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A liberação para apreciação pelo plenário do STF do anômalo


inquérito 4781( que apura as fake news em detrimento de Membros
da Corte)
Por Leandro Nunes | 10 de outubro de 2019
Categoria: Artigos (https://www.leandrobastosnunes.com.br/categoria/artigos/ ), direito constitucional
(https://www.leandrobastosnunes.com.br/categoria/direito-constitucional/ )

   O inquérito instaurado ex o�cio pelo STF para �ns de investigar as fake news (notícias falsas) e ameaças praticadas em
detrimento dos Ministros da Corte (com fundamento no artigo 43 do regimento interno) reveste-te de
inconstitucionalidade patente,   por violação aos   princípios constitucionais do sistema acusatório (separação das
funções de julgar, acusar e defender, a teor do disposto no art. 129, I, da CF/88), e do Juízo Natural previsto no art.5º, LIII,
da Constituição Federal (garantia fundamental do cidadão de que será julgado pelo Juízo competente
e imparcial, vedando a incidência do intitulado “ juízo ou tribunal de exceção”, conforme artigo  5º, XXXVII, da Carta
Magna).

 Com efeito, as violações ao Juízo natural e ao sistema acusatório se consubstanciam pela incidência de uma investigação
presidida e efetivada por um Ministro Relator, sem que fosse previamente submetido à livre distribuição e encaminhada
ao Ministério Público para manifestação em relação à conveniência legal da continuidade das investigações, na condição
de titular da ação penal pública e �scal da ordem jurídica.

 Além disso, em razão da ausência de fato determinado, a investigação viola os princípios do Estado Democrático de
Direito, segurança jurídica, devido processo legal, legalidade, e razoabilidade, uma vez que propicia investigações, sem
direcionamento especí�co em relação à individualização dos investigados e dos fatos supostamente típicos.

 Não se pode olvidar que a então procuradora-geral da República Raquel Dodge requereu o arquivamento da
mencionada investigação, tendo sido negado o pedido pelo Ministro Alexandre de Moraes, sob a equivocada premissa de
que a privatividade da ação penal pública não teria conferido ao Ministério Público a possibilidade de   ” interpretar o
regimento da corte e anular decisões judiciaios do Supremo Tribunal Federal”   (STF, Inquérito 4781, Rel. Alexandre de
Moraes,j.16/04/2019).

 Nesse ponto, é válido registrar que, em situação semelhante, a Suprema Corte (por intermédio do mesmo Ministro
Relator Alexandre de Moraes) declarou a inconstitucionalidade de regimento interno do TJBA ( Tribunal de Justiça do
Estado da Bahia), em razão da previsão no aludido diploma normativo da incidência de investigação de magistrados, sem
a participação do Ministério Público, inclusive mediante a inconstitucional hipótese de efetivação de arquivamento pelo
próprio Judiciário, in verbis:

CONSTITUCIONAL. SISTEMA CONSTITUCIONAL ACUSATÓRIO. MINISTÉRIO PÚBLICO E PRIVATIVIDADE DA PROMOÇÃO DA


AÇÃO PENAL PÚBLICA (CF, ART. 129, I). INCONSTITUCIONALIDADE DE PREVISÃO REGIMENTAL QUE POSSIBILITA
ARQUIVAMENTO DE INVESTIGAÇÃO DE MAGISTRADO SEM VISTA DOS AUTOS AO PARQUET. MEDIDA CAUTELAR
CONFIRMADA. PROCEDÊNCIA. 1. O sistema acusatório consagra constitucionalmente a titularidade privativa da ação penal
ao Ministério Público (CF, art. 129, I), a quem compete decidir pelo oferecimento de denúncia ou solicitação de
arquivamento do inquérito ou peças de informação, sendo dever do Poder Judiciário exercer a “atividade de supervisão

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judicial” (STF, Pet. 3.825/MT, Rel. Min. GILMAR MENDES), fazendo cessar toda e qualquer ilegal coação por parte do Estado-
acusador (HC 106.124, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 22/11/2011, DJe de 10/9/2013).   2.
Flagrante inconstitucionalidade do artigo 379, parágrafo único do Regimento Interno do Tribunal de Justiça da Bahia,
que exclui a participação do Ministério Público na investigação e decisão sobre o arquivamento de investigação contra
magistrados, dando ciência posterior da decisão. 3. Medida Cautelar con�rmada. Ação Direta de Inconstitucionalidade
conhecida e julgada procedente (STF, ADI 4693, Pleno, Rel. Alexandre de Moraes, j. 11/10/2018).

 Ora, o que a Suprema Corte está estabelecendo é a possibilidade de investigar (de ofício) fatos generalizados e
posteriormente julgá-los, violando frontalmente   o princípio da imparcialidade do Poder Judiciário, assim como o
disposto no artigo 8º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, a qual prescreve:

“1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal
competente, independente e imparcial,   estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal
formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, �scal ou de qualquer
outra natureza”.

