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O BÁSICO DA FILOSOFIA POLÍTICA
Neste capítulo, concentro-me nos conceitos políticos espantalho): criar um alvo fácil para poder derrubá-lo com
capitais de igualdade, democracia, liberdade, castigo e de- facilidade, Creem que refutaram o igualitarismo destacan-
sobediência civil, examinando as questões filosóficas a que do os modos importantes em que as pessoas diferem, ou
dão origem. vendendo o peixe de que, mesmo que a quase uniformida-
de pudesse ser conseguida, as pessoas muito rapidamen:
Igualdade retornariam a algo semelhante à sua condição anterior. En-
tretant esse ataque só consegue sucesso se lançado contra
A igualdade costuma ser apresentada como uma mera pol uma caricatura da teoria (o “homem de palha”) e deixa
<a, um ideal digno de ser buscado. Os que propugnam algu- incólume a maioria das versões do igualitarismo.
ma forma de igualdade são conhecidos como igualiaristas, À AA
igualdade é, então, sempre igualdade em certos as-
motivação para se conseguir essa igualdade é geralmente de pecros, não em todos, Então, quando alguém se
declara um
ordem moral: pode se fundamentar na crença cristã de que igualitarista, é importante descobrir em que sentido. Em
somos todos iguais aos olhos de Deus, na crença kantiana na outras palavras, “igualdade” usada no contexto político é
racionalidade da igualdade de respeito por todas as pessoas ou algo mais ou menos sem sentido, a não ser que exista algu-
talvez na crença utilitarista de que tratar as pessoas igualmente ma explicação sobre o que deveria ser mais igualmente par-
é o melhor meio de maximizar a felicidade. Os igualiaristas tilhado, e por quem. Os igualitaristas costumam afirmar que
afirmam que os governos deveriam se esforçar para, em vez de aquilo que deveria ser igualmente ou mais igualmente dis-
apenas reconhecer, passar a proporcionar algum tipo de igual- tribuído é: renda, acesso ao emprego e poder político. Mes-
dade nas vidas daqueles a quem governam. mo levando em conta que os gostos das pessoas diferem
Mas como devemos entender “igualdade”? Obviamen- consideravelmente, esses três elementos podem contribuir de
te, seres humanos jamais poderiam ser
iguais em tudo, Os modo significativo para uma vida agradável e que valha a
indivíduos diferem eminteligência, beleza, habilidade arlé- pena. Distribuir esses bens mais igualmente é um meio de
tica, altura, cor de cabelo, lugar de nascimento, senso de conceder aos seres humanos o mesmo respeito.
vestuário e de muitos outros modos. Seria ridículo afirmar
que as pessoas deveriam ser iguais em todos os aspectos. À Distribuição igual de renda
uniformidade tota! tem pouco atrativo. Os igualitaristas não
podemestar propondo um mundo habitado por clones. E Um igualitarista extremista poderia afirmar que deveria
no entanto, apesar do óbvio absurdo de se interpretar igual haver igualdade financeira entre todos os seres humanos
dade como uniformidade, há oponentes do igualirarismo adultos, todos recebendo a mesma renda. Na maioria das
que persistem em retratá-lo desse modo. Este é um exem- sociedades, o dinheiro é necessário para que as pessoas vi-
plo de como se montar um homem de palha (ou um vam; sem isso, não há alimentação, habitação, vestuário.
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(O BÁSICO DA FILOSOFIA POLÍTICA
A redistribuição poderia ser justificada, por exemplo, se- Pessoas diferentes merecem quantias diferentes
gundo premissas utilitaristas, como o meio com maior
Onutra objeção à igual distribuição de renda é que pessoas
probabilidade de maximizar a felicidade e minimizar o
diferentes merecem diferentes remunerações pelos serviços
sofrimento.
