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Sociology of Law

Introdução ao estudo da Sociologia

• O que é uma ideologia?


Uma ideologia é ver algo de uma maneira diferente, podendo esta ser:
1. uma mentira
2. uma verdade que justifica dominância
3. uma promessa
4. um princípio
5. um valor subjetivo
6. uma situação em particular
7. um momento histórico, ou uma situação empírica generalizada
8. uma construção social
9. uma certa maneira de pensar
10. uma moral, filosofia, estética, religião, organização política, sistema legal,
ciência
11. a conquista da luta dos oprimidos
12. uma sociedade dividida
13. ideias
14. padrão estético
15. uma sociedade
16. um mito
Trataremos de estudar nesta cadeira a perspetiva de vários autores no que toca a
sociedade e à ideologia de cada um, confrontando as mesmas.
Podemos ainda considerar que a ideologia funciona como uma justificação de
dominância no que toca a:
• Desejo reprodutor e
• uma visão do mundo, sexualidade
• uma maneira de viver, • Homens e mulheres
• uma forma de organização política • Brancos
• uma raça • Vida urbana
• uma nação • Incluídos
• uma religião • Quem participa
• uma cultura • Educadores
• uma classe social • Nacionais para com
• trabalhadores estrangeiros
• ricos • Conquistadores
• Homens • Líderes
• Adultos

Entendendo este conceito de ideologias, podemos assumir que o seu caracter tem
algumas falhas que merecem ser denunciadas, e que posteriormente o seriam por
pensadores por exemplo como Marx. A ideia de ideologia é criticável por pontos como
por exemplo, a ocultação de contradições sociais, a naturalização e normalização, a
universalização, a externalização historicamente condicionada, a dominância real e o
funcionamento do mercado e dos seus mecanismos.
Ainda podemos fazer mais uma pergunta sobre a ideologia, que tem vindo a ser
controversa ao longo do tempo, o que realmente podemos considerar uma
ideologia?
1. Apenas as ideias dos outros, não as minhas próprias ideias
2. Tudo é uma ideologia

• Da ideologia como doutrina de ideias para a ideologia com uma


conotação negativa:
Anotoine Louis Claude Destutt de Tracy, escreve a sua obra “Éléments d'Idéologie” em
que descreve a ideologia como sendo uma nova ciência de ideias. É nesta obra que se
ouve primeiro o conceito de ideologia (1796) e em que se entende que esta é uma nova
maneira de perceber como as ideias são produzidas com uma influência positiva (já que
nesta época ouve um grande crescimento dos pensadores e da tecnologia).
Posteriormente, na obra La Décade Philosophique, Littéraire et Politique L'Institut
National Français, a ideologia é vista como um movimento filosófico, com um sentido
positivo.
A ciência da ideologia, estava por isso dividida em:
o Gramática
o Logica ou arte de combinar ideias
o Educação
o Moralidade
Para além de Antoine, vários ideologistas se foram formando ao longo do tempo, no
que se chamavam Ecoles Normales e Escoles Centrales.
Falamos agora de alguns ideologistas e da sua importância:
o Thomas Jefferson:
- Difundiu a ideologia filosófica nos EUA

o Napoleão Bonaparte
- Difundiu o movimento da ideologia no Egito, fundando o Institut
d`Egypte e o La Décade Egyptienne, Journal Littéraire et d’Économie
politique.
Para Bonaparte, os ideologistas eram a causa de todos os males, e por causa
destes:
- A revolta contra as autoridades seria um dever,
- As pessoas teriam soberania, o que impedia que Napoleão Bonaparte
tivesse todo o poder,
- As leis dependeriam de uma Assembleia
Desta maneira, cresce uma conceção negativa da ideologia como uma forma
de dizer que as pessoas não tinham nenhum sentido da realidade se
pensassem de acordo com uma certa ideologia.
Outras críticas dos ideologistas:
- Na Alemanha os que defendiam valores inspirados nos princípios da DDHC da
Revolução Francesa, eram difamados como ideologias.
- Ferdinand Lassale, criticou ainda os ideologistas, pelo facto destes pedirem
liberdade politica como se estivesse apenas ligada a interesses materiais e de
classe.
Como resposta a estas críticas, os ideologistas respondiam:
- “We, Philistines, dreamers, ideologists, allowed ourselves to be rebuked by
Frenchmen and those Germans who are like the Frenchmen. We were called
ideologists by a great Frenchman who did not suspect that what makes us such
is what he lacks to be a great man: the strength of thought, a force that is not as
momentary and shining as that of the Empire, but that is firm and powerful for
the future” (Friedrich Rohmer, Morgenblatt für gebildete Stände , nº 112,
11.5.1835).

Karl Marx (1818-1883)

Marx vai levantar muitas questões sobre a ideologia, qua antes não tinham sido
reconhecidas.

• A conceção de Marx sobre a ideologia


Marx parte da ideia sobre Igualdade e Liberdade, ou seja, critica estes conceitos pois
como poderíamos nos dizer estes existiam quando o mundo em que viviam se
contradizia no que tocava a estes aspetos sociológicos? Qual será a relação entre estes
princípios e a realidade existente a nossa volta?
Como é que se constroem estes princípios basilares? (Marx e Engels)
o Divisão do trabalho
o Divisão de classes
o Divisão de consciências
Ou seja, a classe materialmente dominante é também a intelectualmente dominante
e que pensa que a sua ideologia é uma forma de pensar universal, desta maneira
inverte-se o pensamento de Hegel, e o ponto de partida para a formação de
ideologias são as condições reais e concretas do individuo.
A conceção de Marx e Engels no que tocava à ideologia, diferia das que já existiam na
época, para eles uma ideologia não era:
o Um erro, uma ilusão
o Um consenso
o Não era explicado pela ignorância das massas e pela fraqueza da natureza
humana
o Explicada pela inoculação da existência de superpoderes nas classes dominantes
A sua critica da ideologia, baseava-se na critica da universalização e abstração da
ideologia, ou seja a ideia de que algo pensado, apresentado uma universalização e
abstração era ideologia, e ainda a explicação que a historia tem um grande palco no que
toca a formação dos pensamentos abstratos (como a conceção do casamento p.e)
Elaboração da construção teórica “Infraestrutura e Superstrutura”
Na elaboração de uma ideologia, existia uma superestrutura, que se referia aos
valores universais da igualdade e liberdade e de infraestrutura, que dizia respeito a
circulação de dinheiro e mercadorias.
Ora, a infraestrutura influenciava a superestrutura, na medida em que, por exemplo,
para assegurar uma livre circulação de comercio e dinheiro é precisa uma sociedade
capitalista em que a igualdade e a liberdade a serve.
Contradições a esta ideia de ideologia:
A separação do trabalho e as ideias de Marx e Engels, criavam problemas, dos quais
podemos referir:

• O isolamento dos indivíduos pela divisão de trabalho e competição


o Apenas alguns indivíduos conseguem melhorar a sua vida
o Contraditório com os conceitos abstratos legais da liberdade e igualdade
• A universalidade pratica dos indivíduos: multiplicidade de relações sociais e
oportunidades de expandir as atividades e capacidades:
o A ilusão de que cada pessoa pode ser o que quer ser
o Contradiz com a ideia de uma universalidade teorética de que as pessoas
podem ser facilmente substituídas.
• Alienação
o A alienação tem como um sentimento alienante em torno de si mesmo e da
separação do mundo, para os jovens hegelianos
o Esta ideia está em contradição com Marx e Engels, que referem que a
Alienação pode ser materialmente referenciada através do trabalho, pode
advir de um sentimento tedioso do trabalho. Representa abstratamente
ideias de justiça, liberdade e igualdade.

Max Weber

Weber vai se focar numa questão mais sociológica do que Marx, e procurar responder à
questão: “O que caracteriza a sociedade moderna do Ocidente?”

• O Particularismo no Direito Moderno


A questão fulcral do pensamento de Weber, relaciona-se com a Racionalidade Legal
e a Ambiguidade da mesma, ou seja, porque é que as pessoas pensam alguma coisa
sobre um direito, política ou liberdade englobando todo o sistema jurídico?
Primeiro, temos de definir o que é para Weber a modernidade, podemos dizer
brevemente que a Modernidade se relaciona com a total racionalização da
sociedade do ocidente no domínio socio-cultural, este foi também um dos
pensamentos de Marx, especialmente no que toca ao facto de ambos os pensadores
considerarem que o fenómeno cultural apenas tem valor universal no ocidente.
Ora, para Weber, a sociedade moderna e o Direito moderno traziam:

• Direito e o direito a legitimarem o Status social (tribal ou grupo social)


• Um privilégio legal, a legitimidade de usurpar privilégios e a livre associação
• Diferentes procedimentos no que tocava aos vários estados sociais, por exemplo
no que tocava aos diferentes tribunais que eram utilizados.
Apesar da racionalização destes sistemas políticos por vir a ser prejudicial numa
conceção normal de sociedade, ainda observamos nesta altura, um aumento do
Particularismo nos sistemas jurídicos, um privilégio do sentido material ao
Status e ainda mudanças em alguns sistemas jurídicos como o da Alemanha.

• A racionalização da esfera cultural


A racionalização acontece em todas as esferas da sociedade e em especial no direito
acontece uma codificação o direito, há um processo de racionalização no domínio social
e democracia, na tentativa de prever e saber uma calculabilização e regra que domina a
sociedade. Tem de se entender a sociedade por dentro de uma maneira espontânea
para conseguir fazer cumprir a sociedade e a ordem com o que descobrimos da
sociedade. Existe uma universalização dos valores universais e culturais. Todas as
esferas da cultura terão a necessidade de cumprir com esta universalização de valores.
O processo de racionalização da cultura acontecia nos seguintes moldes:

• Desencanto pelo mundo,


• Profanação da cultura
• Atribuição de legalidade as esferas culturais como a ciência, a arte, a moral e a
lei. Neste sentido, a lei vai se definir pelo que é justo, a ciência pelo que é
verdade, entre outros. Aquilo que é racional para uma esfera poderá não o ser
para outra.
Weber rapidamente se torna critico dos sistemas, pelo facto de ser algo que não se
consegue modificar, se não se comportam como o sistema capitalista espera que se
comporte, então não são aceites. É um sistema fechado e que não admite mudança na
maneira como se age em sociedade. Para Weber isso restringia a liberdade dos
indivíduos e os seus direitos.
Na racionalização do domínio social, podemos identificar dois sistemas:
1. O capitalismo (capitalist enterprise)
2. O funcionamento burocratico do estado (the bureaucratic apparatus of the
State.)
A modernidade cultural trás algumas consequências, como a perda de
significado, ou seja, de autenticidade cultural e uma maior força de chegar a um
consenso.
Por outro lado, a modernização social trás uma perda de liberdade, visto que a
pessoa pode apenas agir de acordo com o sistema, uma pessoa apenas não pode mudar
o sistema e o capitalismo.

• A perda de encanto pelo Mundo


Através da racionalização, imagens religiosas e metafisicas do mundo perdem primazia
no mundo.
Estas imagens, apareceram da racionalização, em que existe uma separação das
imagens da sua representação religiosa. Isto é um grande avanço pelo facto de que,
num momento anterior, a religião estava extremamente ligada ao poder e aos sistemas.
Estas interpretações religiosas passam a ser muito mais subjetivas, e deixa de existir a
ideia de que porque apareciam de uma elite deveriam ser universalmente aceites.
O processo da racionalização, começa com primeiro a religião estar ligada ao mundo e
ao outro, posteriormente a quebra da relação entre a religião e o mundo fruto da
racionalização da ordem que a torna extremamente diferente do que antes seria.
O que resultava desta frequente racionalização, era que então as várias esferas
sociológicas encontravam os seus próprios princípios e ideias que não estavam
relacionadas com as outras esferas como o estado, a cultura ou a sociedade.
Deixa de existir alguma unidade que antes poderia existir nas esferas que interferiam
na sociedade, e as esferas tornam-se autónomas com valores distintos.
O novo sistema, funcionava então de uma maneira racional, logica e pragmática com
um formalismo legal e com lei substancial, ao contrário da então criação empírica e
imposição da lei.

• Tipologia do racionalismo e pluralismo dos processos de


racionalização
Weber torna todos os campos da vida e da sociedade racionais, criando um modelo de
racionalismo que deveria ser aplicado em todas as esferas como no direito, na ciência e
no sistema capitalista.
Este modelo, era usado como um meio ideal de orientação e não corresponderia à
realidade. Apesar da sua teoria dizer que as esferas estavam isoladas e eram
autónomas, a realidade não era bem assim as coisas eram mais complicadas.
A realidade era muito mais influenciada pelo fenómeno histórico, e isso era o que fazia
com que as esferas estivessem mais interligadas.
O que resultava desta racionalização era que cada esfera tinha uma legalidade
especifica, racionalizada pela sua especifica razão de acordo com diferentes valores e
fins. O que para uma esfera acha racional outra não o vai achar.

