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FACMED – FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS E JURÍDICAS

CURSO DE BACHAREL EM DIREITO


1° PERÍODO

HANNA NEVES MACIEL

A CORRELAÇÃO MITO DO BOM SELVAGEM COM A


TEORIA DO DARWINISMO E O ROMANTISMO DE
ROUSSEAU

DOCENTE LARISSA AGUILAR


Resumo

A correlação entre o mito do bom selvagem de Rousseau, o darwinismo e o romantismo


revela pontos de interseção entre ideias aparentemente divergentes. Rousseau propôs
um estado primitivo e virtuoso da humanidade, enquanto o darwinismo de Darwin
explora a evolução e a adaptação das espécies ao longo do tempo. O romantismo,
influenciado pelo idealismo de Rousseau, celebra a natureza, a emotividade e a
autenticidade. Apesar das diferenças, esses conceitos compartilham a busca pela
essência humana e a relação intrínseca entre o ser humano, a natureza e o
desenvolvimento histórico, destacando uma complexa rede de pensamento que dialoga
sobre a origem, evolução e lugar do homem no mundo.

Palavras-chave: natureza, essência, evolução, origem, humanidade

THE CORRELATION OF THE NOBLE WILD MYTH WITH THE THEORY


OF DARWINISM AND ROSSEAU'S ROMANTICISM

ABSTRACT

The correlation between Rousseau's myth of the noble savage, Darwinism and
romanticism reveals points of intersection between apparently divergent ideas.
Rousseau proposed a primitive and virtuous state of humanity, while Darwin's
Darwinism explores the evolution and adaptation of species over time. Romanticism,
influenced by Rousseau's idealism, celebrates nature, emotionality and authenticity.
Despite the differences, these concepts share the search for the human essence and the
intrinsic relationship between the human being, nature and historical development,
highlighting a complex network of thought that dialogues about the origin, evolution
and place of man in the world.

Keywords: nature, essence, evolution, origin, humanity


Sumário
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................4
1.1 O Romantismo de Rousseau....................................................................................5
2 DESENVOLVIMENTO.............................................................................................6
2.1 Rousseau e seu ideal romântico: uma retomada da natureza......................................7
2.2 O homem natural: piedade e amor de si......................................................................8
2.3 O sentido do bom selvagem........................................................................................9
2.4 O mito do bom selvagem e a teoria do Darwinismo: o que eles têm em comum?. . .10
2.5 A corrupção da sociedade na natureza humana segundo Rousseau............................8
2.6 Valores sociais e políticos segundo Rousseau.............................................................9
3 CONCLUSÃO..............................................................................................................10
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................11
1 Introdução
O Romantismo de Rousseau

O Romantismo, influenciado por diversas correntes filosóficas e culturais, foi um


movimento artístico e intelectual que floresceu na Europa durante o final do século
XVIII e boa parte do século XIX. Jean-Jacques Rousseau, um dos grandes pensadores
iluministas do século XVIII, desempenhou um papel significativo na formação das
bases ideológicas do Romantismo.
Rousseau, com suas obras filosóficas e sociais, estabeleceu ideias revolucionárias sobre
a natureza humana, a sociedade e a liberdade. Sua visão romântica da natureza, expressa
através do conceito do "bom selvagem", influenciou profundamente o movimento
romântico subsequente.
Neste contexto, a introdução ao romantismo de Rousseau pode ser considerada como a
exploração da autenticidade, da emoção, da liberdade e da valorização da natureza como
fonte de inspiração artística e espiritual. Suas ideias sobre a busca por uma vida mais
próxima da natureza, longe das corrupções da sociedade civilizada, foram fundamentais
para a compreensão da exaltação da natureza e dos sentimentos como elementos
essenciais no movimento romântico.
Dessa forma, a contribuição de Rousseau para o Romantismo não apenas influenciou a
arte e a literatura, mas também moldou as percepções sobre a condição humana, a
liberdade individual e a relação entre o homem e a natureza, marcando uma transição
significativa na maneira como a humanidade via a si mesma e seu entorno.
2 Desenvolvimento

