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A DIMENSÃO RELIGIOSA

ANÁLISE E COMPREENSÃO DA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA


1. A RELIGIÃO E O SENTIDO DA EXISTÊNCIA
ESTUDO CRÍTICO DOS CONCEITOS E CRENÇAS
RELIGIOSAS
I ORIGINS

• Que razões tem Ian Gray para passar a acreditar em Deus?


Considera que são boas razões?
• Quais são as principais razões que levam as pessoas em todo
o mundo a acreditar em Deus?
• Qual é que considera ser a razão mais forte para acreditar em
Deus?
• Por que é que as pessoas acreditam em Deus?
• Será porque têm uma experiência mística intensa como a de Ian? Ou
porque sentem a presença divina? Ou porque as pessoas
encontram algumas pistas ou indícios no mundo da presença divina?
O QUE É A RELIGIÃO?

PARA QUE SERVE? FAZ DE NÓS MELHORES PESSOAS?


Terão as religiões algo em comum de forma a estabelecermos uma definição universal?
O QUE É A RELIGIÃO?

Definida em termos de crenças ou veneração de um Deus ou deuses.


O QUE É A RELIGIÃO?

Relação, união entre o Eu e uma entidade ou ser sobrenatural.


HAVERÁ ALGO COMUM A TODAS AS RELIGIÕES?
O SAGRADO E O PROFANO

"Amor sagrado e profano" - pintura de Ticiano


(1490-1576)
O SAGRADO…

O sagrado aparece como uma categoria da sensibilidade.


Na verdade, é a categoria sobre a qual assenta a atitude religiosa. Remete para o
domínio do sobrenatural.
O sagrado é a ideia-mãe da religião a partir do qual experimenta uma transcendência.

O sagrado como uma realidade separada do mundo profano, e onde se manifesta um poder
considerado superior e transcendente. O sagrado só existe numa base profana.

Refere-se a uma realidade intemporal, que transcende a matéria e o próprio ser humano, por
Essa razão escapa ao conhecimento, quer empírIco quer racional.
…E O PROFANO
O profano só pode ser desdenhado, ao
passo que o sagrado dispõe, para atrair, de
uma espécie de dom de fascinação.

O profano é a realidade comum, insignificante


Reporta-se à realidade na sua dimensão
natural, temporal e mundana.

É da ordem do material e, como tal,


susceptível de apreensão por via das
faculdades ligadas à perceção e à razão.
O Pecado - Heinrich Losslow
O SAGRADO E O PROFANO
• A aceitação incondicional (escapa aos princípios da razão) dos mistérios e desígnios divinos
liga o individuo ao sagrado, realidade sobrenatural que o ultrapassa a si e à sua matéria.

• Se o domínio do sagrado é o da divindade (entidade transcendente que está para além da


compreensão humana), então, o domínio do profano é a realidade na sua dimensão natural,
temporal e terrena.

• A necessidade de compreender e explicar o sentido da sua existência, recorrendo a


entidades superiores, acompanha os seres humanos desde sempre. Através de ritos cerimoniais
e da adoração de seres sobrenaturais, os seres humanos procuravam ultrapassar a precariedade
da vida profana, encontrando conforto e segurança messe espaço.
O SAGRADO E O PROFANO
Os mitos foram as primeiras respostas primitivas
para aquilo que se desconhecia.
Foi assim que muitas crenças surgiram.

Segundo o mito cosmogónico, surgido na antiga


Babilónia, a formação do universo explica-se a partir
da luta entre duas divindades: Marduk e Tiamat
(um monstro marinho).
Marduk saiu vitorioso e, após a morte do seu Marduk e Tiamat: mito cosmogónico
adversário, dividiu o corpo de Tiamat em duas partes,
a partir das quais se fez o céu e a terra.
DEUS EXISTE?
A resposta dada por cada um de nós não afeta apenas
a forma como agimos, mas também a forma como
compreendemos e interpretamos o mundo e o que
esperamos do futuro. Se Deus existe, a existência
humana pode ter sentido e podemos mesmo ter esperança
na vida eterna. Se não, temos de
criar nós mesmos o sentido das
nossas vidas: nenhum sentido
será dado a partir do exterior e a
morte será provavelmente
definitiva.
TEÍSMO, ATEÍSMO E AGNOSTICISMO
Os filósofos têm focado as suas investigações nas três grandes
religiões ocidentais:

Judaísmo Cristianismo Islamismo


TEÍSMO – ACREDITA NA EXISTÊNCIA DE UM SÓ DEUS
• Deus como figura primeira, dominante; como realidade
suprema, absoluta e transcendente. Deus é o sentido último da
sua existência.
• Segundo os teístas, os atributos de Deus são:
 Ser pessoal, carente de corpo
 Único criador e sustentáculo do universo
 Omnipotente (pode fazer tudo)
 Omnipresente (está em todo o lado)
 Omnisciente (sabe tudo)
 Ser eterno
 Etc.
TEÍSMO – ACREDITA NA EXISTÊNCIA DE UM SÓ DEUS
• Nas religiões em que Deus se revela ao ser humano (hierofania
ou manifestação/revelação do sagrado) fundam-se numa
narrativa e são por isso consideradas religiões do livro.

