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Métodos de pastoreio: uma perspectiva alternativa a décadas de debate e


pouco avanço conceitual

Conference Paper · November 2019

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1 870

10 authors, including:

Paulo César De Faccio Carvalho Arthur Pontes Prates


Universidade Federal do Rio Grande do Sul Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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Fernanda Gomes Moojen Leonardo Silvestri Szymczak


University of Idaho Universidade Federal do Paraná
19 PUBLICATIONS   38 CITATIONS    20 PUBLICATIONS   45 CITATIONS   

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INTERACTIONS OF THE SOIL-CROP-ANIMAL-ATMOSPHERE COMPONENTS IN INTEGRATED CROP-LIVESTOCK SYSTEMS WITH SHEEP View project

Methane emissions mitigation through pasture management in an integrated crop-livestock system View project

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Capítulo publicado nos Anais do V Simpapasto
V Simpósio de Produção Animal a Pasto
21 e 22 de Novembro de 2019
Maringá - Paraná

Métodos de pastoreio: uma perspectiva alternativa a décadas de


debate e pouco avanço conceitual

Paulo C. de F. Carvalho, Arthur P. Prates, Fernanda G. Moojen, Leonardo Szymczak,


Pedro A. Albuquerque, Gentil F. S. Neto, Jean V. Savian, Lidiane Eloy, Anibal de
Moraes, Carolina Bremm
Métodos de pastoreio: uma perspectiva alternativa a décadas de
debate e pouco avanço conceitual

Paulo C. de F. Carvalho, Arthur P. Prates, Fernanda G. Moojen, Leonardo Szymczak,


Pedro A. Albuquerque, Gentil F. S. Neto, Jean V. Savian, Lidiane Eloy, Anibal de
Moraes, Carolina Bremm

Colocando os pingos nos is...

Este manuscrito não pretende comparar métodos de pastoreio. Evitaremos essa


perspectiva, pois não nos interessa debater qual seria o melhor1, mas sim discutir a
fundamentação conceitual que está por trás das diferentes proposições. Há muita querela
sobre esse assunto, e entendemos que as comparações sejam sobrevalorizadas, e mesmo
equivocadas. Equívocos de interpretação técnica, confusões entre rigor científico e a
experiência/observação prática, confusões entre relações de causa-efeito, de interação
taxa de lotação vs método, de escalas de observação de fenômenos, até questões de
interesse financeiro e mesmo político. Não pretendemos abordar este tema dentro desses
pontos de vista.

O intuito desse manuscrito é resgatar a discussão dos métodos de pastoreio pelo seu
objetivo primal, qual seja, o controle do processo de pastejo2. Nosso argumento é que a
despeito das diferentes proposições de métodos, todas convergem para uma “simples”
distribuição de animais no tempo e no espaço. É sob essa perspectiva que concluiremos
haver pouco avanço conceitual nos últimos anos.

Por fim, apresentaremos os conceitos de uma proposição de manejo do pastejo (Rotatínuo


– Carvalho, 2013), que podem ser aplicados tanto em pastoreio contínuo como em
rotativo, ilustrando como o conceito (fundamento) é mais importante que o método
(forma de executá-lo) em si.

O processo de pastejo na sua forma selvagem: como é feita a distribuição dos


animais em seu estado natural

Herbívoros pastejadores selvagens das savanas Africanas são exemplo do processo de


pastejo em seu estado bruto, aquele sem interferência antrópica. O ecossistema natural se
caracteriza pela diversidade de espécies animais e vegetais. Massas corporais variando de
16 a 450 kg (e.g., herbívoros pastejadores no Serengeti – Bell, 1971) convivem em
diferentes nichos alimentares definidos pela quantidade de biomassa e conteúdo químico
da vegetação.

O processo de alimentação de um herbívoro é o pastejo, uma arte cunhada por milhares


de anos de co-evolução planta-herbívoro (desde o Mioceno no caso dos pastejadores), e
que envolve o deslocamento, a seleção, e a apreensão da forragem para obtenção dos
nutrientes necessários a reprodução.

1
Para o leitor que se interessar por textos que comparam métodos de pastoreio, eis algumas sugestões:
di Virgilio et al. (2019); Ball et al. (1991); Maraschin (1986); t’Mannetje et al. (1976), Briske et al. 2008;
2
Focaremos no processo de aquisição de alimento. Distribuição de dejetos e impacto do casco não serão
tratados nesse manuscrito.
Migrações sazonais são a expressão do comportamento dos rebanhos frente a variações
climáticas. Não há cercas para impedir a movimentação dos animais, que pastejam
livremente expressando suas preferências, segundo estratégias de forrageamento que
minimizam a probabilidade de predação, enquanto permitam condição corporal para
reprodução.

Em estudo seminal sobre o Serengeti, Bell (1971) descreveu o processo determinante da


decisão de movimentação dos animais na região. Zebras, gnus e gazelas de Thompson se
movimentam para novos sítios alimentares quando os tecidos vegetais preferidos (folhas)
se tornam escassos ou difíceis de pastejar. Não se movimentam todos no mesmo
momento, mas sincronizados pelas massas corporais, da maior para a menor, na medida
em que há a depleção dos recursos preferidos.

A densidade de herbívoros (taxa de lotação) é definida, em última análise, pela produção


total de biomassa resultante do ambiente. Em anos chuvosos a produção de biomassa é
abundante, refletindo em elevadas taxas reprodutivas, aumentando por sua vez a
densidade de herbívoros. A natureza se autorregula, pois com o aumento da densidade de
presas aumenta a densidade de carnívoros, como hienas, guepardos e leões. E basta um
próximo ano seco para diminuir a biomassa vegetal disponível, com consequências em
cascata na densidade de herbívoros e de seus predadores. Enfim, a natureza é sábia, e
todos os processos naturais têm razão, sentido e equilíbrio. É o ajuste de carga na sua
versão selvagem.

Eis que surge o mais atinado de todos os seres vivos, o homem, que domestica alguns
herbívoros e passa a tomar frente, a gerenciar o processo de pastejo. Surge o pastoreio3,
a ação de guiar o processo de pastejo para oferecer alimento aos animais. É o que
discutiremos nesse manuscrito, seguindo a ótica comparativa com o savoir-faire natural
do herbívoro cunhado pela evolução natural.

A “involução” dos métodos de pastoreio

O ser humano vem buscando controlar o processo de pastejo desde a domesticação dos
animais, no período Neolítico, há cerca de 9,5 mil anos. Ao trocar a condição de nômade
caçador-coletor para se estabelecer em sociedades de cultivadores (Mazoyer & Roudart,
2010), a alimentação dos animais domésticos passou a ser responsabilidade do homem.
No caso dos herbívoros, os caprinos foram os primeiros a serem domesticados. Foi
quando surgiu o primeiro dos métodos de pastoreio, a primeira ação humana no sentido
de controlar o processo de pastejo: o pastoralismo. O pastoralismo é considerado uma das
formas de agricultura neolítica, que se estendeu predominantemente a regiões com
vegetação herbácea da Eurásia Setentrional, Ásia Central, Oriente Médio, etc., e ainda
existe em várias regiões do mundo.

