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John Rawls - Teoria Contratualista (e Liberal) da


Justiça
por Pedro Mota, em 21.04.14

Escola da Filosofia -
Pedro Mota
Documentos de estudo a nível
secundário para uma Filosofia viva.

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JFMAMJJASOND
2014

(texto de apoio ao manual de Filosofia 10º de JFMAMJJASOND

Luis Rodrigues) 2013


JFMAMJJASOND

Vimos dos autores contratualistas estudados anteriormente que todos


eles procuram tornar possível, através do estabelecimento de um contrato
social, uma convivência saudável entre os indivíduos. Para Hobbes, essa
sociabilidade passava pela obtenção da paz e da segurança e, para Locke e
Rousseau, pela legitimação de um conjunto de direitos naturais básicos,
como o direito à vida, à liberdade, à igualdade e à propriedade.
John Rawls, autor que vamos estudar neste documento, é igualmente
um filósofo contratualista. No entanto, a sua concepção de contrato social é
diferente da dos autores contratualistas estudados.
Rawls pretende conjugar na sociedade duas características: a liberdade
e a justiça social. Porquê ambas, a liberdade e a justiça social? Porque, se
apenas houver liberdade, põe-se em causa a justiça social (porque
necessariamente uns indivíduos possuirão sempre mais bens do que outros e
os que possuem mais possuirão sempre mais – a riqueza gera mais riqueza).
Se apenas houver justiça social, põe-se em causa a liberdade (porque
limita-se a liberdade dos indivíduos a poderem possuir mais bens do que o
número de bens que possuem).
Torna-se assim necessário a conjugação da liberdade e da justiça social,
para que uma sociedade possa ser justa.
Como exemplo ilustrativo desta injustiça de apenas se atender ou à
liberdade ou à justiça social, temos a situação das heranças. Enquanto as
heranças existirem, não partimos do mesmo lugar, porque haverá uns
indivíduos que possuirão mais bens do que outros e tenderão sempre a
possuir mais bens e a aumentar continuamente a sua riqueza. Esta é a
situação de apenas haver liberdade e não haver justiça social. Por outro
lado, se penalizarmos as grandes heranças, como, por exemplo, através do
pagamento de elevados impostos, estaremos a limitar os bens desses
mesmos indivíduos e, portanto, a limitar a liberdade dos indivíduos para
investir, enriquecer e fazer o que lhes apetecer com a sua herança. Esta é a
situação de apenas haver justiça social e não haver liberdade.
Ora, a tarefa de Rawls vai ser precisamente a de procurar conjugar na
sociedade a liberdade e a justiça social.
Mas, se o mundo é habitado por ricos e pobres, será essa tarefa
possível?
Rawls começa por descrever o modo como deve ser estabelecido o
contrato social, para que seja possível a promoção simultânea da liberdade
e da justiça social na sociedade.
A dificuldade que Rawls apresenta é precisamente a seguinte: Como
gerar um contrato no qual todos os indivíduos desejem a promoção
simultânea na sociedade da liberdade e da justiça social?
Para Rawls, o contrato social tem de ser estabelecido com base numa
total imparcialidade por parte de todos os indivíduos, ou seja, tem de ser
estabelecido sem que os indivíduos tenham nele qualquer interesse
particular.
Mas como vai ser isso possível?
Aqui Rawls revelou-se engenhoso.
Para Rawls, para que seja possível o estabelecimento de um contrato
social com base na imparcialidade, os indivíduos têm de o efectuar a partir
daquilo que Rawls denominou “VÉU DA IGNORÂNCIA”. O que é este “véu da
ignorância”?
O “véu da ignorância” é o desconhecimento por parte de cada indivíduo
da sua condição social e económica no momento do estabelecimento do
contrato social.
Qual é a vantagem do “véu da ignorância”? Vai possibilitar que, devido
ao desconhecimento da sua situação social e económica, os indivíduos
exijam uma organização da sociedade que seja dentro dos possíveis a mais
vantajosa e melhor para todos, não inferiorizando qualquer grupo de
indivíduos. Neste sentido, vão exigir que a sociedade promova os valores
básicos que permita a todos ter uma vida aceitável, designadamente a
mesma liberdade para todos e o mínimo de desigualdades sociais e
económicas.
Esta será então a resposta dos indivíduos (que estabeleceram o
contrato) à pergunta sobre o que é uma sociedade justa de uma forma
imparcial. Uma sociedade justa de uma forma imparcial é aquela que
promover de forma igual para todos a liberdade e a justiça social.
Percebe-se agora a intenção de Rawls em promover na sociedade a
liberdade e a justiça social:
1.º Rawls pretende estabelecer uma sociedade que seja o mais justa
possível;
2.º A liberdade e a justiça social são os valores que qualquer indivíduo
(devido ao desconhecimento da sua situação económica e social) desejaria
que estivessem presentes na sociedade e fossem acessíveis do mesmo modo
a todos os indivíduos;
3.º Logo, sem o acesso de todos os indivíduos de forma igual à liberdade
e à justiça social, não seria possível o estabelecimento de uma sociedade
justa;
4.º Logo, uma sociedade, para ser justa de uma forma imparcial, tem
de promover a liberdade e a justiça social de uma forma igual para todos.
Assim, a partir desta ideia de contrato social, vai ser possível que o Estado
tenha como objectivo fundamental a promoção da liberdade e da justiça
social, porque será aquilo que todos os indivíduos desejarão que a
sociedade promova.
Mas surge agora um problema: Como promover a liberdade e a justiça social
na sociedade?
Através respectivamente da promoção dos dois princípios seguintes
(precisamente os dois princípios que todos os indivíduos iriam querer que
existissem na sociedade):
1 – O princípio da igual liberdade.
2 – O princípio da diferença,
3- O princípio da igualdade de oportunidades.
Tal será então a tarefa do Estado.
Assim, o Estado deve garantir a todos os indivíduos o princípio da igual
liberdade, ou seja, a oportunidade de todos os indivíduos terem acesso da
mesma forma aos direitos que lhes garantam as liberdades básicas de forma
igual (direito à liberdade de expressão, direito de voto, direito à
propriedade privada,...). A partir deste princípio procura-se promover a
liberdade.
Por sua vez, o Estado deve promover o princípio da diferença e o
princípio da igualdade de oportunidades. O princípio da diferençaconsiste
em admitir na sociedade algumas desigualdades económicas e sociais, desde
que essas mesmas desigualdades possam servir em benefício dos mais
desfavorecidos. Exemplo: Se a minha fortuna duplicar e os indivíduos com
mais dificuldades económicas receberem cada um em troca 1 euro com esta
minha acção, então a acção que possibilitou a duplicação da minha fortuna
será justa para Rawls. Porquê? Porque também os mais desfavorecidos
beneficiaram com esta minha acção.
O princípio da igualdade de oportunidades consiste em garantir a todos
os indivíduos as mesmas oportunidades de acesso aos vários lugares na
sociedade, independentemente de ser de raça branca ou negra, rico ou
pobre, homem ou mulher. Desde que os indivíduos possuam as mesmas
capacidades e competências, têm as mesmas possibilidades de acesso a um
emprego.
A partir destes dois princípios, procura-se promover a justiça social.