Rousseau e seu ideal romântico: uma retomada da natureza

Rousseau desempenhou um papel fundamental ao influenciar o movimento romântico


com seu ideal romântico de uma retomada à natureza. Sua perspectiva filosófica
expressava uma crítica à sociedade e à civilização, advogando por um retorno a um
estado mais natural e genuíno.
Rousseau propôs a existência de um "bom selvagem", uma figura que representava o
homem em seu estado mais puro e virtuoso, vivendo em harmonia com a natureza antes
da influência corrompedora da sociedade civilizada. Este conceito idealizava a
simplicidade e a autenticidade da vida natural em contraste com os aspectos artificiais e
opressivos da cultura e da sociedade.
Rousseau busca, assim, uma natureza humana selvagem, pura, sem a mácula causada
pelo mundo corrompido pela civilização. É o famoso mito do bom selvagem, ser íntegro
e primitivo, tão amplamente retomado pelos autores românticos.
Esse homem está oculto no interior de cada homem, possui a essência de todos os
homens, a liberdade. Mas, uma liberdade não apenas social, também emocional,
sentimental.
Ao localizar na vida social a fonte da corrupção humana, Rousseau estabelece um
profundo pessimismo no tocante à sociedade e à civilização, que se estenderá ao espírito
romântico. O homem romântico é um eterno insatisfeito, que não acredita na realidade
social, procurando escapar das amarras sociais por meio da imaginação e da
sensibilidade.
O homem se realiza na sensibilidade e na criatividade, liberando a inspiração original
que verte das profundezas do ser. De tal forma, pode-se dizer que um dos pontos de
partida da obra de Rousseau é a interioridade como sinônimo de sentimento, o que o
contrapõe ao racionalismo do Século das Luzes. É no sentimento que se encontra a
melhor tradução da interioridade humana, pois é no sentir-se que o homem mergulha em
suas raízes de maneira mais livre.
Há uma expansão do eu e da subjetividade, que será a base de todo pensamento
romântico.
O espírito romântico, já no século XIX, volta-se para a subjetividade, para a valorização
dos sentimentos em todos os seus matizes, mas é no amor que encontramos sua grande
expressão. O amor que para Jean-Jacques é também uma forma de ressaltar a essência
primitiva do ser humano.
2.1 O homem natural: piedade e amor de si

Para Jean-Jacques Rousseau, o conceito do "homem natural" era fundamental em sua


filosofia. Ele via o homem em seu estado primitivo como sendo dotado de piedade e
amor-próprio, ou "amor de si".
Rousseau argumentava que o homem no estado de natureza, antes da influência da
sociedade e da civilização, possuía um senso inato de compaixão ou piedade. Essa
piedade o levava a sentir empatia pelos outros e a desejar ajudar e ser útil aos seus
semelhantes. Esse sentimento de piedade era considerado como uma qualidade natural e
fundamental do ser humano.
Além disso, Rousseau também falava sobre o "amor de si", que não deve ser confundido
com egoísmo. Esse amor-próprio se manifestava como o cuidado e o zelo que uma
pessoa tinha consigo mesma, não para prejudicar os outros, mas como um sentimento
natural de preservação, autoestima e autenticidade.
Esses dois aspectos, a piedade e o amor de si, constituíam, para Rousseau, elementos
intrínsecos e positivos do homem natural, contrastando com as complexidades e
corrupções que, segundo ele, eram introduzidas pela sociedade civilizada.
Esses conceitos ajudaram a formar a base de sua crítica à sociedade e à civilização,
promovendo a ideia de que a natureza humana, em seu estado mais primordial, possuía
virtudes inatas e saudáveis.
Para mostrar como esse sentimento é natural, o filósofo observa que mesmo os animais
sofrem diante do sofrimento alheio:

“Um animal não passa sem inquietação perto de um animal morto de sua espécie:
alguns dão mesmo uma espécie de sepultura; e os tristes mugidos do gado, ao entrar no
matadouro, anuncia a impressão que ele recebe do horrível espetáculo que o comove”.

Essa disposição natural é forte o suficiente para manter os homens no estado de natureza
em paz com seus semelhantes. É somente com surgimento da sociedade, da linguagem e
da filosofia que tal instinto perde força:

“Pode-se impunemente degolar o semelhante debaixo da janela; é só tapar os ouvidos e


argumentar um pouco, para impedir que a natureza, revoltando-se nele, o identifique
com aquele que se assassina. O homem selvagem não tem esse admirável talento, e, por
falta de sabedoria e de razão, vemo-lo sempre entregar-se, aturdido, ao primeiro
sentimento de humanidade. Nos motins, nas brigas de rua, a populaça se aglomera, e o
homem prudente se afasta; é a canalha, são as mulheres dos mercados que separam os
combatentes e impedem a gente honesta de se degolar mutuamente.”

