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MIRACEMA DO TOCANTINS - TO
2022
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MIRACEMA DO TOCANTINS - TO
2022
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SUMÁRIO
1. Introdução..............................................................................................................................3
2. Fenomenologia.......................................................................................................................4
2.1 Husserl..................................................................................................................................4
3.0 Existencialismo.................................................................................................................... 5
3.1 Kierkegaard......................................................................................................................... 5
3.2 Heidegger............................................................................................................................. 6
4.0 Gestalt-terapia..................................................................................................................... 8
5.0 A loucura como fenômeno psicossocial............................................................................. 9
Referências...............................................................................................................................10
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1. INTRODUÇÃO
O filme “Beleza Oculta” (2017), dirigido por David Frankel, retrata a história de
Howard, personagem representado pelo ator Will Smith que não vê mais sentido na vida e
nada mais parece ter importância após a morte de sua filha. Os colaboradores de sua empresa,
que também são seus amigos, ficam preocupados tanto com ele, quanto com a empresa que
está a beira da falência e procuram o meio de ajudá-lo a reencontrar um sentido para a vida.
Os sintomas do luto do personagem, o levam a escrever cartas para propósitos que ele
acreditava conduzir sua vida e a organização da sua empresa, esses propósitos são: a morte, o
amor e o tempo. O enredo principal do filme, começa quando suas cartas são respondidas por
pessoas que simbolizam esses propósitos, atores contratados pelos integrantes da empresa,
com o objetivo de expor para o personagem que apesar de ele acreditar que eles possuem uma
parcela de culpa na morte da sua filha, ele precisava aceitá-los, pois são eles que constituem o
sentido de permanecer vivendo para os seres humanos.
O filme, apesar de apresentar como foco principal, a história da perda Howard, ele
dialoga entre a vida de todos os personagens, mostrando que todos eles também passavam por
momentos difíceis, mesmo que com intensidade e sintomas diferentes. Demonstrando assim,
como todos os enredos se desenvolvem por esse prisma do sentido da vida e
consequentemente, demandando uma maior percepção da morte, do amor e do tempo.
Desse modo, “Beleza Oculta”, produz uma série de reflexões sobre o sentido da vida e
sobre a importância de sempre alimentar essa busca por uma razão. Assim o presente trabalho
busca fundamentalmente esclarecer algumas perspectivas interseccionais onde se pode
articular o filme, em especial, às concepções fenomenológicas e existenciais, trazendo para a
baila alguns recortes do filme em associação aos conceitos de autores como Husserl,
Kierkegaard, Heidegger e outros trabalhados ao longo da disciplina de Psicologia da
personalidade IV.
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2. FENOMENOLOGIA
2.1 HUSSERL
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Edmund Gustav Albrecht Husserl (1859 - 1938) foi um filósofo e matemático alemão fundador da
escola fenomenológica.
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3.0 EXISTENCIALISMO
3.1 KIERKEGAARD
Que é exatamente o que ocorre com o personagem Howard, que após a morte de sua
filha fica recluso de todo o resto do mundo, passando a escrever cartas de ressentimento ao
tempo, amor e morte, optando por um determinado modo de existir em detrimento de outro.
Para esse filósofo da existência, a realidade não pode ser alcançada pelo puro ato do
pensamento. Segundo Kierkegaard, é a paixão que possibilita o ingresso no âmbito da
realidade. A existência também resgata o doloroso e escorregadio devir da realidade. Nesse
sentido, voltando ao filme, o protagonista se vê desprovido de paixão após esse
acontecimento tão abrupto na sua vida, é tanto que o mesmo escreve uma carta destinada ao
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amor, lhe dando adeus. Dessa forma, Howard passa a enfrentar essa dolorosa mudança da sua
realidade.
Ademais, Kierkegaard afirma que o homem segue deixando se levar pelas sensações e
pelos desejos, ampliando aquilo que considera como sendo sua liberdade de existir,
abandonando, para isso, todo e qualquer referencial. Em vista disso, pode-se pensar no
personagem Whit que deixou se levar pelo desejo e sensação e traiu sua esposa com a sua
secretária. No entanto, de acordo com esse filósofo existencial toda escolha traz uma
consequência e cada homem deve se responsabilizar por suas escolhas, é assim que surge a
angústia diante desse real estabelecido. Nessa questão, o personagem em questão se
responsabiliza pelas suas escolhas, seu casamento acabou e a sua relação com a sua filha se
tornou péssima, surgindo uma grande angústia nesse indivíduo acompanhada de
arrependimento e culpa.
Nessa linha de raciocínio, para Kierkegaard, o arrependimento e a culpa são os
sentimentos próprios daquele que estabelece uma relação de seriedade com a realidade,
responsabilizando-se assim pelas consequências da sua escolha. Portanto, é na angústia que o
homem se mobiliza no sentido de se apropriar de sua condição de liberdade.
Por fim, vale ressaltar o personagem Simon, que sofre de Mieloma Múltiplo mas não
consegue contar para sua família, negando assim a chance de seus familiares dizerem adeus e
tornando essa situação tão difícil ainda pior para ele mesmo. Nesse sentido, pode-se relacionar
com o pensamento de Kierkegaard, quando o mesmo diz que essa tentativa de escapar da
tensão e da angústia implica justamente a queda, que é quando o sujeito tenta escapar da sua
situação de vulnerabilidade.
Logo, ter consciência de sua situação permite uma atitude séria diante da própria
existência, quanto maior a consciência de sua situação existencial, maior é a liberdade.