• Pluralismo das esferas e dos valores


A existência de várias esferas, que se regulavam por vários valores, levou
inevitavelmente a que a divisão e a interdependência das esferas perdesse sentido, pelo
facto de que serem contraditórios uns aos outros e de regularem esferas diferentes.
Consequentemente, o pluralismo de valores, leva a que a cultura fosse mais variada e
que aparecessem questões sobre a maneira de como se poderia encapsular os infinitos
valores na nossa vida.
Weber: «the peasant, like Abraham, could die 'satiated with life'», could fulfil a «cycle
of his existence», but not the “cultivated” man, who “struggles to improve himself, in
the sense of acquiring or creating ' cultural values’”, since“his possibility of improving
progresses indefinitely, as it happens with cultural values »
Ou seja, a cultura emerge da emancipação do homem ao ciclo da vida, orgânico e
prescrito, como nunca poderemos ter acesso a todas as culturas que existem, então a
vida tornasse sem sentido. Como fim, a conceção do mundo de uma maneira religiosa
tornasse impossível pelas razões externas no mundo.
• Modernização social
A racionalização da cultura, especialmente com o protestantismo e a evolução
científica, tem uma consequência da perda de significado, a racionalização social
nos séc. 19, no que tocava à transição para o capitalismo liberal, traz uma perda de
liberdade.
O avanço da burocracia do estado e da administração, dissocia as ações ligadas a
um fim específico por um lado e o racionalismo ligado aos valores do outro. Por
isto, as organizações regulam ações que se devem ajustar para agradar as esferas
que são diferentes em valores e éticas e que não podem ser universais ligando-se a
uma visão mais utilitária de chegar a felicidade.

• MARX vs. WEBER:


- capitalism absorbs everything (the economy is the basis), when the economy changes,
the other spheres also change
- not only capitalism but also the bureaucratic → we have different cultural spheres but
have not only sphere that is more fundamental than the other. The process of
rationalization is happening in all systems, no system is superior/above other.

Émile Durkheim
Émile Durkheim (1858-1917) foi um dos fundadores da sociologia do Direito e produziu
uma obra importante para a consolidação da sociologia como ciência. Émile Durkheim
é uma figura central na configuração da sociologia na França no que concerne
especificamente a sociologia jurídica. Vários autores sublinham a importância de sua
contribuição que, aliás, ganha particular relevância quando comparada, por exemplo, à
posição antijurídica de Auguste Comte.
É considerado o primeiro grande sociólogo da história da sociologia, dedicou toda a sua
carreira ao desenvolvimento da sociologia tentando construir a sociologia como uma
ciência autónoma e com um objeto de estudo definido.

• Review do Ensaio de Gaston Richard feito por Durkheim


A ideologia de Durkheim, inicia-se com a obra « L'origine de l'idée de droit. » Extrait de
la Revue philosophique 1893. Em que o autor vai referir o que concorda e não
concorda com Gaston Richard.

• O que Durkheim aprova de Gaston Richard


1. A sua critica da maneira utilitária e metafisica de tratar a lei,
2. A sua busca pelas raízes sociais do direito,
3. A conceção de Richard sobre a primazia do Direito Criminal, a lei do contrato
vem depois.
• As duas correntes e éticas predominantes em França

Utilitarismo: Metafísica:

É uma família de teorias É uma doutrina que busca conhecer a


consequencialistas que afirmam que as essência das coisas. O comum, as leis e a
ações são boas quando tendem a existência do ser humano são os objetos de
promover a felicidade e más quando estudo da metafísica.
tendem a promover o oposto de felicidade.
Para Durkheim, o livro de Richard tem uma grande importância pois critica o
utilitarismo e a metafisica, e ainda apresenta um novo caminho na ética do direito e na
filosofia do direito.
A critica que Richard apresenta sobre estas duas teses, prende-se no facto de que
ambas são incapazes de explicar o direito como um dever sendo que ambas pressupõem
um individualismo idêntico.

• Critica ao individualismo
As éticas utilitaristas são individualistas pelo facto de fazer o seu interesse próprio no
único propósito da conduta. Por outro lado, também a metafisica é individualista, visto
que estas pressupõem uma personalidade individual.
Posto isto, o individualismo e o egoísmo não podem ser a base do direito, isto porque a
doutrina não pode dispensar a caridade e sendo este um dever, consiste em
entregarmo-nos a uma causa, sacrificarmo-nos e ajudarmos o outro.
A causa do erro individualista, era pela ignoração das circunstâncias que levaram a
formação do direito, visto que, o direito aparece pela vivencia em sociedade não é um
ato isolado, não existiria direito sem uma sociedade, pois não haveria nenhuma relação
a regular.
Logo, existe uma relação intrínseca entre a sociologia do direito e a filosofia do direito.

• A principal questão de Richard


Quais são as principais influencias sociais que dão origem à ideia do direito e os termos
em que historicamente se desenvolveu?
São estes elementos da ideia de Direito que Durkheim vai analisar e explicar na sua
obra.

• Elementos da ideia do Direito


Arbitragem: A ideia de arbitragem surge como uma forma de resolução de litígios no
seio da sociedade na medida em que havendo um problema estas possam recorrer a um
“árbitro”. Os seus objetivos sociais previnem os conflitos de se degenerarem e afetarem
o bem-estar do Homem, o que os leva a referir ao objeto do seu descontentamento com
o arbitro. O arbitro vê se obrigado a intervir na resolução do litigo pois sente alguma
pressão social pelos sentimentos de simpatia que aparecem do litígio. Podemos
entender por isso que, a arbitragem é um resultado imediato da sociabilização.
A arbitragem opõe duas partes:
o os objetivos sociais, da proteção mutual contra as causas de destruição que
provem do litígio
o um compromisso entre os interesses dos membros envolvidos.
Garantia: A arbitragem deve ser garantida à vítima, esta tem o direito de recorrer à
arbitragem sem que a parte culpada a aceite. Esta garantia nem sempre foi
acompanhada de arbitragem historicamente.
Para a filosofia do direito, podemos concluir que apenas uma existência de coerção
externa de origem convencional terá formado este resultado da garantia, sendo que os
interesses próprios preferem a submissão ao invés da falta de bem-estar (Para Rosseau
isto explica o contrato social).
No entanto, Richard e Durkheim, não concordam com esta teoria, pois em primeiro
lugar, o homem não é um ser utilitário, a calculação de ações não é o autor da história e
a anarquia do estado não é, como considerada para os contratualistas o terror.
Por outro lado, Richard, de acordo com Durkheim, diz que a existência de uma
garantia:
o provem da consciência e não de uma força exterior
o de um estado altruísta e empático e não de sentimentos egoístas.
Não é a coerção externa que trás a garantia, como os utilitaristas acreditavam, mas sim
de dentro de nós, visto que a sociedade se sente responsável pela vítima. A raiz da
garantia estava na consciência das sociedades.
Ofensa: Se a garantia é uma proteção esta pressupõem uma ameaça, o que apresenta a
ideia de a composição ser anterior ao direito.
A critica de Richard, está baseada na ideia de estarmos habituados a considerar a
composição do crime como uma violação do direito e por isso posterior ao mesmo, no
entanto estes factos têm de ser invertidos, se não existisse uma ofensa antes do direito,
mas apenas empatia e caridade não haveria nada para garantir e não existiria direito.
Para alem disso, Richard critica ainda as duas conceções da ofensa:
1. esta ser criação do legislador: Richard acredita que esta tem raízes na
construção da sociedade e não pela vontade dos governadores.
2. Esta ofensa ser uma ação particularmente prejudicial, estes são conceitos
diferentes, por exemplo a falência é algo prejudicial, mas não é uma ofensa (??)
O seu conceito de ofensa é por isso, a de que esta manifesta a falta de disposições
altruístas. A composição luta contra o egoísmo e a instabilidade social.
Punição: consequência do crime cometido, esta pode ser concebida pela “reparação”,
em que a sociedade obriga o culpado a fazer emendas pela ofensa que cometeu, e a
punição.
1. A primeira ideia da punição é a que chamamos da composição, que diz respeito
à reparação do crime causado, esta pode ser levada a cabo pelo Direito dos
contratos, sendo esta uma extensão do Direito Criminal,
2. Punição: Richard concebe esta punição como algo que a sociedade tem o dever
de dar ao criminoso, ou seja, por um lado, o crime faz com que o
descontentamento da sociedade se revele para com o criminoso, o que leva a
uma necessidade de vingança coletiva. Esta ideia é o contrário da noção de
garantia e por isso um distúrbio na ordem social, a sociedade tem de proteger o
criminoso da sua raiva e ao mesmo tempo proteger-se a si mesmo. É esta a
razão que traz a punição como uma hipótese.
Concluímos que os quatro elementos do direito provem da ideia da solidariedade social.

• O que Durkheim não aprova de Richard


Agora que entendemos as ideias de Richard, podemos perceber o que Durkheim
discorda com o autor.
1. Argumento dialético: Para Richard, uma coisa vem depois da outra e para
Richard acontecem ao mesmo tempo.
2. A ideia do direito resulta do direito e a sua reflexão na vida jurídica em sim, este
não a cria da mesma maneira de como a nossa ideia do mundo é apenas a
reflexão do mundo onde vivemos.

• Concluindo
O autor considera o Direito não como um conjunto de coisas ou de realidades
cujas regras devem ser buscadas segundo o método das ciências naturais, mas
antes como um Sistema de conceitos ligados logicamente entre si.
A lei resulta de uma limitação mútua dos nossos poderes naturas, uma limitação
que só pode se desenvolver em um espírito de compreensão e harmonia.

