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Sobre o autor:

Pedro Filipe Araújo de Albuquerque (instagram e twitter


@ratiodepedro) é Procurador do Município de João
Pessoa/PB, advogado, professor e mestrando em Direito.
Membro da Comissão Estadual da Advocacia Pública da
Ordem dos Advogados do Brasil Seccional da Paraíba. Em
concursos públicos para advocacia pública, foi aprovado e
nomeado para Procurador do Município de João Pessoa/PB e
Procurador do Município de Curitiba/PR. Além disso, foi
nomeado para os cargos de Analista do Tribunal Regional do
Trabalho da 6ª Região, do Ministério Público de Alagoas e do
Tribunal de Justiça de Pernambuco e Técnico do Tribunal
Regional do Trabalho da 20ª Região, do Ministério Público da
União e do Tribunal de Justiça de Pernambuco.
JURISPRUDÊNCIA DO STF

⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
(In)constitucionalidade de dispositivos do Código de Processo
Civil de 2015 - ADI 5.492/DF e ADI 5.737/DF
Separei as principais novidades em 4 grupos temáticos. Vamos
lá.

1.DIRETRIZ INTERPRETATIVA
“A edição da Lei 13.105/2015, conhecida como Código de
Processo Civil de 2015 (CPC/2015), consagrou o
entendimento de que o processo não deve ser um fim em si
mesmo, devendo-se buscar uma adequada mediação entre o
direito nele previsto e a sua realização prática, a fim de
torná-lo efetivo, exigindo-se postura interpretativa orientada a
reafirmar e reforçar esse objetivo.”

2.FAZENDA PÚBLICA EM JUÍZO


“É inconstitucional a regra de competência que autoriza que
entes subnacionais sejam demandados em qualquer comarca
do País, pois a fixação do foro deve se restringir aos seus
respectivos limites territoriais.
Deve ser conferida interpretação conforme a Constituição aos
artigos 46, § 5º, e 52, parágrafo único, ambos do CPC/2015,
no sentido de que a competência seja definida nos limites
territoriais do respectivo estado ou do Distrito Federal, nos
casos de promoção de execução fiscal e de ajuizamento de
ação em que qualquer deles seja demandado. A possibilidade
de litigar em face da União em qualquer parte do País
(CF/1988, art. 109, §§ 1º e 2º) é compatível com a
estruturação nacional da Advocacia Pública federal. Contudo,
estender essa previsão aos entes subnacionais resulta na
desconsideração de sua prerrogativa constitucional de
auto-organização (CF/1988, arts. 18, 25 e 125) e da
circunstância de que sua atuação se desenvolve dentro dos
seus limites territoriais.”

“É inconstitucional a obrigatoriedade de os depósitos judiciais


e de valores de RPVs serem realizados somente em bancos
oficiais (CPC/2015, arts. 535, § 3º, II; e 840, I). Essa
determinação viola os princípios da eficiência administrativa,
da livre concorrência e da livre iniciativa, assim como cerceia
os entes federados, notadamente as justiças estaduais, quanto
ao exercício de suas autonomias.”
“É constitucional a determinação de vincular a Administração
Pública à efetiva aplicação de tese firmada no julgamento de
casos repetitivos relacionados à prestação de serviço delegado
(CPC/2015, arts. 985, § 2º; e 1.040, IV). Ao ampliar os
diálogos institucionais entre as entidades públicas, essa medida
assegura maior efetividade no cumprimento de decisão judicial
ao mesmo tempo em que densifica direitos garantidos
constitucionalmente.”

3.TUTELA DE URGÊNCIA
“São constitucionais os dispositivos legais (CPC/2015, arts. 9º,
parágrafo único, III; e 311, parágrafo único) que, sem prévia
citação do réu, admitem a concessão de tutela de evidência
quando os fatos alegados possam ser demonstrados
documentalmente e a tese jurídica estiver consolidada em
julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante.”

4.REPERCUSSÃO GERAL
“É constitucional a presunção de repercussão geral de recurso
extraordinário que impugna acórdão que tenha declarado
inconstitucionalidade de tratado ou lei federal (CPC/2015, art.
1.035, § 3º, III). (...)
(...) Essa previsão se fundamenta, em especial, na necessidade
de uniformizar a aplicação de lei federal em todo o território
nacional.”

(ADI 5.492/DF, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento


virtual finalizado em 24.4.2023, info 1092)
(ADI 5.737/DF, relator Ministro Dias Toffoli, redator do
acórdão Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual
finalizado em 24.4.2023, info 1092)

⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
󰘦󰪆 “É constitucional norma estadual que impede a
exoneração a pedido e a aposentadoria voluntária de servidor
que responde a processo administrativo disciplinar (PAD).
Contudo, é possível conceder a aposentadoria ao investigado
quando a conclusão do PAD não observar prazo razoável.”
(STF, ADI 6.591/DF, relator Ministro Edson Fachin,
julgamento virtual finalizado em 2.5.2023, info 1092)
Resumo:
“A Administração Pública não possui discricionariedade para
deixar de aplicar penalidades disciplinares quando os fatos se
amoldarem ao tipo legal, assim como para estender, de modo
desproporcional, o prazo para a conclusão do respectivo
processo administrativo. Assim, é possível a cumulação de
sanções — pois se revela como medida razoável e
proporcional — necessárias para a observância do princípio
democrático. Nesse contexto, a indisponibilidade dos bens
para o ressarcimento do dano ou a configuração de eventual
inelegibilidade — penalidades aplicáveis quando o servidor é
demitido — justificam a previsão do art. 172 da Lei
8.112/1990 — que dispõe sobre o regime jurídico dos
servidores públicos civis da União, das autarquias e das
fundações públicas federais —, e cuja redação foi replicada
pela lei estadual impugnada. Por outro lado, o tempo de espera
para a conclusão do PAD pode ser demasiado e acabar
atingindo, de forma reflexa, o direito à aposentadoria. Se isso
ocorrer, é necessário verificar, à luz do caso concreto, o real
motivo da demora: se a desídia, entre outras possibilidades,
decorre do abuso do direito de defesa, pela complexidade do
caso, ou pela necessidade de produção de provas.”
Fonte: http://stf.jus.br
⚠ATENÇÃO PGM⚠
🎆STF fixa nova tese de repercussão geral: “É constitucional
– formal e materialmente – lei municipal que proíbe a soltura
de fogos de artifício e artefatos pirotécnicos produtores de
estampidos”.
(RE 1210727, com repercussão geral, tema 1056, julgamento
na sessão virtual concluída em 8.5.2023, relator ministro Luiz
Fux)

Resumo:
“O ministro Luiz Fux destacou que a Corte tem legitimado a
edição de leis municipais referentes a interesses locais,
reconhecendo a competência legislativa concorrente para
tratar de proteção à saúde e ao meio ambiente. No julgamento
da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
(ADPF) 567, o STF validou lei da capital paulista que havia
implementado essa medida de proteção em razão dos
impactos negativos documentados que fogos com efeito
sonoro ruidoso causam às pessoas autistas e a diversas
espécies animais.
Fux destacou, ainda, que a Resolução Conama 2/90, que
dispõe sobre o Programa Nacional de Educação e Controle da
Poluição Sonora, autoriza expressamente (...)
(...) a fixação de limites de emissão de ruídos em valores mais
rígidos em níveis estadual e municipal.
A seu ver, a lei de Itapetininga está de acordo com a disciplina
federal, tratando-se, na verdade, de regulamentação mais
protetiva, levando em conta os impactos negativos à saúde e
ao meio ambiente. O ministro Fux também considerou a
vedação adequada e proporcional, pois busca evitar os
malefícios causados pelos efeitos ruidosos da queima de fogos
a pessoas com hipersensibilidade auditiva no transtorno do
espectro autista, crianças, idosos e pessoas com deficiência,
além dos animais. Segundo ele, a lei também não inviabiliza o
exercício de atividade econômica, pois a restrição se aplica
apenas aos artefatos que produzam efeitos ruidosos,
permitindo espetáculos de pirotecnia silenciosos.”
Fonte: http://stf.jus.br