• No cristianismo os textos sagrados são a Bíblia


• No islamismo existe o Alcorão
• No judaísmo a Tora
ATEÍSMO

Sócrates

• Ateu = alguém que rejeita a crença em toda a forma de


divindade
• Consideram que toda a crença em Deus é um atentado à
liberdade humana e, como tal, deve ser combatida.
• .
AGNOSTICISMO

• Considera Deus incognoscível (não está ao alcance do nosso


conhecimento).
• Acreditam na possibilidade de existir mas é inacessível
• O agnóstico não nega Deus
TEÍSMO
O ponto de partida da maior parte da
filosofia da religião é uma doutrina
muito geral acerca da natureza de Deus,
conhecida como teísmo.

Esta doutrina defende a existência de um deus único, a sua


omnipotência (capacidade para fazer tudo), omnisciência (capacidade de
saber tudo) e suprema benevolência (sumamente bom). Esta perspetiva
é partilhada pela maior parte dos cristãos, judeus e muçulmanos.

Mas será que o Deus descrito pelos teístas existe de facto? Poderemos
demonstrar que esse Deus existe?
QUAL O PROPÓSITO DA NOSSA VIDA?

 1 Resposta religiosa ao problema do sentido da


existência

 2 Respostas não-religiosas ao problema do sentido da


existência
RESPOSTA RELIGIOSA – DEUS É O SENTIDO

• Muitas pessoas procuram a o propósito da vida


na crença, na fé em Deus.
• O crente acredita que a realidade não se esgota
no mundo terreno, pressupõem a existência de algo / um presença.
• A “hipótese religiosa”, para um crente, é a que melhor responde às
questões sobre a existência humana e o valor das nossas vidas.
• O sentido da vida depende da existência de Deus e da crença numa
vida depois da morte que tudo recompensará.
• Deus é o sentido último de todo o sentido.
• O crente vive e experiencia a presença do transcendente
LEITURA TEXTO
• “A questão do sentido da existência”, F. Savater
1- RESPOSTA NÃO RELIGIOSA
O SENTIDO SUBJETIVO DA EXISTÊNCIA:
O SENTIDO DEPENDE DA NOSSA VONTADE

A vida terá subjetivamente o sentido que cada um de nós lhe der,


desde que sejamos felizes.
1- RESPOSTA NÃO RELIGIOSA
O SENTIDO SUBJETIVO DA EXISTÊNCIA:
O SENTIDO DEPENDE DA NOSSA VONTADE

• Richard Taylor (1919-2003) “a vida existe para ser feita temos


vontade de a fazer”
• Filósofo americano para quem o sentido da vida é ela mesma e o que
cada um fizer dela, assim, a vida não tem, objetivamete, sentido.
• Assume uma perspectiva subjetivista dos valores, o sentido da vida
depende da nossa vontade e da nossa motivação e são os nossos
desejos que definem se o que fazemos vale ou não a pena.
• “O sentido da vida reside no nosso interior …e excede qualquer céu
sonhado ou almejado pelos homens”
1- RESPOSTA NÃO RELIGIOSA
O SENTIDO OBJETIVO DA EXISTÊNCIA:
O SENTIDO DEFINE-SE PELA ENTREGA ATIVA A PROJETOS DE VALOR

• Susan Wolf (1952-…) “a vida de uma pessoa só pode


ter sentido se ela se interessar (…) por uma coisa ou
coisas, se se prender, entusiasmar, interessar, entregar
ou (…) se amar algo”

• O sentido da nossa existência decorre da entrega ativa àquilo a que


chama de projetos de valor ou de mérito. Estes são a conjunção da
nossa subjetividade (baseado no sujeito, ele ama um projeto e a ele
se entrega ativamente) com a objetividade (diz respeito ao valor
objetivo do projeto, que de alguma forma contribui para algo mais
vasto do que o próprio sujeito que ama.).
1- RESPOSTA NÃO RELIGIOSA
O SENTIDO OBJETIVO DA EXISTÊNCIA:
O SENTIDO DEFINE-SE PELA ENTREGA ATIVA A PROJETOS DE VALOR

• Os objetos ou atividades a que nos entregamos


devem ter valor.

