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MEYER, Diogo; EL HANI, Charbel Niño; Evolução: o sentido da biologia.

São
Paulo, Editora UNESP, 2005
Fichado por: Clailton Ferreira do Nascimento

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A evolução implica que há relações de parentesco entre todos os seres vivos
e para cada ser vivo há ancestrais que o precederam. Além disso, nos permite
investigar como (e por que) ocorreram modificações nas espécies.

16 – 18
Em meados do século XIX, a teoria de origem da vida predominante era o
criacionismo aliada a ideia fixista onde os seres permaneceriam imutáveis da forma
que foram criados. Deus teria criado todos os organismos, desde os mais simples
até os mais complexos. Essa é a principal ideia de embate entre criacionistas fixistas
e evolucionistas. A partir do séc. XVIII, começou a surgir o “transformismo” ou
“evolucionismo” onde diversos cientistas propunham que a Terra passava por
transformações e modificações e diversas teorias de evolução biológicas fizeram
parte desse movimento.

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O mais notável desse período foi o naturalista francês Jean-Baptiste Lamarck,
que propôs a teoria evolucionista “lei do uso e desuso” e estabeleceu em evolução a
ideia de progresso.

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Charles Darwin e Alfred Russell Wallace propuseram a teoria de origem das
espécies, com dois pontos fundamentais: Darwin argumentou que todas as espécies
possuem um ancestral em comum, sendo a evolução um processo não linear, mas
que se dá por divergência. A segunda ideia central elaborada somente por Wallace
seria a causa as mudanças evolutivas, chamada Seleção Natural.

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A teoria darwinista, de maneira geral, é a junção de cinco teorias evolutivas
interrelacionadas, que discutem diferentes aspectos da evolução. Em seu cerne, em
primeiro ponto a evolução ocorre, e existem diversas evidências e argumentos de
que fato ela é um processo ativo. Em segundo, para Darwin, todas as espécies
evoluíram de um ancestral em comum. Em terceiro, a variação dentro da espécie
origina diferenças entre as espécies. Para Darwin, não são os indivíduos que
mudam ao longo do processo evolutivo e sim as populações. Em quarto, a evolução
é gradual. Nas palavras de Darwin a natureza não dá saltos. As mudanças
evolutivas ocorreram em uma sucessão de mudanças menores que teriam se
acumulado. Em quinto, a seleção natural é o mecanismo subjacente à mudança
evolutiva e a competição é um fator determinante. Além disso, há variação entre as
populações e essas variações são transmissíveis, podendo afetar as chances de
reprodução e sobrevivência dos organismos. A seleção natural seria constituída por
um processo de reprodução e desenvolvimento desigual, juntamente com a herança
das características que influem na sobrevivência.

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A partir da década de 40, novos estudos realocaram a seleção natural em
posição de destaque entre as teorias, graças a estudos de Ronald Fisher, John
Haldane, Sewall Wright e Theodosius Dobzhansky abordando a influência da
seleção natural sobre as populações, as interações gênicas como fonte de
variabilidade e a herança de características, dando origem ao chamado
neodarwinismo.
Hoje sabe-se a importância da seleção natural para a evolução das espécies
e o fato dela explicar as adaptações presentes nos organismos e a sua utilidade
para investigar as alterações evolutivas são suficientes para indicar sua importância
central na biologia.

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A seleção natural oferece um pensamento populacional, onde uma coleção de
populações de indivíduos com muitas diferenças genéticas que mudam de geração
em geração e dependendo das combinações de características que são geradas e
do maior ou menor sucesso de cada combinação. Ao longo de muitas gerações,
uma espécie pode ser transformada em sua aparência, comportamento ou
constituição genética, podendo gerar novas espécies. A diversidade é a regra nas
populações.

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O acaso, ainda, pode influenciar na perpetuação, ou não, de determinado
genoma. No final da década de 60, descobriu-se que cerca de 12% dos genes que
herdamos do nosso pai são diferentes do da nossa mãe, sugerindo que hpa um
considerável estoque de variantes genéticas. Motoo Kimura propôs em 1968 a teoria
neutra da evolução molecular, segundo a qual a maior parte das variantes genéticas
que são criadas pelo processo de mutação pode permanecer ou não numa
população por acaso e não por um efeito da seleção natural com um motivo. Deu-se
a isso o nome de deriva genética.

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A seleção natural não resulta em organismos perfeitos ou que os
descendentes sejam melhores que os ancestrais, mas apenas aquelas
características selecionadas permitiram que os organismos que as apresentassem
tivessem mais sucesso que outros organismos que não as tinham. As características
selecionadas são sempre as mais favoráveis dentro de um espectro de
possibilidades. É como se as características dos organismos tivessem que perseguir
o tempo todo um alvo móvel, que no caso são as condições ambientais, que estão
sempre mudando. O organismo não se torna “mais adaptado” à todas as condições
ambientais pois o organismo nunca terá todas as variações possíveis, e o ambiente
está sempre mudando, inclusive em consequência das ações dos organismos.

70 – 71
A evolução atua sobre o organismo como um todo, e não só sobre uma parte
em específico, visto que a alteração de uma característica pode implicar no
funcionamento do restante do corpo.