⚠ATENÇÃO⚠
🌎 O STF declarou inconstitucional a regra de competência
do CPC/2015 que permitia que os estados e o Distrito Federal
pudessem responder a ações em qualquer comarca do país.
(ADIs 5492 e 5737, Redator do acórdão Min. Roberto
Barroso, sessão virtual encerrada em 24.04.2023)
Resumo:
“Roberto Barroso, a maioria da Corte interpretou o artigo 46,
parágrafo 5º, do CPC — que trata do foro da ação de
execução fiscal — para restringir sua aplicação aos limites do
território de cada ente subnacional ou ao local de ocorrência
do fato gerador. A mesma interpretação foi dada ao artigo 52,
parágrafo único, do Código — que trata de causas em que o
autor é um estado ou o Distrito Federal —, para restringir a
competência do foro de domicílio do autor às comarcas dos
limites territoriais do ente demandado judicialmente. De
acordo com a decisão, é inconstitucional a regra que permite
que os estados e o DF sejam demandados perante qualquer
comarca do país. Segundo Barroso, estender a possibilidade de
mover ações contra a União de qualquer parte do país,
prevista na Constituição, aos estados e ao DF desconsidera a
prerrogativa constitucional de auto-organização dos entes
subnacionais e a circunstância de que sua atuação se
desenvolve dentro dos seus limites territoriais.” Fonte:
http://stf.jus.br
⚠ATENÇÃO⚠
⛽É inconstitucional lei local que obrigue as distribuidoras de
combustíveis a colocarem lacres eletrônicos para o controle de
abertura e fechamento dos tanques dos postos que exibam a
marca da distribuidora, mas excluam da regra os postos de
"bandeira branca", que não são vinculados a nenhuma
distribuidora de combustível.
(STF, ADI 3236/DF, ministra relatora Cármen Lúcia, sessão
virtual finalizada em 24.04.2023)

RESUMO:
“Prevaleceu no julgamento, a relatora, ministra Cármen Lúcia,
afastou o argumento apresentado pelo governo de que a lei
impugnada teria invadido competência da União. Segundo a
ministra, a matéria objeto da norma — produção, consumo e
responsabilidade por dano ao consumidor — está no rol das
competências concorrentes da União, dos estados e do
Distrito Federal, previstas no artigo 24 da Constituição da
República. Contudo, ao examinar a alegação de
inconstitucionalidade material, a relatora reconheceu que a lei
afronta os princípios da proporcionalidade, da igualdade e da
razoabilidade. Isso porque os serviços prestados pelos postos
de revenda comprometidos com (...)
(...) distribuidoras de combustíveis e aqueles sem marca são os
mesmos, por competirem ambas no mesmo ramo de
atividade. Assim, ao se excluírem os postos "bandeira branca"
da obrigatoriedade de terem instalação de lacres eletrônicos,
esses empreendimentos terão custo final menor. Para a
ministra, a lei configura desigualdade de tratamento e
desequilíbrio da relação de concorrência entre os postos, a
partir da imposição de instalação de oneroso equipamento,
com ônus de multa àqueles que descumprirem a norma.”
Fonte: http://stf.jus.br

⚠ATENÇÃO⚠
📜 “É inconstitucional — por manifesta violação ao art. 84,
VI, ‘b’, da Constituição Federal — a extinção de cargos e
funções que estejam ocupados na data da edição do decreto
do presidente da República.”
(ADI 6.186/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento
virtual finalizado em 17.4.2023, info 1091)
Resumo::
“O decreto de competência privativa do chefe do Poder
Executivo federal, previsto no art. 84, VI, da CF/1988, se
limita às hipóteses de ‘organização e funcionamento da
administração federal, quando não implicar aumento de
despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos’ (alínea a),
e de ‘extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos’
(alínea b). Em ambas as situações, a atuação do presidente da
República não tem força criadora autônoma, nem é dotada de
condições para inovar decisivamente na ordem jurídica. Com
base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou
procedente a ação para: (i) dar interpretação conforme a
Constituição ao Decreto 9.725/2019 do presidente da
República, a fim de que somente se aplique aos cargos vagos
na data de sua edição; e (ii) declarar a inconstitucionalidade de
seu art. 3º.”

⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
󰠹De acordo com o STF, “É constitucional norma estadual
que, ao regulamentar o afastamento de servidor público
estável para o exercício de mandato sindical, assegura-lhe o
direito de licença sem remuneração.”
(ADI 7.242/GO, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento
virtual finalizado em 17.4.2023, info 1091)
Resumo:
“Na espécie, o dispositivo legal impugnado foi editado
conforme os princípios constitucionais e com a adequação do
regime jurídico estadual às normas previstas no regime
jurídico dos servidores públicos federais, de modo que não
representa inovação no ordenamento jurídico, tampouco viola
o princípio de vedação ao retrocesso social. Ademais, a
simples regulamentação do afastamento ou concessão de
licença a servidor para o exercício de mandato classista não
tem aptidão para interferir na organização sindical ou
associativa, não ensejando ofensa aos direitos da livre
associação e à autonomia sindical.”

⚠ATENÇÃO⚠
🅾🅰🅱 Nova tese fixada pelo STF: “O Conselho Federal e
os Conselhos Seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil
não estão obrigados a prestar contas ao Tribunal de Contas da
União nem a qualquer outra entidade externa.”
(RE 1182189/BA, Tema 1054 RG, julgamento virtual
finalizado em 24.04.2023)
⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
󰦓Nova tese de repercussão geral do STF: “O artigo 268 do
Código Penal veicula norma penal em branco que pode ser
complementada por atos normativos infralegais editados pelos
entes federados (União, estados, Distrito Federal e
municípios), respeitadas as respectivas esferas de atuação, sem
que isso implique ofensa à competência privativa da União
para legislar sobre direito penal (artigo 22, inciso I, da
Constituição Federal)”. (ARE 1418846/RS, Relatora Ministra
Rosa Weber, Tema 1246 RG, DJE publicado em 03/04/2023)
Resumo:
“Nos termos da jurisprudência desta Suprema Corte a
competência para proteção da saúde, seja no plano
administrativo, seja no plano legislativo, é compartilhada entre
a União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios,
inclusive para impor medidas restritivas destinadas a impedir a
introdução ou propagação de doença contagiosa. A infração a
determinações sanitárias do Estado, ainda que emanada de
atos normativos estaduais, distrital ou municipais, permite seja
realizada a subsunção do fato ao crime tipificado no artigo 268
do Código Penal, afastadas as alegações genéricas de
inconstitucionalidade de referidas normas por violação da
competência privativa da União”.
⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
🛗Nova tese fixada pelo STF: “É inconstitucional dispositivo
de Constituição estadual que permite transposição, absorção
ou aproveitamento de empregado público no quadro
estatutário da Administração Pública estadual sem prévia
aprovação em concurso público, nos termos do art. 37, II, da
Constituição Federal.”
(RE 1.232.885/AP, relator Ministro Nunes Marques,
julgamento virtual finalizado em 12.4.2023, Tema 1128 RG,
info 1090).
Resumo:
“São vedadas pela ordem constitucional vigente — por força
do princípio do concurso público (CF/1988, art. 37, II) — a
transposição, a absorção ou o aproveitamento de servidor em
outros órgãos ou entidades da Administração Pública direta,
autárquica e fundacional do mesmo estado sem a prévia
aprovação em concurso público.
A jurisprudência desta Corte é firme no sentido da
necessidade de observância da prévia aprovação em certame,
seja no provimento originário, seja no derivado (1).
Nesse contexto, a exigência de concurso público encontra
fundamento no postulado da isonomia de acesso a cargos
públicos e na concretização dos princípios da moralidade
administrativa e da impessoalidade.”
⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
󰞥󰟦O STF decidiu que “a ausência de lei nacional para
disciplinar as condições e os percentuais mínimos dos cargos
em comissão que devem ser ocupados por servidores de
carreira na administração pública não representa omissão dos
Poderes Legislativo e Executivo”, no contexto do artigo 37,
inciso V, da Constituição Federal. O relator, ministro Gilmar
Mendes, anotou que “a regra do percentual mínimo,
introduzida pela Emenda Constitucional (EC) 19/1988, visou
acabar com abusos no recrutamento amplo para cargos e
funções comissionados. No entanto, a ausência de lei não
impede o exercício de nenhum direito fundamental, pois não
cria obstáculos à designação dos servidores para preencherem
os cargos em comissão. Segundo ele, diante da não
obrigatoriedade de regulamentação para que a norma
constitucional produza efeitos, não há omissão legislativa
inconstitucional. Em seu entendimento, eventual lei nacional
sobre a questão pode afrontar a autonomia e a competência
dos entes federados para dispor sobre o tema e adequá-lo a
suas necessidades.”
(ADO/DF 44, relator Ministro Gilmar Mendes, julgada na
sessão virtual encerrada em 17/4).
Fonte: http://stf.jus.br
⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
🔫 STF: “No caso de vítima atingida por projétil de arma de
fogo durante uma operação policial, é dever do Estado, em
decorrência de sua responsabilidade civil objetiva, provar a
exclusão do nexo causal entre o ato e o dano, pois ele é
presumido.”
(ARE 1.382.159 AgR/RJ, relator Ministro Nunes Marques,
redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgamento em
28.3.2023, info 1089)

