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REVISÃO PARA O CONCURSO DE

PROCURADOR FEDERAL DA
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
Felipe Duque
Márcio André Lopes Cavalcante
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DIREITO CONSTITUCIONAL
Lista suja do trabalho escravo é constitucional
Encerrando portaria, fundamentada na legislação de regência, divulgação de cadastro de empregadores que
tenham submetido trabalhadores a condição análoga à de escravo, sem extravasamento das atribuições
previstas na Lei Maior, tem-se a higidez constitucional.
Identificada, por auditor-fiscal, exploração de trabalho em condição análoga à de escravo e lavrado auto de
infração, a inclusão do empregador em cadastro ocorre após decisão administrativa irrecorrível, assegurados
o contraditório e a ampla defesa.
Descabe enquadrar, como sancionador, cadastro de empregadores, cuja finalidade é o acesso à informação,
mediante publicização de política de combate ao trabalho escravo, considerado resultado de procedimento
administrativo de interesse público.
STF. Plenário. ADPF 509/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 16/09/2020.

STF determinou, como tutela provisória incidental na ADPF, que a União adote providências para assegurar
a vida, a saúde e a segurança de povos indígenas
Cabível o deferimento de tutela provisória incidental em arguição de descumprimento de preceito
fundamental para adoção de todas as providências indispensáveis para assegurar a vida, a saúde e a
segurança de povos indígenas vítimas de ilícitos e problemas de saúde decorrentes da presença de invasores
de suas terras, em situação agravada pelo curso da pandemia ocasionada pelo novo coronavírus (Covid-19).
STF. Plenário. ADPF 709 TPI-Ref/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/6/2021 (Info 1022).

É ilegítima a recusa dos pais à vacinação compulsória de filho menor por motivo de convicção filosófica
É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que, registrada em órgão de vigilância
sanitária, (i) tenha sido incluída no Programa Nacional de Imunizações ou (ii) tenha sua aplicação obrigatória
determinada em lei ou (iii) seja objeto de determinação da União, estado, Distrito Federal ou município, com
base em consenso médico-científico.
Em tais casos, não se caracteriza violação à liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais ou
responsáveis, nem tampouco ao poder familiar.
STF. Plenário. ARE 1267879/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 16 e 17/12/2020 (Repercussão Geral
– Tema 1103) (Info 1003).

O art. 522 da CLT, que prevê um número máximo empregados que podem ser dirigentes sindicais, é
compatível com a CF/88 e não viola a garantia da liberdade sindical
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O art. 8º, VIII, da CF/88 prevê que os dirigentes sindicais não podem ser demitidos, salvo se cometerem falta
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grave.
O art. 522 da CLT prevê um número máximo empregados que podem ser dirigentes sindicais.

Revisão de véspera de prova


Assim que a CF/88 foi promulgada, alguns doutrinadores começaram a sustentar a tese de que o art. 522 da
CLT não teria sido recepcionado pela Carta Constitucional. Isso porque o inciso I do art. 8º da Constituição
prevê que a liberdade sindical, ou seja, proíbe que o poder público interfira na organização dos sindicatos.
O TST e o STF não concordaram com essa tese.
A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui caráter absoluto.
A previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados de estabilidade de emprego não esvazia
a liberdade sindical.
Essa garantia constitucional existe para que possa assegurar a autonomia da entidade sindical, mas não serve
para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem a razoabilidade e a finalidade da norma
constitucional garantidora do direito.
Logo, o art. 522 da CLT foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988.
STF. Plenário. ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 15/05/2020.

Lei estadual pode reservar assentos especiais para pessoas com obesidade nos espaços culturais e nos
meios de transporte coletivo
É constitucional lei estadual que prevê a reserva de assentos especiais a serem utilizados por pessoas obesas,
correspondente a 3% dos lugares em salas de projeções, teatros e espaços culturais localizados em seu
território e a, no mínimo, 2 lugares em cada veículo do transporte coletivo municipal e intermunicipal.
STF. Plenário. ADI 2477/PR e ADI 2572/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 21/10/2022 (Info 1073).

É possível a reserva de vagas a candidato com deficiência oriundo de escola não pública?
NÃO. Isso porque a Lei de Cotas (Lei 12.711/2012) exige que o estudante tenha cursado integralmente o
ensino médio em escolas públicas. O STJ não admite interpretação extensiva.

Hipótese em que o candidato pretende a incidência direta do Estatuto da Pessoa com Deficiência para a
criação de caso não previsto na Lei de Cotas, qual seja, de reserva de vagas a candidato com deficiência
oriundo de escola não pública.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência previa norma expressa nesse sentido, em seu art. 29, que foi vetado.
O veto foi mantido pelo Congresso Nacional. Subsequentemente, editou-se lei para incluir a previsão
específica alusiva aos candidatos com deficiência na lei regradora das cotas sociais. Descabe ao Judiciário
substituir as opções políticas e administrativas dos representantes diretos do povo, que definiram de forma
deliberada outros meios de atendimento à necessidade de inclusão dos segmentos da sociedade tutelados
pela lei.
STJ. 2ª Turma. REsp n. 1.997.509/PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/8/2022.

É inconstitucional concessão de descontos lineares nas mensalidades das faculdades privadas na pandemia
da Covid-19
São inconstitucionais as interpretações judiciais que, unicamente fundamentadas na eclosão da pandemia
de Covid-19 e no respectivo efeito de transposição de aulas presenciais para ambientes virtuais, determinam
às instituições privadas de ensino superior a concessão de descontos lineares nas contraprestações dos
contratos educacionais, sem considerar as peculiaridades dos efeitos da crise pandêmica em ambas as partes
contratuais envolvidas na lide.
Tese fixada pelo STF: É inconstitucional decisão judicial que, sem considerar as circunstâncias fáticas
efetivamente demonstradas, deixa de sopesar os reais efeitos da pandemia em ambas as partes contratuais,
e determina a concessão de descontos lineares em mensalidades de cursos prestados por instituições de
ensino superior.
STF. Plenário. ADPF 706/DF e ADPF 713/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 17 e 18/11/2021 (Info 1038).
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É inconstitucional lei que autorize o trabalho de gestantes e lactantes em atividades insalubres


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É inconstitucional a expressão “quando apresentar atestado de saúde, emitido por médico de confiança da
mulher, que recomende o afastamento”, contida nos incisos II e III do art. 394-A da CLT, inseridos pelo art.
1º da Lei nº 13.467/2017.
Essa expressão, inserida no art. 394-A da CLT, tinha como objetivo autorizar que empregadas grávidas ou
lactantes pudessem trabalhar em atividades insalubres.
Ocorre que o STF entendeu que o trabalho de gestantes e de lactantes em atividades insalubres viola a
Constituição Federal.
O art. 6º da CF/88 proclama importantes direitos, entre eles a proteção à maternidade, a proteção do
mercado de trabalho da mulher e redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene e segurança.
A proteção para que a gestante e a lactante não sejam expostas a atividades insalubres caracteriza-se como
importante direito social instrumental que protege não apenas a mulher como também a criança (art. 227
da CF/88).
A proteção à maternidade e a integral proteção à criança são direitos irrenunciáveis e não podem ser
afastados pelo desconhecimento, impossibilidade ou a própria negligência da gestante ou lactante em
apresentar um atestado médico, sob pena de prejudicá-la e prejudicar o recém-nascido.
Em suma, é proibido o trabalho da gestante ou da lactante em atividades insalubres.
STF. Plenário.ADI 5938/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 29/5/2019 (Info 942).

É inconstitucional lei distrital que preveja percentual de vagas nas universidades públicas reservadas para
alunos que estudaram nas escolas públicas do Distrito Federal, excluindo, portanto, alunos de escolas
públicas de outros Estados da Federação
É inconstitucional a lei distrital que preveja que 40% das vagas das universidades e faculdades públicas do
Distrito Federal serão reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas do Distrito Federal.
Essa lei, ao restringir a cota apenas aos alunos que estudaram no Distrito Federal, viola o art. 3º, IV e o art.
19, III, da CF/88, tendo em vista que faz uma restrição injustificável entre brasileiros.
Vale ressaltar que a inconstitucionalidade não está no fato de ter sido estipulada a cota em favor de alunos
de escolas públicas, mas sim em razão de a lei ter restringido as vagas para alunos do Distrito Federal, em
detrimento dos estudantes de outros Estados da Federação.
STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.

É inconstitucional norma estadual que assegure a independência funcional a delegados de polícia, bem
como que atribua à polícia civil o caráter de função essencial ao exercício da jurisdição e à defesa da ordem
jurídica
A Constituição Federal, ao tratar dos órgãos de Administração Pública, escolheu aqueles que deveria ter
assegurada autonomia.
Além de não assegurar autonomia à Polícia Civil, a Constituição Federal afirmou expressamente, no seu art.
144, § 6º, que ela deveria estar subordinada ao Governador do Estado.
A norma do poder constituinte decorrente que venha a atribuir autonomia funcional, administrativa ou
financeira a outros órgãos ou instituições que não aquelas especificamente constantes da Constituição
Federal, padece de vicio de inconstitucionalidade material, por violação ao princípio da separação dos
poderes.
STF. Plenário. ADI 5522/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/2/2022 (Info 1044).

A Constituição Estadual não pode disciplinar sobre intervenção estadual de forma diferente das regras
previstas na Constituição Federal
É inconstitucional — por violação aos princípios da simetria e da autonomia dos entes federados — norma
de Constituição estadual que prevê hipótese de intervenção do estado no município fora das que são
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taxativamente elencadas no art. 35 da Constituição Federal.


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STF. Plenário. ADI 6619/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/10/2022 (Info 1073).

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É formalmente inconstitucional lei estadual que proíba linguagem neutra nas escolas
É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da
educação nacional (art. 22, XXIV, CF/88) — lei estadual que veda a adoção da “linguagem neutra” na grade
curricular e no material didático de instituições de ensino públicas e privadas, assim como em editais de
concursos públicos locais.
Tese fixada pelo STF:
Norma estadual que, a pretexto de proteger os estudantes, proíbe modalidade de uso da língua portuguesa
viola a competência legislativa da União.
STF. Plenário. ADI 7019/RO, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 10/02/2023 (Info 1082).

É inconstitucional lei estadual que obriga prévia notificação do consumidor para que a concessionária
possa fazer a vistoria técnica no medidor de energia
É inconstitucional — por violação à competência da União para explorar os serviços e instalações de energia
elétrica e para legislar sobre energia (arts. 21, XVII, “b”; 22, IV; e 175, parágrafo único, CF/88) — lei estadual
que obriga as empresas concessionárias de energia elétrica a expedirem notificação com aviso de
recebimento para a realização de vistoria técnica no medidor de usuário residencial.
STF. Plenário. ADI 3703/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em
6/3/2023 (Info 1085).

É inconstitucional lei estadual que proíbe os órgãos ambientais e a polícia militar de destruírem e
inutilizarem bens particulares apreendidos em operações de fiscalização ambiental
É inconstitucional lei estadual que proíbe os órgãos ambientais e a polícia militar de destruírem e inutilizarem
bens particulares apreendidos em operações de fiscalização ambiental.
Essa lei viola a competência da União para legislar sobre normas gerais de proteção ao meio ambiente (art.
24, VI e VII, da CF/99) e a afronta a competência privativa da União para legislar sobre direito penal e
processual penal (e 22, I, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 7203/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 01/03/2023 (Info 1084).

Lei estadual não pode proibir a transferência do controle técnico, administrativo ou de gestão
compartilhada das empresas estatais
É inconstitucional lei estadual que veda ao Poder Executivo e às empresas públicas e de economia mista, cujo
controle acionário pertença ao estado, de assinarem contratos ou outros instrumentos legais congêneres
que viabilizem a transferência do controle técnico, administrativo ou de gestão compartilhada.
STF. Plenário. ADI 1846/SC, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 21/10/2022 (Info 1073).

Os estados-membros detêm competência administrativa para explorar loterias


A competência da União para legislar privativamente sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive
loterias, não obsta a competência material (administrativa) para a exploração dessas atividades pelos entes
estaduais ou municipais, nem a competência regulamentar dessa exploração.
Os arts. 1º e 32, caput e § 1º, do Decreto-Lei 204/1967 não foram recepcionados pela Constituição Federal
de 1988.
STF. Plenário. ADPF 492/RJ, ADPF 493/DF e ADI 4986/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 30/9/2020
(Info 993).

A incitação de ódio público feita por líder religioso contra outras religiões pode configurar o crime de
racismo
A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não está protegida
pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão.
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Assim, é possível, a depender do caso concreto, que um líder religioso seja condenado pelo crime de racismo
(art. 20, §2º, da Lei nº 7.716/89) por ter proferido discursos de ódio público contra outras denominações
religiosas e seus seguidores.
STF. 2ª Turma. RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/3/2018
(Info 893).

É possível que o Fisco requisite das instituições financeiras informações bancárias sobre os contribuintes
sem intervenção do Poder Judiciário
As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
podem requisitar diretamente das instituições financeiras informações sobre as movimentações bancárias
dos contribuintes. Esta possibilidade encontra-se prevista no art. 6º da LC 105/2001, que foi considerada
constitucional pelo STF. Isso porque esta previsão não se caracteriza como "quebra" de sigilo bancário,
ocorrendo apenas a “transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco.
Vale ressaltar que os Estados-Membros e os Municípios somente podem obter as informações previstas no
art. 6º da LC 105/2001, uma vez regulamentada a matéria de forma análoga ao Decreto Federal nº
3.724/2001, observados os seguintes parâmetros:
a) pertinência temática entre a obtenção das informações bancárias e o tributo objeto de cobrança no
procedimento administrativo instaurado;
b) prévia notificação do contribuinte quanto à instauração do processo e a todos os demais atos, garantido
o mais amplo acesso do contribuinte aos autos, permitindo-lhe tirar cópias, não apenas de documentos, mas
também de decisões;
c) sujeição do pedido de acesso a um superior hierárquico;
d) existência de sistemas eletrônicos de segurança que fossem certificados e com o registro de acesso; e,
finalmente,
e) estabelecimento de mecanismos efetivos de apuração e correção de desvios.
A Receita Federal, atualmente, já pode requisitar tais informações bancárias porque possui esse
regulamento. Trata-se justamente do Decreto 3.724/2001 acima mencionada, que regulamenta o art. 6º da
LC 105/2001.
O art. 5º da LC 105/2001, que permite obriga as instituições financeiras a informarem periodicamente à
Receita Federal as operações financeiras realizadas acima de determinado valor, também é considerado
constitucional.
STF. Plenário. ADI 2390/DF, ADI 2386/DF, ADI 2397/DF e ADI 2859/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados em
24/2/2016 (Info 815).
STF. Plenário. RE 601314/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/2/2016 (repercussão geral) (Info 815).

SIGILO BANCÁRIO
Os órgãos poderão requerer informações bancárias diretamente das instituições financeiras?
Polícia NÃO. É necessária autorização judicial.
NÃO. É necessária autorização judicial (STJ HC 160.646/SP, Dje 19/09/2011).
Exceção: É lícita a requisição pelo Ministério Público de informações bancárias de contas
MP de titularidade de órgãos e entidades públicas, com o fim de proteger o patrimônio
público, não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo bancário (STJ. 5ª Turma. HC
308.493-CE, j. em 20/10/2015).
NÃO. É necessária autorização judicial (STF MS 22934/DF, DJe de 9/5/2012).
Exceção: O envio de informações ao TCU relativas a operações de crédito originárias de
TCU
recursos públicos não é coberto pelo sigilo bancário (STF. MS 33340/DF, j. em
26/5/2015).
SIM, com base no art. 6º da LC 105/2001. O repasse das informações dos bancos para o
Receita Federal
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Fisco não pode ser definido como sendo "quebra de sigilo bancário".
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Fisco estadual, SIM, desde que regulamentem, no âmbito de suas esferas de competência, o art. 6º da
distrital, municipal LC 105/2001, de forma análoga ao Decreto Federal 3.724/2001.

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SIM (seja ela federal ou estadual/distrital) (art. 4º, § 1º da LC 105/2001).
CPI
Prevalece que CPI municipal não pode.

CUIDADO! NÃO CONFUNDIR


É ilegal a requisição, sem autorização judicial, de dados fiscais pelo Ministério Público
Ao julgar o Tema 990, o STF afirmou que é legítimo que a Receita Federal compartilhe o procedimento
fiscalizatório que ela realizou para apuração do débito tributário com os órgãos de persecução penal para
fins criminais (Polícia Federal, Ministério Público etc.), não sendo necessário, para isso, prévia autorização
judicial (STF. Plenário. RE 1.055.941/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/12/2019).
Por outro lado, neste julgado, o STF não autorizou que o Ministério Público faça a requisição direta (sem
autorização judicial) de dados fiscais, para fins criminais. Ex: requisição da declaração de imposto de renda.
A requisição ou o requerimento, de forma direta, pelo órgão da acusação à Receita Federal, com o fim de
coletar indícios para subsidiar investigação ou instrução criminal, além de não ter sido satisfatoriamente
enfrentada no julgamento do RE 1.055.941/SP, não se encontra abarcada pela tese firmada no âmbito da
repercussão geral em questão.
Em um estado de direito não é possível se admitir que órgãos de investigação, em procedimentos informais
e não urgentes, solicitem informações detalhadas sobre indivíduos ou empresas, informações essas
constitucionalmente protegidas, salvo autorização judicial.
Uma coisa é órgão de fiscalização financeira, dentro de suas atribuições, identificar indícios de crime e
comunicar suas suspeitas aos órgãos de investigação para que, dentro da legalidade e de suas atribuições,
investiguem a procedência de tais suspeitas. Outra, é o órgão de investigação, a polícia ou o Ministério
Público, sem qualquer tipo de controle, alegando a possibilidade de ocorrência de algum crime, solicitar ao
COAF ou à Receita Federal informações financeiras sigilosas detalhadas sobre determinada pessoa, física ou
jurídica, sem a prévia autorização judicial.
STJ. 3ª Seção. RHC 83233-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 09/02/2022 (Info 724).

Polícia Federal pode recusar pedido de inscrição no curso de vigilante pelo fato de o indivíduo ter praticado
delito que envolve o emprego de violência contra a pessoa ou por ter demonstrado comportamento
agressivo incompatível com as funções do cargo
Quando o delito imputado envolve o emprego de violência contra a pessoa ou demonstre comportamento
agressivo incompatível com as funções de vigilante, é válida a recusa de pedido de inscrição em curso de
reciclagem para vigilantes profissionais, porquanto configurada, em regra, a ausência de idoneidade do
indivíduo.
Caso concreto em que o indivíduo restou condenado pela prática de lesão corporal no âmbito doméstico,
com sentença penal transitada em julgado e pena já cumprida, não se evidenciando, desse modo, ilegalidade
na recusa à matrícula no curso de reciclagem pela Polícia Federal, porquanto se trata de delito que atrai
valoração negativa sobre a conduta exigida do profissional, revelando sua inidoneidade para o exercício da
profissão.
STJ. 1ª Turma. REsp 1952439-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 26/04/2022 (Info 734).

Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem
de pessoa com fins econômicos ou comerciais.

Condenação do ex-Deputado Federal Daniel Silveira


A liberdade de expressão existe para a manifestação de opiniões contrárias, jocosas, satíricas e até mesmo
errôneas, mas não para opiniões criminosas, discurso de ódio ou atentados contra o Estado Democrático de
Direito e a democracia.
A Constituição garante a liberdade de expressão, com responsabilidade. A liberdade de expressão não pode
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ser usada para a prática de atividades ilícitas ou para a prática de discursos de ódio, contra a democracia ou
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contra as instituições.

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Nesse sentido, são inadmissíveis manifestações proferidas em redes sociais que objetivem a abolição do
Estado de Direito e o impedimento, com graves ameaças, do livre exercício de seus poderes constituídos e
de suas instituições.
Ademais, conforme jurisprudência do STF, a garantia constitucional da imunidade parlamentar incide apenas
sobre manifestações proferidas no desempenho da função legislativa ou em razão desta, não sendo possível
utilizá-la como escudo protetivo para a prática de atividades ilícitas.
Não configurada abolitio criminis com relação aos delitos previstos na Lei de Segurança Nacional (Lei nº
7.170/83).
Quando determinada conduta típica (e suas elementares) permanece descrita na nova lei penal, com a
manutenção do caráter proibido da conduta, há a configuração do fenômeno processual penal da
continuidade normativo-típica.
Na hipótese, o legislador não pretendeu abolir as condutas atentatórias à democracia, ao Estado de Direito
e ao livre exercício dos poderes. Na realidade, aprimorou, sob o manto democrático, a defesa do Estado, de
suas instituições e de seus poderes.
Observa-se, assim, a ocorrência de continuidade normativo-típica entre as condutas previstas nos arts. 18 e
23, IV, da Lei nº 7.170/83 e a conduta prevista no art. 359-L do CP (com redação dada pela Lei nº
14.197/2021), bem como entre a conduta prevista no art. 23, II, da Lei nº 7.170/83 e o conduta típica prevista
no art. 286, parágrafo único, do CP, com redação dada pela Lei nº 14.197/2021.
STF. Plenário. AP 1044/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/4/2022 (Info 1051).

Judiciário pode determinar a realização de obras emergenciais em estabelecimento prisional


É lícito ao Poder Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente na promoção de
medidas ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais para dar efetividade ao
postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar aos detentos o respeito à sua integridade física e
moral, nos termos do que preceitua o art. 5º, XLIX, da CF, não sendo oponível à decisão o argumento da
reserva do possível nem o princípio da separação dos poderes.
STF. Plenário. RE 592581/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. em 13/8/2015 (repercussão geral) (Info 794).

“ADPF das favelas”


O STF determinou que:
1) o Estado do Rio de Janeiro elabore e encaminhe ao STF, no prazo máximo de 90 dias, um plano para
redução da letalidade policial e controle das violações aos direitos humanos pelas forças de segurança, que
apresente medidas objetivas, cronogramas específicos e previsão dos recursos necessários para a sua
implementação.
2) o emprego e a fiscalização da legalidade do uso da força sejam feitos à luz dos Princípios Básicos sobre a
Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei.
3) seja criado um grupo de trabalho sobre Polícia Cidadã no Observatório de Direitos Humanos localizado no
Conselho Nacional de Justiça;
4) nos termos dos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários
Responsáveis pela Aplicação da Lei, só se justifica o uso da força letal por agentes de Estado quando,
ressalvada a ineficácia da elevação gradativa do nível da força empregada para neutralizar a situação de risco
ou de violência, exauridos os demais meios, inclusive os de armas não-letais, e necessário para proteger a
vida ou prevenir um dano sério, decorrente de uma ameaça concreta e iminente.
5) as investigações de incidentes que tenham como vítimas crianças ou adolescentes terão a prioridade
absoluta;
6) No caso de buscas domiciliares por parte das forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro, devem ser
observadas as seguintes diretrizes constitucionais, sob pena de responsabilidade:
(i) a diligência, no caso específico de cumprimento de mandado judicial, deve ser realizada somente durante
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o dia, vedando-se, assim, o ingresso forçado a domicílios à noite;


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(ii) a diligência, quando feita sem mandado judicial, pode ter por base denúncia anônima;

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(iii) a diligência deve ser justificada e detalhada por meio da elaboração de auto circunstanciado, que deverá
instruir eventual auto de prisão em flagrante ou de apreensão de adolescente por ato infracional e ser
remetido ao juízo da audiência de custódia para viabilizar o controle judicial posterior; e
(iv) a diligência deve ser realizada nos estritos limites dos fins excepcionais a que se destina.

7) seja obrigatória a disponibilização de ambulâncias em operações policiais previamente planejadas em que


haja a possibilidade de confrontos armados, sem prejuízo da atuação dos agentes públicos e das operações;

8) o Estado do Rio de Janeiro, no prazo máximo de 180 dias, instale equipamentos de GPS e sistemas de
gravação de áudio e vídeo nas viaturas policiais e nas fardas dos agentes de segurança, com o posterior
armazenamento digital dos respectivos arquivos.
STF. Plenário. ADPF 635 MC-ED/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 2 e 3/02/2022 (Info 1042).

Não é possível, atualmente, o homeschooling no Brasil


Não é possível, atualmente, o ensino domiciliar (homeschooling) como meio lícito de cumprimento, pela
família, do dever de prover educação.
Não há, na CF/88, uma vedação absoluta ao ensino domiciliar. A CF/88, apesar de não o prever
expressamente, não proíbe o ensino domiciliar.
No entanto, o ensino domiciliar não pode ser atualmente exercido porque não há legislação que regulamente
os preceitos e as regras aplicáveis a essa modalidade de ensino.
Assim, o ensino domiciliar somente pode ser implementado no Brasil após uma regulamentação por meio de
lei na qual sejam previstos mecanismos de avaliação e fiscalização, devendo essa lei respeitar os
mandamentos constitucionais que tratam sobre educação.
STF. Plenário. RE 888815/RS, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 12/9/2018 (repercussão geral) (Info 915).

É constitucional lei estadual que determina a reserva de vagas, na mesma escola, para irmãos que
frequentem a mesma etapa ou o mesmo ciclo escolar
É constitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que determina a reserva de vagas, no mesmo
estabelecimento de ensino, para irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo escolar, pois disciplina
medida que visa consolidar políticas públicas de acesso ao sistema educacional e do maior convívio familiar
possível.
STF. Plenário. ADI 7149/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/9/2022 (Info 1069).

O Estado tem o dever constitucional de assegurar às crianças entre zero e cinco anos de idade o
atendimento em creche e pré-escola
1. A educação básica em todas as suas fases — educação infantil, ensino fundamental e ensino médio —
constitui direito fundamental de todas as crianças e jovens, assegurado por normas constitucionais de
eficácia plena e aplicabilidade direta e imediata.
2. A educação infantil compreende creche (de zero a 3 anos) e a pré-escola (de 4 a 5 anos). Sua oferta pelo
Poder Público pode ser exigida individualmente, como no caso examinado neste processo.
3. O Poder Público tem o dever jurídico de dar efetividade integral às normas constitucionais sobre acesso à
educação básica.
STF. Plenário. RE 1008166/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 22/9/2022 (Repercussão Geral – Tema 548) (Info
1069).

É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido demitida
pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez
8

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT)
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somente exige a anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.

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Art. 10. (...) II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada gestante, desde a
confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.
O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que a gravidez tenha
ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer outros requisitos, como o prévio
conhecimento do empregador ou da própria gestante.
Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela tenha sido
demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez.
STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
10/10/2018 (repercussão geral) (Info 919).

O servidor público que seja pai solo – de família em que não há a presença materna – faz jus à licença
maternidade e ao salário maternidade pelo prazo de 180 dias, da mesma forma em que garantidos à
mulher pela legislação de regência
À luz do art. 227 da Constituição Federal, que confere proteção integral da criança com absoluta prioridade
e do princípio da paternidade responsável, a licença maternidade, prevista no art. 7º, XVIII, da CF/88 e
regulamentada pelo art. 207 da Lei nº 8.112/1990, estende-se ao pai genitor monoparental.
STF. Plenário. RE 1348854/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/5/2022 (Repercussão Geral –
Tema 1182) (Info 1054).

Nos casos de internações pós-parto que durem mais de duas semanas, o termo inicial da licença-
maternidade e do salário-maternidade é a alta hospitalar da mãe ou do recém-nascido
Nos casos de internações pós-parto que durem mais de duas semanas, o termo inicial da licença-maternidade
e do salário-maternidade é a alta hospitalar da mãe ou do recém-nascido — o que ocorrer por último —,
prorrogando-se ambos os benefícios por igual período ao da internação, visto que não podem ser reduzidos
de modo irrazoável e conflitante com o direito social de proteção à maternidade e à infância.
STF. Plenário. ADI 6327/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21/10/2022 (Info 1073).

É constitucional lei estadual, mesmo que de origem parlamentar, que cria Bolsa Aluguel para famílias em
situação de risco ou atingida por catástrofes, não havendo problema que o salário-mínimo seja o
parâmetro para a concessão do benefício
É constitucional lei estadual que autoriza o Poder Executivo a instituir, no âmbito do ente federado, programa
destinado ao pagamento de aluguel de imóvel a famílias que residam em local de situação de risco iminente
ou que tenham seu imóvel atingido por catástrofes, utilizando o valor do salário-mínimo como parâmetro
para a concessão do benefício de programa social.
Vale ressaltar, contudo, que:
É inconstitucional norma que estabelece prazos ao chefe do Poder Executivo para a apresentação de projetos
de lei ou para a regulamentação de disposições legais. Obs: no caso concreto, a lei estadual estabelecia que
“o Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 90 (noventa) dias, estabelecendo normas necessárias
para operacionalização do Programa.”
O STF declarou a inconstitucionalidade da expressão “no prazo de 90 (noventa) dias” porque ela afrontava o
princípio da separação dos Poderes.
STF. Plenário. ADI 4727/DF, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgado em
23/2/2023 (Info 1084).

Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do salário mínimo, desde que inexistam
reajustes automáticos
A fixação do piso salarial em múltiplos do salário mínimo mostra-se compatível com o texto constitucional,
desde que não ocorra vinculação a reajustes futuros.
9

STF. Plenário. ADPF 53 Ref-MC/PI, ADPF 149 Ref-MC/DF e ADPF 171 Ref-MC/MA, Rel. Min. Rosa Weber,
Página

julgados em 18/2/2022 (Info 1044).

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É imune ao pagamento de taxas para registro da regularização migratória o estrangeiro que demonstre
sua condição de hipossuficiente, nos termos da legislação de regência
O estrangeiro que desejar regularizar sua situação no Brasil, pode fazê-lo por meio de um procedimento
chamado de “regularização migratória”. Exige-se o pagamento de uma taxa. Ocorre que muitos estrangeiros
são hipossuficientes e não conseguem pagar o valor exigido. Diante disso, indaga-se: é possível a dispensa
do pagamento dessa taxa caso o estrangeiro seja hipossuficiente?
SIM. O STF decidiu que o estrangeiro com residência permanente no Brasil, na condição de hipossuficiência,
está dispensado do pagamento de taxas cobradas para o processo de regularização migratória.
Não se mostra condizente com a CF a exigência de taxas em face de sujeito passivo evidentemente
hipossuficiente.
Fundamento: art. 5º, LXXVI e LXXVII, da CF/88.
Tese fixada pelo STF: É imune ao pagamento de taxas para registro da regularização migratória o estrangeiro
que demonstre sua condição de hipossuficiente, nos termos da legislação de regência.
STF. Plenário. RE 1018911/RR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/11/2021 (Repercussão Geral – Tema 988)
(Info 1037).

O rol de procedimentos e eventos da ANS é meramente explicativo ou taxativo? O plano de saúde pode se
recusar a cobrir tratamento médico voltado à cura de doença coberta pelo contrato sob o argumento de
que o referido tratamento não está previsto na lista de procedimentos da ANS?
1 - O rol de Procedimentos e Eventos em Saúde Suplementar é, em regra, taxativo;
2 - A operadora de plano ou seguro de saúde não é obrigada a arcar com tratamento não constante do rol
da ANS se existe, para a cura do paciente, outro procedimento eficaz, efetivo e seguro já incorporado ao rol;
3 - É possível a contratação de cobertura ampliada ou a negociação de aditivo contratual para a cobertura de
procedimento extra rol;
4 - Não havendo substituto terapêutico ou esgotados os procedimentos do rol da ANS, pode haver, a título
excepcional, a cobertura do tratamento indicado pelo médico ou odontólogo assistente, desde que
(i) não tenha sido indeferido expressamente, pela ANS, a incorporação do procedimento ao rol da Saúde
Suplementar;
(ii) haja comprovação da eficácia do tratamento à luz da medicina baseada em evidências;
(iii) haja recomendações de órgãos técnicos de renome nacionais (como CONITEC e NATJUS) e estrangeiros;
e
(iv) seja realizado, quando possível, o diálogo interinstitucional do magistrado com entes ou pessoas com
expertise técnica na área da saúde, incluída a Comissão de Atualização do rol de Procedimentos e Eventos
em Saúde Suplementar, sem deslocamento da competência do julgamento do feito para a Justiça Federal,
ante a ilegitimidade passiva ad causam da ANS.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.886.929-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 08/06/2022 (Info 740).

ATUALIZAÇÃO LEGISLATIVA QUE IMPLICARÁ MUDANÇA DE ENTENDIMENTO


Ocorre que, depois de uma grande mobilização popular, o Congresso Nacional editou a Lei nº 14.454/2022,
que buscou superar o entendimento firmado pelo STJ.
A Lei nº 14.454/2022 alterou o art. 10 da Lei dos Planos de Saúde (Lei nº 9.656/98), incluindo o § 12, que
prevê o caráter exemplificativo do rol da ANS:
Art. 10 (...)
§ 12. O rol de procedimentos e eventos em saúde suplementar, atualizado pela ANS a cada nova
incorporação, constitui a referência básica para os planos privados de assistência à saúde contratados a partir
de 1º de janeiro de 1999 e para os contratos adaptados a esta Lei e fixa as diretrizes de atenção à saúde.
Vale ressaltar, contudo, que, para o plano de saúde ser compelido a custear, é necessário que esteja
comprovada a eficácia do tratamento ou procedimento, nos termos do § 13, também inserido:
10

§ 13. Em caso de tratamento ou procedimento prescrito por médico ou odontólogo assistente que não
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estejam previstos no rol referido no § 12 deste artigo, a cobertura deverá ser autorizada pela operadora de
planos de assistência à saúde, desde que:

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I - exista comprovação da eficácia, à luz das ciências da saúde, baseada em evidências científicas e plano
terapêutico; ou
II - existam recomendações pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de
Saúde (Conitec), ou exista recomendação de, no mínimo, 1 (um) órgão de avaliação de tecnologias em saúde
que tenha renome internacional, desde que sejam aprovadas também para seus nacionais.
A Lei nº 14.454/2022 entrou em vigor no dia 22/09/2022.

É possível obrigar o Estado a fornecer medicamento off label?


• Em regra, não é possível que o paciente exija do poder público o fornecimento de medicamento para uso
off label.
• Excepcionalmente, será possível que o paciente exija o medicamento caso esse determinado uso fora da
bula (off label) tenha sido autorizado pela ANVISA.
O Estado não é obrigado a fornecer medicamento para utilização off label, salvo autorização da ANVISA.
STJ. 1ª Seção. PUIL 2101-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 10/11/2021 (Info 717).

É obrigatória a presença da União no polo passivo de ação na qual se pede medicamento registrado na
Anvisa, mas não incorporado aos protocolos do SUS?
O STF tem decidido que:
Em regra, a demanda pode ser proposta em face de qualquer dos entes da Federação (União, Estados,
Distrito Federal, Municípios), isolada, ou conjuntamente.
Entretanto, deve-se atentar para as seguintes diretrizes:
a) tratando-se de medicamento não padronizado/incorporado no RENAME/SUS, a UNIÃO deve
necessariamente compor o polo passivo da lide; assim, a competência para julgar a lide é da Justiça Federal;
b) no caso de medicamento padronizado no RENAME/SUS, porém cuja distribuição/financiamento está sob
a responsabilidade exclusiva a UNIÃO, por exemplo, em razão dos altos custos dos medicamentos ou
tratamentos oncológicos, a UNIÃO deve necessariamente compor o polo passivo da lide; assim, a
competência para julgar a lide é da Justiça Federal;
c) medicamentos não registrados na ANVISA, devem ser postulados necessariamente em face da UNIÃO,
consoante fixado no Tema 500 da repercussão geral.

Fornecimento pelo Poder Judiciário de medicamentos não registrados pela ANVISA


Fornecimento pelo Poder Judiciário de medicamentos não registrados pela ANVISA
1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.
2. A ausência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impede, como regra geral, o
fornecimento de medicamento por decisão judicial.
3. É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso de
mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei 13.411/2016), quando
preenchidos três requisitos:
a) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos para
doenças raras e ultrarraras);
b) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; e
c) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil.
4. As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa deverão necessariamente
ser propostas em face da União.
STF. Plenário. RE 657718/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em
22/5/2019 (repercussão geral) (Info 941).
11

Responsabilidade pelo fornecimento do medicamento ou pela realização do tratamento de saúde


Tese: Os entes da federação, em decorrência da competência comum, são solidariamente responsáveis nas
Página

demandas prestacionais na área da saúde, e diante dos critérios constitucionais de descentralização e

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hierarquização, compete à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de repartição
de competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro.
STF. Plenário. RE 855178 ED/SE, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2019
(Info 941).

Estados e Municípios podem restringir temporariamente atividades religiosas coletivas presenciais a fim
de evitar a proliferação da Covid-19
É compatível com a Constituição Federal a imposição de restrições à realização de cultos, missas e demais
atividades religiosas presenciais de caráter coletivo como medida de contenção do avanço da pandemia da
Covid-19.
STF. Plenário. ADPF 811/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 8/4/2021 (Info 1012).

