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A filosofia da religião constitui o exame crítico dos conceitos religiosos fundamentais e das
crenças religiosas fundamentais.
Deísmo- Deus é criador mas não intervém nem se importa com a criação.
Ateísmo- O Deus teísta não existe. (Neste sentido, o ateísmo opõe-se ao teísmo).
Agnosticismo- A razão humana é incapaz de justificar a crença de que Deus teísta existe ou
a crença de que ele não existe.
Uma vez que sabemos que o Universo existe, podemos presumir que toda uma série de
causas e efeitos o produziu tal como ele é hoje. Se seguirmos essa série retrospetivamente,
encontraremos uma causa original, uma causa primeira, a que está na origem de todas as
causas e de todos os efeitos posteriores. Essa causa primeira é Deus.
Este argumento pressupõem que a cadeia causal não pode recuar indefinidamente: teremos de
chegar a uma causa primeira, que origina toda a cadeia causal.
2. Se tudo tem uma causa então segue-se que o universo também tem de ter uma causa, dado
que o universo é algo que existe
4. Se a cadeia causal não regride infinitamente, então tem de existir uma primeira causa
5. Logo, existe uma primeira causa (que não é causada) à qual chamamos Deus.
Críticas ao argumento cosmológico
A principal premissa do argumento – a de que todas as coisas são causadas por uma
outra coisa – assenta na nossa experiência de como as coisas são neste mundo ou no
Universo. Todavia, o argumento pede-nos que estendamos tal ideia àquilo que terá
feito existir o Universo. Ora isso é algo que está fora da nossa experiência, visto que
está fora do Universo. A nossa experiência não pode de todo esclarecer isso.
Este argumento envolve uma autocontradição: defende, ao mesmo tempo, que 1)
todas as coisas foram causadas por qualquer outra coisa, não havendo causa que não
tenha sido causada, e que 2) existe uma causa que não foi causada por outra coisa:
Deus. A principal premissa do argumento contradiz, assim, a sua conclusão. Podemos
então ser levados a perguntar: “E o que causou Deus?” Alguns filósofos dizem que
Deus é causa de si mesmo (causa sui), mas a ideia de algo ser causa de si mesmo, no
sentido de se gerar a si próprio, parece bastante obscura. Se se objetar que tudo,
exceto Deus, tem uma causa, e admitindo que a cadeia de causas tem de parar algures,
podemos perguntar por que razão esse algo incausado é Deus e não o próprio
Universo.
Este argumento pressupõem que não há uma regressão infinita na série de causas e
efeitos. No entanto, da mesma maneira que é possível existir uma cadeia infinita de
causas e efeitos que necessitaria de uma causa primeira para substituir, é igualmente
possível existir uma cadeia infinita de causas e efeitos que substituía sem necessidade
de uma primeira causa. As cadeias de causas e efeitos podem regredir e estender-se
infinitamente.
Ainda que este argumento nos possa convencer na existência de um deus, encarado
como causa primeira, existem sérios limites ao que pode ser concluído a partir de tal
argumento, não havendo razões para pensar que estejamos perante um Deus teísta. A
primeira causa é certamente muito poderosa, mas o argumento não garante que seja
um deus todo-poderoso ou omnipotente (a causa originária pode, inclusive, consistir
numa equipe de seres). Em segundo lugar, este argumento também não apresenta
nenhuma boa razão para aceitar a existência de um deus omnisciente e sumamente
bom. Isto porque uma primeira causa não tem necessariamente de ter esses atributos.
Finalmente, quem propõem este argumento fica ainda como problema de saber como
pode uma divindade omnisciente, omnipotente e sumamente boa tolerar o mal que
existe no mundo.
Argumento teleológico
Se considerarmos o olho humano, por exemplo, constatamos que ele é feito de partes que
funcionam conjuntamente de formas intrincadas e complexas. Essas partes adaptam-se entre
si e cada uma delas está judiciosamente adaptada àquilo para que aparentemente foi feita, ou
seja, para assegurar a visão.
Perante este cenário, podemos perguntar se tudo isto terá surgido por acaso ou se foi, pelo
contrário, obra de um criador inteligente.
Inferimos corretamente que um relógio foi feito por um criador inteligente, porque ele tem
partes que funcionam conjuntamente ao serviço de um propósito ou finalidade.
A entidade que dirige essas entidades desprovidas de inteligência terá de ser dotada de
inteligência e conhecimento. Logo, existe um ser inteligente e cognoscente pelo qual todas as
coisas naturais são dirigidas e orientadas para um fim. Esse ser é Deus.
Críticas ao argumento teleológico
Argumento ontológico
Há diferentes versões deste argumento, uma das versões foi apresentado por Anselmo de
Cantuária.
Suponhamos que alguém diz que o Minotauro não existe. Como para negar inteligivelmente a
existência de algo é preciso ter esse algo em mente, segue-se, de acordo com Anselmo, que,
se alguém diz que algo não existe, esse algo existe no seu entendimento. Assim, dizer que o
Minotauro não existe equivale a afirmar que o Minotauro existe no entendimento, mas não na
realidade – ou seja, que ele existe apenas no entendimento.
