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Niilismo: aniquilação do sentido & a

“morte de Deus”
A perda do encantamento e do sentido, a (in)disposição do nada

Tiago Rossi Marques


A) DEFINIÇÃO BÁSICA
• O niilismo – nome que vem do latim “nihilis”, que significa literalmente
“nada” – não é tanto uma forma de filosofia, mas é basicamente a
negação de tudo ou praticamente tudo.

• O niilismo é uma consequência do naturalismo e da decepção de toda


uma geração com a confiança no avanço da ciência, da tecnologia e
da religião como explicadoras da vida.

• “O Niilismo é o que resta do naturalismo quando se percebe que a


razão humana , se autônoma, não tem todo aquele poder de explicar.”
A) DEFINIÇÃO BÁSICA
• Após as duas grandes guerras, perde-se a esperança de uma salvação
pela ciência – que substituiu Deus no pensamento ocidental – e
desemboca-se na decepção total e geral com qualquer tentativa de
explicação da vida.

• É, basicamente, uma cosmovisão que nega toda as demais e não faz


nenhuma afirmação no lugar. Nesta cosmovisão, qualquer busca por
um sentido deve ser abandonada pois não existe sentido para a
existência. As noções mais clássicas de verdade, certo/errado, beleza,
ética e tudo mais deixam de existir.
A) DEFINIÇÃO BÁSICA
James Sire - “O Universo ao Lado”

“Niilismo é mais sentimento que propriamente uma filosofia.


Sendo mais preciso, o niilismo, de forma alguma, é uma
filosofia, mas uma negação dela, da possibilidade de
conhecimento e de tudo aquilo que possui valor. Ao
avanças para a absoluta negação de tudo, o niilismo nega
até mesmo a realidade de sua própria existência ...”
A) DEFINIÇÃO BÁSICA
• James Sire em “O Universo ao Lado”

“Em outras palavras, niilismo é a negação de todas as coisas


– conhecimento, ética, beleza, realidade. No niilismo
nenhuma afirmação possui validade; nada tem significado.
Antes, tudo é gratuito, dispensável, isto é, apenas existe.”
(SIRE, 2009, P. 109-110)
B) CONTEXTO
• Inicialmente utilizado na Revolução Francesa para descrever
aqueles que não se posicionavam a favor ou contra o movimento.

• Desdobramento das filosofias materialistas do século XVIII, e da


descrença do racionalismo advindo do Iluminismo na passagem do
século XVIII para o XIX.
• Enquanto movimento, o niilismo nasce no século XIX, na Rússia
governada pelos czares. Ivan Turgueniev (Escritor), recorreu ao
niilismo como conceito, para revelar que só é real o que é
percebido pelos sentidos humanos, o restante simplesmente não o é.

• Época cinismo, da descrença e do abandono do sentido.

• Mediante uma Europa Cristã moribunda do século XIX para o XX,


decreta-se a “morte de Deus” – Nietzsche
C) NIETZSCHE E O NIILISMO EUROPEU

• Nietzsche e o Niilismo = “Deus está morto” e a perda do


encantamento – Racionalistas & Religiosos

• Nietzsche e Anticristo (não escatológico) = A Única opção digna de


se fazer presente contra o homem contemporâneo. Cristo é único
que conseguiu construir um pensamento frente ao seu próprio
pensamento. O Cristianismo de sua época era platonismo de pobre.
C) NIETZSCHE E O NIILISMO EUROPEU

• Neste contexto, somente dois caminhos a seguir:

(1) Ou você acredita em algo supremo, sublimo, espantoso e


assustador, no amor que se entrega, no amor sacrificial;

(2) Ou a vontade de potência, a vontade daqueles que vão superar


todos que estão diante da pessoa, que se colocam contra seu
próprio desejo e vontade.
C) NIETZSCHE E O NIILISMO EUROPEU
• Nietzsche via a necessidade de denunciar o vazio da Cristandade
Europeia do seu tempo, bem as contradições inerentes a vida
humana.

• Nietzsche questiona: Onde está Deus? Os Cristãos usam sua vida e


seu tempo para conquistar as coisas, andam como se não amassem,
são pragmáticos, manipulando a fé ou vivem como se Deus não
existisse na prática – Não ateus, mas Deístas.
C) NIETZSCHE E O NIILISMO EUROPEU
NIETZSCHE E OS NIILISMOS:

(1)Passivo-Incompleto (Fraco)

(2)Ativo-Completo (Forte)
C) NIETZSCHE E O NIILISMO EUROPEU
(1) Niilismo Passivo- Incompleto

• Não é o abandono definitivo de todos os valores e significados


sociais, mas a banalização destes pela manipulação, desconstrução
ou modificação destes valores e de seus significados.

• É aquele dos Cristãos e dos Religiosos, que mesmo tendo Deus na


boca, não crê em seu coração. Pois, se acreditassem em Deus,
viveriam a vida prática, comunitária, social e religiosa manifestando
ele. Entretanto, o que se vê, é o vazio.
C) NIETZSCHE E O NIILISMO EUROPEU
(2) Niilismo Ativo-Complerto (Forte)

• O Niilismo de Nietzsche, o primeiro a vive-lo. Assume seu ceticismo,


seu cinismo, sua negação aos valores metafísicos, parte para a
negação da moral.

