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TEORIAS

EVOLUTIVAS
ROBERTO IANNUZZI; MARINA BENTO SOARES

Euler Meneghin, Felipe Santana, Fernanda Dias e Genivaldo Alves


INTRODUÇÃO
A palavra evolução tem sua origem no termo latino evolutio, que
significa desenrolar (Salzano, 1993).

Erroneamente associado à idéia de progresso, este termo


envolve apenas o sentido de mudança.

Todas as teorias evolutivas que estejam relacionadas a fenômenos


biológicos, físicos ou sociais são teorias de mudança.

O tema abordado neste capítulo refere-se à


evolução que ocorre no mundo orgânico, relativo
aos seres vivos, denominada evolução biológica.
EVOLUÇÃO BIOLÓGICA
Evolução biológica compreende a modificação sofrida por populações
de organismos através do tempo; tempo este que ultrapassa o período
de vida de uma única geração (Futuyma, 1993)

''As mudanças consideradas evolutivas são


aquelas herdadas via material genético''

Mudança contínua dos organismos através do tempo;


Irreversibilidade das mudanças (verdadeira para a maioria dos acontecimentos
evolutivos);
Divergência de características entre os organismos, refletida pela diversidade
encontrada no mundo biológico (Salzano, 1993).
HISTÓRICO DO PENSAMENTO
EVOLUTIVO
Até o século XVIII acreditava-se que o planeta Terra era muito jovem,
tendo sido criado por Deus há poucos milhares de anos e que os seres
vivos, igualmente, eram criações divinas. O naturalista e filósofo Charles
Bonnet (1720-1793) ilustrava bem esta concepção de mundo.

A cadeia era estática, sem


mudanças desde o ato da criação
(Barberena, 1984).
CRIACIONISMO VS GEOLOGIA
TEMPO PROFUNDO
Ao final do século XVIII, os geólogos
reconheceram que as rochas sedimentares
haviam sido depositadas em diferentes
épocas, propondo que a Terra poderia ser
muito mais antiga do que se imaginava

A ideia de tempo com a presença do Homem restrita


aos instantes finais do tempo geológico

(Gould, 1991)
começou a se disseminar entre a comunidade ciêntífica.

Uniformitarismo
James Hutton (1726-1797).

A teoria uniformitarista baseia-se na reprodução


dos dados observáveis em fenómenos geológicos
atuais para a interpretação da ocorrência destes
fenómenos no passado

FÓSSEIS X CATATROFISMO
Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) e Charles Robert Darwin (1809- 1882)
os primeiros cientistas que procuraram explicar a diversidade dos seres vivos
através da ação de um mecanismo evolutivo
LAMARCKISMO
LAMARCKISMO
O pensamento lamarckista foi uma teoria evolutiva proposta
por Jean-Baptiste Lamarck no século XIX

Fundamentos Principáis:
1. Herança de caracteres adquiridos;
2. Lei do uso e desuso;
3. Progressão gradual;
4. Ação do meio ambiente;
5. Ausência de extinção;
LAMARCKISMO
Conceitos Equivocados:

1. Os organismos não sofrem transformações


hereditárias em função do uso ou desuso dos
órgãos;
2. As modificações adquiridas durante a vida não
são hereditárias;
3. A extinção existe.
LAMARCKISMO

Contribuição para a teoria evolutiva:

Ênfase na capacidade de adaptação dos


organismos ao meio e consequente
modificação destes ao longo das
sucessivas gerações.
DARWINISMO
DARWINISMO
Após a teoria de Lamarck, nenhum mecanismo evolutivo
satisfatório foi reconhecido, até que a teoria de Charles Darwin
e Alfred Wallace (1823-1913) fosse apresentada.

Fundamentos Principáis:

1. Seleção natural;
2. Variação genética;
3. Hereditariedade;
4. Gradualismo;
5. Origem comum;
DARWINISMO
Importância do Darwinismo:
Ter sido a base da moderna teoria evolutiva.

Em 1859, saiu a publicação da principal obra de Darwin


The Origin of Species (A Origem das Espécies) onde ele
apresentava uma síntese de amplo alcance sobre a teoria
da evolução, recorrendo a todas as fontes relevantes de
informações (o registro fóssil, a biogeografia, estudos
sobre anatomia e embriologia comparadas,
modificações em animais domesticados, entre outras)
que pudessem corroborar suas idéias.
TEORIA SINTÉTICA DA EVOLUÇÃO
Desenvolvimento explosivo Genética e Leis de Mendel
Gregor Mendel (1822-1884) é considerado o pai da genética moderna.