71 – 74
Uma característica funcional pode não ter sido uma adaptação. A exemplo
disso, a capacidade de voar das aves pode não ser uma adaptação, já que a
característica “possuir penas” é plesiomórfica à capacidade de voar. As penas teriam
surgido incialmente nos dinossauros para funcionar como um “casaco”. Foi proposto
então o termo exaptação para dissociar a função atual da estrutura da função inicial
de quando ela surgiu.
François Jacob exprimiu a importância desses “reaproveitamentos” dizendo
que para ele a evolução caminha por um processo de bricolagem e não de
engenharia. A função de penas de voo seria um exemplo de como a evolução
“utiliza” o que tem disponível para originar novas estruturas ou novas características.

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Faz-se necessário entender que na evolução, a existência das características
dos organismos não se limita a apenas um ponto. Dependendo das condições e do
contexto, elas podem ter se fixado tanto porque “o ambiente a demandou” ou por
acaso.

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Atualmente, há três discussões dentro da biologia evolutiva que são desafios
para os neodarwinistas. Em qual nível a seleção natural atua; a seleção é capaz de
explicar a eliminação do menos adaptado e o surgimento do mais adaptado?; A
seleção é capaz de explicar as grandes alterações na árvore da vida? Para Stephen
Jay Gould chama essas questões de agência, eficácia e alcance, sendo princípios
presentes até hoje na formulação contemporânea do darwinismo.

81 - 86
Quando a agência, Darwin afirmou que a seleção natural atua sobre os
organismos, que competem uns com os outros, admitindo até mesmo que
comportamentos altruístas eram um problema para sua teoria.
Vero Wynne-Edwards propôs que esse tipo de comportamento é benéfico
para a seleção de grupo, e que grupos onde há indivíduos altruístas tem menos
chance de serem extintos. George C. Williams criticou essa teoria com a chamada
“subversão desde dentro” onde o comportamento altruísta deveria sumir já que
aqueles com comportamento egoísta é que perpetuariam seus genes. Bastaria um
indivíduo egoísta invadir um grupo de altruístas para que começasse a subversão.
William Hamilton propôs então que o altruísmo evoluiu a partir da “seleção por
parentesco”. Além disso, se a subversão desde dentro fosse insuperável,
organismos multicelulares sequer existiriam.
Atualmente, concebe-se que a seleção não atua exclusivamente em um nível,
podendo ocorrer a nível de gene, linhagem celular, de organismo individual, de
populações e talvez até mesmo de espécies.
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Quanto à eficácia, perguntava-se se que a seleção natural seria capaz de


explicar as grandes diferenças entre os organismos na árvore da vida. Os
contemporâneos de Darwin diziam que sua teoria servia para explicar pequenas
diferenças entre os organismos, mas não as diferenças entre corais e insetos. Já
Darwin dizia que sim, e que a grande diversidade era resultado de acúmulos de
pequenas mutações ao longo dos milhões de anos.
Um grande problema para essa visão era a ausência de formas intermediárias
para explicar diferenças muito marcantes. Darwin pôs a culpa disso na ausência de
registro fóssil, que nem sempre conseguia permanecer bem-preservado.
Richard Goldschmidt propôs a teoria das macromutações, onde
reorganizações inteiras dos cromossomos resultaria em mutações sistêmicas. Na
época essa ideia foi desconsiderada e voltou à tona com o avanço da paleontologia.
Stephen Jay Gould e Niles Eldredge propuseram que uma espécie ao longo
de sua evolução se modifica pouco, mas quando se divide, ocorre uma
diversificação morfológica. Assim, a evolução seria sucedida por longos períodos de
poucas alterações intercalados por períodos comparativamente curtos com
mudanças na morfologia e surgimento de novas espécies. Essa ideia foi amparada
pela teoria de Ernst Mayr de que novas espécies surgem quando pequenos
conjuntos se separa do resto da população, que herdariam combinações de genes
diferentes daquelas encontradas na maior parte da população. Esse modelo foi
batizado de equilíbrio pontuado, onde períodos de equilíbrio com pouca mudança
seriam pontuados por fases de diversificação.
Alguns naturalistas afirmavam que a seleção natural, embora pudesse
remover formas intermediárias menos adaptadas, mas que não seria capaz de
contribuir com o surgimento de organismos mais aptos. De fato a seleção não
origina nada diretamente, mas seu processo de triagem de linhagens pré-existentes
é capaz de favorecer a fixação de determinada característica. A medida que
vantagens forem sendo acumuladas, numa escala de tempo grande o suficiente,
poderão surgir novidades evolutivas.

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Quanto à biologia do desenvolvimento, esta desempenha papel importante no
processo evolutivo - as cascatas de regulação gênica. Alguns genes se ligam a
outros por meio de fatores de transcrição, e por meio disso regulam a sua
expressão. Ao estudar esses genes, pesquisadores constataram que os genes que
coordenam o processo de desenvolvimento são muito semelhantes, além da forma
que seus produtos interagem entre si. Por meio do processo de “bricolagem” esses
genes reguladores ativam e desativam genes ou até alteram o local e a forma como
se expressam. A organização de mecanismos de desenvolvimento também impõe
limites. Na primeira fase de desenvolvimento do embrião (logo após a fertilização),
ele sofre uma diferenciação celular mais brusca, e geralmente os embriões
interespécie nessa fase são bem diferentes. Porém na fase intermediária, a
diferenciação é mais restrita, e embriões de espécies muito diferentes tendem a ser
bastante semelhantes. Nessa fase há uma conexão intercelular entre as células para
a formação de órgãos e diferenciação específica de células. As restrições diminuem
na fase final, pois como as regiões do embrião já estarão definidas, mudanças nos
olhos ou no coração podem ocorrer sem causar prejuízo uma à outra.

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