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DEÍSMO: Um afastamento do teísmo

cristão via a racionalidade


Deus, o grande relojoeiro: existente, porém, ausente e não necessário.

Tiago Rossi Marques


A) DEFINIÇÃO BÁSICA
• O Deísmo, na filosofia, é uma doutrina que considera a razão
como a única via capaz de nos assegurar da existência de
Deus, rejeitando, para tal fim, o ensinamento ou a prática de
qualquer religião organizada
• O Deísmo acredita na criação do universo por uma
inteligência superior (que pode ser Deus, ou não), através da
razão, do livre pensamento e da experiência pessoal, em vez
dos elementos comuns das religiões teístas como a revelação
direta, ou tradição.
• O Deísmo é o precursor do ateísmo moderno e da cosmovisão
Naturalista
B) CONTEXTO

• Está conectado a Filosofia antiga grega, principalmente ao


pensamento Aristotélico da primeira causa.
• Inicia-se entre os séculos XVI e XVII, ganhando seu
florescimento no século XVIII, durante um período conhecido
como Iluminismo, ou Século das Luzes na Europa.
• Época do apego à Razão como instrumento emancipatório do
pensamento religioso. Crença profunda na razão.
• Primeiros movimentos de crítica a Bíblia e desenvolvimento do
pensamento Científico
C) PROPONENTES OU AUTORES
• Edward Herbert (1583 – 1648) = Pai do Deísmo Inglês
• Francis Bacon (1561 – 1626) = Se Deus existe, não é necessário
• René Descartes (1596 – 1650) = Penso, logo existo.
• Charles Bloynt (1654 – 1693)
• John Tolarndt (1670 – 1722)
• Lorde Shaftesbury (1671 – 1713)
• Thomas Hobbes (1588 – 1679)
• John Locke (1632 – 1704)
• Jean Jacques Rousseau (1712 – 1778)
• Voltaire (François Marie Arouet) (1694 – 1778)
• Benjamin Franklin (1706 – 1790)
• Thomas Jefferson (1743 – 1826)
• George Washington (1732 – 1799)
• Thomas Paine (1737 – 1809)
D) PRESSUPOSTOS ESTRUTURAIS
• “Deísmo é uma fé não humana, a cosmovisão iluminista
consagrava o deísmo. O deísmo é uma fé de transição
entre o cristianismo e uma cosmovisão mais radicalmente
secular, mantendo um mero vestígio da doutrina cristã da
criação para servir de base para a sociedade humana. De
acordo com o filósofo deísta, Deus já havia desempenhado
seu papel ao criar a ordem natural, e […] pode-se, com
segurança, deixá-lo de for a como um fator no presente. O
deísmo é a última concessão à religião” – (Goheen e
Bartholomew em Introdução à cosmovisão crista)

• Entre o Cristianismo (Teísmo) e Secularismo Radical


(Ateísmo), há o Deísmo (meio-termo).
D) PRESSUPOSTOS ESTRUTURAIS
1. Um Deus transcendente, como primeira causa, criou o
universo, mas, então, o deixou funcionar por conta
própria. Deus é, portanto, não imanente, não totalmente
pessoal, não soberano sobre os assuntos humanos e não
providencial = Relojoeiro ou Artífice (Oleiro)?

2. O Cosmo criado por Deus é determinado, pois foi criado


como uma uniformidade de causa e efeito em um sistema
fechado; nenhum milagre é possível
D) PRESSUPOSTOS ESTRUTURAIS
3. Os seres humanos, embora pessoais, fazem parte do
mecanismo do universo, e não são “obras ou feitura de
Deus”

4. O cosmo, este mundo, é compreendido como estando


em seu estado normal; ele não é decaído ou anormal.
Podemos conhecer o universo e por meio de seu estudo
determinar como Deus é (Nenhuma revelação é
necessária, Deus não fala por Cristo, tão pouco por sua
palavra)
D) PRESSUPOSTOS ESTRUTURAIS
5. A ética é restrita à revelação geral; pelo fato de o
universo ser normal, ele revela o que é certo (se tudo é
certo, o mal não existe, tão pouco o pecado)

6. A história é linear, pois o curso do cosmo foi determinado


na criação (imobilismo, não importância da história,
universo fechado, determinista)
D) PRESSUPOSTOS ESTRUTURAIS
PARA O DEÍSMO

