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CRIAÇÃO

Gn. 1; Sl. 33.9; 104.24-26; Jr. 10.11-16; Hb. 11.3


Todas as coisas têm um início no tempo e no espaço. Eu tive um início; você
teve um início. A casa onde moramos teve um início. As roupas que vestimos tiveram um
início. Houve um tempo cm que nossas casas, roupas, carros e máquinas de lavar não
existiam; nem nós mesmos existíamos. Essas coisas não eram. Nada pode ser mais
óbvio.
Estamos cercados por coisas e pessoas que obviamente tiveram um início e
por isso somos tentados pela conclusão de que tudo teve um início. Tal conclusão,
entretanto, seria um salto fatal no abismo do absurdo. Seria fatal para a religião. Também
seria fatal para a ciência e para a razão.
Por que? Não dissemos que todas as coisas no tempo e no espaço tiveram
um início? Não seria o mesmo dizer simplesmente que tudo teve um início? De maneira
alguma. Lógica e cientificamente, é impossível que todas as coisas tenham tido um início.
Por quê? Se tudo o que existe um dia teve um início, então teria havido um tempo em que
nada existia.
Pare por um momento e reflita. Tente imaginar a existência de nada.
Absolutamente nada. É muito complicado até mesmo conceber à existência de
absolutamente nada. O próprio conceito é meramente a negação de alguma coisa.
Se já houve, porém, um tempo em que absolutamente nada existia, o que
haveria agora? Nada! Se já houve um tempo em que não havia nada, então, pela lógica
essa situação deveria persistir e continuaria sempre a não existir nada. Não haveria nem
mesmo o sempre durante o qual nada existiria.
Por que podemos estar certos de que, se já houve um tempo em que não
havia nada, então hoje deveria continuar não existindo nada? A resposta é
espantosamente simples, apesar do fato de que pessoas extremamente inteligentes, às
vezes, tropeçam no óbvio: você não pode obter algo a partir de nada.
Uma lei absoluta da ciência e da lógica diz que ex nihilo nihil fit, quer dizer, a
partir do nada, nada procede. O nada não pode produzir coisa alguma. Nada não pode rir,
cantar, chorar, trabalhar, dançar ou respirar. O nada certamente não pode criar. O nada
não pode fazer nada porque é nada. Ele não existe. O nada não tem nenhum poder
porque não tem existência.
Para que alguma coisa procedesse do nada, teria de possuir o poder da
autocriação. Teria de ser capaz de criar à si própria ou trazer a si própria à existência.
Isso, porém, é um completo absurdo. Para que alguma coisa criasse ou produzisse a si
própria, teria de ser antes de existir. Entretanto, se algo já existe, não tem necessidade de
ser criado. Para criar a si próprio, algo teria de ser e teria de não ser, existir e não existir
ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Isso é uma contradição, Essa ideia viola uma das
mais fundamentais de todas as leis da razão e da ciência — a lei da não-contradição.
Sabemos que, se as coisas existem hoje, então de alguma maneira, em
algum lugar, algo não teve início. Bertrand Russell, em seu famoso debate com Frederick
Copelston argumentou que o presente universo é o resultado de uma “série infinita de
causas finitas”. Isso coloca uma série sucessiva de eventos, um causando o outro,
operando retrospectivamente para sempre na eternidade. Essa ideia simplesmente dá
uma dimensão infinita ao problema da autocriação. É um conceito fundamentalmente
absurdo. O fato de que tenha sido proposto por sábios não o torna menos absurdo. E pior
do que absurdo. Absurdos podem ser reais. Esse conceito, porém, pela lógica é
impossível.
Russell pode negar a lei de que nada procede do nada, mas não pode
refutá-la sem cometer suicídio mental. Sabemos (com base na lógica) que, se as coisas
existem hoje, então deve ter havido algo que não teve início. A pergunta então é: o que ou
quem seria?
Muitos estudiosos sérios acreditam que a resposta para esse o que é
encontrada dentro do próprio universo. Argumentam (como Carl Sagan fez) que não é
necessário ir acima ou além do universo para encontrar algo que não teve início e do qual
todas as outras coisas procederam. Quer dizer, não precisamos supor algo como Deus
que é transcendente ao universo. O universo, ou algo dentro dele, pode fazer muito bem o
trabalho por si mesmo.
Existe um erro sutil se movendo furtivamente no cenário apresentado acima.
Esse erro tem a ver com o significado do termo transcendente. Na filosofia e na teologia,
a ideia de transcendência significa que Deus está acima e além do universo, no sentido
que pertence a uma ordem mais elevada do que os outros seres. Geralmente, nos
referimos a Deus como o Ser supremo.
O que torna o Ser supremo diferente do ser humano? Note que ambos os
conceitos têm uma palavra em comum — ser. Quando dizemos que Deus é o Ser
supremo, queremos dizer que é um ser que difere em gênero dos outros seres comuns.
Qual é exatamente essa diferença? Ele é chamado de supremo porque não tem início.
Deus é supremo porque todos os outros seres lhe devem sua existência, e ele não deve
sua existência a ninguém mais a não ser a si próprio. Ele é o Criador eterno. Todas as
outras coisas são obra da sua criação.
Quando Carl Sagan e outros dizem que no universo — e não acima ou além
dele — existe algo que não foi criado, estão meramente questionando de maneira evasiva
sobre o endereço do Criador. Estão dizendo que aquilo que não foi criado vive aqui
(dentro do universo) e não “lá fora” (acima ou transcendente ao universo). Contudo, essa
ideia ainda requer um Ser supremo. Essa parte misteriosa do universo, da qual todas as
coisas criadas procedem, ainda está acima e além de tudo na criação em termos de ser.
Em outras palavras, ainda tem de existir um Ser transcendente.
Quanto mais pensamos nesse Criador dentro do universo, mais ele começa
a soar como Deus, Ele não foi criado, criou tudo ou tem o poder de ser em si mesmo.
O que fica claro como cristal é que se algo existe agora, então tem de haver
um Ser supremo do qual todas as outras coisas procedem. A primeira declaração da
Bíblia é: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Esse texto é fundamental
para todo o pensamento cristão. Não se trata apenas de uma declaração religiosa — é
um conceito racionalmente necessário.

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