O pastor representa a ação de guiar os animais em sua alimentação. A escolha do trajeto,


a velocidade de deslocamento e a duração total do trajeto definem a oportunidade de
alimentação do rebanho (Figura 1).
Lugar de
descanso

Fases da refeição
S

Abundância Relativa +
MA – Moderador de Apetite
EA – Estimulador de apetite
MA
PP – Primeiro Prato
PP I – Impulsionador
SP – Segundo Prato
SP EA
I2 S - Sobremesa
Área alvo
-

I1

- Palatabilidade Relativa +

Ações do pastor
Conduzir Conduzir Chamar Conduzir Conduzir Chamar

Fases da refeição
do modelo menu MA PP I1 SP
30
Taxa de ingestão (g MS/min)

25

20

15

10

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Tempo dispendido desde o início da refeição (min)

Figura 1. “Menu Model” de um pastor que conduz seu rebanho para uma área que tem
por objetivo utilizar. O pastor explora a diversidade do pasto para conceber sequências
de refeições que variam em abundância e interesse. Adaptado de Meuret (2014) e Meuret
& Provenza (2015).

O trajeto e o tempo do circuito são definidos entre opções de forragem que variam em
abundância e palatabilidade. As sequências que constroem as refeições propostas pelo
pastor são produto de um profundo conhecimento do meio natural, e do animal que nele
se alimenta. A Figura 1 ilustra as quatro fases da refeição de um rebanho de cabras
leiteiras. Dezenove plantas fazem parte da refeição apresentada, entre 62 forrageiras
disponíveis naquele ambiente. O resultado é uma velocidade de ingestão elevada, superior
a 10g de MS/min.

E eis que surgem as cercas (o fio de arame farpado foi considerado a maior invenção do
século XVII), mudando as relações do homem com o animal em pastejo. Uma
“descoberta” que distanciou o homem da necessidade de compreensão profunda das
necessidades, da manipulação de preferências, do entendimento das dinâmicas
comportamentais e variações de apetite do animal. Esse distanciamento não é um
fenômeno isolado, pois a desconexão da agricultura com a natureza é um processo global
(Gordon et al., 2017). Na agricultura, temos sofrido as consequências da perda de
biodiversidade e do desacoplamento dos ciclos biogeoquímicos por conta da
intensificação via uniformização. No que diz respeito aos ambientes pastoris, a mesma
natureza de processos se verifica: homogeneização (de plantas e animais) e super
utilização de recursos.

É nesse contexto que o controle do processo de pastejo, de forma geral, “regrediu” do


pastoralismo aos métodos de pastoreio hoje vigentes. De forma geral, a postura antrópica
frente ao controle do processo de pastejo tem evoluído no sentido de forçar os animais a
se ajustarem a um pretenso objetivo de uso do recurso forrageiro, que normalmente
significa “uso eficiente”, cujas reticências exprimem uma perspectiva do sábio homem
moderno. Implícito aos métodos de pastoreio está que é o homem o sabedor de onde e
quando os animais devem ser alocados.

Métodos de pastoreio: uma distribuição de animais no tempo e no espaço

Seguiremos as definições de Carvalho et al. (2009). Pastejo3 é o ato do herbívoro em


procurar, selecionar e colher seu alimento. Pastoreio significa a ação humana em
conduzir o pastejo. Portanto, métodos de pastoreio referem-se a métodos de condução
do pastejo pelo homem.

Esses métodos têm sido essencialmente definidos pela ótica do controle físico (cercas) e
temporal (permanência ou descanso) do pastejo (di Virgilio et al., 2019). A Figura 2 traz
um exemplo de como se agrupam os métodos de pastoreio sob essa perspectiva.

Formas de pastoreio com cercas


(número de piquetes)

Múltiplos
Piquete único
piquetes

Sem Pastoreio Pastoreio Rebanho Rebanho


pastoreio sazonal contínuo único múltiplo

Grandes Pequenos
períodos de períodos de Merrill
pastejo pastejo

Dinâmica da Dinâmica da Manejo Pastoreio


Pastoreio
vegetação vegetação HILF Mob Grazing
independente dependente Holístico Horário em Células

Pastoreio Rest- Rotação com


Santa Rita
rotativo Rotation Diferimento

Figura 2. Métodos de pastoreio segundo a quantidade de piquetes e o período de pastejo


(adaptado de di Virgilio et al., 2019).

Os autores somente discutem métodos que usam cercas, diferenciando-os em métodos


com um único piquete, ou aqueles com múltiplos piquetes, que por sua vez dividem-se
de acordo com o período de ocupação. A esquematização proposta por di Virgilio et al.
(2019) é oriunda de uma meta-análise que alcançou 427 publicações entre 1914 e 2017.
O foco do manuscrito é sobre campos naturais, motivo pelo qual não conste proposições
como o Pastoreio Racional Voisin (Voisin, 1957).

Os critérios de agrupamento de di Virgilio et al. (2019) expõem o nosso argumento de


que, a rigor, os métodos de pastoreio consistem, essencialmente, em variações da

3
Para fins deste manuscrito consideraremos apenas vegetações herbáceas e herbívoros pastejadores.
distribuição espacial dos animais (cerca) e do tempo, seja de ocupação, seja de descanso.
A definição do período de ocupação normalmente está relacionada com a rebrota das
plantas, limitado na perspectiva de que os animais não venham a pastejar a rebrota durante
o período de ocupação. A título de exemplo, este objetivo está explicitamente apresentado
na segunda lei universal do PRV: Le temps global d’occupation d’une parcelle doit être
suffisamment court pour qu’une herbe cisaillée le premier jour (ou au début) du temps
d’occupation ne soit pas de nouveau cisaillée par le dente des animaux avant que ceux-
ci quittent la parcelle (Voisin, 1957). Segundo a interpretação dos seus seguidores
(Machado, 2004), a lei diz que “se o pasto é cortado duas vezes pelo dente do animal
durante o mesmo período de ocupação da parcela, este pasto não teve um período de
repouso suficiente para atender o que determina a primeira lei (sic)”. No caso, primeira
lei refere-se a “Lei do Repouso”.

Também existem outros argumentos na definição do período de ocupação, como o


relacionado com o ciclo de desenvolvimento das larvas infectantes. Não obstante, o tempo
de ocupação pouco revela sem que a ele se associe a densidade animal, pois a massa de
forragem pós-pastejo é definida, em última análise, pela combinação entre tempo de
ocupação e densidade animal. Neste sentido, a predominância dos métodos propõe
combinações que terminam por produzir baixas massas de forragem pós-pastejo, no
intuito de buscar aumentar a eficiência de colheita, diminuir a seletividade, homogeneizar
a rebrota, controlar plantas indesejáveis, distribuir homogeneamente os dejetos, entre
outros.

