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Filosofia

da
Religião
Problema de Natureza Lógica em Filosofia da Religião

Será o conceito
teísta de Deus
consistente/
coerente?
Conceito teísta de Deus

A filosofia da Religião parte de um conceito teísta de Deus (partilhada por cristãos, judeus
e muçulmanos):

 Omnipotente – possui a capacidade de fazer tudo o que é possível.


 Omnipresente e Omnitemporal – tem a possibilidade de estar sempre em todo o
lado.
 Omnisciente – tudo sabe.
 Criador – autor do universo.
 Sumamente bom/Omnibenevolente – exemplo absoluto da retidão moral.
 Transcendente e infinito – está fora do tempo e do espaço.
 Necessário – não pode deixar de existir.
https://www.youtube.com/watch?v=gs_gY1K1AMU&list=PL8dPuuaLjXtNgK6MZucdYldNkMybYIHKR&index=13
Problema de Natureza Metafísica em Filosofia da Religião

Mas será que o Deus


descrito pelos teístas
existe de facto?
Enquadramento do problema da existência de Deus

Este problema coloca-se no âmbito da filosofia da religião e não


propriamente no da religião.

• O facto de não existirem provas concretas evidentes da existência


de Deus e o de esta entidade exercer uma forte «presença» no
espírito da humanidade tem gerado um conjunto de reflexões e
discussões sobre este problema.
• Na religião, o argumento é suportado pela fé – logo, este
problema não se coloca.
• Na filosofia da religião, tem-se procurado encontrar argumentos
dentro da racionalidade humana que tornem consistente a
admissão da existência de Deus.
Algumas posições possíveis face à existência de Deus:

• Teísmo – doutrina que aceita a existência de Deus e pretende provar, através da razão,
a sua existência.

• Ateísmo – doutrina que nega a existência de Deus.

• Agnosticismo – não afirma nem nega a existência de Deus: abstém-se de tomar


posição. Considera que não é possível determinar, através do conhecimento, a
existência de um ser sobrenatural.
Algumas posições possíveis face à existência de Deus:

«A religião é o suspiro da criatura oprimida, a alma de um mundo sem


coração. Ela é o ópio do povo. […] A crítica da religião conduz a este
ensinamento: que o Homem é o ser supremo do Homem, isto é, ao imperativo
[…] de alterar todas as relações sociais que fazem do Homem um ser
humilhado, servil, abandonado, desprezível, e […] a tarefa da filosofia é
desmascarar a auto alienação humana.»
Karl Marx e Friedrich Engels, Sobre a Religião.

Qual a posição face à existência de Deus que os autores parecem defender?


Justifique.
Algumas posições possíveis face à existência de Deus:

«O louco saltou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar: "Para
onde foi Deus?", gritou ele, "já lhes direi! Nós matámo-lo — vocês e eu. Os
seus algozes somos nós todos! Deus está morto! Deus permanece morto! E
quem o matou fomos nós! O que o mundo possuiu, até agora, de mais
sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas.
(...) O maior e mais recente acontecimento – a “morte de Deus” começa já a
lançar as primeiras sombras na Europa. (...) De facto, nós os filósofos,
espíritos livres, sabendo que o “antigo Deus está morto”, sentimo-nos
iluminados por uma nova aurora.»
F. Nietzsche, A gaia ciência.

Explique o sentido da frase sublinhada.


Algumas posições possíveis face à existência de Deus:

«Vários argumentos defendem esta posição, que têm a sua origem no


empirismo, segundo o qual o conhecimento humano deve adquirir-se
inteiramente através dos sentidos; ora como um ser sobrenatural está muito
além do alcance da experiência sensorial, não podemos afirmar nem negar a
sua existência, pois isso equivaleria a transgredir os limites do entendimento
humano. »
George H. Smith

Qual a posição face à existência de Deus que o autor defende? Justifique.


Importância do problema da existência de Deus

«Será que Deus existe? Esta é uma questão fundamental, uma


questão que a maior parte das pessoas já enfrentou num ou noutro
período da vida. A resposta dada por cada um de nós não afeta
apenas a forma como agimos, mas também a forma como
compreendemos e interpretamos o mundo e o que esperamos do
futuro.»
Nigel Warburton
Importância do problema da existência de Deus

“Se Deus não existisse, tudo seria permitido”.


Dostoievski

Concorda com a frase supra-citada? Justifique.