Hans Kelsen
• Breve biografia, introdução sobre Hans Kelsen
Kelsen era judeu e foi perseguido por Hitler.
Vive na altura em que são criadas teorias que afirmavam teorias em que as
comunidades, se organizavam numa partilha de mesmo sentimentos e
pensamentos. Também é contemporâneo a esta época Carl Schmitt, este é quem
diz que o direito é coletivo e provém de um pensamento comum e de base
parecidas. Kelsen está contra a ideia de Schmitt e todos os juristas que
pensassem dessa maneira com ideologias comum e de massificação. Schimtt
organizava o mundo entre amigos e inimigos e para ser uma comunidade então
tinha de existir um inimigo comum.
Desta maneira, Schmitt dizia que o inimigo não merecia quaisquer direitos que
pertencessem ao estado. Para Carl Schmitt o povo tinha de ser igual, se alguém
pensasse diferente então não podia existir uma comunidade e igualdade. Era
pois legitimo existir uma exterminação de judeus e dos que eram de fora e que
pensavam em coisas diferentes que não as ideias partilhadas pela comunidade
alemã.
Os judeus não eram vistos como alemães e isso mesmo legitimava o genocídio.
Desta maneira, a pessoa não merecia qualquer direito. Poderia nem sequer ser
cometido um crime e o individuo era na mesma um inimigo e não merecia
qualquer tipo de direito.
Foi neste sentido que a ideologia de Kelsen aparece. Este revelou-se
extremamente contra o direito natural e o contratualismo pois não acreditava
que existia uma ideologia comum e uma coletividade em que as pessoas
partilhassem ideias. Também nas relações de poder, este considerava que o
contrato social era um pouco falhado pois estava já comprometido pelas
relações de poder. Era uma ficção da representação, pois estava muito
relacionado com a questão da falha do contratualismo e da democracia direta.
Para Kelsen era impossível que uma pessoa representasse outra. Não era pelo
consenso que as pessoas representam outras, é numa conversa em que há a
possibilidade de existência de um compromisso, um acordo pressuposto sem
existência de um contrato social. O compromisso funciona com relações do
poder com uma participação ativa da comunidade do poder no crescimento de
uma democracia direta e da formação das normas.
Esta é uma das grandes críticas que Kelsen faz ao Estado, é um fundador do
direito internacional contemporâneo. Cria o mecanismo de controlo da
constitucionalidade e que ainda hoje é adotado pelos países.
Depois da segunda guerra Kelsen desiste de controlar o estado para dentro, pois
se apercebe que é só por fora que se pode controla-lo, através do direito
internacional.
Este direito internacional, tinha de ser capaz de controlar o estado furioso e que
funciona ideologicamente na cabeça das pessoas. É uma ordem jurídica, uma
comunidade, o Estado funciona como uma ideologia e faz como que o individuo
submeta as suas ideologias a do estado.
Esta ideia de Kelsen funciona como uma maneira de pensar bastante teológica,
de exteriorização de um Deus. Classifica isto como uma teologia política em que
Schmitt era perito na ideia em que alguém se impunha.
• A relação de Freud e Kelsen e a relação entre as suas ideologias
Freud e Kelsen eram contemporâneos e partilhavam mesmo entre si uma
relação de amizade. Kelsen tinha sido paciente de Freud e estes dois pensadores
tinham algo em comum.
Tal como Kelsen, também Freud era judeu e por isso os dois lutavam muito
contra os coletivos, não acreditando nas ideias partilhadas por todos lutando
contra o antissemitismo.
Apesar de acharmos que esta ideia de coletivismo era típica da altura de Kelsen
Freud, ainda hoje vemos ideias de pensamento massificado. Era contra estas
ideias que eles lutavam.
Quando o Freud escreveu A Psicologia das Massas, entregou o manuscrito da
sua obra a Kelsen, pedindo-lhe para que fizesse o comentário na sociedade de
um ponto de vista isolado da psiqueanalise. Posteriormente esse texto e
publicado na Imago, revista de Freud. Quando sai a 2ª edição da Psicologia das
Massas, numa nota de rodapé Freud refere-se a uma critica de Kelsen sobre a
sociedade o que leva a que Freud crie a lei utópica.
Segundo estas ideologias, dentro da nossa cabeça há leis e normas que foram
impostas pelo estado e funcionam independentemente das relações que eu
tenho com as cosias, não há vínculos afetivos. Isto aplicava-se ao estado, com a
presença destas ideias bem entendidas na cabeça da comunidade.
• O processo de identificação
A maneira como Freud explica a obtenção destas ideias na cabeça da sociedade
é chamado “Processo de Identificação”, existe quase como um paradoxo da
identificação na construção da personalidade e laços pessoais.
Freud explica como o processo de identificação ajuda a contruir a personalidade
e os laços pessoais, existem lados positivos e negativos a este processo. Um
aspeto positivo, é facilmente identificado como a maneira como a socialização
impacta a formação de uma personalidade, no entanto o psiqueanalista explica
também que existia uma ideia de autoritarismo e de heteronormatividade,
numa perspetiva quase antidemocrática.
• Como é que a teoria da identidade influencia Kelsen
Kelsen começa a fazer a critica da sociologia da época, especialmente da ideia de
Durkheim e de Zimmer. Perante estas, diz que se trata de uma ficção, e o que
apenas existe são divisões das pessoas impostas pelos estados de uma maneira
sociológica.
Durkheim acredita que se as pessoas atuassem numa coletividade, a pessoa
individual acabava por desaparecer passando apenas a existir uma
personalidade coletiva em que fazem coisas que nunca fariam sozinhas. As
sociedades impõem-se pelo individuo. Estas ideias são fortemente criticadas por
Kelsen e Freud.
Freud começa as suas análises com a conceção do eu ideal e analisa isso
primeiro no individuo na obra a que chama Ensaio do Narcisismo, constitui um
eu individual a que se junta o mundo real em que a pessoa idealiza como é,
como a ação é, como a nação é, a religião etc. as características negativas destes
campos sociológicos são projetadas na sua personalidade. Este ensaio julga todo
os campos da sociedade e da vida, partindo do primeiro ideal.
Freud opera uma importante viragem na história. Aparece como um individuo
de fora a julgar os outros, o que nos faz questionar, será que o individuo não
sofre com estas construções culturais? Não, ele está a ser julgado na sua cabeça,
sendo que esta sociedade ao mesmo tempo que absorve a cultura e as ideias que
vê a sua volta, cria a sua personalidade.
Passa a existir uma psicologia social, ao invés de uma psicologia individual,
refletindo numa sociedade interiorizada dentro das pessoas e da sua cabeça. A
pessoa passa a julgar o mundo e os que não tem os seus ideias, a sociedade é de
uma certa forma internalizada. A reflexão de Freud aparece como inserida no
mundo interno em que o individuo constrói o seu ideal dentro de si, querendo
ser o melhor.
Freud analisa o aspeto desta questão no Ensaio do Luto e Melancolia. No luto a
pessoa perde o interesse pelo mundo e depois recupera a vontade de viver, por
outro lado na melancolia a pessoa perde o interesse pelo mundo, a perda de um
objeto de amor que é perdido e passa a rejeitar o individuo que entra num
estado de melancolia. A pessoa que eu amo assume o lugar do eu ideal e que
agora me rejeita e estando dentro de mim também eu me rejeito na cabeça.
Passo a fazer dentro de mim as rejeições que a pessoa me faria a mim
exteriormente. Há de facto uma interiorização, um juiz dentro da minha própria
cabeça.
Freud analisa também coletivos, o Totem, o pai que faz com que a sociedade
partilhe pela convivência e pela comunidade uma ideia geral. Esta é uma figura
autoritária, as normas jurídicas se impõem pelos indivíduos representando um
autoritarismo. Durkheim apenas analisa como uma sociedade totémica aplica o
autoritarismo. Freud vai criticar o autoritarismo. Nas sociedades modernas
acontece o que acontece nas sociedades primitivas que é o que Freud explica na
ideologia das massas.
O ideal não é uma repressão exterior, mas sim internalizada e acompanhada por
um sentimento de culpa permanente, com a existência de um juiz interior na
nossa moral que vai criar vários problemas psicológicos. Parte da criação da
identidade como raça, como nação e como pessoa. Kelsen compara a sua
ideologia com a de Durkheim que não explica o autoritarismo como Freud faz.
Freud explica que a razão de interiorizarmos as normas acontece pela ideia da
identificação.
É uma forma de amor, uma ligação afetiva de libido e de eros, sendo esta
também paradoxal, podendo levar a coisas positivas ou negativas.
É um processo que acontece desde o nascimento, a criança tem uma
identificação de tudo o que se confronta com os heróis imaginários, as
personagens etc. a aceitação de algumas características e a rejeição de outras é o
fenómeno saudável da identificação. Consigo contruir a minha personalidade, o
que quero ser, o que rejeito e o que não quero ser enquanto crio laços afetivos.
As pessoas que eu amo, são quem me ajuda a fazer uma construção a minha
personalidade.
O projeto para a criação da personalidade é um processo positivo que começa de
pequeno para grande que se fixa em modelos pequenos e únicos. A rejeição é
necessária para criar uma personalidade que os outros não podem aceder e que
devo renegar e discriminar.
Esta identificação é um processo aberto e infinito e que deve continuar, mas que
leva a fenómenos psicológicos. O que acontece é uma fixação das massas e um
fenómeno pela identificação.
Freud explica o amor, deste modo, havia dois motores da vida humana. O amor
e a fome. O amor é a vontade de me unir em comunidade e a fome é o que leva o
individuo a sobreviver e que se relaciona a laços contruídos. Chega ainda a outra
conclusão, o ser humano age não só por fome, mas também por ódio. O ódio é a
vontade de destruir levar as coisas de um estado orgânico a um estado
inorgânico, há um paradoxo entre os dois. O ser humano tem impulsos que não
conseguem combater o odio e também um motor que não aparece em animais
apenas em seres humanos. Freud apercebe-se disso. Trabalha com o conflito
entre a vida e fome e passa a trabalhar sobre a vida a existência de fome de odio.
A morte é passada para todos os que não partilham os meus ideais e que se
tenho uma fixação patologia na minha religião, na minha raça etc. então a outra
raça deve desaparecer. As pessoas preferem a morte a mistura. Freud considera
que os outros estão excluídos e eu vou projetar neles o desejo que eles
desapareçam e ainda o odio, fazemos coisas porque nos identificamos com uns e
não com outros.
Ainda hoje em dia vimos estes casos como os que foram criminalizados por
ajudar a migração ilegal.

• A ideologia de Freud traduzida para Kelsen


Tudo o que Kelsen queria era criticar coletividades. A ideologia das massas
aparece para Kelsen da maneira em que os outros falavam sobre outras massas
em que o individuo desaparece na massa e se torna criminoso, pois é legitimada
a ideia de um inimigo comum em que é possível cometer todos os tipos de
crimes, a que chamamos massas primitivas. Kelsen analisa ainda massas
espontâneas que são contra instituições coletivas, na psicologia das massas,
Freud diz que este fenómeno são massas permanentes e funcionam com as que
existiam nas instituições que Freud diz como sendo massas. Freud analisa duas
massas, a igreja e o exército. Estas duas instituições têm ideias parecidos e
coloca o que acontece no primitivo no que se passa na época moderna, a
diferença fundamental é que Kelsen chama as instituições de massas e critica-
as.
• Como funcionam as massas?
As pessoas nascem livres, são educadas e condicionadas ao autoritarismo entre
outras questões. Freud analisa o comum entre a igreja e o exército, o estado.
Quando o estado assume um inimigo então autoriza os seus cidadãos a matar o
inimigo e fazem no pelo estado.
Kelsen pergunta-se se o estado é uma massa. Ora o estado não precisa de
identificação, é uma ideologia, não é preciso identificação das pessoas, mesmo
que as pessoas não tenham as suas características são na mesma vinculadas pelo
estado e que esta ideologia está dentro da nossa cabeça e vamos desde crianças
construir o supereu por normas exteriores que vão agir dentro do nosso interior
e personalidade.
Kelsen pensa numa ordem jurídica, o direito não cria ordem e obediência, só o
contrário, é produto de uma ação política. O que produzem é desordem e
vontade de confusão e obediência. Kelsen apesar de criticar a obediência pensa
como deve ser a construção democrática e desta forma desenvolve a conceção de
uma democracia direta em que não existe coletividade.
Não pode haver um representante, há uma ficção da mesma, a lei tem de
representar todos.
Freud: direito, porque a guerra? Einstein era muito importante na liga das
nações. Uma das atividades foi promover uma troca de cartas a importantes
pensadores da época sobre a paz. Einstein escreve a Freud, a carta é publicada
com o nome de porque a guerra. Ou seja, será que as pessoas podiam dizer que
não queriam a guerra e que as pessoas tinham processos de identificação que
levavam ao odio e de morrer e matar. Aparece a noção de direito, como é que o
direito lida com isso? O direito é expressão de relações de força entra em
conflito os regimes com ideias e conceções distintas de Kelsen no que diz
respeito a estas questões e dos grupos com poder sobre outros que são regulados
pelo direito em si.

Focault
• Introdução
Francês nascido em 1926, que estudou matérias de história, sociologia,
psicologia e filosofia.
Preocupa-se maioritariamente com a multidisciplinariedade, teve um contato
próximo com Pierre Bourdieu e Jean Paul Sartre.
O seu tema de maior interesse e que vai discutir é a arte de governar e a
multidisciplinidade.
• A arte de governar
Focault vai analisar duas realidades diferentes, uma que se passa durante a
idade média e a antiguidade clássica e depois da mesma, durante a 2º metade
do séc. XVI.
o Até ao século XV- Conselhos ao Príncipe
Até esta altura, eram dados conselhos ao príncipe e formulados
tratados políticos que diziam respeito a sua conduta, o exercício do
poder, os meios de assegurar e aceitar bem como respeitar as matérias
reservadas ao príncipe, o amor e a obediência a Deus, e o mais
importante na sua soberania, a aplicação da lei divina nas cidades.
Era necessário assegurar a aceitação e respeito dos súbitos.