2.2 O sentido do bom selvagem


As ideias de Rousseau não foram muito bem recebidas por seus contemporâneos.
Voltaire, seu amigo e certamente um dos filósofos mais espirituosos da história, não lhe
poupou o sarcasmo:

“Recebi, senhor, vosso novo livro contra o gênero humano. Obrigado. Nunca se
empregou tanta sutileza no sentido de nos bestializar; dá vontade de andar de quatro,
quando acabamos de ler o seu livro.”

Ao contrário do que fizeram crer alguns críticos da época, o objetivo do Discurso não
era defender um retorno a esse estado natural. A discussão sobre a natureza humana tem
outro propósito para Rousseau. Ele não pensava ser possível retornar ao estado de
natureza, mas, olhando à sua volta, via uma sociedade com muitos problemas. Olhando
para a natureza humana, via que isso era contingente. As coisas estavam dando errado
não porque o homem é assim, mas porque a sociedade o transformou nisso.

Seu otimismo sobre nossa natureza dava sentido para seu trabalho futuro. Nos livros
que escreverá depois do Discurso sobre a Desigualdade, Emílio ou da educação e O
contrato social, pensará como educar as crianças e organizar o governo da sociedade de
modo a garantir que a natureza humana não seja corrompida pela sociedade.

2.3 O mito do bom selvagem e a teoria do Darwinismo: o que eles têm em comum?

O mito do bom selvagem, proposto por Jean-Jacques Rousseau, e a teoria do


darwinismo, desenvolvida por Charles Darwin, oferecem perspectivas distintas sobre a
natureza humana, embora possam ser correlacionados em certos aspectos.

A teoria do darwinismo, proposta por Charles Darwin, é um dos pilares fundamentais da


biologia evolutiva. Introduzida no século XIX através de sua obra seminal "A Origem
das Espécies", a teoria revolucionou a compreensão da diversidade e origem das
espécies. Essa teoria trouxe uma nova compreensão sobre como as espécies se
desenvolvem e se adaptam ao ambiente, desafiando as visões tradicionais sobre a
criação e a origem da vida. O darwinismo teve um impacto profundo em diversas áreas
do conhecimento, influenciando não apenas a biologia, mas também a psicologia, a
antropologia e a compreensão da natureza humana, contribuindo significativamente para
a compreensão da diversidade da vida na Terra.

Rousseau idealizou um estado primitivo e virtuoso da humanidade, onde as pessoas


viviam em harmonia com a natureza antes da influência corrompedora da sociedade
civilizada. Ele via o homem nesse estado como naturalmente bom, puro e inocente,
contrapondo a ideia de que a civilização corrompe a natureza originalmente virtuosa do
ser humano. Por outro lado, a teoria da evolução de Darwin propõe que as espécies
evoluem ao longo do tempo por meio da seleção natural, adaptando-se ao ambiente em
que vivem. Darwin argumenta que a natureza opera através de um processo de
competição e sobrevivência, onde as características mais vantajosas são passadas
adiante.
Embora aparentemente diferentes, há uma correlação entre as ideias. A noção de um
estado primitivo e "puro" na visão de Rousseau pode ser comparada à busca de Darwin
pela origem e desenvolvimento das espécies. Ambos expressam a ideia de que a
natureza, em sua essência, possui uma ordem intrínseca que, de alguma forma, se
perdeu ou foi transformada com o tempo.

Ambos os pensadores abordam a ideia da influência do ambiente nas características e


comportamentos humanos, embora por vias distintas. Enquanto Rousseau enfatiza a
corrupção da sociedade na natureza humana, Darwin explora a adaptação das espécies
ao ambiente. A correlação entre esses conceitos reside na tentativa de compreender a
natureza original do homem e das espécies em seu contexto evolutivo e social.

2.4 A corrupção da sociedade na natureza humana segundo Rousseau

Jean-Jacques Rousseau, um dos grandes filósofos iluministas, abordou a corrupção da


sociedade na natureza humana em sua obra "O Contrato Social" e em "Discurso sobre a
Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens". Ele argumentava que a
sociedade corrompe a bondade natural do ser humano.