Importância do problema da existência de Deus

«Se Deus não existe, então tanto o Homem como o universo estão
inevitavelmente condenados à morte. O Homem tem de morrer e, sem
esperança de imortalidade, a vida apenas o conduz à sepultura. (...).
O universo enfrenta igualmente a morte. Os cientistas dizem-nos que o
universo está em expansão, que se torna cada vez mais frio e que a sua
energia se esgota, dirigindo-se irreversivelmente para o seu túmulo.
Por conseguinte, não é apenas a vida de cada pessoa individual que está
perdida; é a totalidade da raça humana que está perdida.»
William Craig, The absurdity of life without God

Qual a importância de Deus existir segundo o autor? Justifique.


Argumentos sobre a existência de Deus

 Argumentos cosmológico e teleológico - Tomás de Aquino.


 Argumento ontológico - Anselmo.
 O fideísmo de Pascal.
 Argumento do mal para a discussão da existência de Deus - Leibniz.
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino

É necessário que exista uma causa


primeira,
a causa que está na origem de
todas as causas e de todos os
efeitos posteriores.

S. Tomás de Aquino
(1225 – 1274)
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino
O argumento cosmológico, ou argumento da causa primeira, baseando-se apenas no facto
empírico de o universo existir. Trata-se, assim, de um argumento a posteriori – utiliza
proposições que dependem da experiência.

Afirma que:
Todas as coisas foram causadas (teoria da causalidade).

Nada existe sem uma causa e não é possível uma série infinita de causas, tem de haver
uma primeira causa, que seja causa de si mesma (causa incausada) que tenha dado início à
série de causas que originaram o universo tal como o conhecemos.
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino

Como não conseguimos encontrar nada no Universo que seja a causa de si mesmo, a causa
do Universo terá, necessariamente, de se encontrar fora dele, isto é, terá de ser uma
entidade não física mas apenas inteligente, neste caso, Deus.

Deste modo, segundo os defensores deste argumento, Deus é a causa original, da qual se
origina a sucessão de causas que deram origem ao universo e a tudo quanto nele existe.

Tudo tem uma causa.


Logo, o universo tem uma causa, que é Deus.
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino

“A segunda via provém da noção de causa eficiente. Encontramos, de facto, que há uma
ordem de causas eficientes nos sensíveis. No entanto, não se encontra, nem é possível que
algo seja causa eficiente de si mesmo, porque, nesse caso, seria anterior a si mesmo, o que
é impossível. Por outro lado, não é possível que se proceda até ao infinito nas causas
eficientes. Em todas as causas eficientes ordenadas, o primeiro é causa do médio e o
médio é causa do último, quer os médios sejam muitos ou um apenas: removida a causa, é
removido o efeito. Portanto, se não houvesse um primeiro nas causas eficientes, não
haveria nem o último nem o médio. Mas se se proceder até ao infinito nas causas
eficientes, não haverá uma causa primeira eficiente e, assim, não haverá nem efeitos
últimos nem causas médias eficientes, o que é manifestamente falso. Logo, é necessário
postular uma causa primeira eficiente, que todos denominam Deus.”
São Tomás de Aquino, Suma Teológica
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino
Complete os espaços em branco:
(1) Tudo o que existe tem uma ________ou razão de ser exterior a si.
(2) Se tudo o que existe tem uma causa ou razão de ser exterior a si, então ou há uma
__________ infinita de causas e efeitos, ou há uma causa primeira, que existe
necessariamente.
(3) Ou há uma regressão infinita de causas e efeitos, ou há uma causa primeira, que existe
necessariamente.
(4) Se há uma regressão infinita de causas e efeitos, então ________ existe algo de exterior à
sucessão infinita das causas e efeitos como um todo que lhe dê origem.
(5) ______ há uma regressão infinita de causas e efeitos.
(6) Há uma causa primeira, que existe necessariamente.
(7) O único Ser necessariamente existente que tem em si mesmo a razão da sua existência é
_____.
(8) Logo, Deus existe.
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino

OBJEÇÕES??
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino
Objeções:
1. Defende simultaneamente que não pode haver uma causa não causada e que há
uma causa não causada (Deus) – inconsistência.

2. Para evitar a contradição entre a principal premissa do argumento (tudo tem uma
causa) e a sua conclusão, Deus terá de estar fora do âmbito de tudo, terá de ser
sobrenatural, o que torna o argumento ininteligível.

