmogonias antigas, como, por exemplo,
Atum, o deus egípcio que criou o Universo com seu sêmen –Fonte: Guia Ilustrado
Zahar, Mitologia, Philip Wilkinson e Neil Philip, Edit. Zahar, pg 226-, perante as quais
–em comparação com todos os povos contemporâneos aos hebreus do Antigo
Testamento-, a Palavra é absurdamente superior. Refiramo-nos aos escritos de maior
influência: o Alcorão e as Vedas. Vale lembrar que o Islã, o Judaísmo e o Cristianismo
tem base comum na Torá – o que a torna extremamente especial.
Alcorão: existem divergências entre o que o Islamismo guarda sobre o Antigo
testamento e o Antigo Testamento judaico, lembrando que os muçulmanos também
fazem uso dessa documentação, alguns exemplos são: Hamã é citado como ministro
do Faraó na Sura 40.36 e Esdras é mencionado na Sura 9:30 como alguém que
alguns tinham por “O Filho de Deus”. Os muçulmanos também declaram que os
evangelhos de que hoje dispomos –lembrando que eles também respeitam Jesus-
foram alterados, havendo um original anterior. Essas declarações sobre o Antigo e o
Novo Testamento carecem de evidências históricas e arqueológicas – e já vimos que
a Bíblia cristã é precisa. Fonte: Por que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, pg 77.
Além das alegações históricas inconsistentes, o próprio livro possui alguns
inconvenientes: quando Maomé viajava pelas cidades citando a sua obra, ficavam
para trás inúmeras anotações feitas por escribas que, posteriormente, as uniam em
alcorões, produzindo documentos largamente diferentes entre si, variando muito de
uma região para outra – por isso o califa Uthman mandou queimar todos os alcorões
e preservou uma única cópia para distribuir. Em 1972 foram achadas milhares de
páginas de antigos alcorões sobreviventes –de antes da “queima”-, os Fragmentos
do Iêmen. Analisando 15 mil dessas páginas, verificaram-se largas variações de
interpretação, mudança na ordem dos versos e lacunas. Vale lembrar, ainda, que
originalmente o Alcorão possuía tantos erros de ortografia que a língua local tivera
que ser modificada para sustentar a crença em sua inerrância. Podemos notar
mudanças de ideia ao longo do livro: no início o autor é amigável com os judeus
(Sura 29:46), mas, no final, ordena a morte dos não-muçulmanos (Sura 9:29). Fonte:
Por que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, pgs 78-81.
A natureza literária do Alcorão o torna complicado: é de difícil compreensão -
Fonte: Por que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, pgs 80-81- e, dentro do islamismo,
não pode ser traduzido para outras línguas: os fiéis precisam aprender o árabe para
lê-lo. Outro detalhe dessa obra é a autoria de um único homem: o texto pode ser
coeso, pois o autor é exclusivo, muito mais assombroso é a Bíblia ter mais de 40 e,
ainda assim, se unânime! Fonte: Bíblia de Estudo das Profecias, pg 1252.
As Vedas: o panteão Hindu nos remete ao politeísmo e suas cosmogonias
estranhas, sendo mais de 330 milhões de deuses e deusas – na verdade, cada fiel
pode criar seus próprios deuses. Na religião original, ou se nasce hindu, ou não e
não há possibilidade de ascensão social. Os Hindus creem que as Vedas são de 4 mil
antes de Cristo, mas estudos mais atuais as colocam por volta de 1,5 mil a.C. – por
mais de mil anos a tradição foi transmitida oralmente e, por fim, escrita em sânscrito
possivelmente em 150 a.C., vale lembrar que somente os brâmanes podiam
conhecer e transmitir seus ensinamentos. As Vedas constituem-se de mais de 1017
hinos longuíssimos divididos em 10 livros, mais um apêndice de 11 poemas, sem
nenhuma possibilidade de serem enquadradas na história humana ou fazer-se
distinção entre que é verdade e daquilo que é lenda. Fonte: Bíblia de Estudo das
Profecias, pg 1252; Por que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, pgs 83-85. Sobre o
budismo temos os Livros de Jataka e os Sutras, que são obras extremamente
volumosas, cheias de divagações que poucos se incentivam a ler por completo. Fonte:
Bíblia de Estudo das Profecias, pg 1252.
CAPITULO 7 - Jesus só existe na Bíblia?:
JESUS REALMENTE EXISTIU? FONTES SECULARES

Não são poucos os que ainda hoje questionam a existência de Jesus. Será que,
de fato, Jesus não existiu? A leitura do breve estudo que segue se propõe a mostrar
algumas das evidências em favor da Sua existência - tire as próprias conclusões.