Ele realizou uma série de experimentos com plantas de ervilha, identificando


padrões de herança genética que são hoje conhecidos como as leis de Mendel.

Seu trabalho foi fundamental para o entendimento da hereditariedade e para o


desenvolvimento da biologia moderna.
GENES, CROMOSSOMOS E MUTAÇÕES

Os genes são formados por DNA (ácido desoxirribonucléico) e localizam-se


nas células dos organismos.

Eles se encontram, aos pares, reunidos em filamentos que se organizam em


cromossomos (macromoléculas nucleoproteicas portadoras dos genes).

Qualquer tipo de alteração nos genes ou em sua ordenação nos


cromossomos, ocorrida nas células reprodutivas (gametas), pode causar o
aparecimento de novas características hereditárias.

Alterações desta natureza recebem o nome de mutação.


NEODARWINISMO
TEORIA NEODARWINISTA
A teoria neodarwinista, quanto à seleção natural, não sofreu alteração em
nenhum aspecto essencial em virtude da teoria genética, mas sim foi
enriquecida por uma teoria da hereditariedade que permitiu dar uma maior
precisão ao conhecimento da evolução, resolvendo alguns problemas até
então sem solução (Futuyma, 1993).

Neodarwinismo classifica a evolução através


dos seguintes fatores evolutivos: mutação,
recombinação gênica, deriva genética,
seleção natural e migração
ESPÉCIE

Espécies são agrupamentos de populações naturais


intercruzantes, reprodutivamente isoladas de outros grupos
semelhantes (Mayr, 1977).

Uma espécie é constituída por populações, ou


seja, agrupamentos de indivíduos que ocorrem
em uma mesma área geográfica, em um mesmo
intervalo de tempo;
O conceito de Mayr, 1977, salienta o isolamento reprodutivo como principal
fator determinante de uma espécie. Daí advém o fato de que entre duas
populações de espécies distintas não deve ocorrer intercâmbio gênico.

x
"Conceito de Coesão", formulado e proposto por Templeton (1981):

Segundo Templeton, este conceito procura ressaltar os mecanismos que mantêm as


espécies "coesas”, ao contrário do conceito de Mayr que valoriza os mecanismos de
isolamento reprodutivo.

A partir destes novos conceitos uma espécie biológica tem sido definida em três
distintos níveis:

o genético-molecular; o morfológico; e o ecológico.


ESPECIAÇÃO
Entende-se por especiação os processos que estão
envolvidos no surgimento de novas espécies
Especiação é o processo pelo qual novas espécies surgem a partir de
populações de uma mesma espécie ancestral.

Esse processo ocorre quando há isolamento reprodutivo entre populações,


o isolamento reprodutivo pode ocorrer devido a diferentes fatores, como
barreiras geográficas, diferenças no comportamento reprodutivo ou
mudanças genéticas.

Com o tempo, as diferenças genéticas acumuladas podem se tornar tão


significativas que as populações não são mais capazes de se reproduzir entre
si, resultando na formação de duas ou mais espécies distintas.
ESPECIAÇÃO ALOPÁTRICA:
Ocorre quando populações geograficamente isoladas ou
adjacentes evoluem de maneira independente,
desenvolvendo diferenças genéticas únicas ao longo do
tempo.

ESPECIAÇÃO PERIPÁTRICA (EFEITO FUNDADOR):


É um tipo de especiação que ocorre quando uma pequena
subpopulação é isolada do restante da espécie e começa a
se adaptar a um novo ambiente de maneira independente.
Esse processo geralmente ocorre em uma pequena ilha,
península ou outra área geograficamente isolada.
ESPECIAÇÃO SIMPÁTRICA:
Ocorre quando a especiação ocorre sem que haja separação
geográfica entre as populações. Esse tipo de especiação
geralmente envolve mudanças no comportamento
reprodutivo ou na ecologia de uma população

ESPECIAÇÃO PARAPÁTRICA:
É um tipo de especiação que ocorre quando duas
populações estão geograficamente próximas e se
misturam ao longo de uma zona de contato, mas ainda
assim evoluem de maneira independente.
PADRÕES DE ESPECIAÇÃO EM PALEONTOLOGIA
Anagênese e cladogênese são dois conceitos importantes na biologia evolutiva
que descrevem diferentes processos de mudança evolutiva.