3. Se Deus se causa a si mesmo, porque não pode o universo fazê-lo? Ou porque o


universo precisa de uma causa e Deus não?
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino
Objeções:
4. Não é uma demonstração, pois se é possível ter uma série infinita de causas e efeitos,
por que razão não pode esta prolongar-se, retrospetivamente, infinitamente?
Podemos verificar que não é verdade que seja impossível a existência de séries
infinitas de causas, uma vez que a matemática demonstra que tal é possível.

5. Mesmo que se possa resistir a estas críticas e se aceite que existe uma causa primeira,
o argumento não prova que a causa primeira seja o Deus teísta.
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino

CONTRA-OBJEÇÕES??
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino
Contra-objeções:
 Deus não deixa de ter causa; Deus é causa de si mesmo, caso contrário não seria Deus.
Deus existe fora do mundo, não estando, por isso, sujeito ao espaço e ao tempo, mas é
antes a causa do espaço e do tempo – razão por que a causa primeira não pode ser uma
entidade física.
 Embora o infinito exista enquanto ideia no nosso pensamento, isso não significa que
exista enquanto realidade.
A astrofísica e a astronomia apresentam estudos, partindo da teoria do Big Bang, que
provam que o Universo não é infinito: ele teve um início, ou seja, o Universo começou
com o Big Bang.

T.P.C. - Identifique as objeções às quais estas respostas pertencem.


Argumento Teleológico de S. Tomás de Aquino

O engenho e a finalidade patentes


em todos os seres e fenómenos
naturais provam que eles tiveram
de ser concebidos por um criador
inteligente: Deus.

S. Tomás de Aquino
(1225 – 1274)
Argumento Teleológico de S. Tomás de Aquino

 O argumento teleológico, ou argumento do desígnio, baseando-se na observação direta


do mundo. Trata-se, assim, de um argumento a posteriori.
Procede por meio de uma analogia e afirma que:
Se as máquinas são criadas por seres inteligentes e se o universo é semelhante a uma
máquina constituída por partes que conjuntamente tendem para um fim (telos), então,
também o universo foi criado por um ser inteligente e não foi obra do acaso. Logo, esse
ser inteligente é Deus.

As máquinas são produzidas por seres inteligentes com um propósito ou desígnio.


O universo assemelha-se a uma máquina.
Logo, o universo foi produzido por um ser inteligente com um desígnio, que é
Deus.
Argumento Teleológico de S. Tomás de Aquino

“A quinta via é tomada da governação das coisas. De facto, vemos que algumas coisas,
que carecem de conhecimento, como os corpos naturais, operam por causa de um fim, o
que é manifesto porque sempre ou com maior frequência operam do mesmo modo, para
atingirem aquilo que é ótimo. Donde, é patente que não é por acaso, mas por intenção,
que atingem o fim. As coisas, porém, que não possuem conhecimento, não tendem para
um fim a não ser dirigidas por algum cognoscente e inteligente, assim como a seta pelo
lançador de setas. Logo, existe algo inteligente, pelo qual todas as coisas naturais são
ordenadas para um fim: e isso, dizemos que é Deus.”
São Tomás de Aquino, Suma Teológica

Dê exemplos de coisas naturais que são ordenadas para um fim.


Outra versão do argumento Teleológico – Cícero e William Paley
(1) Os relógios têm uma estrutura complexa e as suas partes apresentam um ajuste perfeito, pelo
que é de supor que tenham um criador inteligente.
(2) Tal como os relógios, também os seres vivos e a natureza têm uma estrutura complexa e as suas
partes apresentam um ajuste perfeito.
(3) Tal como os relógios, também os seres vivos e a natureza como um todo devem ter um criador
inteligente. (De 1 e 2, por analogia)
(4) A complexidade e o perfeito ajuste das partes na natureza são infinitamente superiores aos de
um relógio.
(5) Se a complexidade e o perfeito ajuste das partes na natureza são infinitamente superiores aos de
um relógio, então o seu criador é infinitamente melhor do que qualquer artífice humano.
(6) O criador da natureza é infinitamente melhor do que qualquer artífice humano. (M. P. 4 e 5)
(7) Se o criador da natureza é infinitamente melhor do que qualquer artífice humano, então é Deus.
(8) Logo, Deus é o supremo criador de toda a natureza (e, por conseguinte, existe). (M.P. 6 e 7)
Outra versão do argumento Teleológico – Cícero e William Paley

MÁQUINAS (ex. RELÓGIO) SERES VIVOS (ex. ANIMAL)

Composto por partes (peças) Composto por partes (células)

Partes pequenas formam partes Partes pequenas formam partes


maiores maiores (órgãos)

Funções inferiores permitem funções Funções inferiores permitem funções


superiores superiores

Todas as partes e funções são Todas as partes e funções são


necessárias necessárias

Função geral (dar as horas) Função geral (sobrevivência)

Teve um criador (relojoeiro) Teve um criador (Deus)?