Poder Público pode determinar a vacinação compulsória contra a Covid-19 (o que é diferente de vacinação
forçada)
O STF julgou parcialmente procedente ADI, para conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 3º,
III, “d”, da Lei nº 13.979/2020. A tese fixada foi a seguinte:
(A) A vacinação compulsória não significa vacinação forçada, por exigir sempre o consentimento do usuário,
podendo, contudo, ser implementada por meio de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre outras,
a restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, desde que previstas
em lei, ou dela decorrentes, e
(i) tenham como base evidências científicas e análises estratégicas pertinentes,
(ii) venham acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações dos
imunizantes,
(iii) respeitem a dignidade humana e os direitos fundamentais das pessoas;
(iv) atendam aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, e
(v) sejam as vacinas distribuídas universal e gratuitamente; e

(B) tais medidas, com as limitações acima expostas, podem ser implementadas tanto pela União como pelos
Estados, Distrito Federal e Municípios, respeitadas as respectivas esferas de competência.
STF. Plenário. ADI 6586, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 17/12/2020. (Info 1003)

União não pode requisitar seringas e agulhas que já foram contratadas pelo Estado-membro para o plano
estadual de imunização e que ainda estão na indústria, apesar de já terem sido empenhados
É incabível a requisição administrativa, pela União, de bens insumos contratados por unidade federativa e
destinados à execução do plano local de imunização, cujos pagamentos já foram empenhados.
A requisição administrativa não pode se voltar contra bem ou serviço de outro ente federativo. Isso para que
não haja indevida interferência na autonomia de um sobre outro.
STF. Plenário. ACO 3463 MC-Ref/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 8/3/2021 (Info 1008).

É inconstitucional lei que preveja requisitos diferentes entre homens e mulheres para que recebam pensão
por morte
É inconstitucional, por transgressão ao princípio da isonomia entre homens e mulheres (art. 5º, I, da CF/88),
a exigência de requisitos legais diferenciados para efeito de outorga de pensão por morte de ex-servidores
públicos em relação a seus respectivos cônjuges ou companheiros/companheiras (art. 201, V, da CF/88).
STF. Plenário. RE 659424/RS, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral – Tema
457) (Info 994).
12

É constitucional lei estadual que permite o sacrifício de animais em cultos de religiões de matriz africana
É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício
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ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana.

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STF. Plenário. RE 494601/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em
28/3/2019 (Info 935).

Não se pode impor, como condição para que a pessoa se desfilie, que ela previamente quite todos os
débitos ou, então, pague uma multa
“É inconstitucional o condicionamento da desfiliação de associado à quitação de débito referente a benefício
obtido por intermédio da associação ou ao pagamento de multa.”.
STF. Plenário. RE 820823/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/9/2022 (Repercussão Geral – Tema 922)
(Info 1070).

Impossibilidade de aplicação de multa administrativa vinculada ao salário-mínimo


Tal entendimento é baseado na cláusula final do inciso IV do artigo 7º da Constituição Federal em que a
tomada do salário-mínimo como parâmetro de cálculo de multa ofende a CF.
STF. 1ª Turma. Ag-RE-AgR 1.377.546; SP; Rel. Min. Dias Toffoli, DJE 19/09/2022.
STF. 2ª Turma. ARE 1361517 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/08/2022, DJE 29-08-2022.

Não confunda:
Multa administrativa vinculada ao salário-mínimo = INCONSTITUCIONAL
Multa processual vinculada ao salário-mínimo = CONSTITUCIONAL (ADI 4398)

Universidades públicas podem cobrar mensalidade em cursos de especialização


A garantia constitucional da gratuidade de ensino não obsta a cobrança por universidades públicas de
mensalidade em cursos de especialização.
STF. Plenário. RE 597854/GO, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 26/4/2017 (repercussão geral) (Info 862).

Não é possível a cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas


Súmula vinculante 12: A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o disposto no art.
206, inciso IV, da Constituição Federal.

Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos


Não viola a Constituição Federal a cobrança de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios
Militares do Exército Brasileiro.
Os Colégios Militares apresentam peculiaridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos
estabelecimentos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.
Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.
A quota mensal escolar exigida nos Colégios Militares não representa ofensa à regra constitucional de
gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito
fundamental à educação.
Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema
Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por
meio de atos infralegais.
Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa
cobrança.
STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

Constituição Federal
Art. 21. Compete à União:
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I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;


II - declarar a guerra e celebrar a paz;
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III - assegurar a defesa nacional;

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IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território
nacional ou nele permaneçam temporariamente;
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;
VII - emitir moeda;
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente
as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada;
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento
econômico e social;
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de
telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão
regulador e outros aspectos institucionais;
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em
articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que
transponham os limites de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a
Defensoria Pública dos Territórios;
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do
Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços
públicos, por meio de fundo próprio; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão;
XVII - conceder anistia;
XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e
as inundações;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos
de seu uso;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes
urbanos;
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação;
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a
pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios
nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante
aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para pesquisa
e uso agrícolas e industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de 2022)
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, a comercialização e a utilização de radioisótopos
para pesquisa e uso médicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de 2022)
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa;
14

XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;


XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa.
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XXVI - organizar e fiscalizar a proteção e o tratamento de dados pessoais, nos termos da lei. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 115, de 2022)

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Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
II - desapropriação;
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra;
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
V - serviço postal;
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;
VIII - comércio exterior e interestadual;
IX - diretrizes da política nacional de transportes;
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial;
XI - trânsito e transporte;
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;
XIV - populações indígenas;
XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros;
XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões;
XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública
dos Territórios, bem como organização administrativa destes;
XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais;
XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular;
XX - sistemas de consórcios e sorteios;
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação, mobilização,
inatividades e pensões das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares; (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais;
XXIII - seguridade social;
XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;
XXV - registros públicos;
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas
diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no
art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional;
XXIX - propaganda comercial.
XXX - proteção e tratamento de dados pessoais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 115, de 2022)
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das
matérias relacionadas neste artigo.

Não se pode utilizar verbas do Fundeb para combater à pandemia da Covid-19


É vedada a utilização, ainda que em caráter excepcional, de recursos vinculados ao Fundeb para ações de
combate à pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
Ainda que se reconheça a gravidade da pandemia da Covid-19 e os seus impactos na economia e nas finanças
públicas, nada justifica o emprego de verba constitucionalmente vinculada à manutenção e desenvolvimento
do ensino básico para fins diversos da que ela se destina.
STF. Plenário. ADI 6490/PI, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 18/2/2022 (Info 1044).
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A omissão injustificada da Administração em providenciar a disponibilização de banho quente nos


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estabelecimentos prisionais fere a dignidade de presos sob sua custódia

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A omissão injustificada da Administração em providenciar a disponibilização de banho quente nos
estabelecimentos prisionais fere a dignidade de presos sob sua custódia.
A determinação de que o Estado forneça banho quente aos presos está relacionada com a dignidade da
pessoa humana, naquilo que concerne à integridade física e mental a todos garantida.
O Estado tem a obrigação inafastável e imprescritível de tratar prisioneiros como pessoas, e não como
animais.
O encarceramento configura pena de restrição do direito de liberdade, e não salvo-conduto para a aplicação
de sanções extralegais e extrajudiciais, diretas ou indiretas.
Em presídios e lugares similares de confinamento, ampliam-se os deveres estatais de proteção da saúde
pública e de exercício de medidas de assepsia pessoal e do ambiente, em razão do risco agravado de
enfermidades, consequência da natureza fechada dos estabelecimentos, propícia à disseminação de
patologias.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.537.530-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/04/2017 (Info 666).

Não cabe ADI contra decreto regulamentar de lei


A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) é meio processual inadequado para o controle de decreto
regulamentar de lei estadual.
Seria possível a propositura de ADI se fosse um decreto autônomo. Mas sendo um decreto que apenas
regulamenta a lei, não é hipótese de cabimento de ADI.
STF. Plenário. ADI 4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/6/2018 (Info 905).

Revogação do ato normativo que estava sendo impugnado e repetição de seu conteúdo
O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado antes do julgamento
da ação?
Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI 1203).
Exceção 1: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique demonstrado que
houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma proposital a fim de evitar que o STF
a declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por ela produzidos (STF ADI 3306).
Exceção 2: não haverá perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato impugnado foi repetido,
em sua essência, em outro diploma normativo. Neste caso, como não houve desatualização significativa no
conteúdo do instituto, não há obstáculo para o conhecimento da ação (ADI 2418/DF).
Exceção 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado previamente que houve a
revogação da norma atacada. Nesta hipótese, não será possível reconhecer, após o julgamento, a
prejudicialidade da ADI já apreciada.
STF. Plenário. ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 4/5/2016 (Info 824).
STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/10/2016 (Info 845).

Alteração do parâmetro constitucional não prejudica o conhecimento da ADI


A alteração do parâmetro constitucional, quando o processo ainda está em curso, não prejudica o
conhecimento da ADI. Isso para evitar situações em que uma lei que nasceu claramente inconstitucional volte
a produzir, em tese, seus efeitos.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907).

Petição inicial da ADI/ADC


Se a petição inicial da ADI ou da ADC for assinada por advogado, deverá ser acompanhada de procuração.
Exige-se que essa procuração tenha poderes especiais e indique, de forma específica, os atos normativos que
serão objeto da ação.
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STF. Plenário. ADI 4430/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 27, 28 e 29/6/2012; ADI 4795 MC/DF, rel. Min. Dias Toffoli,
27, 28 e 29/6/2012 (Info 672).
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Cumulação de ADI com ADC


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O legitimado poderá ajuizar uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) requerendo a
inconstitucionalidade do art. XX da Lei ZZZ e, na mesma ação, pedir que o art. YY seja declarado
constitucional? É possível, em uma mesma ação, cumular pedido típico de ADI com pedido típico de ADC?
SIM. O STF entendeu que é possível a cumulação de pedidos típicos de ADI e ADC em uma única demanda
de controle concentrado.
A cumulação de ações, neste caso, além de ser possível, é recomendável para a promoção dos fins a que
destinado o processo objetivo de fiscalização abstrata de constitucionalidade, destinado à defesa, em tese,
da harmonia do sistema constitucional.
A cumulação objetiva permite o enfrentamento judicial coerente, célere e eficiente de questões
minimamente relacionadas entre si.
Rejeitar a possibilidade de cumulação de ações, além de carecer de fundamento expresso na Lei 9.868/1999,
traria como consequência apenas o fato de que o autor iria propor novamente a demanda, com pedido e
fundamentação idênticos, ação que seria distribuída por prevenção.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).

Na ADI a causa de pedir é aberta


O STF, ao julgar as ações de controle abstrato de constitucionalidade, não está vinculado aos fundamentos
jurídicos invocados pelo autor.
Assim, pode-se dizer que na ADI, ADC e ADPF, a causa de pedir (causa petendi) é aberta.
Isso significa que todo e qualquer dispositivo da Constituição Federal ou do restante do bloco de
constitucionalidade poderá ser utilizado pelo STF como fundamento jurídico para declarar uma lei ou ato
normativo inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 3796/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 8/3/2017 (Info 856).

Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma que concede prazo
em dobro à Fazenda Pública
Não se conta em dobro o prazo recursal para a Fazenda Pública em processo objetivo, mesmo que seja para
interposição de recurso extraordinário em processo de fiscalização normativa abstrata.
Não há, nos processos de fiscalização normativa abstrata, a prerrogativa processual dos prazos em dobro.
Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma que concede prazo
em dobro à Fazenda Pública.
Assim, por exemplo, a Fazenda Pública não possui prazo recursal em dobro no processo de controle
concentrado de constitucionalidade, mesmo que seja para a interposição de recurso extraordinário.
STF. Plenário. ADI 5814 MC-AgR-AgR/RR, Rel. Min. Roberto Barroso; ARE 830727 AgR/SC, Rel. para acórdão
Min. Cármen Lúcia, julgados em 06/02/2019 (Info 929).

Possibilidade de o STF modificar entendimento firmado em controle concentrado


As decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF em ADI e ADC produzem eficácia contra todos e efeito
vinculante.
Tais efeitos não vinculam, contudo, o próprio STF. Assim, se o STF decidiu, em uma ADI ou ADC, que
determinada lei é CONSTITUCIONAL, a Corte poderá, mais tarde, mudar seu entendimento e decidir que esta
mesma lei é INCONSTITUCIONAL por conta de mudanças no cenário jurídico, político, econômico ou social
do país.
Esta mudança de entendimento do STF sobre a constitucionalidade de uma norma pode ser decidida durante
o julgamento de uma reclamação constitucional. Segundo o Min. Gilmar Mendes, é no juízo hermenêutico
típico da reclamação (no “balançar de olhos” entre objeto e parâmetro da reclamação) que surgirá com maior
nitidez a oportunidade para evolução interpretativa no controle de constitucionalidade.
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STF. Plenário. Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013 (Info 702).
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Modulação de efeitos em recurso extraordinário

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É possível a modulação dos efeitos da decisão proferida em sede de controle incidental de
constitucionalidade.
STF. Plenário. RE 522897/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/3/2017 (Info 857).

É possível que uma emenda constitucional seja julgada formalmente inconstitucional se ficar demonstrado
que ela foi aprovada com votos “comprados” dos parlamentares e que esse número foi suficiente para
comprometer o resultado da votação
Em tese, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade formal no processo constituinte reformador
quando eivada de vício a manifestação de vontade do parlamentar no curso do devido processo constituinte
derivado, pela prática de ilícitos que infirmam a moralidade, a probidade administrativa e fragilizam a
democracia representativa.
STF. Plenário. ADI 4887/DF, ADI 4888/DF e ADI 4889/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/11/2020
(Info 998).

Possibilidade de decretação, de ofício, da modulação dos efeitos da decisão proferida em ADI


Caso o STF, ao julgar uma ADI, ADC ou ADPF, declare a lei ou ato normativo inconstitucional, ele poderá, de
ofício, fazer a modulação dos efeitos dessa decisão.
Ex: no julgamento de uma ADI, o STF decidiu que determinado artigo de lei é inconstitucional. Um dos
legitimados do art. 103 da CF/88 opôs embargos de declaração pedindo a modulação dos efeitos. Ocorre que
o STF considerou que esses embargos eram intempestivos. O STF, mesmo não conhecendo dos embargos,
poderá decretar a modulação dos efeitos da decisão.
STF. Plenário. ADI 5617 ED/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 2/10/2018 (Info 918).

Efeito vinculante de declaração incidental de inconstitucionalidade


Se uma lei ou ato normativo é declarado inconstitucional pelo STF, incidentalmente, essa decisão, assim
como acontece no controle abstrato, também produz eficácia erga omnes e efeitos vinculantes.
Houve mutação constitucional do art. 52, X, da CF/88. A nova interpretação deve ser a seguinte: quando o
STF declara uma lei inconstitucional, a decisão já tem efeito vinculante e erga omnes e o STF apenas comunica
ao Senado com o objetivo de que a referida Casa Legislativa dê publicidade daquilo que foi decidido.
STF. Plenário. ADI 3406/RJ e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 29/11/2017 (Info 886).

O amicus curiae não possui legitimidade para interpor recursos em sede de controle abstrato de
constitucionalidade
O amicus curiae não possui legitimidade para interpor recursos em sede de controle abstrato de
constitucionalidade. Assim, não cabe embargos de declaração em sede de controle concentrado de
constitucionalidade interposto por amicus curiae, sendo inaplicável o art. 138, § 1º, do CPC.
STF. Plenário. ADI-ED 6.811/PE, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 05/12/2022; DJE 16/02/2023.

A decisão do Relator que admite ou inadmite o ingresso do amicus curiae é irrecorrível


É irrecorrível a decisão que defere ou indefere o pedido de ingresso na condição de amicus curiae. A diretriz
vigora também relativamente a processos de índole subjetiva.
STF. Plenário. Inq 4888 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 22/08/2022.

Os efeitos temporais da coisa julgada nas relações jurídicas tributárias de trato sucessivo são
imediatamente cessados quando o STF decidir em sentido oposto em controle concentrado de
constitucionalidade ou recurso extraordinário com repercussão geral
1. As decisões do STF em controle incidental de constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
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repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada que se tenha formado, mesmo nas
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relações jurídicas tributárias de trato sucessivo.

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2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em sede de repercussão geral interrompem automaticamente
os efeitos temporais das decisões transitadas em julgado nas referidas relações, respeitadas a
irretroatividade, a anterioridade anual e a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza
do tributo.
STF. Plenário. RE 955227/BA, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/02/2023(Repercussão Geral – Tema
885) (Info 1082).
STF. Plenário. RE 949297/CE, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
8/02/2023(Repercussão Geral – Tema 881) (Info 1082).

Crimes de responsabilidade
Súmula vinculante 46-STF: A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas
normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei estadual que dispõe sobre formação específica exigida para a docência de disciplina
na educação básica
O magistério na educação básica, que compreende a educação infantil e o ensino fundamental e médio,
submete-se à competência legislativa privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação
nacional.
É inconstitucional lei estadual que dispõe sobre formação específica exigida para a docência de disciplina na
educação básica, pois exorbita o âmbito normativo da Lei nº 9.394/1996, que dispõe sobre diretrizes e bases
da educação nacional, usurpando competência privativa da União.
STF. Plenário. ADI 5484/AL, Rel. Min Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

No exercício de sua competência constitucional para suplementar as normas gerais fixadas pela União
sobre matéria atinente à segurança pública, os estados podem editar normas específicas quanto ao porte
de arma de fogo, desde que mais restritivas
É constitucional ato normativo estadual que, respeitando as condições mínimas definidas em diploma federal
de normas gerais, estabelece exigência adicional para a manutenção do porte de arma de fogo por servidores
estaduais aposentados das forças de segurança pública.
STF. Plenário. ADI 7024/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 16/12/2022 (Info 1081).

Lei municipal pode obrigar a substituição das sacolas plásticas comuns por sacolas biodegradáveis
É constitucional – formal e materialmente – lei municipal que obriga à substituição de sacos e sacolas
plásticos por sacos e sacolas biodegradáveis.
Os municípios — no limite de seu interesse local e desde que em harmonia com a disciplina estabelecida
pelos demais entes federados — possuem competência para legislar sobre meio ambiente, e, caso sua
regulamentação seja mais protetiva, pode ter prevalência sobre a legislação federal ou estadual.
STF. Plenário. RE 732686/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/10/2022 (Repercussão Geral – Tema 970) (Info
1073).

É inconstitucional lei estadual que concede isenção das tarifas de água, esgoto e energia elétrica para os
consumidores atingidos por enchentes
É inconstitucional, por invadir a competência municipal para legislar sobre assuntos de interesse local (art.
30, I e V, da CF/88), lei estadual que concede, por período determinado, isenção das tarifas de água e esgoto
e de energia elétrica aos consumidores residenciais, industriais e comerciais.
Não cabe às leis estaduais a interferência em contratos de concessão de serviços federal e municipal,
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alterando condições que impactam na equação econômico-financeira.


STF. Plenário. ADI 6912/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/8/2022 (Info 1063).
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É inconstitucional norma de Constituição estadual que dispõe sobre serviços de atividades nucleares de
qualquer natureza
São formalmente inconstitucionais os atos normativos editados pelos Estados-membros que disponham
sobre atividades que se relacionem de alguma forma com o setor nuclear em seus respectivos territórios.
Isso porque, ao tratarem do assunto, incorrem em indevida invasão da competência privativa da União para
explorar tais serviços e legislar a seu respeito (art. 22, XXVI; art. 177, § 3º; art. 225, § 6º, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 6858/AM, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/7/2022 (Info 1061).

É inconstitucional lei estadual que dispõe sobre a aceitação de diplomas expedidos por universidades
estrangeiras
Invade a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional lei
estadual que dispõe sobre reconhecimento de diploma obtido por instituições de ensino superior de países
estrangeiros.
STF. Plenário. ADI 6592/AM, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2021 (Info 1028).

É inconstitucional lei estadual que estabelece critério diferente das regras federais para o ingresso de
crianças no primeiro ano do ensino fundamental
É inconstitucional lei estadual que fixa critério etário para o ingresso no Ensino Fundamental diferente do
estabelecido pelo legislador federal e regulamentado pelo Ministério da Educação.
STF. Plenário. ADI 6312, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/12/2020 (Info 1003).

Estados e DF podem legislar sobre postagem de boletos de empresas públicas e privadas


Os Estados-membros e o Distrito Federal têm competência legislativa para estabelecer regras de postagem
de boletos referentes a pagamento de serviços prestados por empresas públicas e privadas.
STF. Plenário. ARE 649379/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
13/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 491) (Info 999).

Lei estadual pode exigir que, no rótulo dos produtos alimentícios, seja mencionada a presença de
organismo geneticamente modificado quando o percentual existente no produto seja igual ou superior a
1%
É constitucional norma estadual que dispõe sobre a obrigatoriedade de rotulagem em produtos de gêneros
alimentícios destinados ao consumo humano e animal, que sejam constituídos ou produzidos a partir de
organismos geneticamente modificados, no percentual igual ou superior a 1%, no âmbito do Estado
federado.
É o caso, por exemplo, da Lei nº 14.274/2010, do Estado de São Paulo.
STF. Plenário. ADI 4619/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 9/10/2020 (Info 994).

Lei estadual pode obrigar a exibição, antes das sessões do cinema, de filme publicitário esclarecendo as
consequências do uso de drogas
É constitucional lei estadual estabelece a obrigatoriedade da exibição, antes das sessões, em todos os
cinemas do Estado, de filme publicitário esclarecendo as consequências do uso de drogas.
É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que atribui ao Poder Executivo a supervisão de
filmes publicitários, a fiscalização de salas de cinema e a lavratura de multas pelo descumprimento da
obrigação de exibição dos filmes especificados.
STF. Plenário. ADI 5140/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/10/2018.

PODER LEGISLATIVO
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Com o término dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito, restam prejudicadas as ações de
mandado de segurança impetradas contra atos da CP
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Com o término dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito, restam prejudicadas as ações de
mandado de segurança impetradas contra atos da CPI.
STF. 1ª Turma. MS-AgR 38.130, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/08/2022.

Parlamentar, mesmo sem a aprovação da Mesa Diretora, pode, na condição de cidadão, ter acesso a
informações de interesse pessoal ou coletivo dos órgãos públicos
O parlamentar, na condição de cidadão, pode exercer plenamente seu direito fundamental de acesso a
informações de interesse pessoal ou coletivo, nos termos do art. 5º, inciso XXXIII, da Constituição Federal e
das normas de regência desse direito.
STF. Plenário. RE 865401/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 25/4/2018 (repercussão geral) (Info 899).

Parlamentares não têm imunidade formal quanto à prisão em caso de condenação definitiva
O § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar (provisória) do parlamentar, ou seja, não
proíbe a prisão decorrente da sentença transitada em julgado, como no caso de Deputado Federal
condenado definitivamente pelo STF.
STF. Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/6/2013 (Info 712).

Imunidade material dos Vereadores


Durante sessão da Câmara Municipal, após discussão sobre uma representação contra o Prefeito, um
Vereador passou a proferir pesadas ofensas contra outro Parlamentar. O Vereador ofendido ajuizou ação de
indenização por danos morais contra o ofensor. A questão chegou até o STF que, julgando o tema sob a
sistemática da repercussão geral, declarou que o Vereador não deveria ser condenado porque agiu sob o
manto da imunidade material. Na oportunidade, o STF definiu a seguinte tese que deverá ser aplicada aos
casos semelhantes:
Nos limites da circunscrição do Município e havendo pertinência com o exercício do mandato, garante-se a
imunidade prevista no art. 29, VIII, da CF aos vereadores.
STF. Plenário. RE 600063/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 25/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).

A instalação de uma CPI não se submete a um juízo discricionário seja do Presidente da casa legislativa,
seja do plenário da própria casa legislativa
A instauração de Comissão Parlamentar de Inquérito depende unicamente do preenchimento dos requisitos
previstos no art. 58, § 3º, da Constituição Federal, ou seja:
a) o requerimento de um terço dos membros das casas legislativas;
b) a indicação de fato determinado a ser apurado; e
c) a definição de prazo certo para sua duração.
STF. Plenário. MS 37760 MC-Ref/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 14/4/2021 (Info 1013).

Deputados Estaduais gozam das mesmas imunidades formais previstas para os parlamentares federais no
art. 53 da CF/88
Por força do § 1º do art. 27 da Constituição Federal, as imunidades materiais e formais conferidas aos
membros do Congresso Nacional (deputados federais e senadores) estendem-se aos deputados estaduais.
Assim, são constitucionais dispositivos da Constituição do Estado que estendem aos Deputados Estaduais as
imunidades formais previstas no art. 53 da Constituição Federal para Deputados Federais e Senadores.
STF. Plenário. ADI 5824/RJ e ADI 5.825/MT, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 16/12/2022 (Info 1081).

Constituições estaduais podem prever a reeleição de membros das mesas diretoras das assembleias
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legislativas para mandatos consecutivos, mas essa recondução é limitada a uma única vez
Página

1. O art. 57, § 4º, da CF, não é norma de reprodução obrigatória por parte dos Estados-membros.

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2. É inconstitucional a reeleição em número ilimitado, para mandatos consecutivos, dos membros das Mesas
Diretoras das Assembleias Legislativas Estaduais para os mesmos cargos que ocupam, sendo-lhes permitida
uma única recondução.
STF. Plenário. ADI 6720/AL, ADI 6721/RJ e ADI 6722/RO, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 24/9/2021
(Info 1031).

É possível a prorrogação da competência criminal originária do Supremo Tribunal Federal, quando o


parlamentar federal, sem solução de continuidade, encontrar-se investido, em novo mandato federal, mas
em casa legislativa federal diversa
É dizer, admite-se a excepcional e exclusiva prorrogação da competência criminal originária do Supremo
Tribunal Federal, quando o parlamentar, sem solução de continuidade, encontrar-se investido, em novo
mandato federal, mas em casa legislativa diversa daquela que originalmente deu causa à fixação da
competência originária, nos termos do art. 102, I, “b”, da Constituição Federal.
STF. Plenário. Pet 9189, Rel. Min. Rosa Weber, Relator(a) p/ Acórdão: Edson Fachin, julgado em 12/05/2021.

PROCESSO LEGISLATIVO
Lei de iniciativa parlamentar não pode criar Conselho de Fiscalização Profissional porque se trata de uma
autarquia federal, que precisa de lei de iniciativa do Presidente da República
É formalmente inconstitucional — por vício resultante da usurpação do poder de iniciativa (art. 61, § 1º, II,
“a”, CF/88) — lei federal de origem parlamentar que cria conselhos de fiscalização profissional e dispõe sobre
a eleição dos respectivos membros efetivos e suplentes.
STF. Plenário. ADI 3428/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 01/03/2023 (Info 1084).

O trancamento da pauta por conta de MPs não votadas no prazo de 45 dias só alcança projetos de lei que
versem sobre temas passíveis de serem tratados por MP
O art. 62, § 6º da CF/88 afirma que “se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias
contados de sua publicação, entrará em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do
Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações
legislativas da Casa em que estiver tramitando”. Apesar de o dispositivo falar em “todas as demais
deliberações”, o STF, ao interpretar esse § 6º, não adotou uma exegese literal e afirmou que ficarão
sobrestadas (paralisadas) apenas as votações de projetos de leis ordinárias que versem sobre temas que
possam ser tratados por medida provisória. Assim, por exemplo, mesmo havendo medida provisória
trancando a pauta pelo fato de não ter sido apreciada no prazo de 45 dias (art. 62, § 6º), ainda assim a Câmara
ou o Senado poderão votar normalmente propostas de emenda constitucional, projetos de lei
complementar, projetos de resolução, projetos de decreto legislativo e até mesmo projetos de lei ordinária
que tratem sobre um dos assuntos do art. 62, § 1º, da CF/88. Isso porque a MP somente pode tratar sobre
assuntos próprios de lei ordinária e desde que não incida em nenhuma das proibições do art. 62, § 1º.
STF. Plenário. MS 27931/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 29/6/2017 (Info 870).

Análise dos requisitos constitucionais de relevância e urgência


O art. 62 da CF/88 prevê que o Presidente da República somente poderá editar medidas provisórias em caso
de relevância e urgência.
A definição do que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas provisórias consiste, em regra,
em um juízo político (escolha política/discricionária) de competência do Presidente da República, controlado
pelo Congresso Nacional.
Desse modo, salvo em caso de notório abuso, o Poder Judiciário não deve se imiscuir na análise dos requisitos
da MP.
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Proibição de reedição de medidas provisórias na mesma sessão legislativa


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É inconstitucional medida provisória ou lei decorrente de conversão de medida provisória cujo conteúdo
normativo caracterize a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória anterior rejeitada, de
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eficácia exaurida por decurso do prazo ou que ainda não tenha sido apreciada pelo Congresso Nacional
dentro do prazo estabelecido pela Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5717/DF, ADI 5709/DF, ADI 5716/DF e ADI 5727/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em
27/3/2019 (Info 935).

Emenda parlamentar em medida provisória e contrabando legislativo


Durante a tramitação de uma medida provisória no Congresso Nacional, os parlamentares poderão
apresentar emendas?
SIM, no entanto, tais emendas deverão ter relação de pertinência temática com a medida provisória que está
sendo apreciada. Assim, a emenda apresentada deverá ter relação com o assunto tratado na medida
provisória.
Desse modo, é incompatível com a Constituição a apresentação de emendas sem relação de pertinência
temática com medida provisória submetida à sua apreciação.
STF. Plenário. ADI 5127/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
15/10/2015 (Info 803).

É constitucional a previsão regimental de rito de urgência para proposições que tramitam na Câmara dos
Deputados e no Senado Federal, descabendo ao Poder Judiciário examinar concretamente as razões que
justificam sua adoção
A previsão regimental de um regime de urgência que reduza as formalidades processuais em casos
específicos, reconhecidos pela maioria legislativa, não ofende o devido processo legislativo.
A adoção do rito de urgência em proposições legislativas é matéria genuinamente interna corporis, não
cabendo ao STF adentrar tal seara. Precedente.
Quando não caracterizado o desrespeito às normas constitucionais pertinentes ao processo legislativo, é
defeso ao Poder Judiciário exercer o controle jurisdicional em relação à interpretação do sentido e do alcance
de normas meramente regimentais das Casas Legislativas.
STF. Plenário. ADI 6968/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 20/4/2022 (Info 1051).

É possível editar medidas provisórias sobre meio ambiente?


É possível a edição de medidas provisórias tratando sobre matéria ambiental, mas sempre veiculando normas
favoráveis ao meio ambiente.
A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda que não
conste expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/4/2018 (Info 896).

Proibição de reedição de medidas provisórias na mesma sessão legislativa


É inconstitucional medida provisória ou lei decorrente de conversão de medida provisória cujo conteúdo
normativo caracterize a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória anterior rejeitada, de
eficácia exaurida por decurso do prazo ou que ainda não tenha sido apreciada pelo Congresso Nacional
dentro do prazo estabelecido pela Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5717/DF, ADI 5709/DF, ADI 5716/DF e ADI 5727/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em
27/3/2019 (Info 935).

Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos
São inconstitucionais leis estaduais, de iniciativa parlamentar, que disponham sobre o regime jurídico dos
servidores públicos (seus direitos e deveres).
O art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa de lei que trate
23

sobre os direitos e deveres dos servidores públicos. Essa regra também é aplicada no âmbito estadual por
força do princípio da simetria.
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O fato de o Governador do Estado sancionar esse projeto de lei não faz com que o vício de iniciativa seja
sanado (corrigido). A Súmula 5 do STF há muitos anos foi cancelada.
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STF. Plenário. ADI 3627/AP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 6/11/2014. (Info 766).

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com
força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I – relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado
o previsto no art. 167, § 3º;
II – que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro;
III – reservada a lei complementar;
IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do
Presidente da República.

Não se pode declarar a inconstitucionalidade formal da lei sob o argumento de que houve mero
descumprimento das regras do regimento interno, sendo indispensável o desrespeito às normas
constitucionais que tratam sobre o processo legislativo
O controle judicial de atos “interna corporis” das Casas Legislativas só é cabível nos casos em que haja
desrespeito às normas constitucionais pertinentes ao processo legislativo (arts. 59 a 69 da CF/88).
Tese fixada pelo STF: “Em respeito ao princípio da separação dos poderes, previsto no art. 2º da Constituição
Federal, quando não caracterizado o desrespeito às normas constitucionais pertinentes ao processo
legislativo, é defeso ao Poder Judiciário exercer o controle jurisdicional em relação à interpretação do sentido
e do alcance de normas meramente regimentais das Casas Legislativas, por se tratar de matéria ‘interna
corporis’.”
STF. Plenário. RE 1297884/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/6/2021 (Repercussão Geral – Tema 1120)
(Info 1021).

O Tribunal de Contas tem o prazo de 5 anos para julgar a legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma ou pensão, prazo esse contado da chegada do processo à Corte de Contas
Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos
ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma
ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas.
STF. Plenário. RE 636553/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2020 (repercussão geral – Tema 445)
(Info 967).

Não é possível republicar uma lei já sancionada, promulgada e publicada para incluir novos vetos, ainda
que sob o argumento de que se trata de mera retificação da versão original
Não se admite “novo veto” em lei já promulgada e publicada.
Manifestada a aquiescência do Poder Executivo com projeto de lei, pela aposição de sanção, evidencia-se a
ocorrência de preclusão entre as etapas do processo legislativo, sendo incabível eventual retratação.
STF. Plenário. ADPF 714/DF, ADPF 715/DF e ADPF 718/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 13/2/2021
(Info 1005).

ADVOCACIA PÚBLICA
CPC 2015
24

Art. 182. Incumbe à Advocacia Pública, na forma da lei, defender e promover os interesses públicos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, por meio da representação judicial, em todos os âmbitos
Página

federativos, das pessoas jurídicas de direito público que integram a administração direta e indireta.

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Responsabilidade do parecerista
É possível a responsabilização de advogado público pela emissão de parecer de natureza opinativa, desde
que reste configurada a existência de culpa ou erro grosseiro.
STF. 1ª Turma.MS 27867 AgR/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 18/9/2012 (Info 680).

Segundo a doutrina e o voto do Min. Joaquim Barbosa no MS 24.631/DF, existem três espécies de parecer:
Facultativo Obrigatório Vinculante
O administrador NÃO é obrigado O administrador é obrigado a O administrador é obrigado a
a solicitar o parecer do órgão solicitar o parecer do órgão solicitar o parecer do órgão jurídico.
jurídico. jurídico.
O administrador pode discordar O administrador pode discordar O administrador NÃO pode
da conclusão exposta pelo da conclusão exposta pelo discordar da conclusão exposta pelo
parecer, desde que o faça parecer, desde que o faça parecer.
fundamentadamente. fundamentadamente com base Ou o administrador decide nos
em um novo parecer. termos da conclusão do parecer, ou,
então, não decide.
Em regra, o parecerista não tem Em regra, o parecerista não tem Há uma partilha do poder de decisão
responsabilidade pelo ato responsabilidade pelo ato entre o administrador e o
administrativo. administrativo. parecerista, já que a decisão do
administrador deve ser de acordo
Contudo, o parecerista pode ser Contudo, o parecerista pode ser com o parecer.
responsabilizado se ficar responsabilizado se ficar
configurada a existência de culpa configurada a existência de Logo, o parecerista responde
ou erro grosseiro. culpa ou erro grosseiro. solidariamente com o
administrador pela prática do ato,
não sendo necessário demonstrar
culpa ou erro grosseiro.

O atual ordenamento jurídico prevê aos Advogados da União o direito de gozar somente 30 dias de férias
anuais
Os Advogados da União não possuem direito a férias de 60 (sessenta) dias, nos termos da legislação
constitucional e infraconstitucional vigentes.
STF. Plenário. RE 929886/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/9/2022 (Repercussão Geral – Tema 1063)
(Info 1066).

Inconstitucionalidade de cargo em comissão de assessor jurídico no Poder Executivo


É inconstitucional lei estadual que crie cargos em comissão de “consultor jurídico”, “coordenador jurídico”,
“assistente jurídico” etc. e que tenham por função prestar assessoria jurídica para os órgãos da
Administração Pública.
Essa norma viola o art. 132 da CF/88, que confere aos Procuradores de Estado a representação exclusiva do
Estado-membro em matéria de atuação judicial e de assessoramento jurídico, sempre mediante investidura
fundada em prévia aprovação em concurso público.
STF. Plenário. ADI 4843 MC-Referendo/PB, rel. Min. Celso de Mello, julgado em 11/12/2014 (Info 771).

É constitucional lei que preveja o pagamento de honorários de sucumbência aos advogados públicos; no
25

entanto, a somatória do subsídio com os honorários não pode ultrapassar mensalmente o teto
remuneratório, ou seja, o subsídio dos Ministros do STF
Página

É constitucional o pagamento de honorários sucumbenciais aos advogados públicos, observando-se, porém,


o limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição.

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STF. Plenário. ADI 6159 e ADI 6162, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 25/08/2020.

DEFENSORIA PÚBLICA
É inconstitucional norma estadual que confere à Defensoria Pública o poder de requisição para instaurar
inquérito policial
O STF já decidiu que é constitucional lei complementar estadual que confere à Defensoria Pública a
prerrogativa de requisitar, de quaisquer autoridades públicas e de seus agentes, certidões, exames, perícias,
vistorias, diligências, processos, documentos, informações, esclarecimentos e demais providências
necessárias ao exercício de suas atribuições.
Esse mesmo raciocínio, contudo, não vale para a requisição de inquérito policial.
É inconstitucional norma estadual que confere à Defensoria Pública o poder de requisição para instaurar
inquérito policial. Isso porque o poder de requisitar a instauração de inquérito policial está intrinsecamente
ligado à persecução penal, o que exige uma disciplina uniforme em todo o território nacional. Nesse contexto,
o art. 5º do CPP — norma editada no exercício da competência privativa da União para legislar sobre direito
processual (art. 22, I, CF/88) — já delimitou essa atribuição, conferindo-a somente à autoridade judiciária ou
ao Ministério Público.
Logo, viola o art. 22, I, da CF/88, a norma estadual que, indo de encontro à disciplina processual editada pela
União, amplia o poder de requisição para instauração de inquérito policial para conferir tal atribuição à
Defensoria Pública.
STF. Plenário. ADI 4346/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 13/03/2023 (Info 1086).

