Você está na página 1de 3

Filosofia 11º Ano

Texto 1 A existência de Deus

Será que Deus existe? Esta é uma questão fundamental, uma questão que a maior parte das pessoas já enfrentou num
ou noutro período da vida. A resposta dada por cada um de nós não afeta apenas a forma como agimos, mas também a forma
como compreendemos e interpretamos o mundo e o que esperamos do futuro. Se Deus existe, a existência humana pode ter
sentido e podemos mesmo ter esperança na vida eterna. Se não, temos de criar nós mesmos o sentido das nossas vidas:
nenhum sentido será dado a partir do exterior e a morte será provavelmente definitiva.
Quando os filósofos voltam a sua atenção para a religião, costumam examinar os vários argumentos que têm sido oferecidos a
favor e contra a existência de Deus. Ponderam as provas e examinam atentamente a estrutura e as implicações dos argumentos.
Examinam também conceitos tais como a fé e a crença, para ver se a maneira como as pessoas falam acerca de Deus faz sentido.
O ponto de partida da maior parte da filosofia da religião é uma doutrina muito geral acerca da natureza de Deus, conhecida
como teísmo. Esta doutrina defende a existência de um deus único, a sua omnipotência (capacidade para fazer tudo),
omnisciência (capacidade de saber tudo) e suprema benevolência (sumamente bom). Esta perspetiva é partilhada pela maior
parte dos cristãos, judeus e
muçulmanos.
Mas será que o Deus descrito pelos teístas existe de facto? Poderemos demonstrar que esse Deus existe?
N. Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, Gradiva, 2007, pp. 31-32.

No Texto 2, Leibniz apresenta uma versão clássica do argumento cosmológico baseado na contingência do mundo.
Leibniz defende as seguintes ideias:

1. Todos os acontecimentos contingentes carecem de uma explicação.


2. A única explicação última de acontecimentos contingentes é um existente necessário que esteja na sua origem.
3. Esse existente necessário é Deus.

 O que ocorreu, mas poderia não ter ocorrido, é um acontecimento contingente.


 O que existe, mas poderia não ter existido, é um existente contingente.

Por exemplo, o nascimento de Platão ocorreu, mas poderia não ter ocorrido, caso os seus pais nunca se tivessem
conhecido. Assim, o seu nascimento é um acontecimento contingente; e Platão é um existente contingente, pois poderia não ter
existido.
 O que ocorreu e não poderia deixar de ocorrer é um acontecimento necessário.
 O que existe e não poderia deixar de existir é um existente necessário.

Tradicionalmente, considera-se que Deus é um existente necessário: não só existe, como não poderia não
existir.

Texto 2 Por que há Algo em Vez de Nada

Suponhamos que o livro Elementos de Geometria era eterno, e que cada exemplar tinha sido sempre copiado de um
exemplar anterior. É evidente que apesar de se poder dar uma razão para a existência do livro atual, com base no anterior,
nunca se chega a uma razão completa correndo um número qualquer de livros em sucessão, em direção ao passado. Pois pode-
se sempre perguntar por que razão tais livros sempre existiram; por que razão foram escritos; e por que razão foram escritos
como foram. O que se diz dos livros pode-se igualmente dizer dos estados do mundo. Pois o que se segue é de algum modo
copiado do precedente (apesar de o ser de acordo com certas leis da mudança). E portanto, por mais que recuemos para
estados anteriores do mundo, nunca se encontra nesses estados uma razão completa para que a questão de saber porque há no
mundo em vez de nada, nem porque razão o mundo e como é.
Logo, mesmo que admitamos que o mundo é eterno, existirá apenas uma sucessão de estados e em nenhum deles
encontraremos uma razão suficiente; nem se avançará um só passo em direção a uma razão por mais estados que se admitam
existirem. É evidente que tem de se procurar a razão noutro lado. Pois nas coisas que são eternas, ainda que não exista causa,
alguma razão tem de se discernir. Esta razão, nas coisas permanentes, é a própria necessidade ou essência; mas na série de
coisas impermanentes, é a própria necessidade ou essénia; mas na série de coisas impermanentes (se pensarmos por hipótese
que se prolonga indefinidamente) será apenas uma prevalência de inclinações, pois neste caso as razões não acarretam
necessidade (em termos de uma necessidade absoluta ou metafísica, na qual o próprio contrário implica contradição). Daqui é
evidente que mesmo ao supor que o mundo é eterno não podemos escapar à razão última, e para lá do mundo, das coisas:
Deus.