Argumento Teleológico de S. Tomás de Aquino

OBJEÇÕES??
CONTRA-OBJEÇÕES??
Argumento Teleológico de S. Tomás de Aquino
Objeções:
 É um argumento por analogia, logo, a sua conclusão será sempre provável.

 A analogia é fraca: só podemos afirmar que o universo possui muitas partes naturais
que se assemelham a máquinas.

 Nada mostra que o universo em si mesmo é um sistema teleológico – não sabemos


qual a sua finalidade.

 Não demonstra que o desígnio inteligente do universo seja o deus teísta.


Argumento Teleológico de S. Tomás de Aquino
Objeção: Perde força quando confrontado com a teoria darwinista.
Explicação para a organicidade: no século XIX, Darwin propôs uma explicação para a
organicidade dos seres vivos que não supõe um criador agindo intencionalmente: A teoria
da evolução das espécies.
É uma explicação alternativa para as propriedades dos seres vivos que fundamentam a
analogia. A natureza produz variações, das quais as mal sucedidas desaparecem, deixando
as bem-sucedidas com as suas qualidades de adaptação que parecem propositadas.

Contra-objeção:
A teoria evolucionista não põe em causa a tese criacionista: elas poderão coexistir.
O ser humano pode ter-se tornado mais complexo, em função da sua progressiva
«adaptação», mas o «pontapé inicial» terá sido dado por Deus, permitindo, assim, a sua
evolução, cuja finalidade última reside em Deus.
Argumento Teleológico de S. Tomás de Aquino

Objeção:
Se Deus é o criador e a finalidade absoluta do Universo, como explicar o sofrimento e
todos os dramas que assolam a existência humana?
Esta é uma das questões que mais discussão gerou nos domínios da filosofia e da teologia,
uma vez que, a religião, ao definir Deus como um ser infinitamente bom, torna este
argumento contraditório.

Contra-objeção:
Mas alguns teóricos afirmam que o mal existe com uma finalidade que só Deus conhece ou
que o entendimento humano ainda não teve capacidade de compreender.
Argumento Ontológico de S. Anselmo

Se Deus é um ser perfeito e se a


existência é uma perfeição, então
Deus existe necessariamente.

Santo Anselmo
(1033 – 1109)
Argumento Ontológico de S. Anselmo

O argumento ontológico, não se apoia em absoluto em nenhum facto contingente, mas


apenas na análise do conceito de Deus. Trata-se, assim, de um argumento a priori – utiliza
proposições que não dependem da experiência.

Defende que:
A existência de Deus se segue necessariamente da sua definição.
Deus define-se como o ser mais perfeito de todos os seres (omnisciente, omnipresente,
omnipotente, sumamente bom…).
Um ser perfeito não seria perfeito se não existisse, i. é., existência é um dos aspetos desta
perfeição.
Se existisse apenas na mente como ideia seria menos perfeito do que na realidade.
Argumento Ontológico de S. Anselmo

Se tivéssemos em nós a ideia de um ser mais que perfeito e ele não existisse na realidade,
poderíamos pensar na existência de um ser ainda mais perfeito, que teria todas as
perfeições do primeiro. (mas isso seria impossível pois iria contra a perfeição de Deus)
Logo, esse ser tem, necessariamente, de existir para que a ideia que temos de um ser mais
que perfeito, «do qual nada maior possa ser pensado», seja verdadeira.
Logo, Deus existe.

Um ser sumamente perfeito tem todas as perfeições, incluindo a existência.


Deus é um ser perfeito.
Logo, Deus existe.
Argumento Ontológico de S. Anselmo

“Se na verdade, existe pelo menos no intelecto, pode pensar-se que exista também na
realidade, o que é ser maior.
Mas, sem dúvida, ‘aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado’ não pode existir
unicamente no intelecto. Existe, pois, sem a menor dúvida, ‘alguma coisa maior do que a
qual nada possa ser pensado’, tanto no intelecto como na realidade.”