Poder Judiciário não pode determinar a lotação de Defensor Público em desacordo com os critérios
previamente definidos pela própria instituição, desde que cumpridos os parâmetros do art. 98, caput e §
2º, do ADCT
É inconstitucional — por violar a autonomia administrativa da Defensoria Pública — a imposição, por via
judicial, de lotação de defensor público em divergência com os critérios prefixados pela própria instituição,
quando estes já considerem a proporcionalidade da efetiva demanda de seus serviços e a respectiva
população na unidade jurisdicional, com prioridade de atendimento às regiões com maiores índices de
exclusão social e adensamento populacional.
Tese fixada pelo STF:
Ofende a autonomia administrativa das Defensorias Públicas decisão judicial que determine a lotação de
defensor público em localidade desamparada, em desacordo com os critérios previamente definidos pela
própria instituição, desde que observados os critérios do art. 98, caput e § 2º, do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias – ADCT.
STF. Plenário. RE 887671/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 08/03/2023 (Repercussão Geral – Tema 847) (Info 1086).

TEMAS DIVERSOS
A comunidade indígena cuja posse é questionada em ação de nulidade de demarcação deve ser
considerada como litisconsorte passiva necessária
A comunidade indígena cuja posse fundiária é questionada em ação de nulidade de demarcação tem o direito
subjetivo de ser ouvida no processo, na qualidade de litisconsorte passivo necessário.
STJ. 2ª Turma.AgInt na Pet no REsp 1586943-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17/05/2022 (Info
737).

Entidades estudantis municipais e estaduais podem emitir a carteira estudantil mesmo sem estarem
26

filiadas às entidades nacionais; é constitucional a exigência de um modelo único nacionalmente


padronizado da carteira
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É inconstitucional exigir das entidades estudantis locais e regionais, legitimadas para a expedição da carteira
de identidade estudantil (CIE), filiação às entidades de abrangência nacional.

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Admite-se a definição de um modelo único nacionalmente padronizado da CIE, desde que publicamente
disponibilizado e fixados parâmetros razoáveis que não obstem o acesso pelas entidades com prerrogativa
legal para sua emissão.
STF. Plenário. ADI 5108/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 25/3/2022 (Info 1048).

Populações indígenas
É INCONSTITUCIONAL norma da Constituição Estadual que disponha as atribuições para a defesa dos direitos
e interesses das populações indígenas. Isso porque somente a União pode legislar sobre a matéria, conforme
determina o art. 22, XIV, da CF/88.
STF. 1ª Turma. ADI 1499/PA, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/9/2014 (Info 759).

O Poder Judiciário pode determinar, ante injustificável inércia estatal, que o Poder Executivo adote
medidas necessárias à concretização de direitos constitucionais dos indígenas
Caso concreto: MPF ajuizou ACP contra a União e a FUNAI para que concluíssem o Processo Administrativo
instaurado pelo Grupo Indígena Fulkaxó, no prazo de 4 meses, a contar da intimação da sentença, bem como
para destinar área à posse e ocupação dessa tribo, no prazo de 1 ano, ante a impossibilidade de convivência
pacífica com os índios da etnia Kariri-Xocó (de quem os primeiros se originam), nas terras originariamente
demarcadas pela administração pública.
STJ. 1ª Turma. REsp 1623873-SE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 26/04/2022 (Info 734).

É necessário que a União e a FUNAI executem e implementem atividade de proteção territorial nas terras
indígenas, independentemente de sua homologação
Nos termos do art. 231 da Constituição Federal, a União tem o dever (e não a escolha) de demarcar as terras
indígenas. Tais demarcações deveriam estar concluídas no prazo de 5 anos, contados da promulgação da
Constituição, conforme art. 67 do ADCT.
A não homologação das demarcações dessas terras deriva de inércia deliberada do Poder Público, em afronta
ao direito originário dos índios.
Ao afastar a proteção territorial em terras não homologadas, a FUNAI sinaliza a invasores que a União se
absterá de combater atuações irregulares em tais áreas, o que pode constituir um convite à invasão de terras
que são sabidamente cobiçadas por grileiros e madeireiros, bem como à prática de ilícitos de toda ordem.
Além disso, a suspensão da proteção territorial abre caminho para que terceiros passem a ali transitar, o que
põe em risco a saúde dessas comunidades, expondo-as a eventual contágio por COVID-19 e outras
enfermidades.
STF. Plenário. ADPF 709-MC-segunda-Ref/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 25/2/2022 (Info 1045).

A comunidade indígena cuja posse é questionada em ação de nulidade de demarcação deve ser
considerada como litisconsorte passiva necessária
A comunidade indígena cuja posse fundiária é questionada em ação de nulidade de demarcação tem o direito
subjetivo de ser ouvida no processo, na qualidade de litisconsorte passivo necessário.
STJ. 2ª Turma. AgInt na Pet no REsp 1.586.943-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17.05.2022 (Info
737).

Judiciário pode impor aos parlamentares as medidas cautelares do art. 319 do CPP, no entanto, a
respectiva Casa legislativa pode rejeitá-las (caso Aécio Neves)
O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por autoridade própria, as medidas
cautelares previstas no art. 319 do CPP, seja em substituição de prisão em flagrante delito por crime
inafiançável, por constituírem medidas individuais e específicas menos gravosas; seja autonomamente, em
27

circunstâncias de excepcional gravidade.


Obs: no caso de Deputados Federais e Senadores, a competência para impor tais medidas cautelares é do
Página

STF (art. 102, I, “b”, da CF/88).

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Importante, contudo, fazer uma ressalva: se a medida cautelar imposta pelo STF impossibilitar, direta ou
indiretamente, que o Deputado Federal ou Senador exerça o seu mandato, então, neste caso, o Supremo
deverá encaminhar a sua decisão, no prazo de 24 horas, à Câmara dos Deputados ou ao Senado Federal para
que a respectiva Casa delibere se a medida cautelar imposta pela Corte deverá ou não ser mantida.
Assim, o STF pode impor a Deputado Federal ou Senador qualquer das medidas cautelares previstas no art.
319 do CPP. No entanto, se a medida imposta impedir, direta ou indiretamente, que esse Deputado ou
Senador exerça seu mandato, então, neste caso, a Câmara ou o Senado poderá rejeitar (“derrubar”) a medida
cautelar que havia sido determinada pelo Judiciário.
Aplica-se, por analogia, a regra do §2º do art. 53 da CF/88 também para as medidas cautelares diversas da
prisão.
STF. Plenário. ADI 5526/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
11/10/2017 (Info 881).

A revogação ou modificação do ato normativo em que se fundou a edição de enunciado de súmula


vinculante acarreta, em regra, a necessidade de sua revisão ou cancelamento pelo STF, conforme o caso
Imaginemos que o STF edite uma súmula vinculante baseado na interpretação do art. XX da Lei. Se o
Congresso Nacional revogar o art. XX ou alterá-lo, diante desse fato, será necessária a revisão ou o mesmo o
cancelamento da súmula vinculante que havia sido editada?
Em regra, sim.
Em regra, deve-se revisar ou cancelar enunciado de súmula vinculante quando ocorrer a revogação ou a
alteração da legislação que lhe serviu de fundamento.
Contudo, o STF pode concluir, com base nas circunstâncias do caso concreto, pela desnecessidade de tais
medidas.
STF. Plenário. RE 1116485/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 01/03/2023 (Repercussão Geral – Tema 477)
(Info 1084).

Acesso do MPF a procedimentos do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB depende de prévia autorização
judicial
O acesso do MPF às informações inseridas em procedimentos disciplinares conduzidos pela OAB depende de
prévia autorização judicial. O fundamento para esta decisão encontra-se no § 2º do art. 72 da Lei nº 8.906/94,
que estabelece que a obtenção de cópia dos processos ético-disciplinares é matéria submetida à reserva de
jurisdição, de modo que somente mediante autorização judicial poderá ser dado acesso a terceiros.
STJ. Corte Especial. REsp 1.217.271-PR, Rel. Min. Humberto Martins, j. em 18/5/2016 (Info 589).

STF não é competente para julgar MS impetrado contra decisões negativas do CNJ
Não cabe mandado de segurança contra ato de deliberação negativa do Conselho Nacional de Justiça, por
não se tratar de ato que importe a substituição ou a revisão do ato praticado por outro órgão do Judiciário.
Assim, o STF não tem competência para processar e julgar ações decorrentes de decisões negativas do CNMP
e do CNJ. Como o conteúdo da decisão do CNJ/CNMP foi “negativo”, o Conselho não decidiu nada. Se não
decidiu nada, não praticou nenhum ato. Se não praticou nenhum ato, não existe ato do CNJ/CNMP a ser
atacado no STF. Em razão do exposto, não compete ao STF julgar MS impetrado contra decisão do CNJ que
julgou improcedente pedido de cassação de um ato normativo editado por vara judicial.
STF. 2ª Turma. MS 33085/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/09/2016 (Info 840).

STF não é competente para julgar MS impetrado contra decisões negativas do CNJ/CNMP
A competência para julgar mandados de segurança impetrados contra o CNJ e o CNMP é do STF (art. 102, I,
“r”, da CF/88). Algumas vezes o interessado provoca o CNJ ou o CNMP, mas tais órgãos recusam-se a tomar
28

alguma providência no caso concreto porque alegam que não têm competência para aquela situação ou que não
é hipótese de intervenção. Nessas hipóteses, dizemos que a decisão do CNJ ou CNMP foi “NEGATIVA” porque ela
Página

nada determina, nada aplica, nada ordena, nada invalida.

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Nesses casos, a parte interessada poderá impetrar MS contra o CNJ/CNMP no STF? NÃO. O STF não tem
competência para processar e julgar ações decorrentes de decisões negativas do CNMP e do CNJ. Segundo
entende o STF, como o conteúdo da decisão do CNJ/CNMP foi “negativo”, ele não decidiu nada. Se não
decidiu nada, não praticou nenhum ato. Se não praticou nenhum ato, não existe ato do CNJ/CNMP a ser
atacado no STF.
STF. 2ª Turma. MS 37301 AgR, Rel. Ricardo Lewandowski, julgado em 08/04/2021.

A sobreposição da propriedade rural com área indígena, ainda que o processo de demarcação não tenha
sido concluído, inviabiliza a certificação de georreferenciamento
Caso hipotético: João, proprietário de uma fazenda, realizou o georreferenciamento de seu imóvel rural e,
em seguida, solicitou ao INCRA a atualização cadastral e a certificação das peças técnicas (planta e memorial
descritivo), decorrentes para atender as exigências da Lei 10.267/2001. O INCRA, contudo, recusou-se a fazer
a certificação sob o argumento de que a fazenda estaria sobreposta a uma reserva indígena.
A recusa do INCRA foi correta mesmo se a área indígena ainda não tiver sido demarcada.
As terras ocupadas pelos indígenas são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis
(§ 4º do art. 231 da CF/88). Não pode a Administração ser compelida a certificar situação imobiliária em
descumprimento da lei e Constituição, pois são nulos os títulos particulares sobre terras indígenas, a teor do
§ 6º do art. 231 da CF/88.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1640785-MS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 25/10/2022 (Info 755).

É constitucional lei municipal que instituía feriado local para comemorar o Dia da Consciência Negra
É constitucional a instituição, por lei municipal, de feriado local para a comemoração do Dia da Consciência
Negra, a ser celebrado em 20 de novembro, em especial porque a data representa um símbolo de resistência
cultural e configura ação afirmativa contra o preconceito racial.
STF. Plenário. ADPF 634/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 30/11/2022 (Info 1078).

Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário
de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte.
• Importante.

Súmula vinculante 3-STF: Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório
e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que
beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,
reforma e pensão.
• Aprovada em 30/05/2007, DJe 06/06/2007.
• Importante.

DIREITO ADMINISTRATIVO
Possibilidade de divulgação de vencimentos dos servidores públicos com relação nominal
É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública, dos nomes de seus
servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens pecuniárias.
STF. Plenário. ARE 652777/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23/4/2015 (repercussão geral) (Info 782)

Necessidade de garantir contraditório e ampla defesa


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A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem ilegais. No entanto, se a
invalidação do ato administrativo repercute no campo de interesses individuais, faz-se necessária a
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instauração de procedimento administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa.

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Assim, a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não dispensa a observância do
contraditório e ampla defesa prévios em âmbito administrativo.
STF. 2ª Turma. RMS 31661/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/12/2013 (Info 732).
STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15/10/2014 (Info 763).

O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta
diretamente a Constituição Federal
Não existe direito adquirido à efetivação na titularidade de cartório quando a vacância do cargo ocorre na
vigência da CF/88, que exige a submissão a concurso público (art. 236, § 3º).
O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta
diretamente a Constituição Federal.
O art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional autoaplicável. Logo, mesmo antes da edição da Lei
8.935/1994 ela já tinha plena eficácia e o concurso público era obrigatório como condição para o ingresso na
atividade notarial e de registro.
STF. Plenário. MS 26860/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 2/4/2014 (Info 741).

Prazo decadencial do art. 54 da Lei 9.784/99 e ato praticado antes da vigência da Lei
Prazo de que dispõe a Administração Pública federal para anular um ato administrativo ilegal: 5 anos,
contados da data em que o ato foi praticado (art. 54 da Lei nº 9.784/99)
A Lei 9.784/99 entrou em vigor em 01/02/1999. Se o ato administrativo tiver sido praticado antes da vigência
dessa Lei, qual será o prazo e a partir de quando ele é contado?
O STJ possui o entendimento de que o prazo decadencial previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99, quanto aos
atos administrativos anteriores à sua promulgação, iniciou-se a partir da data de sua entrada em vigor, ou
seja, na data de sua publicação, em 01/02/1999.
Assim, caso o ato ilegal tenha sido praticado antes da Lei nº 9.784/99, a Administração teve o prazo de 5 anos
a contar da vigência da aludida norma para anulá-lo.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.270.474-RN, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/10/2012 (Info 508).

É possível a anulação do ato de anistia pela Administração Pública, evidenciada a violação direta do art.
8º do ADCT, mesmo quando decorrido o prazo decadencial contido na Lei 9.784/99
O decurso do lapso temporal de 5 (cinco) anos não é causa impeditiva bastante para inibir a Administração
Pública de revisar os atos de concessão de anistia a cabos da Aeronáutica relativos à Portaria 1.104, editada
pelo Ministro de Estado da Aeronáutica, em 12 de outubro de 1964.
STJ. 1ª Seção. MS 17526-DF, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da 5ª Região),
julgado em 9/11/2022 (Info Especial 8).
STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019 (Repercussão Geral – Tema 839)
(Info 956); STJ. 1ª Seção. MS 20.187-DF, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado Do TRF5),
julgado em 10/08/2022 (Info 744).

A inscrição de Estado-membro nos cadastros federais de inadimplência antes da instauração e do


julgamento de tomada de contas especial viola o devido processo legal
A tomada de contas especial é a medida adequada para se alcançar o reconhecimento definitivo das
irregularidades detectadas. Só a partir daí é que se permite a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao
crédito organizados e mantidos pela União.
O processo de contas é essencial para a apuração de responsabilidades. Não se pode impor sanção sem
anterior identificação de responsáveis.
STF. Plenário. ACO 2910 AgR, Rel. Roberto Barroso, julgado em 29/06/2020 (Info 988 – clipping).
30

A inscrição de entes federados em cadastro de inadimplentes (ou outro que dê causa à negativa de realização
Página

de convênios, acordos, ajustes ou outros instrumentos congêneres que impliquem transferência voluntária

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de recursos), pressupõe o respeito aos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido processo
legal, somente reconhecido:
a) após o julgamento de tomada de contas especial ou procedimento análogo perante o Tribunal de Contas,
nos casos de descumprimento parcial ou total de convênio, prestação de contas rejeitada, ou existência de
débito decorrente de ressarcimento de recursos de natureza contratual (salvo os de conta não prestada) e;
b) após a devida notificação do ente faltoso e o decurso do prazo nela previsto (conforme constante em lei,
regras infralegais ou em contrato), independentemente de tomada de contas especial, nos casos de não
prestação de contas, não fornecimento de informações, débito decorrente de conta não prestada, ou
quaisquer outras hipóteses em que incabível a tomada de contas especial.
STF. Plenário. RE 1067086, Rel. Rosa Weber, julgado em 16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 327)

Personalidade judiciária das Câmaras Municipais e das Assembleias Legislativas


Súmula 525-STJ: A Câmara de vereadores não possui personalidade jurídica, apenas personalidade judiciária,
somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais.

É possível aplicar o regime de precatórios às empresas públicas?


Não se submetem ao regime de precatório as empresas públicas dotadas de personalidade jurídica de direito
privado com patrimônio próprio e autonomia administrativa que exerçam atividade econômica sem
monopólio e com finalidade de lucro.
STF. 1ª Turma. RE 892727/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Morais, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em
7/8/2018 (Info 910).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de economia mista?


É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista
prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos
trabalhistas.
Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de
precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas
e serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação
funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).
STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

A fundação instituída pelo Estado pode estar sujeita ao regime público ou privado, a depender do estatuto
da fundação e das atividades por ela prestadas
A qualificação de uma fundação instituída pelo Estado como sujeita ao regime público ou privado depende:
i) do estatuto de sua criação ou autorização e
ii) das atividades por ela prestadas.
As atividades de conteúdo econômico e as passíveis de delegação, quando definidas como objetos de dada
fundação, ainda que essa seja instituída ou mantida pelo poder público, podem se submeter ao regime
jurídico de direito privado.
STF. Plenário. RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1º e 7/8/2019 (repercussão geral) (Info 946).

Fundação pública com personalidade jurídica de direito privado pode adotar o regime celetista para
contratação de seus empregados
É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide sobre as relações
de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com personalidade jurídica de direito privado,
destinadas à prestação de serviços de saúde.
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STF. Plenário. ADI 4247/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997).
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As fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção das custas processuais

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As fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção das custas processuais.
A isenção das custas processuais somente se aplica para as entidades com personalidade de direito público.
Dessa forma, para as Fundações Públicas receberem tratamento semelhante ao conferido aos entes da
Administração Direta é necessário que tenham natureza jurídica de direito público, que se adquire no
momento de sua criação, decorrente da própria lei.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.409.199-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/03/2020 (Info 676).

Lei estadual pode autorizar a criação de fundação pública de direito privado para atuar na prestação de
serviço público de saúde
É constitucional a constituição de fundação pública de direito privado para a prestação de serviço público de
saúde.
STF. Plenário. ADI 4197/SE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/3/2023 (Info 1085).

Os serviços sociais autônomos precisam realizar concurso público para contratar seu pessoal?
NÃO. Os serviços sociais autônomos, por possuírem natureza jurídica de direito privado e não integrarem a
Administração Pública, mesmo que desempenhem atividade de interesse público em cooperação com o ente
estatal, NÃO estão sujeitos à observância da regra de concurso público (art. 37, II, da CF/88) para contratação
de seu pessoal.
Obs.: vale ressaltar, no entanto, que o fato de as entidades do Sistema “S” não estarem submetidas aos
ditames constitucionais do art. 37, não as exime de manterem um padrão de objetividade e eficiência na
contratação e nos gastos com seu pessoal.
STF. Plenário. RE 789874/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/9/2014 (repercussão geral) (Info 759).

Os recursos geridos pelos serviços sociais autônomos são considerados recursos públicos?
NÃO. Segundo entende o STF, os serviços sociais autônomos do denominado sistema “S”, embora
compreendidos na expressão de entidade paraestatal, são pessoas jurídicas de direito privado, definidos
como entes de colaboração, mas não integrantes da Administração Pública.
Assim, quando o produto das contribuições ingressa nos cofres dos Serviços Sociais Autônomos, perde o
caráter de recurso público.
STF. Plenário. ACO 1953 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 18/12/2013.

Imunidade
Os serviços sociais autônomos gozam de imunidade tributária?
SIM. O art. 150, VI, “c” da CF/88 prevê que as instituições de educação e de assistência social, sem fins
lucrativos, gozam de imunidade tributária quanto aos impostos, desde que atendidos os requisitos previstos
na lei.
As entidades do chamado “Sistema S”, tais como SESI, SENAI, SENAC e SEBRAE, também gozam de imunidade
porque promovem cursos para a inserção de profissionais no mercado de trabalho, sendo consideradas
instituições de educação e assistência social.
Se o SENAC adquire um terreno para a construção de sua sede, já havendo inclusive um projeto nesse
sentido, deverá incidir a imunidade nesse caso considerando que o imóvel será destinado às suas finalidades
essenciais.
STF. 1ª Turma. RE 470520/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/9/2013 (Info 720).

Sem prerrogativas processuais


Os serviços sociais autônomos gozam das prerrogativas processuais inerentes à Fazenda Pública (ex.: prazo
em dobro para recorrer)?
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NÃO. As entidades paraestatais não gozam dos privilégios processuais concedidos à Fazenda Pública.
STF. AI 841548 RG, julgado em 09/06/2011.
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A vítima somente poderá ajuizar a ação de indenização contra o Estado; se este for condenado, poderá
acionar o servidor que causou o dano em caso de dolo ou culpa; o ofendido não poderá propor a demanda
diretamente contra o agente público
A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados por agente público
deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público, sendo
parte ilegítima para a ação o autor do ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos
de dolo ou culpa.
STF. Plenário. RE 1027633/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/8/2019 (repercussão geral) (Info 947).

Responsabilidade civil do Estado em caso de morte de detento


Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX, da CF/88, o
Estado é responsável pela morte de detento.
STF. Plenário. RE 841526/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/3/2016 (repercussão geral) (Info 819).

Em regra, o Estado não tem responsabilidade civil por atos praticados por presos foragidos; exceção:
quando demonstrado nexo causal direto
Nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a responsabilidade civil objetiva do
Estado por danos decorrentes de crime praticado por pessoa foragida do sistema prisional, quando não
demonstrado o nexo causal direto entre o momento da fuga e a conduta praticada.
STF. Plenário. RE 608880, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em
08/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 362) (Info 993).

Em regra, o Estado responde de forma objetiva pelos danos causados a profissional de imprensa ferido,
por policiais, durante cobertura jornalística de manifestação pública
O Estado responde de forma objetiva pelos danos causados a profissional de imprensa ferido, por policiais,
durante cobertura jornalística de manifestação pública em que ocorra tumulto ou conflito, desde que o
jornalista não haja descumprido ostensiva e clara advertência quanto ao acesso a áreas definidas como de
grave risco à sua integridade física, caso em que poderá ser aplicada a excludente da responsabilidade por
culpa exclusiva da vítima.
Tese fixada pelo STF: “É objetiva a Responsabilidade Civil do Estado em relação a profissional da imprensa
ferido por agentes policiais durante cobertura jornalística, em manifestações em que haja tumulto ou
conflitos entre policiais e manifestantes. Cabe a excludente da responsabilidade da culpa exclusiva da vítima,
nas hipóteses em que o profissional de imprensa descumprir ostensiva e clara advertência sobre acesso a
áreas delimitadas, em que haja grave risco à sua integridade física”.
STF. Plenário. RE 1209429/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 10/6/2021 (Repercussão Geral – Tema 1055) (Info 1021).

O Estado responde, objetivamente, pelos danos causados por notários e registradores


O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que, no exercício de suas
funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou
culpa, sob pena de improbidade administrativa.
O Estado possui responsabilidade civil direta, primária e objetiva pelos danos que notários e oficiais de
registro, no exercício de serviço público por delegação, causem a terceiros.
STF. Plenário. RE 842846/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 27/2/2019 (repercussão geral) (Info 932).

Para o reconhecimento da responsabilidade do Estado em decorrência da fixação de preços no setor


sucroalcooleiro é indispensável a comprovação de efetivo prejuízo, mediante perícia
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É imprescindível para o reconhecimento da responsabilidade civil do Estado em decorrência da fixação de


preços no setor sucroalcooleiro a comprovação de efetivo prejuízo econômico, mediante perícia técnica em
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cada caso concreto.

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STF. Plenário. ARE 884325, Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral - Tema 826).

O prazo prescricional para pedir reparação por danos causados por fundação privada de apoio à
universidade pública é de 5 anos
A fundação privada de apoio à universidade pública presta serviço público, razão pela qual responde
objetivamente pelos prejuízos causados a terceiros, submetendo-se a pretensão indenizatória ao prazo
prescricional quinquenal previsto no art. 1º-C da Lei nº 9.494/97.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.893.472-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 21/06/2022 (Info 744).

O hospital que deixa de fornecer o mínimo serviço de segurança, contribuindo de forma determinante e
específica para homicídio praticado em suas dependências, responde objetivamente pela conduta omissiva
Caso concreto: o hospital não possuía nenhum serviço de vigilância e o evento morte decorreu de um disparo
com arma de fogo contra a vítima dentro do hospital.
A conduta do hospital que deixa de fornecer o mínimo serviço de segurança e, por conseguinte, despreza o
dever de zelar pela incolumidade física dos seus pacientes contribuiu de forma determinante e específica
para o homicídio praticado em suas dependências, afastando-se a alegação da excludente de ilicitude, qual
seja, fato de terceiro.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.708.325-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 24/05/2022 (Info 740).

As ações de indenização por danos morais e materiais decorrentes de perseguição, tortura e prisão, por
motivos políticos, ocorridas durante o regime militar, são imprescritíveis
Súmula 647-STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e materiais decorrentes de atos
de perseguição política com violação de direitos fundamentais ocorridos durante o regime militar.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 10/03/2021, DJe 15/03/2021.

Demora injustificada da Administração em analisar o requerimento de aposentadoria do servidor


A demora injustificada da Administração em analisar o pedido de aposentadoria do servidor público gera o
dever de indenizá-lo, considerando que, por causa disso, ele foi obrigado a continuar exercendo suas funções
por mais tempo do que o necessário.
Exemplo de demora excessiva: mais de 1 ano.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.469.301/SC, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 21/10/2014.
STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 483.398/PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/10/2016.

Se o servidor público estadual está respondendo a PAD e pede a concessão de aposentadoria, a tramitação
do requerimento ficará suspensa até a conclusão do PAD, mesmo que isso não esteja previsto na lei
estadual; aplica-se, por analogia, o art. 172 da Lei 8.112/90
A lacuna na Lei Complementar Estadual nº 131/2010 do Estado do Paraná acerca da possibilidade de
suspender o processo de aposentadoria enquanto tramita o processo administrativo disciplinar deve ser
suprida com a aplicação subsidiária da Lei n. 8.112/1990.
Trata-se de legítima integração da legislação estadual por meio da aplicação subsidiária da norma federal,
consoante pacífica jurisprudência.
STJ. 2ª Turma. AgInt no RMS 58.568/PR, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 19/10/2020.

A lacuna em Lei Complementar Estadual acerca da possibilidade de suspender processo de concessão de


aposentadoria enquanto tramita processo administrativo disciplinar deve ser suprida com a aplicação
subsidiária da Lei nº 8.112/90.
STJ. 2ª Turma. AgInt no AgInt no RMS 61.130-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/09/2022
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(Info 751).
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Regra geral da prescrição em ações contra a Fazenda Pública

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O prazo prescricional aplicável às ações de indenização contra a Fazenda Pública é de 5 (CINCO) anos,
conforme previsto no Decreto 20.910/32, e não de três anos (regra do Código Civil), por se tratar de norma
especial, que prevalece sobre a geral.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.251.993-PR, Rel. Min. Mauro Campbell, julgado em 12/12/2012 (recurso repetitivo)
(Info 512).

Início do prazo prescricional


O termo inicial do prazo prescricional para o ajuizamento de ação de indenização contra ato do Estado ocorre
no momento em que constatada a lesão e os seus efeitos, conforme o princípio da actio nata.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.333.609-PB, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 23/10/2012 (Info 507).

Estado deve indenizar preso que se encontre em situação degradante


Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus presídios os padrões
mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua responsabilidade, nos termos do art.
37, § 6º, da Constituição, a obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados
aos detentos em decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de encarceramento.
STF. Plenário. RE 580252/MS, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em
16/2/2017 (repercussão geral) (Info 854).

Termo inicial da prescrição de pretensão indenizatória decorrente de tortura e morte de preso


Determinada pessoa foi presa e torturada por policiais. Foi instaurado inquérito policial para apurar o
ocorrido.
Qual será o termo de início da prescrição da ação de indenização por danos morais?
• Se tiver sido ajuizada ação penal contra os autores do crime: o termo inicial da prescrição será o trânsito
em julgado da sentença penal.
• Se o inquérito policial tiver sido arquivado (não foi ajuizada ação penal): o termo inicial da prescrição da
ação de indenização é a data do arquivamento do IP.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.443.038-MS, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em 12/2/2015 (Info 556).

Reconhecimento administrativo pela Fazenda e renúncia ao prazo prescricional


Caso o Poder Público tenha reconhecido administrativamente o débito, o termo inicial do prazo prescricional
de 5 anos para que servidor público exija seu direito será a data desse ato de reconhecimento.
Para o STJ, o reconhecimento do débito implica renúncia, pela Administração, ao prazo prescricional já
transcorrido.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AgRg no AREsp 51.586-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 13/11/2012 (Info
509).

Empresa em recuperação judicial pode participar de licitação, desde que demonstre a sua viabilidade
econômica
Sociedade empresária em recuperação judicial pode participar de licitação, desde que demonstre, na fase de
habilitação, a sua viabilidade econômica.
STJ. 1ª Turma. AREsp 309.867-ES, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 26/06/2018 (Info 631).

Em regra, é imprescindível prévia licitação para a concessão ou permissão da exploração de serviços de


transporte coletivo de passageiros
Salvo situações excepcionais, devidamente comprovadas, o implemento de transporte público coletivo
pressupõe prévia licitação.
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STF. Plenário. RE 1001104, Rel. Marco Aurélio, julgado em 15/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 854) (Info
Página

982).

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Princípio da intranscendência e entidade integrante de consórcio público com pendência no CAUC
Se um consórcio público celebrou convênio com a União por meio do qual estão previstos repasses federais,
o fato de um dos entes integrantes do consórcio possuir pendência inscrita no CAUC não pode impedir que
o consórcio receba os valores prometidos. Isso porque o consórcio público é uma pessoa jurídica distinta dos
entes federativos que o integram e, segundo o princípio da intranscendência das sanções, as punições
impostas não podem superar a dimensão estritamente pessoal do infrator, ou seja, não podem prejudicar
outras pessoas jurídicas que não sejam aquelas que praticaram o ato.
Assim, o fato de ente integrante de consórcio público possuir pendência no Serviço Auxiliar de Informações
para Transferências Voluntárias (CAUC) não impede que o consórcio faça jus, após a celebração de convênio,
à transferência voluntária a que se refere o art. 25 da LC 101/2000.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.463.921-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 10/11/2015 (Info 577).

Município pode obter certidão positiva com efeitos de negativa quando os débitos são da Câmara
Municipal (e não do Poder Executivo)
É possível ao Município obter certidão positiva de débitos com efeito de negativa quando a Câmara Municipal
do mesmo ente possui débitos com a Fazenda Nacional, tendo em conta o princípio da intranscendência
subjetiva das sanções financeiras.
STF. Plenário. RE 770149, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
05/08/2020 (Repercussão Geral – tema 743) (Info 993).

Ente desapropriante não responde por tributos anteriores à desapropriação


O ente desapropriante não responde por tributos incidentes sobre o imóvel desapropriado nas hipóteses em
que o período de ocorrência dos fatos geradores é anterior ao ato de aquisição originária da propriedade.
STJ. 2ª Turma. REsp 1668058-ES, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/6/2017 (Info 606).

Possibilidade de o proprietário afastar a sanção do art. 243 da CF/88 se provar que não teve culpa
A expropriação prevista no art. 243 da Constituição Federal pode ser afastada, desde que o proprietário
comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo.
STF. Plenário. RE 635336/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/12/2016 (repercussão geral) (Info 851).

Súmula 652-STF: Não contraria a Constituição o art. 15, § 1º, do Dl. 3.365/41 (Lei da Desapropriação por
utilidade pública).
Súmula 56-STJ: Na desapropriação para instituir servidão administrativa são devidos os juros compensatórios
pela limitação de uso da propriedade.

Súmula 164-STF: No processo de desapropriação, são devidos juros compensatórios desde a antecipada
imissão de posse, ordenada pelo juiz, por motivo de urgência.

Súmula 69-STJ: Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a antecipada imissão
na posse e, na desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.

Súmula 113-STJ: Os juros compensatórios, na desapropriação direta, incidem a partir da imissão na posse,
calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.

Súmula 114-STJ: Os juros compensatórios, na desapropriação indireta, incidem a partir da ocupação,


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calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.


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Súmula 378-STF: Na indenização por desapropriação incluem-se honorários do advogado do expropriado.

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Súmula 354-STJ: A invasão do imóvel é causa de suspensão do processo expropriatório para fins de reforma
agrária.

O prazo prescricional no caso de ação de desapropriação indireta é, em regra, de 10 anos;


excepcionalmente, será de 15 anos caso de comprove que não foram feitas obras ou serviços públicos no
local
Qual é o prazo da ação de desapropriação indireta?
Regra: 10 anos (art. 1.238, parágrafo único, do CC/2002).
Exceção: o prazo será de 15 anos se ficar comprovada a inexistência de obras ou serviços públicos no local.
Em regra, portanto, o prazo prescricional das ações indenizatórias por desapropriação indireta é de 10 anos
porque existe uma presunção relativa de que o Poder Público realizou obras ou serviços públicos no local.
Admite-se, excepcionalmente, o prazo prescricional de 15 anos, caso a parte interessada comprove, concreta
e devidamente, que não foram feitas obras ou serviços no local, afastando a presunção legal.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.575.846-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/06/2019 (Info 658).
Obs: a súmula 119 do STJ está superada (Súmula 119-STJ: A ação de desapropriação indireta prescreve em
vinte anos).

Não configura desapropriação indireta quando o Estado se limita a realizar serviços públicos de
infraestrutura em gleba cuja invasão por particulares apresenta situação consolidada e irreversível
Não se imputa ao Poder Público a responsabilidade integral por alegada desapropriação indireta quando, em
gleba cuja ocupação por terceiros apresenta situação consolidada e irreversível, limita-se a realizar serviços
públicos de infraestrutura, sem que tenha concorrido para o esbulho ocasionado exclusivamente por
particulares. Assim, na medida em que o Poder Público não pratica o ato ilícito denominado “apossamento
administrativo” nem, portanto, toma a propriedade do bem para si, não deve responder pela perda da
propriedade em desfavor do particular, ainda que realize obras e serviços públicos essenciais para a
comunidade instalada no local.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.770.001-AM, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 05/11/2019 (Info 660).

Em ação de desapropriação indireta é cabível reparação decorrente de limitações administrativas


Imóvel do particular foi incluído em unidade de conservação. Houve, no caso, uma limitação administrativa.
Ele ajuizou ação de desapropriação indireta pedindo indenização. Mesmo não tendo havido desapropriação
indireta, mas sim mera limitação administrativa, o juiz deverá conhecer da ação e julgar seu mérito.
Devem ser observados os princípios da instrumentalidade das formas e da primazia da solução integral do
mérito.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.653.169-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 19/11/2019 (Info 662).

Denúncia anônima
Súmula 611-STJ: Desde que devidamente motivada e com amparo em investigação ou sindicância, é
permitida a instauração de processo administrativo disciplinar com base em denúncia anônima, em face do
poder-dever de autotutela imposto à Administração.

Súmula 641-STJ: A portaria de instauração do processo administrativo disciplinar prescinde da exposição


detalhada dos fatos a serem apurados.

Validade da prova emprestada


Súmula 591-STJ: É permitida a “prova emprestada” no processo administrativo disciplinar, desde que
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devidamente autorizada pelo juízo competente e respeitados o contraditório e a ampla defesa.


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Empréstimo das interceptações telefônicas do processo criminal para o PAD

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A prova colhida mediante autorização judicial e para fins de investigação ou processo criminal pode ser
utilizada para instruir procedimento administrativo punitivo. Assim, é possível que as provas provenientes
de interceptações telefônicas autorizadas judicialmente em processo criminal sejam emprestadas para o
processo administrativo disciplinar.
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 9/8/2016 (Info 834).
STJ. 1ª Seção. MS 16.146-DF, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 22/5/2013.

Ausência de transcrição integral de dados obtidos por meio de interceptação telefônica não gera nulidade
Mesmo em matéria penal, a jurisprudência do STF e do STJ é no sentido de que não é necessária a degravação
integral das escutas, sendo bastante que dos autos constem excertos suficientes a embasar o oferecimento
da denúncia.
O servidor processado, que também é réu no processo criminal, tem acesso à integralidade das
interceptações e, se entender necessário, pode juntar no processo administrativo os eventuais trechos que
considera pertinentes ao deslinde da controvérsia.
O acusado em processo administrativo disciplinar não possui direito subjetivo ao deferimento de todas as
provas requeridas nos autos, ainda mais quando consideradas impertinentes ou meramente protelatórias
pela comissão processante (art. 156, §1º, Lei nº 8.112/90).
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 9/8/2016 (Info 834).