De um ponto de vista comparativo com os textos da modernidade, os


primeiros, ao contrário dos outros, focam-se na economia especifica
da população. Focavam-se ainda na soberania, sem ligar à arte do
governar, o governo é a maneira de administrar a riqueza das
instituições como por exemplo aquilo a que chamava o Estado da
Familia.

o Desde a segunda metade do séc. XVI até ao fim do XVIII- A arte de


governar
São criados tratados sobre a Arte de Governar, o governo passaria a
ser um problema geral, na medida em que:
▪ O próprio governo individual
▪ Governo das almas e vidas
▪ Governo das crianças (pedagogia)
▪ Governo do Estado
É exercido um micro poder, que é de maneira igual exercido pelo Estado,
o que é considerado um poder macro, o poder é exercido por um
individuo próprio.
Estas mudanças acontecem durante o séc XVI pois foi um século em que
se revelaram duas grandes mudanças, a quebra das estruturas feudalistas
e a Reforma e Contrarreforma protestante.
Neste sentido do contexto histórico, existiam duas tendências distintas:
Por um lado, a concentração estatal e por outro a incidência da religião.
As questões eram agora:
▪ Como governar o individuo
▪ Como podemos ser governados
▪ Como nos podemos ser governados
▪ Como nos tornarmos os melhores governadores
▪ Quem é que seria aceite para ser respeitado como governador

• O Príncipe de Maquiavel
Contextualizando esta obra na época histórica em que apareceu, sabemos que
este livro do século XVI:
o Ancorou o debate sobre a governação
o Inicialmente, bem recebido pelos seus contemporâneos
o Alvo de críticas entre os séculos XVI e XVIII
o Ressurge no início do século XIX, principalmente, na Alemanha e em
Itália
Este documento volta a emergir no início do século XIX, devido as revoluções
Napoleónicas, a Revolução de França e dos estados Unidos e com o nascimento
das democracias, existe um debate relativamente ao absolutismo pois estes
chocavam de uma maneira ou de outra. Neste sentido, apareciam questões que
se relacionavam com a critica ao pensamento e ideias que vinham expressas no
Principe de Maquiavel. Estes problemas foram fixados por Clausewitz:
o Relação entre política e estratégia
o Relações de força e o seu cálculo como princípio de inteligibilidade e
racionalização nas relações internacionais
o União dos territórios alemão e italiano

Iremos agora analisar como as diferentes partes da sociedade vinham


apresentadas n´O Príncipe de Maquiavel.
o Política n´O Príncipe
Estava organizada no sentido da existência de um Princípio, Corolário e
Conclusão
Princípio: O príncipe encontra-se numa relação de singularidade e de
externalidade em relação ao seu principado, não existindo uma ligação
fundamental, natural, essencial e jurisdicional entre o príncipe e o principado,
independentemente de como este chega ao trono. Este precisa de legitimar o seu
poder, não há nenhuma maneira racional de explicar ou justificar o seu poder. O
príncipe é uma identidade externa a tudo.
Existe uma ligação de violência, herança ou tratado, entre o príncipe e o
principado.
Corolário: a ligação entre o príncipe e o principado é fraca, permanentemente
sob ameaça:
○ Externa → inimigos do príncipe
○ Interna → súbditos que não aceitam o seu domínio
Conclusão: O objetivo do exercício de poder seria a proteção do território do
príncipe.
• Críticas a Maquiavel (Focault)
Emergem várias obras que vem criticar a ideia de Maquiavel e a sua tese, uma
dessas sendo Gillaume La Perriere, autor de Miroir Politique. Este relevava que:
● Capacidade de manter o principado não equivale à arte de governar, esta
estava intrinsecamente ligada a governar uma casa, a alma, crianças,
província, convento, ordem religiosa e família.
● O termo governante não se esgota no príncipe e por isso o mesmo
acontece com o ato de governação, este podia ser várias coisas como o
monarca, o imperador, o rei, príncipe, lorde, magistrado, juiz etc.
o Formas de governo: internas e imanentes
Existiam de um ponto de vista contra a leitura d´O Príncipe, praticas de
governo contrárias a este. Não se envolvem apenas o príncipe mas outros
elementos também.
Há várias formas de governo, sendo a relação entre o príncipe e o principado
apenas um delas. Era necessário agora saber qual é a forma particular de
governo que se aplica ao Estado como um todo.
O príncipe agia como uma fonte externa e transcendente ao Estado, estes
outros tipos de governo eram internos e eminentes do Estado.
o Tipologias de governo
Existiam três tipos de governo, segundo La Mothe Le Vayer (Tutor de
Luís XIV), cada um destes está relacionado com uma ciência em
particular.
1) A arte do próprio governo – relacionada com a moralidade;
2) A arte de governar uma família – economia (na altura, este
conceito estava relacionado com a administração da família);
3) A ciência de governar o Estado – que concerne à política.

Estes tipos de governo teriam um tipo de continuidade entre eles, para


isso era necessário desenhar uma linha que separava o poder do príncipe
e de outro tipo de poder com a teoria da soberania, esta que tinha uma
função de explicar a descontinuidade entre estas. A arte do governo tem
como tarefa, estabelecer uma continuidade numa direção upwards and
downwards.

o Upwards continuity e Downwards Continuity

- “Upwards continuity”: Um indivíduo que deseje governar bem o


Estado deve aprender, primeiramente, como se governar a si mesmo,
os seus bens e o seu património. Só depois estará pronto para
governar o Estado. Este ponto estaria assegurado pela pedagogia do
príncipe.

- “Downwards continuity”: Quando um Estado é bem gerido, o


chefe de família saberá como tomar conta da sua família, dos seus
bens e do seu património - i.e., os indivíduos comportar-se-ão como
devem.

• Economia e o seu impacto na arte de governar


A arte de governar é perceber a economia - ou seja, perceber qual a forma
correta de gestão do indivíduo e bens pelo chefe de família. Tinha de
existir uma introdução da economia na prática política.
Durante esta altura, existia uma importância de Rousseau e do seu artigo
“Political Economy”.
O termo “economia” utilizado corretamente para significar o governo
sapiente da família para o bem comum.
A riqueza e o comportamento de cada um seria uma forma de controlo e
observância do povo.

o Rosseau e Quesnay
ROUSSEAU: Governar um Estado era aplicar a economia da
família ao mesmo, isto é, exercer um tipo de vigilância e controlo
sobre os habitantes, riqueza e comportamento de cada.
FRANÇOIS QUESNAY (pensador do século XVIII), a economia
define-se como sendo sinónimo do bom governo.

A economia passa, durante o século XVI a ser uma forma de


governo, adquirindo no séc. XVIII o sentido moderno de hoje de
realidade.
• Governar coisas
o 2.º ponto de Guillaume de La Perrière: governar implicar a correta
disposição das coisas, organizadas de forma a alcançar-se o fim mais
conveniente.
o Surge aqui o governo das “coisas”.
o Para Maquiavel, o princípio jurídico era o governo do território e dos
seus habitantes, e não das “coisas”.

Focault vai tentar definir o que La Perriere define como coisas, sendo
estas relacionadas com o homem e as suas relações. Tais como:
- Riqueza; recursos; meios de subsistência; território com
qualidade (clima, irrigação, fertilidade);
- Costumes, hábitos, formas de agir e pensar;
- Acidentes e azares como a fome, epidemias, morte, entre
outros.

• Finalidade
A finalidade da soberania seria o bem comum, mas o que seria realmente
este bem comum?
Sabemos que a soberania é circular e que o fim da soberania é o próprio
exercício da soberania, o governo e a soberania eram, portanto, coisas
diferentes.
Neste sentido a tese de Focault aproxima-se da de Maquiavel e d´O
Príncipe.
Para La Perrière, há uma pluralidade de finalidades, o governo não
impõe a lei aos homens, mas sim tem a finalidade de disponibilizar coisas
e que:
o Que o maior nível de riqueza possível é produzida;
o que as pessoas tenham meios suficientes para subsistir;
o que a população tenha a possibilidade de se multiplicar.
A preocupação do governo é utilizar táticas (ao invés de leis) para chegar
às finalidades.

• Características de um bom governador


o Paciência – “He must have patience, rather than wrath”
o Sabedoria - conhecimento das coisas, dos objetivos que devem
ser cumpridos, da disposição de coisas necessárias para alcançar
esses objetivos
o Diligência - governador apenas deve governar ao serviço
daqueles que governa

• Triangulo de Focault

ALVO - população
soberania governo
MECANISMO - aparelhos
de segurança

disciplina
• Governamentalidade
o Formada por um conjunto de instituições, procedimentos,
análises, reflexões, cálculos e táticas
o Alvo - população; Principal forma de conhecimento - economia
política; Meios técnicos utilizados - os aparelhos de segurança
o Tendência para a proeminência deste tipo de poder
o Leva à formação de aparelhos governamentais específicos e ao
desenvolvimento de uma rede complexa de conhecimentos →
permitem então o exercício deste poder
o Processo gradualmente mais “governamentalizado”
É atribuído um valor excessivo ao problema do Estado.
• Formas de poder no Oriente

Luhmann
Direito como um sistema social
• Introdução
Niklas Luhmann foi um sociólogo que durante a sua carreira estudou em
Harvard e dedicou o seu estudo ao Direito como um sistema social.
Vai analisar como é que se estabelece a relação entre o sistema legal e o
sistema social. A lei atua em sociedade, concretizando uma função social
através da sua reprodução autopoiética.
Iremos analisar como é que se pode mudar a sociedade e como é que a lei
opera em sociedade.
• Teoria da sociedade
Sistemas clássicos da sociedade:
o A sociedade funciona como um sistema aberto, que se adapta ao
ambiente em que se encontra,
o A lei é um mecanismo regulatório, que serve de adaptação da
sociedade ao seu ambiente. A lei apoia e confirma a sociedade.
o Existe uma teoria evolucionária.
Sistema autopoiético da sociedade:
o A sociedade é um sistema fechado, que se reproduz nas suas
operações, sendo que estas não se relacionam ao ambiente em
que estão inseridas.
o Devido a este ambiente, o sistema fechado recebe irritações
Estes sistemas operam de uma maneira circular em si mesmas que
autonomamente determinam as suas estruturas, que produzem e
reproduzem-se de uma maneira circular que garantem as operações deste
sistema.
• Futuro
O futuro difere visto dos dois pontos de vista diferentes. No que diz
respeito ao sistema clássico, este seguiria uma teoria evolucionista, sem
regressões. Por outro lado, a teoria do sistema autopoiético define que:
o Não há preposições de uma evolução sendo que o futuro está em
risco,
o Existem severas maneiras de destruição, regressões catastróficas,
perdas de complexidade, ameaças ecológicas que poderiam acabar
com a vida no planeta. Por exemplo a pandemia.

• Conceção Autopoiética do Direito


Qual é o papel do direito?
1. Formação de uma sociedade autopoiética dentro de sistemas
autopoiéticos,
2. Os sistemas legais operam dentro do sistema social
3. Os sistemas tornam-se ambiente para outros sistemas
4. A função do direito: estabilização sistémica das expetativas
normativas.
A perspetiva autopoiética, baseasse na independência da ciência, sendo
que o direito e a ciência não precisam de outras esferas para se definir.

• Expetativas Cognitivas e Normativas


As expetativas cognitivas, relacionam-se com a capacidade de aprender.
Estas tem levado para uma tendência na consolidação da sociedade
global. Não impedem que não haja sistemas legais nacionais.
Não há ciências nacionais ou um sistema económico nacional.
Os direitos humanos, revelam-se uma institucionalização de
compromissos de valores, que se estendem a programas moralmente
motivados. Tem de se ter em conta o problema dos pobres, os mais
necessitados, o “terceiro mundo”.

- Expetativas cognitivas: o contrário das expetativas normativas,


não são reintegradas no caso de frustração, mas adaptam-se à
realidade contrária à sua. São verificadas no sistema social por
terem interesse na adaptação e aprendizagem, contrariamente a
reduzir incertezas do futuro. Neste caso a ciência.
- Expetativas normativas: estão para alem do mundo legal
estabelecido, mas também contra a lei, o que conta é a
humanidade.
- Normas jurídicas: inclui os direitos humanos, estes são validos até
questão em contrário, apresenta esta ideia de temporização das
normas. Está relacionada com o sistema legal ser em si uma fonte
de risco, visto que há incertezas na alteração da lei.

• Temporalização da validade nas normas


Os sistemas legais reagem de maneira diferente ao que:
o Superficialmente diz respeito a uma mudança de valores, mas que
é na verdade uma tendência que deriva desta temporalização.
As normas e a sua validade, não são baseadas na constante da religião,
natureza ou estrutura social, estas são validas até prova em contrário (por
assim dizer).
As normas estão equipadas com assunções da realidade onde o sistema
legal se tornará inadequado.
• Sociedade dinâmica: Particularmente evidente na relação das
dinâmicas de:
1. Avanços tecnológicos e científicos nas indústrias farmacêutica e
médicas,
2. O crescimento da computorização da informação tecnológica,
3. O aumento das discrepâncias, entre a educação e o usos de
trabalhos que não exigem educação protegidos pela lei, de maneira
a não provocar preconceitos,
4. As mudanças no sistema científico,
5. As mudanças nas áreas privadas como a dependência de opções de
carreira ou status social do individuo.
• Função do direito numa sociedade dinâmica
A sociedade é vista como a causa do que foi previamente aceite como
destino, espera-se que esta previna, resolva e compense por desvantagens
o que afeta indivíduos de maneira diferente.
Esta função, que é levada a cabo pelo sistema político, é
maioritariamente responsabilidade do direito.
Criticismo de Habermas:
- É difícil pedir por legitimidade no sentido de guia de valores
constantes e princípios.
- Para Habermas, os procedimentos feitos dentro do estado de
direito são automaticamente vistos como base de legitimidade.
• Mudança legal
As expetativas normativas não encontram uma estabilidade no direito, é
necessário entender que expetativas são relacionadas com o direito e
quais não são.
A lei tem de estar preocupada com a proteção de algumas expetativas e
com a estabilização factual e projeções do futuro. Para mudar o direito é
necessário contratos de legislação.
A lei não pode ser estável durante o tempo, o que é valido uma vez não o
é para sempre.
Posto isto, a mudança legal:
o É resultado de legislação, que pode e deve tomar em consideração
novos factos,
o Resultado de decisões superiores do tribunal, que deixam pouco
espaço para poder integrar estes problemas com os seus
resultados individuais dos casos.
• Risco
Controlo de risco:
Aquilo que importa é aliar a responsabilidade as possibilidades de
controlar o risco e contradizer a “ilusão de risco”.

Reconhecimento de risco:
Será o direito capaz de reconhecer o seu próprio risco?