Santo Anselmo (1077-78). Proslogion


Argumento Ontológico de S. Anselmo
Identifique as formas de inferência:
(1) Deus existe no pensamento.
(2) Se Deus existe no pensamento, então ou Deus existe apenas no pensamento e não na
realidade, ou, para além de existir no pensamento, também existe na realidade.
(3) Ou Deus existe apenas no pensamento e não na realidade, ou, para além de existir no
pensamento também existe na realidade. (________, de 1 e 2)
(4) Deus existe apenas no pensamento e não na realidade. (Suposição da redução
___________)
(5) Se Deus existisse apenas no pensamento e não na realidade, então poderíamos conceber
um ser maior do que Deus que, além de existir no pensamento, também existisse na
realidade.
(6) Mas Deus é, por definição, o ser maior do que o qual nada pode ser pensado, portanto, não
podemos conceber um ser maior do que Ele.
(7) Logo, é falso que Deus existe apenas no pensamento e não na realidade. (_____, de 5 e 6)
Argumento Ontológico de S. Anselmo

OBJEÇÕES??
Argumento Ontológico de S. Anselmo
Objeções:
 Poderíamos justificar a existência de qualquer coisa, mesmo que seja absurda, com
base na sua definição. Se a existência fosse uma característica da perfeição, tudo o
que se imagina como perfeito, existiria. (monge Gaunilo de Marmoutier).
 A existência não é uma propriedade, é apenas uma condição de possibilidade
(condição prévia) para que algo, neste caso Deus, tenha uma qualquer propriedade -
omnisciência, omnipotência... Logo, a existência não pode inferida da perfeição. Pelo
contrário, a perfeição implica a existência.
A existência não faz parte da essência; o argumento passa ilegitimamente da ordem
lógica para a ordem ontológica (kant).

Considerando o seguinte dicionário: p = existe; q = é perfeito, formule uma proposição


condicional…
1. a favor do argumento.
2. a favor da 2ª objeção.
Argumento Ontológico de S. Anselmo

CONTRA-OBJEÇÕES??
Problema de Natureza Epistemológica em Filosofia da Religião

Será racional
acreditar em Deus
teísta sem provas/
argumentos a
favor da sua
existência?
O Fideísmo de Pascal

Sem provas da existência de Deus,


o mais razoável é acreditar em
Deus.

Blaise Pascal
(1623 – 1662)
O Fideísmo de Pascal

Fé - Firme convicção de que alguma coisa é verdadeira, sem que para tal seja necessário
prova ou critério objetivo de verificação, bastando a adesão emocional do sujeito a uma
ideia ou fonte de transmissão.
Razão - Faculdade humana que organiza, pensa e dá inteligibilidade ao real.

Fideísmo: Provém do termo latino fides (fé). Defendem que a existência de Deus não se
pode provar através da razão, mas tal não é justificação para deixar de ter fé que Deus
existe. A fé é condição suficiente para acreditar que Deus existe.
Ademais, é inadequado exigir provas e argumentos a favor da existência de Deus porque,
ao fazê-lo estamos a eliminar a fé. A fé é incompatível com a razão. A fé é uma crença num
Deus quando não há boas razões para acreditar na sua existência. Se soubéssemos da sua
existência, a fé seria dispensável.
O Fideísmo de Pascal

A APOSTA DE PASCAL

Aceitemos que não conseguimos provar que Deus existe, nem que não existe. Os vários
argumentos a favor da existência de Deus não são bons, mas também não temos
argumentos bons a favor da inexistência de Deus.

Aceitando um empate quanto à existência de Deus, o que será melhor fazer? Acreditar ou
não acreditar?
O Fideísmo de Pascal

A APOSTA DE PASCAL

DEUS EXISTE DEUS NÃO EXISTE

SOMOS CRENTES
Tudo a ganhar (infinito) Nada a perder

NÃO SOMOS CRENTES


Tudo a perder Nada a ganhar

Construa 4 proposições condicionais com base na leitura da grelha acima.


Concorda que se deva/possa ter fé em Deus por ser uma boa aposta? Justifique.
O Fideísmo de Pascal

Objeção:

Será que se Deus existir e não formos crentes, temos tudo a perder?

Se Deus castigasse os descrentes honestos, não seria sumamente bom.