É muito frequente o argumento de que o pastoreio contínuo seja a causa da degradação


dos pastos. O pastoreio contínuo é o método que predomina na pecuária de corte. A
degradação é usualmente interpretada pela queda da capacidade de suporte dos pastos, e
pelo aumento da área de solo descoberto e das plantas invasoras. Esse cenário sugere que
as plantas desejáveis estejam sendo pastejadas em excesso, e que a seletividade dos
animais penaliza as forrageiras de interesse. Porém, ainda que seja um sistema com
piquete único, há restrição à livre movimentação dos animais, ou seja, os animais estão
obrigados a permanecerem em determinada área e, portanto, o problema seria a restrição
do livre deslocamento, associado a usuais elevadas taxas de lotação, e não a seletividade.
A rigor, neste cenário há justamente restrições à “livre seletividade”, como ocorreria no
meio natural, e não excesso de seletividade.

Ao se propor qualquer das variações de pastoreio rotativo, as divisões de cercas


permitiriam o descanso/recuperação das plantas que o método contínuo não possibilitaria.
E o controle do período de ocupação asseguraria que não houvesse seletividade. Ou seja,
os métodos de pastoreio variantes do rotativo têm, por conceito de base, que a seletividade
animal seja algo prejudicial ao manejo dos pastos.

Com relação ao período de descanso, as definições dos diferentes métodos rotativos se


concentram na dinâmica de crescimento/rebrota das plantas. Como o pastoreio contínuo
não asseguraria o intervalo entre desfolhas suficiente para recuperação das plantas (mas
vide Figura 4), o método rotativo, ao garantir explicitamente esse descanso, permitiria
manipular o intervalo entre desfolhas para respeitar um “momento ótimo” para uso do
pasto, quando o acúmulo de biomassa e de reservas orgânicas estivessem em plenitude
para uso pelo animal.
É oportuno mencionar Humphreys (1997), pois ele resgata a visão do assunto em sua
trajetória através dos Congressos Internacionais de Pastagem, desde sua primeira versão
em 1937. Dentre os objetivos dos diferentes métodos de pastoreio, especificamente
aqueles que apregoam múltiplas cercas, quanto à definição do tempo de descanso, o autor
cita o acúmulo de biomassa em relação à curva sigmoide de crescimento do pasto, a
recuperação dos carboidratos não estruturais, do IAF, da interceptação luminosa, das
reservas de sementes no solo, dentre outros.

O momento ótimo para desfolha é, talvez, o componente do conceito de manejo de


pastagens mais abordado pela literatura. Um artigo que consideramos seminal é o de
Parsons et al. (1988), que propôs usar o atributo índice de área foliar (IAF) para raciocinar
sobre o funcionamento dos métodos de pastoreio contínuo e rotativo. Os autores não
fazem proposição de método, mas trazem fundamental avanço teórico para entendimento
do funcionamento dos métodos (Figura 3).

125

3
Taxa média de crescimento

2
1
kg MO ha-1 dia -1

0
Índice de área foliar médio

Figura 3. Relação entre a taxa de crescimento e o índice de área foliar em pastos sob
pastoreio rotativo (linhas tracejadas de 1 a 6) e pastoreio contínuo (linha contínua)
(adaptado de Parsons et al., 1988).

Parsons et al. (1988) demonstraram que a combinação de métodos de pastoreio e


intensidade de pastejo (taxa de lotação) geram contínuos de IAF distintos, e que é o IAF
resultante médio do piquete que define o ritmo de crescimento do pasto. Trata-se,
portanto, de uma resposta funcional que se suporta o entendimento fundamental deste
manuscrito, ou seja, a resposta em produção primária nada mais é que o produto de
combinações de distribuição de animais (+ ou -) no tempo e no espaço (+ ou -).

Proposições recentes usam outros parâmetros ecofisiológicos para fundamentar os


métodos de pastoreio, como o uso de atributos morfogênicos para definir o tempo de
descanso. Por exemplo, Cauduro et al. (2006) definiram intervalos de descanso pela
duração de vida da folha. O conceito implícito é o de que, após a saída dos animais, o
tempo decorrente para novo pastejo não seja superior ao tempo de vida das folhas
nascidas durante o intervalo. Já Barbieri et al. (2015) utilizaram a duração da elongação
foliar como critério de definição do tempo de descanso. Embora ambos os parâmetros
signifiquem um refinamento metodológico, não denotam avanço conceitual, pois
convergem em última análise a formas diferentes de variar a distribuição dos animais no
tempo.
Uma questão filosófica emerge dessa construção reflexiva: devemos propor métodos de
pastoreio para controlar o pastejo ou oportunizar o pastejo? A seleção de dietas, que os
animais cunharam ao longo de milhares de anos é algo bom, ou algo ruim? Os animais
devem comer o que querem ou o que nós queremos? Neste sentido, a Tabela 1 explicita
quais conceitos relacionados ao processo de pastejo são intrínsecos aos métodos e como
são interpretados.

Tabela 1. Interpretação das características e objetivos dos métodos de pastoreio frente a


parâmetros indicadores de controle do processo de pastejo.

Consumo
Seleção de Eficiência de Consumo
por unidade
dietas colheita por indivíduo
de área
Sem controle Sim Não Sim Não
Pastoralismo Sim Não Sim Não
Pastoreio Contínuo Sim Não Sim Não
Pastoreio Rotativo Não Sim Não Sim
Pastoreio Sazonal Sim Não Não Sim
Pastoreio Alternado Sim Não Sim Não
Pastoreio Horário Sim Não Não Não
Sistema Merril Não Sim Não Sim
Rest Rotation Não Sim Não Sim
Santa Rita Sim Não Sim Não
Diferimento Não Sim Não Sim
HILF Não Sim Não Sim
Mob Grazing Não Sim Não Sim
Manejo Holístico Não Sim Não Sim
Pastoreio em faixas Não Sim Não Sim
Primeiro-último Sim/Não Sim Sim/Não Sim
Pastoreio Frontal Não Sim Não Sim
Pastoreio Voisin Não Sim Não Sim
MiG Não Sim Não Sim
Pastoreio PUP Sim Não Sim Não
Interceptação Luminosa Sim Não Sim Não
Pastoreio Rotatínuo Sim Não Sim Não

A Tabela 1 foi construída de forma interpretativa. Alguns métodos trabalham


explicitamente contra a seleção de dietas, ou implicitamente via busca de eficiência de
colheita. Consequentemente, operam mais na maximização do consumo de forragem por
unidade de área, numa visão de uso eficiente do recurso forrageiro, do que na
maximização do consumo individual. Se depreende deste exercício interpretativo que a
maioria dos métodos de pastoreio multi cercas operam sob a perspectiva de controlar, e
não oportunizar o pastejo. Uma pequena diferença que produz toda a diferença.
Métodos de pastoreio sob a perspectiva do bocado

Se considerarmos que a unidade básica do processo de pastejo seja o bocado (Laca &
Ortega, 1995), isso significa que, em última análise, o pastoreio signifique a ação humana
em controlar o bocado. A conexão do pastejo com a vegetação é o resultado da ação do
bocado, ou seja, a desfolha, no que reside a essência da interface planta-animal. Mas então
o que seriam os métodos de controle do bocado?