dada à sociedade, Assim,
que prestam e pela contribuição
ricos chefes das indús-
Críticas à distribuição igual de renda por exemplo, às vezes alega-se que
trias merecemos vastos salários que se atribuem por causa
de sua relativamente maior contribuição à nação: eles
ge-
Não é prática e dura pouco
ram empregos e, assim, aumentam o bem-estar econômi-
É bastante óbvio
que « igualdade financeira é uma meta co geral de todo a país em que operam.
inatingível. As dificuldades práticas da distribuição de renda Mesmo que não mereçam salários maiores, talvez salá-
dentro de uma cidade seriam imensas; distribuir dinheiro rios maiores sejam necessários como um incentivo para que
igualmente entre todo ser humano adu to seria um pesa- 0 trabalho seja feito de modo eficiente, os benefícios gerais
delo logístico. Então, realisticamente, o melhor pelo eles, poderia
que para à sociedade compensando os custos: sem
este tipo de igualitarista poderia esperar seria o estabeleci- haver muito menos para se distribuir por todos, Sem o in-
mento de um salário fixo a todos os trabalhadores adultos. centivo de um pagamento elevado, ninguém capaz de dar
Mas, mesmo que pudéssemos chegar muito próximo conta do serviço o assumiria,
de uma igual distribuição de riqueza, isso duraria Aqui nos deparamos com uma diferença fundamental
pouco,
Pessoas diferentes usariam seu dinheiro de modos dife- entre os igualitaristas e os que acreditam que as flagrantes
Tentes; os espertos, os trapaceiros e osfortes rapidamente desigualdades em riqueza entre indivíduos são aceitáveis.
É uma convicção básica da maioria dos igualitaristas que
adquiririam o dinheiro dos fracos, dos bobos e dos igno-
indivíduos
rantes. Alguns esbanjariam, outras poupariam, outros ain- apenas diferenças moderadas em riqueza entre
da jogariam, assim que o obtivessem, ou roubariam são aceitáveis, e que idealmente essas diferenças deveriam
para
corresponder a diferenças em necessidades. Isto desperta
aumentar sua porção, O o meio de manter algo se-
melhante a uma igual distribuição de riqueza seria a in-
mais uma crítica ao princípio de igual distribuição de renda.
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(O BÁSICO DA FILOSOFIA POLÍTICA
parcela igual da riqueza total daquela sociedade, afirmar sua existência, Defensores dos direitos naturais não
a não ser,
é claro, que fosse uma sociedade
particularmente rica, Um conseguiram fazer isso.
método de distribuição baseado na necessidade individual
iria mais ao encontro do respeito pela
humanidade comum Igual oportunidade de emprego
do que um método
que não levasse isto em conta.
a
“direitos” eles não se referem direitos
legais, embora possam,
soas têm
a
sorte de nascer com maior potencial genérico do
levando van-
em uma sociedade justa, coin ir com direitos legais: direi- que outras, ou de ter recebido melhor educação,
tos legais, ou seja, estabelecidos pelo tagem em uma comperição aparentemente igual no mercado
governo ou por autori- de trabalho. Entretanto, a igualdade de oportunidades no
dade apropriada. Os direitos em
questão são direitos naturais é em geral advogada como apenas um de
que deveriam idealmente orientar a formação de leis. Alguns
emprego aspecto
um movimento em direção à maior igualdade de vários ti-
filósofos discordaram da ideia de que esses direitos naturais
pos, assim como igualdade de acesso educação.
à
poderiam existi Bentham foi
quem reconhecidamente re- A demanda por igualdade de oporcunidades no em-
jeitou anoção como um “rematado disparate”, No mínimo,
prego amplamente motivada pela oposição a uma muito
é
quem alega que o Estado não tem o direita de distribuir a difundida discriminação racial e sexual em algumas profis-
riqueza deveria ser capaz de explicar a fonte desses
supostos sóes, Os igualitaristas afirmam que qualquer pessoa com
direitos naturais de propriedade, em
vez de simplesmente qualificações relevantes deveria receber igual consideração
17 mm
(O BÁSICO DA FILOSOFIA POLÍTICA
17 TB
O BÁSICO DA FILOSOFIA POLÍTICA
Ta
O BÁSICO DA FILOSOFIA POLÍTICA
Na Grécia antiga, uma democracia era uma cidade- algo que exigiria tempo e um programa de educação. Seria
Estado governada pelo povo, em vez de por poucos (uma provavelmente esperar demais que todos os cidadãos esti-
oligarquia) ou por uma pessoa (uma monarquia). À anti- vessem a par das questões relevantes. As democracias de hoje
ga Atenas é considerada um modelo de democracia, em- são democracias representativas.