Inexistência de impedimento de que os membros da comissão do primeiro PAD, que foi anulado, participem
da segunda comissão
Respeitados todos os aspectos processuais relativos à suspeição e impedimento dos membros da Comissão
Processante previstos pelas Leis 8.112/90 e 9.784/99, não há qualquer impedimento ou prejuízo material na
convocação dos mesmos servidores que anteriormente tenham integrado Comissão Processante, cujo
relatório conclusivo foi posteriormente anulado (por cerceamento de defesa), para comporem a segunda
Comissão de Inquérito.
Assim, não há qualquer impeditivo legal de que a comissão de inquérito em processo administrativo
disciplinar seja formada pelos mesmos membros de comissão anterior que havia sido anulada.
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 9/8/2016 (Info 834).

A mesma autoridade que ofereceu denúncia criminal contra o suspeito pode atuar como julgadora no
processo administrativo que apura o mesmo fato
O oferecimento de denúncia criminal por autoridade que, em razão de suas atribuições legais, seja obrigada
a fazê-lo não a inabilita, só por isso, a desempenhar suas funções como autoridade julgadora no processo
administrativo.
Caso concreto: membro do MP praticou fato que, em tese, configura, ao mesmo tempo, infração disciplinar
e crime. Foi instaurado processo administrativo. Além disso, o PGJ ofereceu denúncia criminal. Depois da
denúncia, chegou ao fim o processo administrativo e o mesmo PGJ aplicou sanção disciplinar. Ele poderia ter
feito isso. Não há, nesse caso, comprometimento da imparcialidade.
STJ. 1ª Turma. RMS 54.717-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 09/08/2022 (Info 744).

Servidor já punido não pode ser novamente julgado para agravar sua pena
Depois do servidor já ter sido punido, é possível que a Administração, com base na autotutela, anule a sanção
anteriormente cominada e aplique uma nova penalidade mais gravosa?
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NÃO. A decisão administrativa que põe fim ao processo administrativo, à semelhança do que ocorre no
âmbito jurisdicional, possui a característica de ser definitiva.
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Logo, o servidor público já punido administrativamente não pode ser julgado novamente para que sua pena
seja agravada mesmo que fique constatado que houve vícios no processo e que ele deveria receber uma
punição mais severa.
Assim, a anulação parcial do processo administrativo disciplinar para adequar a penalidade aplicada ao
servidor, consoante pareceres do órgão correspondente, ensejando aplicação de sanção mais grave ofende
o devido processo legal e a proibição da reformatio in pejus.
STJ. 3ª Seção. MS 10.950-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/5/2012.
STJ. 1ª Seção. MS 11.749/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/06/2014.

Excesso de prazo para conclusão do PAD


Súmula 592-STJ: O excesso de prazo para a conclusão do processo administrativo disciplinar só causa
nulidade se houver demonstração de prejuízo à defesa.

Inaplicabilidade do princípio da insignificância no caso de infração disciplinar que gere demissão


Deve ser aplicada a penalidade de demissão ao servidor público federal que obtiver proveito econômico
indevido em razão do cargo, independentemente do valor auferido (no caso, eram apenas R$ 40,00). Isso
porque não incide, na esfera administrativa, o princípio da insignificância quando constatada falta disciplinar
prevista no art. 132 da Lei 8.112/1990.
STJ. 1ª Seção. MS 18.090-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 8/5/2013 (Info 523).

PAD e destituição de cargo em comissão


Deve ser aplicada a penalidade de destituição de cargo em comissão na hipótese em que se constate que
servidor não ocupante de cargo efetivo, valendo-se do cargo, tenha indicado irmão, nora, genro e sobrinhos
para contratação por empresas recebedoras de verbas públicas, ainda que não haja dano ao erário ou
proveito pecuniário e independentemente da análise de antecedentes funcionais.
STJ. 1ª Seção. MS 17.811-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 26/6/2013 (Info 526).

Termo inicial do prazo prescricional do PAD


O art. 142, § 2º da Lei nº 8.112/90 prevê que o prazo prescricional da ação disciplinar “começa a correr da
data em que o fato se tornou conhecido”. Para que o prazo prescricional tenha início, é necessário que a
irregularidade praticada pelo servidor chegue ao conhecimento da autoridade competente para instaurar o
PAD ou o prazo já se inicia caso outras autoridades do serviço público saibam do fato?
O termo inicial da prescrição é a data do conhecimento do fato pela autoridade competente para instaurar
o Processo Administrativo Disciplinar (PAD) e não a ciência de qualquer autoridade da Administração Pública.
STJ. 1ª Seção. MS 20.615/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 08/03/2017.

Termo inicial e causa de interrupção do prazo prescricional das infrações administrativas


Súmula 635-STJ: Os prazos prescricionais previstos no art. 142 da Lei nº 8.112/1990 iniciam-se na data em
que a autoridade competente para a abertura do procedimento administrativo toma conhecimento do fato,
interrompem-se com o primeiro ato de instauração válido - sindicância de caráter punitivo ou processo
disciplinar - e voltam a fluir por inteiro, após decorridos 140 dias desde a interrupção.

Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, o prazo prescricional do processo
administrativo será aquele que for previsto no art. 109 do CP, esteja ou não esse fato sendo apurado na
esfera penal
O prazo prescricional previsto na lei penal se aplica às infrações disciplinares também capituladas como crime
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independentemente da apuração criminal da conduta do servidor.


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Para se aplicar a regra do § 2º do art. 142 da Lei nº 8.112/90 não se exige que o fato esteja sendo apurado
na esfera penal (não se exige que tenha havido oferecimento de denúncia ou instauração de inquérito
policial).
Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, deve ser aplicado o prazo prescricional
previsto na legislação penal independentemente de qualquer outra exigência.
STJ. 1ª Seção. MS 20.857-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em
22/05/2019 (Info 651).

A administração pública, quando se vê diante de situações em que a conduta do investigado se amolda às


hipóteses de demissão e de cassação de aposentadoria de servidor, não dispõe de discricionariedade para
aplicar pena menos gravosa (Súmula 650-STJ)
Súmula 650-STJ: A autoridade administrativa não dispõe de discricionariedade para aplicar ao servidor pena
diversa de demissão quando caracterizadas as hipóteses previstas no art. 132 da Lei nº 8.112/90.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 22/09/2021.

Em regra é dispensável a formação de litisconsório passivo necessário entre os candidatos aprovados em


concursos públicos, há exceções.
Em regra, não é necessário a formação de litisconsórcio passivo necessário entre candidatos de concurso
público, na medida em que eles têm apenas expectativa de direito à nomeação.
Exceções:
1) em concurso público que se destinou à outorga de delegações de serventias extrajudiciais de Notas e de
Registro;
2) em concursos de promoção.
STJ. 1 ª Seção. MS 22.822/DF, Rel. p/ Acórdão Ministra Aussete Magalhães, julgado em 09/09/2020.

É válida a comprovação da escolaridade por outros meios além do diploma


Candidato foi aprovado em concurso público que exige nível superior.
Candidato não conseguiu juntar o diploma, mas comprovou a conclusão do curso superior por outros meios.
Isso é válido.
Ainda que exigido pelo edital, não pode a falta da apresentação do diploma ser óbice a assunção de cargo
público ou mesmo a contabilização de título em concurso, se por outros documentos idôneos se comprove
a conclusão do curso superior, mesmo que pendente alguma formalidade para a expedição do diploma.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1713037/DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/12/2019.

Ainda que exigido pelo edital, não pode a falta da apresentação do diploma ser óbice a assunção de cargo
público ou mesmo a contabilização de título em concurso, se por outros documentos idôneos se comprovem
a conclusão do curso superior, mesmo que pendente alguma formalidade para expedição do diploma.
STJ. 2ª Turma. REsp 1784621/BA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 21/03/2019.

É inconstitucional ato normativo que exclui o direito dos candidatos com deficiência à adaptação razoável
em provas físicas de concursos públicos
A exclusão da previsão de adaptação das provas físicas para candidatos com deficiência viola o bloco de
constitucionalidade composto pela Constituição Federal e pela Convenção Internacional sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência – CDPD (Decreto Legislativo 186/2008), incorporada à ordem jurídica brasileira
com o “status” de Emenda Constitucional, na forma do art. 5º, § 3º, da CF/88.
Duas teses fixadas pelo STF para o tema:
1) É inconstitucional a interpretação que exclui o direito de candidatos com deficiência à adaptação razoável
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em provas físicas de concursos públicos.


2) É inconstitucional a submissão genérica de candidatos com e sem deficiência aos mesmos critérios em
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provas físicas, sem a demonstração da sua necessidade para o exercício da função pública.
STF. Plenário. ADI 6476/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2021 (Info 1028).

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É possível que o candidato a concurso público consiga a alteração das datas e horários previstos no edital
por motivos religiosos, desde que cumpridos alguns requisitos
Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição Federal, é possível a realização de etapas de concurso público em
datas e horários distintos dos previstos em edital, por candidato que invoca escusa de consciência por motivo
de crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade entre
todos os candidatos e que não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir
de maneira fundamentada.
STF. Plenário. RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 19/11,
25/11 e 26/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 386) (Info 1000).

A candidata que esteja gestante no dia do teste físico possui o direito de fazer a prova em uma nova data
no futuro
Os candidatos possuem direito à segunda chamada nos testes físicos em concursos públicos?
REGRA: NÃO.
Os candidatos em concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão física
em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior, salvo se houver
previsão no edital permitindo essa possibilidade.
STF. Plenário. RE 630733/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/5/2013 (repercussão geral) (Info 706).
STJ. 1ªTurma. REsp 1.597.570/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 25/10/2018
STJ. 2ªTurma REsp 1.721.068/MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 08/05/2018.

EXCEÇÃO: as candidatas gestantes possuem.


É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja grávida à época de sua
realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público.
STF. Plenário. RE 1058333/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/11/2018 (repercussão geral) (Info 924).

É constitucional a remarcação de curso de formação para o cargo de agente penitenciário feminino de


candidata que esteja lactante à época de sua realização, independentemente da previsão expressa em edital
do concurso público.
STJ. 1ª Turma. RMS 52622-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 26/03/2019 (Info 645).

É inconstitucional o parágrafo único do art. 137 da Lei 8.112/90, que proíbe o retorno ao serviço público
federal de servidor condenado pela prática de determinados fatos graves
O parágrafo único do art. 137 da Lei nº 8.112/90 proíbe, para sempre, o retorno ao serviço público federal
de servidor que for demitido ou destituído por prática de crime contra a Administração Pública, improbidade
administrativa, aplicação irregular de dinheiro público, lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio
nacional e corrupção.
Essa previsão viola o art. 5º, XLVII, “b”, da CF/88, que afirma que não haverá penas de caráter perpétuo.
STF. Plenário. ADI 2975, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 04/12/2020.

É possível a cassação de aposentadoria de servidor público pela prática, na atividade, de falta disciplinar
punível com demissão
A pena de cassação de aposentadoria é compatível com a Constituição Federal, a despeito do caráter
contributivo conferido àquela, especialmente porque nada impede que, na seara própria, haja o acertamento
de contas entre a administração e o servidor aposentado punido. Assim, constatada a existência de infração
disciplinar praticada enquanto o servidor estiver na ativa, o ato de aposentadoria não se transforma num
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salvo conduto para impedir o sancionamento do ilícito pela administração pública. Faz-se necessário observar
o regramento contido na Lei n. 8.112/1990, aplicando-se a penalidade compatível com as infrações apuradas.
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STJ. 1ª Seção. MS 23.608-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em
27/11/2019 (Info 666).

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STF. 2ª Turma. AgR no ARE 1.092.355, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 17/5/2019.

Possibilidade de execução imediata de penalidade imposta em PAD


Determinado servidor público federal recebeu pena de demissão em processo administrativo disciplinar
contra si instaurado. O servidor interpôs recurso administrativo contra a decisão proferida. Ocorre que, antes
mesmo de ser julgado o recurso, a Administração Pública já cessou o pagamento da remuneração do servidor
e o afastou das funções.
É possível que a sanção aplicada seja desde logo executada mesmo que ainda esteja pendente recurso
interposto no âmbito administrativo? SIM. É possível o cumprimento imediato da penalidade imposta ao
servidor logo após o julgamento do PAD e antes do julgamento do recurso administrativo cabível.
Não há qualquer ilegalidade na imediata execução de penalidade administrativa imposta em PAD a servidor
público, ainda que a decisão não tenha transitado em julgado administrativamente.
STJ. 1ª Seção. MS 19.488-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/3/2015 (Info 559).

Competência para instaurar e julgar PAD relacionado com servidor cedido


A instauração de processo disciplinar contra servidor efetivo cedido deve ocorrer, preferencialmente, no
órgão em que tenha sido praticada a suposta irregularidade. Por outro lado, o julgamento e a eventual
aplicação de sanção só podem ocorrer no órgão ao qual o servidor efetivo estiver vinculado.
STJ. Corte Especial. MS 21.991-DF, Rel. Min. Humberto Martins, Rel. para acórdão Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 16/11/2016 (Info 598).

Estado responde subsidiariamente caso a prova do concurso público seja suspensa ou cancelada por
indícios de fraude; a responsabilidade direta é da instituição organizadora
O Estado responde subsidiariamente por danos materiais causados a candidatos em concurso público
organizado por pessoa jurídica de direito privado (art. 37, § 6º, da CRFB/88), quando os exames são
cancelados por indícios de fraude.
STF. Plenário. RE 662405, Rel. Luiz Fux, julgado em 29/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 512) (Info 986 –
clipping).

Candidato só pode ser excluído de concurso público por não se enquadrar na cota para negros se houver
contraditório e ampla defesa
A exclusão do candidato, que concorre à vaga reservada em concurso público, pelo critério da
heteroidentificação, seja pela constatação de fraude, seja pela aferição do fenótipo ou por qualquer outro
fundamento, exige o franqueamento do contraditório e da ampla defesa.
STJ. 2ª Turma. RMS 62.040-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17/12/2019 (Info 666).

Restrição a candidatos com tatuagem


Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações
excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais.
STF. Plenário. RE 898450/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/8/2016 (repercussão geral) (Info 835).

Mandado de segurança não serve para questionar o parecer da comissão examinadora de


heteroidentificação, que não aceitou a autodeclaração de cotista em concurso
É inadequado o manejo de mandado de segurança com vistas à defesa do direito de candidato em concurso
público a continuar concorrendo às vagas reservadas às pessoas pretas ou pardas, quando a comissão
examinadora de heteroidentificação não confirma a sua autodeclaração.
STJ. 1ª Turma. RMS 58.785-MS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 23/08/2022 (Info 746).
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Não é legítima a cláusula de edital de concurso público que restrinja a participação de candidato pelo
simples fato de responder a inquérito ou a ação penal, salvo se essa restrição for instituída por lei e se
mostrar constitucionalmente adequada
Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não é legítima a cláusula de edital de
concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato de responder a inquérito ou a
ação penal.
STF. Plenário. RE 560900/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 5 e 6/2/2020 (repercussão geral –
Tema 22) (Info 965).

A prerrogativa da escolha do momento para a nomeação de candidato, aprovado dentro das vagas
ofertadas em concurso público, é da Administração Pública, durante o prazo de validade do certame
Embora o candidato aprovado dentro das vagas ofertadas em concurso público tenha direito público
subjetivo à nomeação, a prerrogativa da escolha do momento para a prática do ato é da Administração
Pública, durante o prazo de validade do certame.
STJ. 2ª Turma. RMS 68657-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/9/2022 (Info Especial 8).

A exigência de teste de aptidão física é legítima quando prevista em lei, guardar relação de pertinência
com as atividades a serem desenvolvidas, estiver pautada em critérios objetivos e for passível de recurso
Em concurso público, o teste de capacidade física somente pode ser exigido se:
a) houver previsão na lei que criou o cargo (não pode ser previsto apenas no edital do certame);
b) tiver relação (razoabilidade) com as funções do cargo;
c) estiver pautado em critérios objetivos;
d) for passível de recurso.
STJ. 1ª Turma. AgInt nos EDcl no RMS 56.200/PE, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 07/08/2018.
STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 39.181/BA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 11/11/2014.
STJ. 6ª Turma. RMS 26.927/RO, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 04/08/2011.

Momento para comprovação do limite de idade


O limite de idade, quando regularmente fixado em lei e no edital de determinado concurso público, há de
ser comprovado no momento da inscrição no certame.
STF. 1ª Turma. ARE 840.592/CE, Min. Roberto Barroso, julgado em 23/6/2015 (Info 791).

Surdez unilateral NÃO é considerada deficiência para fins de concurso público.


Cegueira unilateral É considerada deficiência para fins de concurso público.

Pandemia, crise econômica e limite prudencial atingido para despesas com pessoal não são motivos
suficientes para se deixar de nomear o candidato aprovado dentro do número de vagas do concurso público
Para a recusa à nomeação de aprovados dentro do número de vagas em concurso público devem ficar
comprovadas as situações excepcionais elencadas pelo Supremo Tribunal Federal no RE 598.099/MS, não
sendo suficiente a alegação de estado das coisas - pandemia, crise econômica, limite prudencial atingido para
despesas com pessoal -, tampouco o alerta da Corte de Contas acerca do chamado limite prudencial.
A recusa à nomeação dos candidatos aprovados dentro do número de vagas deve ser a última das
alternativas, somente sendo adotada quando realmente já não houver outra saída para a Administração
Pública.
STJ. 1ª Turma. RMS 66.316-SP, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da 5ª Região),
julgado em 19/10/2021 (Info 715).
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O prazo para se questionar a preterição de nomeação de candidato em concurso público é de 5 anos,


contado da data em que o outro servidor foi nomeado no lugar do aprovado
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Nos casos de preterição de candidato na nomeação em concurso público, o termo inicial do prazo
prescricional quinquenal recai na data em que foi nomeado outro servidor no lugar do aprovado no certame.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.643.048-GO, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 05/03/2020 (Info 668).

Posse em cargo público por determinação judicial e dever de indenizar


O candidato que teve postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da Administração tem direito
a receber a remuneração retroativa?
Regra: NÃO. Não cabe indenização a servidor empossado por decisão judicial sob o argumento de que houve
demora na nomeação. Dito de outro modo, a nomeação tardia a cargo público em decorrência de decisão
judicial não gera direito à indenização.
Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso concreto, que o servidor não foi nomeado
logo por conta de uma situação de arbitrariedade flagrante.
Nas exatas palavras do STF: “Na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão judicial, o
servidor não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido investido em momento anterior,
salvo situação de arbitrariedade flagrante.”
STF. Plenário. RE 724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 26/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).

A nomeação tardia de candidatos aprovados em concurso público não gera direito à indenização, ainda que
a demora tenha origem em erro reconhecido pela própria Administração Pública.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.238.344-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 30/11/2017 (Info 617).

A nomeação tardia a cargo público em decorrência de decisão judicial não gera direito à promoção
retroativa
A nomeação tardia de candidatos aprovados em concurso público, por meio de ato judicial, à qual atribuída
eficácia retroativa, não gera direito às promoções ou progressões funcionais que alcançariam se houvesse
ocorrido, a tempo e modo, a nomeação.
STF. Plenário. RE 629392 RG/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/6/2017 (repercussão geral) (Info 868).

Teoria do fato consumado: inaplicabilidade em concurso público


O candidato que toma posse em concurso público por força de decisão judicial precária assume o risco de
posterior reforma desse julgado que, em razão do efeito “ex tunc”, inviabiliza a aplicação da teoria do fato
consumado em tais hipóteses.
A posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório não implica a
manutenção, em definitivo, do candidato que não atende a exigência de prévia aprovação em concurso
público (CF, art. 37, II), valor constitucional que prepondera sobre o interesse individual do candidato, que
não pode invocar, na hipótese, o princípio da proteção da confiança legítima, pois conhece a precariedade
da medida judicial.
Em suma, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo público por força
de decisão judicial provisória posteriormente revista.
STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 7/8/2014 (repercussão geral) (Info 753).
STF. 1ª Turma. RMS 31538/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em
17/11/2015 (Info 808).

Não se pode cassar a aposentadoria do servidor que ingressou no serviço público por força de provimento
judicial precário e se aposentou durante o processo, antes da decisão ser reformada
Em regra, não produzem fato consumado a posse e o exercício em cargo público decorrentes de decisão
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judicial tomada à base de cognição não-exauriente.


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Em outras palavras, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo público
por força de decisão judicial provisória posteriormente revista. Trata-se do entendimento firmado no RE
608482/RN (Tema 476).
A situação é diferente, contudo, se a pessoa, após permanecer vários anos no cargo, conseguiu a concessão
de aposentadoria. Neste caso, em razão do elevado grau de estabilidade da situação jurídica, o princípio da
proteção da confiança legítima incide com maior intensidade. Trata-se de uma excepcionalidade que autoriza
a distinção (distinguish) quanto ao leading case do RE 608482/RN (Tema 476).
STF. 1ª Turma. RE 740029 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 14/8/2018 (Info 911).

Em casos excepcionais, em que a restauração da estrita legalidade ocasionaria mais danos sociais que a
manutenção da situação consolidada pelo decurso do tempo, a jurisprudência do STJ é firme no sentido de
admitir a aplicação da teoria do fato consumado
Em regra, o STJ acompanha o entendimento do STF e decide que é inaplicável a teoria do fato consumado
aos concursos públicos, não sendo possível o aproveitamento do tempo de serviço prestado pelo servidor
que tomou posse por força de decisão judicial precária, para efeito de estabilidade.
Contudo, em alguns casos, o STJ afirma que existem situações excepcionais nas quais a solução padronizada
ocasionaria mais danos sociais do que a manutenção da situação consolidada, impondo-se o distinguishing,
e possibilitando a contagem do tempo de serviço prestado por força de decisão liminar, em necessária
flexibilização da regra.
STJ. 1ª Turma. AREsp 883.574-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/02/2020 (Info 666).

Inexistência de direito à remoção para acompanhamento de cônjuge que foi removido a pedido (art. 36 da
Lei 8.112/90)
O servidor público federal somente tem direito à remoção prevista no art. 36, parágrafo único, III, "a", da Lei
nº 8.112/90, na hipótese em que o cônjuge/companheiro, também servidor, tenha sido deslocado de ofício,
para atender ao interesse da Administração (nos moldes do inciso I do mesmo dispositivo legal).
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.247.360-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 22/11/2017 (Info 617).

Não se aplica a teoria do fato consumado para remoção realizada fora das hipóteses legais
A “teoria do fato consumado" não pode ser aplicada para consolidar remoção de servidor público destinada
a acompanhamento de cônjuge, em hipótese que não se adequa à legalidade estrita, ainda que tal situação
haja perdurado por vários anos em virtude de decisão liminar não confirmada por ocasião do julgamento de
mérito.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.157.628-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 7/12/2016 (Info 598).

Governador é parte ilegítima em MS contra ato de concurso estadual no qual o candidato quer pontuação
O Governador do Estado é parte ilegítima para figurar como autoridade coatora em mandado de segurança
no qual o impetrante busque a atribuição da pontuação referente a questão de concurso público realizado
para o provimento de cargos do quadro de pessoal da respectiva unidade federativa.
STJ.2ª Turma. AgRg no RMS 37.924-GO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 9/4/2013 (Info 519).

Termo inicial do mandado de segurança envolvendo concurso público


O termo inicial do prazo decadencial para a impetração de mandado de segurança no qual se discuta regra
editalícia que tenha fundamentado eliminação em concurso público é a data em que o candidato toma
ciência do ato administrativo que determina sua exclusão do certame, e não a da publicação do edital do
certame.
STJ. Corte Especial. REsp 1.124.254-PI, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 1º/7/2014 (Info 545).
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Impossibilidade de ampliação de jornada de trabalho sem alteração da remuneração do servidor


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O STF possui entendimento consolidado no sentido de que o servidor público não tem direito adquirido de
manter o regime jurídico existente no momento em que ingressou no serviço público. No entanto, as
mudanças no regime jurídico do servidor não podem reduzir a sua remuneração, considerando que o art. 37,
XV, da CF/88 assegura o princípio da irredutibilidade dos vencimentos.
No caso concreto, os servidores de determinado órgão público tinham jornada de trabalho de 20 horas
semanais. Foi editada, então, uma Lei aumentando a jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem,
contudo, majorar a remuneração paga.
O STF entendeu que a lei que alterou a jornada de trabalho não poderia ser aplicada aos servidores que,
antes de sua edição, já estivessem legitimamente subordinados à carga horária inferior. Isso porque, se
fossem obrigados a trabalhar mais sem aumento da remuneração, haveria uma redução proporcional dos
vencimentos recebidos.
Assim, nas hipóteses em que houver aumento de carga horária dos servidores, essa só será válida se houver
formal elevação proporcional da remuneração; caso contrário, a regra será inconstitucional, por violação da
norma constitucional da irredutibilidade vencimental.
STF. Plenário. ARE 660010/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/10/2014 (repercussão geral) (Info 762).
STF. Plenário. MS 25875/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2014 (Info 762).

É possível que o servidor público cumpra seus deveres funcionais em dias alternativos por motivos
religiosos, desde que cumpridos alguns requisitos
Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição Federal, é possível à Administração Pública, inclusive durante o
estágio probatório, estabelecer critérios alternativos para o regular exercício dos deveres funcionais
inerentes aos cargos públicos, em face de servidores que invocam escusa de consciência por motivos de
crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, não se caracterize o desvirtuamento do
exercício de suas funções e não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir
de maneira fundamentada.
STF. Plenário. RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 19/11,
25/11 e 26/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 386) (Info 1000).

É inconstitucional remunerar servidor público, mesmo que exerça jornada de trabalho reduzida, em
patamar inferior a um salário mínimo
É defeso (proibido) o pagamento de remuneração em valor inferior ao salário mínimo ao servidor público,
ainda que labore em jornada reduzida de trabalho.
STF. Plenário. RE 964659/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 5/8/2022 (Repercussão Geral – Tema 900)
(Info 1062).

Se o servidor público federal trabalha exposto à radiação, sua jornada semanal máxima será de 24 horas;
todas as horas que ultrapassarem esse limite deverão ser pagas como horas extras
Os servidores públicos federais expostos à radiação fazem jus à jornada de vinte e quatro horas semanais,
sendo-lhes assegurado o pagamento de horas extras em relação a todo o período trabalhado além desse
limite, sob pena de enriquecimento indevido da Administração.
STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 1565474-RJ, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da
5ª Região), julgado em 29/11/2022 (Info Especial 8).

É inconstitucional a previsão de pensão mensal vitalícia para dependentes de prefeitos e vice-prefeitos em


razão do mero exercício do mandato eletivo
Contraria a ordem constitucional vigente — por se tratar de benefício incompatível com a sua sistemática
previdenciária e com os princípios republicano e da igualdade — o pagamento de pensão especial a ex-
46

detentor de cargo público e a seus dependentes.


Tese fixada pelo STF:
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São incompatíveis com a Constituição Federal de 1988 a concessão e, ainda, a continuidade do pagamento
de pensões mensais vitalícias não decorrentes do RGPS a dependentes de prefeitos e vice-prefeitos, em razão
do mero exercício do mandato eletivo.
STF. Plenário. ADPF 783/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/3/2023 (Info 1085).

Não há qualquer obstáculo ao recebimento acumulado de dois benefícios de pensão por morte se eles
decorrerem de cargos acumuláveis, expressamente previstos no art. 37, XVI, da CF/88
Em se tratando de cargos constitucionalmente acumuláveis, descabe aplicar a vedação de acumulação de
aposentadorias e pensões contida na parte final do art. 11 da Emenda Constitucional 20/1998, porquanto
destinada apenas aos casos de que trata, ou seja, aos reingressos no serviço público por meio de concurso
público antes da publicação da referida emenda e que envolvam cargos inacumuláveis.
STF. Plenário. RE 658999/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 627)
(Info 1080).

Não é compatível com a CF a norma que permita a convocação temporária de profissionais, sem vínculo
com a administração pública, para funções de magistério na educação básica e superior do estado nos
casos de vacância de cargo efetivo
É inconstitucional norma estadual que, de maneira genérica e abrangente, permite a convocação temporária
de profissionais da área da educação sem prévio vínculo com a Administração Pública para suprir vacância
de cargo público efetivo.
STF. Plenário. ADPF 915/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/5/2022 (Info 1055).

Não há prescrição de fundo de direito nas ações em que se busca a concessão do benefício de pensão por
morte
Não é possível inviabilizar o pedido de concessão do benefício previdenciário ou de seu restabelecimento em
razão do transcurso de quaisquer lapsos temporais - seja decadencial ou prescricional.
Diante da decisão do STF na ADI 6.096/DF, não é possível inviabilizar o próprio pedido de concessão do
benefício (ou de restabelecimento), em razão do transcurso de quaisquer lapsos temporais - seja decadencial
ou prescricional -, de modo que a prescrição se limita apenas às parcelas pretéritas vencidas no quinquênio
que precedeu à propositura da ação, nos termos da Súmula 85/STJ.
Assim, fica superado o entendimento firmado pelo STJ nos EDcl nos EREsp 1.269.726/MG, tendo em vista
que o art. 102, § 2º, da CF/1988 confere efeito vinculante às decisões definitivas em sede de ADI em relação
aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta nos âmbitos federal,
estadual e municipal.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1805428-PB, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF5),
julgado em 17/05/2022 (Info 737).

A equiparação de carreira de nível médio a outra de nível superior constitui ascensão funcional, vedada
pelo art. 37, II, da CF/88
A equiparação de carreira de nível médio a outra de nível superior constitui ascensão funcional, vedada pelo
art. 37, II, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3199, Rel. Roberto Barroso, julgado em 20/04/2020 (Info 977).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) tem o dever jurídico de motivar, em ato formal, a
demissão de seus empregados.
STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info
47

919).
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A progressão funcional não está elencada no rol de proibições do art. 22, parágrafo único, da LRF (limite
prudencial)
É ilegal o ato de não concessão de progressão funcional de servidor público, quando atendidos todos os
requisitos legais, a despeito de superados os limites orçamentários previstos na Lei de Responsabilidade
Fiscal, referentes a gastos com pessoal de ente público, tendo em vista que a progressão é direito subjetivo
do servidor público, decorrente de determinação legal, estando compreendida na exceção prevista no inciso
I do parágrafo único do art. 22 da Lei Complementar n. 101/2000.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.878.849-TO, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador Convocado do TRF da 5ª região),
julgado em 24/02/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1075) (Info 726).

Vedação de vinculação de vencimentos e SV 42


Súmula vinculante 42-STF: É inconstitucional a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores
estaduais ou municipais a índices federais de correção monetária.
Aprovada pelo Plenário do STF em 12/03/2015.

Inconstitucionalidade de subsídio vitalício a ex-governador


Algumas Constituições estaduais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de Governador do Estado
fará jus, após deixar o mandato, a um subsídio mensal e vitalício. Alguns chamam isso de representação,
outros de pensão vitalícia e outros de pensão civil. A previsão desse pagamento é compatível com a CF/88?
NÃO. Essa regra fere o princípio da isonomia. Não há uma justificativa razoável para que seja prevista
genericamente a concessão da “pensão” para ex-governadores, configurando um tratamento privilegiado
sem haver fundamento legítimo.
STF. Plenário. ADI 4552 MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 9/4/2015 (Info 780).

É inconstitucional o pagamento de subsídio mensal e vitalício a ex-Vereadores, assim, como o pagamento


de pensão por morte aos dependentes dos ex-ocupantes deste cargo
Algumas leis municipais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de Vereador fará jus, após deixar
o mandato, a um subsídio mensal e vitalício. Alguns chamam isso de representação, outros de pensão vitalícia
e outros de pensão civil. A previsão desse pagamento é compatível com a CF/88?
NÃO. O STF fixou a seguinte tese a respeito do tema: Lei municipal a versar a percepção, mensal e vitalícia,
de “subsídio” por ex-vereador e a consequente pensão em caso de morte não é harmônica com a
Constituição Federal de 1988.
STF. Plenário. RE 638307/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/12/2019 (Tema 672 – repercussão
geral) (Info 964).

Administração Pública deve descontar os dias não trabalhados por servidor público em greve
A administração pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do
direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre. É
permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que
a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder Público.
STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 27/10/2016 (repercussão geral) (Info 845).

O desconto dos dias parados pode ser feito de forma parcelada


Não se mostra razoável a possibilidade de desconto em parcela única sobre a remuneração do servidor
público dos dias parados e não compensados provenientes do exercício do direito de greve.
STJ. 2ª Turma. RMS 49.339-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 6/10/2016 (Info 592).
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Policiais são proibidos de fazer greve


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O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os
servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública.

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É obrigatória a participação do Poder Público em mediação instaurada pelos órgãos classistas das carreiras
de segurança pública, nos termos do art. 165 do CPC, para vocalização dos interesses da categoria.
STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 5/4/2017 (repercussão geral) (Info 860).

Compete à Justiça Comum (estadual ou federal) decidir se a greve realizada por servidor público é ou não
abusiva
A justiça comum, federal ou estadual, é competente para julgar a abusividade de greve de servidores públicos
celetistas da Administração pública direta, autarquias e fundações públicas.
STF. Plenário. RE 846854/SP, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
1º/8/2017 (repercussão geral) (Info 871).

Cabe à Justiça Comum (estadual ou federal) julgar ações contra concurso público realizado por órgãos e
entidades da Administração Pública para contratação de empregados celetistas
Compete à Justiça Comum processar e julgar controvérsias relacionadas à fase pré-contratual de seleção e
de admissão de pessoal e eventual nulidade do certame em face da Administração Pública, direta e indireta,
nas hipóteses em que adotado o regime celetista de contratação de pessoas, salvo quando a sentença de
mérito tiver sido proferida antes de 6 de junho de 2018, situação em que, até o trânsito em julgado e a sua
execução, a competência continuará a ser da Justiça do Trabalho.
STF. Plenário. RE 960429 ED-segundos, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2020 (Repercussão Geral
– Tema 992).

Revisão anual de vencimentos não é obrigatória, mas chefe do Executivo deve justificar
O não encaminhamento de projeto de lei de revisão anual dos vencimentos dos servidores públicos, previsto
no inciso X do art. 37 da CF/88, não gera direito subjetivo a indenização. Deve o Poder Executivo, no entanto,
se pronunciar, de forma fundamentada, acerca das razões pelas quais não propôs a revisão.
STF. Plenário. RE 565089 /SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em
25/9/2019 (repercussão geral – Tema 19) (Info 953).

Judiciário não pode obrigar que o chefe do Poder Executivo encaminhe o projeto de lei para revisão geral
anual dos servidores
O Poder Judiciário não possui competência para determinar ao Poder Executivo a apresentação de projeto
de lei que vise a promover a revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos, tampouco para
fixar o respectivo índice de correção.
STF. Plenário. RE 843112, Rel. Luiz Fux, julgado em 22/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 624) (Info 998).

Pessoa jurídica de direito público tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da
honra ou da imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre
os demais jurisdicionados em geral for evidente
Suponha, contudo, que uma autarquia foi vítima de grande esquema criminoso que desviou vultosa quantia
e gerou grande repercussão na imprensa, acarretando descrédito em sua credibilidade institucional. Neste
caso, os particulares envolvidos poderiam ser condenados a pagar indenização por danos morais à autarquia?
SIM. Pessoa jurídica de direito público tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da
honra ou da imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre os
demais jurisdicionados em geral for evidente.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.722.423-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/11/2020 (Info 684).
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A concessão de aposentadoria ao empregado público, com utilização do tempo de contribuição, acarreta


obrigatoriamente o rompimento do vínculo trabalhista?
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A justiça comum é competente para processar e julgar ação em que se discute a reintegração de empregados
públicos dispensados em face da concessão de aposentadoria espontânea.
A concessão de aposentadoria, com utilização do tempo de contribuição, leva ao rompimento do vínculo
trabalhista nos termos do art. 37, § 14, da CF. Entretanto, é possível a manutenção do vínculo trabalhista,
com a acumulação dos proventos com o salário, se a aposentadoria se deu pelo RGPS antes da promulgação
da EC 103/2019.
Tese fixada pelo STF:
A natureza do ato de demissão de empregado público é constitucional-administrativa e não trabalhista, o
que atrai a competência da Justiça comum para julgar a questão.
A concessão de aposentadoria aos empregados públicos inviabiliza a permanência no emprego, nos termos
do art. 37, § 14, da Constituição Federal, salvo para as aposentadorias concedidas pelo Regime Geral de
Previdência Social até a data de entrada em vigor da Emenda Constitucional 103/19, nos termos do que
dispõe seu art. 6º.
STF. Plenário. RE 655283/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em
16/6/2021 (Repercussão Geral – Tema 606) (Info 1022).

A instituição do teto teve eficácia imediata e todas as remunerações tiveram que se submeter a ele
O teto de retribuição fixado pela EC nº 41/2003 é de eficácia imediata e todas as verbas de natureza
remuneratória recebidas pelos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios devem se submeter a ele, ainda que adquiridas de acordo com regime legal anterior.
A aplicação imediata da EC nº 41/2003 e a redução das remunerações acima do teto não afrontou o princípio
da irredutibilidade nem violou a garantia do direito adquirido.
Em outras palavras, com a EC nº 41/2003, quem recebia acima do teto fixado, teve a sua remuneração
reduzida para respeitar o teto. Essa redução foi legítima.
STF. Plenário. RE 609381/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 2/10/2014 (Info 761).