No momento da colheita da forragem, o bocado é a ação de preensão da forragem,


usualmente descrito de forma volumétrica por uma profundidade e uma área. Cada
bocado representa uma decisão sobre qual planta colher, e qual componente morfológico
da planta colher. Enfim, onde alocar o bocado. Os animais proferem 107 bocados por ano,
selecionando locais de pastejo na escala de 104 por ano (Senft et al., 1987). O pastejo se
estrutura em períodos chamados refeições, cuja dinâmica constrói o tempo em pastejo e
o consumo diário. O ambiente interno do animal (saciedade, reprodução) e externo
(abundância de forragem, composição química) se modificam constantemente. Por
conseguinte, o pastejo que o ser humano pretende interferir é um processo complexo,
hierárquico e evoluído ao longo de milhares de anos.

No momento de o animal desferir o bocado, a rigor, nenhum dos métodos de pastoreio


tem total poder de definir exatamente o que o animal irá colher e onde irá colher.
Tampouco com qual intensidade ele irá desfolhar, pois os bocados seguem proporção, ou
intensidade, aproximadamente constante da altura do pasto (Carvalho, 2013). Wade
(1991) demonstrou explicitamente que a profundidade desfolhada de um perfilho é
constante e independe do método. O que o método de pastoreio faz, em última análise,
nada mais é que definir o local potencial de alocação dos bocados. Portanto, trata-se
essencialmente de uma intervenção espacial, definindo onde os animais poderão estar, e
onde os bocados poderão ocorrer.

Isto é feito pelos pastores, ao definir o trajeto do circuito de pastejo, ou pela distribuição
de cercas, sejam elas fixas, móveis ou virtuais. São formas de influenciar a probabilidade
de ocorrência de bocados numa determinada área. Já a intervenção sobre a seleção de
dietas e a intensidade de pastejo é feita de forma indireta, pela manipulação da densidade
animal e do tempo de permanência na área. Com isso, é possível aumentar a probabilidade
com que o animal venha a desfolhar várias vezes uma mesma área, alterando a preferência
por plantas ou partes das plantas, na medida em que os recursos forrageiros daquela área
vão sendo depletados. A seleção de dietas, fenômeno tipicamente evolutivo, é tratado
como algo negativo pela maioria das proposições de manejo, como vimos anteriormente.
Os animais preferem certas plantas e partes das plantas, não aproveitando tudo o que está
disponível. Forçar o consumo das partes menos preferidas, e com isso aumentar o uso do
pasto como um todo, é o conceito de eficiência de colheita, aquele que está por trás da
maioria das ações de manejo.

O tempo de descanso de uma área somente é controlado no pastoralismo e nas variações


dos métodos que usam múltiplas cercas. Eles existem no pastoreio contínuo, mas são
controlados indiretamente pela taxa de lotação (Wade & Carvalho, 2000), como pode ser
depreendido da Figura 4.
Frequência de

Frequência de desfolha (%)


Intervalo de desfolha (dias)
20
desfolha

10 Intervalo entre
desfolhas

5 8
Taxa de lotação (vacas.hectare-1)
(Pastoreio Contínuo)

Figura 4. Efeito da taxa de lotação na frequência de desfolha. O intervalo entre duas


desfolhas sucessivas é calculada pela média diária de perfilhos desfolhados (Wade &
Carvalho, 2000).

O intervalo entre desfolhações em nível de perfilho varia entre 5 e 18 dias em pastoreio


contínuo para taxas de lotação de 8 e 2 vacas leiteiras, respectivamente. Portanto, é
incorreto afirmar que não exista descanso no pastoreio contínuo. Ocorre que o descanso
não seja diretamente controlado, como o é no caso do pastoreio rotativo. É via controle
da taxa de lotação que se define, de forma indireta, o descanso após desfolha no método
contínuo.

Ao impedirem os animais de alocarem bocados em áreas específicas, e por períodos


definidos, o intervalo entre desfolhas é a ação de intervenção antrópica mais incisiva (para
o bem ou para o mau) sobre o processo de pastejo. Este tempo é comumente associado
com a rebrota das plantas e, portanto, tratado sob “perspectiva vegetal”. É sob esse
aspecto que predomina o histórico de proposições dos diferentes métodos, como vimos
no item anterior.

A despeito dos diferentes métodos de pastoreio advogarem diferentes objetivos em seus


preceitos, eles acabam por se assemelhar ao convergirem na manipulação da alocação dos
bocados em duas dimensões de interferência no pastejo: tempo e espaço. Os diferentes
tipos nada mais são que desdobramentos de combinações dessas duas dimensões.
Segundo di Virgilio et al. (2019), o número de divisões e a frequência de retorno no
piquete são as principais características a diferenciar os métodos, a despeito da
dificuldade de terminologia e precisão nas definições dos métodos.

Cabe aqui um comentário sobre os “experimentos” que comparam métodos de pastoreio.


Para não haver confundimento, o procedimento experimental exige que as comparações
sejam feitas numa mesma oferta de forragem, caso contrário se confunde a quantidade de
alimento com a forma de apresentá-la ao animal. Mas não é só isso. Como existe
interação entre método de pastoreio e taxa de lotação (vantagem explícita do rotativo em
situações de elevada lotação), as ofertas de forragem deveriam ser tais que não limitassem
o consumo. Ou pelo menos, no caso de estudo dessas interações, a comparação deveria
prever faixas de níveis de oferta de forragem comuns entre os métodos. Moojen et al. (em
prep.) exemplificam essa questão ao compararem durante 13 anos os métodos contínuo e
rotativo sob ofertas de forragem moderada ou alta. Além das ofertas serem as mesmas
entre métodos, o procedimento experimental se preocupou em que o tempo de ajuste das
ofertas fosse o mesmo tempo morfogênico, usando para isso o parâmetro duração de vida
da folha. Com esses cuidados, a comparação se torna justa e precisa. A análise detalhada
dos resultados de longo prazo por árvores de regressão indicou que o principal fator a
determinar o desempenho dos animais foi a altura média do pasto, métodos de pastoreio
não diferindo fundamentalmente entre eles. Isto introduz o parâmetro estrutura do pasto,
necessário para compreender os fundamentos do pastoreio rotatínuo.