Por isso, não irá castigar quem não acreditar Nele, desde que sejam boas pessoas.
Logo, é falso que tenhamos tudo a perder se não acreditarmos em Deus.

Construa outras objeções.


O Fideísmo de Pascal

Construa outras objeções:

Será que a existência de Deus, pressupõe que ganhemos tudo (infinito)?


Será que Deus não castigará os crentes que baseiam a sua crença Nele num cálculo?
Será que a fé em Deus depende do livre-arbítrio?
Será possível
compatibilizar a
existência de Deus
com a existência do
mal?
Clarificação do problema do Mal

Uma das objeções clássicas à ideia de que Deus teísta existe é o chamado “Problema do
Mal”. O problema é o seguinte: como conciliar a existência de um criador perfeito – Deus –
com a existência de mal no mundo?

Ou seja: pode conduzir a consequências absurdas

É um problema lógico: como conciliar as seguintes proposições?


1. Deus omnisciente, omnipotente e sumamente bondoso, existe.
2. O mal existe.
PROBLEMA DO MAL Teodiceias O mal justifica-se pelo seguinte:
• a apreciação do bem;
• o castigo de conduta;
• a busca da santidade;
• a analogia artística;
• o livre-arbítrio.

Objeção geral: o elevado


grau do sofrimento e do
Mal moral mal moral.

Como é que um Deus perfeito


pode permitir a existência do mal?

Mal natural
Não é possível
compatibilizar.
Argumento da Natureza do Mal
Se Deus existisse, não existiria o mal.
Mas o mal existe.
Logo, Deus não existe.

Justificação da 1ª premissa:
Se Deus é sumamente bom, não quer o mal.
Se Deus é omnisciente, sabe que o mal existe.
Se Deus é omnipotente, pode evitar o mal.
Logo, se Deus existisse, não existiria mal no mundo.
Argumento da Natureza do Mal

Se Deus existisse, não existiria o mal.


Mas o mal existe.
Logo, Deus não existe.

Justificação da 2ª premissa: É indesmentível que existe muito mal no mundo:


– Mal natural – catástrofes naturais como terramotos, tempestades, secas e cheias;
doenças e epidemias.
– Mal moral – o mal provocado pelos seres humanos no exercício do seu livre-arbítrio (não
enquanto meros animais): crimes, guerras, injustiça, crueldade e violência, etc.

Dado que o argumento é válido e as premissas são verdadeiras, temos que aceitar a
conclusão: Deus não existe.
Argumento da Natureza do Mal

(1) Se Deus existe, é omnipotente, omnisciente e sumamente bom.


(2) Se Deus é omnipotente, pode acabar com o mal no mundo.
(3) Se Deus é omnisciente, sabe que existe mal no mundo.
(4) Se Deus é sumamente bom, então quer acabar com o mal no mundo.
(5) Se existe mal no mundo, então ou Deus não pode acabar com o mal no mundo, ou Deus
não sabe que existe mal no mundo, ou Deus não quer acabar com o mal no mundo.
(6) Existe mal no mundo.
(7) Logo, Deus não existe.
Argumento da Natureza do Mal
Objeções à 1ª premissa do argumento do mal - defensoras do livre-arbítrio:
Em relação ao mal moral:
Omnisciência – Deus sabe tudo o que é logicamente possível saber. Não poderá saber o
que uma pessoa, com livre arbítrio, fará amanhã.
Omnipotência – Deus pode fazer tudo o que é logicamente possível fazer. Não poderá criar
pessoas com livre-arbítrio que nunca façam o mal. Se Deus criar pessoas com livre-arbítrio,
mas impossibilitá-las de praticar o mal, está a retirar-lhe o livre-arbítrio.

Sem o livre-arbítrio, a moralidade, o bem perderia significado. Deus quis criar seres
moralmente significativos e não seres programados, sendo o mal moral uma consequência
do livre-arbítrio.