Vantagens pessoais também devem estar dentro do teto, mesmo que anteriores à EC 41/2003
Alguns servidores continuavam tentando excluir do teto as vantagens pessoais que haviam adquirido antes
da EC 41/2003 (que implementou, na prática, o teto no funcionalismo). Argumentavam que a garantia da
irredutibilidade de vencimentos, modalidade qualificada de direito adquirido, impediria que as vantagens
percebidas antes da vigência da EC 41/2003 fossem por ela alcançadas. O STF acolheu esse argumento? As
vantagens pessoais anteriores à EC 41/2003 estão fora do teto?
NÃO. Computam-se para efeito de observância do teto remuneratório do artigo 37, XI, da Constituição da
República, também os valores percebidos anteriormente à vigência da EC 41/2003 a título de vantagens
pessoais pelo servidor público, dispensada a restituição de valores eventualmente recebidos em excesso e
de boa-fé até o dia 18/11/2015.
STF. Plenário. RE 606358/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/11/2015 (repercussão geral) (Info 808).

Se o servidor público recebe remuneração (ou aposentadoria) mais pensão, a soma dos dois valores não
pode ultrapassar o teto
Ocorrida a morte do instituidor da pensão em momento posterior ao da Emenda Constitucional 19/1998, o
teto constitucional previsto no inciso XI do art. 37 da Constituição Federal incide sobre o somatório de
remuneração ou provento e pensão percebida por servidor.
STF. Plenário. RE 602584/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 6/8/2020 (Repercussão Geral – Tema 359)
(Info 985).

Teto remuneratório de Procuradores Municipais é o subsídio de Desembargador de TJ


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A expressão "Procuradores", contida na parte final do inciso XI do art. 37 da Constituição da República,


compreende os procuradores municipais, uma vez que estes se inserem nas funções essenciais à Justiça,
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estando, portanto, submetidos ao teto de 90,25% (noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento) do
subsídio mensal, em espécie, dos ministros do STF.

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STF. Plenário. RE 663696/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 28/2/2019 (Info 932).

Contratação sem concurso público e ausência de efeitos trabalhistas


É nula a contratação de pessoal pela Administração Pública sem a observância de prévia aprovação em
concurso público, razão pela qual não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos em relação ao empregado
eventualmente contratado, ressalvados:
• o direito de ele receber os salários referentes ao período trabalhado; e
• o direito de ele levantar os depósitos do FGTS (art. 19-A da Lei 8.036/90).
STF. Plenário. RE 705140/RS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/8/2014 (repercussão geral) (Info 756).

Constitucionalidade do art. 19-A da Lei 8.036/90


É nula a contratação de pessoal pela Administração Pública sem a observância de prévia aprovação em
concurso público, razão pela qual não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos em relação aos empregados
eventualmente contratados, ressalvados os direitos à percepção dos salários referentes ao período
trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei 8.036/90, ao levantamento dos depósitos efetuados no Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço — FGTS.
Neste julgado, o STF declarou que o art. 19-A da Lei 8.036/90 é CONSTITUCIONAL.
STF. Plenário. ADI 3127/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/3/2015 (Info 779).

Se a pessoa acumular licitamente dois cargos públicos ela poderá receber acima do teto
Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulação de cargos, empregos e funções, a incidência do
art. 37, XI, da Constituição Federal pressupõe consideração de cada um dos vínculos formalizados, afastada
a observância do teto remuneratório quanto ao somatório dos ganhos do agente público.
Ex: se determinado Ministro do STF for também professor da UnB, ele irá receber seu subsídio integral como
Ministro e mais a remuneração decorrente do magistério. Nesse caso, o teto seria considerado
especificamente para cada cargo, sendo permitido que ele receba acima do limite previsto no art. 37, XI da
CF se considerarmos seus ganhos globais.
STF. Plenário. RE 612975/MT e RE 602043/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 26 e 27/4/2017
(repercussão geral) (Info 862).

Inaplicabilidade da recondução do art. 29, I, da Lei 8.112/90 por analogia


Se a legislação estadual não prevê a recondução, é possível aplicar a Lei 8.112/90 por analogia?
NÃO. Não é possível a aplicação, por analogia, do instituto da recondução previsto no art. 29, I, da Lei
8.112/1990 a servidor público estadual na hipótese em que o ordenamento jurídico do estado for omisso
acerca desse direito.
Segundo a jurisprudência do STJ, somente é possível aplicar, por analogia, a Lei 8.112/90, aos servidores públicos
estaduais e municipais se houver omissão, na legislação estadual ou municipal, sobre direito de cunho
constitucional e que seja autoaplicável e desde que tal situação não gere o aumento de gastos. Ex: aplicação, por
analogia, das regras da Lei 8.112/90 sobre licença para acompanhamento de cônjuge a determinado servidor
estadual cuja legislação não prevê esse afastamento (RMS 34.630⁄AC, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, julgado em 18/10/2011). Nesse exemplo, o STJ reconheceu que a analogia se justificava para proteção da
unidade família, valor protegido constitucionalmente (art. 226 da CF/88).
No caso da recondução, contudo, não é possível a analogia porque esse direito não tem cunho constitucional.
STJ. 2ª Turma. RMS 46.438-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/12/2014 (Info 553).

O Tribunal de Contas tem o prazo de 5 anos para julgar a legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma ou pensão, prazo esse contado da chegada do processo à Corte de Contas
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Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos
ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma
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ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas.

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STF. Plenário. RE 636553/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2020 (repercussão geral – Tema 445)
(Info 967).

Na falta de lei específica que regulamente a aposentadoria especial dos servidores públicos portadores de
deficiência (art. 40, § 4º, I, da CF/88), deve ser aplicada a LC 142/2013, que trata sobre a aposentadoria
especial de pessoas com deficiência no RGPS
O art. 40, § 4º, I, da CF/88 prevê que o servidor público com deficiência possui direito à aposentadoria com
requisitos e critérios diferenciados (aposentadoria especial). Ocorre que o dispositivo constitucional exige
que uma lei complementar regulamente essa aposentadoria, sendo, portanto, uma norma constitucional de
eficácia limitada.
Até o presente momento, não foi editada essa lei complementar, havendo, portanto, uma omissão
inconstitucional.
Diante disso, a LC nº 142/2013, que regulamentou a aposentadoria especial de pessoas com deficiência no
Regime Geral de Previdência Social, deve ser aplicada aos pedidos de aposentadoria de servidores públicos
com deficiência, por se tratar de diploma mais adequado para suprir a omissão na regulamentação do art.
40, § 4º, I, da CF/1988.
Assim, o servidor público com deficiência possui o direito de ver analisado o requerimento de aposentadoria
especial apresentado com base no art. 40, § 4º, I, da CF/88 utilizando-se das normas da LC 142/2013.
STF. 1ª Turma. MI 6818/DF e MI 6988/RR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 13/8/2019 (Info 947).

Aposentadoria compulsória não se aplica a cargos comissionados


Os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em comissão não se submetem à regra da aposentadoria
compulsória prevista no art. 40, § 1º, II, da CF, a qual atinge apenas os ocupantes de cargo de provimento
efetivo, inexistindo, também, qualquer idade limite para fins de nomeação a cargo em comissão.
Ressalvados impedimentos de ordem infraconstitucional, não há óbice constitucional a que o servidor
efetivo, aposentado compulsoriamente, permaneça no cargo comissionado que já desempenhava ou a que
seja nomeado para cargo de livre nomeação e exoneração, uma vez que não se trata de continuidade ou
criação de vínculo efetivo com a Administração.
STF. Plenário. RE 786540/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/12/2016 (repercussão geral) (Info 851).

Regime próprio de previdência social e contribuição previdenciária de inativos


O Estado-membro pode tratar sobre o regime próprio de previdência social de seus servidores por meio de
lei, não sendo necessário que tal regulamentação seja feita na Constituição estadual.
As normas estaduais, contudo, deverão observar as regras da CF/88, em especial aquelas previstas no art. 40.
Determinada lei estadual previu que os servidores públicos aposentados e pensionistas que fossem
portadores de doenças incapacitantes não iriam pagar contribuição previdenciária (seriam isentos). O STF
afirmou que essa regra estadual está em confronto com o § 21 do art. 40 da CF/88, considerando que a Carta
Federal previu que os servidores públicos aposentados e pensionistas que sejam portadores de doenças
incapacitantes devem pagar contribuição previdenciária se o valor dos proventos por eles recebidos superar
o dobro do teto do RGPS (dobro do maior valor de aposentadoria do INSS).
Assim, a norma da lei estadual deve receber interpretação conforme para que respeite essa previsão do art.
40, § 21 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3477/RN, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 4/3/2015 (Info 776).

Lei que institua hipóteses abrangentes e genéricas é inconstitucional


O STF decidiu que a lei do ente federativo regulamentando o art. 37, IX, da CF/88 não poderá prever hipóteses
abrangentes e genéricas de contratações temporárias sem concurso público.
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Além disso, essa lei deverá especificar a contingência fática que caracteriza a situação de emergência.
A Lei questionada no STF era do Município de Bertópolis/MG e dizia que seria possível a contratação
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temporária para “suprir necessidades de pessoal na área do magistério”.

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Os Ministros entenderam que a lei municipal permitia, de forma genérica e abrangente, a contratação
temporária de profissionais para a realização de atividade essencial e permanente (magistério), sem
descrever as situações excepcionais e transitórias que fundamentam esse ato, como calamidades e
exonerações em massa, por exemplo.
STF. Plenário. RE 658026/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 9/4/2014 (Info 742).

Competência para julgar demandas propostas por servidores temporários contra a Administração
A justiça comum é competente para processar e julgar causas em que se discuta a validade de vínculo
jurídico-administrativo entre o poder público e servidores temporários.
Dito de outra forma: a Justiça competente para julgar litígios envolvendo servidores temporários (art. 37, IX,
da CF/88) e a Administração Pública é a JUSTIÇA COMUM (estadual ou federal).
A competência NÃO é da Justiça do Trabalho, ainda que o autor da ação alegue que houve desvirtuamento
do vínculo e mesmo que ele formule os seus pedidos baseados na CLT ou na lei do FGTS.
STF. Plenário. Rcl 4351 MC-AgR/PE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado
em 11/11/2015 (Info 807).

RESTITUIÇÃO DE VALORES RECEBIDOS


SITUAÇÃO TERÁ QUE DEVOLVER?
1) Servidor recebe por decisão ADMINISTRATIVA depois revogada por se NÃO
constatar que houve errônea ou inadequada interpretação da lei por parte STJ REsp 1244182-PB, Tema
da Administração Pública. 531
2) Servidor que recebe indevidamente valores em decorrência de erro SIM,
administrativo da Administração (erro operacional ou de cálculo), que não salvo se comprovar a sua
se enquadre como interpretação errônea ou equivocada da lei pela boa-fé objetiva
Administração. STJ REsp 1.769.306/AL, Tema
1009
3) Servidor recebe por decisão JUDICIAL não definitiva depois reformada. SIM
(posição do STJ)
STJ EAREsp 58820-AL
4) Servidor recebe por decisão JUDICIAL não definitiva depois reformada NÃO
(obs: a reforma da liminar foi decorrência de mudança na jurisprudência). (posição do STF)
4) Servidor recebe por sentença TRANSITADA EM JULGADO e que NÃO
posteriormente é rescindida. STJ AgRg no AREsp
463.279/RJ
5) Herdeiro que recebe indevidamente proventos do servidor aposentado SIM
depois que ele morreu. STJ AgRg no REsp 1387971-
DF

O pagamento indevido feito ao servidor público e que decorreu de erro administrativo está sujeito à
devolução, salvo se o servidor, no caso concreto, comprovar a sua boa-fé objetiva
Os pagamentos indevidos aos servidores públicos decorrentes de erro administrativo (operacional ou de
cálculo), não embasado em interpretação errônea ou equivocada da lei pela Administração, estão sujeitos à
devolução, ressalvadas as hipóteses em que o servidor, diante do caso concreto, comprova sua boa-fé
objetiva, sobretudo com demonstração de que não lhe era possível constatar o pagamento indevido.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.769.306/AL, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 10/03/2021 (Recurso Repetitivo
– Tema 1009) (Info 688).
53

Não cabe ao Poder Judiciário, sob o fundamento de isonomia, conceder retribuição por substituição a
advogados públicos federais em hipóteses não previstas em lei
Página

Por inexistir norma constitucional que imponha o deferimento de retribuição financeira por substituição a
advogados públicos federais que não exercem funções expressamente especificadas em lei, a concessão, ou

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não, de benefício dessa natureza configura juízo de discricionariedade do legislador ordinário, o que impede
o Poder Judiciário de fazê-lo.
Tese fixada pelo STF: Não cabe ao Poder Judiciário, sob o fundamento de isonomia, conceder retribuição por
substituição a advogados públicos federais em hipóteses não previstas em lei.
STF. Plenário. ADI 5519/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/02/2023 (Info 1083).

Se o servidor possui 45 dias de férias por ano, o pagamento do terço constitucional de férias deverá incidir
sobre 45, e não apenas sobre 30 dias
O art. 7º, XVII, da CF/88 assegura ao trabalhador o gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um
terço a mais do que o salário normal, sem limitar o tempo da sua duração, razão pela qual esse adicional
deve incidir sobre todo o tempo de descanso previsto em lei.
Tese fixada pelo STF:
“O adicional de 1/3 (um terço) previsto no art. 7º, XVII, da Constituição Federal incide sobre a remuneração
relativa a todo período de férias.”.
STF. Plenário. RE 1400787/CE, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 15/12/2022 (Repercussão Geral – Tema
1.241) (Info 1080).

Lei estadual não pode instituir regime previdenciário específico para os agentes públicos não titulares de
cargos efetivos
Viola o art. 40, caput e § 13, da Constituição Federal, a instituição, por meio de lei estadual, de um regime
previdenciário específico para os agentes públicos não titulares de cargos efetivos.
O regime próprio de previdência social aplica-se aos servidores titulares de cargos efetivos (art. 40, caput,
CF/88).
Aos agentes públicos não titulares de cargos efetivos, por sua vez, aplica-se o regime geral de previdência
social (art. 40, §13, CF/88).
STF. Plenário. ADI 7198/PA, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/10/2022 (Info 1074).

É inconstitucional a previsão de pensão vitalícia para viúvas de ex-prefeitos


É inconstitucional, por violação aos princípios republicano, democrático, da moralidade, da impessoalidade
e da igualdade, lei municipal que concede pensão especial mensal e vitalícia a viúvas de ex-prefeitos.
STF. Plenário. ADPF 975/CE, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 7/10/2022 (Info 1071).

Servidor público federal pode tirar mais de um período de férias no mesmo ano
É possível ao servidor que já usufruiu o primeiro período de férias, após cumprida a exigência de 12 (doze)
meses de exercício, usufruir as férias seguintes no mesmo ano civil, dentro do período aquisitivo ainda em
curso, nos termos do § 1° do art. 77 da Lei nº 8.112/90.
STJ. 1ª Seção. REsp 1907153-CE, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da 5ª Região),
julgado em 26/10/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1135) (Info 755).

Servidor admitido sem concurso antes da promulgação da CF, ainda que beneficiado pela estabilidade
excepcional do art. 19 do ADCT, não pode ser reenquadrado em novo Plano de Cargos, Carreiras e
Remuneração previsto para servidores efetivos
É vedado o reenquadramento, em novo Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração, de servidor admitido sem
concurso público antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, mesmo que beneficiado pela
estabilidade excepcional do artigo 19 do ADCT, haja vista que esta regra transitória não prevê o direito à
efetividade, nos termos do artigo 37, II, da Constituição Federal e decisão proferida na ADI 3609.
STF. Plenário. ARE 1306505/AC, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/3/2022 (Repercussão Geral –
54

Tema 1157) (Info 1048).


Página

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

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Mesmo que o juiz reconheça a prescrição das penas pela prática do ato de improbidade, a ação poderá
continuar para analisar o pedido de ressarcimento ao erário, não sendo necessária uma ação autônoma
apenas para discutir isso
Na ação civil pública por ato de improbidade administrativa é possível o prosseguimento da demanda para
pleitear o ressarcimento do dano ao erário, ainda que sejam declaradas prescritas as demais sanções
previstas no art. 12 da Lei nº 8.429/92.
STJ. 1ª Seção. REsp 1899455-AC, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 22/09/2021 (Recurso Repetitivo
– Tema 1089) (Info 710).

Qual é o elemento subjetivo exigido para os atos de improbidade administrativa?


O dolo.
A Lei nº 14.230/2021 inseriu o § 1º ao art. 1º da Lei nº 8.429/92 – LIA trazendo uma definição de ato de
improbidade administrativa.
Um ponto de destaque é o fato de que o legislador deixa expressamente consignado que só existe ato de
improbidade em caso de conduta dolosa:
Art. 1º (...)
§ 1º Consideram-se atos de improbidade administrativa as condutas dolosas tipificadas nos arts. 9º, 10 e 11
desta Lei, ressalvados tipos previstos em leis especiais.
Essa foi uma grande novidade imposta pela Lei nº 14.230/2021:
• Antes da Lei nº 14.230/2021: os atos de improbidade administrativa previstos nos arts. 9º, 10-A e 11
exigiam dolo. Havia, contudo, uma hipótese de improbidade que poderia ser praticada com culpa: o art. 10.
• Depois da Lei nº 14.230/2021: todos os atos de improbidade administrativa exigem dolo. Não existe mais
a possibilidade de ser praticado ato administrativo com culpa.

Art. 1º (...)
§ 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcançar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e
11 desta Lei, não bastando a voluntariedade do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230/2021)

Competência para julgar ação de improbidade proposta por Município contra ex-prefeito que não prestou
contas de convênio federal
Nas ações de ressarcimento ao erário e improbidade administrativa ajuizadas em face de eventuais
irregularidades praticadas na utilização ou prestação de contas de valores decorrentes de convênio federal,
o simples fato de as verbas estarem sujeitas à prestação de contas perante o Tribunal de Contas da União,
por si só, não justifica a competência da Justiça Federal.
Igualmente, a mera transferência e incorporação ao patrimônio municipal de verba desviada, no âmbito civil,
não pode impor de maneira absoluta a competência da Justiça Estadual. Se houver manifestação de interesse
jurídico por ente federal que justifique a presença no processo, (v.g. União ou Ministério Público Federal)
regularmente reconhecido pelo Juízo Federal nos termos da Súmula 150/STJ, a competência para processar
e julgar a ação de improbidade administrativa será da Justiça Federal.
As Súmulas 208 e 209 do STJ provêm da 3ª Seção do STJ e versam hipóteses de fixação da competência em
matéria penal, em que basta o interesse da União ou de suas autarquias para deslocar a competência para a
Justiça Federal, nos termos do inciso IV do art. 109 da CF. Logo, não podem ser utilizadas como critério para
as demandas cíveis.
Diante disso, é possível afirmar que a competência cível da Justiça Federal deve ser definida em razão da
presença das pessoas jurídicas de direito público previstas no art. 109, I, da CF/88 na relação processual, seja
como autora, ré, assistente ou oponente e não em razão da natureza da verba federal sujeita à fiscalização
do TCU.
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Assim, em regra, compete à Justiça Estadual processar e julgar agente público acusado de desvio de verba
recebida em razão de convênio firmado com o ente federal, salvo se houver a presença das pessoas jurídicas
Página

de direito público previstas no art. 109, I, da CF/88 na relação processual.


STJ. 1ª Seção. CC 174.764-MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 09/02/2022 (Info 724).

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Aplica-se às ações de improbidade administrativa o reexame necessário previsto no art. 19 da lei da ação
popular?
• Antes da Lei nº 14.230/2021: SIM
O STJ entendia que devia se realizar o reexame necessário nas ações de improbidade administrativa
julgadas improcedentes ou extintas em razão da carência da ação:
A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de improbidade administrativa está
sujeita ao reexame necessário, com base na aplicação subsidiária do CPC e por aplicação analógica da
primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2017 (Info 607).

• Depois da Lei nº 14.230/2021: NÃO


O art. 17, § 19, IV; e o art. 17-C, § 3º, da LIA, inseridos pela Lei nº 14.230/2021, vedam o reexame obrigatório
da sentença de improcedência ou de extinção sem resolução de mérito das ações de improbidade
administrativa:
Art. 17 (...)
§ 19. Não se aplicam na ação de improbidade administrativa:
(...)
IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou de extinção sem resolução de mérito.
Art. 17 (...)
§ 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata esta Lei.

Logo, está superado o entendimento jurisprudencial acima mencionado.


Quais são os pressupostos para se decretar a indisponibilidade de bens do réu?
Antes da Lei nº 14.230/2021 Depois da Lei nº 14.230/2021
Somente o fumus boni iuris (indícios de que o réu Passou a ser indispensável a demonstração, no
praticou o ato de improbidade). caso concreto, do:
a) fumus boni iuris (juiz deve estar convencido da
Para o STJ, bastava que o MP demonstrasse o fumus probabilidade da ocorrência dos atos descritos na
boni iuris. petição inicial com fundamento nos respectivos
elementos de instrução);
O periculum in mora era considerado presumido b) periculum in mora (deve estar demonstrado, no
(implícito). caso concreto, o perigo de dano irreparável ou de
Assim, a decretação de indisponibilidade de bens risco ao resultado útil do processo.
dispensava a demonstração do periculum in mora,
bastando a demonstração do fumus boni juris, que Veja o novo § 3º que foi incluído:
consiste em indícios de atos ímprobos. Art. 16 (...) § 3º O pedido de indisponibilidade de
STJ. 2ª Turma. AREsp 1812026/RJ, Rel. Min. Herman bens a que se refere o caput deste artigo apenas
Benjamin, julgado em 08/06/2021. será deferido mediante a demonstração no caso
concreto de perigo de dano irreparável ou de risco
ao resultado útil do processo, desde que o juiz se
convença da probabilidade da ocorrência dos atos
descritos na petição inicial com fundamento nos
respectivos elementos de instrução, após a oitiva
do réu em 5 (cinco) dias.
Jurisprudência em Teses (Ed. 38) Essa tese está superada.
56

12) É possível a decretação da indisponibilidade de A Lei agora exige expressamente a “demonstração


bens do promovido em ação civil pública por ato de no caso concreto de perigo de dano irreparável ou
Página

improbidade administrativa, quando ausente (ou não de risco ao resultado útil do processo”.
demonstrada) a prática de atos (ou a sua tentativa)

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que induzam a conclusão de risco de alienação, Assim, o MP deve demonstrar que o réu está se
oneração ou dilapidação patrimonial de bens do desfazendo do seu patrimônio e, por essa razão,
acionado, dificultando ou impossibilitando o eventual seria necessária a decretação da indisponibilidade.
ressarcimento futuro.

A indisponibilidade deve garantir apenas o integral ressarcimento do prejuízo ao erário ou também


eventual multa civil? Ex: o prejuízo ao erário foi de R$ 300 mil; ocorre que o MP afirma que o réu pode ser
condenado a pagar mais R$ 300 mil de multa civil; logo, o MP pede que sejam tornados indisponíveis bens
do réu equivalentes a R$ 600 mil. Isso é possível?
• Antes da Lei nº 14.230/2021: SIM
A indisponibilidade era decretada para assegurar o ressarcimento dos valores ao Erário e também para
custear o pagamento da multa civil:
É possível a inclusão do valor de eventual multa civil na medida de indisponibilidade de bens decretada em
ação de improbidade administrativa, inclusive nas demandas ajuizadas com esteio na prática de conduta
prevista no art. 11 da Lei nº 8.429/92, tipificador da ofensa aos princípios nucleares administrativos.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.862.792-PR, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da 5ª Região),
julgado em 25/08/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1055) (Info 706).

• Depois da Lei nº 14.230/2021: NÃO


Foi incluído o § 10 para afastar expressamente essa possibilidade:
Art. 16 (...)
§ 10. A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem exclusivamente o integral ressarcimento do dano
ao erário, sem incidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de multa civil ou sobre
acréscimo patrimonial decorrente de atividade lícita.

A indisponibilidade pode ser determinada sobre bens com valor superior ao mencionado na petição inicial
da ação de improbidade (ex.: a petição inicial narra um prejuízo ao erário de R$ 100 mil, mas o MP pede a
indisponibilidade de R$ 500 mil do requerido)?
• Antes da Lei nº 14.230/2021: SIM
Era possível que se determinasse a indisponibilidade de bens em valor superior ao indicado na inicial da ação,
visando a garantir o integral ressarcimento de eventual prejuízo ao erário, levando-se em consideração, até
mesmo, o valor de possível multa civil como sanção autônoma. Isso porque a indisponibilidade acautelatória
prevista na Lei de Improbidade Administrativa tem como finalidade a reparação integral dos danos que
porventura tenham sido causados ao erário.
REsp 1176440-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 17/9/2013.

• Depois da Lei nº 14.230/2021: NÃO


Somente poderá ser decretada a indisponibilidade de bens em valor que seja suficiente para custear a
quantia apontada na petição inicial do MP como sendo o dano ao erário ou o enriquecimento ilícito. Isso fica
claro nos dois parágrafos inseridos no art. 16:
Art. 16 (...)
§ 5º Se houver mais de um réu na ação, a somatória dos valores declarados indisponíveis não poderá superar
o montante indicado na petição inicial como dano ao erário ou como enriquecimento ilícito.

§ 6º O valor da indisponibilidade considerará a estimativa de dano indicada na petição inicial, permitida a sua
substituição por caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial, a requerimento do réu,
bem como a sua readequação durante a instrução do processo.
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Bens que deverão ser prioritariamente tornados indisponíveis


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A Lei nº 14.230/2021 incluiu um novo parágrafo prevendo uma ordem de prioridade na decretação da
indisponibilidade. O bloqueio de contas bancárias passa a ser a última opção:
Art. 16 (...)
§ 11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar veículos de via terrestre, bens imóveis, bens
móveis em geral, semoventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades simples e empresárias,
pedras e metais preciosos e, apenas na inexistência desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a
garantir a subsistência do acusado e a manutenção da atividade empresária ao longo do processo.

Quantias inferiores a 40 salários-mínimos não podem ser objeto de indisponibilidade


Art. 16 (...)
§ 13. É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de até 40 (quarenta) salários mínimos
depositados em caderneta de poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta-corrente.

A indisponibilidade pode recair sobre bem de família?


• Antes da Lei nº 14.230/2021: SIM
A indisponibilidade prevista no art. 7º, parágrafo único, da LIA podeia recair sobre bens de família (STJ. 2ª
Turma. EDcl no AgRg no REsp 1351825/BA, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 22/09/2015).

• Depois da Lei nº 14.230/2021: em regra, NÃO


Veja o novo § 14:

Art. 16 (...)
§ 14. É vedada a decretação de indisponibilidade do bem de família do réu, salvo se comprovado que o imóvel
seja fruto de vantagem patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º desta Lei.

Indisponibilidade não pode acarretar prejuízo à prestação de serviços públicos


Art. 16 (...)
§ 12. O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens do réu a que se refere o caput deste artigo,
observará os efeitos práticos da decisão, vedada a adoção de medida capaz de acarretar prejuízo à prestação
de serviços públicos.

É possível a decretação da indisponibilidade de bens de terceiro?


SIM. Mas desde que demonstrada a sua efetiva concorrência para os atos ilícitos apurados ou se tiver havido
desconsideração da personalidade jurídica:
Art. 16 (...)
§ 7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da demonstração da sua efetiva concorrência para
os atos ilícitos apurados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração de incidente de
desconsideração da personalidade jurídica, a ser processado na forma da lei processual.

Recurso
Da decisão que deferir ou indeferir a medida relativa à indisponibilidade de bens caberá agravo de
instrumento (§ 9º do art. 16).

Qual é o prazo prescricional para a propositura de ações de improbidade administrativa?


• Antes da Lei nº 14.230/2021:
I - 5 anos após o término do mandato, cargo em comissão ou função de confiança;
II - prazo prescricional previsto na lei para faltas disciplinares puníveis com demissão, nos casos de exercício
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de cargo efetivo ou emprego.


III - 5 anos da data da apresentação à administração pública da prestação de contas final.
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• Depois da Lei nº 14.230/2021: 8 anos, contados a partir da ocorrência do fato ou, no caso de infrações
permanentes, do dia em que cessou a permanência.
Existe prescrição intercorrente na ação de improbidade administrativa? Se houver uma demora excessiva
para que a sentença seja proferida é possível que se reconheça a prescrição?
• Antes da Lei nº 14.230/2021: NÃO
Era a posição consolidada do STJ:
O STJ firmou entendimento de inaplicabilidade da prescrição intercorrente às ações de improbidade
administrativa.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1872310/PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 05/10/2021.

• Depois da Lei nº 14.230/2021: SIM


É o que prevê o § 8º do art. 23, da LIA, inserido pela Lei nº 14.230/2021:
Art. 23 (...)
§ 8º O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério Público, deverá, de ofício ou a requerimento da parte
interessada, reconhecer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora e decretá-la de imediato,
caso, entre os marcos interruptivos referidos no § 4º, transcorra o prazo previsto no § 5º deste artigo

Suspensão do prazo prescricional


A instauração de inquérito civil ou de processo administrativo para apuração de atos de improbidade
administrativa suspende o curso do prazo prescricional. Essa suspensão dura até o inquérito ou processo ser
concluído.
Ocorre que se o inquérito ou processo demorar mais que 180 dias para ser concluído, o prazo prescricional
volta a correr. Assim, a suspensão do prazo prescricional não poderá ser superior a 180 dias.
Trata-se de novidade da Lei nº 14.230/2021 prevista no novo § 1º do art. 23 da LIA.

Interrupção do prazo prescricional


O novo § 4º do art. 23 da LIA, incluído pela Lei nº 14.230/2021, traz hipóteses de interrupção da prescrição:
Art. 23 (...) § 4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo interrompe-se:
I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa;
II - pela publicação da sentença condenatória;
III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal que confirma
sentença condenatória ou que reforma sentença de improcedência;
IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribunal de Justiça que confirma acórdão
condenatório ou que reforma acórdão de improcedência;
V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal Federal que confirma acórdão condenatório
ou que reforma acórdão de improcedência.

Com a interrupção, o prazo não se reinicia por inteiro, mas sim pela metade
A Lei nº 14.230/2021 determinou que, após a interrupção, o prazo prescricional recomeça do zero, mas agora
não será mais de 8 e sim de 4 anos:
Art. 23 (...) § 5º Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr do dia da interrupção, pela metade do
prazo previsto no caput deste artigo.

Comunicabilidade das causas interruptivas da prescrição


Art. 23 (...) § 6º A suspensão e a interrupção da prescrição produzem efeitos relativamente a todos os que
concorreram para a prática do ato de improbidade.
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§ 7º Nos atos de improbidade conexos que sejam objeto do mesmo processo, a suspensão e a interrupção
relativas a qualquer deles estendem-se aos demais.
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SANÇÕES
Vejamos como ficou o novo panorama das sanções aplicáveis aos atos de improbidade administrativa após
a Lei nº 14.230/2021:
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO DANO AO ERÁRIO VIOLAÇÃO AOS
SANÇÕES
(art. 9º) (art. 10) PRINCÍPIOS (art. 11)
Perda dos bens ou
Pode ser aplicada, se
valores acrescidos
Pode ser aplicada concorrer esta NÃO se aplica
ilicitamente ao
circunstância
patrimônio
Perda da função
Pode ser aplicada Pode ser aplicada NÃO se aplica
pública
Suspensão dos
Até 14 anos Até 12 anos NÃO se aplica
direitos políticos
Equivalente ao valor do Equivalente ao Multa civil de até
Multa civil
acréscimo patrimonial valor do dano 24 vezes a remuneração
Proibição de
contratar com o Pelo prazo não superior a 14 Pelo prazo não Pelo prazo não superior a
poder público ou de anos superior a 12 anos 4 anos
receber benefícios

Obs: a multa civil pode ser aumentada até o dobro, se o juiz considerar que, em virtude da situação
econômica do réu, o valor calculado é ineficaz para reprovação e prevenção do ato de improbidade.

Obs2: a requerimento do réu, na fase de cumprimento da sentença, o juiz unificará eventuais sanções
aplicadas com outras já impostas em outros processos, tendo em vista a eventual continuidade de ilícito ou
a prática de diversas ilicitudes, observado o seguinte:
I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior sanção aplicada, aumentada de 1/3 (um terço),
ou a soma das penas, o que for mais benéfico ao réu;
II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito, o juiz somará as sanções.
As sanções de suspensão de direitos políticos e de proibição de contratar ou de receber incentivos fiscais ou
creditícios do poder público observarão o limite máximo de 20 anos.

Obs3: a concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário, prevista no antigo art. 10-A,
foi reenquadrada no inciso XXII do art. 10 da LIA, ou seja, passou a receber o mesmo tratamento dos atos
que causam dano ao erário.

As mudanças promovidas pela Lei 14.230/2021 no elemento subjetivo e na prescrição da improbidade


administrativa retroagem?
A partir do advento da Lei 14.230/2021 (nova Lei de Improbidade Administrativa – LIA) — cuja publicação e
entrada em vigor ocorreu em 26/10/2021 —, deixou de existir, no ordenamento jurídico, a tipificação para
atos culposos de improbidade administrativa.
Por força do art. 5º, XXXVI, da CF/88, a revogação da modalidade culposa do ato de improbidade
administrativa, promovida pela Lei 14.230/2021, é irretroativa, de modo que os seus efeitos não têm
incidência em relação à eficácia da coisa julgada, nem durante o processo de execução das penas e seus
incidentes.
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Incide a Lei 14.230/2021 em relação aos atos de improbidade administrativa culposos praticados na vigência
da Lei 8.429/92, desde que não exista condenação transitada em julgado, cabendo ao juízo competente o
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exame da ocorrência de eventual dolo por parte do agente.

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Os prazos prescricionais previstos na Lei 14.230/2021 não retroagem, sendo aplicáveis a partir da publicação
do novo texto legal (26.10.2021).
Tese fixada pelo STF:
1) É necessária a comprovação de responsabilidade subjetiva para a tipificação dos atos de improbidade
administrativa, exigindo-se — nos artigos 9º, 10 e 11 da LIA — a presença do elemento subjetivo — DOLO;
2) A norma benéfica da Lei 14.230/2021 — revogação da modalidade culposa do ato de improbidade
administrativa —, é IRRETROATIVA, em virtude do artigo 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal, não tendo
incidência em relação à eficácia da coisa julgada; nem tampouco durante o processo de execução das penas
e seus incidentes;
3) A nova Lei 14.230/2021 aplica-se aos atos de improbidade administrativa culposos praticados na vigência
do texto anterior da lei, porém sem condenação transitada em julgado, em virtude da revogação expressa
do texto anterior; devendo o juízo competente analisar eventual dolo por parte do agente;
4) O novo regime prescricional previsto na Lei 14.230/2021 é IRRETROATIVO, aplicando-se os novos marcos
temporais a partir da publicação da lei.
STF. Plenário. ARE 843989/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/8/2022 (Repercussão Geral –
Tema 1.199) (Info 1065).

O art. 200 do CC/2002 assegura que o prazo prescricional não comece a fluir antes do trânsito em julgado
da sentença penal, independentemente do resultado da ação na esfera criminal
Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição
antes da respectiva sentença definitiva.
Exemplo hipotético: em 2010, “P” praticou estupro, sem violência real, contra “T”. Em 2012, o Ministério
Público ofereceu denúncia contra “P”. Em 2014, o processo penal foi extinto sob o argumento de que o MP
seria parte ilegítima porque não houve representação, conforme se exigia antes da Lei nº 13.718/2018. Logo
em seguida, “T” (a vítima) ajuizou ação de indenização por danos morais contra “P”.
Mesmo já tendo passado três anos do fato (art. 206, § 3º V, do CC), não houve prescrição. Isso porque o
prazo prescricional somente se iniciou com o trânsito em julgado da sentença do processo penal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1987108-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 29/03/2022 (Info 732).

São cabíveis medidas executivas atípicas, de cunho não patrimonial, no cumprimento de sentença
proferida em ação de improbidade administrativa
É cabível a apreensão de passaporte e a suspensão da CNH no bojo do cumprimento de sentença proferida
em ação de improbidade administrativa.
Em regra, a jurisprudência do STJ entende ser possível a aplicação de medidas executivas atípicas na execução
e no cumprimento de sentença comum, desde que, verificando-se a existência de indícios de que o devedor
possua patrimônio expropriável, tais medidas sejam adotadas de modo subsidiário, por meio de decisão que
contenha fundamentação adequada às especificidades da hipótese concreta, com observância do
contraditório substancial e do postulado da proporcionalidade.
Na ação de improbidade administrativa, com ainda mais razão, há a possibilidade de aplicação das medidas
executivas atípicas, pois se tutela a moralidade e o patrimônio público. No que diz respeito à
proporcionalidade, o fato de se tratar de uma ação de improbidade administrativa deve ser levado em
consideração na análise do cabimento da medida aflitiva não pessoal no caso concreto, já que envolve maior
interesse público.
STJ. 2ª Turma, REsp 1.929.230-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

Pessoa jurídica interessada continua com legitimidade para propor ação de improbidade e para celebrar
acordo; não existe obrigatoriedade de a assessoria jurídica fazer a defesa do agente público acusado de
61

improbidade
Inconstitucionalidade da restrição da legitimidade para ajuizamento da ação e para a realização de acordo
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Segundo a Lei nº 14.230/2021, somente o Ministério Público teria legitimidade para propor ação de
improbidade e para celebrar acordo de não persecução cível. A Lei buscou excluir essa possibilidade da
pessoa jurídica interessada.
O STF, contudo, decidiu que essa alteração foi inconstitucional.
Os entes públicos que sofreram prejuízos em razão de atos de improbidade também estão autorizados, de
forma concorrente com o Ministério Público, a propor ação e a celebrar acordos de não persecução civil em
relação a esses atos.
Desse modo, fica restabelecida a existência de legitimidade ativa concorrente e disjuntiva entre o Ministério
Público e as pessoas jurídicas interessadas para a propositura da ação por ato de improbidade administrativa
e para a celebração de acordos de não persecução civil.