-Suetônio, Séc. II, em A Vida dos Doze Césares, fala sobre a expulsão de Roma
dos judeus que pertenciam à "seita de Chrestos", que se deu entre 40 e 49 d.C. Fonte:
Jesus, Christiane Rancé, pg 17, Edit. P&M Poket.
-Plínio, o Jovem, quando governador da Bitínia -Ásia Menor-, enviou uma carta
ao imperador Trajano descrevendo o progresso do cristianismo em sua província -
111 d.C.-, dando uma luz sobre a rapidíssima expansão da nova fé. Fonte: Jesus,
Christiane Rancé, pg 17.
-Flávio Josefo, famoso historiador judeu do primeiro século, disse em
Antiguidades XVIII: “Por essa, Jesus, um homem sábio, se é que é justo chamá-lo de
homem, pois ele fez coisas maravilhosas; e o que ele ensinava era recebido com
alegria. Ele atraiu multidões para si.” Fonte: Jesus, Christiane Rancé, pg 16; O Novo Testamento,
Sua Origem e Análise, Merril C. Tenney, pg 215 Edit. Shedd Publicações; Merece Confiança o Novo
Testamento?, F. F. Bruce, pg 141, Edit. Vida Nova; Por que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, pg 57, Edit.
Ultimato. E, ainda, em Antiguidades XX, ao falar sobre o martírio de Jacó, em 62 d.C:
“O Sumo Sacerdote Anan convocou uma assembleia de juízes e mandou trazer
aquele chamado Jacó, irmão de Jesus, o dito Cristo, e alguns outros, acusou-os de
terem transgredido a Lei e os entregou ao apedrejamento”. Fonte: Jesus, Christiane Rancé,
pg 16.
-Tácito, historiador romano do segundo século, em Anais (15 e 44): “Nero retrata
como culpadas e entrega a tormentos dos mais refinados as pessoas, detestadas por
suas infâmias, que a turba chamava de cristãos. Este nome deriva de Cristo, a quem
o procurador Pôncio Pilatos, sob o principado de Tibério, entregou ao suplício”. Fonte:
Jesus, Christiane Rancé, pg 17; Merece Confiança o Novo Testamento?, F. F. Bruce, pg 152.
-Mara Bar-Serápion, ao filho Serápion, pouco depois de 73 d.C.: “Que proveito
tiveram os atenienses ao tirar a vida de Sócrates? Fome e peste lhes sobrevieram
como juízo pelo nefando crime que cometeram. Que lucro obtiveram os cidadãos de
Samos ao lançar Pitágoras às chamas? Num instante seu território se viu coberto de
areia. Que vantagem alcançaram os judeus com a execução de seu sábio Rei? Foi
justamente em seguida a esse fato que o reino deles foi abolido. Deus, com justiça,
vingou esses três sábios; os atenienses foram consumidos pela fome; os sâmios
foram tragados pelo mar; os judeus foram arruinados e banidos da própria pátria,
vivendo em completa dispersão. Entretanto, a morte não extinguiu a Sócrates, que
continuou a viver no ensino de Platão. A morte não aniquilou Pitágoras, que
continuou a viver na estátua de Hera. Nem o sábio Rei a morte destruiu, pois
continuou a viver nos ensinos que transmitia.” Fonte: Merece Confiança o Novo Testamento?,
F. F. Bruce, pg 148.
-Luciano, satírico escritor grego do segundo século: “... o homem que foi
crucificado na Palestina por ter introduzido este novo culto no mundo. [...] Além
disso, seu primeiro legislador persuadiu-os de que são todos irmãos uns dos outros
depois de ter entrado em transgressão de uma vez para sempre, por meio da
negação dos deuses gregos e pela adoração do próprio sofista crucificado e em
virtude de viverem sob suas leis.” Fonte: O Novo Testamento, Sua Origem e Análise, Merril C.
Tenney, pg 216. E ainda: “Os cristãos, você sabe, adoram um homem até hoje, uma
pessoa distinta que introduziu novos rituais e foi crucificado por isso”, A Morte do
Peregrino, 11-13.
“Gosto de me proclamar um historiador. Minha abordagem em relação à cultura
é histórica. E estou dizendo: há mais evidências para a vida, a morte e ressurreição
de Cristo do que para muitos fatos da história antiga.” Edward Musgrave Blaiklock,
professor de cultura clássica da Universidade de Auckland. Fonte: Uma História
Politicamente Incorreta da Bíblia, de Robert J. Hutchinson, pg 37.