Resumo:
“No contexto de incursões policiais, comprovado o confronto
armado entre agentes estatais e criminosos (ação), e a lesão ou
morte de cidadão (dano) por disparo de arma de fogo (nexo),
o Estado deve comprovar a ocorrência de hipóteses
interruptivas da relação de causalidade. A ação de agentes
estatais — munidos de armamento letal, em área urbana
densamente povoada, deflagrando ou reagindo a confronto
com criminosos — impõe ao ente estatal a demonstração da
conformidade da intervenção das forças de segurança pública,
visto que possui condições de elucidar as causas e
circunstâncias do evento danoso. A atribuição desse ônus
probatório é decorrência lógica do(...)
(...) monopólio estatal do uso da força e dos meios de
investigação. O Estado possui os meios para tanto — como
câmeras corporais e peritos oficiais —, cabendo-lhe averiguar
as externalidades negativas de sua ação armada, coligindo
evidências e elaborando os laudos que permitam a
identificação das reais circunstâncias da morte de civis
desarmados dentro de sua própria residência. Na espécie, a
perícia foi inconclusiva sobre a origem do disparo. A vítima
foi alvejada por projétil de arma de fogo dentro de sua própria
casa, enquanto deitado na cama com sua mãe, quando ocorria
incursão de agentes estatais armados, com disparos de armas
de fogo. Assim, ausente a comprovação pelo Estado de caso
fortuito, força maior, culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro
ou outra circunstância interruptiva do nexo causal, mostra-se
inafastável o dever de indenizar.”
⚠ATENÇÃO⚠⚖ O STF quanto à alegada
inconstitucionalidade do art. 27 da Lei 9.868/1999, por
maioria, julgou improcedente as ADIs 2154 e 2258. Portanto,
é constitucional a modulação dos efeitos da decisão, podendo
o STF, por maioria de dois terços de seus membros, restringir
os efeitos da declaração de inconstitucionalidade ou decidir
que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou
de outro momento que venha a ser fixado. (ADIs 2154/DF e
2258/DF, 31.3.2023)
⚠ ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
👔Nova tese fixada pelo STF:
“É constitucional a instituição de órgãos, funções ou carreiras
especiais voltadas à consultoria e assessoramento jurídicos dos
Poderes Judiciário e Legislativo estaduais, admitindo-se a
representação judicial extraordinária exclusivamente nos casos
em que os referidos entes despersonalizados necessitem
praticar em juízo, em nome próprio, atos processuais na defesa
de sua autonomia, prerrogativas e independência face aos
demais Poderes, desde que a atividade desempenhada pelos
referidos órgãos, funções e carreiras especiais remanesça
devidamente apartada da atividade-fim do Poder estadual a
que se encontram vinculados.”
ADI 6.433/PR, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento
virtual finalizado em 31.3.2023 (info 1089)
⚠ATENÇÃO⚠
󰞤󰟚 Por ocasião do julgamento do RE 999435/SP, o STF
fixou a seguinte tese em repercussão geral (tema 638): “A
intervenção sindical prévia é exigência procedimental
imprescindível para a dispensa em massa de trabalhadores, que
não se confunde com autorização prévia por parte da entidade
sindical ou celebração de convenção ou acordo coletivo”. Pois
bem. Na sessão virtual finalizada em 12/04/2023, o STF, “por
maioria, acolheu em parte os embargos de declaração, para
modular os efeitos da decisão, de modo a explicitar que a
exigência de intervenção sindical prévia vincula apenas as
demissões em massa ocorridas após a publicação da ata do
julgamento de mérito, nos termos do voto do Ministro
Roberto Barroso, Redator para o acórdão.”
⚠ATENÇÃO PGE⚠
󰞥󰟱 O STF julgou “inconstitucionais normas do Rio
Grande do Norte que criaram e estruturaram a Assessoria
Jurídica Estadual, órgão vinculado à Procuradoria-Geral do
estado”. Entendeu-se que a previsão viola o artigo 132 da
Constituição Federal, segundo o qual compete aos
procuradores dos estados e do Distrito Federal a
representação judicial e a consultoria jurídica das unidades
federadas. “Em voto seguido por unanimidade, o relator,
ministro Edson Fachin, explicou que o princípio da unicidade
da representação judicial veda a criação de órgão de assessoria
jurídica diverso da Procuradoria do estado para exercer parte
das atividades privativas dos procuradores, ainda que haja
previsão de vinculação à Procuradoria-Geral do Estado.
Assim, para o ministro, o artigo 88 da Constituição estadual é
inconstitucional.”
(ADI 6500/RN, Plenário, Sessão Virtual de 3.3.2023 a
10.3.2023, Relator Ministro Edson Fachin).
⚠ATENÇÃO PGE⚠
Nova tese fixada pelo STF:
⛽“O diferimento do ICMS relativo à saída do álcool etílico
anidro combustível (AEAC) das usinas ou destilarias para o
momento da saída da gasolina C das distribuidoras (Convênios
ICMS 80/1997 e 110/2007) não gera o direito de crédito do
imposto para as distribuidoras.”
(RE 781.926/GO, relator Ministro Dias Toffoli, tema 694 RG,
julgamento virtual finalizado em 24.3.2023, info 1088)