Será correcta esta definição de igualdade, ou é uma ideia de igualdade


aritmética e não proporcional às necessidades de cada um?

É com base na promoção das ideias de liberdade e de justiça social na


sociedade que Rawls vai tomar uma posição em relação à desobediência
civil[1]. Para Rawls, a desobediência civil é uma prática justa ou, pelo
menos, aceitável. Quando é que a desobediência civil se torna uma prática
justa?
Rawls começa por referir que a desobediência civil apenas faz sentido
numa sociedade democrática, porque apenas nesta é possível a legitimação
da liberdade e da justiça social.
Mas, se numa sociedade democrática se promove a liberdade e a justiça
social, por que razão defende Rawls a desobediência civil?
A desobediência civil torna-se uma prática justa, quando a liberdade e
a justiça social não estão a ser promovidas de forma igual para todos os
indivíduos de uma certa sociedade. E com isto verificamos que mesmo as
sociedades democráticas não são sempre plenamente justas.
A desobediência civil torna-se, deste modo, uma forma de alertar a
sociedade para as injustiças que uma parte significativa da população está a
sofrer. Ao alertar para as injustiças, a desobediência civil serve igualmente
de fundamento para que se proceda a uma alteração de algumas leis que
estão a fomentar essas mesmas injustiças entre os indivíduos.
A desobediência civil assume-se assim em Rawls como uma prática
justa, ao surgir como uma forma de legitimação da liberdade e da justiça
social de um modo equitativo pelos vários indivíduos, condição essencial
para a estabilidade e ordem de uma comunidade.

[1]A desobediência civil é caracterizada por dois aspectos: 1.º a


desobediência civil é uma manifestação pública (porque é a única forma dos
manifestantes revelarem a toda a sociedade aquilo que pretendem); 2.º a
desobediência civil é uma manifestação não violenta (porque deste modo
estariam a cometer uma ilegalidade e a pôr em causa as suas aspirações).
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1 comentário

De Anónimo a 14.06.2021 às 00:04

Perfeito, muito mais esclarecedor que os manuais!


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