Inexistência de obrigatoriedade de a assessoria jurídica fazer a defesa do agente público


A Lei 14.230/2021 inseriu o § 20 no art. 17 da Lei nº 8.429/92 prevendo que “A assessoria jurídica que emitiu
o parecer atestando a legalidade prévia dos atos administrativos praticados pelo administrador público ficará
obrigada a defendê-lo judicialmente, caso este venha a responder ação por improbidade administrativa, até
que a decisão transite em julgado.”
O STF declarou a inconstitucionalidade parcial, com redução de texto, desse dispositivo para dizer que não
existe “obrigatoriedade de defesa judicial”.
Não deve existir obrigatoriedade de defesa judicial do agente público que cometeu ato de improbidade por
parte da Advocacia Pública, pois a sua predestinação constitucional, enquanto função essencial à Justiça,
identifica-se com a representação judicial e extrajudicial dos entes públicos. Contudo, permite-se essa
atuação em caráter extraordinário e desde que norma local assim disponha.
STF. Plenário. ADI 7042/DF e ADI 7043/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 31/8/2022 (Info
1066).

INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE PRIVADA


É cabível a avaliação pericial provisória como condição à imissão na posse nas ações regidas pelo DL
3.365/41, quando não observados os requisitos previstos no art. 15, § 1º, do referido diploma
Em regra, nos termos do caput do art. 15 do DL 3.365/1941, para haver a imissão provisória na posse o ente
público interventor deve cumulativamente:
a) alegar urgência; e
b) depositar a quantia apurada, mediante contraditório, em avaliação prévia, da qual pode resultar inclusive
a complementação da oferta inicial.
A imissão provisória na posse pode ser feita, sem a oitiva do proprietário, e sem a avaliação prévia, desde
que:
a) seja depositado o preço oferecido, sendo este superior a vinte vezes o valor locativo do imóvel sujeito a
IPTU;
b) seja depositada a quantia correspondente a vinte vezes o valor locativo do imóvel sujeito a IPTU, se o
preço for menor;
c) seja depositado o valor cadastral do imóvel, para fins de lançamento do IPTU, caso tenha havido
atualização no ano fiscal imediatamente anterior; ou
d) se não tiver havido essa atualização, o juiz fixará o valor a ser depositado tendo em conta a época em que
houver sido fixado originalmente o valor cadastral e a valorização ou desvalorização posterior do imóvel.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1674697-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 08/11/2022 (Info 756).

Um dos requisitos específicos da petição inicial da ação de desapropriação de imóveis urbanos é a


demonstração do impacto orçamentário-financeiro da medida e da compatibilidade da indenização a ser
paga com as leis orçamentárias
62

Para cumprimento dos requisitos arrolados no art. 16, caput, I e II, e § 4º, II, da LRF é necessário instruir a
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petição inicial da ação expropriatória de imóveis com a estimativa do impacto orçamentário-financeiro e

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apresentar declaração a respeito da compatibilidade das despesas necessárias ao pagamento das
indenizações ao disposto no plano plurianual, na lei de diretrizes orçamentárias e na lei orçamentária anual.
STJ. 1ª Turma. REsp 1930735-TO, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 28/2/2023 (Info 767).

Se o autor da ação de desapropriação não faz o depósito da quantia arbitrada, o juiz deverá negar a
imissão provisória na posse, mas não pode, por essa razão, extinguir o processo
A ausência do depósito previsto no art. 15 do Decreto-Lei nº 3.365/41 para o deferimento de pedido de
imissão provisória na posse veiculado em ação de desapropriação por utilidade pública não implica a extinção
do processo sem resolução do mérito, mas, tão somente, o indeferimento da tutela provisória.
STJ. 1ª Turma. REsp 1930735-TO, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 28/2/2023 (Info 767).

É possível que o expropriante desista da ação de desapropriação?


SIM, é possível a desistência da desapropriação a qualquer tempo, mesmo após o trânsito em julgado, desde
que:
a) ainda não tenha havido o pagamento integral do preço (pois nessa hipótese já terá se consolidado a
transferência da propriedade do expropriado para o expropriante); e
b) o imóvel possa ser devolvido sem que ele tenha sido alterado de forma substancial (que impeça sua
utilização como antes era possível).
É ônus do expropriado provar a existência de fato impeditivo do direito de desistência da desapropriação.
STJ. 2ª Turma. REsp 1368773-MS, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. para acórdão Min. Herman Benjamin, julgado
em 6/12/2016 (Info 596).

TEMAS DIVERSOS
O fato gerador do laudêmio é o registro do imóvel em Cartório de Registro de Imóveis, que é o momento
em que ocorre a transferência do domínio útil do aludido direito real
O contrato de transferência do domínio útil foi firmado em 2014, mas o registro do imóvel só ocorreu em
2016. Qual foi o problema? Em 30/12/2015, foi publicada a Lei nº 13.240/2015, que trouxe uma mudança na
cobrança do laudêmio. O laudêmio devido em razão dessa venda será calculado com base na Lei nº
13.240/2015? Sim.
Deve-se aplicar a lei vigente no momento do registro do título translativo no Registro de Imóveis, ainda que
outra fosse a lei vigente na época da realização do negócio jurídico. Isso porque o fato gerador do laudêmio
não ocorre na celebração do contrato de compra e venda, nem no dia de sua quitação, mas sim na data do
registro do imóvel no cartório de Registro de Imóveis (art. 1.227 do CC/2002), que é o momento em que
ocorre a transferência do domínio útil do aludido direito real.
STJ. 1ª Turma. REsp 1833609-PE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 08/11/2022 (Info 757).

No exercício de direito sancionador, a negativa da prova técnica requerida pelo acusado pode afrontar o
devido processo administrativo
Caso concreto: determinada empresa estava respondendo processo administrativo no CADE por suposta
infração da ordem econômica. A empresa requereu a produção de perícia de natureza econômica, que foi
indeferida.
O STJ entendeu que essa negativa afrontou o devido processo administrativo, por violação aos arts. 2º, X, e
50, caput e inciso I, da Lei nº 9.784/99. Consequentemente, o Tribunal determinou a anulação do julgamento
do processo administrativo pelo CADE, o qual deverá ser reiniciado a partir da produção da prova pericial de
natureza econômica requerida.
STJ. 1ª Turma. REsp 1979138-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 8/11/2022 (Info Especial 8).
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É possível o compartilhamento das provas obtidas no acordo de leniência, desde que sejam respeitados os
limites estabelecidos no acordo em relação aos aderentes
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É possível o compartilhamento, para outros órgãos e autoridades públicas, das provas obtidas no acordo de
leniência, desde que sejam respeitados os limites estabelecidos no acordo em relação aos aderentes.
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Assim, por exemplo, se uma empresa celebra acordo de leniência com o MPF aceitando fornecer provas
contra si, estas provas somente poderão ser utilizadas para as sanções que foram ajustadas no acordo.
No entanto, nada impede que tais provas sejam fornecidas (compartilhadas) para os órgãos de apuração para
que sejam propostas medidas contra as outras pessoas envolvidas nos ilícitos e que não fizeram parte do
acordo.
STF. 2ª Turma. Inq 4420/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/8/2018 (Info 913)

A prestação pecuniária decorrente do contrato de concessão de direito real uso é receita patrimonial e, por
se tratar de cobrança de dívida de natureza real, aplica-se o prazo prescricional de 10 anos (art. 205 do CC)
Aplica-se o prazo prescricional de 10 anos, nos termos do art. 205 do Código Civil/2002, na cobrança de taxa
de ocupação do particular no contrato administrativo de concessão de direito real de uso para a utilização
privativa de bem público.
STJ. 1ª Turma. REsp 1675985-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 15/12/2022 (Info 763).

São inadmissíveis, em processos administrativos de qualquer espécie, provas consideradas ilícitas pelo
Poder Judiciário
As provas declaradas ilícitas pelo Poder Judiciário não podem ser utilizadas, valoradas ou aproveitadas em
processos administrativos de qualquer espécie.
Caso concreto: o CADE, em processo administrativo, condenou uma empresa pela prática de cartel. Essa
condenação se baseou em provas obtidas a partir de interceptação telefônica decretada em investigação
criminal. Ocorre que essa interceptação foi declarada ilegal porque autorizada unicamente com base em
denúncia anônima. Logo, o processo administrativo também deve ser declarado nulo porque fundamentado
em prova ilícita.
STF. Plenário. ARE 1316369/DF, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em
9/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 1238) (Info 1079).

Ainda que celebrado no exterior, ato de cooperação para o desenvolvimento de novas sementes de milho
geneticamente modificadas impacta mercado relevante de abrangência mundial, impondo-se sua
submissão ao CADE
É obrigatória a submissão de acordo de cooperação para o desenvolvimento de novas tecnologias de
sementes de milho às autoridades antitruste brasileiras, ainda que firmado e executado em território
estrangeiro, quando as implicações concorrenciais possam impactar mercados relevantes situados, no todo
ou em parte, no território nacional.
STJ. 1ª Turma. REsp 1975739-DF, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 15/12/2022 (Info 762).

SITUAÇÃO PRESCRIÇÃO

Ação de reparação por danos causados à Fazenda Pública


em razão da prática de ILÍCITO CIVIL é PRESCRITÍVEL
Ex: particular, dirigindo seu veículo, por imprudência, colide com o carro de um (STF RE 669069/MG)
órgão público estadual em serviço. Estado terá o prazo de 5 anos para buscar o Tema 666
ressarcimento.

é PRESCRITÍVEL
Pretensão de ressarcimento ao erário
(STF RE 636886/AL)
fundada em decisão do Tribunal de Contas
Tema 899
64
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Ação de ressarcimento decorrente de é PRESCRITÍVEL

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ato de improbidade administrativa praticado com CULPA (devem ser propostas no
prazo do art. 23 da LIA)

é IMPRESCRITÍVEL
(§ 5º do art. 37 da
Ação de ressarcimento decorrente de
CF/88)
ato de improbidade administrativa praticado com DOLO
STF RE 852475/SP
Tema 897

Ação pedindo a reparação civil decorrente de


DANOS AMBIENTAIS
É imprescritível a pretensão de reparação civil de dano ambiental.
Ex: não há prazo para ACP ajuizada pelo MP objetivando a reparação de danos é IMPRESCRITÍVEL
decorrentes de degradação ao meio ambiente. (STF RE 654833)
Embora a Constituição e as leis ordinárias não tratem sobre prazo prescricional Tema 999
para a reparação de danos civis ambientais, a reparação do meio ambiente é
direito fundamental indisponível, devendo, portanto, ser reconhecida a
imprescritibilidade dessa pretensão.

Petrobrás pode criar subsidiárias e, em seguida, alienar o controle acionário delas sem licitação e sem
autorização legislativa específica
Caso concreto: a Petrobrás elaborou um plano de desinvestimento por meio do qual ela decidiu vender 8
refinarias. Para isso, a Petrobrás criou subsidiárias que passaram a ser as proprietárias dessas refinarias e,
em seguida, o controle acionário dessas subsidiárias será alienado, sem licitação e sem prévia autorização
legislativa. Desse modo, na prática, é como se a Petrobrás estivesse alienando as refinarias.
O STF afirmou que essa prática é legítima.
A específica autorização legislativa somente é obrigatória na hipótese de alienação do controle acionário de
sociedade de economia mista (empresa-mãe). Não há necessidade dessa prévia e específica anuência para a
criação e posterior alienação de ativos da empresa subsidiária, dentro de um elaborado plano de gestão de
desinvestimento, voltado para garantir maiores investimentos e, consequentemente, maior eficiência e
eficácia da empresa-mãe.
Isso porque a inexistência de expressa proibição ou limitação de alienação societária em relação à
autorização legislativa genérica para a criação de subsidiárias corresponde à concessão, pelo Congresso
Nacional ao Poder Executivo, de um importante instrumento de gestão empresarial, para garantir a eficiência
e a eficácia da sociedade de economia mista no cumprimento de suas finalidades societárias. Portanto, na
criação ou extinção de subsidiárias, o preceito maior de gestão empresarial que deve ser seguido é garantir
a melhor atuação, eficiência e eficácia da empresa-mãe.
STF. Plenário. Rcl 42576 MC/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 30/9 e 1º/10/2020 (Info 993).

É constitucional a transferência da concessão e do controle societário das concessionárias de serviços


públicos, mediante anuência do poder concedente prevista no art. 27 da Lei 8.987/95
O art. 27 da Lei nº 8.987/95 permite que se transfira a concessão ou o controle societário da concessionária
para uma outra pessoa, desde que o poder público concorde e sejam respeitados os requisitos legais.
Art. 27. A transferência de concessão ou do controle societário da concessionária sem prévia anuência do
poder concedente implicará a caducidade da concessão.
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Parágrafo único. Para fins de obtenção da anuência de que trata o caput deste artigo o pretendente deverá:
I - atender às exigências de capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal
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necessárias à assunção do serviço; e

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II - comprometer-se a cumprir todas as cláusulas do contrato em vigor.
O STF decidiu que esse dispositivo é constitucional.
O parágrafo único do art. 27 prevê que, mesmo com essa transferência, a base objetiva do contrato
continuará intacta. Permanecem o mesmo objeto contratual, as mesmas obrigações contratuais e a mesma
equação econômico-financeira. O que ocorre é apenas a sua modificação subjetiva, seja pela substituição do
contratado, seja em razão da sua reorganização empresarial.
Em nosso sistema jurídico, o que interessa à Administração é, sobretudo, a seleção da proposta mais
vantajosa, independentemente da identidade do particular contratado, ou dos atributos psicológicos ou
subjetivos de que disponha.
STF. Plenário. ADI 2946/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/3/2022 (Info 1046).

A demora da Administração para apreciar o pedido de autorização para funcionamento de rádio


comunitária não legitima o Poder Judiciário a conceder, ainda que em caráter precário, o direito de
continuidade das atividades
A competência para outorgar e renovar concessão, permissão e autorização de rádios e TVs é do Poder
Executivo, com posterior referendo do Poder Legislativo, nos termos do caput e § 1º do art. 223 da CF/88.
Não há espaço, portanto, para o Poder Judiciário interferir em tal questão, sob pena de ofensa ao princípio
da separação dos Poderes.
STJ. 1ª Seção. EDv nos EREsp 1797663-CE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 10/08/2022 (Info 748).

Em regra, a imposição de sigilo a processos administrativos sancionadores, instaurados por agências


reguladoras contra concessionárias de serviço público, é incompatível com a Constituição
Os processos administrativos sancionadores instaurados por agências reguladoras contra concessionárias de
serviço público devem obedecer ao princípio da publicidade durante toda a sua tramitação, ressalvados
eventuais atos que se enquadrem nas hipóteses de sigilo previstas em lei e na Constituição.
STF. Plenário. ADI 5371/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 25/2/2022 (Info 1045).

Não se exige contraditório prévio à decretação de intervenção em contrato de concessão com


concessionária de serviço público
O art. 33 da Lei nº 8.987/95 afirma que, depois de ter sido declarada a intervenção, o poder concedente
deverá, no prazo de 30 dias, instaurar procedimento administrativo para comprovar as causas determinantes
da medida e apurar responsabilidades, assegurado o direito de ampla defesa.
Desse modo, verifica-se claramente que, em se tratando de intervenção, o direito de defesa do
concessionário só é propiciado após a decretação da intervenção, a partir do momento em que for instaurado
o procedimento administrativo para apuração das irregularidades. Isso porque a intervenção possui
finalidades investigatória e fiscalizatória, e não punitiva.
STJ. 2ª Turma. RMS 66794-AM, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 22/02/2022 (Info 727).

Em regra, não cabe ao Poder Judiciário anular cláusula de contrato de concessão de serviço público que
autoriza o reajuste de tarifa telefônica em percentual superior ao índice inflacionário
Afronta o princípio da separação dos Poderes a anulação judicial de cláusula de contrato de concessão
firmado por Agência Reguladora e prestadora de serviço de telefonia que, em observância aos marcos
regulatórios estabelecidos pelo Legislador, autoriza a incidência de reajuste de alguns itens tarifários em
percentual superior ao do índice inflacionário fixado, quando este não é superado pela média ponderada de
todos os itens.
STF. Plenário. RE 1059819/PE, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 18/2/2022 (Repercussão Geral – Tema 991) (Info 1044).
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Conselhos profissionais não estão sujeitos ao regime de precatórios

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Os pagamentos devidos, em razão de pronunciamento judicial, pelos Conselhos de Fiscalização (exs: CREA,
CRM, COREN, CRO) não se submetem ao regime de precatórios.
STF. Plenário. RE 938837/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em
19/4/2017 (repercussão geral) (Info 861).

Poder de polícia de trânsito e guardas municipais


As guardas municipais podem realizar a fiscalização de trânsito?
SIM. As guardas municipais, desde que autorizadas por lei municipal, têm competência para fiscalizar o
trânsito, lavrar auto de infração de trânsito e impor multas.
O STF definiu a tese de que é constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício do poder de
polícia de trânsito, inclusive para a imposição de sanções administrativas legalmente previstas (ex: multas de
trânsito).
STF. Plenário. RE 658570/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 6/8/2015 (repercussão geral) (Info 793).

É possível a delegação do poder de polícia – inclusive da possibilidade de aplicação de multas – para


pessoas jurídicas de direito privado?
É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado
integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem
exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial.
STF. Plenário. RE 633782/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 23/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 532)
(Info 996).

Não é possível a manutenção de quiosques e trailers instalados sobre calçadas sem a regular aprovação
estatal
Se o apossamento do espaço urbano público ocorre ilegalmente, incumbe ao administrador, sob risco de
cometimento de improbidade e infração disciplinar, fazer a imediata demolição de eventuais construções
irregulares e a desocupação de bem turbado ou esbulhado.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.846.075-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/03/2020 (Info 671).

É válida a interrupção do serviço público por razões de ordem técnica se houve prévio aviso por meio de
rádio
A divulgação da suspensão no fornecimento de serviço de energia elétrica por meio de emissoras de rádio,
dias antes da interrupção, satisfaz a exigência de aviso prévio, prevista no art. 6º, § 3º, da Lei nº 8.987/95.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.270.339-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 15/12/2016 (Info 598).

É possível cobrar um valor da concessionária de serviço público pelo fato de ela estar utilizando faixas de
domínio de uma rodovia?
É indevida a cobrança promovida por concessionária de rodovia, em face de autarquia prestadora de serviços
de saneamento básico, pelo uso da faixa de domínio da via pública concedida.
STJ. 1ª Seção.REsp 1.817.302-SP, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 08/06/2022 (Tema IAC 8) (Info
740).

Não confundir:
1) Ente público cobrar da concessionária de serviço público pelo fato de ela estar utilizando as faixas de
domínio: NÃO pode.
STF. Plenário. RE 581947, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 27/05/2010 (Repercussão Geral – Tema 261).
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2) Concessionária de serviço público cobrando de concessionária de serviço público pelo fato de ela estar
utilizando faixas de domínio de uma rodovia: PODE.
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STJ. 1ª Seção. EREsp 985695-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 26/11/2014 (Info 554).

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3) Concessionária de serviço público cobrando de autarquia prestadora de serviço de saneamento básico
pelo uso da faixa de domínio: NÃO pode.
STJ. 1ª Seção.REsp 1817302-SP, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 08/06/2022 (Tema IAC 8) (Info
740).

A estabilidade especial do art. 19 do ADCT não se aplica para empregados das fundações públicas de direito
privado (abrange apenas os servidores das pessoas jurídicas de direito público)
A estabilidade especial do art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) não se estende
aos empregados das fundações públicas de direito privado, aplicando-se tão somente aos servidores das
pessoas jurídicas de direito público.
O termo “fundações públicas”, utilizado pelo art. 19 do ADCT, deve ser compreendido como fundações
autárquicas, sujeitas ao regime jurídico de direito público.
Ex: empregados da Fundação Padre Anchieta não gozam dessa estabilidade do art. 19 do ADCT em razão de
se tratar de uma fundação pública de direito privado.
STF. Plenário. RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1º e 7/8/2019 (repercussão geral) (Info 946).

Não é ilegal a terceirização de serviços jurídicos pela Caixa Econômica Federal


A Caixa Econômica Federal, embora vinculada como empresa pública ao Estado, executa uma atividade
econômica em ambiente de concorrência.
A terceirização pela Caixa Econômica Federal dos serviços jurídicos não se revela ilegal, considerando que
esses serviços não estão relacionados com a atividade-fim da empresa.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.318.740-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em
16/10/2018 (Info 659).

Agência de turismo que faça câmbio é equiparada a instituição financeira e está sujeita à fiscalização do
BACEN
A agência de turismo devidamente credenciada para efetuar operações de câmbio é equiparada a instituição
financeira e subordina-se à regular intervenção fiscalizatória do Banco Central.
Consideram-se instituições financeiras as pessoas jurídicas públicas ou privadas que tenham como atividade
principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros,
em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros (art. 17 da Lei nº
4.595/64).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.434.625-CE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 09/04/2019 (Info 647).
Obs: esse mesmo entendimento pode ser aplicado para a seara dos crimes contra o Sistema Financeiro
Nacional (art. 1º, I, da Lei nº 7.492/86): STJ. 5ª Turma. RHC 9.281/PR, Rel. Min. Gilson Dipp, DJe 30/10/2000.

Competência do DNIT para fiscalizar trânsito nas rodovias e estradas federais


O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT detém competência para a fiscalização do
trânsito nas rodovias e estradas federais, podendo aplicar, em caráter não exclusivo, penalidade por infração
ao Código de Trânsito Brasileiro, consoante se extrai da conjugada exegese dos arts. 82, § 3º, da Lei n.
10.233/2001 e 21 da Lei n. 9.503/1997 (Código de Trânsito Brasileiro).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.588.969-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo)
(Info 623).

Continuam pertencendo à União os terrenos de marinha situados em ilha costeira que seja sede de
Município
A EC 46/2005 não interferiu na propriedade da União, nos moldes do art. 20, VII, da Constituição Federal,
68

sobre os terrenos de marinha e seus acrescidos situados em ilhas costeiras sede de Municípios.
STF. Plenário. RE 636199/ES, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 27/4/2017 (repercussão geral) (Info 862).
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Independentemente da regularidade contratual, há que se considerar que a efetiva utilização da terra
pública por particular gera o dever de ressarcimento ao Estado
A interpretação de que a taxa de ocupação de imóvel público só é devida caso haja prévia formalização de
ato ou negócio jurídico administrativo contraria o princípio da boa-fé objetiva. Isto porque, o ocupante
irregular de bem público não pode se beneficiar da sua própria ilegalidade para deixar de cumprir obrigação
a todos imposta: o pagamento da taxa de ocupação.
Assim, dispensar o detentor irregular de imóvel público de pagar taxa de ocupação, modalidade de
ressarcimento mínimo (e não de lucro), é ferir duplamente o interesse coletivo, pois, não obstante a situação
de apropriação ilícita, alça o já infrator à injusta posição de privilégio anti-isonômico em relação aos outros
cidadãos, cumpridores dos requisitos e formalidades exigidos para a fruição do patrimônio coletivo.
STJ. 2ªTurma. REsp 1.986.143; Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 06/12/2022; DJE 19/12/2022.

PODERES ADMINISTRATIVOS
Ao Poder Judiciário não cabe se imiscuir na decisão administrativa da ANAC acerca da realocação de slots
e hotrans, mesmo que a empresa aérea que perdeu esse direito esteja em recuperação judicial
Ao Poder Judiciário não cabe se imiscuir na decisão administrativa da ANAC acerca da realocação de slots e
hotrans (horários de transporte), serviço prestado por empresa aérea em recuperação judicial, a ponto de
impor a observação absoluta do princípio da preservação da empresa, quando inexistirem vícios objetivos na
decisão, mesmo em prejuízos à concorrência do setor e aos usuários do serviço público concedido.
Caso adaptado: a Pantanal Linhas Aéreas S/A encontrava-se em processo de recuperação judicial. Ela possuía
slots e hotrans relacionadas com o Aeroporto de Congonhas. Segundo a ANAC, a companhia não estaria
utilizando os slots e hotrans com regularidade. Diante disso, a ANAC decidiu disponibilizá-los para nova
alocação (para nova companhia aérea).
Não havendo vícios objetivos na decisão administrativa, deve-se preservar o ato da Agência.
Compete à ANAC a gestão dos slots, não sendo passíveis de incorporação, ainda que tangencial, aos direitos
da empresa aérea em recuperação, sob pena de grave violação da legislação federal do setor produtivo
concedido e altamente regulado, em função de sua natureza estratégica na economia nacional.
STJ. 2ª Turma. REsp 1287461-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 21/06/2022 (Info 745).

ATOS ADMINISTRATIVOS
Quando o interessado poderá ser notificado por edital no processo administrativo?
Em processo administrativo, a notificação por edital reserva-se exclusivamente para as hipóteses de:
a) interessado indeterminado;
b) interessado desconhecido; ou
c) interessado com domicílio indefinido.
STJ. 1ª Seção. MS 27227-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 27/01/2021 (Info 716).

AÇÃO POPULAR
STF não possui competência originária para julgar ação popular
Determinado cidadão propôs “ação popular” contra a Presidente da República pedindo que ela fosse
condenada à perda da função pública e à privação dos direitos políticos. A competência para julgar essa ação
é do STF?
NÃO. Em regra, o STF não possui competência originária para processar e julgar ação popular, ainda que
ajuizada contra atos e/ou omissões do Presidente da República.
A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do Presidente da
República, é, via de regra, do juízo de 1º grau.
STF. Plenário. Pet 5856 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 25/11/2015 (Info 811).
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STF. Plenário. AO 2489 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/06/2020.
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Não é da competência originária do STF conhecer de ações populares, ainda que o réu seja autoridade que
tenha na Corte o seu foro por prerrogativa de função para os processos previstos na Constituição.

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STF. Plenário. Pet 8504 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 19/12/2019.

EXCEÇÕES:
É possível apontar quatro exceções a essa regra.
Assim, compete ao STF julgar:
1) ação popular que envolva conflito federativo entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou
entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta (art. 102, I, “f”, da CF/88);
2) ação popular em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e
aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou
indiretamente interessados (art. 102, I, “n”, da CF/88);
3) ação popular proposta contra o Conselho Nacional de Justiça ou contra o Conselho Nacional do Ministério
Público (art. 102, I, “r”, da CF/88).
4) ação popular cujo pedido seja próprio de mandado de segurança coletivo contra ato de Presidente da
República, por força do art. 102, I, “d”, da CF/88 (STF. Plenário. Pet 8104 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
06/12/2019).

LEI COMPLEMENTAR Nº 73, DE 10 DE FEVEREIRO DE 19931


Principais artigos
Art. 1º - A Advocacia-Geral da União é a instituição que representa a União judicial e
extrajudicialmente.

Parágrafo único. À Advocacia-Geral da União cabem as atividades de consultoria e assessoramento


jurídicos ao Poder Executivo, nos termos desta Lei Complementar.

Capítulo II
Da Composição

Art. 2º - A Advocacia-Geral da União compreende:

I - órgãos de direção superior:


a) o Advogado-Geral da União;
b) a Procuradoria-Geral da União e a da Fazenda Nacional;
c) Consultoria-Geral da União;
d) o Conselho Superior da Advocacia-Geral da União; e
e) a Corregedoria-Geral da Advocacia da União;

II - órgãos de execução:
a) as Procuradorias Regionais da União e as da Fazenda Nacional e as Procuradorias da União e as da
Fazenda Nacional nos Estados e no Distrito Federal e as Procuradorias Seccionais destas; (Vide Lei nº
9.028, de 1996)
b) a Consultoria da União, as Consultorias Jurídicas dos Ministérios, da Secretaria-Geral e das demais
Secretarias da Presidência da República e do Estado-Maior das Forças Armadas;

III - órgão de assistência direta e imediata ao Advogado-Geral da União: o Gabinete do Advogado-


Geral da União;

IV - (VETADO)
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Página

1
Orientações do material do @raioxdoedital (Acesse: Instragram Raio-X do Edital) , disponível em
https://raioxdoedital.com.br/

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§ 1º - Subordinam-se diretamente ao Advogado-Geral da União, além do seu gabinete, a
Procuradoria-Geral da União, a Consultoria-Geral da União, a Corregedoria-Geral da Advocacia-Geral
da União, a Secretaria de Controle Interno e, técnica e juridicamente, a Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional.

§ 2º - As Procuradorias Seccionais, subordinadas às Procuradorias da União e da Fazenda Nacional


nos Estados e no Distrito Federal, serão criadas, no interesse do serviço, por proposta do Advogado-
Geral da União.

§ 3º - As Procuradorias e Departamentos Jurídicos das autarquias e fundações públicas são órgãos


vinculados à Advocacia-Geral da União.

§ 4º - O Advogado-Geral da União é auxiliado por dois Secretários-Gerais: o de Contencioso e o de


Consultoria.

§ 5º - São membros da Advocacia-Geral da União: o Advogado-Geral da União, o Procurador-Geral


da União, o Procurador-Geral da Fazenda Nacional, o Consultor-Geral da União, o Corregedor-Geral
da Advocacia da União, os Secretários-Gerais de Contencioso e de Consultoria, os Procuradores
Regionais, os Consultores da União, os Corregedores-Auxiliares, os Procuradores-Chefes, os
Consultores Jurídicos, os Procuradores Seccionais, os Advogados da União, os Procuradores da
Fazenda Nacional e os Assistentes Jurídicos.

TÍTULO II
DOS ÓRGÃOS DA ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

Capítulo I
Do Advogado-Geral da União

Art. 3º - A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral da União, de livre nomeação
pelo Presidente da República, dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber
jurídico e reputação ilibada.

§ 1º - O Advogado-Geral da União é o mais elevado órgão de assessoramento jurídico do Poder


Executivo, submetido à direta, pessoal e imediata supervisão do Presidente da República.

§ 2º - O Advogado-Geral da União terá substituto eventual nomeado pelo Presidente da República,


atendidas as condições deste artigo.

Art. 4º - São atribuições do Advogado-Geral da União:

I - dirigir a Advocacia-Geral da União, superintender e coordenar suas atividades e orientar-lhe a


atuação;

II - despachar com o Presidente da República;

III - representar a União junto ao Supremo Tribunal Federal;

IV - defender, nas ações diretas de inconstitucionalidade, a norma legal ou ato normativo, objeto de
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impugnação;
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V - apresentar as informações a serem prestadas pelo Presidente da República, relativas a medidas


impugnadoras de ato ou omissão presidencial;

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VI - desistir, transigir, acordar e firmar compromisso nas ações de interesse da União, nos termos da
legislação vigente; (Regulamento)

VII - assessorar o Presidente da República em assuntos de natureza jurídica, elaborando pareceres e


estudos ou propondo normas, medidas e diretrizes;

VIII - assistir o Presidente da República no controle interno da legalidade dos atos da Administração;

IX - sugerir ao Presidente da República medidas de caráter jurídico reclamadas pelo interesse público;

X - fixar a interpretação da Constituição, das leis, dos tratados e demais atos normativos, a ser
uniformemente seguida pelos órgãos e entidades da Administração Federal;

XI - unificar a jurisprudência administrativa, garantir a correta aplicação das leis, prevenir e dirimir as
controvérsias entre os órgãos jurídicos da Administração Federal;

XII - editar enunciados de súmula administrativa, resultantes de jurisprudência iterativa dos


Tribunais; (Vide Lei 9.469, 10/07/97)

XIII - exercer orientação normativa e supervisão técnica quanto aos órgãos jurídicos das entidades a
que alude o Capítulo IX do Título II desta Lei Complementar;

XIV - baixar o Regimento Interno da Advocacia-Geral da União;

XV - proferir decisão nas sindicâncias e nos processos administrativos disciplinares promovidos pela
Corregedoria-Geral e aplicar penalidades, salvo a de demissão;

XVI - homologar os concursos públicos de ingresso nas Carreiras da Advocacia-Geral da União;

XVII - promover a lotação e a distribuição dos Membros e servidores, no âmbito da Advocacia-Geral


da União;

XVIII - editar e praticar os atos normativos ou não, inerentes a suas atribuições;

XIX - propor, ao Presidente da República, as alterações a esta Lei Complementar;

§ 1º - O Advogado-Geral da União pode representá-la junto a qualquer juízo ou Tribunal.

§ 2º - O Advogado-Geral da União pode avocar quaisquer matérias jurídicas de interesse desta,


inclusive no que concerne a sua representação extrajudicial.

§ 3º - É permitida a delegação das atribuições previstas no inciso VI ao Procurador-Geral da União,


bem como a daquelas objeto do inciso XVII deste artigo, relativamente a servidores.

Do Conselho Superior da Advocacia-Geral da União

Art. 7º - O Conselho Superior da Advocacia-Geral da União tem as seguintes atribuições:


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I - propor, organizar e dirigir os concursos de ingresso nas Carreiras da Advocacia-Geral da União;


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II - organizar as listas de promoção e de remoção, julgar reclamações e recursos contra a inclusão,
exclusão e classificação em tais listas, e encaminhá-las ao Advogado-Geral da União;

III - decidir, com base no parecer previsto no art. 5º, inciso V desta Lei Complementar, sobre a
confirmação no cargo ou exoneração dos Membros das Carreiras da Advocacia-Geral da União
submetidos à estágio confirmatório;

IV - editar o respectivo Regimento Interno.

Parágrafo único. Os critérios disciplinadores dos concursos a que se refere o inciso I deste artigo são
integralmente fixados pelo Conselho Superior da Advocacia-Geral da União.

Art. 28. Além das proibições decorrentes do exercício de cargo público, aos membros efetivos da
Advocacia-Geral da União é vedado:

I - exercer advocacia fora das atribuições institucionais;

II - contrariar súmula, parecer normativo ou orientação técnica adotada pelo Advogado-Geral da


União;

III - manifestar-se, por qualquer meio de divulgação, sobre assunto pertinente às suas funções, salvo
ordem, ou autorização expressa do Advogado-Geral da União.

Art. 29. É defeso aos membros efetivos da Advocacia-Geral da União exercer suas funções em
processo judicial ou administrativo:

I - em que sejam parte;

II - em que hajam atuado como advogado de qualquer das partes;

III - em que seja interessado parente consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o segundo
grau, bem como cônjuge ou companheiro;

IV - nas hipóteses da legislação processual.

Art. 30. Os membros efetivos da Advocacia-Geral da União devem dar-se por impedidos:
I - quando hajam proferido parecer favorável à pretensão deduzida em juízo pela parte adversa;

II - nas hipóteses da legislação processual.

Parágrafo único. Nas situações previstas neste artigo, cumpre seja dada ciência, ao superior
hierárquico imediato, em expediente reservado, dos motivos do impedimento, objetivando a
designação de substituto.

Art. 35. A União é citada nas causas em que seja interessada, na condição de autora, ré, assistente,
oponente, recorrente ou recorrida, na pessoa:
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I - do Advogado-Geral da União, privativamente, nas hipóteses de competência do Supremo Tribunal


Federal;
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II - do Procurador-Geral da União, nas hipóteses de competência dos tribunais superiores;

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III - do Procurador-Regional da União, nas hipóteses de competência dos demais tribunais;

IV - do Procurador-Chefe ou do Procurador-Seccional da União, nas hipóteses de competência dos


juízos de primeiro grau.

Art. 40. Os pareceres do Advogado-Geral da União são por este submetidos à aprovação do
Presidente da República.

§ 1º O parecer aprovado e publicado juntamente com o despacho presidencial vincula a


Administração Federal, cujos órgãos e entidades ficam obrigados a lhe dar fiel cumprimento.

§ 2º O parecer aprovado, mas não publicado, obriga apenas as repartições interessadas, a partir do
momento em que dele tenham ciência.

Súmula 651-STJ: Compete à autoridade administrativa aplicar a servidor público a pena de demissão em
razão da prática de improbidade administrativa, independentemente de prévia condenação, por autoridade
judicial, à perda da função pública.
• Aprovada em 21/10/2021.
• Importante

Súmula 633-STJ: A Lei nº 9.784/99, especialmente no que diz respeito ao prazo decadencial para a revisão
de atos administrativos no âmbito da Administração Pública federal, pode ser aplicada, de forma subsidiária,
aos estados e municípios, se inexistente norma local e específica que regule a matéria.
• Aprovada em 12/06/2019, DJe 17/06/2019.
• Importante.

Súmula 552-STJ: O portador de surdez unilateral não se qualifica como pessoa com deficiência para o fim de
disputar as vagas reservadas em concursos públicos.
• Aprovada em 04/11/2015, DJe 09/11/2015.
• Importante.
• Vide também a Súmula 377-STJ: O portador de visão monocular tem direito de concorrer, em concurso
público, às vagas reservadas aos deficientes.