Resumo:
“As distribuidoras de combustíveis não possuem direito a
crédito do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS) relativo ao álcool etílico anidro combustível
(AEAC) adquirido de usinas ou destilarias quando ocorrer o
diferimento do pagamento daquele tributo (consistente em
substituição tributária para trás).
A ‘gasolina C’, comercializada pelas distribuidoras, resulta da
mistura de ‘gasolina A’, insumo adquirido de refinarias com o
AEAC, insumo adquirido das usinas e destilarias pelo regime
de diferimento.
(...)
(...) Nesse contexto, o ICMS referente à saída do álcool anidro
das usinas ou destilarias é postergado para o momento em que
ocorrer a saída da ‘gasolina C’ dos estabelecimentos
distribuidores de combustíveis. O estado federado não cobra o
ICMS quando da própria saída do AEAC das usinas ou
destilarias para as distribuidoras. As usinas, as destilarias e as
refinarias também nada pagam a título do ICMS quando da
saída do álcool em questão. Assim, sem o recolhimento
anterior do ICMS, não é possível o creditamento pelas
distribuidoras em razão da aquisição do AEAC, ainda que o
imposto fique ‘destacado’ na nota fiscal de venda do álcool.
A técnica do diferimento respeita a não cumulatividade, que
busca afastar o efeito cascata da tributação. Ausente esse
efeito, inexiste qualquer violação ao preceito do art. 155, § 2º,
I, da CF/1988. Ademais, a cobrança unificada do ICMS não se
confunde com cobrança cumulativa do imposto”.
⁉A quem pertencem os valores provenientes de multa
aplicada por Tribunal de Contas estadual a agente público
municipal?
⚖O STF recentemente fixou tese de repercussão geral: “O
Município prejudicado é o legitimado para a execução de
crédito decorrente de multa aplicada por Tribunal de Contas
estadual a agente público municipal, em razão de danos
causados ao erário municipal.”
(RE 1003433/RJ, repercussão geral (tema 642), relator
ministro Marco Aurélio, redator do acórdão ministro
Alexandre de Moraes, DJE 13/10/2021)
O STF entendeu que na, “situação em análise, a multa foi
aplicada em razão de uma ação do agente público em
detrimento do ente federativo ao qual serve, o Município. Não
há nenhum sentido em que tal valor reverta para os cofres do
Estado-membro a que vinculado o Tribunal de Contas. Se a
multa aplicada pelo Tribunal de Contas decorreu da prática de
atos que causaram prejuízo ao erário municipal, o legitimado
ativo para a execução do crédito fiscal é o Município lesado, e
não o Estado do Rio de Janeiro, sob pena de enriquecimento
sem causa estatal.”
Fonte: http://stf.jus.br
⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
🪙De acordo com o STF: "É inconstitucional — por violar a
competência da União para estabelecer normas gerais sobre
direito financeiro e orçamentário (CF/1988, art. 24, I, II e §§
1º a 4º) e por afrontar o princípio do equilíbrio fiscal
(CF/1988, art. 169) — lei distrital que, ao tratar do cálculo do
limite da despesa total com pessoal para o exercício financeiro,
estabelece regime contrário ao fixado na Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF)".
(ADI 5.598/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento
virtual finalizado em 24.3.2023, info 1088).

Resumo: “Na espécie, os diplomas distritais questionados, ao


preverem que não se qualificam como substituição de
servidores e empregados públicos os contratos de
terceirização de mão-de-obra cujo objeto é o desempenho de
atividades com determinadas características, invadem a
competência da União e se antecipam ao intérprete da
legislação federal, em sentido colidente com o propósito do
art. 18, § 1º, da LC 101/2000, a LRF.
(...)
(...) Nesse contexto, o legislador distrital não pode, a pretexto
de suplementar e especificar o sentido da referida norma geral
federal, alterar o seu significado de modo a afastar a sua
incidência sobre hipótese em que, na realidade, deveria incidir.
Ademais, as leis impugnadas, que dispõem sobre as diretrizes
orçamentárias para os exercícios financeiros de 2017 e 2018
do Distrito Federal, conferem ao Poder Executivo a
possibilidade de excluir do cômputo das despesas com
pessoal, discricionariamente, todo e qualquer contrato de
terceirização firmado pela Administração distrital, de modo a
consagrar a realização de despesa com pessoal em excesso aos
limites estabelecidos na LRF."
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade,
converteu o julgamento da medida cautelar em julgamento
definitivo de mérito, conheceu parcialmente da ação e, nessa
extensão, a julgou procedente para declarar a
inconstitucionalidade formal e material do art. 51, § 1º, da Lei
5.695/2016, e do art. 53, § 1º, da Lei 5.950/2017 (4), ambas
do Distrito Federal.”
⚠ATENÇÃO AGU⚠
󰞨󰏠Nova tese de repercussão geral fixada pelo STF: “O
candidato estrangeiro tem direito líquido e certo à nomeação
em concurso público para provimento de cargos de professor,
técnico e cientista em universidades e instituições de pesquisa
científica e tecnológica federais, nos termos do artigo 207, §
1º, da Constituição Federal, salvo se a restrição da
nacionalidade estiver expressa no edital do certame com o
exclusivo objetivo de preservar o interesse público e desde
que, sem prejuízo de controle judicial, devidamente
justificada”.
(RE 1177699/SC, com repercussão geral, Tema 1032, relator
ministro Edson Fachin, finalizado na sessão virtual de 24/3).

Resumo:
O STF decidiu que um “candidato estrangeiro aprovado em
concurso público para o cargo de professor, técnico ou
cientista em universidades e instituições de pesquisa científica
e tecnológica federais têm direito à nomeação” (...)
(...) “Prevaleceu, no julgamento, o voto do relator, ministro
Edson Fachin, no sentido de que esse direito está assegurado
no artigo 207, parágrafo 1º, da Constituição Federal. A
exceção é se a restrição da nacionalidade estiver expressa no
edital do concurso com o objetivo exclusivo de preservar o
interesse público e seja devidamente justificada. Segundo esse
dispositivo constitucional, as universidades têm autonomia
didático-científica, administrativa e de gestão financeira e
patrimonial, e o parágrafo 1° faculta a elas admitir professores,
técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei. O
dispositivo foi regulamentado pela Lei 9.515/1997.” (...) “Ao
votar pelo provimento do recurso, o relator afirmou que a
exclusão de estrangeiro de concurso público, fundado apenas
em sua nacionalidade, conflita, também, com o princípio
constitucional da isonomia e desrespeita a Lei 9.515/1997, que
dispõe sobre a admissão de professores, técnicos e cientistas
estrangeiros pelas universidades e pelas instituições de
pesquisa científica e tecnológica federais.” No caso concreto,
foi um iraniano aprovado para professor no IFSC.
Fonte: http://stf.jus.br
⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
󰱘󰞢 “É inconstitucional — por violação à competência
privativa da União para legislar sobre direito do trabalho
(CF/1988, art. 22, I) — lei estadual que obriga hospitais
públicos e privados a criarem uma sala de descompressão para
ser utilizada por enfermeiros, técnicos de enfermagem e
auxiliares de enfermagem.”
(ADI 6.317/SP, relator Ministro Edson Fachin, redator do
acórdão Ministro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado
em 15.3.2023, info 1087)
Resumo:
“A lei impugnada prevê a ampliação de um direito criado para
determinada categoria profissional e, ainda que vise à melhoria
da saúde de seus integrantes, trata de questão trabalhista. Por
esse motivo, não há se falar que o conteúdo normativo
abrange matéria sanitária, atinente à política de proteção e
defesa da saúde, cuja competência, por outro lado, é
concorrente da União, dos estados e do Distrito Federal
(CF/1988, art. 24, XII). Ademais, como a lei em análise é de
iniciativa parlamentar, também é possível verificar sua
inconstitucionalidade formal quanto aos hospitais públicos,
pois deve partir do chefe do Poder Executivo a iniciativa de
projeto de lei para regular relação com seus próprios
servidores.”
⚠ATENÇÃO⚠
🚌🚎 O STF entendeu constitucionais “normas que
permitem o oferecimento de serviços interestaduais e
internacionais de transporte terrestre coletivo de passageiros
mediante simples autorização, sem procedimento licitatório
prévio. Por maioria, a Corte entendeu que, além de ser
constitucional, o atual regime que regula o uso da autorização
no setor aumenta a eficiência na prestação desse serviço
essencial e relevante ao bem-estar da sociedade.”
(ADIs 5549 e 6270, relator ministro Luiz Fux, j. 29/03/2023,
fonte: http://stf.jus.br)

Resumo:
“O entendimento da maioria dos ministros foi orientado pela
conclusão do relator das ações, ministro Luiz Fux, no sentido
da improcedência dos pedidos. Segundo ele, a regra é a
realização de licitação. Mas, especificamente em relação ao
transporte rodoviário interestadual e internacional, uma
interpretação sistêmica da Constituição admite a autorização
do serviço, desvinculado da exploração de infraestrutura, sem
o processo licitatório, mediante o respeito aos princípios da
administração pública (...)
(...) (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência). Fux avaliou, ainda, que o regime de autorização
teve impacto positivo no processo de abertura do setor e
trouxe benefícios aos usuários do serviço. A maioria da Corte
também seguiu o entendimento de que o Poder Executivo e a
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) devem
providenciar as formalidades complementares determinadas
pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Lei
14.298/2022 que tratam da matéria. Essas disposições
estabelecem, em substituição à licitação, a realização de
processo seletivo público com previsão de critérios como
capital social mínimo e cumprimento de requisitos de
acessibilidade, segurança, capacidade técnica, operacional e
financeira.”

⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
🏛“É inconstitucional — por ofender o princípio da simetria
— norma de Constituição estadual que prevê a edição de lei
complementar para disciplinar as atribuições e o estatuto das
carreiras exclusivas de Estado, visto que essa exigência não
encontra paralelo na Constituição Federal, sobretudo em
relação à carreira policial (CF/1988, art. 144, § 7º).” (STF,
ADI 2.926/PR, relator Ministro Nunes Marques, julgamento
virtual finalizado em 17.3.2023, info 1087)
Resumo:
“A votação e a aprovação de lei complementar em contexto no
qual se exigiria lei ordinária é apenas redundante, sem implicar
vício formal. Assim, se editada lei complementar para dispor
sobre a organização e o funcionamento dos órgãos
responsáveis pela segurança pública, a norma deverá ser
tratada como lei ordinária, e não anulada por suposta
inobservância do processo legislativo.
É inconstitucional — por violar o devido processo legal
(CF/1988, art. 5º, LIV) e o princípio da não culpabilidade
(CF/1988, art. 5º, LVII) — norma estadual que prevê a
supressão remuneratória de policial investigado em sede de
sindicância. Não obstante, o afastamento do acusado deve ser
analisado à luz do caso concreto, com observância às garantias
constitucionais do contraditório e da ampla defesa (CF/1988,
art. 5º, LV).
Esta Corte já decidiu que a presunção de inocência se estende
até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
Desse modo, é evidente que a tramitação do processo
criminal, em si, não autoriza a supressão do pagamento do
servidor público acusado de crime. (...)
(...) Já a possibilidade do afastamento preventivo do policial
em sede de sindicância (LC paranaense 14/1982, art. 240, §§
5º e 6º) dependerá das circunstâncias do caso concreto, diante
da inviabilidade de determinação de um rol exaustivo dos
elementos fáticos que podem surgir na apuração
administrativa da falta funcional.
No que se refere à necessidade de um representante da
Procuradoria-Geral do Estado no Conselho da Polícia Civil
(LC paranaense 14/1982, art. 6º, VII), não há previsão
constitucional no sentido de vedar o exercício aos advogados
públicos, ainda que em disponibilidade, de qualquer outra
função pública.
No mais, é meramente expletiva a determinação de aplicação
subsidiária de normas análogas (na espécie, do Código de
Processo Penal) a situações de aparente anomia (LC
paranaense 14/1982, na redação dada pela LC paranaense
98/2003, art. 243, § 1º). Esse método decorre do DL
4.657/1942 (Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro - LINDB)”.
⚠ATENÇÃO⚠
󰠓🪖 “É inconstitucional — por ofensa aos princípios da
isonomia, da moralidade e da eficiência administrativa —
norma que permite o exercício da advocacia em causa própria,
mediante inscrição especial na OAB, aos policiais e militares
da ativa, ainda que estritamente para fins de defesa e tutela de
direitos pessoais”
(STF, ADI 7.272/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia,
julgamento virtual finalizado em 17.3.2023, info 1087)

Resumo:
“Esta Corte já concluiu que as restrições ao exercício da
advocacia imposta aos policiais e militares não ofendem a
Constituição. Isso porque as incompatibilidades têm a função
de resguardar a liberdade e a independência da atuação do
advogado, afastando-se a subordinação hierárquica ou o
exercício de atividades de Estado que exijam a imparcialidade
em favor do interesse público na aplicação da lei.
(...)
(...) O advogado é indispensável à administração da Justiça
(CF/1988, art. 133), de modo que o seu desempenho não
pode ocorrer com sujeição a poderes hierárquicos próprios a
atividades e regulamentos militares, ou ainda a poderes
hierárquicos decorrentes da atividade policial civil.
Nesse contexto, os regimes jurídicos a que os policiais e os
militares são submetidos não se compatibilizam com o
exercício simultâneo da advocacia, mesmo que em causa
própria, pois inexiste a possibilidade de conciliarem as
atividades sem que ocorram conflitos de interesses.
As funções estatais relacionadas à preservação da segurança
pública e da paz social por eles exercidas propiciam uma
influência indevida e privilégios de acesso a autos de
inquéritos e processos, entre outras vantagens que
desequilibram a relação processual. Assim, a incompatibilidade
constitui medida legal que objetiva impedir abusos, tráfico de
influência ou práticas que coloquem em risco a independência
e a liberdade da advocacia.”
⚠ATENÇÃO⚠
󰠓󰘏 STF decidiu que o “regime de subsídio não impede o
pagamento dos direitos trabalhistas aplicáveis aos servidores
públicos por força da Constituição Federal. Devem ser
afastados apenas os adicionais que remunerem as atividades
inerentes ao cargo, ou seja, aquelas relativas ao trabalho
mensal ordinário do servidor.”
(ADI 5404/DF, relator ministro Luís Roberto Barroso,
julgamento virtual, 03/03/2023).

Resumo:
“O relator da ação, ministro Luís Roberto Barroso, concluiu
que o regime de subsídio dos policiais rodoviários federais não
é compatível com o recebimento de outras parcelas inerentes
ao exercício do cargo, mas não afasta o direito à retribuição
pelas horas extras que ultrapassem remuneração da parcela
única.
Em seu voto, Barroso ressaltou que a lei federal, ao fixar o
subsídio da categoria, incluiu na parcela única as verbas
destinadas a compensar o desgaste físico e mental causado
pelas atividades próprias do cargo. (...)
(...) O deferimento de adicional noturno para o exercício de
funções inerentes ao cargo configuraria aumento de
vencimentos pelo Poder Judiciário, em afronta à Constituição
e à jurisprudência pacífica do STF.
Por outro lado, o regime de subsídio não afasta o direito dos
servidores à retribuição pelas horas extras que eventualmente
ultrapassem a parcela única. Por esse motivo, Barroso votou
no sentido de afastar qualquer aplicação que impeça a
remuneração dos policiais rodoviários federais pelo serviço
extraordinário que exceda a jornada de trabalho prevista para a
categoria.”
Fonte: http://stf.jus.br

⚠ATENÇÃO⚠
󰞥󰟱“É inconstitucional norma de Constituição estadual
que, após o advento da Constituição Federal de 1988, cria
órgão de assessoramento jurídico auxiliar (‘Assessoria Jurídica
estadual’) em caráter permanente e vinculado expressamente à
Procuradoria-Geral do estado, às quais compete o exercício de
atividades de representação judicial, consultoria e
assessoramento jurídico. O princípio da unicidade da
representação judicial e da consultoria jurídica dos estados e
do Distrito Federal veda a criação de (...)
(...) órgão de assessoria jurídica na Administração direta e
indireta diverso da Procuradoria do estado para exercer parte
das atividades que são privativas dos procuradores, ainda que
haja previsão de vinculação à Procuradoria-Geral do estado.
Ademais, a exceção prevista no ADCT deixa evidente que,
depois da promulgação da Constituição Federal de 1988, não
seria mais possível a criação de órgãos jurídicos distintos da
Procuradoria-Geral do estado, admitindo-se apenas a
manutenção das consultorias jurídicas já existentes quando do
advento da nova ordem constitucional.”
(ADI 6.500/RN, relator Ministro Edson Fachin, julgamento
virtual finalizado em 10.3.2023, info 1086)

