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O argumento da causa (ou da causa primeira, como às vezes também é designado) pode ser
enunciado da seguinte forma:
Tudo o que acontece tem uma causa ou agente activo e esta causa ou agente também tem uma
causa. Contudo, não pode haver uma regressão infinita nas cadeias de causas. Porque se não
houvesse uma causa primeira, não existiriam causas subsequentes e, portanto, também não
existiriam nenhuns dos efeitos actualmente existentes. Assim, as cadeias de causas e efeitos
causados implicam uma causa primeira ou uma causa que não seja causada por nada, isto é,
Deus.
Este argumento é muito simples e elegante e, por isso, muito persuasivo. Contudo, é
conveniente que olhemos para ele com um pouco mais de atenção. A sua primeira premissa é a
seguinte:
Tudo o que acontece tem uma causa ou agente activo e esta causa ou agente também tem uma
causa.
Esta premissa limita-se a afirmar algo que é do conhecimento comum e que a observação nos
revela no dia-a-dia vezes sem conta: tudo o que acontece tem uma causa. Isto é tão evidente que
não levanta qualquer dificuldade.
O mesmo não se pode dizer da segunda premissa:
Não pode haver uma regressão infinita nas cadeias de causas.
Esta premissa, ao contrário da primeira, faz uma afirmação para a qual não pode ser apresentada
qualquer evidência empírica conclusiva. Conhecemos, claro, muitas cadeias causais completas e
nesses casos não temos quaisquer dúvidas de que tiveram começo. Mas, há muitas cadeias das
quais só conhecemos um pequeno fragmento ― aquele constituído pelas causas e efeitos que
pudemos observar ―, e nestes casos é impossível ter a certeza, com base apenas na experiência,
que a cadeia teve um começo. Por este motivo, a experiência é insuficiente para estabelecer a
segunda premissa e São Tomás tem de recorrer a um argumento.
Este argumento é uma redução ao absurdo com a seguinte forma:
Primeira premissa: Se não houvesse uma causa primeira (isto é, se houvesse uma regressão
infinita nas causas), não existiriam causas subsequentes nem, por consequência, os efeitos que
actualmente existem.
Segunda premissa (premissa subentendida): Existiram as causas subsequentes e os efeitos
actuais existem.
Conclusão: Portanto, não pode haver uma regressão infinita de causas.
Estabelecida, desta forma, a segunda premissa, a conclusão segue-se naturalmente dela e da
primeira. Assim, o argumento completo é o seguinte:
Primeira premissa: Tudo o que acontece tem uma causa ou agente ativo e esta causa ou agente
também tem uma causa.
Segunda premissa (primeira premissa da redução ao absurdo): Se não houvesse uma causa
primeira (isto é, se houvesse uma regressão infinita nas causas), não existiriam causas
subsequentes nem, portanto, os efeitos atualmente existentes.
Terceira premissa (segunda premissa da redução ao absurdo — premissa subentendida):
Existiram as causas subsequentes e os efeitos atuais existem.
Conclusão (da redução ao absurdo): Não pode haver uma regressão infinita de causas.
Conclusão: Portanto, tem de existir uma “causa primeira”, isto é, Deus.
Se este argumento tem tido muitos defensores, tem tido também muitos críticos. Hume e Kant
são dois dos seus mais importantes críticos.
Álvaro Nunes, Filosofia da Religião in Crítica
Argumento cosmológico
O argumento cosmológico é um argumento a posteriori a favor da existência de Deus.
Este argumento parte da ideia de que tudo o que existe tem de possuir uma causa.
Tomás de Aquino considera que não existe uma regressão infinita das causas, tem de haver
uma causa primeira e que essa causa é Deus.
2. Todo o ser que atinge aquilo que é óptimo atinge o seu fim.
3. Todo o ser não inteligente que atinge o seu fim é dirigido por algum ser
inteligente.
4. Logo, existe um ser inteligente que dirige todo o ser não inteligente ao seu fim.
Haverá boas razões para pensar que Deus existe? Se recorrermos exclusivamente ao
pensamento, e não nos basearmos nos livros sagrados ou nas tradições religiosas, podemos
provar que Deus existe?
O argumento ontológico é uma das tentativas para responder positivamente a estas questões.
É um argumento que tenta mostrar que a não existência de Deus é impossível. Parte do
conceito de Deus e de premissas a priori (premissas que podem ser conhecidas
independentemente da experiência do mundo) para concluir que Deus existe na realidade.
Existem diferentes versões deste argumento, mas aqui vamos ver a clássica: a versão de
Santo Anselmo – um dos maiores pensadores criativos da Idade Média.
Dois importantes livros de Santo Anselmo, no que se refere à procura de razões para defender
a existência de Deus, são o Monologion e o Proslogion. O primeiro livro inclui argumentos para
a existência de Deus, mas, dada a sua complexidade, não tinham, provavelmente, grande
efeito em convencer os outros das suas conclusões. Por isso, no segundo livro procurou um
único argumento mais simples, mas que, por si só, fosse suficiente para demonstrar que Deus
efetivamente existe. O argumento pode ser canonicamente representado desta forma:
(1) Todos, mesmo o ateu, são capazes de entender pelo termo “Deus”
um ser maior do que o qual nada pode ser pensado.
(2) Assim, um ser maior do que o qual nada pode ser pensado existe na
mente (isto é, no entendimento) quando se ouve falar sobre um tal
ser.
(3) Podemos pensar de um ser maior do que o qual nada pode ser
pensado que existe tanto na mente como na realidade.
(6) Logo, um ser maior do que o qual nada pode ser pensado existe na
realidade.
Negar que Deus existe é negar que um tal ser maximamente perfeito existe. Parece que mesmo
um ateísta aceita esta definição.
A premissa (2) afirma que um tal ser maximamente perfeito existe, nalgum sentido, na mente
daqueles que entendem o conceito de Deus; pois, para se afirmar ou negar a existência de um
ser maximamente perfeito, deve-se compreender o que está a ser afirmado ou negado. Assim,
um ser maximamente perfeito existe pelo menos como entidade mental, ou conceito, se é
afirmado ou negado. Além disso, é importante salientar várias formas de existência:
(A)
Na mente, mas não na realidade (como unicórnios);
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