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Unicelularidade e multicelularidade

Todos os seres vivos podem ser divididos em dois grandes grupos: seres eucariontes e procariontes, sendo que o que
os distingue é a sua organização celular. Existem duas hipóteses que tentam explicar a evolução dos organismos
procariontes:

Modelo Autogénico:
Segundo o modelo autogénico, os seres eucariontes são o resultado de uma evolução gradual dos seres procariontes.
Inicialmente, as células desenvolveram sistemas endomembranares a parir de invaginações da membrana plasmática,
que formaram o núcleo e outros organelos como o reticulo endoplasmático. Posteriormente, algumas estruturas
abandonaram o núcleo e evoluíram no interior da membrana, como é o caso das mitocôndrias e dos cloroplastos.

Modelo Endossimbiótico:
O modelo endossimbiótico admite que as células procarióticas primitivas teriam incorporado, num processo idêntico
ao da fagocitose outras células procarióticas de menores dimensões, com as quais passaram a estabelecer relações de
simbiose intracelular (endossimbiose). Dessa forma, associações com procariontes aeróbios terão levado ao
desenvolvimento de mitocôndrias, dando origem a células eucarióticas ancestrais com a capacidade de realizar a
respiração aeróbia. Da mesma forma, procariontes fotossintéticos teriam começado a fornecer, à célula que os
englobou, matéria orgânica resultante da sua atividade fotossintética. Gradualmente, estas células incorporadas teriam
evoluído para cloroplastos.
De entre as várias evidências que apoiam a hipótese endossimbiótica salientam-se:

 As mitocôndrias e os cloroplastos possuem o seu próprio material genético, semelhante ao DNA procariótico,
o que denota afinidade com os procariontes.
 Os cloroplastos e as mitocôndrias possuem duas membranas. A membrana externa pode ser considerada um
vestígio do processo de incorporação, enquanto a membrana interna está intimamente ligada ao processo
metabólico especifico do ancestral procarionte.
 Tanto os cloroplastos como as mitocôndrias dividem-se de forma independente do resto da célula, por
bipartição, tal como acontece com os seres procariontes.
 Ambos os organelos possuem ribossomas de menores dimensões, idênticos aos que existem procariontes
atuais.
 Verificam-se, em seres vivos atuais, associações de simbiose intracelular que atestam a viabilidade destes
processos.
Os seres eucariontes unicelulares seguiram vias evolutivas que haveriam de originar a organização em colónias e,
numa fase posterior, o aparecimento de organismos multicelulares. A multicelularidade conferiu vantagens aos
organismos, tais como: uma utilização mais eficaz da energia, como resultado da especialização celular no
desempenho de determinadas funções; uma melhor adaptação ao ambiente, decorrente de uma maior diversidade de
formas; uma maior autonomia em relação ao meio externo, dado que os sistemas de órgãos garantem que o meio
interno em equilíbrio face às flutuações do meio externo.

Mecanismos de evolução
Fixismo:
A partir da observação das espécies no período normal de vida humana é fácil concluir que estas são imutáveis. As
ideias dos primeiros filósofos e naturalistas basearam-se neste facto. A perspetiva que acredita que as espécies não se
alteram com o passar do tempo prevaleceu por mais de dois mil anos e denomina-se Fixismo. Este princípio
condicionou o avanço da ciência durante a idade média, uma vez que para os medievais o criacionismo apoiava-se
também no princípio fixista, e justificava a imutabilidade das espécies com a criação de Deus, o que implicava
perfeição e estabilidade. No final do séc. XVIII o Fixismo começou a ser posto em causa, o que abalou
irremediavelmente a conceção do mundo.

Evolucionismo:
O sistema de classificação de Lineu levou à compreensão das muitas semelhanças entre organismos de origem
diferente, o que, com o avanço da paleontologia permitiu o desenvolvimento da teoria evolucionista. O estudo dos
fósseis apresentou organismos que não tinham correspondência com as espécies atuais, o que contrariava a
imutabilidade das espécies. A teoria do catastrofismo tentou conciliar as ideias fixistas com os novos
desenvolvimentos da paleontologia, afirmado que os fósseis eram restos mortais de espécies que foram dizimadas
em catástrofes que ocorreram a nível global, depois das quais ocorriam novos processos de criação. De seguida,
Buffon criou o Transformismo que admitia que as espécies derivavam umas das outras, existido espécies intermédias
ate às formas atuais, foi assim a primeira teoria que apoiava as transformações, na qual o tempo geológico é
fundamental. Buffon acreditava que o clima e o acesso aos alimentos condicionavam esta transformação.
Maupertuis acreditava que os seres vivos resultavam de uma seleção provocada pelo ambiente, contudo estas
teorias não foram aceites na época. Com a evolução da Geologia e a aceitação geral da ideia que a Terra era um
planeta em constante mudança, o desenvolvimento da Teoria Uniformitarista, de Hutton, foi melhor aceite pela
população. Lyell desenvolveu e popularizou a obra de Hutton, embora fosse relutante à transformação das espécies.
Lyell e Hutton afirmam que:

 As leis naturais são constantes no espaço e no tempo;


 Os acontecimentos do passado devem ser explicados a partir dos mesmos processos naturais que se
observam na atualidade, dado que as causas que provocaram determinados fenómenos no passado são
idênticas às que provocam os mesmos fenómenos atualmente;
 A maioria das alterações geológicas ocorre de forma lenta e gradual.

Lamarckismo:
Em 1809, Lamarck propôs uma explicação para a evolução dos seres vivos assente em dois princípios fundamentais: a
lei do uso e do desuso e a lei da transmissão dos caracteres adquiridos.
Para Lamarck, o ambiente em mudança é o principal responsável pela evolução dos seres vivos. A necessidade que os
seres sentem de se adaptarem às novas condições ambientais conduz ao uso ou ao desuso continuo de certos órgãos -
lei do uso e do desuso. Deste modo, a utilização de um órgão acabará por determinar o seu desenvolvimento
estrutural como forma de adaptação ao meio. Da mesma forma, novos órgãos podem surgir nos seres vivos como
resposta a novas necessidades.
Lamarck considerava que as transformações, quer no sentido do desenvolvimento dos órgãos, quer da sua atrofia,
eram transmitidas à descendência - lei da transmissão dos caracteres adquiridos. Essas pequenas transformações,
ao acumularem-se ao longo de gerações sucessivas, levariam ao aparecimento de novas espécies. Apesar de salientar o
papel do ambiente no processo evolutivo, tal como aconteceria em teorias posteriores, o lamarckismo foi contestado
por várias razões:

 se bem que o ambiente possa influenciar a expressão genética, as alterações que se transmitem à descendência
são apenas aquelas que decorrem de modificações ao nível do material genético e não as que são provocadas
pelo uso ou desuso de certos órgãos ou estruturas
 não é possível testar experimentalmente a hipótese de que as alterações orgânicas, que conduzem à adaptação
ao meio, resultem de qualquer necessidade do organismo.

Darwinismo:
O evolucionismo acabou por se impor graças a Charles Darwin. A seleção natural é apresentada como o mecanismo
essencial dirige a evolução. A teoria de Darwin pode ser resumida no seguinte raciocínio:

 Todas as espécies apresentam, dentro de uma dada população e em determinado ambiente, indivíduos com
variações nas suas características, como, por exemplo, na forma, no tamanho, ou na cor (variabilidade
intraespecífica).
 Nas diferentes populações surgem mais descendentes do que aqueles que podem sobreviver, sendo que os
indivíduos que apresentam variações mais vantajosas têm maior taxa de sobrevivência (sobrevivência
diferencial). Esta luta pela sobrevivência surge como o resultado da pressão que o ambiente exerce, através
de todos os seus fatores, sobre os indivíduos com diferente capacidade adaptação. O ambiente funciona,
assim, como o agente da seleção natural.
 Os indivíduos portadores de variações favoráveis sobrevivem mais, transmitindo com maior frequência as
suas características à descendência (reprodução diferencial).
 A seleção natural, atuando ao longo de muitas gerações, leva à acumulação de variações nos organismos,
podendo conduzir à formação de novas espécies.
A principal critica ao darwinismo assenta no facto de nunca ter explicado a causa das variações nos indivíduos de uma
população e o seu modo de transmissão à descendência.

Neodarwinismo:
O desenvolvimento dos conhecimentos sobre hereditariedade e os avanços no domínio da genética das populações
permitiram a reformulação da teoria da evolução de Darwin, dando origem, ao neodarwinismo. Esta nova perspetiva
evolucionista pode resumir-se no seguinte raciocínio:

 A variabilidade intraespecífica numa população resulta das mutações e dos fenómenos de recombinação
genética. A recombinação genética está associada à reprodução sexuada, nomeadamente à meiose (crossing-
over e separação aleatória dos cromossomas homólogos) e à fecundação.
 O meio ambiente atua seletivamente sobre os indivíduos das populações, determinando a sobrevivência
diferencial de indivíduos portadores de combinações genéticas favoráveis, bem como a sua reprodução
diferencial.
 Ao longo do tempo, o fundo genético das populações, ou seja, o conjunto de genes que a caracterizam em
dado momento, vai sendo alterado.
 A variação do fundo genético de uma população constitui o principal indicador da sua evolução.