Pastoreio Rotatínuo: um conceito de manejo disruptivo

O conceito de manejo denominado Rotatínuo (Carvalho, 2013) tem seu fundamento na


mesma unidade do processo de pastejo utilizado para interpretar os métodos de pastoreio,
ou seja, o bocado. Os estudos iniciais da concepção do Rotatínuo, nos anos 90, portaram
sobre o efeito da estrutura do pasto sobre o processo de ingestão. As relações de causa-
efeito estudadas eram típicas da área de interface planta-animal, e se avançou no
conhecimento básico dos determinantes estruturais do pasto no consumo de forragem.
Não obstante, tivesse ficado nisso, os trabalhos seriam como vários outros produzidos,
produção de conhecimento básico, mas ainda longe de constituir uma proposta de manejo.
Mas não ficou...

Os princípios do Rotatínuo se alimentam em fundamentos da ecologia do pastejo, em


particular na Teoria do Forrageamento Ótimo (OFT) de Stephen & Krebs (1986). Trata-
se de uma fundamentação teórica que alcança o processo evolutivo dos animais. O
Rotatínuo se utiliza dos princípios da OFT, redirecionados a condições específicas de
herbívoros pastejadores, e sob uma perspectiva particular. Enquanto a otimização na OFT
normalmente seja ilustrada pela recompensa em consumo de energia, o Rotatínuo aplica
a teoria da otimização no contexto da limitação em tempo. Neste sentido, assumimos que
o principal limitante ao consumo de forragem, e consequentemente ao desempenho
animal, em situações de pastejo, seja o tempo! O tempo necessário para aquisição do
alimento, ou em outras palavras, o tempo de pastejo. Desde já, é importante pontuar que
não desconsideramos os efeitos da composição química da forragem ingerida, mas
entendemos que na maior parte das situações de pastejo o limitante seja o tempo, já que
hierarquicamente o processo de ingestão seja anterior a digestão, de modo que a qualidade
da forragem somente limita quando não há limitação de ingestão.

Expliquemo-nos usando dois manuscritos seminais. O artigo de Charnov (1976) provê as


bases da OFT, onde o processo de alimentação é tratado do ponto de vista de otimização.
O ambiente alimentar é caracterizado por patchs (neste exercício assumido como
manchas de vegetação), que têm diferentes níveis de recompensa (e.g., biomassa). Para
fins de entendimento, assumiremos que os patchs distribuídos numa pastagem sejam de
dois tipos: o tipo B tem elevada biomassa, enquanto o tipo A tenha menor biomassa.
Ambos têm composição química semelhantes (Figura 5).
gi(Ti)=En*.Ti

Consumo de energia gi(Ti)


B

TA TB

Tempo no patch Ti

Figura 5. Tempo ótimo de uso de um patch segundo o Teorema do Valor Marginal de


Charnov. A figura ilustra o tempo ótimo de uso (TA e TB), ou o ponto ótimo para
abandono, de patchs com diferentes biomassas como sendo a tangente da curva de
consumo gi(Ti), e paralela à reta gi(Ti)=En*.Ti (vide Charnov, 1976).

Depreende-se que o consumo seja função do tempo de residência no patch. Assume-se


que em ambos os patchs a curva de consumo cumulativo seja assintótica. Portanto, no
caso de um animal que se alimente de forma otimizada, ele teria um tempo ótimo de
residência no patch, obtido matematicamente pela máxima linha tangente paralela à linha
que parte da origem na Figura Y. Atingido esse ponto, para que otimize o pastejo, o
animal deve abandonar o patch e passar para um novo, sendo o pastejo então uma
sucessão de movimentos de escolha e abandono de patchs (Teorema do Valor Marginal).

Na analogia de aplicação dos conceitos no Rotatínuo, os patches podem existir


distribuídos num piquete em pastoreio contínuo (o animal escolhe o patch e define o
tempo de residência nele), ou o patch pode equivaler a uma faixa num pastoreio rotativo
(o homem prepara o patch, e também define o tempo de residência). Os tempos de
ocupação numa faixa e a decisão de deslocamento dos animais para uma nova faixa, no
conceito do Rotatínuo, são espelhados no Teorema de Charnov.

O segundo artigo, de Bergman et al. (2001), tem sua originalidade ao dissociar os efeitos
quantitativos da biomassa disponível de sua qualidade, fazendo-os variar de forma
independente. Eles concluíram que os animais (o modelo animal utilizado foi o bisão) são
minimizadores de tempo, mais do que maximizadores de ingestão de energia. O tempo
de pastejo seria competidor com o tempo necessário a outras atividades, como aquele
envolvido nos processos reprodutivos e de vigilância, daí o processo evolutivo ter
selecionado a estratégia de minimização de tempo.

Os exemplos acima foram escolhidos para ilustrar um dos pilares do pastoreio Rotatínuo,
o de prover aquisição de forragem na menor unidade de tempo em pastejo. O parâmetro
escolhido para medir essa característica é o que denominamos velocidade de ingestão (ou
taxa de ingestão), cuja unidade normalmente é expressa em g de MS/min de alimentação.
Essa escolha leva à interpretação de que o Rotatínuo seja um conceito de manejo que
objetiva máximas taxas de ingestão em pastejo, o que não deixa de ser, muito embora o
princípio seja seu inverso, a minimização do tempo.
A otimização da velocidade de ingestão coincide com estruturas do pasto onde se
maximiza a massa do bocado (Carvalho, 2013). Assim sendo, novamente retornamos à
unidade básica do pastejo para ilustrar o conceito. Considerando que a profundidade do
bocado seja uma fração constante da altura da planta, o pasto nada mais seria do que uma
sucessão de bocados potenciais para o animal (Figura 6).

Bocados
potenciais
B1 B1 B1
Faixa B2 B2 B2
B3 B3 B3

Pré-pastejo Pós-pastejo

Figura 6. Bocados potenciais numa sequência teórica de pastejo por horizontes em


pastoreio rotativo (Carvalho et al. 2017).