 Além disso, se a própria Corte Superior tipi�car supostos fatos, atribuindo a existência de indícios de crimes, sem ouvir
previamente o titular da ação penal ( Ministério Público), indaga-se: depois de concluída a apuração, poderia o Supremo
rejeitar o pronunciamento do titular da ação penal ( no sentido do arquivamento das apurações ou oferecimento de
denúncia)?

  Neste caso, a situação con�gurará uma grave incoerência jurídica, já que o titular da ação penal receberá os autos de
uma investigação, na qual sequer teve a oportunidade de emitir parecer ou pronunciamento acerca das diligências
investigatórias promovidas ex o�cio pelo Poder Judiciário.

 Conforme recentemente veiculado na mídia, o Ministro Alexandre de Moraes determinou a inclusão em pauta do
mencionado inquérito para �ns de deliberação pelo plenário (https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-
estado/2019/09/03/moraes-pede-para-inquerito-das-fake-news-ser-incluido-na-pauta-do-plenario-do-stf.htm
(https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2019/09/03/moraes-pede-para-inquerito-das-fake-news-
ser-incluido-na-pauta-do-plenario-do-stf.htm )).

 No que se refere à conduta do então procurador-geral da República (Rodrigo Janot), as declarações veiculadas para a
imprensa são atípicas , porquanto o iter criminis não se iniciou, �cando restrito à mera cogitação de praticar a conduta
típica de homicídio ou lesão corporal em detrimento do Ministro Gilmar Mendes, não con�gurando sequer tentativa dos
delitos previstos nos artigos 121 do código penal, e dos arts. 18,22,23,26 27, todos da Lei de segurança nacional (Lei
7.170/83).

 Relativamente ao crime previsto no artigo 286 do código penal (incitação ao crime), este também não se con�gurou,
visto que o então PGR declarou fato relacionado a um pensamento que teve na época em que exercia a função de
procurador-geral da República, com o �m de antecipar o conteúdo de sua biogra�a materializada em um iminente
lançamento de livro, inexistindo qualquer elemento comprobatório de que teria agido com a intenção de incitar, de forma
indeterminada, um conjunto de pessoas para �ns de cometerem delitos em detrimento dos Membros da Corte Superior.

 Outro ponto a ser destacado é o fato de que Rodrigo Janot não se submete à jurisdição do STF, porquanto não detém
mais a prerrogativa de foro, ou seja, de ser julgado por eventuais condutas criminosas perante a Suprema Corte.

 De outro lado, a cogitação do fato ocorreu há 02 (anos), inexistindo, portanto, a contemporaneidade  necessária para a
decretação das medidas cautelares restritivas de direitos (apreensão da arma e proibição de aproximação das
dependências do STF), em razão da inexistência de comprovação dos requisitos do periculum libertatis (urgência e
necessidade relacionadas à adoção de medidas restritivas de direitos) e fumus commissi delict (“plausibilidade da
existência de um delito”).

 Nesse ponto, o correto seria abrir uma investigação (a ser conduzida pelo Ministério Público ou Polícia Federal, sob a
supervisão da legalidade pelo STF), e, caso comprovada a persistência da intenção de cometer delitos em detrimento de
Ministros da Corte, decretar medidas que visassem assegurar a integridade física e psicológica dos Membros da Suprema
Corte (após o respectivo pedido do Ministério Público ou representação da autoridade policial),   e não proceder à
decretação da providência cautelar de ofício em relação a fatos atípicos e de forma extemporânea.

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 Com efeito, os   meros atos de cogitação,   que não chegam a se exteriorizar mediante início de conduta típica
(engatilhamento da arma e direcionamento para a vítima, tentando, no mínimo, consumar o “plano criminoso”, por
intermédio da realização de disparos) são impuníveis , conforme lições doutrinárias pací�cas do direito penal brasileiro.

  Por derradeiro, cumpre registrar que, relativamente à conduta do então procurador-geral da República, a análise deste
articulista �cou adstrita apenas aos aspectos jurídicos do direito constitucional, penal e processual penal atinentes ao
inquérito e medidas decretadas pela Suprema Corte , �cando de fora qualquer avaliação e juízo de valor sob as esferas
moral, administrativa e ética.

 Como visto, diante da notícia de deliberação (pelo plenário da Suprema Corte) da respectiva legalidade e
constitucionalidade das medidas de ofício adotadas no bojo do “anômalo inquérito” iniciado pelo Supremo Tribunal
Federal, espera-se que seja reconhecida a impossibilidade de prosseguimento das apurações, sem prévia manifestação do
Ministério Público.

* O autor é   professor   de pós-graduação do instituto de ensino Brasil Jurídico, autor de obras jurídicas,   articulista,
e procurador da República.

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