Origem de novas espécies à luz do Neodarwinismo:


As características genéticas dos indivíduos dependem da expressão dos genes herdados dos progenitores. Numa
população, o conjunto dos genes correspondente a determinada característica constitui fundo genético relativo a essa
característica.
Uma vez que a seleção natural determina que os indivíduos mais adaptados se reproduzam mais, verifica-se uma
maior frequência de passagem de determinados genes para as gerações seguintes, o que pode conduzir à alteração do
fundo genético. A mudança no fundo genético constitui o indicador da evolução de uma população.
As alterações no fundo genético de uma população ancestral, ao longo de várias gerações, podem conduzir ao
surgimento de novas espécies. Por exemplo, a existência de uma barreira geográfica, como um rio, ou uma montanha,
entre indivíduos de uma mesma população ancestral, pode levar a que fiquem sujeitos a condições ambientais distintas
e, portanto, a pressões seletivas diferentes. Este isolamento geográfico irá conduzir a fenómenos de evolução
divergente traduzidos na eliminação ou no aparecimento de novos genes (mutações), ou em variações significativas
das frequências génicas. A fixação dos novos fundos genéticos poderá levar ao aparecimento de diferenças que
acabarão por impedir o cruzamento entre os indivíduos dos dois grupos. Ou seja, as duas populações passam a estar
isoladas também sob o ponto de vista reprodutivo, passando a constituir duas espécies diferentes.

Processos de evolução convergente e divergente:

A interpretação dos processos evolutivos pode ser suportada por um conjunto de


evidencias de diversas áreas de conhecimento, como a paleontologia, a anatomia
comparada, biogeografia, embriologia e a citologia ou a bioquímica.
A anatomia comparada baseia-se no estudo de estruturas de diferentes organismos
com a fim de estabelecer possíveis relações evolutivas entre eles. As estruturas
homologas são órgãos que tem a mesma origem, a mesma estrutura básica e
posição idêntica no organismo, podendo apresentar formas e funções diferentes. Á
medida que os individues de uma população inicial se adaptam a diferentes
ambientes, sujeitos a pressões seletivas diferentes, estes órgãos evoluem de forma
diferente a partir de uma estrutura ancestral comum. Nesses contextos ambientais,
essas estruturas passam a desempenhar funções diferentes, o que reflete uma
evolução divergente.
Nas séries filogenéticas progressivas, os órgãos homólogos apresentam uma
complexidade crescente, isto é, a partir de um órgão ancestral simples,
desenvolvem-se órgãos mais complexos. Nas séries filogenéticas regressivas, os
órgãos homólogos simplificam-se, ou seja, a partir de um órgão ancestral mais
complexo formam-se órgãos rudimentares ou inexistentes. É o caso da perda dos
membros nas serpentes e da atrofia dos ossos das aves.
As estruturas análogas são órgãos que têm origem, estrutura e posição relativa
diferentes, desempenhando uma mesma função. Apesar de não evidenciarem
parentesco evolutivo entre os organismos que os possuem, estes órgãos têm
interesse como argumento a favor da evolução convergente, uma vez que
documentam o efeito adaptativo da seleção natural. Quando populações de
espécies ancestrais diferentes colonizam habitats semelhantes, ficam sujeitas a
pressões seletivas idênticas que conduzem a adaptações semelhantes. A existência
de semelhanças na estrutura e nos processos celulares dos seres dos vários reinos
constitui também um forte argumento a favor de uma origem comum para os seres
vivos
Atualmente, a determinação das relações de parentesco evolutivo baseia-se,
sobretudo, em dados da bioquímica. Estes dados reforçam a ideia de uma origem
comum dos diferentes grupos de seres vivos, podendo constituir um indicador da
divergência evolutiva entre eles. Desses dados, destaca-se o grau de semelhança
existente entre sequências de aminoácidos da mesma proteína em diferentes
organismos, ou da sequência de nucleótidos nas cadeias da molécula de DNA.

Sistemática dos seres vivos


Sistemas de classificação:
A classificação biológica consiste na organização dos seres vivos em grupos de acordo com critérios baseados,
sobretudo, nas suas características.
Com o avanço do conhecimento cientifico e de novos métodos e instrumentos de observação, o conhecimento sobre os
seres vivos aumentou exponencialmente, o que conduziu à utilização nas classificações de um número cada vez maior
de características- sistemas de classificação naturais. Estes sistemas de classificação fenéticos são sistemas de
classificação horizontais uma vez que não consideram a evolução dos organismos nem o fator tempo que está
associado a essa evolução.

