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11º Ano

2.º Semestre Professora: Mariluz Gomes Barata

Data: 02. 05. 2022


- A dimensão religiosa — análise e compreensão da experiência religiosa.
- Filosofia da religião. Religião, razão e fé.
- O problema da existência de Deus.
- O conceito teísta de Deus.
-Argumentos sobre a existência de Deus: cosmológico e teleológico (Tomás de Aquino);
argumento ontológico (Anselmo).
-O fideísmo de Pascal.
- O argumento do mal para a discussão da existência de Deus (Leibniz).
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CAPÍTULO 10 – Lições nº 37, 38, 39, 40, 41

Religião, razão e fé.

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Filosofia da Religião.

Exame crítico dos conceitos e das crenças religiosas


fundamentais

Será que há boas razões para acreditar na existência de Deus?

Será a razão compatível com a fé? Ou serão incompatíveis?

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Religião, razão e fé.

Filosofia da Finitude
Religião Transcendência
religião humana

Examinação Etimologia Etimologia latina Consciência do


crítica para a latina relegere, transcendere limite temporal da
justificação das reler, religare, “passar para lá”, sua existência
crenças unir… “ultrapassar”, humana – a
“superior”… morte.
religiosas.
Traduz a união Consciência do
Problemas: dos seres Oposto a caráter finito da
Deus existe? humanos à imanência existência
O que é a fé transcendência humana.
religiosa? …
4
Religião, razão e fé.

Sagrado Profano
Realidade
Transcendência
comum
Vida religiosa
Vida secular

Hierofanias
Etimologia grega hierofani,
revelação de algo de sagrado.

São hierofanias todos os seres, objetos, ações, templos e/ou


lugares que, no contexto de uma determinada religião, adquirem
o valor de sagrado, sacralidade.

As hierofanias são parte do mistério: manifestação de algo de


ordem diferente em objetos, seres do mundo profano.

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Deus existe? Justifique.

https://www.youtube.com/watch?v=Rzca6cLIzfQ

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Religião, razão e fé.
Deus existe?

Teísmo Ateísmo Agnosticismo

Afirma a Nega a existência Considera Deus


existência de Deus de Deus, deuses e incognoscível.
como realidade de qualquer
suprema e realidade de Negação da
absoluta. natureza divina possibilidade de
(conceito judaíco- saber se Deus
Deus criador do cristão de Deus). existe e de
universo e de tudo conhecer a sua
o que existe. A crença em Deus essência.
é um atentado à
Deus fundamento liberdade humana.
da moral
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Religião, razão e fé.
Deus existe?

Deísmo Panteísmo

Afirmação da Afirmação da
existência de identidade entre
Deus, à margem Deus e o mundo:
da revelação e da Deus é tudo e tudo
Providência é Deus
(Não intervém Não é distinto do
nem se importa mens.
com a criação).

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Religião, razão e fé.

O problema da
existência de Deus Deus existe?

O conceito teísta Omnipotente, omnisciente, sumamente


de Deus bom, criador, transcendente e pessoal

Vídeo – Desidério Murcho

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Religião, razão e fé.

Omnipotente

Transcen-
Omnisciente
dente

Deus
Teísta

Sumamente
Pessoal
Bom

Criador

Página 181

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12
Mapa conceptual.

Argumento
da fé

A aposta de
Pascal

Página 178

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Mapa conceptual.
Não é uma questão de provas Há provas

Desígnio, cosmológica e
Deus existe Fideísmo, aposta de Pascal
ontológica

Deus não existe De quem é o ónus da prova? O problema do mal

Provas da existência de Deus

Argumento do desígnio
Argumentos a posteriori
Argumento cosmológico

Argumentos a priori Argumento ontológico

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Fideísmo: fé sem provas.
Problema: Será razoável ter fé na existência de Deus na ausência de provas?

Autor de referência

Kierkegaard (1813-1855)
Filósofo dinamarquês

Especificação Justificação
Fideísmo (lat. Fides) Só a fé nos pode pôr em contacto com
Deus.
Argumento da fé. A vida religiosa funda-se na fé.
A fé é incompatível com a razão.

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Fideísmo: fé sem provas.
Especificação Formulação
Fideísmo Fideísmo:
A fé religiosa é uma crença numa divindade quando não há boas razões
Argumento para acreditar na sua existência.
da fé Quando há boas razões para acreditar na sua existência, não é preciso ter
fé, nem é possível tê-la.
Logo, é epistemicamente legítimo acreditar que Deus existe, mesmo que
não se tenha provas.

Críticas
Objeções:
Será é legítimo crer sem provas? Para os críticos, o argumento fideísta é circular:
É correto crer sem provas porque essa é a natureza da fé.
Analogia: É correto enganar os outros porque essa é a natureza da mentira.

