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da
Religião
Problema de Natureza Lógica em Filosofia da Religião
Será o conceito
teísta de Deus
consistente/
coerente?
Conceito teísta de Deus
A filosofia da Religião parte de um conceito teísta de Deus (partilhada por cristãos, judeus
e muçulmanos):
• Teísmo – doutrina que aceita a existência de Deus e pretende provar, através da razão,
a sua existência.
«O louco saltou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar: "Para
onde foi Deus?", gritou ele, "já lhes direi! Nós matámo-lo — vocês e eu. Os
seus algozes somos nós todos! Deus está morto! Deus permanece morto! E
quem o matou fomos nós! O que o mundo possuiu, até agora, de mais
sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas.
(...) O maior e mais recente acontecimento – a “morte de Deus” começa já a
lançar as primeiras sombras na Europa. (...) De facto, nós os filósofos,
espíritos livres, sabendo que o “antigo Deus está morto”, sentimo-nos
iluminados por uma nova aurora.»
F. Nietzsche, A gaia ciência.
«Se Deus não existe, então tanto o Homem como o universo estão
inevitavelmente condenados à morte. O Homem tem de morrer e, sem
esperança de imortalidade, a vida apenas o conduz à sepultura. (...).
O universo enfrenta igualmente a morte. Os cientistas dizem-nos que o
universo está em expansão, que se torna cada vez mais frio e que a sua
energia se esgota, dirigindo-se irreversivelmente para o seu túmulo.
Por conseguinte, não é apenas a vida de cada pessoa individual que está
perdida; é a totalidade da raça humana que está perdida.»
William Craig, The absurdity of life without God
S. Tomás de Aquino
(1225 – 1274)
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino
O argumento cosmológico, ou argumento da causa primeira, baseando-se apenas no facto
empírico de o universo existir. Trata-se, assim, de um argumento a posteriori – utiliza
proposições que dependem da experiência.
Afirma que:
Todas as coisas foram causadas (teoria da causalidade).
Nada existe sem uma causa e não é possível uma série infinita de causas, tem de haver
uma primeira causa, que seja causa de si mesma (causa incausada) que tenha dado início à
série de causas que originaram o universo tal como o conhecemos.
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino
Como não conseguimos encontrar nada no Universo que seja a causa de si mesmo, a causa
do Universo terá, necessariamente, de se encontrar fora dele, isto é, terá de ser uma
entidade não física mas apenas inteligente, neste caso, Deus.
Deste modo, segundo os defensores deste argumento, Deus é a causa original, da qual se
origina a sucessão de causas que deram origem ao universo e a tudo quanto nele existe.
“A segunda via provém da noção de causa eficiente. Encontramos, de facto, que há uma
ordem de causas eficientes nos sensíveis. No entanto, não se encontra, nem é possível que
algo seja causa eficiente de si mesmo, porque, nesse caso, seria anterior a si mesmo, o que
é impossível. Por outro lado, não é possível que se proceda até ao infinito nas causas
eficientes. Em todas as causas eficientes ordenadas, o primeiro é causa do médio e o
médio é causa do último, quer os médios sejam muitos ou um apenas: removida a causa, é
removido o efeito. Portanto, se não houvesse um primeiro nas causas eficientes, não
haveria nem o último nem o médio. Mas se se proceder até ao infinito nas causas
eficientes, não haverá uma causa primeira eficiente e, assim, não haverá nem efeitos
últimos nem causas médias eficientes, o que é manifestamente falso. Logo, é necessário
postular uma causa primeira eficiente, que todos denominam Deus.”
São Tomás de Aquino, Suma Teológica
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino
Complete os espaços em branco:
(1) Tudo o que existe tem uma ________ou razão de ser exterior a si.
(2) Se tudo o que existe tem uma causa ou razão de ser exterior a si, então ou há uma
__________ infinita de causas e efeitos, ou há uma causa primeira, que existe
necessariamente.
(3) Ou há uma regressão infinita de causas e efeitos, ou há uma causa primeira, que existe
necessariamente.