⚠ATENÇÃO PGM⚠
💵Nova tese fixada pelo STF:
“É inconstitucional a fixação, pelos estados, de subteto
constitucional extensível aos servidores municipais, por força
do art. 37, XI, da CF”.
(ADI 6.843/AP, Plenário, Rel. Ministro Roberto Barroso, j.
02/03/2023)
Resumo:
“Ação direta de inconstitucionalidade contra o art. 42, XI, da
Constituição do Estado do Amapá, com a redação conferida
pela Emenda Constitucional no 35/2006, que fixa subteto
remuneratório único para os servidores públicos estaduais e
municipais. Quanto ao subteto dos servidores estaduais, a
jurisprudência desta Corte reconhece que a Constituição
possibilita ao Estado optar entre: (i) a definição de um subteto
por poder, hipótese em que o teto dos servidores da Justiça
corresponderá ao subsídio dos Desembargadores do Tribunal
de Justiça (art. 37, XI, CF, na redação da Emenda
Constitucional 41/2003); e (ii) a definição de um subteto
único, correspondente ao subsídio mensal dos
Desembargadores do Tribunal de Justiça, para todo e qualquer
servidor de qualquer poder, ficando de fora desse subteto
apenas o subsídio dos Deputados (ADI 4.900, Red. para
acórdão Min. Luís Roberto Barroso, j. 11.02.2015).
Todavia, na hipótese de fixação de um subteto estadual único,
o Plenário do STF decidiu que tal parâmetro direciona-se
apenas aos servidores estaduais, uma vez que aos estados não
cabe estabelecer o teto remuneratório municipal, que já se
encontra determinado pelo art. 37, XI, da CF (ADI 6.811, Rel.
Min. Alexandre de Moraes, j. 23.08.2021).”
⚠ATENÇÃO⚠
󰠓 STF, por maioria, declara a inconstitucionalidade da
previsão da possibilidade de requisição de inquérito policial
pela Defensoria Pública.
(ADI 4.346, j. 10/03/2023)
Veja a ementa do voto vencedor exarado pelo Min. Alexandre
de Moraes.
⚠ATENÇÃO⚠
⚡ “É inconstitucional — por violação à competência da
União para explorar os serviços e instalações de energia
elétrica e para legislar sobre energia (CF/1988, arts. 21, XVII,
‘b’; 22, IV; e 175, parágrafo único) — lei estadual que obriga
as empresas concessionárias de energia elétrica a expedirem
notificação com aviso de recebimento para a realização de
vistoria técnica no medidor de usuário residencial.”
(STF, ADI 3.703/RJ, relator Ministro Edson Fachin, redator
do acórdão Ministro Gilmar Mendes, j. 3.3.2023, info 1085)

⚠ ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
🏥Nova tese fixada pelo STF: “É constitucional a
constituição de fundação pública de direito privado para a
prestação de serviço público de saúde.”
Resumo:
“Lei estadual pode autorizar a criação de fundação pública de
direito privado para atuar na prestação de serviço público de
saúde. O art. 5º, IV, do Decreto-Lei 200/1967 (incluído pela
Lei 7.596/1987) foi recepcionado com eficácia de lei
complementar pela Constituição Federal. O serviço público de
saúde não incide no óbice do desempenho, pelas fundações
públicas, de atividades que exigem (...)
(...)a atuação exclusiva do Estado — os denominados serviços
públicos inerentes — já que, ‘a assistência à saúde é livre à
iniciativa privada’ (CF/1988, art. 199). Ademais, inexiste
modelo pré-definido pela Constituição Federal para a
prestação de tais serviços pelo poder público, razão pela qual
deve prevalecer a autonomia de cada ente federativo para
definir a forma mais eficiente de realizar as atividades
correlatas (CF/1988, art. 18). Com relação ao regime de
pessoal, a jurisprudência desta Corte entende que a relação
jurídica mantida entre as fundações de direito privado
instituídas pelo poder público e seus prestadores de serviço é
regida pela CLT, e que a exigência de instituição de regime
jurídico único não se estende às fundações de direito privado”.
(ADI 4.197/SE, rel. Ministro Roberto Barroso, j. 28.2.2023)
⚠ATENÇÃO⚠
🔦 STF: “O exercício da atividade regulatória da Agência
Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) — especialmente
as disposições normativas que lhe conferem competência para
definir infrações e impor sanções e medidas administrativas
aplicáveis aos serviços de transportes — deve respeitar os
limites para a sua atuação definidos no ato legislativo
delegatório emanado pelo Congresso Nacional.
Exige-se que o ato regulatório apresente uma correspondência
direta com diretrizes e propósitos firmados em lei ou na
própria Constituição Federal. Assim, as agências reguladoras
não podem, no exercício de seu poder normativo, inovar
primariamente a ordem jurídica sem expressa delegação,
regulamentar matéria para a qual inexista um prévio conceito
genérico em sua lei instituidora, assim como criar ou aplicar
sanções não previstas em lei.
Contudo, isso não impede que os regulamentos emanados das
agências reguladoras inovem, acrescentando e
complementando, desde que seu conteúdo normativo não
traduza desbordamento dos limites que lhe foram delegados.”
ADI 5.906/DF, relator Ministro Marco Aurélio, redator do
acórdão Ministro Alexandre de Moraes, j. 3.3.2023 (info 1085)
⚠ ATENÇÃO PGM⚠
💰Nova tese fixada pelo STF
“São incompatíveis com a Constituição Federal de 1988 a
concessão e, ainda, a continuidade do pagamento de pensões
mensais vitalícias não decorrentes do RGPS a dependentes de
prefeitos e vice-prefeitos, em razão do mero exercício do
mandato eletivo.”

Resumo:
“Contraria a ordem constitucional vigente — por se tratar de
benefício incompatível com a sua sistemática previdenciária e
com os princípios republicano e da igualdade — o pagamento
de pensão especial a ex-detentor de cargo público e a seus
dependentes. Na linha da jurisprudência desta Corte, a
concessão desse benefício implica tratamento diferenciado e
privilegiado, sem fundamento jurídico razoável e com ônus
aos cofres públicos, em favor de quem não mais exerce função
pública ou presta qualquer serviço à Administração, ou, ainda,
de quem jamais o fez.”
ADPF 783/ES, rel. Min. Dias Toffoli, j. 3.3.2023 (info 1085)
⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
🥾 “A conduta de filmar, por meio de câmera escondida,
alunas, servidoras e funcionárias terceirizadas caracteriza a
infração de conduta escandalosa, prevista no art. 132, V, parte
final, da Lei n. 8.112/1990, o que atrai a pena de demissão do
servidor público.”
(REsp 2.006.738-PE, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira
Turma, por unanimidade, julgado em 14/2/2023, info 764).