• É o reino do absurdo, do qual o homem niilista nega os valores de


Deus, tornando-se o criador de valores, aguardando a morte;

• Não há o eterno após a morte, somente o eterno retorno = destruição


e recriação.
D) PROBLEMAS INTERNOS AO NIILISMO
1) Nada procede da falta de significado, ou, qualquer coisa procede.

2) O Niilista, toda vez que pensa e confia em seu pensamento, não está
sendo Niilista. Faz parte do seu pensamento a autocontradição.

3) O Niilismo, em sua forma prática, não se sustenta por muito tempo.


Na questão relacionada a Deus, para negá-lo, precisa primeiro
afirma-lo. Quanto a sua disposição, levadas à cabo, precisa, num
último movimento, negar a si mesmo ou nada dizer.
D) PROBLEMAS INTERNOS AO NIILISMO
4) Niilismo, em si mesmo, é um movimento de agonia, contradição e de
sérios problemas de ordem psicológicas pois nega ao homem a
liberdade de sentido, de valor, de significado, de dignidade e de
valia.

“Nietzsche substituiu o ateísmo indolente ou autogratificante [advindo do


naturalismo] por um ateísmo agonizante, sofrendo as consequêncis humanas
inerentes. O anseio em crer, em conjunto com a intransigente recusa de
satisfazer tal anseio, segundo ele, é a profunda resposta de toda a nossa
condição espiritual” – Bloom, Closing of The American Mind, p.196
E) NIILISMO ECLESIÁSTICO

Por Niilismo Eclesiástico podemos entender como a proposta


de muitos cristãos que “advogam um cristianismo totalmente
despido de formas, estruturas e concretude institucional”. O
termo foi empregado por Émile G. Léonard, na obra O
Protestantismo Brasileiro. O historiador empregou o termo a
referir-se aos darbistas, movimento religioso inglês do século XIX,
praticante do niilismo eclesiástico.
E) NIILISMO ECLESIÁSTICO
“Por Niilismo Eclesiástico podemos entender como a proposta
de muitos cristãos que “advogam um cristianismo totalmente
despido de formas, estruturas e concretude institucional”. O
termo foi empregado por Émile G. Léonard, na obra O
Protestantismo Brasileiro. O historiador empregou o termo a
referir-se aos darbistas, movimento religioso inglês do século XIX,
praticante do niilismo eclesiástico.” – (Idauro de Oliveira Campos Júnior
(2014) em Niilismo eclesiástico: uma análise do movimento dos desigrejados)
E) NIILISMO ECLESIÁSTICO
MOTIVOS:

• Desilusão com a Igreja Institucionalizada

• Repúdio as edificações eclesiásticas (templos)

• Repúdio ao colégio episcopal (pastores)

• Repúdio a homilia e a sistematização expositiva


E) NIILISMO ECLESIÁSTICO
Movimentos “Niilistas” no passado:
• Montanismo (Século III) = Contra a “formalidade” eclesiástica, a
liderança humana e a pouca “abertura” a direção do Espírito Santo –
Chamado de Nova Revelação e Nova Profecia
• Joaquim de Fiore (Século XII) = Se opondo a institucionalidade da
igreja, apregoou a realidade da manifestação de uma nova igreja,
despida de materialidade, e sem necessidade de uma liderança
local.
• John Nelson Darby (Século XIX) = Insatisfeitos com a Igreja Inglesa,
considerando-a sem vigo espiritual e formal, romperam fundando um
novo movimento sem denominação, sem institucionalização, sem
liderança e sem ligação com a igreja histórica.
F) REFORMADA & NIILISMO ECLESIÁSTICO
Uma Resposta Reformada ao Niilismo Eclesiástico:

Gisbertus Voetius – Reformador Holandês (1589-1676)


• Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est (Igreja Reformada sempre se
reformando [via o poder do Espírito Santo])

Reformados - Obra contínua do Espírito em mudar para retornar às Escrituras


Reformandos - Obra particular de uma Igreja que muda constantemente a
contento de seu prazer e compreensão particular
Reformistas - Movimento de ruptura, alterando verdades e as Escrituras

• Sola Scriptura; Solus Christus; Sola Gratia; Sola Fide; Soli Deo Gloria
G) PROPONENTES OU AUTORES
• Ludwing Feuerbach (1804 – 1872) – Materialismo Dialético
• Charles Darwin (1809 – 1882)
• Ivan Sergeyevich Turgenev (1818 – 1883) – Escritor
• Friedrich Nietzsche (1844 – 1900 ) – Filósofo
• Martin Heidegger (1889 – 1976) – Filósofo Niilista Existencialista
• Richard Huelsenbeck (1892 – 1974) – Artista (Dadaísmo)
• Mazzino Montinari (1928 – 1986) – Artista
• Gianteresio Vattimo (1936 - ) – Artista
• Gilles Deleuze (1925 – 1995) – Filosofo (Herdeiro do Niilismo)
• Michel Foucault (1926 – 1984) – Filósofo (Herdeiro do Niilismo)
• Jacques Derrida (1930 – 2004) – Filósofo (Herdeiro do Niilismo)
H) NIILISMO & CULTURA POP
H) NIILISMO & CULTURA POP
I) INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
I) INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

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