bora seja errado pensar nela como dirigida pelo povo como
um todo, já que mulheres, escravos e muitos outros não Democracia representativa
cidadãos que viviam na cidade-Estado não tinham
per-
missão de participar dela. Nenhum Estado democrático Em uma democracia representativa realizam-se eleições em
permite que todos os que vivem dentro de seu controle vo-
que os que votam escol sm seus representantes preferidos,
tem: isso incluiria inúmeras pessoas que seriam incapazes Esses representantes, en: io, tomam parte do processo
de entender o que estavam fazendo, tal como crianças cotidiano de tomada de decisões, processo que pode ser or-
pequenas doentes mentais graves. Entretanto, m
e os ganizado a partir de algum tipo de princípio democrático.
Estado que negasse participação política a uma grande Há diversos modos diferentes de se conduzir essas eleições;
proporção de seu povo não poderia merecer hoje o nome algumas exigem uma decisão majoritária; outras, como a
de democracia.
utilizada na Grá-Bretanha, operam um sistema de “o pri-
meiro a cruzar a linha”, o qual permite que representantes
Democracia direta eleitos
sejam que uma maioria do eleitorado não vote
ainda
E
PoLÍTICA
O BÁSICO DA FILOSOFIA
fazendo. O
Críticas à democracia competência ou conhecimento do que estavam
deveria pilotar o navio.
capitão, e não os passageiros,
Uma ilusão Um argumento semelhante pode ser
usado para atacar
Eleitores não são competentes Acredito que a pena capital é bárbara e nunca deveria ocor-
rer em um Estado civilizado. Se, em um
referendo sobre
Outros críticos da democracia, muito especialmente Platão, da pena capital, e,
esse tópico, eu voto contra a instauração
destacaram que um processo de decisão político adequado ela deveria ser ins-
no entanto, a decisão da maioria que
é
exige um grande volume de competência política, qualida- taurada, vejo-me diante de um paradoxo, Como alguém
deci-
de que muitos eleitores não têm, À democracia direta, en- dedicado aos princípios democráticos, acredito que a
tão, resultaria em um sistema político muito deficiente, uma são da maioria deveria ser decretada. Como
indivíduo de
Yez que o Estado estaria nas mãos de pessoas com pouca fortes convicções sobre o erro da pena capital, acredito que
fon o
O BÁSICO DA FILOSOFIA POLÍTICA
co, há dois sentidos principais de liberdade: o negativo e o “experiências de vida” livres de interferência do Estado,
positivo, identificados e analisados por Isaiah Berlin (1909- contanto que, no processo, ninguém fosse prejudicado,
97) em um artigo famoso, “Dois Conceitos de Liberdade”.
Críticas à liberdade negativa
Liberdade negativa
O que considerar como prejuízo?
Uma definição de liberdade é a ausência de coerção. Coer-
forçam a agir de um modo
Na prática, pode ser difícil deci 10
que deve ser considera-
ção é quando outras pessoas o
do como prejuízo para outras pessoas, Por exemplo, isso in-
particular, ou o forçam a parar de agir de um modo parti-
cular. Se ninguém o está coagindo, você é livre neste senti- d ferir os senti nentos alheios? Caso inclua, então todos
ia
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O BÁSICO DA FILOSOFIA POLÍTICA
vez que ofendem um grande número de pessoas. Por exem- sóbrios, o alcoólatra lamenta esses momentos. Tenderíamos
plo, um vizinho pudico pode sentir-se ofendido por saber em vez disso a pensar no alcoólatra como
controlado pela
que o casal de vizinhos naturistas nunca está vestido, Ou, bebida: um escravo do impulso. Apesar da falta de restri-
ainda, o casal naturista pode senti -se ofendido
por saber que ção, pelo cômputo positivo o alcoólatra não autentica-
é
todos os vizinhos só andam vestidos, Tanto os naturistas
mente livre.