Há evidências manuscritas de que Jesus realmente existiu, isso tudo além de


Bíblia. É claro, não podemos esperar uma quantidade enorme de documentos, pois
o evento tem mais de 2 mil anos e Cristo, em seu ministério, não fora considerado
uma figura política importante para o Mundo Mediterrâneo, além do fato de a
maioria dos que o seguiam serem analfabetos.

CRISTO REALMENTE MORREU? FONTES SECULARES

Assim como temos os que anunciam a inexistência de Cristo, temos os que


negam a Sua morte. O que será que disseram sobre isso algumas personalidades da
Antiguidade? No breve estudo que segue analisaremos fontes seculares que citam a
morte de Jesus - tire as suas próprias conclusões.

-Os romanos, ao longo dos séculos, aperfeiçoaram as artes de tortura e


julgamento de morte dos infratores da lei. Eles sabiam como matar e, se Jesus foi
colocado sob seus cuidados, sem dúvida nenhuma Ele morreu. Além disso, sabemos
que Cristo foi espancado no Sinédrio, surrado violentamente por Pilatos, teve que
carregar uma cruz de cerca de 150 Kg, foi pregado na Cruz, depois de horas morreu
e, por fim, já morto, foi perfurado com uma lança por precaução. Os soldados
enviados para esse serviço sujo eram de caráter pífio, mais violentos e sádicos que o
normal aos padrões da época.
-Talo, que por volta de 52 d.C. escreveu uma obra sobre a história da Grécia, é
mencionado por Júlio Africano, cronista cristão do terceiro século, quando refere-se
às trevas que sucederam a morte do Messias: “Talo, no terceiro livro de suas
histórias, sustenta que essas trevas foram nada mais que o resultado de um eclipse
do sol – explicação desarrazoada, a meu ver”. Fonte: Merece Confiança o Novo
Testamento?, F. F. Bruce, pg 146. Na íntegra: “No mundo inteiro houve uma
escuridão tenebrosa, as rochas se fenderam com um terremoto e muitos lugares da
Judéia e outros distritos foram destruídos. Esta escuridão foi considerada por Talo,
no seu terceiro livro de História, como um eclipse solar, mas sem ter boas razões
para isso.” Júlio Africano, Cronografia 18:1.
-Flário Josefo, o historiador judeu do Primeiro Século, em Antiguidades XVIII:
“Ele persuadiu muitos judeus e gentios a segui-lo. Ele era o Cristo. E, quando Pilatos,
a pedido dos principais homens entre nós, o condenou à cruz, aqueles que o
amavam, a princípio, não o abandonaram; pois ele apareceu-lhes vivo de novo, ao
terceiro dia; como os profetas divinos tinham predito estas e outras dez mil outras
coisas maravilhosas a respeito dele. A família dos cristãos, assim chamados por
causa do seu nome, não está extinta até esse dia”. Fonte: Jesus, Christiane Rancé, pg
16; O Novo Testamento, Sua Origem e Análise, Merril C. Tenney, pg 215; Merece
Confiança o Novo Testamento?, F. F. Bruce, pg 142; Por que Confiar na Bíblia?, Amy
Orr-Ewing, pg 57.
-O Talmude Babilônico, afirma que “na véspera da Páscoa eles crucificaram Jesus
de Nazaré”. Fonte: Por que Confiar na Bíblia?, Amy Orr-Ewing, pg 82 e 83.
-Tácito, o historiador romano já citado: “Cristo, de onde deriva o nome cristão,
sofreu pena extrema durante o reinado de Tibério, nas mãos do procurador Pôncio
Pilatos, e uma superstição mortal se espalhou não só na Judéia, o primeiro foco
deste mal, mas também na Cidade”. Anais XV.44.2-8.
Sobre o número de documentos atestando a vida e morte de Cristo, Geoffrey
Blainey se manifesta:
"Minha conclusão é que, pelo padrões da época, sua história [de Jesus] foi
surpreendentemente registrada, já que ele só ficou conhecido nos últimos anos de
vida e, assim mesmo, em uma região do Império Romano pouco desenvolvida e
afastada. De todas as pessoas comuns daquela época, desconhecidas fora de sua
terra, a vida e os ensinamentos de Jesus estão entre os mais documentados."
Sobre o Novo Testamento, diz:
"Existem numerosos folhetos ou evangelhos sobre ele, e quatro são famosos.
Conhecidos como os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, todos, exceto um,
foram concluídos no período de 50 anos que seguiu à morte de Jesus." Fonte: Uma
Breve História do Cristianismo, Geoffrey Blainey, Fundamento, 2011, pg 5.

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