• Deus: Deus ausente


• Criação: natureza e indivíduos autônomos
• Em termos práticos: Deísmo em prática é ateísmo não
confessado
• Imanentismo (Charles Taylor)
• Inevitabilidade de busca por sentido
• Busca por sentido na “imanência”
• Racionalismo & Sentimentalismo
• Subjetivismo
E) OS “DEÍSMOS”
• (1) DEISMO TEÍSTA = Deus existe como causa primeira,
mas não é imanente, não é totalmente pessoal, não
soberano sobre assuntos humanos e não providencial.
Fé Cristã e a divindade compreendidas e explicadas
via uma série de proposições racionais. Ausência da
espiritualidade misteriosa, apego a uma “fé”
racionalizada.
• (2) DEISMO ATEÍSTA, não crê na existência de um Deus
pessoal, soberano, transcendente e imanente, porém,
se coloca como “senhor” e mestre de seu próprio
destino, sendo apegado a racionalidade, as leis
naturais e do universo.
F) DEÍSMO & FÉ CONTEMPORÂNEA
• Christian Smith (Sociólogo Cristão)
• Publicação = Soul Searching: The Religious
and Spiritual Lives of American Teenagers
• Pesquisa realizada entre 2001 – 2005
• Objetivo:
• Analisar a busca espiritual
• Detectar como a religião afeta o pensamento
moral
• Identificar percepções religiosas
• Religiões:
• Judeus, Católicos, Protestantes, Mulçumanos,
Religiões Orientais, etc. Igor Miguel, Antídoto –
Cristianismo não é Anestesia
F) DEÍSMO & FÉ CONTEMPORÂNEA
Resultado:
• Após uma pesquisa sistemática, concluiu-se que os
adolescentes americanos não eram adeptos às religiões
confessionais majoritárias nos EUA.

• Confessavam, na realidade, uma religião comum não


sistemática (não oficial), chamada por ele de Deísmo
Terapêutico Moralista (DTM), com impressões muito
aproximadas sobre: (a) quem Deus era, (b) como Deus
opera em nossas vidas, (c) o que Deus espera de Nós, (d)
para que Deus server, (e) O que se espera de Deus
Igor Miguel, Antídoto –
Cristianismo não é Anestesia
F) DEÍSMO & FÉ CONTEMPORÂNEA
Deísmo Terapêutico Moralista (DTM) – Capítulo 4

• Deísmo = Deus não pessoal, distante ou ausente


• Terapêutico = Alívio de uma dor, desconforto e sofrimento
• Moralista = Baseado em um comportamento correto

Igor Miguel, Antídoto –


Cristianismo não é Anestesia
F) DEÍSMO & FÉ CONTEMPORÂNEA
Deísmo Terapêutico Moralista (DTM) – Capítulo 4
1) Existe um Deus que criou o mundo e observa a vida dos
homens
2) Deus quer que as pessoas sejam boas, agradáveis e gentis
umas com as outras, como ensinado na Bíblia e pela
maioria das religiões
3) O objetivo central da vida é ser feliz e se sentir bem sobre si
mesmo
4) Deus não precisa estar particularmente envolvido na vida
de alguém exceto quando Deus é necessário para resolver
um problema
5) Boas pessoas vão para o céu quando elas morrem.
F) DEÍSMO & FÉ CONTEMPORÂNEA

• O Deísmo Terapêutico Moralista, é sobre a crença


num tipo particular de Deus que existe, que criou o
mundo e que define a ordem moral geral, mas
não é um Deus que esteja particularmente
pessoalmente envolvido nos assuntos de alguém,
especialmente em assuntos que alguém não
gostaria que Deus estivesse envolvido. Na maioria
das vezes, o Deus desse tipo de fé se mantém a
uma distância segura – (Christian Smith) Igor Miguel, Antídoto –
Cristianismo não é
Anestesia
F) DEÍSMO & FÉ CONTEMPORÂNEA

• Um Deus enjaulado, condito, que é solicitado


quando necessário
• Diferença entre Pudle e um Leão: Domesticável
ou Soberano. Previsível ou Imprevisível (Aslam,
Lucia e as Crônicas de Narnia)
• A imagem criada por Deus na família, na igreja