Resimo:
“A incontinência pública é o comportamento de natureza
grave, tido como indecente, que ocorre de forma habitual,
ostensiva e em público. Conquanto se apresente correta a
assertiva de que, para justificar a aplicação da pena de
demissão, a incontinência praticada pelo servidor deva ser,
além de pública, também escandalosa e grave, há que se
ressaltar que a ‘conduta escandalosa’, como referida no
dispositivo legal em tela, possui natureza autônoma,
ostentando, via de consequência, requisitos próprios. De fato,
a conduta escandalosa refere-se àquela que, embora também
ofenda a moral administrativa, pode ocorrer de forma pública
ou às ocultas, reservadamente, mas que em momento
posterior chega ao conhecimento da Administração.”
⚠ ATENÇÃO TCE, PGE e PGM⚠
⚖“É legítima — desde que observados os respectivos limites
de controle externo, a precedência das disposições legais
(princípio da legalidade) e as prerrogativas próprias conferidas
aos órgãos do Poder Executivo — a edição de atos
normativos por tribunais de contas estaduais com o objetivo
de regulamentar procedimentalmente o exercício de suas
competências constitucionais. A inexistência de um poder
normativo expressamente previsto na Constituição Federal
serve como guia para a compreensão do papel que essa
atribuição infraconstitucional dos tribunais de contas deve
desempenhar, assim como o estabelecimento de seus limites.”
(ADI 4.872/PR, j. 15.2.2023, info 1083)

⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
󰞥󰟱STF fixa nova tese: “Não cabe ao Poder Judiciário, sob
o fundamento de isonomia, conceder retribuição por
substituição a advogados públicos federais em hipóteses não
previstas em lei.”
ADI 5.519/DF, j. 17.2.2023 (info 1083)
⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
🪙 Nova tese de repercussão geral fixada pelo STF: “É
constitucional o art. 40 da Lei nº 6.830/1980 (Lei de
Execuções Fiscais – LEF), tendo natureza processual o prazo
de 1 (um) ano de suspensão da execução fiscal. Após o
decurso desse … prazo, inicia-se automaticamente a contagem
do prazo prescricional tributário de 5 (cinco) anos”.
(RE 636562/SC, j. 22/02/2023)

⚠ATENÇÃO⚠
💻Portal de notícias do STF: “O STF julgou constitucional a
possibilidade de autoridades nacionais solicitarem dados
diretamente a provedores de internet estrangeiros com sede
ou representação no Brasil sem, necessariamente, seguir o
procedimento do acordo celebrado entre o Brasil e os Estados
Unidos. Em decisão unânime, na sessão desta quinta-feira
(23), o Plenário entendeu que a hipótese está prevista no
Marco Civil da Internet. Na Ação Declaratória de ADC 51, a
Federação das Associações das Empresas (...)
(...)de Tecnologia da Informação pedia a declaração de
validade do Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal
(MLAT, na sigla em inglês), promulgado pelo Decreto Federal
3.810/2001, usado em investigações criminais e instruções
penais em curso no Brasil sobre pessoas, bens e haveres
situados nos Estados Unidos. O acordo bilateral trata da
obtenção de conteúdo de comunicação privada sob controle
de provedores de aplicativos de internet sediados fora do
país.”

⚠ATENÇÃO PGM⚠
🪦STF decide que é constitucional a incidência do ISS sobre a
“cessão de uso de espaços em cemitérios para sepultamento”
(subitem 25.05 da lista de serviços anexa à Lei Complementar
nº 116). O relator Gilmar Mendes destacou que a “previsão de
incidência do ISS sobre ‘cessão de uso de espaços em
cemitérios para sepultamento’ não pode ser reduzida a uma
mera obrigação de dar, no sentido de locação do espaço físico
pura e simples, a atrair a ratio decidendi da Súmula Vinculante
nº 31. Isso porque tal atividade abarca também a custódia e a
conservação dos restos mortais, as quais indubitavelmente se
enquadram no conceito tradicional de serviços.”
STF, ADI 5869, j. 17/02/2023.
⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
󰴩 Nova tese fixada pelo STF: “O pagamento de
‘salário-esposa’ a trabalhadores urbanos e rurais, e a servido
res públicos, viola regra expressa da Constituição de 1988 (art.
7º, XXX e art. 39, § 3º), e os princípios republicano, da
igualdade da moralidade e da razoabilidade.”
ADPF 860/SP e ADPF 879/SP, j. 06/02/2023, Info 1081.

Resumo::
A concessão de quaisquer benefícios remuneratórios a
trabalhadores rurais e urbanos, ou a servidores públicos, deve
estar vinculada ao desempenho funcional, de modo que
qualquer adicional que seja pago apenas em virtude de seu
estado civil viola a CF, por constituir desequiparação ilegítima
em relação aos demais. A CF proíbe a diferenciação de salários
em razão do estado civil dos trabalhadores, norma que se
aplica aos servidores.

⚠ATENÇÃO PGE e PGM⚠


💵 Os estados e municípios podem redefinir o valor limite da
Requisição de Pequeno Valor (RPV) visando à adequação de
suas respectivas capacidades financeiras e especificidades
orçamentárias. (STF, ADI 5421/DF, j. 16/12/2022, Info
1081)
⚠ATENÇÃO⚠
⚔ STF entendeu constitucional a aplicação concreta das
medidas atípicas previstas no artigo 139, inciso VI, do CPC,
desde que não avance sobre direitos fundamentais e observe
os princípios da proporcionalidade e razoabilidade. O relator
ressaltou que a autorização genérica contida no artigo
representa o dever do magistrado de dar efetividade às
decisões e não amplia de forma excessiva a discricionariedade
judicial. Para ele, é inconcebível que o Poder Judiciário não
possa fazer valer seus julgados.
(STF, ADI 5941, j.09/04/23)

⚠ATENÇÃO PGM⚠
🏖 Nova tese de repercussão geral: “O adicional de 1/3 (um
terço) previsto no art. 7º, XVII, da Constituição Federal incide
sobre a remuneração relativa a todo período de férias”.
(STF, RE 1.400.787/CE, Tema 1.241 RG, j. 15/12/2022).
⚠ATENÇÃO PGE E PGM⚠
♿Nova tese de repercussão geral: “Aos servidores públicos
estaduais e municipais é aplicado, para todos os efeitos, o art.
98, § 2° e § 3°, da Lei 8.112/1990.”
(STF, RE 1.237.867/SP, Tema 1.097 RG, j. 16/12/2022)

⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
󰘩󰪆Nova tese de repercussão geral: “Em se tratando de
cargos constitucionalmente acumuláveis, descabe aplicar a
vedação de acumulação de aposentadorias e pensões contida
na parte final do artigo 11 da Emenda Constitucional 20/98,
porquanto destinada apenas aos casos de que trata, ou seja,
aos reingressos no serviço público por meio de concurso
público antes da publicação da referida emenda e que
envolvam cargos inacumuláveis”.
(STF, RE 658.999/SC, j. 16/12/2022, tema 627 RG).

⚠ATENÇÃO PROCURADORIAS⚠
📑Nova tese de repercussão geral: “São inadmissíveis, em
processos administrativos de qualquer espécie, provas
consideradas ilícitas pelo Poder Judiciário”.
(STF, ARE 1316369, Tema 1238 RG, j. 09/12/2022)
⚠ATENÇÃO PGE E PGM⚠
Nova tese de repercussão geral fixada pelo STF: “Não tem
direito à indenização de férias-prêmio o servidor estadual cujo
vínculo com a Administração Pública, decorrente da Lei
Complementar mineira nº 100/2007, foi declarado nulo, por
inobservância dos princípios constitucionais que regem o
ingresso no serviço público”
(STF, RE 1400775, Tema 1.239 RG, j. 16/12/2022).
CASO PARA A FASE DISCURSIVA