Se não é correto enganar os outros, não é correto mentir.


Se não é correto crer sem provas, não é correto ter fé (crer).
- Se o sentimento interior é o nosso único guia, então todas as religiões estariam corretas
daquilo que acreditam. Mas, as religiões sustentam crenças contraditórias entre si?
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Aposta de Pascal
Problema: Será razoável ter fé na existência de Deus na ausência de provas?

Autor de referência

Blaise Pascal (1623-1662)


Filósofo francês
(Matemático, Físico)

Especificação Justificação
A aposta de Pascal Aceitemos que não conseguimos provar
que Deus existe, nem que não existe.
O que será melhor fazer?
Acreditar ou não?

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Aposta de Pascal
Especificação Justificação
A aposta de Explicar a Aposta de Pascal:
Pascal Se eu acreditar, nada perco de especial caso Deus não exista, mas ganho o
(Diz-nos o que é infinito se ele existir;
preferível)
Se eu não acreditar, perco o infinito se Deus existir, mas nada ganho de
especial caso ele não exista.
Logo, mais vale acreditar.

Deus existe Deus não existe

Somos crentes Tudo a ganhar. Nada a perder.

Não somos crentes Tudo a perder. Nada a ganhar.

https://www.youtube.com/watch?v=S93jMOqF-oE&t=2s

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Aposta de Pascal
Objeções / Críticas
O argumento pressupõe que se Deus existir e não formos crentes, temos tudo a
perder. Como sabe Pascal que isto é verdadeiro? Como consegue saber que Deus oferece
o infinito a quem acredita sem provas, em vez de castigar? Como sabe Pascal que o
infinito é desejável?

- Se Deus castigasse os descrentes bondosos, não seria sumamente bom. Logo, é falso que
tenhamos tudo a perder se não acreditarmos em Deus.

-Afinal, Deus é bondoso ou vingativo? Deus pode perdoar todos. Deus pode decidir em
função do comportamento e não da crença no culto.
- Acreditar em função da contabilização de lucros e prejuízos parece imoral e
hipócrita.

-A aposta de Pascal não dá boas razões para seguir uma fé teísta em vez de outras.

-Segundo os críticos, Pascal rejeita a suspensão da crença como terceira alternativa


viável e não justifica esta rejeição.

-Não podemos decidir ou obrigar-nos a acreditar.

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A prova do desígnio / Argumento teleológico
Problema: Será que Deus existe? Há provas…

Autor de referência
Cícero (106 a. C – 43 a. C)
Escritor, político, advogado, filósofo,
orador romano.
Tomás de Aquino (1225-1274)
Doutor Igreja Católica
William Paley (1743 – 1805)
Cícero Tomás de Aquino William Paley

Especificação Justificação
Tudo no universo está cuidadosamente
Argumento do desígnio / Teleológico organizado, cada parte numa totalidade
(gr. Telos) complexa.
Argumento a posteriori Deus existe porque de outro modo não
poderíamos justificar esta ordem.

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A prova do desígnio / Argumento teleológico
Formulação
Versão da semelhança:
Se o universo com as suas diversas partes interligadas, é semelhante a um artefacto.
Se encontrássemos um artefacto qualquer na Lua, por exemplo, concluiríamos que alguém o concebeu
e criou.
Logo, o mesmo devemos concluir com respeito ao universo: alguém o concebeu e criou.

Versão da ordem:
Se Deus não existisse, seria o acaso a origem de toda a ordem que encontramos no universo;
o acaso não pode ser a origem dessa ordem;
Logo, Deus existe.

Versão de William Paley – analogia do relojoeiro:


1) Um relógio é um sistema complexo onde cada peça desempenha uma função específica.
2) Um relógio tem um criador inteligente que moldou as várias peças de acordo com um plano.
3) No universo há imensos corpos que funcionam de forma análoga à do relógio, onde cada peça
desempenha uma função específica (por exemplo, o ser humano).
4) Logo, terá existido necessariamente um criador inteligente a dar origem aos vários corpos do
universo de acordo com um plano: Deus.

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A prova do desígnio / Argumento teleológico: Objeções
Objeções/ Críticas
Objeção à versão da semelhança:
- David Hume, um dos críticos deste argumento (versão de Paley), afirma que o argumento se baseia
numa fraca analogia. Há diferenças importantes entre artefactos (relógio) e a natureza / o universo.
Nem todas as analogias são aceitáveis. Portanto, não podemos basear-nos numa analogia para provar a
existência de Deus.

Objeção à versão da ordem:


Teoria da evolucionista de Charles Darwin (1809-1882) é uma explicação alternativa – a adaptação dos
seres vivos ao meio depende da seleção natural e da sobrevivência dos mais aptos. Sem negar a
existência de Deus, a teoria da evolução põe em causa o argumento do desígnio. Em muitos casos a
ordem tem origem no mero acaso.