• Existe uma ligação entre felicidade e o sentido da vida, um viver


de modo que vise a preservação, promoção ou criação de
valor.

• “Uma vida na qual uma pessoa contribui para algo mais vasto
(…) é dotada de mais sentido”
1- RESPOSTA NÃO RELIGIOSA
O SENTIDO OBJETIVO DA EXISTÊNCIA:
O SENTIDO DEFINE-SE PELA ENTREGA ATIVA A PROJETOS DE VALOR

Uma vida com sentido é uma vida de «entrega ativa» e «projetos


de valor».
2- RESPOSTA NÃO RELIGIOSA
O SENTIDO OBJETIVO DA EXISTÊNCIA:
O SENTIDO DEFINE-SE PELA ENTREGA ATIVA A PROJETOS DE VALOR

“Uma pessoa entrega-se ativamente a algo quando isso a cativa,


excita ou envolve. Os casos mais óbvios são aqueles em que nos
entregamos ativamente às coisas e às pessoas que nos
arrebatam. Entregar-se ativamente a algo nem sempre é agradável
na aceção normal da palavra (por exemplo: cuidar de um amigo
doente). Contudo, há algo de bom no sentimento de entrega:
sentimo-nos especialmente vivos.”
1- RESPOSTA NÃO RELIGIOSA
O SENTIDO OBJETIVO DA EXISTÊNCIA:
O SENTIDO DEFINE-SE PELA ENTREGA ATIVA A PROJETOS DE VALOR

“O sentido emerge quando a atração subjetiva se encontra com o


que é objetivamente atraente. A atividade só tem sentido se nos
pudermos entregar a ela, se nos sentirmos atraídos por ela, se
estivermos apaixonados por ela ou pelo objeto em que se centra.
Tal atividade irá sempre de algum modo realizar-nos e, portanto,
irá sempre fazer-nos de algum modo felizes.”

S. Wolf, in D. Murcho, Viver para Quê?, Dinalivro, 2009, pp. 160-165 e 185-186
(adaptado).
2. RELIGIÃO, RAZÃO E FÉ
HAVERÁ BOAS RAZÕES QUE DEMONSTREM QUE HÁ OU
NÃO DEUS?
ARGUMENTOS TEÍSTAS PARA A EXISTÊNCIA DE DEUS

ARGUMENTOS A POSTERIORI ARGUMENTOS A PRIORI

 Argumento cosmológico /Da primeira


causa  Argumento ontológico
 Argumento Teleológico/Do Desígnio
(argumentos analíticos ou conceptuais)
( argumentos empíricos, só podem ser
conhecidos através da nossa experiência
do mundo)
ARGUMENTOS A POSTERIORI:
ARGUMENTO DO DESÍGNIO
ARGUMENTOS A POSTERIORI:
ARGUMENTO DO DESÍGNIO
• Tornou-se conhecido no séc. XVIII, apresentado por William Paley.
• Esta argumentação (baseada numa analogia) parte de uma
constatação: a de que tudo o que existe na natureza visa o
cumprimento de uma determinada função. Mas cada organismo e a
sua própria organização interna são complexos, e a complexidade
demonstra que não é produto do acaso mas de uma intencionalidade,
logo de um desígnio inteligente.
• À semelhança de um relojoeiro que fabrica a sua obra de modo a
garantir o funcionamento dos seus relógios, também Deus, criador do
Universo ( realidade mais complexa que um simpes relógio) fabrica a
natureza e tudo quanto existe. A ordem e complexidade natural exige
a existência de um criador inteligente.
ARGUMENTOS A POSTERIORI:
ARGUMENTO DO DESÍGNIO
• O facto de verificarmos o funcionamento do mundo natural
prova a existência de um agente criador e responsável por ele.
• Baseia-se na observação directa do mundo e apoia-se na ideia
de que o universo é como uma máquina.
• Considera a analogia que se as máquinas são produto de
desígnio inteligente e se o universo se assemelha a uma
máquina, então também ele foi produzido por um desígnio
inteligente, Deus.
• Este argumento sustenta que a criação do mundo assenta nos
desígnios e na vontade de Deus, único e bom.
ARGUMENTOS A POSTERIORI:
ARGUMENTO DO DESÍGNIO – OBJEÇÃO HUME
• Nada mostra em si mesmo que o universo é um sistema teológico (não
sabemos qual a sua finalidade) nada no universo mostra que ele tem uma
finalidade
• O universo tem em si várias partes naturais que se assemelham a máquinas
mas isto não demonstra que o desígnio inteligente do universo seja
necessariamente Deus teísta.
• Por se basear numa analogia – máquina e universo – por terem algumas
semelhanças não significa que sejam idênticos nos aspetos que
desconhecemos.
ARGUMENTOS A POSTERIORI:
ARGUMENTO DO DESÍGNIO/TELEOLÓGICO
OBJEÇÕES
• Podemos inferir deste argumento a necessidade de um criador mas tal não obriga a
deduzir a sua unicidade ou a sua bondade.
• Se é possível conceber que os artefactos são projetados e produzidos por mais do que
um técnico, também é possível admitir o mesmo em relação ao mundo.