O direito tem riscos pois também a sociedade o é, e o direito é também


parte de uma esfera social.
O risco não é, no entanto, uma adaptação.

• A elevada instabilidade nas estruturas normativas


O direito não pode garantir segurança se a sociedade em si vê o seu
futuro como um contingente do risco, o que se relaciona com a tomada de
decisões.
Tem de existir uma abstinência dos princípios, a teoria legal tem uma
dimensão de tempo.

• Resumo do que encontramos de mais importante neste


capítulo de Luhmann
1. A função do direito como a estabilização normativa das
expetativas que pode ser relacionada ao problema geral dos custos
sociais do tempo.
2. A validade da lei que não é estática, mas sim dinâmica,
3. O critério de decisão da estimativa de consequências que
relacionam a validade do direito ao tempo e ao futuro,
4. A racionalidade peculiar do direito.

• A racionalidade do direito
Ora de um ponto tradicionalista, podemos dizer que a racionalidade está
no legislador, nos dias de hoje a racionalidade e as razões da tomada de
decisão relacionam-se com:
- Princípios (Dworkin)
- O que é culturalmente compreendido (Parsons)
- Consenso sem coerção (Habermas)
O que acontece depois da racionalização do direito?
• Contribuições da teoria Sociológica para o direito
Não existe muita contribuição útil da sociologia ao direito, pelo facto de
que o sistema jurídico tem de ser fundado nas normas de direito valido.
No entanto, esta contribui com conflitos de outra maneira.
Qualquer um de nós poderia esperar que o sistema jurídico estivesse
interessado em seguir a teoria sociológica depois da falha do direito
natural e os princípios de ordem axiológica- logica.

• O direito como o sistema imune da sociedade


O Sistema Jurídico é uma maneira de levar um futuro aberto para a
sociedade.
O direito funciona como o sistema imune da sociedade, como este,
relaciona-se sem qualquer conhecimento do seu ambiente. Este aprende
dos conflitos.
• Lei
- a formulação das leis é como a geração de anticorpos para casos
específicos,
- se nenhuns esforços forem feitos no sistema imunitário, este não
pode aprender e consequentemente não pode gerar problemas
relacionados com os mecanismos de defesa.
• Tensão
Existem problemas com esta ideia, pois cada vez mais cresce a procura
pela autodeterminação. Também a sociedade usa o direito para se
contradizer a si própria.
Luhmann critica o direito visto pela teoria liberalista:
o a função do direito prende-se como ser um instrumento para
assegurar a liberdade,
o não é valor interpretativo
Também se aplica aos direitos humanos:
o estes não estão à disposição do individuo,
o não são, por isso, direitos subjetivos.
A desobediência da lei e os direitos humanos, relacionam-se ambos com
o individualismo moderno.
• Sociedade Global
Há apenas uma única sociedade global, no entanto este sistema
internacional gera um conceito problemático sobre o que é a nação e o
que é “inter”.
As nações não serão por isso, um sistema social.
A similaridade de condições de vida não é um problema pois não retira o
facto de ser uma nação.
• Rede de comunicação
Um sistema e rede de comunicações é crucial:
o As diferentes línguas podem ser traduzidas,
o A comunicação é feita tanto por media internacional como media
privada.
A unidade desta comunicação cognitiva e interesses poderá ter levado à
economia global.
O sistema global e político, leva a que os estados entrem em
dependências indissolvíveis nos diferentes estados e na diferente visão do
welfare modernos e as logicas de prevenção e intervenção.
• Sistema jurídico da sociedade global
Este é um sistema funcional e global. As leis podem ser traduzidas de
uma ordem legal para o outro, sendo que se encontra acima de toda o
direito internacional privado.
Existem, semelhanças formais e diferenças gigantes nas diversas regiões
do globo.
Posto isto, a sociedade global tem uma ordem mas não tem legislação
central, ou um órgão de tomada de decisões.

• Direitos humanos
Este é um indicador da existência de um sistema jurídico global, e que
demonstra também a atenção dada à violação dos mesmos.
A ideia de direitos humanos, vem desprezar o antigo direito europeu
natural e tem uma conexão próxima com a construção de contratos
sociais.
A ideia veio da europa, paralelamente à formação dos estados modernos.
Os direitos humanos não beneficiam de claridade dos princípios básicos e
a precisão de textos relevantes, mas sim da evidencia de violação dos
mesmos,
Os direitos básicos como a liberdade e a igualdade são reconhecidos, mas
entende-se que estes podem vir a mudar consoante a legislação e o quão
pouco afetam situações reais.
O estado tem de ser responsável pelo respeito dos direitos humanos.

• Crescimento dos direitos humanos


Houve um crescimento do estado providencia depois da II Guerra
Mundial, os direitos humanos passaram a ser entendidos não apenas
como direitos protetivos, mas também de suporte.
Existem conceitos que atribuem ao ser humano interesses que
contribuem para o desenvolvimento e que são próprios.
Relacionado, temos as discrepâncias entre membros da sociedade que
são vistos como experiências de injustiça social.
O problema destes direitos humanos, une-se com a expansão e demanda
de trabalho social e ajuda.
• Violações severas dos direitos humanos
Estas são muitas vezes relacionadas com deportações, expulsões, mortes
ilegais, detenções, torturas com a autorização do Estado.
Isto não é, no entanto, suficiente para ver os direitos humanos como
individuais.
o Sugere que o sistema jurídico global devia estar baseado não em
direitos mas deveres.
o No entanto seria errado que um estado como os Estados Unidos se
revela-se júri e sanciona-se poder mas que rejeita-se ser alvo do
tribunal interno de direitos humanos.
• Resumo da doutrina dos direitos humanos
Paradox:
• relation between individual and law
Doctrine of social contract:

• circularity.
• The fact that the contracting individuals were bound by the contract
could only be explained by the contract.
Natural Law:

• also, circular.
Meta positive law needs positivization:

• open paradox.
Also, a paradox to say that rights are implemented only by their violation and
the corresponding outrage (Durkheim).
Every notion of reasons founder on a paradox. So, no relevance of the specific
European tradition.
A global structure of legal norms independent of regional traditions could be
expected.

• Desenvolvimento regional
Global law and different regional developments in law.
Structural coupling of the political system and the legal system though
constitutions do not have an equivalent at the level of global society.

• Exclusão
Problem:
• large parts of the population are not included in the communication of
functioning systems.
• In other words:
o stark difference between inclusion and exclusion.
o Pronounced form of social stratification.
When the inclusion of some depends on the exclusion of others:
• this difference undermines the normal functioning of functioning
systems.
This affects law, for the legal system is based not only on the sanctions of the
system, on sentencing and punishment, but also on the society-wide resonance
of breaches of law, which is an additional motivation for obeying the law.
Exclusion as “the situation where people are not considered relevant
participants in communication and therefore are not given a communicative
address”
Inclusion refers to the scenario where people in a certain social system “are
considered relevant communicative addresses and as bearers of social roles”.
• Ecological Issue
Exclusion of large parts of the population from the participation in the
advantage of development is seen as only a transient condition of development.
Question: the high level of welfare found in some industrial countries cannot be
worldwide realizes –for ecological reasons alone.

Habermas
• Razão e Ação- Sociologia do Direito vs Filosofia do Direito
Tem de haver comunicação de razão e ação, o objetivo compreensão, é
uma racionalidade intersubjetiva.
De uma razão e ação, o objetivo é o sucesso.
Uma razão comunicativa tem como objetivo a compreensão. Tem de
existir uma racionalidade intersubjetiva, de uma maneira subjetiva seria
pensar comigo.
A razão comunicativa tem como objetivo a compreensão de falar com
outras pessoas de maneira a entender se estas concordam ou não.
O único critério é provar que o que pensamos é correto ou não, se outras
pessoas pensam e concordam. Cada um é convencido pelo melhor
argumento.
A razão estratégica, tem como objetivo o sucesso, este é o tipo de
racionalidade de mercado e economia da administração de relações de
poder. Esta age de maneiras egoístas.
Para além da razão x e y, há a ação x e y.
Relação com Habermas – Habermas considera que valores e princípios são os
fundamentos do Direito. Luhmann critica no sentido de ser difícil legitimar o
Direito sobre valores e princípios. Para Habermas o processo subjacente ao
próprio direito é suficiente para o legitimar.
• Sociedade
Constituído por:
1. Mundo da vida
2. Sistema

• Mundo da vida
Esta é uma reprodução material a partir da razão estratégica, esta é uma
reprodução simbólica a partir da razão comunicacional.
Esta construção do mundo da vida tornar-se-á direito. para isso é preciso
que haja uma universalização, algum tipo de consciência. Isto significa
que todas as pessoas que participam chegam a um acordo. As pessoas não
pensam em seguir apenas interesses particulares. Existe um tipo de
racionalidade que acaba por liderar este debate. O outro tipo de razão que
lidera este debate, leva a que a razão comunicacional formule razões
universais.
Isto é o que vai dar legitimidade ao direito. é necessário ter reivindicações
morais com conteúdo universal que vem do mundo da vida.
Existe sistema e mundo da vida, não são penas sistemas como os para
Luhmann, esta relação entre o Mundo da Vida e os sistemas é algo que
algumas reivindicações morais feiras pelo mundo da vida se tornariam
sistema mas não de uma maneira direta.
Para Luhamn, o direito é visto também como um sistema. Para
Habermas, existe a sociedade (esferas publicas), o mundo da vida e algo
completamente diferente a que chamamos sistema.
O mundo da vida faz formulações de justiça (o que é ou não justo). Tanto
o estado como a economia vão ser regulados pelo direito. o direito não é
no entanto, o direito não é outro sistema. O direito vai observar as regras
que vão ser incorporadas pelo direito.
O direito vai ser uma intermediação entre o sistema e o mundo da vida.
Os sistemas autopoiéticos não consideram que a sociedade é apenas
construída por sistemas, mas também o mundo da vida.
• Sociedade: mundo da vida e sistema
Ao contrário de Luhmann, a sociedade não é apenas construída
pelo sistema. O mundo da vida é o mundo da ação
comunicacional. A estratégia da razão/ação são o trabalh0 no
sistema. Há dois tipos diferentes de racionalidade nestes os dois.

• Conceito do mundo da vida


Reprodução material pela razão estratégica, a reprodução
simbólica é feita pela razão comunicativa.
• Processo circular
O mundo de vida é uma reprodução simbólica pela ação
comunicativa, há particularidades nos diferentes contextos do
Mundo da vida.
A ação comunicativa tem ideias do mundo da vida e corresponde à
universalização das particularidades dos diferentes contextos de
mundo da vida.

• Conceito multidimensional de mundo de vida e ação


comunicativa

Personalidade é a vontade de cada pessoa de ter autonomia e


autenticidade.

• Reprodução do mundo de vida


A modernidade não é tradição, mas sim a busca por um consenso, há
uma universalização das normas e dos valores.
Cada pessoa vai definir a sua propria personalidade, é uma regulação
própria e não uma tradição.
Antes dessa tradição dizia-se quem tinha poder e quem devia obedecer.
• A reconstrução de Habermas das esferas culturais de Weber.
Validade universal de:

• Direito positivo moderno


Weber relacionava o direito ao legalismo, enquanto Habermas à
legitimidade.

• Direito
Está intrinsecamente relacionado com o mundo de vida.
O direito:
• Subisistema do direito que pertence a uma componente social do
mundo da vida.
• Reproduz em si mesmo apenas ligado à cultura (tradições legais e
simbolismo legal) e a personalidade (competência individual para
interpretar e observar regras legais, competências adquiridas pela
via da socialização do direito.
• Um transformer que circula entre o sistema e o mundo da vida.
O sistema:
o Administração (movida pelo poder) e economia
o Sistema pode colonizar o mundo da vida pelo direito
o O mundo da vida não constrói autonomia e autenticidade livre de
tradução. Quando a lei não é produto de reivindicações morais
mas quando o direito vem como interesse do estado (poder), de
economia (dinheiro) e colonização do mundo
da vida.
Deveria existir um espaço publico que deveria
ser capaz de construir as reivindicações
morais de uma maneira universal. O direito
devia ser construído por estas ideias morais.
Deveríamos traduzi-las de uma maneira legal
que é capaz de regular o sistema
(administração e economia). Não de uma
maneira contraria, quando os interesses da
administração ou economia são impostos pela sociedade.
Quando o estado se impõe na sociedade, sem reivindicações morais da
sociedade do que é justo ou injusto isso é errado. Esta é a colonização do
mundo da vida.
• Criticismo de Habermas na sociologia do direito e nas teorias
da justiça
Rawls apenas se preocupa com as maneiras universais e não com as
sociais, ignorando os mecanismos de poder. A teoria de justiça não é
apenas filosófica, não é apenas embebido na realidade social.
O problema da sociologia é que há apenas reivindicações sociais e não
morais, esquecemo-nos da pessoa.
A filosofia de Rawls esquece a sociedade e não as reivindicações morais.
A sociologia do direito não é apenas analisar as possíveis reivindicações
morais e o facto de haver pessoas que tem outro tipo de racionalidade e
que não tem apenas interesses pessoais.
o Habermas quer ligar estas duas ideias
Weber e Parsons tem uma maneira mais complexa de conectar a
sociologia e a filosofia.
Weber: se Weber considera existir uma relação próxima com o
direito, sistemas e mundo de vida, a sua conceção de direto é
limitada ao legalismo, para Weber, o estado é legitimado pelas
suas estruturas legais. Habermas critica Weber porque este não
tem uma conceção dupla de racionalidade. Para Weber, o interesse
próprio explica o porque das pessoas seguirem o direito. apenas há
legalidade e não legitimação pois o último obriga à interpretação
da lei.
Parsons: O estado constitucional é democraticamente legitimado
pela sociedade civil, a esfera política publica. Existe4 uma razão
comunicativa que tem como objetivo a construção de princípios
universais.