Embora o conceito se aplique em qualquer método de pastoreio, ele é mais facilmente


ilustrado sob pastoreio rotativo. A densidade animal ou o tempo de ocupação, para fins
desse exercício teórico, são irrelevantes. A meta para entrada em uma nova faixa, definida
segundo os preceitos do Rotatínuo, é a altura pré-pastejo que maximize a velocidade de
ingestão. Para se conhecer essa meta, há que se realizar experimentos que ofereçam aos
animais pastos com diferentes alturas/estruturas e se medir a velocidade de ingestão com
as devidas metodologias (Carvalho et al., 2007). Por exemplo, em Tifton 85 a altura que
maximiza a velocidade de ingestão é de ~20 cm (Mezzalira et al. (2017), valor
aproximado para facilitar o exercício). Portanto, quando a faixa atinge esta altura, coloca-
se animais para pastejá-la. Quando os animais adentram a faixa, o que se apresenta a eles
é um dossel que assumiremos tenha exatos 20 cm, sem variações de altura. Esse dossel é
composto por uma sucessão de bocados que potencialmente podem ser colhidos pelo
animal. Assumindo um pastejo por horizontes (Baumont et al., 2004), onde cada bocado
colhe ~50% da altura, no momento de o animal desferir o primeiro bocado a área
constitui-se de um “empilhamento” de bocados (representados por cilindros com
profundidade e área).

Na Figura 6 isto está ilustrado por 3 camadas potenciais de bocados (nesta demonstração
assumiremos que esses animais não pastejam em alturas menores a 2,5 cm). A B1
representa os bocados da melhor camada, onde predominam folhas e onde as massas de
bocado são as maiores, pois a profundidade de bocado nesta camada é de ~10 cm. Numa
hipotética sequência de bocados até a colheita do último bocado, os animais teriam a
segunda camada B2, com profundidade de 5 cm e de qualidade intermediária, e a última
camada B3, com bocados de profundidade de 2,5 cm, com baixa qualidade e massa. Em
teoria, entre o primeiro bocado B1 colhido no início do período de ocupação e o último
bocado B3 estariam todos os bocados potencialmente colhíveis naquela faixa. A definição
da movimentação dos animais para uma nova faixa, numa perspectiva de eficiência de
colheita, seria passar os animais assim que o último B3 fosse colhido.
Porém, esse não é o conceito do Rotatínuo. Logo, se o objetivo for minimizar o tempo
via maximização da taxa de ingestão, qual seria o momento de movimentar os animais?
Esse é o momento onde se aplicaria o Teorema do Valor Marginal, entendendo o período
de ocupação de forma análoga ao tempo de residência no patch. Na medida em que a
tangente da curva de ingestão de energia sinalize a desaceleração da ingestão por unidade
de tempo na proposição de Charnov (1976), a analogia se aplicaria com o momento onde
se iniciasse o decréscimo da velocidade de ingestão dos animais na faixa. Este momento
foi sugerido por Carvalho (2013) como sendo o equivalente a 40% na redução da altura
de entrada (Figura 7).

0,20
0,18
Taxa de ingestão instantânea

0,16
0,14
-1
gMS.min.kg.PV

0,12
0,10
0,08 Sorgo
Festuca
0,06
0,04
0,02 Tifton

0,00
10 20 30 40 50 60 70 80 90
N ível de rebaixamento (%)

Figura 7. Velocidade de ingestão a partir do rebaixamento das alturas ótimas em pastos


de Festuca (ovinos), Tifton e Sorgo (bovinos). Adaptado de Carvalho (2013).

A intercepta do modelo duplo-segmentado representa a máxima velocidade de ingestão


na altura ótima de cada espécie. Os resultados com Tifton e Sorgo foram obtidos com
bovinos, enquanto os de Festuca foram obtidos com ovinos. A figura demonstra que a
despeito de animais diferentes e estruturas de pasto contrastantes, a velocidade de
ingestão diminui a partir da redução de 40% da altura de entrada. Este seria o momento,
no conceito do Rotatínuo, de movimentar os animais para nova faixa. Isso feito de forma
contínua, faixa a faixa, a resultante de ingestão do animal seria uma reta constante de
ingestão em sua máxima velocidade4. Assim definido, o tempo de ocupação resultante é
o tempo observado entre a altura relativa cair de 100 a 60, cuja velocidade será fruto da
densidade animal.

A explicação mecanística desse fenômeno está na sequência de uso dos bocados


potenciais a partir da entrada dos animais na faixa. No início do período de ocupação a
ingestão dos bocados B1 é amplamente predominante, mas na medida em que o período
de ocupação avança, a primeira camada sofre depleção e os animais se veem cada vez

4
No caso de a categoria animal utilizada não necessitar maximizar a ingestão, o controle do pastejo nada
mais é que o tempo de acesso ao pasto, devendo-se interromper a trajetória de rebaixamento (100-60)
no momento (quantidade diária ingerida) equivalente às necessidades nutricionais da categoria em
questão. Portanto, isto não muda as metas de manejo, pois o resíduo permanece tendo que ser 60% da
altura de entrada, pois assim definida a estrutura de saída dos animais há promoção da produção de MS
(não abordado nesse texto).
mais obrigados a pastejarem os bocados B2. Quando eles atingem proporção significativa
na dieta dos animais, a velocidade de ingestão inicia sua trajetória de decréscimo, cujo
final está no pastejo de bocados B3 no caso de que o período de ocupação avance para o
equivalente a 70-80% de redução da altura inicial.

Como se pode intuir, o conceito do Rotatínuo está em oferecer estruturas de pasto que
facilitem o processo de pastejo naturalmente “otimizador” dos animais. A aplicação desse
conceito em pastoreio contínuo é facilitada pela natureza do controle do momento de
entrada e de saída dos animais. Já sob pastoreio contínuo, a aplicação do mesmo conceito
atinge novo patamar de desafio. A despeito do menor controle dos animais, o conceito
não muda e o animal em livre pastejo deve encontrar as estruturas ideais por sua própria
conta. O controle da lotação buscando a manutenção de uma altura média ótima de
manejo deve prover a heterogeneidade de distribuição de diferentes alturas necessária
para o animal, dentro da altura média, encontrar as alturas ideais de maximização da
velocidade de ingestão. Neste contexto teórico, as maiores alturas existentes deveriam ser
as alturas maximizadoras da velocidade de ingestão, e as menores alturas de pasto
deveriam ser aquelas correspondentes à metade da altura ideal (pois representariam a
melhor altura desfolhada a 50%). Um contínuo de alturas existentes entre esses extremos
indicaria patches em distintos momentos da rebrota, e média de todos esses patches de
altura corresponderia à altura média ótima de manejo em pastoreio contínuo.

Ainda que não tenhamos explorado, por força da dinâmica redacional deste texto, os
impactos do conceito Rotatínuo no desempenho animal e na produção do pasto, nosso
objetivo é ilustrar que o método de pastoreio seja consequência do conceito de manejo, e
não o objetivo de manejo.

Considerações finais

Van Dasselaar et al. (2012), que coordenam o grupo de trabalho sobre pastejo da
Federação Europeia de Pastagens, concluíram sobre inovações no tema pastejo que o
pastoreio contínuo reemergiu como novidade na Europa. Eis um sintoma de que haja
pouco avanço conceitual, ainda que numa região que concentra enormes esforços de
pesquisa.