• Conduz à ideia de que no mundo tudo foi


cuidadosamente planeado por Deus, mas
Darwin mostrou ser possível explicar o
aparecimento de diferentes espécies e organismos
através do processo de seleção natural…
ARGUMENTOS A POSTERIORI:
ARGUMENTO COSMOLÓGICO
• Argumento que se baseia no cosmos (mundo) e na experiência que dele temos.
• Assenta numa relação de causa-efeito que se observa nas coisas do mundo, assim,
regredindo essa causa, encontramos a causa primeira – Deus.
• Remonta aos séculos IV e III a.C com Aristóteles e Platão, mas é no século XIII com
S.Tomás de Aquino que conhece maior desenvolvimento.
ARGUMENTOS A POSTERIORI:
ARGUMENTO COSMOLÓGICO
ARGUMENTO DA PRIMEIRA CAUSA

• Decorre da relação causa-efeito observadas nas coisas criadas. É


necessária uma causa primeira que não tenha sido causada por ninguém.
• Baseia-se no facto empírico do universo existir. Podemos presumir que uma
série de causas e efeitos produziram o universo. Mas se seguirmos esta
série retrospetivamente encontraremos a causa original, a primeira de todas
– Deus.
ARGUMENTOS A POSTERIORI:
ARGUMENTO COSMOLÓGICO - OBJEÇÕES
• Contradiz a principal ideia de que “ tudo tem uma causa”.
• Defende que não pode haver uma causa não causada e que há
uma causa não causada (Deus).
• Não é uma demonstração pois pode haver uma série infinita de
causas-efeitos.
ARGUMENTOS A PRIORI:
ARGUMENTO ONTOLÓGICO
• Assenta em verdades puramente conceptuais (a priori) já que pretende
demonstrar Deus a partir da sua própria definição como ser supremo,
omniscente, omnipresente e omnipotente.
• A versão mais conhecida foi apresentada pelo filósofo Sto. Anselmo (1033-
1109). Tenta demonstrar a existência de Deus a partir da própria definição
de Deus como ser supremo.
• Deus é algo maior do que o qual nada pode ser pensado e encontra-se no
espírito.
• Deus como o ser mais perfeito que é possível imaginar; um ser perfeito não
seria perfeito se não existisse. A noção de perfeição inclui necessariamente
a existência.
ARGUMENTOS A PRIORI:
ARGUMENTO ONTOLÓGICO
ARGUMENTOS A PRIORI:
ARGUMENTO ONTOLÓGICO- OBJEÇÕES
• A partir deste argumento poderia justificar-se a existência de qualquer outra
coisa

• A existência não é uma propriedade, é apenas uma condição de


possibilidade para que algo, neste caso Deus, tenha uma qualquer
propriedade.
ARGUMENTO CONTRA A EXISTÊNCIA DE DEUS

O argumento mais comummente apresentado pelo ateísmo é o da


EXISTÊNCIA DO MAL
ARGUMENTO CONTRA A EXISTÊNCIA DE DEUS
O PROBLEMA DO MAL
ARGUMENTO CONTRA A EXISTÊNCIA DE DEUS
O PROBLEMA DO MAL

A) Ou Deus não sabe que existe dor e sofrimento, logo, não é omniscente (então não é Deus)

B) Ou sabe que o sofrimento existe mas não consegue pôr-lhe fim, logo, não é omnipotemte
(então, não é Deus)

C) Sabe que existe sofrimento mas não quer terminar com ele, logo, não é sumamente bom
(então, não é Deus).
ARGUMENTO CONTRA A EXISTÊNCIA DE DEUS
O PROBLEMA DO MAL – CONTRA -ARGUMENTO
TEÍSTA

Noção de livre-arbítrio ( o sofrimento é causado pelas pessoas e não por Deus;


Este deu-lhes a possibilidade de fazer ou não o mal.

Um mundo sem livre-arbítrio seria limitador da liberdade humana, é melhor um mundo onde há
sofrimento do que um mundo onde esteja tudo determinado absolutamente.

Os males naturais são uma oportunidade para a humanidade realizar ações heróicas.

Quanto ao sofrimento das crianças, estas serão recompensadas numa outra vida…

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