(4) Se há uma regressão infinita de causas e efeitos, então ________ existe algo de exterior à
sucessão infinita das causas e efeitos como um todo que lhe dê origem.
(5) ______ há uma regressão infinita de causas e efeitos.
(6) Há uma causa primeira, que existe necessariamente.
(7) O único Ser necessariamente existente que tem em si mesmo a razão da sua existência é
_____.
(8) Logo, Deus existe.
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino
OBJEÇÕES??
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino
Objeções:
1. Defende simultaneamente que não pode haver uma causa não causada e que há
uma causa não causada (Deus) – inconsistência.
2. Para evitar a contradição entre a principal premissa do argumento (tudo tem uma
causa) e a sua conclusão, Deus terá de estar fora do âmbito de tudo, terá de ser
sobrenatural, o que torna o argumento ininteligível.
5. Mesmo que se possa resistir a estas críticas e se aceite que existe uma causa primeira,
o argumento não prova que a causa primeira seja o Deus teísta.
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino
CONTRA-OBJEÇÕES??
Argumento Cosmológico de S. Tomás de Aquino
Contra-objeções:
Deus não deixa de ter causa; Deus é causa de si mesmo, caso contrário não seria Deus.
Deus existe fora do mundo, não estando, por isso, sujeito ao espaço e ao tempo, mas é
antes a causa do espaço e do tempo – razão por que a causa primeira não pode ser uma
entidade física.
Embora o infinito exista enquanto ideia no nosso pensamento, isso não significa que
exista enquanto realidade.
A astrofísica e a astronomia apresentam estudos, partindo da teoria do Big Bang, que
provam que o Universo não é infinito: ele teve um início, ou seja, o Universo começou
com o Big Bang.
S. Tomás de Aquino
(1225 – 1274)
Argumento Teleológico de S. Tomás de Aquino
“A quinta via é tomada da governação das coisas. De facto, vemos que algumas coisas,
que carecem de conhecimento, como os corpos naturais, operam por causa de um fim, o
que é manifesto porque sempre ou com maior frequência operam do mesmo modo, para
atingirem aquilo que é ótimo. Donde, é patente que não é por acaso, mas por intenção,
que atingem o fim. As coisas, porém, que não possuem conhecimento, não tendem para
um fim a não ser dirigidas por algum cognoscente e inteligente, assim como a seta pelo
lançador de setas. Logo, existe algo inteligente, pelo qual todas as coisas naturais são
ordenadas para um fim: e isso, dizemos que é Deus.”
São Tomás de Aquino, Suma Teológica
OBJEÇÕES??
CONTRA-OBJEÇÕES??
Argumento Teleológico de S. Tomás de Aquino
Objeções:
É um argumento por analogia, logo, a sua conclusão será sempre provável.
A analogia é fraca: só podemos afirmar que o universo possui muitas partes naturais
que se assemelham a máquinas.
Contra-objeção:
A teoria evolucionista não põe em causa a tese criacionista: elas poderão coexistir.
O ser humano pode ter-se tornado mais complexo, em função da sua progressiva
«adaptação», mas o «pontapé inicial» terá sido dado por Deus, permitindo, assim, a sua
evolução, cuja finalidade última reside em Deus.
Argumento Teleológico de S. Tomás de Aquino
Objeção:
Se Deus é o criador e a finalidade absoluta do Universo, como explicar o sofrimento e
todos os dramas que assolam a existência humana?
Esta é uma das questões que mais discussão gerou nos domínios da filosofia e da teologia,
uma vez que, a religião, ao definir Deus como um ser infinitamente bom, torna este
argumento contraditório.
Contra-objeção:
Mas alguns teóricos afirmam que o mal existe com uma finalidade que só Deus conhece ou
que o entendimento humano ainda não teve capacidade de compreender.
Argumento Ontológico de S. Anselmo
Santo Anselmo
(1033 – 1109)
Argumento Ontológico de S. Anselmo
Defende que:
A existência de Deus se segue necessariamente da sua definição.