 Baseia-se nos caracteres morfológicos ou noutros facilmente quantificáveis (que podem ser pesados, medidos,
numerados).

 Não considera o tempo nem o grau de parentesco evolutivo entre os organismos.

 Os resultados podem ser representados em fenogramas, em que o comprimento dos ramos revela o maior ou
menor número de características em comum.

 É um sistema de classificação muito utilizado na prática dos biólogos, pois permite uma identificação fácil das
espécies através de chaves dicotómicas.

As árvores filogenéticas traduzem, assim, afinidades evolutivas entre grupos relativamente aos quais se considera a
existência de antepassados comuns. As classificações filogenéticas podem ser consideradas classificações verticais,
uma vez que refletem o carácter dinâmico da transformação dos organismos ao longo do tempo. Com o
desenvolvimento da citologia e da bioquímica tem sido possível a identificação de ancestrais comuns, ajudando a
definir sequências que esclarecem o percurso evolutivo dos grupos de seres vivos.

 Reflete a relação evolutiva dos organismos.

 Valoriza dados paleontológicos, genéticos, bioquímicos, embriológicos, citológicos.

 Considera o fator tempo.

 Os resultados podem representados em cladogramas, que mostram a afinidade evolutiva entre os seres vivos
e cujo comprimento dos ramos revela o tempo ocorrido após a divergência evolutiva.

Taxonomia e nomenclatura:
Os sistemas de classificação atuais mantêm ainda alguns aspetos propostos por Lineu no seu sistema de classificação.
Nesse sistema, os níveis taxonómicos, ou taxa, encontram-se dispostos de forma hierárquica.
A categoria taxonómica que constitui a unidade básica deste sistema de classificação é a espécie. A espécie constitui o
táxon menor capacidade de inclusão e o mais uniforme, uma vez que integra organismos com maior número de
características em comum. A espécie é o único táxon natural, porque os organismos que a integram possuem a
capacidade de se cruzar entre si, originando descendência fértil. Assim sendo, encontram-se isolados
reprodutivamente de outras espécies.
O reino é a categoria mais abrangente, sendo, por isso, a mais heterogénea. Entre estes dois extremos consideram-se o
género, a família, a ordem, a classe e o filo. Ao longo desta hierarquia, da espécie para o reino, vai aumentando o
número de organismos incluídos em cada nível, mas diminuindo o grau de parentesco entre eles.

Regras de nomenclatura:
Uma das mais importantes, a nomenclatura binominal, é usada para designar a espécie. Cada espécie é denominada
por dois termos, por exemplo, Fragaria vesca (morangueiro-bravo). O primeiro termo indica o nome do género a que a
espécie pertence e deve ser escrito com inicial maiúscula Este nome pode ser utilizado isoladamente para designar o
género. O segundo termo, restritivo especifico, complementa sempre o primeiro, de forma a identificar determinada
espécie dentro desse género, devendo ser integralmente escrito em minúsculas. O nome da espécie, por norma
impresso em itálico deverá ser sublinhado quando manuscrito. O nome do autor e a data da classificação poderão estar
asso ciados ao nome da espécie, dai resultando uma classificação mais completa.

Sistema de classificação de Whittaker modificado


No sistema de classificação de Whittaker modificado os seres vivos são divididos em cinco reinos, de acordo com três
critérios fundamentais de classificação:
 Tipo de células/nível de organização celular - distinguindo os seres procariontes dos eucariontes e, dentro
destes, os unicelulares, os coloniais, os multicelulares com baixo grau de diferenciação e os multicelulares.
 Tipo de nutrição - distinguindo seres autotróficos dos seres heterotróficos e, dentro destes, os heterotróficos
por ingestão e os heterotróficos por absorção.
 Interação nos ecossistemas - distinguindo os seres produtores dos seres consumidores e, dentro destes,
distinguindo os macroconsumidores (heterotróficos por ingestão) dos microconsumidores (heterotróficos por
absorção).
A evolução das ciências biológicas em áreas tão diversas como a embriologia, a paleontologia, a fisiologia ou a
bioquímica leva ao aprofundamento do conhecimento dos seres vivos e a perspetivas diferentes acerca da diversidade
biológica. Essas diferenças de perspetiva traduzem-se na valorização de diferentes critérios, o que confere aos
sistemas de classificação um carácter transitório.

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