quanto seus vizinhos podem sentir-se magoados com os esti- Mesmo um propugnador da liberdade negativa pode-
los de vida dos outros. Mill não acreditava
que se sentir ria afirmar que os alcoólatras, como as crianças, deveriam
ofendido deveria ser considerado umprejuízo sério, mas
ser restringidos de algum modo, por não serem plenamen-
traçar limite entre ser ofendido e ser prejudicado nem sem-
o
te responsáveis por suas ações. Mas se alguém costuma to-
pre é fácil; por exemplo, muitas pessoas considerariam
mar decisões insensatas, desperdiça todos os seus talentos e
uma blasfêmia contra sua religião bem mais prejudicial a acordo com os princípios
elas do que estraga a própria vida, então, de
um dano físico. Baseados em que podemos
de Mill, temos o direito de reprecnder essa pessoa, mas nun-
dizer que estão erradas?
ca de coagi-la a um melhor modo de vida. Essa coação en-
Liberdade positiva volveria limitar sua liberdade negativa. Os que defendem
um princípio de liberdade positiva poderiam afirmar que
Alguns filósofos atacaram a ideia de que liberdade negati- essa pessoa não é verdadeiramente livre até realizar seu po-
va é o tipo de liberdade que deveríamos lutar para aumen- tencial e vencer suas tendências ao desvio, Disto até defen-
tar. Afirmam que a liberdade positiva é uma mera política der a coação, como um caminho para a autêntica liberdade,
muito mais importante. Liberdade positiva é liberdade de é um curto passo. Isaiah Berlin afirma que a concepção po-
exercer con role sobre sua própria vida. Você é livre no sen- sitiva de liberdade pode ser usada para permitir todos os
tido posi ivo se de fato exerce esse controle, e não é livre
se tipos de coação injusta: agentes do Estado podem forçá-la
não o exerce, ainda que não esteja de modo algum sendo de que
a se comportar de certos modos sob o pretexto es-
coagido. À maior parte dos defensores do conceito positi- tão ajudando a aumentar sua liberdade, De fato, Berlin
vo de liberdade acredita que a autêntica liberdade reside em destaca que historicamente o conceito positivo de liber-
algum tipo de autorrealização dos indivíduos, ou mesmo
dos Estados,
dadefoi usado de maneira abusiva deste modo. Não por
suas próprias escolhas de vida.
em
um erro intrínseco à concepção positiva; mas a história
Por exemplo, estaria exercendo sua iberdade o alcoó-
| demonstrou que trata-se de uma arma perigosa quando
latra que é levado, contra o seu melhor julgamento,
a
gas-
tar todo o seu dinheiro em uma orgia de bebedeira? Parece
usada de modo distorcido.
E 123
O BÁSICO DA FILOSOFIA POLÍTICA
Privação da liberdade: castigo “olho por olho, dente por dente” (também conhecida
como lex talíonis, o retriburivismo exige uma reação exa-
O que pode justificar a privação da liberdade
como uma tamente proporcional ao crime cometido. Para alguns cri
de chantagem, é difícil ver em
forma de castigo? Em outras
ser apresentados para se
palavras, que
restringir pessoas,
motivos podem
tirando-lhes a
mes, o
como
RE
E
BÁSICO
POLÍTICA
O DA soFIA
EA
estar consideran-
sivo muito forte em outros que pudessem
em
Urma justificativa comum para o castigo é que ele de. do crimes semelhantes, principalmente se o público
sestimula a violação da lei: tanto pelo indivíduo geral permanece ignorante
de que a vítima do é
castigo na
que é cas- estaríamos jus-
tigado quanto por outros, que tomam conhecimento de que
*
verdade inocente, Nesses casos, parece que
nada
houve ão rificados em castigar inocentes — uma consequência
castigo, e que será aplicado também a eles caso teoria plausível de dissuasão
Se você sabe que provavelmente acabará atraente dessa teoria, Qualquer
Jem a lei.