Deus define-se como o ser mais perfeito de todos os seres (omnisciente, omnipresente,
omnipotente, sumamente bom…).
Um ser perfeito não seria perfeito se não existisse, i. é., existência é um dos aspetos desta
perfeição.
Se existisse apenas na mente como ideia seria menos perfeito do que na realidade.
Argumento Ontológico de S. Anselmo
Se tivéssemos em nós a ideia de um ser mais que perfeito e ele não existisse na realidade,
poderíamos pensar na existência de um ser ainda mais perfeito, que teria todas as
perfeições do primeiro. (mas isso seria impossível pois iria contra a perfeição de Deus)
Logo, esse ser tem, necessariamente, de existir para que a ideia que temos de um ser mais
que perfeito, «do qual nada maior possa ser pensado», seja verdadeira.
Logo, Deus existe.
“Se na verdade, existe pelo menos no intelecto, pode pensar-se que exista também na
realidade, o que é ser maior.
Mas, sem dúvida, ‘aquilo maior do que o qual nada pode ser pensado’ não pode existir
unicamente no intelecto. Existe, pois, sem a menor dúvida, ‘alguma coisa maior do que a
qual nada possa ser pensado’, tanto no intelecto como na realidade.”
OBJEÇÕES??
Argumento Ontológico de S. Anselmo
Objeções:
Poderíamos justificar a existência de qualquer coisa, mesmo que seja absurda, com
base na sua definição. Se a existência fosse uma característica da perfeição, tudo o
que se imagina como perfeito, existiria. (monge Gaunilo de Marmoutier).
A existência não é uma propriedade, é apenas uma condição de possibilidade
(condição prévia) para que algo, neste caso Deus, tenha uma qualquer propriedade -
omnisciência, omnipotência... Logo, a existência não pode inferida da perfeição. Pelo
contrário, a perfeição implica a existência.
A existência não faz parte da essência; o argumento passa ilegitimamente da ordem
lógica para a ordem ontológica (kant).
CONTRA-OBJEÇÕES??
Problema de Natureza Epistemológica em Filosofia da Religião
Será racional
acreditar em Deus
teísta sem provas/
argumentos a
favor da sua
existência?
O Fideísmo de Pascal
Blaise Pascal
(1623 – 1662)
O Fideísmo de Pascal
Fé - Firme convicção de que alguma coisa é verdadeira, sem que para tal seja necessário
prova ou critério objetivo de verificação, bastando a adesão emocional do sujeito a uma
ideia ou fonte de transmissão.
Razão - Faculdade humana que organiza, pensa e dá inteligibilidade ao real.
Fideísmo: Provém do termo latino fides (fé). Defendem que a existência de Deus não se
pode provar através da razão, mas tal não é justificação para deixar de ter fé que Deus
existe. A fé é condição suficiente para acreditar que Deus existe.
Ademais, é inadequado exigir provas e argumentos a favor da existência de Deus porque,
ao fazê-lo estamos a eliminar a fé. A fé é incompatível com a razão. A fé é uma crença num
Deus quando não há boas razões para acreditar na sua existência. Se soubéssemos da sua
existência, a fé seria dispensável.
O Fideísmo de Pascal
A APOSTA DE PASCAL
Aceitemos que não conseguimos provar que Deus existe, nem que não existe. Os vários
argumentos a favor da existência de Deus não são bons, mas também não temos
argumentos bons a favor da inexistência de Deus.
Aceitando um empate quanto à existência de Deus, o que será melhor fazer? Acreditar ou
não acreditar?
O Fideísmo de Pascal
A APOSTA DE PASCAL
SOMOS CRENTES
Tudo a ganhar (infinito) Nada a perder
Objeção:
Será que se Deus existir e não formos crentes, temos tudo a perder?
Uma das objeções clássicas à ideia de que Deus teísta existe é o chamado “Problema do
Mal”. O problema é o seguinte: como conciliar a existência de um criador perfeito – Deus –
com a existência de mal no mundo?
Mal natural
Não é possível
compatibilizar.