Por Pedro Filipe Araújo de Albuquerque

Em 24 horas, ocorreram dois ataques de tubarão neste mês de


março nas proximidades da "Igrejinha" de Piedade, bairro do
município de Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco.
Vídeos terríveis das severas mutilações ocasionadas pelas feras
marinhas inundaram as redes sociais. O espanto e comoção
gerais mais uma vez tomaram as ruas da Região Metropolitana
do Recife.
Ataques de tubarão lamentavelmente ocorrem com frequência
no litoral pernambucano, sobretudo após as obras do porto de
Suape. Há registros históricos que datam do século 19.
Inclusive, paira, na memória da população, o famoso caso do
ataque ao frade carmelita, frei Serafim, que ocorreu também
nos arredores da "Igrejinha", na década de 1940.
Frequentemente, a população pergunta e discute sobre qual a
responsabilidade civil do estado diante dessas situações. Como
se sabe, a Constituição assinala (vide artigo 144) que a
segurança pública é dever do Estado, (...)
(...) direito e responsabilidade de todos, devendo ser exercida
para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do patrimônio.
Analisando-se a temática, nota-se que foi instituído, em 17 de
maio de 2004, por meio do Decreto Estadual nº 26.729,
Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com
Tubarões. O Cemit é um colegiado composto pela Secretaria
de Defesa Social, contando com a participação do Corpo de
Bombeiros Militar de Pernambuco, Polícia Militar de
Pernambuco, Instituto de Medicina Legal, Agência Estadual
do Meio Ambiente, Ibama (Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente), Capitania dos Portos de Pernambuco, Secretaria
Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade, entre outros.
Cabe ao Cemit acompanhar e registrar os incidentes com
tubarões, consolidando os dados estatísticos, definir estratégias
e ações que visem minimizar os riscos de incidentes com
tubarões nas praias afetadas, acompanhar as ações
desencadeadas pelos diversos órgãos relacionados aos
incidentes com tubarões, atuar como centro de referência,
orientando as informações e discussões sobre o referido
assunto e avaliar impactos de toda ordem, sejam econômicos,
sociais ou ambientais, decorrentes dos incidentes e ações
empreendidas.
(...)
Além disso, desde 1999, com a edição do Decreto Estadual nº
21.402, de 6 de maio de 1999, o Estado tem estabelecido
zonas de interdição, para prática de surfe, body boarding e
atividades náuticas similares, entre outras, em áreas da orla
marítima pernambucana. Um breve passeio, na praia, revela
inúmeras placas de aviso de risco de ataque. Observam-se
também bombeiros posicionados estrategicamente a vigiar a
praia e o mar. Ainda assim, algumas pessoas permanecem se
arriscando no mar. Diante disso, cabe indagar se o Estado é
civilmente responsável pelos danos gerados nos ataques de
tubarão.
A questão sobre responsabilidade civil do Estado chegou ao
Tribunal de Justiça de Pernambuco, mediante julgamento de
apelação, cuja ementa segue a seguir:
"RESPONSABILIDADE CIVIL. ATAQUE DE
TUBARÃO. INEXISTÊNCIA DO DEVER DO ESTADO
DE REPARAR A VÍTIMA. AUSÊNCIA DE NORMA
JURÍDICA QUE IMPONHA DEVER EXPRESSO AO
ESTADO DE PATRULHAR A COSTA PARA PREVENIR
ESSE TIPO DE ACIDENTE. APELO IMPROVIDO. 1. Em
relação a omissões do Estado, a jurisprudência tem apontado que sua
responsabilidade é de natureza subjetiva. É que não pode haver nexo (...)
(...) causal entre uma omissão e um dano. Sendo a omissão a abstenção
de um comportamento, não está apta a causar, no plano físico, um
resultado direto e danoso. Assim, para que se possa caracterizar a
responsabilidade por omissão é necessário que haja, por parte do Estado,
o descumprimento de um dever jurídico de agir. Só se pode pleitear
indenização do Estado por ato omissivo quando a omissão representar
uma violação direta de um dever expresso em norma jurídica. 2. Não
existe nenhuma norma jurídica de onde se possa extrair obrigação do
Estado de monitorar a costa pernambucana ou evitar a todo custo
ataques de tubarão. 3. Apelo improvido". (Tribunal de Justiça de
Pernambuco, Apelação Cível 301068-2, Processo
0203669-56.2005.8.17.0001, relator Ricardo de Oliveira Paes
Barreto, 2ª Câmara de Direito Público, j. 27/11/2014, data da
publicação 4/12/2014).”

Analisando-se o feito, percebe-se que, no caso, a 2ª Câmara de


Direito Público adotou, quanto à natureza da responsabilidade
civil nos casos de omissão estatal, a teoria da responsabilidade
subjetiva. Assim, como, no caso, não se verificou ato omissivo
estatal que configurasse violação direta de um dever expresso
em norma jurídica, entendeu-se improvimento do recurso
apresentado pelo particular.
(...) A doutrina e a jurisprudência divergem sobre a natureza
da responsabilidade civil nos casos de omissão estatal. Em
feliz sistematização, Rafael Oliveira [1], anota:

“Sobre o tema existem três entendimentos:


Primeira posição: responsabilidade objetiva, pois o artigo 37, §6.º, da
CRFB não faz distinção entre condutas comissivas ou omissivas. Nesse
sentido: Hely Lopes Meirelles. Segunda posição: responsabilidade
subjetiva, com presunção de culpa do Poder Público (presunção juris
tantum ou relativa), tendo em vista que o Estado, na omissão, não é o
causador do dano, mas atua de forma ilícita (com culpa) quando
descumpre o dever legal de impedir a ocorrência do dano. O artigo 37,
§6º, da CRFB, ao mencionar os danos causados a terceiros, teve o
objetivo de restringir a sua aplicação às condutas comissivas, uma vez que
a omissão do Estado, nesse caso, não seria "causa", mas "condição" do
dano. Nesse sentido: Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, Celso
Antônio Bandeira de Mello, Maria Sylvia Zanella Di Pietro, Diógenes
Gasparini, Lúcia Valle Figueiredo e Rui Stoco. Terceira posição: nos
casos de omissão genérica, relacionadas ao descumprimento do dever
genérico de ação, a responsabilidade é subjetiva. Por outro lado, nas
hipóteses de omissão específica, quando o Estado descumpre o dever
jurídico específico, a responsabilidade é objetiva. Nesse sentido: Guilherme
Couto de Castro e Sergio Cavalieri Filho.”
(...) Nesse contexto, o Supremo Tribunal Federal decidiu que
"em caso de inobservância do seu dever específico de
proteção previsto no artigo 5.º, inciso XLIX, da Constituição
Federal, o Estado é responsável pela morte de detento" (Tema
592 da Tese de Repercussão Geral do STF - Leading Case: RE
841526), adotando a responsabilidade objetiva do Estado
pelos danos em relação aos detentos, na forma do artigo 37,
§6º, da Constituição.
No mesmo sentido, relativamente ao Tema 366 da Tese de
Repercussão Geral do STF, a corte suprema adotou a tese no
sentido de que "Para que fique caracterizada a
responsabilidade civil do Estado por danos decorrentes do
comércio de fogos de artifício, é necessário que exista a
violação de um dever jurídico específico de agir, que ocorrerá
quando for concedida a licença para funcionamento sem as
cautelas legais ou quando for de conhecimento do poder
público eventuais irregularidades praticadas pelo particular"
(Leading Case: RE RE 136861).
Diante disso, entende-se que a responsabilidade civil estatal,
nos termos da Constituição (artigo 37, §6º) está submetida à
teoria do risco administrativo, tanto relativamente às condutas
estatais comissivas quanto às omissivas. Ressalte-se que, para
haver responsabilização do Estado, deve se configurar omissão
em relação ao dever (...)
(...) específico de proteção, demandando-se nexo de
causalidade entre a omissão e o dano sofrido pela vítima, em
situações em que o Poder Público tem o dever legal e efetiva
possibilidade de agir para evitar os danos.
Nos casos recentes de ataques de tubarão, ocorridos na costa
pernambucana, em primeira análise, opina-se respeitosamente
que não se vislumbra omissão do Estado em seu dever de
informar e fiscalizar. É fato público e notório que, nos
arredores da "Igrejinha", há um risco enorme de ataques
dessas feras marinhas.
Ademais, a Fazenda Pública poderia, conforme a teoria do
risco administrativo, invocar a culpa exclusiva da vítima como
excludente do nexo de causalidade. Isso porque a vítima,
devidamente informada sobre a possibilidade de ocorrerem
ataques no local, assumiu o risco de entrar no mar. Lamenta-se
o ocorrido, porém, há de se ressaltar que o Estado não deve se
tornar um segurador universal.
[1] OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende Curso de direito
administrativo, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; Método,
2021.
Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2023-mar-11/pedro-albuquerque
-responsabilidade-civil-ataques-tubarao

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