JURISPRUDÊNCIA EM TESES
Improbidade Administrativa
É lícita a cumulação de pedidos de natureza condenatória, declaratória e constitutiva na ação civil pública
por ato de improbidade administrativa.

Na ação civil pública por ato de improbidade administrativa, é cabível a compensação por danos morais na
defesa de interesse difuso ou coletivo.

É viável o prosseguimento de ação de improbidade administrativa exclusivamente contra particular quando


há pretensão de responsabilizar agentes públicos pelos mesmos fatos em outra demanda conexa.

Processo Administrativo Disciplinar


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Na via do mandado de segurança, é possível valorar a congruência entre a conduta apurada e a capitulação
da pena de demissão aplicada no processo administrativo disciplinar.
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Em regra, a instauração de processo administrativo disciplinar contra servidor efetivo cedido dar-se-á no
órgão em que tenha sido praticada a suposta irregularidade (cessionário), devendo o julgamento e a eventual
aplicação de sanção ocorrer no órgão ao qual o servidor efetivo estiver vinculado (cedente).

Reconhecida a nulidade de PAD pela existência de vício insanável, antes do seu julgamento, não há que se
falar em reformatio in pejus quando a segunda comissão processante opina por penalidade mais gravosa

O indeferimento de produção de provas pela comissão processante, não causa nulidade do Processo
Administrativo Disciplinar - PAD, desde que motivado nos termos do art. 156, §§ 1º e 2º, da Lei n. 8.112/1990.
Art. 156 (...) § 1º O presidente da comissão poderá denegar pedidos considerados impertinentes, meramente
protelatórios, ou de nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos.
§ 2º Será indeferido o pedido de prova pericial, quando a comprovação do fato independer de conhecimento
especial de perito.

É dispensável a transcrição integral de diálogos colhidos em interceptação telefônica no âmbito do PAD, pois
tal obrigatoriedade não encontra amparo legal.

Conselhos de Fiscalização Profissional


Os conselhos profissionais têm poder de polícia para fiscalizar as profissões regulamentadas, inclusive no que
concerne à cobrança de anuidades e à aplicação de sanções.

A partir da vigência da Lei nº 12.514/2011, o fato gerador para a cobrança de anuidades de órgão de
fiscalização profissional é o registro no conselho e não mais o efetivo exercício da profissão.

As anuidades devidas aos conselhos profissionais constituem contribuição de interesse das categorias
profissionais, de natureza tributária, sujeita a lançamento de ofício.

Não se aplica o art. 20 da Lei nº 10.522/2002, que determina o arquivamento provisório das execuções de
pequeno valor, às execuções fiscais propostas pelos conselhos regionais de fiscalização profissional.

Em execução fiscal ajuizada por conselho de fiscalização profissional, seu representante judicial possui a
prerrogativa de ser pessoalmente intimado. (Recurso Repetitivo - Tema 580)

Intervenção do Estado na Propriedade


O ato de tombamento geral não precisa individualizar os bens abarcados pelo tombo, pois as restrições
impostas pelo Decreto-Lei n. 25/1937 se estendem à totalidade dos imóveis pertencentes à área tombada.

É indevido o direito à indenização se o imóvel expropriado foi adquirido após a imposição de limitação
administrativa, porque se supõe que as restrições de uso e gozo da propriedade já foram consideradas na
fixação do preço do imóvel.

Construção ou atividade irregular em bem de uso comum do povo revela dano presumido à coletividade,
dispensada prova de prejuízo em concreto.

DIREITO FINANCEIRO
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Princípio da intranscendência e entidade integrante de consórcio público com pendência no CAUC


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Se um consórcio público celebrou convênio com a União por meio do qual estão previstos repasses federais,
o fato de um dos entes integrantes do consórcio possuir pendência inscrita no CAUC não pode impedir que

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o consórcio receba os valores prometidos. Isso porque o consórcio público é uma pessoa jurídica distinta dos
entes federativos que o integram e, segundo o princípio da intranscendência das sanções, as punições
impostas não podem superar a dimensão estritamente pessoal do infrator, ou seja, não podem prejudicar
outras pessoas jurídicas que não sejam aquelas que praticaram o ato.
Assim, o fato de ente integrante de consórcio público possuir pendência no Serviço Auxiliar de Informações
para Transferências Voluntárias (CAUC) não impede que o consórcio faça jus, após a celebração de convênio,
à transferência voluntária a que se refere o art. 25 da LC 101/2000.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.463.921-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 10/11/2015 (Info 577).

Inconstitucionalidade de lei estadual que amplia os limites máximos de gastos com pessoal fixados pela LRF
A Lei de Responsabilidade Fiscal, cumprindo o que determina o art. 169 da CF/88, estabelece, em seus arts.
19 e 20, valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de
pessoal.
É inconstitucional lei estadual que amplia os limites máximos de gastos com pessoal fixados pelos arts. 19 e
20 da Lei de Responsabilidade (LC 101/2000).
O art. 169 da CF/88 determina que a despesa com pessoal da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar. Esta lei complementar de que
trata a Constituição é uma lei complementar nacional que, no caso, é a LC 101/2000.
A legislação estadual, ao fixar limites de gastos mais generosos, viola os parâmetros normativos contidos na
LRF, e, com isso, usurpa a competência da União para dispor sobre o tema.
STF. Plenário. ADI 5449 MC-Referendo/RR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/3/2016 (Info 817).

Pavimentação e drenagem também não são consideradas como ação social


A restrição para transferência de recursos federais a Município que possui pendências no Cadastro Único de
Exigências para Transferências Voluntárias (CAUC) não pode ser suspensa sob a justificativa de que os
recursos destinam-se à pavimentação e drenagem de vias públicas. Essas atividades (pavimentação e
drenagem) não podem ser enquadradas no conceito de ação social previsto no art. 26 da Lei 10.522/2002.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.372.942-AL, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 1º/4/2014 (Info 539).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.527.308-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 16/6/2015 (Info 566).

Inconstitucionalidade e lei estadual que permita que Estado utilize verbas dos depósitos judiciais
Diversos Estados têm editado leis complementares estaduais prevendo que o Poder Executivo pode utilizar
os valores constantes dos depósitos judiciais não apenas relacionados com processos em que os Estados
fossem parte, mas também oriundos de outros feitos em que estivessem litigando somente particulares. Tais
leis estão sendo questionadas por meio de ADIs propostas pelo Procurador Geral da República. É o caso, por
exemplo, da LC 42/2015, do Estado da Bahia.
O STF tem entendido, ainda em um juízo sumário e provisório, que tais leis estaduais são inconstitucionais
por violarem:
1) O princípio da separação dos poderes.
2) A iniciativa privativa legislativa da União (art. 22, I, da CF/88).
3) A LC federal 151/2015 apenas autoriza o levantamento de 70% dos valores que sejam objeto de depósitos
vinculados a processos em que os entes federados sejam parte.
STF. Plenário. ADI 5409 MC-Referendo/BA, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 25/11/2015 (Info 809).

É indispensável a efetiva participação do Poder Judiciário e do Ministério Público no ciclo orçamentário,


não podendo ser imposta limitação de despesas na folha complementar desses órgãos sem a sua
participação nessa estipulação
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É indispensável a efetiva participação do Poder Judiciário e do Ministério Público no ciclo orçamentário, sob
pena da respectiva norma incidir em inconstitucionalidade por afronta à sistemática orçamentária e
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financeira prevista na Constituição Federal (art. 99, § 1º; art. 127, §§ 3º a 6º; e art. 168, caput).

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STF. Plenário. ADI 7340 MC-Ref/CE, Rel. Min. André Mendonça, julgado em 20/03/2023 (Info 1087).

É constitucional o art. 1º, § 8º da LC 156/2016; o dispositivo exige dos Estados/DF a desistência de ações
judiciais para a concessão de prazo adicional de até 240 meses para o pagamento de dívidas refinanciadas
com a União
É constitucional — por ausência de ofensa aos princípios da inafastabilidade da jurisdição e aos postulados
da razoabilidade e da proporcionalidade — dispositivo legal que, nos contratos de refinanciamento das
dívidas dos estados e do Distrito Federal com a União, impõe como condição para a concessão e a
manutenção dos benefícios previstos na lei a desistência e o não ajuizamento de ações judiciais que tenham
por objeto a dívida ou o contrato renegociado.
STF. Plenário. ADI 7168/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/02/2023 (Info 1083).

O chamado orçamento secreto é inconstitucional


É vedada a utilização das emendas do relator-geral do orçamento com a finalidade de criar novas despesas
ou de ampliar as programações previstas no projeto de lei orçamentária anual, uma vez que elas se destinam,
exclusivamente, a corrigir erros e omissões (art. 166, § 3º, III, alínea “a”, da CF/88).
STF. Plenário. ADPF 850/DF, ADPF 851/DF, ADPF 854/DF e ADPF 1.014/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados
em 19/12/2022 (Info 1080).

São inconstitucionais as decisões judiciais que determinam a constrição de receitas públicas da saúde
vinculadas ao pagamento de contratos de gestão firmados entre o Estado e uma organização social
São inconstitucionais — por violarem os princípios da separação de Poderes, da legalidade orçamentária, da
eficiência administrativa e da continuidade dos serviços públicos — decisões judiciais que determinam a
penhora ou o bloqueio de receitas públicas destinadas à execução de contratos de gestão para o pagamento
de despesas estranhas aos seus objetos.
STF. Plenário. ADPF 1012/PA, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 12/12/2022 (Info 1079).

É constitucional a indenização por incapacidade ou morte de profissionais da saúde em razão da pandemia


da Covid-19, instituída pela Lei 14.128/2021
É constitucional norma federal que prevê compensação financeira de caráter indenizatório a ser paga pela
União por incapacidade permanente para o trabalho ou morte de profissionais da saúde decorrentes do
atendimento direto a pacientes acometidos pela Covid-19.
STF. Plenário. ADI 6970/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/8/2022 (Info 1065).

É inconstitucional norma estadual que dispõe sobre valores correspondentes a depósitos judiciais e
extrajudiciais de terceiros, ou seja, em que o ente federado não é parte interessada
Lei do Estado de Pernambuco determinou que os depósitos judiciais e extrajudiciais, em dinheiro, à
disposição do poder judiciário estadual ou da Secretaria da Fazenda, deveriam ser efetuados em Conta
Central de Depósitos Procedimentais.
Ao fazer isso, o legislador estadual usurpou a competência da União para legislar sobre: a) o Sistema
Financeiro Nacional (art. 21, VIII); b) a política de crédito e transferência de valores (arts. 22, VII, e 192); c)
direito civil e processual (art. 22, I); e d) normas gerais de direito financeiro (art. 24, I), atuando, neste último
caso, além dos limites de sua competência suplementar, pois previu hipóteses e finalidades não estabelecidas
em normas gerais editadas pela União.
Quanto ao aspecto material, a lei violou a separação dos poderes ao possibilitar o uso e administração, pelo
Poder Executivo, de numerário de terceiros, cujo depositário é o Judiciário. O tratamento legal impugnado
77

ainda afronta o direito de propriedade dos jurisdicionados ─ pois configura expropriação de recursos a eles
pertencentes ─; caracteriza empréstimo compulsório não previsto no art. 148 da CF/88; bem como cria
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endividamento fora das hipóteses de dívida pública permitidas pela Constituição.

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STF. Plenário. ADI 6660/PE, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 20/6/2022 (Info 1060).

A progressão funcional não está elencada no rol de proibições do art. 22, parágrafo único, da LRF (limite
prudencial)
É ilegal o ato de não concessão de progressão funcional de servidor público, quando atendidos todos os
requisitos legais, a despeito de superados os limites orçamentários previstos na Lei de Responsabilidade
Fiscal, referentes a gastos com pessoal de ente público, tendo em vista que a progressão é direito subjetivo
do servidor público, decorrente de determinação legal, estando compreendida na exceção prevista no inciso
I do parágrafo único do art. 22 da Lei Complementar n. 101/2000.
STJ. 1ª Seção. REsp 1878849-TO, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador Convocado do TRF da 5ª região),
julgado em 24/02/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1075) (Info 726).

São inconstitucionais atos de constrição, por decisão judicial, do patrimônio de estatais prestadoras de
serviço público essencial, em regime não concorrencial e sem intuito lucrativo primário, para fins de
quitação de suas dívidas
Os recursos públicos vinculados ao orçamento de estatais prestadoras de serviço público essencial, em
regime não concorrencial e sem intuito lucrativo primário, não podem ser bloqueados ou sequestrados por
decisão judicial para pagamento de suas dívidas, em virtude do disposto no art. 100 da CF/88, e dos princípios
da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88), da separação dos poderes (arts. 2º, 60, § 4º, III, da CF/88)
e da eficiência da administração pública (art. 37, caput, da CF/88).
STF. Plenário. ADPF 789/MA, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/8/2021 (Info 1026).

Constituição Estadual não pode impor tratar sobre as emendas parlamentares impositivas com percentuais
diferentes daquilo que está previsto na Constituição Federal
É inconstitucional norma estadual que estabeleça limite para aprovação de emendas parlamentares
impositivas em patamar diferente do imposto pelo art. 166 da Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 6670 MC/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 30/4/2021 (Info 1015).

Análise da constitucionalidade da Lei de Responsabilidade Fiscal


A Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF (Lei Complementar nº 101/2000) é formalmente constitucional, não
houve qualquer vício na tramitação do projeto, tendo sido respeitado o devido processo legislativo.
No que tange ao aspecto material, o STF declarou a constitucionalidade dos arts. 4º, § 2º, II, e § 4º; 7º, caput
e § 1º; 11, parágrafo único; 14, II; 17, §§ 1º a 7º; 18, § 1º; 20; 24; 26, § 1º; 28, § 2º; 29, I, e § 2º; 39; 59, § 1º,
IV; 60; e 68, caput, da LRF.
Por outro lado, o STF julgou inconstitucionais o art. 9º, § 3º, o caput dos arts. 56 e 57 e o § 2º do art. 23.
Quanto ao § 1º do art. 23, da LRF, o STF declarou a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, de
modo a obstar interpretação segundo a qual é possível reduzir valores de função ou cargo que estiver
provido.

Art. 9º, § 3º
Veja o que diz o § 3º do art. 9º:
Art. 9º Se verificado, ao final de um bimestre, que a realização da receita poderá não comportar o
cumprimento das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os
Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias
subsequentes, limitação de empenho e movimentação financeira, segundo os critérios fixados pela lei de
diretrizes orçamentárias. (...) § 3º No caso de os Poderes Legislativo e Judiciário e o Ministério Público não
78

promoverem a limitação no prazo estabelecido no caput, é o Poder Executivo autorizado a limitar os valores
financeiros segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias.
Página

Com relação ao § 3º do art. 9º, o STF entendeu que a norma prevista não guarda pertinência com o modelo
de freios e contrapesos estabelecido constitucionalmente para assegurar o exercício responsável da

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autonomia financeira por parte dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Ministério Público. Isso porque o
dispositivo estabelece inconstitucional hierarquização subserviente em relação ao Executivo, permitindo
que, unilateralmente, limite os valores financeiros segundo os critérios fixados pela Lei de Diretrizes
Orçamentárias no caso daqueles outros dois Poderes e instituição não promoverem a limitação no prazo
fixado no caput.

Caput dos arts. 56 e 57


Esses dispositivos preveem o seguinte:
Art. 56. As contas prestadas pelos Chefes do Poder Executivo incluirão, além das suas próprias, as dos
Presidentes dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Chefe do Ministério Público, referidos no
art. 20, as quais receberão parecer prévio, separadamente, do respectivo Tribunal de Contas.
Art. 57. Os Tribunais de Contas emitirão parecer prévio conclusivo sobre as contas no prazo de sessenta dias
do recebimento, se outro não estiver estabelecido nas constituições estaduais ou nas leis orgânicas
municipais.

O STF considerou que houve um desvirtuamento do modelo previsto nos arts. 71 e seguintes da CF/88.
A Constituição determina que as contas do Poder Executivo englobarão todas as contas, receberão um
parecer conjunto do Tribunal de Contas, e serão julgadas pelo Congresso.
No caso do Judiciário, do Ministério Público e do Legislativo, o Tribunal de Contas julga as contas, e não
apenas dá um parecer prévio.

Art. 23, § 1º e art. 23, § 2º


Veja a redação dos dispositivos:
Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultrapassar os limites definidos
no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser
eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre
outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.
§ 1º No caso do inciso I do § 3º do art. 169 da Constituição, o objetivo poderá ser alcançado tanto pela
extinção de cargos e funções quanto pela redução dos valores a eles atribuídos.
§ 2º É facultada a redução temporária da jornada de trabalho com adequação dos vencimentos à nova carga
horária.

Quanto ao § 1º do art. 23, da LRF, o STF declarou a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, de
modo a obstar interpretação segundo a qual é possível reduzir valores de função ou cargo que estiver
provido.
Quanto ao § 2º do art. 23, declarou a sua inconstitucionalidade.

É inconstitucional qualquer interpretação de dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal que permita a


redução de vencimentos de servidores públicos para a adequação de despesas com pessoal.
É inconstitucional o § 2º do art. 23 da LRF, que faculta a redução temporária da jornada de trabalho com
adequação dos vencimentos à nova carga horária, caso sejam ultrapassados os limites definidos na lei para
despesas com pessoal nas diversas esferas do poder público. Essa possibilidade de redução fere o princípio
constitucional da irredutibilidade de vencimentos (art. 37, XV, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 2238/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 24/6/2020 (Info 983).

Os Estados podem legislar sobre índices de correção monetária e taxas de juros incidentes sobre créditos
fiscais, desde que não seja superior ao índice estabelecido pela União.
Os estados-membros e o Distrito Federal podem legislar sobre índices de correção monetária e taxas de juros
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de mora incidentes sobre seus créditos fiscais, limitando-se, porém, aos percentuais estabelecidos pela União
Página

para os mesmos fins

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STF. Plenário. ARE 1216078 RG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/08/2019 - Repercussão Geral – Tema
1062.

Os Estados, DF e Municípios possuem direito à arrecadação do IR retido na fonte, incidente sobre


rendimentos pagos por eles, suas autarquias e fundações a pessoas físicas ou jurídicas contratadas para a
prestação de bens ou serviços
Pertence ao Município, aos Estados e ao Distrito Federal a titularidade das receitas arrecadadas a título de
imposto de renda retido na fonte incidente sobre valores pagos por eles, suas autarquias e fundações a
pessoas físicas ou jurídicas contratadas para a prestação de bens ou serviços, conforme disposto nos arts.
158, I, e 157, I, da Constituição Federal.
STF. Plenário. RE 1293453/RS, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 8/10/2021 (Repercussão Geral –
Tema 1130) (Info 1033).

É inconstitucional o bloqueio de recursos públicos federais transferidos às Associações de Pais e Professores


(APPs) pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para a implementação do Programa
Dinheiro Direto na Escola (PDDE)
Ofendem os princípios da legalidade orçamentária, da separação dos Poderes e da continuidade da prestação
dos serviços públicos as decisões judiciais que, com o objetivo de satisfazer créditos trabalhistas, determinam
o bloqueio de recursos públicos federais transferidos às Associações de Pais e Professores (APPs) pelo Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para a implementação do Programa Dinheiro Direto na
Escola (PDDE).
STF. Plenário. ADPF 988/SC, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/10/2022 (Info 1072).

É constitucional norma estadual que prevê a assunção de obrigações financeiras resultantes de sentença
judicial proferida após a privatização de sociedade de economia mista prestadora de serviço público pelo
respectivo estado
A Lei Estadual 7.514/2000, do Maranhão, autorizou que o governo do Estado assumisse as obrigações
financeiras resultantes de sentença judicial proferida após a privatização da Companhia Energética do
Maranhão S.A. – CEMAR, sociedade de economia mista prestadora de serviço público.
A assunção excepcional de despesas extraordinárias, ocorrida no contexto do processo de desestatização,
traduz matéria pertinente ao direito administrativo, não caracterizando hipótese de competência legislativa
da União em matéria de direito civil.
As vedações indicadas nos incisos II, V e VII do art. 167 da CF/88 referem-se às condutas do administrador
público quanto à execução orçamentária, e não do legislador, responsável pela elaboração da lei impugnada.
O Estado não assumiu obrigações futuras da empresa, pois o âmbito de aplicação da lei estadual questionada
restringe-se às obrigações anteriores à privatização e decorrentes de decisões transitadas em julgado.
STF. Plenário. ADI 5271/MA, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 26/8/2022 (Info 1065).

Se o Estado-membro utiliza em outras áreas determinadas verbas que deveriam aplicadas na saúde, ele
deverá ser condenado a aplicar agora a integralidade da quantia na saúde
O Estado-membro que desrespeita o mínimo constitucional que deve ser aplicado na saúde, realocando
recurso em programa diverso, deve devolvê-lo à sua área de origem em sua totalidade.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.752.162/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 13/04/2021 (Info 692).

LC federal deve fixar os valores mínimos a serem aplicados anualmente pelos Estados, Distrito Federal e
Municípios em ações e serviços públicos de saúde, não podendo norma de Constituição estadual ou lei
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orgânica prever esses percentuais


A LC federal 141/2012 fixa os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela União, Estados, Distrito
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Federal e Municípios em ações e serviços públicos de saúde.

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O art. 11 desta Lei estabelece que as Constituições dos Estados ou as Leis Orgânicas dos Municípios podem
fixar valores mais altos do que o previsto na LC 141/2012 de repasses em prol da saúde.
O STF julgou inconstitucional esse art. 11 da LC 141/2012 porque, segundo o art. 198, § 3º, I, da CF/88, os
percentuais mínimos que os Estados, DF e Municípios são obrigados a aplicar na saúde devem estar previstos
em lei complementar federal editada pelo Congresso Nacional, não podendo isso ser delegado para os
Estados/DF e Municípios.
Além disso, o STF afirmou que são inconstitucionais normas da Constituição Estadual que prevejam
percentuais de aplicação mínima na saúde em patamares diferentes daquele fixado pela Lei complementar
federal.
STF. Plenário. ADI 5897/SC, Rel. Min. Luz Fux, julgado em 24/4/2019 (Info 938).

DIREITO TRIBUTÁRIO
Regra da anterioridade nonagesimal e lei de conversão da MP
Nos casos em que a majoração de alíquota tenha sido estabelecida somente na lei de conversão, o termo
inicial da contagem é a data da conversão da medida provisória em lei.
STF. Plenário. RE 568503/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 12/2/2014 (Info 735).

Norma que altera o prazo de pagamento do tributo


Súmula vinculante 50-STF: Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária não se
sujeita ao princípio da anterioridade.

A revogação de benefício fiscal deverá obedecer ao princípio da anterioridade tributária


O ato normativo que revoga um benefício fiscal anteriormente concedido configura aumento indireto do
tributo e, portanto, está sujeito ao princípio da anterioridade tributária.
A jurisprudência do STF concebe que não apenas a majoração direta de tributos atrai a eficácia da
anterioridade nonagesimal, mas também a majoração indireta decorrente de revogação de benefícios fiscais.
Assim, a alteração em programa fiscal, quando acarretar indiretamente a majoração de tributos, deve
respeitar o princípio da anterioridade nonagesimal.
É a posição que prevalece.
STF. 1ª Turma. RE 1053254 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 26/10/2018.
STF. 1ª Turma. RE 983821 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 03/04/2018.
STF. 2ª Turma. RE 1091378 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 31/08/2018.

Obs: a redução ou a extinção de desconto para pagamento de tributo sob determinadas condições previstas
em lei, como o pagamento antecipado em parcela única, não pode ser equiparada à majoração do tributo
(STF. Plenário. ADI 4016 MC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 01/08/2008).

A imunidade tributária do art. 149, § 2º, I, da CF/88 abrange o PIS/Cofins que incidiria sobre o frete
contratado por trading companies
Não incide a contribuição para o PIS e a COFINS sobre as receitas auferidas pelo operador de transporte com
o serviço de frete contratado por trading companies.
STF. Plenário. RE 1367071 AgR-EDv/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Min. Alexandre
de Moraes, julgado em 17/02/2023 (Info 1083).

Incide a imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal), no caso de contrato de
alienação fiduciária em que pessoa jurídica de direito público figure como devedora
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Não incide IPVA sobre veículo automotor adquirido, mediante alienação fiduciária, por pessoa jurídica de
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direito público.

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STF. Plenário. RE 727851, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 685) (Info
985).

As Caixas de Assistência de Advogados gozam de imunidade tributária recíproca


As Caixas de Assistência de Advogados encontram-se tuteladas pela imunidade recíproca prevista no art. 150,
VI, “a”, da Constituição Federal.
A Caixa de Assistência dos Advogados é um “órgão” integrante da estrutura da OAB, mas que possui
personalidade jurídica própria. Sua finalidade principal é prestar assistência aos inscritos no respectivo no
Conselho Seccional (art. 62 da Lei nº 8.906/94).
As Caixas de Assistências prestam serviço público delegado e possuem status jurídico de ente público. Vale
ressaltar ainda que elas não exploram atividades econômicas em sentido estrito com intuito lucrativo. Diante
disso, devem gozar da imunidade recíproca, tendo em vista a impossibilidade de se conceder tratamento
tributário diferenciado a órgãos integrantes da estrutura da OAB.
STF. Plenário. RE 405267/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/9/2018 (Info 914).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de


imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)
Os bens e direitos que integram o patrimônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial
(PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da
Constituição Federal.
STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

As organizações assistenciais religiosas podem ser abrangidas pela imunidade tributária prevista no art.
150, VI, “c”, da CF/88
As entidades religiosas podem se caracterizar como instituições de assistência social a fim de se beneficiarem
da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, ‘c’, da Constituição, que abrangerá não só os impostos sobre
o seu patrimônio, renda e serviços, mas também os impostos sobre a importação de bens a serem utilizados
na consecução de seus objetivos estatutários.
STF. Plenário. RE 630790/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/3/2022 (Repercussão Geral – Tema
336) (Info 1047).

CEBAS possui natureza declaratória, retroagindo seus efeitos


Súmula 612-STJ: O certificado de entidade beneficente de assistência social (CEBAS), no prazo de sua
validade, possui natureza declaratória para fins tributários, retroagindo seus efeitos à data em que
demonstrado o cumprimento dos requisitos estabelecidos por lei complementar para a fruição da
imunidade.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 09/05/2018, DJe 14/05/2018 (Info 624).

A imunidade tributária estabelecida no art. 150, VI, “c”, da CF/88 abrange o IOF incidente inclusive sobre
operações financeiras praticadas pelas entidades mencionadas no dispositivo, desde que vinculadas às
finalidades essenciais dessas instituições
A imunidade assegurada pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição da República aos partidos políticos, inclusive
suas fundações, às entidades sindicais dos trabalhadores e às instituições de educação e de assistência social,
sem fins lucrativos, que atendam aos requisitos da lei, alcança o IOF, inclusive o incidente sobre aplicações
financeiras.
STF. Plenário. RE 611510/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/4/2021 (Repercussão Geral – Tema 328)
(Info 1012).
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Empresas públicas e sociedades de economia mista


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Embora a CF/88 reconheça a imunidade recíproca apenas às pessoas políticas (Administração direta),
autarquias e fundações, a jurisprudência estende o benefício também às empresas públicas e às sociedades
de economia mista, desde que prestadoras de serviço público.
Assim, as empresas públicas e sociedades de economia mista que desempenham serviços públicos também
desfrutam da referida imunidade.
Por outro lado, se a empresa pública ou sociedade de economia mista explorar atividade econômica, não irá
gozar do benefício, porque a ela deve ser aplicado o mesmo regime jurídico da iniciativa privada (art. 173, §
1º, II, da CF/88).

Correios e IPVA
Os veículos automotores pertencentes aos Correios são imunes à incidência do IPVA por força da imunidade
tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88).
STF. Plenário. ACO 879/PB, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 26/11/2014
(Info 769).

Correios e Imunidade nos serviços de transporte de bens e mercadorias


Como vimos acima, os Correios gozam de imunidade tributária porque são uma empresa pública que
desempenha serviços públicos. Até aqui, tudo bem.
Ocorre que os Correios, além das atividades que desenvolvem de forma exclusiva, como é o caso da entrega
de cartas, também realizam alguns serviços em concorrência com a iniciativa privada (ex.: entrega de
encomendas).

Quando os Correios realizam o serviço de transporte de bens e mercadorias, concorrendo, portanto, com a
iniciativa privada, ainda assim gozam de imunidade? Ficam livres de pagar ICMS?
SIM. O STF decidiu que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos — ECT goza de imunidade tributária
recíproca mesmo quando realiza o transporte de bens e mercadorias.
Assim, não incide o ICMS sobre o serviço de transporte de bens e mercadorias realizado pelos Correios.
STF. Plenário. RE 627051/PE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 12/11/2014 (Info 767).

Correios, IPTU e presunção de que o imóvel é utilizado para as suas finalidades essenciais
Imagine que o Município cobrou IPTU dos Correios relativo a um imóvel pertence à empresa. Os Correios
invocaram sua imunidade tributária. O Município respondeu argumentando que a imunidade não poderia
ser aplicada em relação àquele imóvel porque ele não estaria relacionado às finalidades essenciais da
empresa.

Para que a entidade goze de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”), ela terá que provar que o seu
imóvel está relacionado às suas finalidades essenciais ou existe uma presunção nesse sentido?
Existe uma presunção nesse sentido. Assim, o ônus de provar que o imóvel não está afetado a destinação
compatível com os objetivos e finalidades institucionais de entidade autárquica recai sobre o ente tributante.
Em palavras mais simples, se o Município quer tributar o imóvel pertencente à autarquia, fundação, empresa
pública ou sociedade de economia mista, ele é quem deverá provar que o referido bem não merece gozar da
imunidade.
Há uma presunção de que o imóvel da entidade está vinculado às suas finalidades essenciais STJ. 1ª Turma.
AgRg no AREsp 304.126-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 13/8/2013 (Info 527).

Sociedade de economia mista, cujas ações são negociadas na Bolsa, e que está voltada à remuneração do
capital de seus controladores ou acionistas, não tem direito à imunidade tributária recíproca, mesmo que
preste serviço público
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Sociedade de economia mista, cuja participação acionária é negociada em Bolsas de Valores, e que,
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inequivocamente, está voltada à remuneração do capital de seus controladores ou acionistas, não está

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abrangida pela regra de imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição, unicamente em
razão das atividades desempenhadas.
STF. Plenário. RE 600867, Rel. Joaquim Barbosa, Relator p/ Acórdão Luiz Fux, julgado em 29/06/2020
(Repercussão Geral – Tema 508) (Info 993 – clipping).

Sociedade de economia mista estadual prestadora exclusiva do serviço público de abastecimento de água
potável e coleta e tratamento de esgotos sanitários faz jus à imunidade tributária recíproca
Sociedade de economia mista estadual prestadora exclusiva do serviço público de abastecimento de água
potável e coleta e tratamento de esgotos sanitários faz jus à imunidade tributária recíproca sobre impostos
federais incidentes sobre patrimônio, renda e serviços.
Para a extensão da imunidade tributária recíproca da Fazenda Pública a sociedades de economia mista e
empresas públicas, é necessário preencher 3 (três) requisitos:
a) a prestação de um serviço público;
b) a ausência do intuito de lucro e
c) a atuação em regime de exclusividade, ou seja, sem concorrência.
STF. Plenário. ACO 3410/SE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/4/2022 (Info 1051).

Empresa privada com finalidade lucrativa e que for arrendatária de imóvel público não goza de imunidade
tributária
A imunidade recíproca, prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal, não se estende a empresa
privada arrendatária de imóvel público, quando seja ela exploradora de atividade econômica com fins
lucrativos. Nessa hipótese é constitucional a cobrança do IPTU pelo Município.
Ex: a União, proprietária de um grande terreno localizado no Porto de Santos, arrendou este imóvel para a
Petrobrás (sociedade de economia mista), que utiliza o local para armazenar combustíveis. Antes do
arrendamento, a União não pagava IPTU com relação a este imóvel em virtude da imunidade tributária
recíproca. Depois que houve o arrendamento, a Petrobrás passa a ter que pagar o imposto.
STF. Plenário. RE 594015/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 6/4/2017 (repercussão geral) (Info 860).

Isenção de imposto de renda sobre proventos oriundos de previdência privada complementar para
portadores de doenças graves
São isentos do imposto de renda os proventos percebidos de fundo de previdência privada a título de
complementação da aposentadoria por pessoa física acometida de uma das doenças arroladas no art. 6º,
XIV, da Lei 7.713/1988.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.507.320-RS, Rel. Min. Humberto Martins, j. em 10/2/2015 (Info 556).

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RELIGIOSA


Se a entidade religiosa possui um imóvel e o aluga a um terceiro, esse bem é imune (estará livre do
pagamento de IPTU)?
SIM, desde que o dinheiro seja utilizado nas atividades essenciais da Igreja.
Súmula vinculante 52-STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel
pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da CF, desde que o valor dos aluguéis seja
aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas.

Obs.: apesar da súmula referir-se à imunidade do art. 150, VI, c, seu enunciado também se aplica à imunidade
religiosa prevista no art. 150, VI, b.

A entidade religiosa goza de imunidade tributária sobre o cemitério utilizado em suas celebrações?
84

Sim, desde que este cemitério seja uma extensão da entidade religiosa (STF. Plenário. RE 578.562, Rel. Min.
Eros Grau, julgado em 21/5/2008).
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No caso julgado pelo STF, o cemitério analisado era uma extensão da capela destinada ao culto da religião
anglicana, situada no mesmo imóvel.

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Maçonaria e imunidade religiosa
A maçonaria goza da imunidade religiosa?
NÃO. A 1ª Turma do STF decidiu que as organizações maçônicas não estão incluídas no conceito de “templos
de qualquer culto” ou de “instituições de assistência social” para fins de concessão da imunidade tributária
prevista no art. 150, VI, b e c, da CF.
Segundo entendeu o STF, a maçonaria seria uma ideologia de vida e não uma religião.
Logo, as organizações maçônicas devem pagar IPTU e os demais impostos.
STF. 1ª Turma. RE 562351/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 4/9/2012 (Info 678).

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DE ENTIDADES EDUCACIONAIS E ASSISTENCIAIS


Súmula vinculante 52-STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel
pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da CF, desde que o valor dos aluguéis seja
aplicado nas atividades para as quais tais entidades foram constituídas.

O fato de o imóvel estar vago ou sem edificação não é suficiente, por si só, para retirar a imunidade
tributária
E se o imóvel da instituição de ensino estiver vago ou não edificado, ele, mesmo assim, gozará da imunidade?
SIM. O fato de o imóvel estar vago ou sem edificação não é suficiente, por si só, para retirar a garantia
constitucional da imunidade tributária. Não é possível considerar que determinado imóvel está voltado a
finalidade diversa da exigida pelo interesse público apenas pelo fato de, momentaneamente, estar sem
edificação ou ocupação.
Em suma, essa imunidade tributária é aplicada aos bens imóveis, temporariamente ociosos, de propriedade
das instituições de educação e de assistência social sem fins lucrativos que atendam os requisitos legais.
STF. 1ª Turma. RE 385091/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/8/2013 (Info 714).
STF. Plenário. RE 767332/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 31/10/2013.

Entidade de assistência social que exerce atividade econômica


Determinada entidade de assistência social sem fins lucrativos que atende pessoas com deficiência explora
uma agência franqueada dos Correios. Em outras palavras, ela é proprietária de uma agência franqueada dos
Correios. A renda obtida com essa atividade é revertida integralmente aos fins institucionais dessa entidade.
A venda das mercadorias nessa agência franqueada será imune de ICMS?
NÃO. O STJ decidiu que não há imunidade nesse caso. Isso porque a atividade econômica fraqueada dos
Correios não está relacionada com as finalidades institucionais da entidade de assistência social, ou seja, o
serviço prestado não possui relação com seus trabalhos na área de assistência social, ainda que o resultado
das vendas seja revertido em prol das suas atividades essenciais. Logo, não se pode conceder a imunidade
porque não está preenchido o requisito exposto no ar. 150, § 4º da CF/88 e art. 14, § 2º do CTN.
STJ. 2ª Turma. RMS 46.170-MS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 23/10/2014 (Info 551).

LEI COMPLEMENTAR 187/2021: REGULAMENTA A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DO § 7º DO ART. 195 DA CF/88


A Lei Complementar nº 187/2021:
• regula os procedimentos referentes à imunidade de contribuições à seguridade social de que trata o § 7º
do art. 195 da Constituição Federal;
• dispõe sobre a certificação das entidades beneficentes.

A Constituição Federal conferiu imunidade para as entidades beneficentes de assistência social afirmando
que elas estão dispensadas de pagar contribuições para a seguridade social. Veja:
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Art. 195 (...)


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§ 7º - São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social
que atendam às exigências estabelecidas em lei.

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A lei a que se refere o § 7º é lei complementar ou ordinária?
Lei complementar.

Existe alguma lei que preveja os requisitos que deverão ser atendidos pela entidade para gozar da
imunidade de que trata o § 7º do art. 195 da CF/88?
• Antes da LC 187/2021: utilizava-se o art. 14 do CTN.
• Depois da LC 197/2021: os requisitos legais exigidos na parte final do § 7º do art. 195 passaram a ser aqueles
previstos na LC 197/2021, que foi editada para regulamentar esse dispositivo constitucional.