Ao dizer que Deus é “alguma coisa maior do que a qual nada pode ser pensado”, Anselmo
está a considerar que Deus possui todas as qualidades num máximo grau de grandiosidade ou
perfeição. Deus não tem limitações nem imperfeições: é perfeito no conhecimento, no poder,
na bondade e em tudo o que possamos imaginar. Ora, é mais grandioso ou perfeito existir (na
realidade) do que não existir (ou existir apenas no entendimento). Deste modo, a existência
constitui um dos aspetos da grandiosidade ou perfeição de Deus (um ser perfeito não seria
perfeito se não existisse). Daqui se conclui que Deus existe na realidade.
Podemos agora resumir o argumento de Anselmo da seguinte forma:
Deus é um ser maior do que o qual nada pode ser pensado ou concebido.
Deus existe no entendimento (visto que compreendemos o conceito de Deus).
Um ser que existe no entendimento e na realidade é maior do que um ser que existe apenas no
entendimento. Se Deus existe
apenas no entendimento, então podemos conceber algo maior do que Deus. Mas não
podemos conceber algo maior do que Deus (é contraditório supor que podemos conceber um
ser maior do que o ser maior do que o qual nada pode ser concebido). Logo, Deus
existe tanto no entendimento como na realidade.
O fideísmo de Pascal
O fideísmo é uma doutrina que sustenta a incapacidade da razão humana para alcançar
determinadas verdades, considerando ser necessário a introdução da fé. Admitindo a
existência de verdades de fé, e a supremacia da fé relativamente à razão, os fideístas
defendem que tais verdades possuem um valor igual ou superior ao das verdades obtidas pela
ciência e pela razão.
Fideísmo moderado - a fé vai par além da razão, mas não está em contradição com ela.
Um dos autores que defendeu a perspetiva fideísta, neste caso, um fideísmo moderado, foi o
filósofo Blaise Pascal. Pascal considera que a fé pode ser racional na ausência de provas.
Assim a fé é racional num sentido prudencial, não num sentido epistémico. Pascal procura
fornecer razões prudenciais para acreditar em Deus. Em seu entender, devemos acreditar em
deus não porque haja boas provas da sua existência, mas por causa dos benefícios, vantagens
ou recompensas que tal crença nos pode trazer se vier a revelar-se verdadeira. Neste sentido,
a crença de que Deus existe não precisa de provas para ser apropriada.
Na sua defesa da fé, Pascal tinha a convicção de que a crença em Deus não pode ser
sustentada por meio dos argumentos tradicionais. A própria natureza de Deus - um ser
infinitamente incompreensível - torna esses argumentos necessariamente inadequados.
Não podemos resolver o problema de saber se Deus existe ou não com base apenas na razão:
as provas da existência de Deus, tal como as provas da sua não existência, não são
conclusivas.
Poeremos então pensar que o mais seguro e racional será recusar tomar uma posição, ou seja,
permanecer agnóstico. Porém, Pascal argumenta que isso não é possível: não escolher
acreditar é equivalente a escolher não acreditar.
O que temos, pois, a ganhar ou a perder se apostarmos em Deus? E o que temos a ganhar ou a
perder se apostarmos contra Deus? Quais os benefícios e custos de cada opção?
Se optarmos por acreditar que Deus existe e tivermos razão, ganhamos a felicidade eterna; se
nos enganarmos é pouco o que perdemos.
Se optarmos por não acreditar que Deus existe e tivermos razão, não perdemos nada, mas o
que ganhamos não é significativo. Se, todavia, estivermos enganados, as nossas perdas serão
imensas: na melhor das hipóteses perdemos a felicidade eterna; na pior, seremos condenados
para sempre.
O problema do mal
Quando admitidos a existência do Deus teísta: um Deus criador, sumamente bom,
omnipotente, omnisciente e com total domínio e controlo sobre o mundo. Como é que Deus,
tendo esses atributos, pode ter criado um mundo que contenha uma abundância de mal tão
vasta como aquele em que vivemos?
Mal moral - é o mal causado pelos seres humanos, através de ações mais ao menos
deliberadas (como assassínios, guerras, roubos e mentiras), traduzindo-se no sofrimento de
outros seres humanos e também animais.
Feita esta distinção, é relevante estabelecer a distinção entre duas versões do problema do
mal
Uma vez que dificilmente podemos negar a existência de mal no mundo, parece que temos
que rejeitar a crença no Deus teísta.
Exposto o problema lógico do mal, passemos agora ao problema indiciário. Será que a
diversidade e a abundância de mal no mundo nos dão uma base racional para acreditar na
inexistência de o Deus teísta?
Se o sofrimento intenso conduzir a algum bem superior, um bem que não se poderá obter sem
esse sofrimento, poderemos concluir que tal sofrimento é justificado, embora continue a ser
um mal. Existem, no entanto, casos de sofrimento intenso que, aparentemente, não conduzem
a qualquer bem.