No meio científico predomina uma lógica segundo a qual o pastejo e o crescimento do


pasto sejam processos antagônicos. A perspectiva ecofisiológica do meio “grasslands”,
ilustrada pelas históricas equipes de North Wyke, Lusignan, Palmerston North, para citar
alguns exemplos, sempre tratou a desfolha como uma remoção de tecido fotossintético,
quase que pura e simplesmente. A perspectiva ecológica dos rangelands não é diferente,
exemplificada pelo dilema ecológico fundamental dos sistemas pastoris, tratado como
a impossibilidade de otimização da interceptação e conversão da energia solar em
produção primária e a eficiente colheita desta produção pelos herbívoros (Briske &
Heitschmidt, 1991). O conceito fundacional do modelo de manejo dos “rangelands” em
todo o século XX era “Clementesiano” (Frederic E. Clements, 1916) e definia a sucessão
vegetal como resposta linear à intensidade de pastejo (Briske, 2017). Depreende-se de
todo esse contexto, predominantemente de perspectiva vegetal, que a desfolha deva ser
controlada. Ato contínuo, os métodos de pastoreio, em conjunto com a definição de taxas
de lotação, têm sido as principais intervenções antrópicas no sentido de se controlar a
desfolha nos sistemas pastoris.
Controlar a desfolha não é o ponto central desta reflexão, e sim os objetivos para com
esse controle. Parece-nos, primeiramente, notório o desequilíbrio das perspectivas vegetal
e animal na definição desses princípios. Segundo, colocamos em perspectiva o conceito
de base desse controle. Há óbvio sentido de simplificação do processo de pastejo, no
sentido de subjugá-lo à perspectiva antrópica. Os animais em pastejo não fazem o que
acreditamos que deva ser feito, e, portanto, os métodos de pastoreio são criados para
obrigá-los ao comportamento devido.

O questionamento de um técnico que utiliza o método rotativo ilustra muito bem a questão
de fundo trazida por esse texto. Diz ele em seu Instagram: “Na sua fazenda é você quem
manda no gado ou o gado manda na fazenda e escolhe onde e o que comer?”. Esta
ilustração serve não somente para fomentar o uso de cercas elétricas, como é o caso acima.
O uso de drones, de imagens de satélite, enfim, de inúmeras ferramentas de pecuária de
precisão... nada mais são que meios a serviço do homem, cuja utilidade depende do
conceito com que são utilizados. Temos nos maravilhado com o incrível avanço do
mundo digital e das novidades da pecuária 4.0, deixando de refletir que o mais importante
é o conceito do processo, e não a ferramenta de controle. Um conceito incorreto levará a
que essas ferramentas sejam extremamente eficientes em... produzir equívocos. Pastoreio
de precisão nada mais será que novas ferramentas para fazer o errado por novas formas.

Em nosso conceito de manejo do pastejo partimos do seguinte axioma: A natureza está


sempre certa. Assim sendo, o primeiro passo para construir ambientes pastoris comerciais
é aprender com os animais em sua convivência com as plantas. Instruir-se sobre o
processo de pastejo e tentar oportunizá-lo nos sistemas comerciais com o objetivo de
produzir alimento e riqueza. Neste contexto, os métodos de pastoreio deveriam ter, por
objetivo, oferecer aos animais a oportunidade de exercer tudo o que aprenderam em seu
processo evolutivo, em sua plenitude. Sermos facilitadores do processo, mas temos
seguido exatamente o sentido inverso.

Numa analogia de nosso entendimento, discutir métodos de pastoreio é como estarmos


em um conjunto de pessoas, numa pizzaria, discutindo em quantos pedaços deveríamos
cortar as pizzas, colocando em segundo plano quantas pizzas precisaríamos para nos
alimentar, e quais sabores deveríamos escolher para satisfazer nossas necessidades. Há
um sentido invertido nesta discussão, há muito tempo. Discute-se com mais ênfase a
forma de distribuição dos animais no campo, mais do que as suas necessidades. O layout
das cercas parece ser mais importante que o design do ambiente pastoril e seus recursos
forrageiros planejados no tempo e no espaço. O número de divisões (i.e., cercas) tem
adquirido protagonismo que não encontra respaldo nas relações de causa-efeito da
interface planta-animal, pois o mais importante a definir a produção animal é a oferta de
forragem apresentada ao animal na sua estrutura de maior eficiência de ingestão.

Agradecimentos
Agradecemos ao Prof. André Sbrissia, da UDESC, pelos frutíferos momentos de
discussão sobre as ideias que este texto contém, ao que o leitor não deve interpretar como
concordância, mas tão somente raro modus operandi científico.

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Descrição dos Métodos de Pastoreio5

Pastoralismo
Com amplo conhecimento sobre a zona, as plantas e os animais, os pastores conduzem
diariamente os animais em área não cercada, oferecendo uma sequência de patches de
vegetação com diferentes características que proporcionam aumento de apetite e dieta
diversificada (Meuret e Provenza, 2015)

Pastoreio contínuo
Método de pastoreio onde os animais permanecem em uma área definida durante meses
ou anos. Em geral considerado um manejo extensivo, pois há pouco ou nenhum controle
sobre a seleção de dieta dos animais. Pode ter carga fixa ou variável de acordo com a
produção de forragem (Holeckech,1983; Allen et al., 2011).

Pastoreio sazonal
Pastoreio contínuo em somente alguma época do ano, determinada pelas características
climáticas, evitando eventos que impediriam o pastejo (e.g. neve ou chuva) ou
características vegetais (e.g. estação de crescimento e fenologia do pasto) (di Virgilio et
al., 2019).

Pastoreio Rotativo ou Intermitente


É definido como um sistema no qual os animais são sistematicamente deslocados para
diferentes subunidades de um potreiro (e.g. faixas, células ou piquetes) em intervalos de
tempo fixo ou variável de acordo com a estratégia de manejo (Allen et al. 2011). Grande
parte das estratégias de manejo consiste em derivações do pastoreio Rotativo.

Pastoreio Alternado ou Flip-Flop Grazing


Estratégia que utiliza dois potreiros em sucessão, mantendo período de ocupação e
período de descanso similar entre ambos (Allen et al. 2011).

Pastoreio Horário ou Limit Grazing


Em situações onde a pastagem não suporta todo o rebanho, limita-se o tempo de acesso
dos animais ao pasto. Também utilizado como uma estratégia onde os animais
permanecem em jejum e entram ao potreiro somente durante um curto período de

5
Os critérios para escolha dos métodos e conceitos envolvem a existência de publicações críveis e
abrangência de sua difusão e uso. Sendo resultado de nossa interpretação, não pretendemos que esta
lista seja considerada completa ou definitiva.
ocupação (e.g. 4 horas por dia), aumentando a taxa de ingestão para compensar pouco
tempo de pastejo (Gunter et al. 2001)

Sistema Merrill
Sistema que utiliza alternadamente 4 potreiros com 3 rebanhos. Cada rebanho permanece
continuamente por um ano na área e em seguida este permanece por um período de 4
meses sem utilização. Após um ciclo de quatro anos o período de descanso deve ter
ocorrido em todas estações do ano. É comum que cada um dos três rebanhos seja de uma
espécie (e.g. bovinos, ovinos, equinos) configurando um pastoreio misto (Holecheck
1983).

