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Relevância do problema
Como a religião é importante no mundo, quer a nível político quer a nível pessoal, discutir
sobre a existência de Deus, fornece esclarecimentos acerca do próprio tema, e contribui
para uma melhor compreensão de alguns dos problemas da atualidade. Por outro lado, a
religião acaba por ser um elemento fundamental da cultura dos povos, por isso a
abordagem filosófica deste tema poderá contribuir para o desenvolvimento de atitudes de
tolerância e respeito relativamente às crenças alheias.
Filosofia da religião
A filosofia da religião procura debater e procurar justificações acerca do problema da
existência de Deus através da razão, sem recorrer à fé.
A diversidade religiosa
As religiões podem ser:
→ Politeístas: admitem a existência de vários deuses. p.ex.: religiões da Grécia Antiga.
→ Monoteístas: admitem a existência de um único Deus. p.ex.: judaísmo, crsitianismo,
islamismo.
Tipos de conceção de Deus na religião monoteísta:
→ Teísmo: Conceção de Deus como o criador do Universo, um ser todo-poderoso, perfeito,
bondoso, omnipotente, omnipresente, omnisciente, justo, eterno…
→ Deísmo: Conceção de Deus como um ser todo-poderoso e criador do Universo, mas que
não intervém nele e não tem uma relação connosco. Ele é o "proprietário ausente”.
Outras crenças:
→ Agnosticismo: existe uma suspensão do juízo em relação à existência de Deus, ou
seja, não afirmam nem negam a existência de Deus.
→ Ateísmo: Negação da existência de Deus;
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A segunda das cinco vias da obra “Suma Teológica” de Tomás de Aquino (séc. XIII)
Causa eficiente = causa
Seres sensíveis = coisas que existem no universo (seres vivos, coisas inanimadas) que
possam ser ouvidas, vistas, tocadas…
Terá Deus sido criado por um “supradeus”, um Deus superior? Mas, nesse caso, quem
criou esse Deus superior? Será um Deus ainda mais superior?
→ Recorrer a Deus para explicar a existência do universo também leva a uma regressão
infinita, por isso, não parece ser uma boa explicação.
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→ Por que tem de ser um Deus teísta? Além disso, a primeira causa pode existir, mas pode
não ser Deus.
O argumento ontológico
Os argumentos cosmológico e teleológico são argumentos a posteriori, pois têm
premissas empíricas.
Já o argumento ontológico é um argumento a priori pois as suas premissas podem ser
justificadas apenas pelo pensamento, não precisando de informação empírica. Este
argumento procura provar a existência de Deus a partir da ideia que temos de Deus.
*Existem várias versões deste argumento mas iremos estudar o de Anselmo de Cantuária.
Quando Anselmo de Cantuária diz:
● Deus é um ser “maior do que o qual nada pode ser pensado”→ quer dizer que Deus
é o ser mais perfeito que é possível conceber (não se refere a uma grandeza física)
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● “Existir no pensamento”→ significa ser uma ideia.
Ex: as sereias existem apenas no pensamento, pois são só ideias que temos, não existe
tais seres no mundo. Já as árvores existem no pensamento e na realidade.
Este argumento procura mostrar que Deus, tal como as árvores, existe no
pensamento e na realidade, mas com uma diferença:
● A existência das árvores é contingente e a de Deus é necessária.
→ A existência das árvores é contingente: a afirmação << existem árvores >> é verdadeira,
contudo, poderia ser falsa — consegue-se imaginar uma natureza sem árvores.
→ A existência de Deus é necessária: a afirmação << Deus existe >> tem o mesmo peso
que << um triângulo tem três lados >>, ou seja, não podia deixar de ser assim → Deus
“existe tão verdadeiramente que não se pode pensar que não existe”.
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declarar a existência de coisas que sabemos comprovadamente que não existem. Isto
é: se essa estrutura argumentativa leva a afirmar falsidades óbvias, não temos razões para
aceitar quando ela conduz à afirmação de que Deus existe.
Para conseguir esse efeito, basta considerar que uma certa coisa é a mais perfeita no seu
género, ou seja, definir uma coisa X como a mais perfeita das coisas X.