O argumento de Leibniz
Leibniz criou o termo teodiceia, para designar a investigação destinada a explicar a existência
do mal e justificar a bondade de Deus. Uma teodiceia é, assim, uma tentativa de defender a
bondade, a santidade e a justiça de Deus, mostrando que elas são compatíveis com o mal.
Assim admite-se que o mal está integrado nos desígnios de Deus.
Segundo Leibniz, Deus escolheu e criou, de entre infinitos mundos possíveis, o melhor de
todos. Porque é omnipotente, pôde criá-lo; porque é omnisciente, conheceu-o e soube como
criá-lo; porque é sumamente bom, escolheu-o e quis criá-lo.
Há, portanto, um número infinito de mundos possíveis nas ideias de Deus, mas apenas um
veio à existência. Deus, que podia realizar uma infinidade de mundos possíveis, realizou o
melhor dos mundos. “Melhor” significa, neste contexto, “o mais perfeito possível”.
Qual é, então, a razão suficiente para que Deus tivesse criado este mundo? Deus criou este
mundo, e não um outro diferente, porque este é melhor de todos os mundos possíveis.
Qualquer outro mundo seria inconsistente com a perfeição de Deus.
Além disso, Leibniz considera que no melhor dos mundos existem males, mas que não há
nele males gratuitos.
Este filósofo divide o mal em três tipos: o mal metafísico, que consiste na mera imperfeição,
o mal físico, que consiste no sofrimento, e o mal moral, que consiste no pecado.
O mal metafísico - que Leibniz viu como a derradeira fonte da qual derivam os outros males -
consiste na imperfeição das coisas criadas, dotadas ou não de inteligência. O facto de as
coisas terem sido criadas determina-lhes limites. Apenas Deus é infinito, perfeito e completo.
Leibniz defende que Deus não poderia dar tudo à criatura sem fazer dela um Deus. Por isso,
deve haver diferentes graus na perfeição das coisas e limitações de todo o tipo.
Em relação ao mal físico, Deus quer esse mal muitas vezes como uma pena (castigo ou
punição) decorrente da culpa, e também para prevenir males maiores ou obter maiores bens.
Além disso, o mal físico serve frequentemente para melhor saborear ou apreciar o bem e, por
vezes, contribui para uma maior perfeição daquele que o sofre.
Quando ao mal moral, podemos dizer que Deus permite o pecado, mas não é responsável por
ele. O mal moral é originado pelo exercício do livre-arbítrio. Para Leibniz, é preferível um
mundo onde haja criaturas com livre-arbítrio, apesar do mal que daí possa resultar, do que um
mundo sem mal moral nem livre-arbítrio.
O mal moral, o mal físico e o mal metafísico fazem, portanto, parte da ordem do mundo. A
ocorrência de certos males no mundo pode ser necessária para se obterem bens maiores, que
superam esses males. Num exemplo apresentado por Leibniz, um general do exército
preferirá uma grande vitória com uma lesão leve do que uma situação sem lesão e sem
vitória. Uma imperfeição na parte pode ser necessária para a perfeição no todo.
Não existem males gratuitos, os males que nos parecem gratuitos (como o sofrimento do
corço) não o são efetivamente. Trata-se, antes, de componentes fundamentais de bens
maiores que Deus criou.
É discutível a ideia de que o mal físico é um castigo pelo mal moral. De facto - pelo
menos se apenas considerarmos esta vida que vivemos -, nem todos os seres humanos
são castigados pelos males que praticaram. Além disso, o mal físico atinge tanto as
pessoas perversas como as pessoas virtuosas e, muitas vezes, mais estas do que
aquelas.
Admitindo que temos efetivamente livre-arbítrio, podemos pôr em causa a ideia de
que um mundo com livre-arbítrio e a possibilidade do mal moral é preferível a um
mundo sem livre-arbítrio nem más ações. Com efeito, o sofrimento decorrente da
maldade humana pode ser tao terrível que muitas pessoas preferiam, em vez de ter de
passar por tal sofrimento, que toda a gente tivesse sido pré-programada para só
praticar o bem. Deus poderia, inclusive, ter criado estes seres pré-programados de tal
modo que eles acreditassem possuir livre-arbítrio e, assim, usufruíssem de todos os
benefícios que essa crença lhes traria, sem terem nenhuma das desvantagens.
A resposta de Leibniz ao problema do mal parece ser arbitrária. Perante a existência
de males aparentemente gratuitos (como casos de sofrimento extremo), Leibniz
limitar-se-á a dizer que esses males são componentes fundamentais de bens maiores
que Deus criou – e que não sabemos que bens são esses porque somos limitados. No
entanto, surge aqui uma dificuldade muito séria: se somos limitados para saber que
bens maiores são esses que superam e dão sentido aos males aparentemente gratuitos,
também somos limitados para saber, por exemplo, se Deus existe ou não, ou para
saber se, existindo, ele criou o melhor dos mundos.