A Anagênese:
Processo evolutivo contínuo que ocorre dentro de uma única
linhagem.

Uma espécie evolui gradualmente ao longo do tempo, acumulando


mudanças genéticas e morfológicas em sua população.

A anagênese não leva à formação de novas espécies, mas pode


resultar em mudanças significativas na aparência, comportamento e
adaptação da espécie ao longo do tempo.
PADRÕES DE ESPECIAÇÃO EM PALEONTOLOGIA

A Cladogênese:
Processo evolutivo que resulta na divisão de uma linhagem em duas
ou mais linhagens independentes.

Esse processo pode ocorrer por meio de eventos como a especiação.

A cladogênese é a base da diversidade biológica, pois é a fonte da


origem de novas espécies e grupos taxonômicos.

Juntos, esses dois processos ajudam a explicar a complexidade e


diversidade da vida que vemos hoje e ao longo da história
evolutiva da Terra.
PADRÕES DE ESPECIAÇÃO EM PALEONTOLOGIA
Padrões de especiação que podem ser identificados na paleontologia
incluem:
*Ocorre por Anagênese

A) Especiação Gradual ou Filética: é um


padrão de especiação que ocorre
lentamente, ao longo de um período
prolongado de tempo. Nesse tipo de
especiação, as mudanças evolutivas
ocorrem de maneira contínua, sem eventos
significativos que possam levar a uma
rápida divergência genética
PADRÕES DE ESPECIAÇÃO EM PALEONTOLOGIA
*Ocorre por Anagênese

B) Especiação Redutiva: ocorre quando


espécies distintas conseguem cruzar e gerar
prole, adicionando novas características ao pool
gênico, resultando em uma nova espécie
híbrida.
*Ocorre por Cladogênese

C) Especiação Aditiva: ocorre quando uma


espécie ancestral da origem a outras
espécies com características diferentes
umas das outras.
MICROEVOLUÇÃO VS MACROEVOLUÇÃO
Os termos foram criados por Richard Goldschmidt (1940) com o objetivo de
separar os mecanismos neodarwinistas responsáveis pela diferenciação entre
as espécies, daqueles que originam grupos taxonômicos hierarquicamente
superiores (gêneros, famílias, ordens, classes, filos).
GRADUALISMO VS PONTUALISMO

GRADUALISMO
O gradualismo sugere que a mudança evolutiva ocorre de forma lenta
e gradual ao longo do tempo, com pequenas mudanças acumulando-
se ao longo de milhões de anos. Segundo essa hipótese, as espécies
evoluem continuamente e não há eventos significativos de mudança
rápida ou drástica.
GRADUALISMO VS PONTUALISMO

PONTUALISMO
O Pontualismo sugere que a mudança
evolutiva ocorre de forma rápida e
pontual em períodos curtos de tempo.
De acordo com essa hipótese, as
espécies evoluem por meio de eventos
de especiação ou mudanças
adaptativas abruptas, seguidas por
períodos de estabilidade evolutiva.
GRADUALISMO VS PONTUALISMO

Escola Gradualista Escola Pontualista

Microevolução Macroevolução
Acúmulos de mudanças Mudanças geológicas e
nas frequências gênicas ambientais

Especiação Lenta e Gradual Especiação Acelerada

Darwin Dobzhansky
Mayr Gould
BIOGEOGRAFIA
É o estudo da distribuição geográfica dos organismos. Ela procura estabelecer o
padrão de distribuição geográfica das distintas espécies e táxons superior sobre as
diferentes regiões do globo e explicar o porquê desse padrão.

Decisiva na formulação da teoria da evolução Darwinista;


O estudo da Biogeografia no ocidente começou após o início das grandes
navegações européias;
A partir do conhecimento de diferentes áreas e as espécies que se abrigavam ali
tornou-se inevitável o questionamento de porque diferentes animais e plantas
vivem em algumas regiões e não em outras;

Surgimento dos termos: Cosmopolita e Endêmicos


BIOGEOGRAFIA
A origem da Biogeografia é atribuída a Buffon, que em 1761 declarou que o “Velho”
e o “Novo” mundo não tinham espécies de mamíferos em comum.