1
Filosofia 11º Ano

Assim, as razões do mundo estão em algo para lá do mundo, diferente da cadeia de estados, ou séries de coisas, cujo
agregado constitui o mundo. E por isso temos de passar da necessidade física ou hipotética, que determina as coisas
subsequentes do mundo com base nas que as antecederam, para algo que seja de necessidade absoluta ou metafísica, para a
qual nenhuma razão se pode dar.
GW. Leibniz, «Sobre a Origem Última das Coisas» (1697), pp. 149-150

Interpretação

1. Os diferentes exemplares do livro Elementos de Geometria são uma analogia com o quê?
2. «O que se segue é de algum modo copiado de precedentes», afirma Leibniz. O que quer isto dizer?
3. «Por mais que recuemos para estados anteriores do mundo, nunca se encontra nesses estados uma razão completa
para a questão de saber por que há mundo em vez de nada», afirma Leibniz. Que argumento sustenta esta ideia?
4. Qual a razão de ser das coisas impermanentes?
5. Qual a razão de ser das coisas permanentes?

No Texto 3, David Hume defende as seguintes ideias:

1. Tanto quanto sabemos, talvez o universo exista necessariamente.


2. É tão fácil conceber a não existência do universo como a não existência de Deus.
3. Uma sequência eterna de causas não pode ter uma causa.
4. Depois de dadas as causas de cada uma das partes de um todo, não faz sentido perguntar pela causa do todo.

Texto 3 Uma Crítica ao Argumento Cosmológico

[…] Porque não poderia […] o universo material ser o Ser necessariamente existente? Não ousamos afirmar que
conhecemos todas as qualidades da matéria e, tanto quanto podemos determinar, a matéria pode conter certas qualidades que,
se fossem conhecidas, fariam a sua não-existência parecer uma contradição tão grande quanto duas vezes dois serem cinco. Um
só argumento é empregue para provar que o mundo material não é o Ser necessariamente existente; e este argumento deriva
da contingência tanto da matéria como da forma do mundo. Diz-se que «se pode conceber a aniquilação de qualquer partícula
de matéria e a alteração de qualquer forma. Uma tal aniquilação ou alteração não é, portanto, impossível». Mas, parece uma
grande parcialidade não perceber que, até onde somos capazes de concebê-lo, o mesmo argumento se aplica igualmente à
Deidade que a mente pode. Pelo menos, imaginar que ela não existe ou que os seus atributos foram alterados. O que pode fazer
a sua não-existência parecer impossível ou os seus atributos inalteráveis têm de ser certas qualidades desconhecidas e
inconcebíveis. Mas não há qualquer razão para que estas qualidades não possam pertencer à matéria. Como são
completamente desconhecidas e inconcebíveis nunca se poderá provar que sejam com ela incompatíveis.
Acrescentai a isto que, ao percorrer uma sucessão eterna de objetos, parece absurdo inquirir por uma causa geral ou
primeiro Autor. Como pode uma coisa que existe desde a eternidade ter uma causa, uma vez que essa relação implica uma
prioridade no tempo e um começo da existência?
Além disso, numa tal cadeia de sucessão de objetos, cada parte é causada por aquela que a precede e causa daquela
que a sucede. Onde está, então a dificuldade? Mas o TODO, dizeis, carece de uma causa. Respondo que a união destas partes
num todo, como a união de vários condados distintos num reino ou de vários membros distintos num corpo, é realizada por um
mero ato arbitrário da mente e não tem qualquer influência na natureza das coisas. Se eu vos tivesse mostrado as causas
particulares de cada indivíduo numa coleção de vinte partículas de matéria, consideraria muito pouco razoável que vós me
perguntásseis a seguir o que era a causa do conjunto das vinte. Isto é suficientemente explicado ao explicar a causa das partes.
David Hume, Diálogos sobre a Religião Natural (1779), pp. 93-95

Interpretação

1. Formule o argumento a favor da ideia de que o universo material não é só o ser necessariamente existente.
2. Formule a objeção de Hume ao argumento a favor da ideia de que o universo material não é necessariamente
existente.
3. Formule o argumento apresentado por Hume a favor da existência de uma causa geral para o que existe
eternamente.

2
Filosofia 11º Ano

4. Formule o argumento de Hume a favor da ideia de que as causas particulares de cada partícula de matéria são tudo
quanto basta para explicar o todo do qual essa partícula faz parte.

Você também pode gostar