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*SOBRA AS ESCOLHAS*

Nós devemos refletir muito sobre nossas escolhas. Devemos


evitar as escolhas inflexíveis, ou seja, aquelas que impedem de
ser refeita, quando o caminho escolhido se mostra impeditivo de
uma volta tal a radicalidade da escolha. A boa escolha é aquela
que não apostamos tudo nela. É preciso considerar que uma
escolha é multifatorial: idade, conhecimento do momento,
desilusão, erros de cálculo e desvalorização da escolha devido a
volatilidade da vida marcadas pelo capitalismo toytista. O mundo
onde relações sociais e produtivas são marcadas pela
efemeridade deixar as portas abertas para poder recuar e fazer
novas escolhas.
A vida de um animal não humano não tem escolhas ontológicas.
Satisfazer as necessidades de sua natureza e seguir a vida, não há
escolhas. Nas sociedades humanas tradicionais, não havia
necessidade de fazer escolhas. O futuro de cada ser humano era
herdado das estruturas sociais as quis ele estava inserido. Não
havia a angústia da escolha errada.
Mas em nossa sociedade complexa de alta diferenciação
funcional, diversidade religiosa, multiplicidade de estilos de
vida... A escolha nos leva a sempre nos questionar se foi a
acertada. Apesar do conjunto de escolhas não ser a mesma para
todos, ela se amplia de acordo com o aumento proporcional de
capital cultural e econômico de cada indivíduo, mesmo assim, a
vida moderna é feita de escolhas. Quanto de nós já mudamos de
ideias diante de escolhas equivocadas que fizemos? Esse é a
grande questão ontológica da humanidade.
Bauman, em seu livro, Comunidade, li em 2005, escreve que
muitas pessoas fazem suas escolhas baseadas nos números. Se a
maioria prefere um caminho é melhor segui-las, acreditam que a
chance do erro é menor. E como seguir a moda.
Por outro lado, o poeta Caso Drummond de Andrade faz
objeções a coisificação humana, a reificação ao seguir a moda de
forma compulsória e perder sua individualidade. Segundo
Drummond:
[...} " É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário [...]
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.”

O pagodeiro Zeca Pagodinho tem uma fórmula para resolver a


angustiante questão das escolhas. Não fazer escolhas e deixar a
vida nos levar. Mas isso é uma escolha. É impossível não fazer
escolhas. E essa escolha implica num hedonismo imprevisível.
Isso é tão arriscada quanto qualquer outra escolha. Talvez a que
nos leve a lugar algum: o hedonismo é uma doutrina, ou filosofia
de vida, que defende a busca por prazer como finalidade da vida
humana. Mas qual garantia que conseguiremos sempre o prazer?
Freud, em seu livro o Mal-estar na Cultura, escreve que viver em
sociedade implica em castração das pulsões do principio do
prazer em detrimento do principio da realidade que reconhece
que não existe felicidade duradoura porque o homem está
sujeito a forças alheias a sua vontade que impedem a realização
da felicidade hedônica: “o poder devastador e
implacável das forças da natureza, a ameaça de
deterioração e decadência que vem de nosso próprio
corpo, e o sofrimento advindo das relações entre os
humanos”.
Esse é o maior desafio de nossas vidas. Fazer a escolha
certa.
Sergio B do Santos

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