Igor Miguel, Antídoto –


Cristianismo não é
Anestesia
F) DEÍSMO & FÉ CONTEMPORÂNEA
Individualismo Terapêutico
• “O que parece ser a verdadeira religião
dominante entre os adolescentes nos EUA é
basicamente sentir-se bem, feliz, seguro, em
paz. É sobre alcançar bem-estar subjetivo, ser
capaz de resolver problemas, e ao mesmo
tempo, ser amável com as outras pessoas” – C.
Smith, p. 164

Igor Miguel, Antídoto –


Cristianismo não é Anestesia
F) DEÍSMO & FÉ CONTEMPORÂNEA
Individualismo Terapêutico
• “Individualismo terapêutico define a
individualidade como a fonte e a referência
autêntica de conhecimento e autoridade
moral, e a auto-realização individual se torna
um propósito a se preocupar na vida.
Experiência pessoal subjetiva é a pedra de
toque de tudo que é autêntico, erto e
verdadeiro – C. Smith, p. 173
Igor Miguel, Antídoto –
Cristianismo não é Anestesia
F) DEÍSMO & FÉ CONTEMPORÂNEA
Novos Fenômenos Culturais
• Livros de Auto-Ajuda
• Palestras motivacionais
• Terapias de autoconhecimento
• Coaching
• Realizações Profissionais
• Programação Neurolinguistica
• Auto-estima
• “Eu sinto” Igor Miguel, Antídoto – Cristianismo
não é Anestesia
F) DEÍSMO & FÉ CONTEMPORÂNEA
Novos Fenômenos Culturais
• Livros de Auto-Ajuda
• Palestras motivacionais
• Terapias de autoconhecimento
• Coaching
• Realizações Profissionais
• Programação Neurolinguistica
• Auto-estima
• “Eu sinto” Igor Miguel, Antídoto – Cristianismo
não é Anestesia
G) RESPOSTA REFORMADA
“Se ignoro as Obras e a potência de Deus,
ignoro o próprio Deus. Se ignoro a Deus, não
posso venerar, louvar, agradecer e servir a Deus
porque não sei quanto devo atribuir a mim
mesmo e quanto a Deus. Portanto, se queremos
viver piedosamente, é necessário que
mantenhamos uma distinção certíssima entre a
força de Deus e a nossa, entre a obra de Deus e
a nossa ...
Igor Miguel, Antídoto – Cristianismo
não é Anestesia
G) RESPOSTA REFORMADA
Vês, assim, que esse problema é uma das partes
de toda a suma das coisas cristãs; dele
depende e nele está em jogo o conhecimento
de si mesmo, assim como o conhecimento e a
glória de Deus”

- Lutero, Da Vontade Cativa

Igor Miguel, Antídoto – Cristianismo


não é Anestesia
G) RESPOSTA REFORMADA
“É notório que o homem jamais pode ter claro
conhecimento de si mesmo, se primeiramente
não contemplar a face do Senhor, e então
descer para examinar a si mesmo. Porque esta
arrogância está arraigada em todos nós –
sempre nos julgamos justos, verdadeiros, sábios e
santos”

- João Calvino, As Intitutas Igor Miguel, Antídoto – Cristianismo


não é Anestesia
G) RESPOSTA REFORMADA
Calvino, Institutas – Sobre o Pai Nosso

“Ao fazermos esta oração, renunciamos a todos


os nossos desejos e cobiças, abandonando e
deixando com Deus nossos sentimentos e afetos,
e lhe rogamos que não permita que as coisas
aconteçam segundo nosso apetite, mas sim, de
acordo com o que ele vê e sabe o que é bom e
que, portanto, lhe agrada. Igor Miguel, Antídoto – Cristianismo
não é Anestesia
G) RESPOSTA REFORMADA
“Seja Feita a tua vontade ...” - Calvino
E, ainda, não somente que o efeito de nossas
cobiças contrárias a Deus seja anulada e destruído,
mas que também Deus cria em nós um novo
coração e um novo querer, de modo que não haja
em nós outro desejo que não o de estar em
harmonia com a sua vontade. Em resumo, que não
queiramos nada de nós mesmos, mas sim, que o seu
Espírito exerça o seu querer por nós e em nós, e nos
faça gostar das coisas que lhe agradam e odiar com
horror tudo o que lhe desagrada”
Igor Miguel, Antídoto – Cristianismo
não é Anestesia
F) DEÍSMO & CULTURA POP
F) DEÍSMO E CULTURA POP
F) DEÍSMO TERAPÊUTICO MORALISTA
G) INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
G) INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
G) INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
NATURALISMO: negação do Deus
transcendente e imanente
A Natureza como “realidade última e primordial”

Tiago Rossi Marques


A) DEFINIÇÃO BÁSICA
• O Naturalismo seria a crença de que, em última instância, a natureza
seria tudo o que existe, e que esta “natureza” é fundamentalmente
inalterada por qualquer outra coisa a não ser por ela própria – A
natureza como realidade primordial

• Para a cosmovisão naturalista, nada existe para além da natureza


que tenha influência ou ação sobre ela. Ela é autônoma e
autorregulada. A vida surge então como fruto das substâncias
naturais via seleção natural.