-Limitação da prova: este argumento, ainda que possa demonstrar a existência e a necessidade de um
criador, não prova o deus teísta – único, omnipotente, omnisciente, bondoso.

-Não justifica a existência do mal: Se o argumento do desígnio sugere que devemos observar os sinais
da obra de Deus. Mas, poderá o mal existente no mundo resultar de um criador benevolente? (Nigel
Warburton).

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A prova cosmológica / Argumento cosmológico
Problema: Será que Deus existe? Há provas…

Autor de referência
Tomás de Aquino (1225-1274)
Doutor Igreja Católica

Leibniz (1646-1716)
Filósofo alemão
Tomás de Aquino Leibniz

Especificação Justificação
De onde veio o mundo? Como começou a
Argumento Cosmológico existir? Por que há mundo, em vez de nada?
Causa Primeira (Platão | Aristóteles)
O argumento baseia-se na lei da causalidade.
Todas as coisas finitas e contingentes são
Argumento a posteriori causadas por algo diferente de si mesmas, a
causa primeira é Deus.

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Argumento cosmológico
Formulação

1) Tudo o que existe tem uma causa;


2) O universo existe;
3) Consequentemente, o universo deve ter uma causa que lhe seja anterior: Deus.

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Argumento cosmológico
Formulação
-Versão da causa primeira:
-Todas as coisas e acontecimentos têm uma causa, sendo causados por acontecimentos
anteriores.
-Como não é possível uma série infinita de causas teve de haver uma causa primeira (causa
incausada) que iniciou a série de causas e o Universo começou a existir.
-Logo, a causa primeira é Deus.

Versão da sequência de causas :


- Ou o universo é uma sequência finita de causas, que começa no Big Bang, ou é uma
sequência infinita, sem começo.
- No primeiro caso, Deus tem de existir para poder criar o próprio Big Bang, o início da
sequência finita de causas.
- No segundo caso, Deus tem de existir também para criar a própria sequência infinita de
causas.
- Logo, em qualquer caso, Deus existe.

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Argumento cosmológico: objeções
Objeções / Críticas

-Objeção à versão da causa primeira:


-O argumento é contraditório: ao defender que não há causa que não tenha sido causada e que
existe uma causa que não foi causada.
- Qual é a causa de Deus? Se tudo tem uma causa…
- Poderia Deus ser a causa de si mesmo? Por que não pode o universo causar-se a si mesmo (ser
autogerado) ou mesmo que tenha sido originado pelo acaso? Será mesmo necessário existir uma
causa primeira?

-O argumento pressupõe que não há uma regressão infinita na série de causas e efeitos. Mas, a
série causal pode estender-se sem fim no tempo. A matemática demonstrou que é possível
existirem séries infinitas de eventos ou causas.

Objeção à versão da sequência de causas :


- Questiona a 2ª premissa: talvez o Big Bang tenha surgido do nada, ou pode ser um
acontecimento necessário…
-Questiona a 3ª premissa: talvez a sequência de causas seja eterna, ou tenha surgido do nada.
Por que não poderão os fenómenos retroceder infinitamente no tempo? Se o universo for eterno,
terá uma primeira causa? Por que razão o universo tem que resultar de uma só causa? Pode resultar
de várias causas? Isto pode implicar, por exemplo, a existência de vários deuses.

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Argumento Ontológico
Problema: Será que Deus existe? Há provas…

Autor de referência
Sto. Anselmo de Cantuária (1033-1109)
Filósofo e teólogo italiano.
Fundador da escolástica.

René Descartes (1596-1650)


Filósofo e matemático francês Sto. Anselmo Descartes

Especificação Justificação

Argumento Ontológico O argumento baseia-se na ideia de que a


definição de Deus implica a sua existência.
Prova estritamente lógica, sem recorrer a
O facto de assumirmos Deus como ser supremo
qualquer tipo de prova empírica
implica assumir a possibilidade da sua
existência, caso contrário deixaria de ser
Argumento a priori supremo.

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Argumento Ontológico
Formulação
-Versão de Santo Anselmo.
-1) Deus é o ser supremo e nada superior a si pode ser pensado.
-2) Se Deus fosse apenas um conceito e não existisse, então poderia ser concebido um ser superior a
Deus, que existisse enquanto conceito e na realidade.
-3) Isso implica que Deus não seria supremo.
-4) Logo, Deus não é apenas um conceito (pensamento), existe na realidade.

Justificação
-O ser mais grandioso do que o qual nada pode ser pensado não pode existir apenas no pensamento.
Se existisse apenas em pensamento, poderíamos pensar noutro ser mais grandioso do que ele. Logo, Deus
existe na realidade.