3.2 HEIDEGGER
ontológica. Filosofia esta, que buscou superar o método husserliano em busca de interrogar o
próprio objeto que estrutura o movimento filosófico: a questão sobre o Ser e seu estar na obra
Ser e Tempo (Heidegger, 1995). Com isso, trata o Ser através de seu aspecto ontológico
fundamental: a existência em aberto, visto que está sempre lançado as suas possibilidades.
Porém, vale ressaltar que, essa possibilidade não se trata de uma liberdade idealizada, mas sim
mas sim coloca em questão trazer a si a pessoalidade de sua vivência, passando do estado de
ente para o ser (Feijoo, 2008).
Em concordância, torna-se necessário pensar a noção de ente, que para Heidegger, o
homem é um ente ek-sistente: “a compreensão do ser é em si mesma uma determinação do ser
do ser-aí. O privilégio ôntico que distingue o ser-aí está em ser ele ontológico.” (Heidegger,
2006, p. 48) e que, quando toca a noção de ente, estamos articulando a esfera ôntica, ou seja,
as coisas como são na esfera material e estão destinadas a ser o que já está dado. Assim,
podemos pensar a analítica existencial como um fazer que aproxime o ser-aí da sua
constituição ontológica, a reflexão que o aproxima de seu ser.
Dito isso, quando articula-se às proposições teóricas de Heidegger e o filme em
questão, Beleza Oculta (2016), observamos que Howard (Will Smith) ao vivenciar a morte de
sua filha percebe-se entificado e afastado de sua condição de ser-aí, ou seja, ao se deparar com
a angústia e finitude da vida, se relaciona a partir da factualidade; a mercê do determinismo
dos fatos (Giles, 1989). Não obstante, por Howard fazer parte de um aí histórico-temporal,
sua condição começa a afetar seus colegas de trabalho que buscam uma forma de tocar seu ser
e fazê-lo tomar decisões importantes coletivamente. Assim, Howard entra em contato com 3
âmbitos ontológicos da vida; O tempo, que o aponta para a finitude da vida enquanto
tempo-espaço, meio termo, contrariando:
Esse conceito vulgar de uma série de tempos, enquanto dado primário da existência
temporal, resulta da existência inautêntica cotidiana, onde o tempo aparece como
algo que passa momento a momento. (GILES, 1989, p.18)
silenciosa do falado, que é o âmbito misterioso que nos dirige a palavra.” (GILES, 1989, p.
38) assim, se apropriando de sua condição existenciária.
Em consonância com o exposto, a morte encarnada toca os colegas e Howard para
além da atuação, quando seu amigo com uma doença em estado grave, não conta sua situação
para sua família e Helen o diz que “não está morrendo direito”, direito esse que diz respeito
ao sorge (zelar-cuidar) e sua estrutura tri-partidária, pois seus familiares tem o direito de sentir
sua morte; uma vez que só experienciamos a morte através do outro (Fernandes, 2011).
Por fim, ao se tratar de Keira, o amor encarnado, se tornou fenômeno para além da
atriz, mas principalmente com sua ex-esposa, que se desdobrou como o amor enquanto
possibilidade ontológica de transformação através da beleza oculta compreendida por ela
(Heidegger, 2006); como a possibilidade de sentir a existência e a conexão com tudo. Assim,
esse cuidado possibilitou a reconquista do ser-aí que se perdeu no impessoal, mobilizando o
sentido daquilo que era mais próprio de sua existência, a sua angústia que clamava pela
propriedade (Feijoo, 2008 p. 6).
4.0 GESTALT-TERAPIA
Howard, ao refletir sobre o tempo durante esse processo de perda que modificou o
modo de expor seus afetos e emoções, pensa nesse fator como sendo duradouro e que foi
presente, mas que sua filha não pode aproveitá-lo. “Viver neste mundo é estar em uma relação
de controle do tempo. Isso, na prática, implica em um dever de viver intensamente, mas sem
sucumbir à sedução do presente.” (REIS, 2011). Desse modo, o personagem não vê mais
sentido na vida e nada mais tem importância após a morte de sua filha, pois agora ela não
pode mais aproveitar esse tempo.
A fenomenologia, tendo como característica a exploração dos fenômenos que
manifestam-se na consciência do homem, pensa no tempo como um movimento para aceitar
as coisas que precisamos lidar.
Quando essa abstração do Tempo passa a ser real na vida de Howard a partir do
personagem Jacob Latimore contratado pelos seus colaboradores, é exposta a ideia de que o
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tempo é presente para ele em todas as horas, mesmo quando ele o está desperdiçando. A
questão presente é que a partir da depressão, Howard compreende o tempo como sendo algo
indominável, excluindo a possibilidade de ver e conseguir se relacionar com o meio. O
passado é o seu principal obstáculo durante esse percurso. Do ponto de vista da experiência,
não existe presente sem referência intrínseca ao passado e ao futuro (Costa 2004).
Posto isto, ao ponderar-se a perspectiva de mudança na vida do personagem, podemos
pensar em consonância com o autor (Reis 2011); para que haja mudança, segundo a visão
gestáltica, o indivíduo precisa se apropriar de si e integrar suas polaridades. Tem que se
reconhecer, aceitar-se para poder mudar. No ponto de vista gestáltico, faz-se necessário que o
indivíduo tenha essa flexibilidade de mudança. Quando deprimido, o sujeito tem suas
emoções barradas por situações passadas que ocasionaram tal sentimento, cabe a ele portanto,
estar disposto a considerar a possibilidade de mudanças trabalhando seu trauma.
REFERÊNCIAS
BELEZA OCULTA. Direção: David Frankel. Produção de Michael Sugar. Estados Unidos:
Warner Bros, 2016. 1 DVD.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Bragança Paulista: Edusf; Petrópolis: Vozes, 2006.