• Para o Naturalismo, não há sobrenaturalidade ou realidades


espirituais. Para a Cosmovisão Naturalista estas supostas realidades
são ilusões ou complexos/realidades naturais incomuns. A matéria é
tudo o que há!
A) DEFINIÇÃO BÁSICA
• Naturalismo fisicalista = tudo deve ser reduzido a existência e
as entidades materiais. Nega a existência de coisas como
almas, espíritos, pen

• Naturalismo não-fisicalista = nega o fisicalismo, porém


defende que o mundo natural é independente e
autorregulado. Aceita então a possibilidade da existência de
seres e elementos não materiais, porém estes não causam a
realidade material nem interfere nela (Deísmo)
B) CONTEXTO

• Está conectado à Filosofia antiga grega, principalmente ao


pensamento Epicurista da concepção materialista da natureza.

• Relacionado às filosofias materialistas do século XVIII.


• Época do apego à Razão como instrumento emancipatório do
pensamento religioso. Crença profunda na razão.
• Primeiros movimentos de crítica a Bíblia e desenvolvimento do
pensamento Científico
C) PROPOSIÇÕES
1. A matéria existe eternamente e é tudo o que há. Deus não
existe
2. O Cosmo existe como uma uniformidade de causa e efeito
em um sistema fechado
3. Os seres humanos são “máquinas” complexas; a
personalidade é uma inter-relação de propriedades químicas
e físicas ainda não totalmente compreendidas.
4. A morte é a extinção da personalidade e da individualidade
5. A história é uma corrente linear de eventos ligada por causa e
efeito, porém, sem uma proposta abrangente.
6. A ética está relacionada apenas os seres humanos [e não
com Deus]
D) IMPLICAÇÕES

• Ética hedonismo focalizada no prisma do utilitarismo, visando


o prazer e a maior felicidade.

• A realização da vida e da existência está repousada no


prazer.

• Moral como hedonismo calculado: avalia o prazer segundo as


circunstâncias da intensidade, duração, certeza ou incerteza
etc. Obtenção de lucros e ganhos (contabilidade moral)
D) IMPLICAÇÕES
• Lógica epicurista (Epicuro 341-270 a.C.) = Se o mundo é fruto do
acaso, resumido a matéria e a esta existência, resta ao
indivíduo ocupar-se com o presente e os prazeres desta
existência – “comamos, bebamos, pois amanhã morreremos”.

• Homem como máquina biológica = Nega-se vida pós morte –


não crê na ressureição dos mortos.

• Uma vez que a Natureza é auto reguladora de si, dependendo


dela mesma para sua existência e manutenção, nega, por
conseguinte a existência de Deus e da providência, por meio
da qual Deus governa sobre todas as coisas de maneira sábia e
imutável – Cinismo e Ceticismo.
F) PROPONENTES OU AUTORES
• Epicuro (341 – 270 a.C) – Epicurismo
• Pierr-Simon Laplace (1749 – 1827)
• Jeremy Bentham (1748 – 1832)
• Ludwing Feuerbach (1804 – 1872) – Materialismo Dialético
• Charles Darwin (1809 – 1882)
• John Dewey (1859 – 1952)
• Mordecai Kaplan (1881 – 1983) – Reconstrucionismo Judeu
• Émile Zola (1840 – 1902)
• Sidney Hook (1902 – 1989)
• Roy Wood Sellars (1880 – 1973)
• Ernest Nagel (1901 – 1985)
• Carl Sagan (1934 – 1996)
• Richard Dawkins (1941 - )
• Christopher Hitchens (1949 - )
• Neil deGrasse Tyson (1958 - )
G) NATURALISMO & CULTURA POP
G) NATURALISMO & CULTURA POP
H) INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
H) INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

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