Problema do mal
A existência de mal no mundo é inegável. Existem diferentes tipos de mal: mal moral →
está ligado às ações humanas, como assassínio e tortura; e o mal natural → não é causado
por seres humanos, como catástrofes naturais e doenças de origem genética.
A abundância de males no mundo coloca um problema às pessoas que acreditam na
existência de um deus omnipotente, omnisciente e sumamente bom.
Como é possível que Deus permitiria a existência de mal?
O filósofo grego Epicuro formulou o problema do mal de uma maneira muito impressiva.
● Se Deus existe e é omnipotente, pode impedir o mal de acontecer. Se Deus é bom
não quer que o mal aconteça. O mal definitivamente ocorre, por isso, talvez, Deus
não exista, ou talvez exista, mas seja de maneira diferente do que se imagina: ou
pode ser omnipotente mas não ser bom (pode impedir o mal mas não o impede), ou
é bom mas não é omnipotente (quer impedir o mal mas não pode).
Será que a existência de mal no mundo nos dá razões fortes para não acreditar em Deus?
● Existem vários males que são gratuitos e sem sentido. Porém, é preciso reconhecer
que alguns males são úteis, pois funcionam como mecanismo de autopreservação.
Temos:
→ Sensações dolorosas levam-nos a realizar certas ações.
Ex: A dor – mal – provocada pelo fogo leva-nos a tirar a mão evitando danos
maiores.
→ Males que são meios para alcançar um certo bem.
Ex: Na fisioterapia uma pessoa lesionada faz movimentos dolorosos, mas
necessários para a cura.
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A defesa do livre-arbítrio
Uma das razões pelas quais Deus permite o mal é o livre-arbítrio. Ao termos livre-arbítrio
dá-nos liberdade de escolha, por isso, podemos escolher agir bem ou agir mal. O mal
resulta do livre-arbítrio e deve-se ao ser humano e não a Deus. Se só pudéssemos fazer o
bem não teríamos livre-arbítrio, não teríamos liberdade de escolha, seríamos marionetas ou
máquinas programadas. Consequentemente, o mal é o preço a pagar pelo livre-arbítrio.
Uma objeção: neste argumento existe uma explicação para o mal moral, mas não existe
para o mal natural.
A aposta de Pascal
O fideísmo
Pascal conclui que nenhum argumento (a favor e contra a existência de Deus) é sólido e
que não conseguem estabelecer nem a existência nem a inexistência de Deus.
Apesar disso, Pascal não é um agnóstico. A inteligência humana é limitada, como
poderíamos compreender algo eterno e perfeito? Dessa forma, acedemos a Deus pela fé e
não pela razão. A grande maioria dos seres humanos (incluindo Pascal) tem fé em Deus e
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acredita que este existe, independentemente de haver ou não provas racionais, já que, a fé
é uma experiência intensa e muito comum.
Fideísmo= posição filosófica que acredita que acede-se a Deus através da Fé e não através
de provas racionais. Pascal acredita que isso é apropriado e racional.
A aposta
Segundo Pascal, a razão humana é incapaz de demonstrar a existência de Deus, porém,
pode mostrar que faz mais sentido acreditar em Deus do que não acreditar.
Ganhamos mais em acreditar do que em não acreditar.
➔ Se uma pessoa “apostar” na existência de Deus e Ele existir, ela ganhará a vida
eterna, irá para o paraíso e ficará junto de Deus. Caso Deus não exista e a pessoa
perder a “aposta”, ela não perderá nada de significativo.
➔ Se uma pessoa “apostar” que Deus não existe e Este afinal existir, perderá a vida
eterna e irá para o inferno. Caso Deus não exista e essa pessoa tenha apostado na
sua inexistência não ganhará nada de especial, além de ter razão, mas nunca
saberá que ganhou a “aposta”, ou seja, nada de significativo.
Argumento inapropriado
A aposta de Pascal parece promover uma atitude interesseira e pouco sincera em relação
à religião. Porque haveria um ser omnipotente, omnisciente e perfeito (caso exista) de ficar
agradado com tal atitude? Talvez um ateu sincero e bem-intencionado tenha mais valor do
que um crente interesseiro.
Obs.:A aposta é pouco ética e pouco fiel. Não há fé sincera/autêntica/genuína neste caso. É
apenas uma atitude de puro interesse.
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Quadro-síntese sobre o problema da existência de Deus
Argumentos Objeções