Rousseau acreditava que o homem, em seu estado natural, era bom, livre e
autossuficiente. No entanto, à medida que a sociedade se desenvolvia, surgiam
instituições como a propriedade privada, o governo e a desigualdade social, levando à
corrupção do homem. A propriedade privada foi um dos principais catalisadores dessa
corrupção, transformando relações pacíficas em competição e desigualdade.

Para Rousseau, a sociedade civilizada criava uma falsa noção de necessidades, gerando
uma busca incessante por poder, riqueza e status, resultando na corrupção moral dos
indivíduos. A desigualdade social exacerbava essa corrupção, pois os mais poderosos
exploravam os mais fracos, criando um ciclo de opressão e injustiça.

Assim, Rousseau via a sociedade como um sistema que corrompia a natureza benigna
do homem, transformando-o em seres egoístas, invejosos e moralmente degradados. Sua
crítica à corrupção da sociedade na natureza humana serviu como base para repensar os
valores sociais e políticos, buscando formas de reconstruir uma ordem mais justa e
equitativa, onde a bondade natural do homem pudesse florescer novamente.
2.5 Valores sociais e políticos segundo Rousseau

Para Rousseau, os valores sociais e políticos estavam intrinsecamente ligados à natureza


humana. Ele argumentava que, no estado natural, os seres humanos eram livres, iguais e
moralmente bons.

Rousseau criticava as estruturas sociais que reforçavam a desigualdade, como a


propriedade privada e a hierarquia social, que conduziam à exploração e à injustiça. Ele
defendia a ideia de que a verdadeira liberdade só poderia ser alcançada por meio da
participação ativa e igualitária de todos os cidadãos na tomada de decisões políticas, no
que ele chamava de "vontade geral".

Para Rousseau, a "vontade geral" representava o interesse comum da sociedade, e o


governo legítimo deveria ser baseado nesse princípio, atuando para promover o bem-
estar coletivo em vez de servir a interesses particulares.

Ele via na educação um elemento crucial para a formação de cidadãos virtuosos e


conscientes, capazes de contribuir para o bem comum.

Os valores sociais e políticos defendidos por Rousseau tinham como objetivo principal a
busca por uma sociedade mais justa, na qual a liberdade e a igualdade fossem
preservadas. Sua crítica à desigualdade social, à corrupção da natureza humana pela
sociedade e seu apelo por uma participação cívica ativa deixaram um legado duradouro,
influenciando discussões sobre direitos individuais, governo democrático e justiça social
até os dias atuais.
3 CONCLUSÃO

A correlação entre o mito do bom selvagem, o romantismo e a teoria do darwinismo


revela interconexões intrigantes entre diferentes correntes de pensamento, apesar de
suas origens e abordagens distintas.

Jean-Jacques Rousseau, ao idealizar o "bom selvagem" como um estado primitivo e


virtuoso da humanidade, influenciou o movimento romântico ao celebrar a natureza
como fonte de inspiração, autenticidade e liberdade. Suas ideias ressoaram na
valorização da simplicidade, emoção e harmonia com a natureza, características centrais
do romantismo.

Por outro lado, a teoria do darwinismo, proposta por Charles Darwin, ofereceu uma
perspectiva científica sobre a evolução das espécies, destacando a adaptação e a seleção
natural. Embora aparentemente distantes, há uma correlação no desejo de compreender
a natureza original do homem e das espécies, seja explorando a inocência perdida na
visão de Rousseau ou buscando compreender a evolução e adaptação das espécies na
teoria de Darwin. Essas correntes de pensamento refletem a busca humana contínua por
entender a condição humana, a relação entre o homem e a natureza, e o
desenvolvimento ao longo do tempo.

Embora cada uma delas tenha suas próprias ênfases e contextos, a correlação entre o
mito do bom selvagem, o romantismo e o darwinismo revela a complexidade das
interpretações sobre a natureza humana e o papel da natureza na evolução e na
expressão da vida no mundo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Rousseau, Jean-Jacques. "O Contrato Social". Editora Martin Claret, 2001.


Rousseau, Jean-Jacques. "Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da
Desigualdade entre os Homens". Editora Martins Fontes, 2010.

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