• Criticismo a Habermas
Kelsen viu que existia muito conflito em sociedade porque há muitos
grupos em sociedade. Pode haver compromissos, mas não consenso. O
grupo tem diferentes interesses e por isso não podem ser atingidos
consenso apenas compromisso.
Quando Habermas faz a distinção entre o direito e a moral, vê que as
pessoas deviam ser sentenciadas em termos legais e não morais.

Pierre Bourdieu
• Introdução
Nasceu a 1 de agosto de 1930, em França e morreu a 25 de janeiro de
2002.
Bourdieu na sua tese vai criticar o formalismo e o instrumentalismo.
 Serve o exército francês na guerra argelina
 Comporta-se como participante (militar) e observador (investigador)
 Investigação etnográfica, sobre o conflito através da população cabila
 Estudos resultam no seu primeiro livro
 Sociologie de l’Algérie
• Critica de Bourdieu no formalismo e instrumentalismo
• Formalismo
É como se a lei fosse um sistema fechado, com dinâmicas internas,
conceitos e métodos.
Kelsen considera que o direito devia libertar-se de todas as formas
de determinação social.
Luhmann diz que a lei se reproduz de acordo com as suas próprias
leis e a posição é em maior parte apoiada pelos professores de
direito.

• Instrumentalismo
Marx diz que o direito é visto como uma expressão da
determinação económica e os interesses do grupo dominante, esta
é uma posição maioritariamente tomada pelos sociologistas.
Bourdieu diz que há possibilidade de ultrapassar a linha que
divide o direito e a sociologia.
Ora, estas ideias levam-nos a algumas questões:
▪ Como é que o discurso legal é organizado?
▪ Como e que o discurso legal age nos atores sociais
▪ Como é que o direito adquire o seu poder
▪ Como é que o direito se reproduz
▪ Como é que o direito se relaciona com os poderes sociais,
económicos, políticos e culturais
▪ Como é que o direito muda se o motor da sua
transformação não se encontra na sua própria logica, ou na
economia
▪ Como é que a transformação do direito cria uma
transformação positiva na sociedade.

• Field vs Habitus
Cada campo vai determinar o capital específico, o capital simbólico é
diferente.
O campo é como as diferentes partes da sociedade.
Enquando Weber diz que a sociedade é dividia em esferas culturais, e há
liberdade com a existência de dois sistemas (económico e burocrático, em
que não há liberdade, age de acordo com as leis, de outra maneira as
pessoas não podem participar no sistema.). Luhmann dizia que tudo é
um sistema, pode ser estudado pelos seus próprios métodos e
racionalidade. O processo de transformação de cada sistema de
produção. O sistema está sempre a criar e transformar.
Habermas, dizia que os sistemas e o mundo da vida onde os princípios
universais são formados e que os transforma em normas e que se podem
impor no sistema:
1. Económico
2. Administrativo
Para Bourdieu haviam os campos que eram contrários aos sistemas e
mundo de vida.
• Field vs System
O sistema importa-se em identificar as regras da racionalidade,
apenas o resultado importa e entendem que são as leis que vão
gerar este sistema e as suas mudanças.
O campo importa-se com os conflitos entre as diferentes pessoas
que constituem os campos as pessoas estão a lutar para ter um
maior poder simbólico e as suas mudanças. Como é que as pessoas
dentro de um campo lutam pelo monopólio do poder simbólico.

Campo de batalha/ de jogo: dentro do campo, e as suas


dificuldades dentro do campo.
Quem são os atores legais que lutam dentro do campo? Há
diferença entre:
▪ Teoristas vs praticistas,
▪ Profissionais vs homens de lei
Existem diferentes posições sociais, que leva, a problemáticas
sociais como o racismo. Dentro do campo de batalha existe
discriminação que leva a uma discriminação no campo legal. Por
exemplo, crimes semelhantes, que tem em pessoas que pertencem
a grupos marginalizados diferentes com consequências mais
severas. A resolução deste problema é dada plea comissão éticas
para supervisionar juízes. Outros grupos marginalizados seria a
comunidade lgbtq.
As pessoas lutam de acordo com as regras do jogo, as pessoas
acreditam neste jogo o que vale é jogar pelas regras. Por exemplo
quando o juiz diz que alguém é culpado essa pessoa é realmente
culpada pela sua autoridade.
O direito torna-se tão poderoso por causa do processo de
codificação, que tem de ser uma forma universal pois dá uma
aparência de normalização, naturalização e racionalização. Se não
for universal não é justo.
• Habitus
Como se explica a prática social?
Bourdieu critica:
▪ A maneira legalista de pensar na etnologia, visto que a
pratica social é produto da boa conduta das normas
▪ Critica Weber, que diz que a pratica social é produto de
interesse a seguir as leis, ele diz que para Weber as pessoas
agem guiadas por interesses pessoais. O habitus é o oposto,
eu não calculo as minhas ações.
▪ Bourdieu diz que não há apenas obediência e calculação
racional mas sim habitus culturais.
▪ Os habitus mais poderosos são a submissão, os papeis de
género e as expetativas sociais.
Estar nas posições dominadas das relações de poder é mau
até para os seus próprios interesses.
Se as pessoas tiverem o habitus, desde que nasceram de
seguir autoridade não vão mudar, visto que é a maneira de
entenderem o mundo.
Manter o status quo, não querer chegar a uma posição
maior, porque o habitus define as esperanças e sonhos,
pode ser contraprodutivos, podem limitar o seu potencial, é
algo que às vezes é contra a vontade de alguém.
▪ Como o habitus é uma construção social, estes são
reproduzidos no sistema educacional.
▪ O habitus não é apenas consciente mas também no corpo,
por isso é difícil tornar-se consciente e fácil de pensar que
somos livres.
• Praxis do Habitus
A estruturar a estrutura.
1. O habitus produz ações e é determinada tanto pela parte
histórica e às condições sociais (sem serem completamente
determinada)
Um produto de estratégias que não são produzidas por uma
determinação mecânica, mas objetivamente ajustada às
diferentes situações.
Não é apenas um princípio de ação mas aprendizagens e
cognitivas.
2. Princípio de aprendizagens sem consciência, de
intencionalidade sem intenção e a pratica para o futuro.
Categorias de perceção, apreciação, classificação e
organização de ação.
Gera mecanismos comportamentos apropriados da logica
do campo social quando toleram improvisação e
criatividade.
O habitus está inscrita no corpo, nos gestos, postura que
não parecem construções sociais mas comos segunda
natureza.
Os atores sociais limitam espontaneamente as suas escolhas
de acordo com o habitus sem calcular e refletir todas os do
gestos e ação.
• Sentido do jogo
A habilidade de adaptar de uma maneira infinita de números de situações
que não poder ser previsíveis pela lei,
A ação é levada a cabo pelo jogo e não pela razão. Os comportamentos tem
um objetivo mas sem pensar sobre isso.
Estes são um produto de senso comem e não uma calculação e obediência à
lei.
As disposições são adaptadas às possibilidades, o tempo limitado e a
informação não são suficientes para a calculação. E mesmo se que os agentes
façam aquilo que são suposto fazer, eles apenas se baseiam em intuições de
sentido pratico- são um produto de uma exposição de longo termo da mesma
condição.
• O campo legal
Mundo social, é um conjunto de multicosmos chamados campos.
Cada campo tem o seu problema, são objetivos específicos e interesses,
sejam eles quais forem.
Estas partes do mundo são relativamente autónomas, isto é eles
estabelecem as suas próprias regras, livres de qualquer influencia dos
campos sociais.
A diferenciação do mundo social simultaneamente produz diferenciação
na maneira de pensar e conhecer o mundo. Cada campo tem o seu
próprio ponto de vista, criam o seu próprio objetivo e encontram-se os
conceitos que são relevantes ao objeto.
A estrutura do campo corresponde ao estado da força entre os agentes ou
instituições envolvidas nas dificuldades do monopólio da autoridade.
Esta muda ou mantem a distribuição do capital específico de cada campo.
O agente é o que a sua posição social que aceita no jogo.

• Illusio
Não é um interesse mas ilusão.
Num campo, jogamos um certo jogo de acordo com certas regras. Apenas
um tem uma certa competência, neste caso a competência legal e o
interesse do jogo podem tomar parte em:
o Termos de acreditar no jogo mas também aceitar que é preciso ser
jogado.
o A magia apenas funciona num campo em que as pessoas
acreditam e socializam.

• A lógica do campo legal


A lógica especifica do campo legal é definida por dois fatores:
1. Relações que estruturam e organizam as dificuldades de obter poder
a. Praticantes e teoristas
b. Profissionais legais e lay people
i. Um certo grupo de advogados identifica com um grupo
social particular
ii. Ter em consideração os interesses do grupo social, eles
esperam mudar a lei
2. Logica interna do trabalho legal
a. A lei é codificada
b. Esta codificação gerará os efeitos da racionalização,
universalização e normalização.
• Relações de poder no campo legal: professores de direito e
praticantes
1. Luta pelo monopólio de interpretação da lei
a. Legal scholars
i. Para a elaboração da doutrina
b. Praticantes
i. Para a avaliação pratica de um caso particular
2. Complementaridade
a. Legal scholars
i. Vem o direito como sistema coerente
b. Juristas
i. Guiados pela particularidade de situações concretas
ii. Renovam o sistema e adaptam-se à realidade,
c. Num processo circular, a teoria assimila o sistema pela
racionalização e formalização, inovação dos juristas
d. O seu trabalho complementar produzem legitimidade. Os
juristas, tem a sua legitimidade pelos teóricos, para garantir
que as suas praticas são arbitrarias.
• Relações de poder no campo legal: processionais e clientes
1. O espaço entre os especialistas e os clientes dá aos profissionais o
seu poder especifico
a. Este poder consiste em expandir e criar lei
b. Não é evidente que existe um problema jurídico
c. Nada é menos natural no sofrimento do que ser vítima de
injustiças e pedir a ajuda de juristas
d. A habilidade de sentir a experiencia negativa do outro é
injusta pois depende na posição individual no espaço social
e na noção de ter direitos.
e. Problemas são espectáveis e expressos numa linguagem
comum, definida pelos juristas
f. Estes são guiados não apenas pelos interesses financeiros
mas pelas suas disposições politicas, baseadas nas
afinidades sociais e os seus clientes
2. São guiados por instituições legais, que produzem os seus
problemas e soluções
a. Isto é a razão pela qual a lei é produzida maioritariamente
pelo seu autor e depois aos vários agentes.
• Direito e conflitos
Advogados que tem afinidades com as classes dominadas são capazes de
eventualmente transformar o direito a favor destas mesmas.
o É por isto que o direito muda,
o O poder acrescido dos menos privilegiados ou dos seus
representantes implica um poder acrescido no direito
o A legitimidade é considerada na lei por ser reconhecida como
valor universal.
• Codificação
1. Question:
a. where does the force of law come from?
2. The holders of the symbolic power of the law, who create and apply the
law, have an affinity with the holders of temporal, political and economic power.
a. But the symbolic effect of law is only possible if law is socially
accepted as a neutral and autonomous response to real needs
3. Rationalization:
a. law appears as an autonomous system
4. Universalization:
a. common values and rules
5. Normalization:
a. what is different appears as pathological

Kimberlee Crenshaw
• Angela Davis, professora, filósofa e ativista americana, em “A liberdade é uma
luta constante", afirma que no final do século XX, houve inúmeros debates
sobre a definição da categoria “mulher”. Houve inúmeras lutas sobre quem
estava incluído e quem estava excluído dessa categoria. Angela crê que essas
lutas são cruciais para se compreender que tenha havido uma certa resistência
da parte das mulheres não brancas e também de mulheres brancas pobres e
da classe trabalhadora, em se identificarem com o movimento feminista
emergente. Muitas delas consideraram que esse movimento, na época, era
demasiado branco e sobretudo demasiado classe média, demasiado burguês.