Rest-rotation system
Neste sistema, uma pastagem tem um ano completo de descanso, enquanto os outros
potreiros estão sendo pastejados. Geralmente, o sistema é composto por 4 potreiros que
são explorados sob diferentes esquemas de rotação onde somente 3 potreiros podem estar
sob pastejo simultaneamente. A principal dificuldade é quando a forragem acumulada
durante o período de descanso não é suficiente para suportar a alta pressão de pastejo
promovida durante o período de ocupação. Similar ao Sistema Merril. (Holecheck 1983;
di Virgilio et al., 2019).).

Santa Rita
Similar ao Rest-rotation system, mas com carga moderada e consequentemente
intensidade de pastejo moderada. Consiste em um sistema de rotação de um rebanho entre
3 potreiros ao longo de 3 anos, modificado pelo regime de chuvas de verão e a produção
de forragem em regiões áridas (Martin e Reynolds, 1973; Martin e Severson, 1988).

Diferimento
Análogo ao Pastoreio Sazonal. É restringido o acesso dos animais a um determinado
potreiro, permitindo acúmulo de forragem na área, para ser utilizada posteriormente.
Geralmente realizado na fase de maior potencial de crescimento da espécie (i.e., época
das chuvas na região Centro Oeste ou primavera na região Sul). Também promovido
como uma estratégia de produção de sementes (Sampson, 1951).

High intensity-low frequency (HILF)


HILF é um manejo que promove alta intensidade e baixa frequência de pastejo, sob
pastoreio Rotativo, com período de ocupação de mais de duas semanas e período de
descanso superior a 60 dias. São necessários pelo menos 3 piquetes para cada rebanho
(Holecheck 1983).

Pastoreio em faixas ou em células


Derivação do pastoreio Rotativo, consiste na divisão do piquete em faixas ou células onde
os animais permanecem em alta densidade por curto período de tempo (12 a 24h), e
consequentemente o período de descanso do potreiro é longo.

Primeiro-último ou Ponta-rapador:
Manejo em pastoreio Rotativo que utiliza dois rebanhos com requerimentos distintos
pastejando em sequência. Primeiramente o rebanho de maior exigência (e.g. vacas em
lactação) pasteja o horizonte superior, composto principalmente de folhas, seguido de um
rebanho de menor exigência (e.g. vacas secas) que pasteja o restante (Allen et al., 2011).
Pastoreio Frontal
Similar ao pastoreio em faixas, no entanto nesta estratégia a cerca se move
constantemente permitindo acesso a áreas ainda não pastejadas. Os animais têm acesso
livre a novas áreas, bem como a áreas já pastejadas. Diminui o pisoteio e a contaminação
com esterco nas áreas ainda não pastejadas (Volesky, 1990).

Pastoreio Racional Voisin (PRV)


Desenvolvido na década de 40 por André Voisin, é uma estratégia de manejo sob
pastoreio rotativo que segue quatro “leis” (Voisin, 1946):
1º Lei: para o pasto atingir sua produtividade máxima, um intervalo deve ter decorrido
entre pastejos sucessivos para permitir acúmulo de reservas em suas raízes;
2º Lei: O período ocupação deve ser suficientemente curto para que pasto não seja
repastejado pelos animais antes que eles deixem o potreiro
3º Lei: Os animais com maiores necessidades nutricionais devem colher a maior
quantidade de pasto da melhor qualidade possível.
4º Lei: O período de ocupação não pode ser superior a três dias.

Management intensive Grazing (MiG)


Muito comum nos Estados Unidos, essa estratégia sob pastoreio rotativo propõe aumentar
a eficiência de utilização e diminuir seletividade dos animais através de alta pressão de
pastejo (Hancock e Andrae, 2009).

Mob Grazing
Estratégia de manejo sob pastoreio rotativo que propõe alta densidade animal, alta pressão
de pastejo, curto período de ocupação e longo período de descanso (Allen et al., 2011).
Similar ao Manejo Holístico (veja abaixo).

Manejo Holístico ou Regenerativo:


Proposto por Allan Savory sob o argumento de mimetizar os animais selvagens, onde
supostamente a manada consumiria toda a biomassa disponível em um patch, para então
deslocar-se a procura de outro (Savory and Parsons 1980; Savory 1983). No entanto,
contraria diversas teorias ecológicas de forragemento de animais selvagens ou domésticos
(Charnov, 1976; Pike, 1984; Stephens and Krebs, 1986). Este método consiste em alta
densidade animal e curto período de ocupação (12h a 24h), levando a longo período de
descanso.

Conceitos para uso nos métodos de pastoreio

Interceptação Luminosa
Conceito de manejo em pastoreio rotativo que utiliza como critério de entrada 95% de
interceptação luminosa, momento no qual há maior acúmulo de folhas, sem alongamento
de colmos ou material senescente (Da Silva et al., 2015; Congio et al., 2018). O final do
período de ocupação é determinado pelo rebaixamento de 50% da altura inicial, visando
não penalizar a taxa ingestão dos animais (Fonseca et al., 2012; Carvalho, 2013).

Pastoreio Rotatínuo
Desenvolvido a partir de estudos sobre comportamento ingestivo dos animais, este
conceito de manejo visa maximização da taxa de ingestão (Carvalho, 2013). Esta
estratégia pode ser utilizada tanto em pastoreio rotativo como em contínuo. Em pastoreio
rotativo, utiliza-se como critério de entrada a altura do pasto que maximiza a taxa de
ingestão, e como critério de saída, 40% de rebaixamento da altura inicial, visando não
reduzir a taxa de ingestão. Em pastoreio contínuo, recomenda-se uma altura média entre
a altura de entrada e de saída, de modo que a heterogeneidade do pasto permita aos
animais selecionarem estações alimentares que maximizem a taxa de ingestão.

Proportion Ungrazed Pasture (PUP):


Recentemente desenvolvido, o PUP é uma proposição de manejo baseada na proporção
da pastagem não pastejada. De acordo com Benvenutti et al. (2015) e Benvenutti et al.
(2017), o consumo de MS diário é mantido enquanto os animais pastejam o primeiro
horizonte do pasto, sendo recomendado alocação dos animais em uma nova faixa ou
potreiro quando 90% deste horizonte foi pastejado. Sendo assim, somente pode ser
utilizada em pastoreio Rotativo. O momento de entrada é definido pelo número de folhas
de cada espécie, um parâmetro morfogênico.

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