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O argumento do mal

Milhões de pessoas sofreram, sofrem e vão sofrer doenças ou fome, morrendo muitas
vezes em sofrimento. Este sofrimento é acompanhado pela infelicidade da
desesperança e a infelicidade pela incapacidade de se ajudarem umas às outras, por se
sentirem impotentemente compelidas a olhar em frente. Milhões de pessoas sofreram
pela guerra e tortura. Nas vidas mais mundanas, e mais felizes, um grande número de
pessoas sente pesar pela morte dos seus amigos e familiares; um grande número de
pessoas sofre com condições de trabalho transtornantes, e por aí fora. Biliões de
animais são devastados pela dor ou são devorados por outros animais, sofrendo estes
por sua vez quando são devorados por outros. (…)
Uma atitude comum das pessoas que acreditam em Deus é falar sobre o valor do livre-
arbítrio. O livre-arbítrio torna o mundo num lugar melhor: é melhor ter agentes livres
do que robôs, é melhor ter pessoas que escolhem livremente praticar boas ações do
que estar predeterminado ou predestinado a praticá-las. No entanto, ter livre-arbítrio
significa que as pessoas têm a opção de infligir o mal e podem escolhê-la. (…)
A defesa do livre-arbítrio só funciona, se é que funciona, em relação ao bem e ao mal
causado pelas pessoas. Existem dúvidas acerca do que é o livre-arbítrio, mas mesmo
pressupondo que encontramos um sentido para isto, não existe qualquer razão para
acreditar que as pessoas causaram livremente tremores de terra, erupções vulcânicas,
inundações e doenças.
P. Cave, Duas Vidas Valem Mais do Que Uma?, Academia do livro, 2008, pp. 37-39.

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