na ca-
coibição pelo castigo terá de rebater esta
crítica,
e
deia, assim reza o argumento, é menos provável que
escolha uma carreira de ladrão do po-
que se achasse que Não funciona
deria se safar sem castigo. Isso justifica castigar até neo
mo os que não serão reabilitados pelo castigo; é mais Alguns críticos do castigo como freio para o crime argu-
Até mesmo
mentam isso implesmente não funciona.
importante que se veja que o castigo será o resultado do
que
de morte, não coibem
crime do que a mudança de comportamento do indiví- castigos extremos, como a pena
multas e
duo envolvido. Este tipo de justificativa concentra-se ex- assassinos em série; castigos mais brandos, como
coíbem ladrões,
clusivamente nas consequências do castigo. O sofrimento curtos períodos de prisão, não
À rela-
dos que perdem sua liberdade é contrabalançado Este tipo de crítica baseia-se em dados empíricos.
benefícios à sociedade,
Nopel
7
O BÁSICO DA FILOSOFIA POLÍTICA
Só é Reforma
relevante para alguns crimes
Alguns tipos de crime, como o estupro, podem voltar a ser adicional para castigar os que infringem
Uma justificativa
cometidos várias vezes pela mesma pessoa, Nesses casos, alei é a tendência do castigo a reformar os malfeitores,
Isto
restringir a liberdade do criminoso minimizará a possi é, o castigo serve para transformar-lhes o caráter,
de forma
bilidade de um novo crime, Entretanto, outros crimes são forem liber-
a que eles não cometam mais crimes quando
casos isolados. Por exemplo,uma esposa que guardou res- tados. Por esse ponto de vista, retirar a liberdade pode ser-
sentimento do marido a vida inteira pode finalmente ga- vir como uma forma de tratamento,
nhar coragem
para envenenar seu pote de cereais pela
manhã. Essa mulh er pode não representar quer amea-
Críticas à reforma
qu
a para mais ninguém. Cometeu um crime muito sério, mas
Só é relevante para alguns criminosos
não é provável que volte a cometer. No caso dessa mulher,
a proteção da sociedade não seria uma justificativa de reforma, Os que co-
para Alguns criminosos não precisam
vida não deve-
metem crimes como casos isolados em sua
castigá-la. Entretanto, na prática não há meio fácil de iden-
tificar os criminosos que não voltarão a delinquir justificativa, uma
riam ser castigados de acordo com esta
lei. E, tam-
vez que é improvável que voltem a infringir a
além
bém, há alguns criminosos que estão evidentemente
E)
O BÁSICO DA FILOSOFIA POLÍTICA
130 E
O BÁSICO DA FILOSOFIA
POLÍTICA
É
seria mais achava o envolvimento norte-americano no Vietnã imoral
importante infringir a lei do ir à
que guerra e possivelmente estaria se engajando em desobediência civil
à
matar outros seres humanos. Outros não se
opunham to- O objetivo da desobediência civil em última análise, é
das as guerras, mas achavam
a
que guerra no Vietnã era in. mudar leis ou políticas governamentais particulares, e não
justa, colocando civis sob um
grave
risco sem nenhum bon destruir por completo primado da lei, Quem age dentro
o
motivo, À amplitude da oposição à
guerra no Vietnã acabou da tradição da desobediência civil em geral evita qualquer
Ievando à retirada dos Estados Unidos,
À infringência tipo de violência, não só porque isso pode solapar a causa,
pú-
Dblica da lei indubitavelmente alimentou essa oposição. estimulando a retaliação e intensificando o conflito, mas
A tradição da desobediência
é de infringência não
civil
a maximizar
a publicidade para sua causa, Eis
por que
ocorre em público, preferivelmente na
isso habitualmente que se engajam em atos de desobediência civil, eles que-
presença de jorna- sem mudar o estado de coisas existentes, não por lucro
listas, fotógrafos e câmeras de
televisão. Por exemplo, um pessoal, mas pelo bem geral, tal como eles o veem. Eles di-
conscrito norte-americano que tenha ferem simplesmente nos métodos que estão dispostos a usar
jogado fora sua carta
de convocação, durante a Guerra do
Vietnã, e depois ocul- para provocar essa mudança.