• Em alguns sentidos, a luta pelos direitos das mulheres era ideologicamente


definida como uma luta pelos direitos das mulheres brancas de classe média,
que excluía as mulheres pobre e de classe trabalhadora, que excluía as
mulheres negras, latinas e de outras etnias do campo discursivo abrangido
pela categoria “mulher”. As muitas contestações acerca dessa categoria
ajudaram a gerar aquilo a que passámos a chamar “teorias e práticas
feministas radicais das mulheres não-brancas”.

• Num congresso que decorreu em 1985, em Nairobi, no Quénia, pela primeira


vez houve uma delegação muito grande de mulheres não brancas dos Estados
Unidos. O problema é que muitas das mulheres pensavam então que aquilo
que precisávamos de fazer era expandir a categoria “mulher” para abranger
mulheres negras, latinas, indígenas, etc. Pensava-se que ao fazê-lo, abordar-
se-ia o problema da exclusividade da categoria. O que não se percebeu na
altura, segundo Davis, foi que teríamos de reescrever toda a categoria, em vez
de simplesmente integrar mais mulheres numa categoria imutável que
correspondia à noção “mulher”.

• Vejamos, as mulheres trans não brancas acabam principalmente em prisões


masculinas, em especial se não fizeram cirurgia para mudar de sexo, e muitas
delas não querem submeter-se a essa cirurgia e, por vezes, mesmo que
tenham feito a operação, acabam por ser postas em prisões masculinas.
Muitas vezes são mal tratadas pelos guardas do que quaisquer outros reclusos
e como se isso não bastasse a instituição discrimina-as como alvo de violência
masculina..

• Isto mostra-nos que não só não devíamos tentar integrar mulheres trans numa
categoria que permanece imutável, mas que a própria categoria em si tem de
mudar.

• Citação: “Quando descobrimos o que parece ser um aspeto relativamente


menor e marginal da categoria - ou daquilo que está a tentar entrar na
categoria, de modo a poder basicamente rebentar com ela -, esse processo
pode ser muito mais esclarecedor do que olharmos simplesmente para as
dimensões normativas da categoria.”

• A ativista pretende sublinhar a importância de abordarmos as nossas


explorações teóricas e o nosso ativismo organizado de maneiras que
expandam e aumentem, compliquem e aprofundem as nossas teorias e
práticas de liberdade. “O feminismo não passa só pela igualdade de género,
envolve tantas outras coisas. E envolve muito mais do que o género” O
feminismo tem que abranger, segundo Davis, uma consciência do capitalismo,
do racismo, do colonialismo, e das pós-colonialidades, e das capacidades, e
mais géneros do que conseguimos sequer imaginar, e mais sexualidades do
que julgamos ser capazes de nomear.

• O feminismo ajudou-nos não só a reconhecer uma série de ligações entre


discursos, instituições, identidades e ideologias que muitas vezes tendemos a
considerar separadamente, mas ajudou-nos também a desenvolver estratégias
epistemológicas e de organização que nos levam para lá das categorias
“mulher” e “género”. impele-nos a explorar ligações que nem sempre são
evidentes e levam-nos a mergulhar em contradições e a descobrir o que é
produtivo nessas contradições. O feminismo insiste em métodos de
pensamento e ação que nos impelem a associar coisas que parecem
separadas e a desagregar outras que parecem estar naturalmente unidas.

MARTA - 1/15

• Race, gender and other identity chategorities are often seen in mainstream
liberal discourse as vestiges of bias or domination, this shows how power works
to exclude the ones that are different, which contradicts with the libertory
objective to eliminate these chategories. In certain strains of feminism and
racial liberation movement, this can be a source of social empowerment and
reconstruction.

• O problema da identidade política, não é o facto da falha de transcender as


diferenças que existem nas camadas sociais mas sim o facto de não
atenderem a essas mesmas diferenças os grupos em questão. Por exemplo no
que toca à violência das mulheres é prejudicial não existir esta diferenciação
pois a experiência destas mulheres muda também em si pelas suas
experiências, raça e background cultural.

• Ignorar esta diferença dos grupos cria também uma tensão entre esses
mesmos. Apesar do racismo e do sexismo interceder na vida de pessoas reais,
estas não são características únicas, logo, quando se restringe às experiências
a apenas um destes campos estamos como que a renegar as mulheres negras
de sentir qualquer tipo de violência contra as próprias.

• O feminismo contemporâneo e movimentos anti-racistas falham em identificar a


explicar e considerar a interseccionalidade de identidade das mulheres de cor.

• Focando se na violência contra as mulheres no que toca à violência e a


violação, a autora irá apresentar como a experiência das mulheres de cor são
produto desta interssecionalidade, e como estas questões nao são referidas
nas questões do feminismo e movimentos anti-racistas.

• Usa o termo interseccionalidade como um termo que denota as várias


maneiras como o género e a raça interagem ao moldar as experiências das
mulheres de cor na sua experiência de emprego num trabalho antigo, neste
explica como e que esta mesma interseccionalidade impacta a identidade
política e as experiências neste campo.

Interseccionalidade Estrutural

• Observa as dinâmicas da interseccionalidade estrutural em abrigos de


mulheres em Los Angeles que foram agredidas.

• Na maior parte dos casos, a agressão que leva as mulheres a estes abrigos é
quase sempre uma manifestação da subordinação que sofrem com a
experiência. Maior parte das mulheres que buscam abrigos são
desempregadas e um grande número destas, pobres
• Estes abrigos não são estruturas suficientes para tratar dos problemas destas
mulheres, acabando por contribuir para um problema de subordinação destas
mulheres às condições oferecidas.

• Muitas mulheres de cor por exemplo tem em si também uma responsabilidade


acrescida no que toca a pobreza, responsabilidade sobre crianças e a falta de
experiência de trabalho, estes encargos são largamente consequências da
opressão de gênero e class, completas com um empregamento discriminatório
e práticas imobiliárias que as mulheres de cor frequentemente sofrem.

• Onde estes sistemas e raça, gênero e dominação de classe convergem com as


experiências de mulheres de cor que sofrem de violência doméstica,
estratégias de intervenção são apenas desenhada nas experiências de
mulheres que no partilham a mesma classe ou experiência, que irá limitar a
possível ajuda a outras mulheres que não tem as mesmas experiências- isto
aconteceu durante vários anos ao longo da história dos Estados Unidos, por
exemplo no Immigration and Nationality act, que protegia, ou alegadamente o
fazia, a mulheres casadas com homens norte americanos que tivessem sofrido
qualquer tipo de abuso ou agressão.

• Mulheres imigrantes são igualmente mais vulneráveis à violência marital, pois


várias dependem dos maridos para informação no que toca ao seu estado
legal, mesmo mulheres agora residentes permanentes sofrem-se violência
doméstica sob ameaça de deportação dos seus maridos. Mesmo mulheres
casadas com homens ilegais nos EUA sofrem este tipo de violência com medo
de chamar atenção a segurança social e outros tipos de instituições que as
possam pôr em perigo.

• Outro problema estrutural que limita a experiência de mulheres emigrantes nos


EUA é a barreira linguística.

• Estes exemplos mostram como padrões de subordinação interceptam na


experiência feminina da violência doméstica, esta não precisa de ser
intencionalmente criada, na verdade são mesmo as experiências das mulheres
que intersectam com as vulnerabilidades já pré existentes.

• A identidade cultural e a classe afetam a probabilidade de uma esposa


abusada ter acesso a nacionalidade, visto que as mulheres que são mais
privilegiadas são mais prováveis de obter estes processos. As menos
prováveis e mais marginalizadas são as mulheres de cor.

Structural intersecionality and rape

• Mulheres de cor estão situadas em diferentes polos do mundo econômico,


social e político. Quando se tenta uma reforma nestes polos, as mulheres mais
prováveis de ter as suas necessidades resolvidas são as brancas, ou
racialmente privilegiadas.

• Por exemplo, psicólogos que dão resposta a crises de violação para mulheres
de cor apresentam que maior parte dos programas tendem em tratar de
problemas que não a violação em si.
• Sendo que os fundos são localizados para brancos de classe média, é difícil
que as necessidades de primeira resposta destas mulheres sejam
respondidas.

• As mulheres de cor ocupam posições fisicamente e culturalmente


marginalizadas. Deste modo, os centros de resposta à violação, deverão
reunir mais recursos a pessoas marginalizadas.

• Um dos problemas que aqui encontramos é os custos acrescidos que os


recursos direcionados a estas áreas trazem

Polítical intersectionality

• Este ponto explicita ainda mais que as mulheres de cor estão localizadas em
pelo menos dois grupos que se subordinam e que frequentemente perseguem
agendas políticas opostas. Não existem movimentos que protegiam estas
mulheres que sofrem com esta intersecionalidade, como o racismo e a
discriminação de género que apenas implicam uma parte desta
intersecionaidade.

• O problema é que não é apenas o facto de que estas conversas deixam de


parte os adicionais das mulheres de cor com o racismo e o patriarcado , mas
também o facto de que o sistema está completamente desequipado para estas
questões.

• Outra das leituras que podemos fazer é o facto de que muitas das vezes, um
campo acaba por invalidar o outro.

Politicization of domestic violence

• Os interesses políticos das mulheres de cor são obstruídos e por vezes


utilizados por estratégias políticas que ignoram ou suprimem problemas
interseccionais.

• Alguns preocupam se em tentar fazer com que a violência doméstica seja


objeto de ação política e que sirva apenas como uma maneira de justificar os
estereótipos contra a comunidade negra. Isto mostra como as mulheres negras
e as suas estatísticas podem ser eliminadas para atender as prioridades
políticas.

MAGNA - 15/30
Domestic violence and antiracist politics

• Dentro das comunidades de cor, os esforços para conter a politização da


violência doméstica são muitas vezes baseados em tentativas de manter a
integridade da comunidade.

• Alguns críticos alegam que o feminismo não tem lugar nas comunidades de
cor, dado que as questões são internamente divisivas e que representam a
migração das preocupações das mulheres brancas para um contexto no qual
elas não são apenas irrelevantes, mas também prejudiciais.

• Esta retórica nega que a violência de género seja um problema na comunidade


e caracteriza qualquer esforço para politizar a subordinação de gênero como
um problema comunitário.

• Shahrazad Ali, no seu controverso livro “The Blackman's Guide to


Understanding the Blackwoman”, atribui a deterioração das condições dentro
da comunidade negra à insubordinação das mulheres negras e ao fracasso dos
homens negros em controlá-las.

• A premissa de Ali é que o patriarcado é benéfico para a comunidade negra e


que deve ser fortalecido por meios coercivos, se necessário. O recurso à
violência para resolver conflitos estabelece um padrão perigoso para as
crianças criadas em tais ambientes e contribui para muitos outros problemas.

• Estima-se que quase quarenta por cento de todas as mulheres e crianças sem-
abrigo fugiram de violência doméstica e cerca de sessenta e três por cento dos
jovens entre onze e vinte anos que estão presos por homicídio mataram os
agressores das suas mães.
• As representações da violência negra - sejam estatísticas ou fictícias - são
muitas vezes escritas de forma a retratar comunidades minoritárias como
patologicamente violentas.

• O problema, no entanto, não é tanto o retrato da violência em si, mas a


ausência de outras narrativas que retratam uma imagem mais ampla de
experiência negra. A supressão de algumas dessas questões em nome do anti
racismo impõe custos reais.

• As mulheres não brancas muitas vezes recusam-se a chamar a polícia, uma


hesitação provavelmente devido a uma relutância geral entre as pessoas de
cor em submeter as suas vidas privadas ao escrutínio e controlo de uma força
policial que é frequentemente hostil. Há também uma ética comunitária mais
generalizada contra a intervenção pública, produto de um desejo de criar um
mundo privado livre dos diversos ataques à vida pública de pessoas
racialmente subordinadas.

• O racismo está ligado ao patriarcado na medida em que o racismo nega aos


homens de cor o poder e o privilégio dos quais os homens dominantes
desfrutam.

Race and the domestic violence lobby

• Não apenas as prioridades baseadas na raça obscurecem o problema da


violência sofrida por mulheres de cor, mas as preocupações feministas muitas
vezes suprimem experiências sofridas por minorias.

• As estratégias para aumentar a consciencialização sobre a violência doméstica


na comunidade branca tendem por inicialmente citar a suposição de que o
espancamento é um problema de minorias.

• Alguns comentadores até transformaram a mensagem de que o espancamento


não é um problema exclusivo das comunidades pobres ou das minorias numa
afirmação que afeta igualmente todas as raças e classes.

• Apesar de ser improvável que os defensores dessa estratégia retórica


pretendam excluir ou ignorar as necessidades das mulheres pobres e de cor, a
premissa subjacente desse apelo aparentemente universal é manter as
sensibilidades dos grupos sociais dominantes focadas nas experiências desses
grupos.