Observações levaram a formulação da “Lei de Buffon”

Barreira: qualquer obstáculo à dispersão, seja de natureza abiótica


(parâmetros físico-químicos) ou de natureza biótica (parâmetros
biológicos)
Barreiras no meio terrestre: mares, grandes rios, cadeias de montanhas,
desertos, tipos de clima, descontinuidade na vegetação;
Barreiras no meio aquático: variações de salinidade, temperatura,
profundidade, luminosidade.

BIOGEOGRAFIA HISTÓRICA E ECOLÓGICA


Os estudos das distribuições geográficas dos organismos podem ser
divididos em biogeografia histórica e biogeografia ecológica.

Biogeografia histórica: o estudo da distribuição espacial e temporal dos


organismos (ao nível taxonômico) no qual as explicações para essas
distribuições são baseadas em eventos históricos passados;

Biogeografia ecológica: o estudo da dispersão dos organismos (ao nível


do indivíduo ou de populações locais) e dos mecanismos que a mantêm
ou a modificam.

*Esses enfoques se sobrepõem, e na maioria das vezes tanto os processos históricos como os ecológicos precisam
ser levados em consideração
BIOGEOGRAFIA HISTÓRICA: DISPERSÃO E VICARIÂNCIA

Inicialmente deve-se analisar quais são as causas das distribuições dos organismos segundo
a biogeografia histórica. A distribuição de um táxon em uma certa área hoje pode ser devido
a duas razões históricas:

Seus ancestrais originalmente ocorrera lá e seus descendentes sobreviveram até os dias


presentes;
Seus ancestrais originalmente ocorreram em alguns outros lugares e depois eles (ou seus
descendentes) dispersaram-se para essa nova área, onde seus descendentes sobrevivem
até hoje.

Dispersão e Vicariância.
DISPERSÃO E VICARIÂNCIA

Dispersão: ocorre quando parte de uma população ancestral, de distribuição limitada


por uma barreira geográfica, consegue atravessá-la, colonizando uma nova área “atrás”
da barreira (se os membros da população colonizadora permanecerem isolados das
dos membros da área de origem, eles eventualmente evoluirão para um táxon distinto.
Exemplo: distribuição de certos mamíferos placentários (gatos, antas, veados) na
América do Sul, uma vez que estes emigraram da América do Norte no final do Plioceno.

Vicariância: ocorre quando uma população ancestral é dividida em pelo menos duas
subpopulações devido ao surgimento de uma barreira geográfica intransponível (com
o tempo as subpopulações evoluem para diferentes táxon).
Exemplo: distribuição das aves ratitas (ema, avestruzes, casuares, e emus) na América
do Sul, África, Australásia, podendo ser explicada pela fragmentação do antigo continente
Gondwana durante o Mesozoico.
MÉTODOS EM BIOGEOGRAFIA HISTÓRICA
Um dos melhores métodos para explicar a distribuição de um grupo é um
bom registro fóssil. O registro fóssil pode ser empregado como fator decisivo
para determinar-se quando e onde um grupo surgiu, e consequentemente se
ele poderia ou não ter sido fragmentado pela deriva continental.

Na ausência de um registro fóssil adequado, a história da distribuição de um grupo


pode ser inferida, muitas vezes, a partir da análise filogenética.
Os estudos da biogeografia associados a sistemática filogenética é denominado de
biogeografia filogenética.

Para de aplicar os conceitos da biogeografia filogenética utilizam-se dois métodos


principais:
Regra da progressão: procura descobrir a área ocupada pelos “tipos primitivos”
Cladograma: procura estabelecer como os grupos estão relacionados
filogeneticamente através de um diagrama.
Os cladogramas são construídos tendo como base as características únicas que determinam os
distintos grupos de organismos, representando também relações evolutivas de parentesco.

CLADOGRAMAS

Estes cladogramas são obtidos a partir tanto de informações biológicas (análise dos
cladogramas dos organismos) quanto de informações geológicas ( análises dos eventos
geológicos).

A técnica consiste em comparar um cladograma geográfico das áreas estudadas com


os vários cladogramas dos organismos que as habitam. Se houver uma
correspondência entre o cladograma geográfico e o cladograma biológico, pode-se
inferir que as causas associadas com o cladograma geográfico possam, também, ter
causado as sequências filogenéticas observadas nos cladogramas biológicos.

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