-Supor que Deus não existe leva a uma contradição, e isso é prova da sua existência.
Deus existe em pensamento, existe na realidade.
Deus como ser grandioso / superior: «entidade mais grandiosa da qual nenhuma outra pode ser
concebida».

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Argumento Ontológico
Formulação

-Versão de Descartes.
1) Um ser perfeito tem todas as perfeições.
1)A perfeição implica a existência.
2) A existência é uma perfeição.
2) Deus é um ser perfeito.
3) Logo, um ser perfeito (Deus) existe.
3) Logo, Deus existe.

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Argumento Ontológico
Críticas
Objeção de Gaunilo de Marmoutier: exemplo da Ilha Perfeita, permite demostrar a
existência de qualquer coisa. Não é correto concluir que Deus existe porque o definimos
como ser mais grandioso.

O erro de Anselmo - falácia do apelo à ignorância: como não conseguimos excluir a


hipótese meramente lógica de Deus existir necessariamente, concluímos falaciosamente que
ele existe de facto.

Kant criticou neste argumento o pressuposto de que a existência é uma propriedade.


Segundo Kant, a existência não é uma propriedade como a bondade ou a omnipotência. A
existência é uma condição de possibilidade para que algo tenha esta ou aquela
propriedade. Para Kant apenas conhecemos os objetos no espaço e no tempo (fenómeno).
Não conhecemos seres do mundo inteligível – Deus, Alma… (númeno).

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Mapa conceptual.

Não é uma questão de provas Há provas

Desígnio, cosmológica e
Deus existe Fideísmo, aposta de Pascal
ontológica

Deus não existe De quem é o ónus da prova? O problema do mal

Ter o ónus da prova é estar obrigado a argumentar a favor do que se defende.

No caso da existência de Deus, há autores que alegam que quem defende que
Deus existe tem o ónus da prova.

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Problema do Mal
Problema: Será que Deus existe? Não, há provas…

Autor de referência
Epicuro (341 a C – 270 a C) ?
Filósofo grego - Pág. 190

Leibniz (1646-1716) - teodiceias


Filósofo alemão
Epicuro Leibniz

Especificação Justificação
Problema do Mal
Como é que um Deus com esses atributos
(Deus teísta) pode permitir a existência do Incompatibilidade entre a existência do mal e
mal? de um Deus omnipotente, omnisciente e
sumamente bom.
Distinguir Mal Natural e Mal Moral

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Problema do mal
Formulação
Se existe uma divindade teísta, não há males
Se Deus existisse, não existiria mal.
gratuitos.
Mas o mal existe.
Há males gratuitos.
Logo, Deus não existe.
Logo, não existe uma divindade teísta.

Problema genérico do mal: parece haver uma tensão entre a existência de


males aparentemente gratuitos e a existência da divindade teísta.

1. Problema do mal probatório 2. Problema lógico do mal


A existência de mal aparentemente gratuito Conseguimos mostrar que o mal
prova que Deus não existe ou que é aparentemente gratuito é compatível com a
improvável que exista? existência da divindade teísta?

Leibniz responde ao segundo problema, mas não ao primeiro.

https://www.youtube.com/watch?v=S4JSZzSt_4s&t=2s
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Problema do mal
Resposta ao Argumento do Mal
Teodiceia proposta por Leibniz – justificação do mal moral: livre-arbítrio. O mal moral
pode ser necessário para termos livre-arbítrio. Sem livre-arbítrio, não seríamos livres nem
bons ou maus.
Ora, se Deus tivesse feito um mundo sem livre-arbítrio, esse mundo seria pior do que é,
apesar de não ter mal moral.
Seria pior porque não haveria escolhas moralmente significativas.

Dois pressupostos:
- O livre-arbítrio exige a possibilidade de mal moral.
- Um mundo com mal moral mas com livre-arbítrio é melhor do que um mundo sem
mal moral e sem livre-arbítrio.

39
Problema do mal
Respostas ao Argumento do Mal
Teodiceia proposta por Leibniz – justificação do mal natural: sem mal natural os seres
humanos não poderiam ter coragem, por exemplo, ou heroísmo: o mal natural é necessário
para que existam bens morais maiores.

Leibniz pensa que não há de facto males gratuitos; só nos parece que são gratuitos
porque não vemos os bens superiores que esses males tornam possíveis.

40
Problema do mal
Críticas às respostas apresentadas por Leibniz
-O livre-arbítrio exigirá a possibilidade do mal?

-Não justifica que sendo este o melhor dos mundos possíveis, possa existir tanto mal.

-Por que razão um mundo com menos mal seria impossível?

-Se somos demasiado limitados para ver os bens superiores que os males aparentemente
gratuitos tornam possíveis, também somos demasiado limitados para saber se Deus existe ou
não.

41
Mapa conceptual.

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