tou-se do exército simplesmente
porque estava com medo
de lutar, e não
queria morrer, não estaria fazendo um
ato de Críticas à desobediência civil
desobediência civil. Seria um
ato de autopreservação, Se ele
agisse do mesmo modo, não
por medo quanto à sua segu- Antidemocrática
rança pessoal, mas por motivos morais, e no
entanto agisse
secretamente, não tornando seu caso público de Supondo-se que a desobediência civil ocorre em algum tipo
modo al- de democracia, ela pode parecer antidemocrática. Se uma
gum, isso ainda não se constituiria um ato de desobediência
civil. Por outro lado, maioria de representantes democraticamente eleitos vota que
um outro conscrito, que queimasse
Sua carta de convocação em «ma lei particular deveria ser criada, ou que uma determi
público, enquanto fosse filma- nada política governamental seja posta em prática, então in-
do para a televisão e fizesse
tima declaração sobre por
que fringir a lei como um protesto seria se opor ao espírito da
E) [E
POLÍTICA
OO
BÁSICO DA FILOSOFIA
134] 5
POLÍTICA
O BÁSICO DA FILOSOFIA
tal
O próximo capítulo que se segue concentram-se em
e o da democracia com uma análise filosófica do conceito
nosso conhecimento e compreensão do mundo à nossa vol- como o utilizamos hoje.
ta, com particular atenção ao que podemos aprender atra- Oxford
Liberty, organizado por David Miller (Oxford:
vês de nossos sentidos,
University Press, Oxford Readings in Politics and Go-
vernment, 1991), inclui uma condensação do ensaio “Dois
Leituras adicionais Isaiah Berlin. On Libery, de
conceitos de liberdade”,* de
John Stuare Mill (Londres: Penguin Classics, 1982), é a ex-
Para os interessados na história da filosofia política, Great
posição clássica do liberalismo.
Political Thinkers, de Quentin Skinner, Richard Tuck,
Adam
William Thomas e Perer Singer (Oxford; Oxford University Civil Desobedience in Focus, organizado por Hugo
Press, 1992), proporciona uma boa introdução à obra de Bedau (Londres: Routlege, 1991), é uma interessante co-
from
Maquiavel, Hobbes, Mill e Marx. Recomendo também Jetânea de artigos sobre o tópico, incluindo “Lerter
O pensamento político de Platão à OTAN, organizado Birmingham City Jail”, de Martin Luther King,
por
Brian Redhead (Rio de Janeiro: Imago, 1989). maiores
Para os que descjam estudar filosofia política em
Political An Introduction, de Jonathan Wolff detalhes e em umnível mais adiantado, Filosofia política
Philosophy:
Paulo: Martins Fon-
(Oxford: Oxford University Press, 1996), é uma introdu- contemporânea, de Will Kymlicka (São
crítica das tendências
ção de amplo alcance a essa área da filosofia. tes, 2006), fornece uma avaliação
É bastante difícil em
principais na atual filosofia política.
Ética prática, de Peter Singer (São Paulo: Martins Fontes,
determinados pontos.
2002), um livro que recomendo como leitura adicional ao
capítulo 2, inclui uma discussão da igualdade, incluindo
igualdade no emprego, Singer também apresenta a argu-
mentação pela igualdade para os animais. The Scepeical
Feminist, de Janet Radcliffe Richards (Londres: Penguin,
1994), é uma análise filosófica clara e incisiva de questões
morais e políticas sobre as mulheres, incluindo a questão
da discriminação inversa no emprego.