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11.ºano
Textos narrativos e descritivos
Os Maias – personagens
Realismo / Naturalismo

Realismo

A escola literária do Realismo surge, na 2.ª metade do século XIX, como reação aos excessos do
Romantismo.

Afastando-se da tendência romântica para a imaginação e para a fuga da realidade, o autor


realista procura representar, acima de tudo, a verdade absoluta e objetiva.

O objetivismo recusa, então, o subjetivismo e individualismo românticos. Deste modo, o homem


realista deixa de se centrar no seu EU para passar a preocupar-se em compreender a realidade que o
rodeia. Para isso, serve-se da técnica da observação minuciosa dos factos, das impressões sensíveis,
e da atenção dada aos aspetos físicos e, principalmente, psicológicos do homem.

Esta preocupação pela observação minuciosa dos factos e da sua análise dá origem a narrativas
longas e lentas que pintam uma realidade com pormenor, e sem esconder os aspetos menos
agradáveis dos elementos retratados.

Para além da recusa do subjetivismo romântico, a reação realista rejeita também os seus
ideais, passando, por exemplo, a procurar a representação do momento presente e do
quotidiano, ao contrário do Romantismo voltado para o passado histórico e para os
nacionalismos.

Observando o presente com fidelidade, a literatura passa a ser um instrumento de denúncia social,
onde se analisa criticamente os vícios da sociedade sua contemporânea, corporizados na classe
dominante, a burguesia, retratada em personagens-tipo, e satirizando as instituições tradicionais
conservadoras como a Família, a Igreja e o Estado. Na ficção realista a personagem e a sua
caracterização contribuem para a compreensão do enredo, pois é possível estabelecer uma relação
entre as atitudes e comportamentos das personagens, descritas de maneira objetiva e lógica, e a
sociedade da época.

A objetividade realista é conseguida a partir de uma linguagem simples e pouco rebuscada de


compreensão imediata. Além disso, a tendência da descrição minuciosa e exata não dá espaço à
linguagem metafórica e hiperbólica dos Românticos.

Realismo segundo Eça de Queirós

Segundo Eça de Queirós, na 4.ª Conferência1 do Casino a 12 de junho de 1871, o Realismo "é a
negação da arte pela arte; é a proscrição do convencional, do enfático e do piegas. É a abolição da
retórica considerada como arte de promover a comoção usando da inchação do período, da epilepsia
da palavra, da congestão dos tropos. É a análise com o fito na verdade absoluta. Por outro lado, o
realismo é uma reação contra o romantismo: o romantismo era a apoteose do sentimento; o
realismo é a anatomia do carácter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios
olhos – para que nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para
condenar o que houver de mau na nossa sociedade."

António Salgado Júnior, História das Conferências do Casino.

1
A reconstituição desta conferência foi feita por António Júnior (o texto original perdeu-se).

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Principais autores do período realista

– Portugal: Eça de Queirós, Antero de Quental, Ramalho Ortigão, Júlio Lourenço Pinto, Teixeira de
Queirós.

– França (país onde nasceu esse movimento): Gustave Flaubert, Balzac e Emile Zola. –

Inglaterra: William Thackeray e George Eliot.

– Rússia: Fiódor Dostoievski e Leon Tolstoi.

Teorias sociais e científicas que despertaram uma visão mais objetiva e crítica do Mundo

– O positivismo de Augusto Comte.


Segundo Augusto Comte só é possível obter o verdadeiro conhecimento da realidade a partir dos
métodos da rigorosa observação e da experimentação.

– O evolucionismo de Darwin.
Segundo este cientista as espécies vivas são o resultado de um processo evolutivo em que a
seleção natural desempenhou um papel determinante, pois só sobreviveram as espécies que
souberam, ao longo da sua evolução, adaptar-se ao seu meio.

– O marxismo de Karl Marx.


Segundo Karl Marx, as relações de trabalho, isto é, as relações de produção, são o verdadeiro
motor da História. Por isso propõe a transformação da sociedade capitalista, a partir de uma
organização do proletariado, e reivindicou a melhoria das condições de vida do ser humano.

No Realismo e no Naturalismo, estas teorias traduziram-se numa fé na ciência, no progresso e na


vontade de transformar a sociedade, denunciando os seus males.

NATURALISMO

O Naturalismo constitui o período literário, da década de 80, que se segue ao Realismo. Este
movimento estético partilha com o Realismo a ideia de que a Arte deve ser o retrato fiel da
realidade. No entanto, influenciado pelo Positivismo de Comte e pela teoria evolucionista de Charles
Darwin, o Naturalismo considera que o romancista não se deve limitar a observar os
acontecimentos e expô-los, mas também a interpretar os factos e os fenómenos sociais, com o
rigor próprio da ciência. Deste modo, o romance adquirirá um valor social e científico.

O escritor naturalista, tal como o Realismo, também se baseia na observação e descrição do meio
social, contudo, acredita que o indivíduo é o resultado de influências do meio, da educação e de
fatores do momento histórico que condicionam o seu comportamento. Para os naturalistas, a
hereditariedade, a educação e o meio passam a explicar os comportamentos desviantes do indivíduo,
conferindo-se a responsabilidade desses comportamentos a factos externos como o meio e fatores
de ordem hereditária e educacional.

Tematicamente, esta escola literária debruçou-se sobre o adultério (como resultado de uma errada
educação assente em princípios românticos); o jogo; o alcoolismo (como deformação do carácter);
a criminalidade; a miséria e a doença (como por exemplo a loucura), mas sempre a partir duma
análise rigorosa do meio social e sem descurar dos aspetos patológicos.

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Os termos Realismo e Naturalismo são usados, muitas vezes, como sinónimos, isto porque, de
facto, existem muitos pontos em comum entre o romance Realista e o Naturalista. Aliás, por
vezes, é difícil classificar um autor ou uma obra, como pertencente a uma destas correntes
literárias. Por exemplo, Eça de Queirós é considerado por alguns críticos realista e, por outros,
naturalista.

No entanto, existem algumas diferenças. Por exemplo, enquanto que o Realismo descreve e
analisa o comportamento humano, o Naturalismo, fortemente influenciado pela teoria
evolucionista de Charles Darwin, observa o homem por meio do método científico, tentando
perceber as causas do seu comportamento, porque acredita que só através deste método
científico se pode chegar ao conhecimento objetivo dos factos e das situações. O Naturalismo
acredita que o comportamento humano é o resultado da confluência de fatores determinantes (a
hereditariedade, a educação e o ambiente) sobre os indivíduos e que estes condicionam as suas
ações, o seu carácter e o seu próprio destino.

Assim, é possível concluir que o Naturalismo é um prolongamento do Realismo, só que mais


intenso, pois ao aprofundar a visão científica do Realismo, torna-a ainda mais objetiva.
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