Argumento da Natureza do Mal
Se Deus existisse, não existiria o mal.
Mas o mal existe.
Logo, Deus não existe.
Justificação da 1ª premissa:
Se Deus é sumamente bom, não quer o mal.
Se Deus é omnisciente, sabe que o mal existe.
Se Deus é omnipotente, pode evitar o mal.
Logo, se Deus existisse, não existiria mal no mundo.
Argumento da Natureza do Mal
Dado que o argumento é válido e as premissas são verdadeiras, temos que aceitar a
conclusão: Deus não existe.
Argumento da Natureza do Mal
Sem o livre-arbítrio, a moralidade, o bem perderia significado. Deus quis criar seres
moralmente significativos e não seres programados, sendo o mal moral uma consequência
do livre-arbítrio.
Formule contra-objeções.
Argumento da Natureza do Mal
Formule contra-objeções:
• O grau de sofrimento pode ser insuportável, de maneira que seja preferível ter um
mundo sem sofrimento em que as pessoas, sem livre arbítrio, fossem programadas para
praticar o bem.
• Ou que fosse criado um mundo em que as pessoas não soubessem que não tinham
livre-arbítrio, mas acreditassem que o tinham.
• Se Deus é omnipotente, então conseguiria criar um mundo em que houvesse livre
arbítrio e não existisse mal.
• O livre-arbítrio dá-nos a possibilidade de fazermos o mal, mas isso não quer dizer que a
tenhamos de tornar real. É logicamente possível que todos tivessem tido livre-arbítrio e
com ele decidido que quer sempre evitar as más ações.
Argumento da Natureza do Mal
Formule contra-objeções.
Argumento da Natureza do Mal
Formule contra-objeções:
Wilhelm Leibniz
(1646 – 1716)
Argumento da Natureza do Mal de Leibniz
Por um lado, os teístas consideram que a existência de Deus está muito bem provada, por
outro lado, os agnósticos consideram que a existência de males gratuitos são prova de que
Deus não existe.
Neste contraste, Leibniz tenta construir uma teodiceia, em que defende a compatibilidade
da existência de Deus e da existência do mal.
• Leibniz pensa que o Universo que Deus criou é o melhor que poderia ser criado
precisamente porque Deus é perfeito: é omnipotente, e por isso pôde criar o melhor
Universo; é omnisciente, e por isso sabia como criá-lo; e é sumamente bom, e por isso
queria criar o melhor Universo.
• Leibniz considera que os males que nos parecem gratuitos não o são de facto. São
características indissociáveis de bens que Deus promove. Deus não pode criar um
universo maximamente perfeito sem criar ao mesmo tempo coisas que, aos nossos
olhos, nos parecem males gratuitos, apesar de não o serem de facto. Desta teoria pode-
se inferir que males particulares concorrem para um bem universal, inacessível ao
Homem.
Argumento da Natureza do Mal de Leibniz
Analogias utilizadas por Leibniz para explicar a compatibilidade:
• 2ª - Assim como um ser humano quando está perante uma pintura maravilhosa, mas que
mede tantos quilómetros que os seres humanos só são capazes de ver as partes que têm
sombras e outros aspetos que não parecem belos — mas que fazem parte de uma
totalidade de beleza superlativa, também os seres humanos por só verem uma parte
insignificante da realidade, ficam com a ilusão de estar a ver males gratuitos, quando, na
verdade, são componentes fundamentais de bens mais grandiosos que Deus criou.
Logo, temos de acreditar que Deus não teria permitido o pecado nem teria criado coisas
que sabe que irão pecar, se não tivesse obtido delas um bem incomparavelmente maior
que o mal que daí resulta = Não existem males gratuitos.
Argumento da Natureza do Mal de Leibniz
Resposta de Leibniz: Somos demasiado limitados para saber em pormenor quais são os
bens que superam e tornam necessários os males evidentes.
Objeção à resposta de Leibniz: Se somos limitados para saber isso, também somos
limitados para saber se Deus existe ou não.