• Esta estratégia permite que as vítimas, mulheres brancas sejam o foco, mas
faz pouco para romper os padrões de negligência que permitiram que o
problema continuasse enquanto era imaginado como um problema de minoria.

Race and domestic violence support services

• As mulheres que trabalham no campo da violência doméstica às vezes


reproduzem a subordinação e a marginalização das mulheres de cor ao adotar
políticas, prioridades ou estratégias de empoderamento que eliminam ou
desconsideram totalmente as necessidades interseccionais particulares das
mulheres destas comunidades.
• Enquanto gênero, raça e classe se cruzam para criar o contexto particular no
qual as mulheres de cor vivenciam a violência, certas escolhas feitas por
“aliados” podem reproduzir a subordinação interseccional dentro das próprias
estratégias de resistência projetadas para responder ao problema.

• Este problema é claramente ilustrado pela inacessibilidade dos serviços de


apoio à violência doméstica para muitos não falantes de inglês.

• O problema não é que as mulheres que dominam o movimento anti violência


são diferentes das mulheres de cor, mas antes que elas frequentemente têm o
poder de determinar, seja por meio de recursos materiais ou retóricos, se as
diferenças interseccionais das mulheres de cor serão incorporadas aos
princípios básicos na formulação de medidas.

Racism and sexism in dominant conceptualizations of rape


• Um estudo sobre disposições de violações em Dallas, por exemplo, mostrou
que a pena média de prisão para um homem condenado por violar uma mulher
negra era de dois anos, em comparação com cinco anos para a violação de
uma latina e dez anos para a violação de uma mulher anglo-americana.

• Gerações de críticos e ativistas criticaram as conceituações dominantes de


violação como racistas e sexistas. Essas críticas foram importantes para
revelar a maneira como as representações de violações refletem e reproduzem
hierarquias de raça e gênero na sociedade americana.

• As mulheres negras, como mulheres e pessoas de cor, estão situadas em


ambos os grupos, cada um dos quais se beneficiou de desafios ao sexismo e
ao racismo, respectivamente, e ainda assim as dinâmicas particulares de
gênero e raça relacionadas à violação de mulheres negras receberam
escassas atenção.

• Embora as agressões antirracistas e antissexistas à violação tenham sido


politicamente úteis para as mulheres negras, em algum nível, as críticas
antirracistas e feministas monofocais também produziram um discurso político
que despreza as mulheres negras.

• Hoje, muito depois de erradicadas as leis discriminatórias mais flagrantes (Jim


Crow laws), as construções da violação no discurso popular e no direito penal
continuam a manifestar vestígios dessas manifestações racistas.

• O racismo e o sexismo inscritos na construção social da violação são


manifestações meramente contemporâneas de narrativas de violação que
emanam de um período histórico em que as hierarquias de raça e sexo eram
mais explicitamente policiadas. Ainda outra é a desvalorização das mulheres
negras e a marginalização de suas vitimizações sexuais.

• O estudo de Dallas e outros semelhantes também apontam para um problema


mais subtil: nem a agenda política anti violação nem antirracista se concentrou
na vítima negra de violação.

• Os principais beneficiários das políticas apoiadas por feministas e outros


preocupados com a violação tendem a ser mulheres brancas; os principais
beneficiários da preocupação da comunidade negra com o racismo e a
violação, os homens negros. Em última análise, as estratégias reformistas e
retóricas que surgiram dos movimentos antirracistas e feministas de reforma da
violação foram ineficazes na politização do tratamento das mulheres negras.

Sofia - 30/45

• As feministas que criticam a violação, criticam como a lei relativa à violação se


refletiu na consagração de regras e expectativas no que toca à sexualidade da
mulher. No contexto de um julgamento por violação, ocorre a discriminação da
mulher, uma vez que este é conduzido de acordo com as normas aceitáveis do
que deve ser a conduta sexual da mulher. Desta forma, reduz-se a importância,
levando mesmo à rejeição das suas reivindicações.
• Historicamente as regras no caso de violação, baseiam-se no facto de haver
uma resistência ao violador para que a queixa seja aceite. Caso a mulher
fraqueja-se na sua resistência isso era visto como o seu consentimento, pois
ela teria de lutar até ao fim (seja lá o que isso significasse). Embora este nível
de resistência não seja inquirido de forma expressa atualmente, a lei sobre a
violação continua a basear-se muito na credibilidade da mulher, se está vai de
encontro com os padrões adequados do comportamento da mulher. Por
exemplo, num julgamento os advogados de acusação tenderão a referir o
passado sexual da mulher em julgamento, abordando o facto que consentiu ter
sexo noutras ocasiões, o que justificaria o ato sexual em julgamento. Isto é
assim usado para retirar o caráter moral e a legitimidade da vítima de violação,
sobretudo mulheres que se considera que tenham uma moral degradada ou
que são responsáveis por aquela violação ter ocorrido.
• As feministas que se debruçam sobre a lei relativamente ao crime da violação,
pedem maiores penas para os violadores e mudanças nas regras que tocam
no caráter moral das mulheres. Porém, mesmo com a instituição destes os
advogados conseguiriam dar a volta ao contexto, usando o papel da mulher
definido pela sociedade para lhe retirar credibilidade. Mesmo se estas reformas
decorressem, não eram suficientes para assegurar a credibilidade das
mulheres negras, pois estas enfrentam não só a discriminação de género mas
como a descriminação de raça . Grande parte do problema reside em
determinadas expectativas de género, relativamente às mulheres, e a certas
noções de sexualidade que estão profundamente entranhadas na cultura
americana. Imagens sexualizadas de afro-americanos rumam de volta à
ocupação por parte dos europeus. Os negros desde essa altura eram
retratados como mais sexuais. Estas imagens aliadas às normas sobre a
sexualidade das mulheres passa a distinguir o bom do mal, isto é, as senhoras
das prostitutas. As mulheres negras são consideradas desde logo como más
mulheres, em que as mulheres boas podem ser violadas e mulheres más não.
Existem certas narrativas sobre as violações das mulheres negras que dizem
que são menos importantes ou menos acreditáveis, e estas podem justificar
porque é que a violação de uma mulher negra tem como resultado uma
pequena pena para o agressor ao contrário se a violação fosse com uma
mulher branca. Embora a reforma abordada possa desafiar as crenças
culturais usadas para moldar os julgamentos seja limitada, o próprio esforço de
mobilizar os recursos políticos para regerem a opressão sexual de as mulheres
negras são alvo, constitui um grande passo, chamando mais atenção para o
problema.
“Antiracism and rape”

• Críticas anti-racistas da lei sobre a violação procuram como a lei funciona para
condenar violações de mulheres brancas por homens negros. Como a lei
funciona em torno das mulheres brancas já foi criticado, pois tornou-se numa
forma de discriminação de homens negros, e acaba por refletir na
desvalorização da mulher negra. Esta desvalorização resulta de um grande
foco que é dado às consequências para os homens negros. As acusações de
violação a nível histórico, tinha justificação para o terrorismo branco contra a
comunidade negra.
• As violações a mulheres negras são ainda usadas como uma forma de
racismo, na medida em que acusam os homens negros de não protegerem as
mulheres negras. Ou seja estes abusos feitos às mulheres são menos vistos
como um abuso contra a comunidade negra. Os homens negros já foram
acusados falsamente de violação a mulheres brancas, tendo uma defesa anti-
racista mesmo quando acusados por mulheres negras(?). Como resultado de
um ênfase da sexualidade dos homens negros como o principal ponto nas
críticas anti-racistas de violação, as mulheres negras que apresentam queixa
de violação contra um homem negro não são apenas desconsideradas, mas
como uma forma de difamação na comunidade afro-americana. É necessário
que haja uma igual preocupação na defesa das mulheres negras, uma vez que
as estatísticas mostram que elas são mais prováveis de serem violadas ao
contrário dos homens negros. Muitas vezes as mulheres que são acusam um
homem de praticar um crime destes, são poucas as mulheres que dão apoio à
vitima, pois favorecem o homem porque entendem que passo a citar “pediu por
isso”. Porém, as mulheres que desdenham as outras que afirmam serem
vitimas de violação, reconhecem que são vitimas de assédio sexual diário. Ao
criticar as vitimas, procurando distanciar-se destas vítimas entram num
processo de negação da sua própria vulnerabilidade. Neste tópico, as mulheres
negras constituem o grupo mais vulnerável de violência sexual.

“Rape and intersectionality in social science”

• Lafree nos seus estudos comprava de que a raça desempenha um grande


papel nos casos de julgamento.Nos casos em que homens negros foram
acusados de violarem mulheres brancas tiveram consequências mais intensas
do que nos casos em que violaram mulheres negras. Ou seja, neste estudo
Lafree chegou à conclusão de que os homens negros têm diferentes sanções
de acordo com a raça da vítima. As mulheres têm um diferente valor, de acordo
com a sua raça e com as “rules of sexual acess”. Aborda ainda, o facto de
homens brancos se violarem mulheres negras sabem com uma relativa
impunidade, enquanto se forem homens negros não têm as mesmas
consequências se violarem mulheres brancas. Isto intensifica a discriminação e
o medo que as mulheres negras sofrem, uma vez que se um homem branco as
violar, estas sabem que não haverá sanção ou se houver é mínima. Assim,
sendo estas encontram-se numa grande posição de fragilidade, pois são um
grande alvo de discriminação racial e de género. Concluindo, as mulheres
negras quando violadas são racialmente discriminadas, e os seus agressores
sejam brancos ou negros, muitas vezes não chegam a ser acusados de tal
crime e se forem não têm uma sanção adequada (como ir para a prisão), o
mesmo não acontece quando as vítimas são mulheres brancas. A forte critica a
este estudo é por não se focar na proteção das mulheres mas sim no poder
dos agentes masculinos das violações.

“Rape and gender subordination”


• Lafree afirma ainda que as mulheres que não cumpram com os seus papes de
sexo tradicionais, em caso de violação não serem levadas a sério. Este conclui
que a moral é mais importante do que o dano provocado na vítima, bem como
a raça a que a vítima pertença é determinante para avaliação por parte dos
jurados.
• Lafree falha ao não notar que a identificação racial pode funcionar ela própria
como uma “proxy” para o comportamento não tradicional.
• As mulheres negras continuam a ser julgadas por quem elas são, e não por o
que fazem.

“Compounding the marginalizations of rape”

• Lafree remete para a existência de uma hierarquia na raça/sexo, em que as


mulheres negras se submetem às mulheres brancas, subtendo-se também
aos homens.
• Este estudo é a suposição de que os negros que são alvos de controlo social são os
homens. E este controlo social ele diz que se limita na relação entre homens negros e
mulheres brancas. Na sua conclusão, este acha que as diferenças raciais são
melhores compreendidas pela existência da segregação social. Autores como Lafree,
falham ao não considerarem diretamente a situação das mulheres negras.
• Estes estudos não têm um grande impacto na demonstração de como a raça, a classe
e os comportamentos não tradicionais afetam as mulheres negras nas situações de
violação. Muitas das queixas apresentadas por estas eram arquivadas pela a polícia
que deu como justificação de que estas mulheres não eram credíveis e não
cooperavam, pelo que não eram levadas a tribunal. Ao politizar esta violência contra as
mulheres negras, só vai contribuir para acentuar a sensação de isolamento que têm
perante as mulheres brancas.

“Implications”

• No que toca à violação das mulheres negras, a raça e o género convergem de


maneiras ainda vagas. Infelizmente, a anti-violação e a anti-racismo “agendas” tendem
a focar-se num único problema. Estes são incapazes de desenvolver soluções para a
marginalização das mulheres negras que são vítimas destes crimes, e que caiem mais
uma vez no vazio entre as preocupações em relação às mulheres e às preocupações
relativas ao racismo.

“III. Representational Intersectionally”

• Quando falham ao dar significaria apenas ao racismo ou apenas aos problemas de


género, acabamos por acentuar estes problemas, por exemplo as feministas falhavam
ao não considerar o papel que a raça desempenha na resposta pública, acabando por
reforçar as sanções impostas aos homens negros que violassem mulheres brancas.
• Talvez a desvalorização da mulher negra esteja relacionada com a a representação
destas nas imagens culturais. Esta imagens são produzidas segundo as narrativas
predominantes da raça e do género, assim como o reconhecimento de como as críticas
contemporâneas sobre o racismo e sobre o sexismos tendem a marginalizar as
mulheres negras.
• Uma análise interseccional oferece uma resposta intelectual e política a esse dilema.
Com o objetivo de reunir os diferentes aspetos que a subordinação racial e sexual se
reforçam mutuamente e que a mulher negra é marginalizada por uma política apenas
de raça ou de género, e que uma resposta política a cada forma de subordinação deve
ser, ao mesmo tempo, uma resposta política para ambos.

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