Formule contra-objeções.
Argumento da Natureza do Mal

Formule contra-objeções:

• O grau de sofrimento pode ser insuportável, de maneira que seja preferível ter um
mundo sem sofrimento em que as pessoas, sem livre arbítrio, fossem programadas para
praticar o bem.
• Ou que fosse criado um mundo em que as pessoas não soubessem que não tinham
livre-arbítrio, mas acreditassem que o tinham.
• Se Deus é omnipotente, então conseguiria criar um mundo em que houvesse livre
arbítrio e não existisse mal.
• O livre-arbítrio dá-nos a possibilidade de fazermos o mal, mas isso não quer dizer que a
tenhamos de tornar real. É logicamente possível que todos tivessem tido livre-arbítrio e
com ele decidido que quer sempre evitar as más ações.
Argumento da Natureza do Mal

Objeções à 1ª premissa do argumento do mal que defendem o livre-arbítrio:


Em relação ao mal natural:
Um mundo com mal natural permite a existência de bens que de outro modo não
poderiam existir. As pessoas não precisavam de ter coragem para enfrentar a morte ou
doenças, não existia heroísmo no salvamento de inocentes vitimas de catástrofes
naturais…
Por isso, Deus ao permitir o mal natural exista, está a promover o nosso aperfeiçoamento
moral - o que de melhor existe na nossa natureza.
Logo, não há incompatibilidade entre Deus e o mal natural.

Formule contra-objeções.
Argumento da Natureza do Mal

Formule contra-objeções:

O grau de sofrimento é desproporcional e injustificadamente maior do que o necessário


para promover atos de heroísmo e de santidade.
Seria obviamente preferível um mundo com menos heróis e santos, mas com menos
sofrimento.
Se Deus permitisse tal coisa, não seria sumamente bom.
Logo, Deus não existe.
É possível
compatibilizar.
Argumento da Natureza do Mal de Leibniz

Deus criou o melhor dos mundos


possíveis - não podia criar um
mundo maximamente perfeito,
sem criar ao mesmo tempo coisas
que, aos nossos olhos, nos
parecem males gratuitos, apesar
de não o serem.

Wilhelm Leibniz
(1646 – 1716)
Argumento da Natureza do Mal de Leibniz
Por um lado, os teístas consideram que a existência de Deus está muito bem provada, por
outro lado, os agnósticos consideram que a existência de males gratuitos são prova de que
Deus não existe.
Neste contraste, Leibniz tenta construir uma teodiceia, em que defende a compatibilidade
da existência de Deus e da existência do mal.
• Leibniz pensa que o Universo que Deus criou é o melhor que poderia ser criado
precisamente porque Deus é perfeito: é omnipotente, e por isso pôde criar o melhor
Universo; é omnisciente, e por isso sabia como criá-lo; e é sumamente bom, e por isso
queria criar o melhor Universo.
• Leibniz considera que os males que nos parecem gratuitos não o são de facto. São
características indissociáveis de bens que Deus promove. Deus não pode criar um
universo maximamente perfeito sem criar ao mesmo tempo coisas que, aos nossos
olhos, nos parecem males gratuitos, apesar de não o serem de facto. Desta teoria pode-
se inferir que males particulares concorrem para um bem universal, inacessível ao
Homem.
Argumento da Natureza do Mal de Leibniz
Analogias utilizadas por Leibniz para explicar a compatibilidade:

• 1ª - Assim como não há maneira matematicamente perfeita de criar um quadrado, sem a


criar simultaneamente a imperfeição da hipotenusa (a diagonal não tem qualquer nº
perfeito), também Deus ao criar o universo, criou males gratuitos (imperfeição).
Logo, o mal imperfeito é condição da existência de um universo perfeito. Só Deus é
perfeito.
Argumento da Natureza do Mal de Leibniz
Analogias utilizadas por Leibniz para explicar a compatibilidade:

• 2ª - Assim como um ser humano quando está perante uma pintura maravilhosa, mas que
mede tantos quilómetros que os seres humanos só são capazes de ver as partes que têm
sombras e outros aspetos que não parecem belos — mas que fazem parte de uma
totalidade de beleza superlativa, também os seres humanos por só verem uma parte
insignificante da realidade, ficam com a ilusão de estar a ver males gratuitos, quando, na
verdade, são componentes fundamentais de bens mais grandiosos que Deus criou.
Logo, temos de acreditar que Deus não teria permitido o pecado nem teria criado coisas
que sabe que irão pecar, se não tivesse obtido delas um bem incomparavelmente maior
que o mal que daí resulta = Não existem males gratuitos.
Argumento da Natureza do Mal de Leibniz

Objeção à posição e Leibniz: Quais são esses bens maiores?

Resposta de Leibniz: Somos demasiado limitados para saber em pormenor quais são os
bens que superam e tornam necessários os males evidentes.

Objeção à resposta de Leibniz: Se somos limitados para saber isso, também somos
limitados para saber se Deus existe ou não.

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