Os livros eletrônicos gozam de imunidade tributária


A imunidade tributária constante do art. 150, VI, “d”, da Constituição Federal (CF), aplica-se ao livro
eletrônico (“e-book”), inclusive aos suportes exclusivamente utilizados para fixá-lo.
STF. Plenário. RE 330817/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/3/2017 (repercussão geral) (Info 856).

Os componentes eletrônicos que fazem parte de curso em fascículos de montagem de placas gozam de
imunidade tributária
A imunidade da alínea “d” do inciso VI do art. 150 da CF/88 alcança componentes eletrônicos destinados,
exclusivamente, a integrar unidade didática com fascículos.
STF. Plenário. RE 595676/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/3/2017 (repercussão geral) (Info 856).

O maquinário para impressão de livros não goza de imunidade tributária


A imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “d”, da Constituição Federal, não abarca o maquinário
utilizado no processo de produção de livros, jornais e periódicos.
A imunidade tributária visa à garantia e efetivação da livre manifestação do pensamento, da cultura e da
produção cultural, científica e artística. Assim, é extensível a qualquer material assimilável a papel utilizado
no processo de impressão e à própria tinta especial para jornal, mas não é aplicável aos equipamentos do
parque gráfico, que não são assimiláveis ao papel de impressão, por não guardarem relação direta com a
finalidade constitucional do art. 150, VI, “d”, da CF/88.
STF. 1ª Turma. ARE 1100204/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 29/5/2018 (Info 904).

A imunidade tributária subjetiva é aplicada se a entidade imune for contribuinte de fato?


A imunidade tributária subjetiva aplica-se a seus beneficiários na posição de contribuinte de direito, mas não
na de simples contribuinte de fato, sendo irrelevante, para a verificação da existência do beneplácito
constitucional, a repercussão econômica do tributo envolvido.
• Se a entidade imune for contribuinte de direito: incide a imunidade subjetiva.
• Se a entidade imune for contribuinte de fato: não incide a imunidade subjetiva.
STF. Plenário. RE 608872/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, j. em 22 e 23/2/2017 (repercussão geral) (Info 855).

Os requisitos para o gozo de imunidade devem estar previstos em lei complementar


A lei complementar é forma exigível para a definição do modo beneficente de atuação das entidades de
assistência social contempladas pelo art. 195, § 7º, da CF, especialmente no que se refere à instituição de
contrapartidas a serem por elas observadas.
STF. Plenário. ADI 2028/DF, ADI 2036/DF, ADI 2228/DF, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o ac. Min.
Rosa Weber, julgados em 23/2 e 2/3/2017 (Info 855).
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STF. Plenário. RE 566622/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/2/2017 (Info 855).
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Imunidade tributária e obrigações acessórias

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A entidade que goza de imunidade tributária tem o dever de cumprir as obrigações acessórias, dentre elas a
de manter os livros fiscais.
STF. 1ª Turma. RE 250844/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 29/5/2012.

É vedado que a base de cálculo da taxa seja idêntica à do imposto


Súmula vinculante 29-STF: É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos
da base de cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja integral identidade entre uma base
e outra.

Princípio da legalidade tributária e lei que delega a fixação do valor da taxa para ato infralegal, desde que
respeitados os parâmetros máximos
Não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita o ato normativo infralegal fixar o
valor de taxa em proporção razoável com os custos da atuação estatal, valor esse que não pode ser atualizado
por ato do próprio conselho de fiscalização em percentual superior aos índices de correção monetária
legalmente previstos.
STF. Plenário. RE 838284/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 06/10/2016 (repercussão geral) (Info 842).

TEMAS DIVERSOS
Responsabilidade da sucessora em caso de sucessão empresarial
Súmula 554-STJ: Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas
os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos
geradores ocorridos até a data da sucessão.
Ausência de declaração do débito e início do prazo para constituição do crédito tributário
Súmula 555-STJ: Quando não houver declaração do débito, o prazo decadencial quinquenal para o Fisco
constituir o crédito tributário conta-se exclusivamente na forma do art. 173, I, do CTN, nos casos em que a
legislação atribui ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade
administrativa.

O concurso de preferência entre pessoas jurídicas de direito público previsto no parágrafo único do art. 187
do CTN e o parágrafo único do art. 29 da LEF não é compatível com a CF/88
O concurso de preferência entre os entes federados na cobrança judicial dos créditos tributários e não
tributários, previsto no parágrafo único do art. 187 da Lei nº 5.172/66 (Código Tributário Nacional) e no
parágrafo único do art. 29 da Lei nº 6.830/80 (Lei de Execuções Fiscais), não foi recepcionado pela
Constituição Federal de 1988.
A Súmula 563 do STF foi cancelada.
O entendimento contido na Súmula 497 do STJ está superado.
STF. Plenário. ADPF 357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2021 (Info 1023).

Notificação do auto de infração


Súmula 622-STJ: A notificação do auto de infração faz cessar a contagem da decadência para a constituição
do crédito tributário; exaurida a instância administrativa com o decurso do prazo para a impugnação ou com
a notificação de seu julgamento definitivo e esgotado o prazo concedido pela Administração para o
pagamento voluntário, inicia-se o prazo prescricional para a cobrança judicial.

Art. 170-A do CTN


O disposto no art. 170-A do CTN, que exige o trânsito em julgado para fins de compensação de crédito
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tributário, somente se aplica às demandas ajuizadas após a vigência da LC 104/2001, a qual acrescentou o
referido artigo ao CTN.
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STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.240.038-PR, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 8/4/2014 (Info 541).

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Prazo para a restituição do valor pago indevidamente e tributo lançado por homologação
Qual é o prazo prescricional para obter a restituição do valor pago indevidamente no caso de tributos sujeitos
a lançamento por homologação?
• Para ações de repetição de indébito ajuizadas até 8/6/2005: 10 anos.
• Para ações de repetição de indébito ajuizadas a partir de 9/6/2005: 5 anos.
No dia 09/06/2005 entrou em vigor a LC 118/2005, que estabeleceu que, para efeito de repetição de
indébito, a extinção do crédito tributário ocorre, no caso de tributo sujeito a lançamento por homologação,
no momento do pagamento antecipado.
Obs: não importa se o pagamento indevido foi feito antes da LC 118/2005 (09/06/2005). O que interessa
saber é se a ação foi ajuizada antes da LC 118/2005 entrar em vigor.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.269.570-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 23/5/2012.

Pagamento indevido e restituição de tributos indiretos


1) O consumidor final de energia elétrica tem legitimidade ativa para propor ação declaratória cumulada com
repetição de indébito que tenha por escopo afastar a incidência de ICMS sobre a demanda contratada e não
utilizada de energia elétrica.
2) O usuário do serviço de energia elétrica (consumidor em operação interna), na condição de contribuinte
de fato, é parte legítima para discutir pedido de compensação do ICMS supostamente pago a maior no regime
de substituição tributária.
STJ. 1ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1.269.424-SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 23/10/2012.
STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 28.044-ES, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 13/11/2012.

Pedido de compensação ou de restituição e prazo prescricional


Súmula 625-STJ: O pedido administrativo de compensação ou de restituição não interrompe o prazo
prescricional para a ação de repetição de indébito tributário de que trata o art. 168 do CTN nem o da
execução de título judicial contra a Fazenda Pública.

Comprovação necessária para o MS impetrado objetivando a declaração do direito à compensação


tributária
Tratando-se de Mandado de Segurança impetrado com vistas a declarar o direito à compensação tributária,
em virtude do reconhecimento da ilegalidade ou inconstitucionalidade da exigência da exação,
independentemente da apuração dos respectivos valores, é suficiente, para esse efeito, a comprovação de
que o impetrante ocupa a posição de credor tributário, visto que os comprovantes de recolhimento indevido
serão exigidos posteriormente, na esfera administrativa, quando o procedimento de compensação for
submetido à verificação pelo Fisco.
De outro lado, tratando-se de Mandado de Segurança com vistas a obter juízo específico sobre as parcelas a
serem compensadas, com efetiva investigação da liquidez e certeza dos créditos, ou, ainda, na hipótese em
que os efeitos da sentença supõem a efetiva homologação da compensação a ser realizada, o crédito do
contribuinte depende de quantificação, de modo que a inexistência de comprovação cabal dos valores
indevidamente recolhidos representa a ausência de prova pré-constituída indispensável à propositura da
ação.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.715.256-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 13/02/2019 (recurso
repetitivo) (Info 643).

É constitucional o protesto de CDA


O protesto das certidões de dívida ativa constitui mecanismo constitucional e legítimo por não restringir de
forma desproporcional quaisquer direitos fundamentais garantidos aos contribuintes e, assim, não constituir
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sanção política.
STF. Plenário. ADI 5135/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3 e 9/11/2016 (Info 846).
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É possível o protesto de CDA


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A Fazenda Pública possui interesse e pode efetivar o protesto da CDA, documento de dívida, na forma do art.
1º, parágrafo único, da Lei n. 9.492/1997, com a redação dada pela Lei nº 12.767/2012.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.686.659-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/11/2018 (recurso repetitivo)
(Info 643).

Fazendas Públicas estadual ou municipal podem fazer o protesto de CDA mesmo que não exista lei local
autorizando
A validade do protesto de CDA emitida por Fazenda Pública Estadual ou Fazenda Municipal não está
condicionada à previa existência de lei local que autorize a adoção dessa modalidade de cobrança
extrajudicial.
STJ. 1ª Turma. REsp 1895557-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 22/06/2021 (Info 702).

A adesão a programa de parcelamento tributário é causa de suspensão da exigibilidade do crédito e


interrompe o prazo prescricional
A adesão a programa de parcelamento tributário é causa de suspensão da exigibilidade do crédito e
interrompe o prazo prescricional, por constituir reconhecimento inequívoco do débito, nos termos do art.
174, IV, do CTN, voltando a correr o prazo, por inteiro, a partir do inadimplemento da última parcela pelo
contribuinte.
STJ. 2ª Turma. REsp 1922063-PR, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 18/10/2022 (Info 754).
Obs: em verdade, o simples requerimento de parcelamento do crédito tributário já interrompe o prazo
prescricional. Nesse sentido: Súmula 653-STJ: O pedido de parcelamento fiscal, ainda que indeferido,
interrompe o prazo prescricional, pois caracteriza confissão extrajudicial do débito.

Fisco não pode aproveitar lançamento que tenha utilizado critério de base de cálculo inconstitucional,
mesmo que corrija o critério com uma base de cálculo válida, sendo necessário um novo lançamento
Se houve o pagamento do crédito tributário, mas, posteriormente, há declaração de nulidade do lançamento
em razão da inconstitucionalidade da base de cálculo utilizada pelo fisco, o contribuinte tem direito à
restituição do que pagou indevidamente; e o fisco, se não decaído o direito de lançar e houver norma legal
embasadora, deve constituir novo crédito tributário, por meio de outro lançamento, não se podendo
aproveitar o anterior, uma vez que não se admite a correção do critério jurídico anterior.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 2001298-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 29/8/2022 (Info Especial
8).

O parágrafo único do art. 116 do CTN, incluído pela LC 104/2001, é constitucional


Art. 116 (…) Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos
praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos
elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei
ordinária.
A previsão contida no parágrafo único do art. 116 do CTN não viola o texto constitucional.
Esse dispositivo não ofende os princípios constitucionais da legalidade, da estrita legalidade e da tipicidade
tributária, e da separação dos Poderes.
Em verdade, ele confere máxima efetividade a esses preceitos, objetivando, primordialmente, combater a
evasão fiscal, sem que isso represente permissão para a autoridade fiscal de cobrar tributo por analogia ou
fora das hipóteses descritas em lei, mediante interpretação econômica.
O dispositivo apenas viabiliza que a autoridade tributária aplique base de cálculo e alíquota a uma hipótese
de incidência estabelecida em lei e que tenha efetivamente se realizado.
STF. Plenário. ADI 2446/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 8/4/2022 (Info 1050).
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Não é possível conceder, por via judicial, a suspensão da exigibilidade de parcelamento tributário sob o
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argumento dos efeitos deletérios da Covid-19

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Na ausência de legislação estadual específica que conceda o direito à postergação do vencimento ou à
suspensão da exigibilidade das prestações dos parcelamentos de tributos estaduais, não há como se estender
os efeitos de normas aplicáveis no âmbito dos tributos federais ou do Simples Nacional, ou mesmo benefícios
concedidos por outro Estado da Federação, aos tributos devidos em razão da pandemia (Covid-19).
STJ. 2ª Turma. RMS 67443-ES, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 15/03/2022 (Info 729).

O concurso de preferência entre pessoas jurídicas de direito público previsto no parágrafo único do art. 187
do CTN e o parágrafo único do art. 29 da LEF não é compatível com a CF/88
O concurso de preferência entre os entes federados na cobrança judicial dos créditos tributários e não
tributários, previsto no parágrafo único do art. 187 da Lei nº 5.172/66 (Código Tributário Nacional) e no
parágrafo único do art. 29 da Lei nº 6.830/80 (Lei de Execuções Fiscais), não foi recepcionado pela
Constituição Federal de 1988.
A Súmula 563 do STF foi cancelada.
O entendimento contido na Súmula 497 do STJ está superado.
STF. Plenário. ADPF 357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2021 (Info 1023).

É possível condicionar o desembaraço aduaneiro de bens importados ao pagamento de diferenças


apuradas por arbitramento da autoridade fiscal, sem que isso afronte a Súmula 323 do STF, não
configurando sanção política
É constitucional vincular o despacho aduaneiro ao recolhimento de diferença tributária apurada mediante
arbitramento da autoridade fiscal.
STF. Plenário. RE 1090591, Rel. Marco Aurélio, julgado em 16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 1042)
(Info 994 – clipping).

As empresas nacionais que vendem mercadorias para a Zona Franca de Manaus possuem direito ao
benefício fiscal do REINTEGRA
Súmula 640-STJ: O benefício fiscal que trata do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para
as Empresas Exportadoras (REINTEGRA) alcança as operações de venda de mercadorias de origem nacional
para a Zona Franca de Manaus, para consumo, industrialização ou reexportação para o estrangeiro.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 18/02/2020, DJe 19/02/2020.

É inconstitucional lei estadual que verse sobre a responsabilidade de terceiros por infrações de forma
diversa das regras gerais estabelecidas pelo CTN
É formalmente inconstitucional norma estadual que atribui ao contabilista a responsabilidade solidária,
quanto ao pagamento de impostos e de penalidades pecuniárias, no caso de suas ações ou omissões
concorrerem para a prática de infração à legislação tributária.
Tese fixada pelo STF: “É inconstitucional lei estadual que verse sobre a responsabilidade de terceiros por
infrações de forma diversa das regras gerais estabelecidas pelo Código Tributário Nacional”.
STF. Plenário. ADI 6284/GO, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 14/9/2021 (Info 1029).

ESPÉCIES DE TRIBUTOS
Não incidência de IPTU sobre imóvel com destinação rural localizado em área urbana
Não incide IPTU, mas ITR, sobre imóvel localizado na área urbana do Município, desde que
comprovadamente utilizado em exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial (art. 15 do
DL 57/1966).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.112.646/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/08/2009 (Recurso Repetitivo -
Tema 174).
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Incidência de IR sobre adicional de 1/3 de férias gozadas


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Incide imposto de renda sobre o adicional de 1/3 (um terço) de férias gozadas.

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Essa verba tem natureza remuneratória (e não indenizatória) e configura acréscimo patrimonial.
STJ. 1ª Seção. REsp 1459779-MA, Rel. para acórdão Min. Benedito Gonçalves, julgado em 22/04/2015
(recurso repetitivo) (Info 573).

Incide imposto de renda sobre juros de mora?


Incide imposto de renda sobre juros de mora?
REGRA: sim. Isso porque os juros de mora possuem natureza de lucros cessantes e, como vimos acima, incide
imposto de renda sobre lucros cessantes.
EXCEÇÃO 1: não incide IR sobre juros de mora relacionados com o pagamento em atraso de verbas
alimentares.
Os juros de mora decorrentes do pagamento em atraso de verbas alimentares a pessoas físicas escapam à
regra geral da incidência do Imposto de Renda, posto que, excepcionalmente, configuram indenização por
danos emergentes.
EXCEÇÃO 2: não incide IR sobre juros de mora se a verba principal é isenta ou fora do campo de incidência
do IR.
Escapam à regra geral de incidência do Imposto de Renda sobre juros de mora aqueles cuja verba principal
seja isenta ou fora do campo de incidência do IR.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.470.443-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/08/2021 (Recurso
Repetitivo – Tema 878) (Info 706).

Portador de HIV, mesmo sem sintomas de Aids, goza da isenção do imposto de renda prevista no art. 6º,
XIV, da Lei 7.713/88
Independentemente de a pessoa diagnosticada como soropositiva para HIV ostentar sintomas da Síndrome
de Imunodeficiência Adquirida - SIDA/AIDS, deve o contribuinte ser abrangido pela isenção do Imposto sobre
a Renda da Pessoa Física - IRPF.
A isenção de imposto de renda sobre proventos de aposentadoria/reforma em razão de moléstia grave tem
por objetivo desonerar quem se encontra em desvantagem face ao aumento de despesas com o tratamento
da doença. No que diz respeito à contaminação pelo HIV, a literatura médica evidencia que o tempo de
tratamento é vitalício (até surgimento de cura futura e incerta), com uso contínuo de antirretrovirais e/ou
medicações profiláticas de acordo com a situação virológica (carga viral do HIV) e imunológica do paciente.
Logo, não deve haver diferença de tratamento jurídico entre a pessoas que possuem a SIDA/AIDS e aquelas
soropositivas para HIV que não manifestam os sintomas da SIDA/AIDS.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.808.546-DF, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 17/05/2022 (Info 737).

Princípio da não-cumulatividade e redução da base de cálculo equiparada a isenção parcial


A redução da base de cálculo de ICMS equivale à hipótese de isenção parcial, a acarretar a anulação proporcional
de crédito desse mesmo imposto, relativo às operações anteriores, salvo disposição em lei estadual em sentido
contrário. Assim, reduzida a base de cálculo, tem-se impossibilitado o creditamento integral, sem que se possa
falar em ofensa ao princípio da não-cumulatividade (art. 155, § 2º, II, “b”, da CF/88).
Para o STF, a redução de base de cálculo deve ser considerada como se fosse uma “isenção parcial”. Logo,
também acarreta a anulação proporcional do crédito do ICMS relativo às operações anteriores, salvo
disposição em lei estadual em sentido contrário.
Assim, se foi reduzida a base de cálculo do ICMS, não será permitido que a empresa faça o creditamento
integral, sem que se possa falar em ofensa ao princípio da não-cumulatividade (CF, art. 155, § 2º, II, “b”).
Em outras palavras, se houver redução na base de cálculo em uma das operações da cadeia de circulação de
mercadorias, aplica-se a regra do art. 155, § 2º, II, “b”, da CF/88.
STF. Plenário. RE 635688/RS, Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/10/2014 (repercussão geral) (Info 763).
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STF. Plenário. RE 477323/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 16/10/2014 (Info 763).
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Após a EC 33/2001, é constitucional o ICMS sobre a importação de bens

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Após a EC 33/2001, é CONSTITUCIONAL a instituição do ICMS incidente sobre a importação de bens, sendo
irrelevante a classificação jurídica do ramo de atividade da empresa importadora. Antes da EC 33/2001 essa
prática era inconstitucional.
As leis estaduais anteriores à EC 33/2001 que previam a cobrança de ICMS importação para pessoas que não
fossem contribuintes habituais de imposto são inválidas, considerando que o sistema jurídico brasileiro não
contempla a figura da constitucionalidade superveniente.
Para ser constitucionalmente válida a incidência do ICMS sobre operações de importação de bens, as
modificações no critério material na base de cálculo e no sujeito passivo da regra-matriz deveriam ter sido
realizadas em lei posterior à EC 33/2001.
A súmula 660 do STF está superada.
STF. Plenário. RE 439796/PR; RE 474267/RS, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgados em 6/11/2013 (repercussão
geral) (Info 727).

ICMS e Leasing internacional


Há incidência de ICMS no caso de leasing internacional?
REGRA: NÃO. Em regra, não incide o ICMS importação na operação de arrendamento mercantil internacional,
uma vez que no leasing não há, necessariamente, a transferência de titularidade do bem. Em outras palavras,
pode haver ou não a compra. Assim, não incide o imposto se existe a possibilidade de o bem ser restituído
ao proprietário e o arrendatário não efetuar a opção de compra.
EXCEÇÃO: incidirá ICMS importação se ficar demonstrado que houve a antecipação da opção de compra. Isso
ocorre quando não existe a possibilidade de o bem ser restituído ao proprietário, seja por circunstâncias
naturais (físicas), seja porque se trata de insumo.
STF. Plenário. RE 540829/SP, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 11/9/2014 (repercussão geral) (Info
758).
STF. Plenário. RE 226899/SP, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, julgado em
1º/10/2014 (Info 761).

A isenção do art. 3º, II, da LC 87/96 alcança todo o processo de exportação, inclusive as operações e
prestações parciais, como o transporte interestadual
Súmula 649-STJ: Não incide ICMS sobre o serviço de transporte interestadual de mercadorias destinadas ao
exterior.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 28/04/2021, DJe 03/05/2021.

Não cabe ICMS sobre a operação de extração de petróleo e sobre a operação de circulação de petróleo
desde os poços de extração até a empresa concessionária
São inconstitucionais leis estaduais que preveem a incidência do ICMS sobre a operação de extração de
petróleo e sobre a operação de circulação de petróleo desde os poços de extração até a empresa
concessionária.
STF. Plenário. ADI 5481/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/3/2021 (Info 1011).

Súmula 654-STJ
Na apuração do ICMS/ST para medicamentos destinados exclusivamente para uso de hospitais e clínicas,
não se aplicam os valores constantes da tabela de PMC publicada pela ABCFarma
Súmula 654-STJ: A tabela de preços máximos ao consumidor (PMC) publicada pela ABCFarma, adotada pelo
Fisco para a fixação da base de cálculo do ICMS na sistemática da substituição tributária, não se aplica aos
medicamentos destinados exclusivamente para uso de hospitais e clínicas.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 24/08/2022.
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Creditamento de ICMS e nota fiscal posteriormente declarada inidônea


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Súmula 509-STJ: É lícito ao comerciante de boa-fé aproveitar os créditos de ICMS decorrentes de nota fiscal
posteriormente declarada inidônea, quando demonstrada a veracidade da compra e venda.

O valor pago a título de ICMS não deve ser incluído na base de cálculo do PIS/PASEP e COFINS
O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não compõe a base de cálculo para a incidência
da contribuição para o PIS e da COFINS.
STF. Plenário. RE 574706/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/3/2017 (repercussão geral) (Info 857).

Não é possível que, por meio de simples decreto, a pretexto de fixar prazo de pagamento, se exija o
recolhimento antecipado do ICMS na entrada da mercadoria no Estado-membro
A antecipação, sem substituição tributária, do pagamento do ICMS para momento anterior à ocorrência do
fato gerador necessita de lei em sentido estrito.
A substituição tributária progressiva do ICMS reclama previsão em lei complementar federal.
STF. Plenário. RE 598677/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/3/2021 (Repercussão Geral – Tema 456)
(Info 1011).

É simultânea a contagem dos prazos das garantias fundamentais a que se referem os princípios da
anterioridade anual e nonagesimal tributárias, a partir da data da publicação da lei que institui ou majora
o tributo
I - No caso de um tributo sujeito duplamente à anterioridade de exercício e à noventena, a lei que institui ou
majora a imposição somente será eficaz, de um lado, no exercício financeiro seguinte ao de sua publicação
e, de outro, após decorridos noventa dias da data de sua divulgação em meio oficial. Logo, a contar da
publicação da lei, os prazos transcorrem simultaneamente, e não sucessivamente.
II - Não há desvio de finalidade no caso de lei ordinária alterar o aspecto temporal do IPVA para viabilizar, a
um só tempo, o respeito à garantia da anterioridade, inclusive nonagesimal, e viabilizar a tributação dos
veículos automotores pela alíquota majorada no exercício financeiro seguinte ao da publicação desse
diploma legal. Afinal, a finalidade da legislação é lícita e explícita.
III - O princípio da igualdade tributária não resta ofendido na hipótese de um veículo automotor novo
submeter-se a alíquota distinta de IPVA em comparação a outro automóvel adquirido em anos anteriores no
lapso referente aos 90 (noventa) dias da noventena, em certo exercício financeiro. Sendo assim, pela própria
sistemática de tributação do IPVA posta na legislação infraconstitucional, não se cuida de tratamento
desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente.
STF. Plenário. ADI 5282/PR, Rel. Min. André Mendonça, julgado em 17/10/2022 (Info 1072).

ICMS integra a base de cálculo da CPRBC


É constitucional a inclusão do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS na base de cálculo
da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta – CPRB.
STJ. 1ª Seção. REsp 1638772-SC, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 27/04/2022 (Recurso Repetitivo
– Tema 994) (Info 734).

ITCMD pode ser progressivo


A lei pode prever a técnica da progressividade tanto para os impostos pessoais como também para os reais.
O § 1º do art. 145 da CF/88 não proíbe que os impostos reais sejam progressivos.
O ITCMD (que é um imposto real) pode ser progressivo mesmo sem que esta progressividade esteja
expressamente prevista na CF/88.
Ao contrário do que ocorria com o IPTU (Súmula 668-STF), não é necessária a edição de uma EC para que o
ITCMD seja progressivo.
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STF. Plenário. RE 562045/RS, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia,
6/2/2013 (Info 694).
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Incide ISS no fornecimento de programa de computador mediante contrato de licenciamento ou cessão do
direito de uso, tanto para os “softwares” padronizados quanto para aqueles produzidos por encomenda
Incide apenas o imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS), e não o imposto sobre circulação de
mercadorias e serviços (ICMS), nas operações envolvendo o fornecimento de programas de computador
mediante contrato de licenciamento ou cessão do direito de uso, tanto para os “softwares” padronizados
quanto para aqueles produzidos por encomenda e independentemente do meio utilizado para a
transferência, seja por meio de “download” ou por acesso em nuvem.
STF. Plenário. ADI 5659/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/2/2021 (Info 1007).
STF. Plenário. ADI 1945/MT, Rel. Min. Cármen Lúcia, redator do acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em
24/2/2021 (Info 1007).

A lista de serviços que podem ser objeto de ISS (atualmente prevista na LC 116/2003) é uma lista taxativa,
mas que comporta interpretação extensiva, para abarcar outros serviços correlatos (similares) àqueles ali
expressamente previstos
É taxativa a lista de serviços sujeitos ao ISS a que se refere o art. 156, III, da Constituição Federal, admitindo-
se, contudo, a incidência do tributo sobre as atividades inerentes aos serviços elencados em lei em razão da
interpretação extensiva.
STF. Plenário. RE 784439, Rel. Rosa Weber, julgado em 29/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 296) (Info
991 – clipping).

ISS integra a base de cálculo da CPRB


A receita bruta, para fins de determinação da base de cálculo da CPRB, compreende os tributos sobre ela
incidentes.
Tese fixada pelo STF:
É constitucional a inclusão do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza–ISS na base de cálculo da
Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta – CPRB.
STF. Plenário. RE 1285845/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 18/6/2021 (Repercussão Geral – Tema 1135) (Info 1022).

Se um imóvel é incluído dentro da abrangência de uma Estação Ecológica (Unidade de Conservação de


Proteção Integral), deixa de ser devido o pagamento de IPTU
A qualificação de imóvel como estação ecológica limita o direito de propriedade, o que afasta a incidência do
IPTU.
A inclusão do imóvel do particular em Estação Ecológica representa uma evidente limitação administrativa
imposta pelo Estado, ocasionando o esvaziamento completo dos atributos inerentes à propriedade,
retirando-lhe o domínio útil do imóvel.
Além disso, o art. 49 da Lei nº 9.985/2000 estabelece que a área de uma unidade de conservação de proteção
integral é considerada zona rural para efeitos legais, motivo pelo qual não incide IPTU, mas sim ITR, sendo
este último tributo de competência tributária exclusiva da União.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.695.340-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 17/09/2019 (Info 657).

Parcelamento de ofício não interfere no curso do prazo prescricional


O parcelamento de ofício da dívida tributária não configura causa interruptiva da contagem da prescrição,
uma vez que o contribuinte não anuiu.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.658.517-PA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/11/2018 (recurso
repetitivo) (Info 638).
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É constitucional a taxação de IPI sobre recipientes de água mineral


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Os produtos destinados ao acondicionamento de bens essenciais não precisam necessariamente ter as
mesmas alíquotas dos produtos embalados. Assim, não fere o princípio da seletividade a taxação dos
recipientes de água mineral, ainda que a água ali acondicionada seja considerada produto essencial.
Tese fixada pelo STF: “É constitucional a fixação de alíquotas de IPI superiores a zero sobre garrafões, garrafas
e tampas plásticas, ainda que utilizados para o acondicionamento de produtos essenciais”.
STF. Plenário. RE 606314/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 11/5/2021 (Repercussão Geral – Tema
501) (Info 1016).

O imposto de renda não incide sobre juros de mora por atraso no pagamento de verbas salariais
Não incide imposto de renda sobre os juros de mora devidos pelo atraso no pagamento de remuneração por
exercício de emprego, cargo ou função.
STF. Plenário. RE 855091/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/3/2021 (Repercussão Geral – Tema 808)
(Info 1009).

Incide IPI sobre veículo importado para uso próprio, haja vista que tal cobrança não viola o princípio da
não cumulatividade nem configura bitributação
Incide o IPI em importação de veículos automotores por pessoa natural, ainda que não desempenhe
atividade empresarial, e o faça para uso próprio.
STF. Plenário. RE 723651/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3 e 4/2/2016 (repercussão geral – Tema
643) (Info 574).

Incide IPI sobre veículo importado para uso próprio, haja vista que tal cobrança não viola o princípio da não
cumulatividade nem configura bitributação.
STJ. 1ª Seção. REsp 1396488-SC, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 25/09/2019 (recurso repetitivo –
revisão do Tema 695) (Info 657).

Comprovação de doença grave para fins de isenção de IR


Súmula 598-STJ: É desnecessária a apresentação de laudo médico oficial para o reconhecimento judicial da
isenção do Imposto de Renda, desde que o magistrado entenda suficientemente demonstrada a doença
grave por outros meios de prova.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 08/10/2017.

O IR e a CSLL incidem sobre a correção monetária das aplicações financeiras


O IR e a CSLL incidem sobre a correção monetária das aplicações financeiras, porquanto estas se caracterizam
legal e contabilmente como Receita Bruta, na condição de Receitas Financeiras componentes do Lucro
Operacional.
STJ. 1ª Seção. REsp 1986304-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/3/2023 (Recurso
Repetitivo – Tema 1160) (Info 766).

A cobrança do IRRF e da CSLL de entidades fechadas de previdência complementar, não abrangidas por
imunidades tributárias, é compatível com a Constituição Federal
É constitucional a cobrança, em face das entidades fechadas de previdência complementar não imunes, do
imposto de renda retido na fonte (IRRF) e da contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL).
STF. Plenário. RE 612686/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 28/10/2022 (Repercussão Geral – Tema 699)
(Info 1074).

É inconstitucional norma que prevê a incidência do imposto de renda sobre valores percebidos pelo
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alimentado a título de alimentos ou pensão alimentícia


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A materialidade do imposto de renda está necessariamente ligada à existência de acréscimo patrimonial.


Nesse contexto, os alimentos ou pensão alimentícia oriundos do direito de família representam, para os

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alimentados, apenas entrada de valores, pois se revelam como montantes retirados dos acréscimos
patrimoniais auferidos pelo alimentante.
Assim, o recebimento de renda ou provento de qualquer natureza pelo alimentante ─ de onde ele retira a
parcela a ser paga ao credor dos alimentos ─ já configura, por si só, fato gerador do IR.
Por isso, submeter também os valores recebidos pelo alimentado representa nova incidência do mesmo
tributo sobre a mesma realidade, configurando bis in idem camuflado e sem justificação legítima, em
evidente violação ao texto constitucional.
STF. Plenário. ADI 5422/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/6/2022 (Info 1057).

Não deve incidir IPI sobre a venda de produtos, na hipótese de roubo ou furto da mercadoria antes da sua
entrega ao comprador
Na hipótese em que ocorrer roubo/furto da mercadoria após a sua saída do estabelecimento do fabricante
não se configura o evento ensejador de incidência do IPI.
Não deve incidir IPI sobre a venda de produtos, na hipótese de roubo ou furto da mercadoria, antes da sua
entrega ao comprador. Isso porque, neste caso, como não foi concluída a operação mercantil, não ficou
configurado o fato gerador.
STJ. 1ª Seção. EREsp 734.403-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/11/2018 (Info 638).

TRANSFERÊNCIA VOLUNTÁRIA DE RECURSOS FEDERAIS


Restrição para transferência de recursos federais a município que possui pendências no CAUC
A restrição para transferência de recursos federais a Município que possui pendências no Cadastro Único de
Exigências para Transferências Voluntárias (CAUC) não pode ser suspensa sob a justificativa de que os
recursos destinam-se à reforma de prédio público. Essa atividade (reforma) não pode ser enquadrada no
conceito de ação social previsto no art. 26 da Lei 10.522/2002.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.439.326-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. em 24/2/2015 (Info 556).

O termo inicial para efeito de detração da penalidade prevista no art. 7º da Lei 10.520/2002 (impedimento
de licitar e contratar com a União, bem como o descredenciamento do SICAF, pelo prazo de até 5 anos),
aplicada por órgão federal, coincide com a data em que foi publicada a decisão administrativa no Diário
Oficial da União – e não com a do registro no SICAF.
STJ. MS 20.784-DF, Rel. para acórdão Min. Arnaldo Esteves Lima, j. em 9/4/2015 (Info 561).

Município não pode criar taxa de fiscalização de torres e antenas de transmissão


A instituição de taxa de fiscalização do funcionamento de torres e antenas de transmissão e recepção de
dados e voz é de competência privativa da União, nos termos do art. 22, IV, da Constituição Federal, não
competindo aos Municípios instituir referida taxa.
STF. Plenário. RE 776594/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 919)
(Info 1078).

É inconstitucional lei estadual que institua taxa de segurança para eventos a ser cobrada dos organizadores
de eventos com fins lucrativos pelo fato de as polícias, os bombeiros e o DETRAN prestarem serviços no
local
Caso concreto: no Distrito Federal foi editada lei distrital instituindo taxa de segurança para eventos. O fato
gerador dessa taxa seria a prestação, em eventos com fins lucrativos e promocionais, de serviços da Polícia
Civil, da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros Militar ou do Departamento de Trânsito.
O STF reputou inconstitucional essa previsão.
É inconstitucional a cobrança de taxa de segurança para eventos, visto que a segurança pública deve ser
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remunerada por meio de impostos, já que constitui serviço geral e indivisível, devido a todos os cidadãos,
independentemente de contraprestação.
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STF. Plenário. ADI 2692/DF, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 30/9/2022 (Info 1070).

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É admissível o cálculo das custas judiciais com base no valor da causa, considerando que se respeita a
correlação com o custo da atividade prestada, e desde que haja a definição de valores mínimo e máximo
É legítima a cobrança das custas judiciais e das taxas judiciárias tendo por parâmetro o valor da causa, desde
que fixados valores mínimos e máximos.
A fixação desses valores mínimos e máximos deve ser feita para se atender ao entendimento sumulado do
STF:
Súmula 667-STF: Viola a garantia constitucional de acesso à jurisdição a taxa judiciária calculada sem limite
sobre o valor da causa.
STF. Plenário. ADI 5688/PB, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em
22/10/2021 (Info 1035).

É inconstitucional a criação de taxa de combate a incêndios


A atividade desenvolvida pelo Estado no âmbito da segurança pública é mantida ante impostos, sendo
imprópria a substituição, para tal fim, de taxa.
STF. Plenário. ADI 4411, Rel. Marco Aurélio, julgado em 18/08/2020 (Info 992 – clipping).

CONTRIBUIÇÕES
É inconstitucional norma estadual que institui contribuição compulsória a ser paga por bombeiros e
policiais militares para custear serviços de saúde que serão prestados a eles
É inconstitucional preceito de lei estadual que institui contribuição compulsória de bombeiros e policiais
militares estaduais para compor fundo de assistência, com o objetivo de custear serviços de saúde a eles
prestados. Contudo, o legislador estadual pode estabelecer contribuição facultativa com o aludido fim.
STF. Plenário. ADI 5368/TO, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 28/10/2022 (Info 1074).

É constitucional a aplicação dos recursos arrecadados por meio de contribuição para o custeio da
iluminação pública na expansão e aprimoramento da rede
É constitucional a aplicação dos recursos arrecadados por meio de contribuição para o custeio da iluminação
pública na expansão e aprimoramento da rede.
STF. Plenário. RE 666404, Rel. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moras, julgado em
18/08/2020 (Repercussão Geral - Tema 696).

Lei 13.988/20202

NOÇÕES GERAIS
O que é transação?
Transação é um acordo entre duas partes que estão em posição contrária por meio do qual são feitas
concessões mútuas (ou seja, cada um aceita abrir mão de parte daquilo que entende ter direito) e, com isso,
concorda-se em evitar um litígio (transação preventiva) ou encerrar um que já exista (transação
terminativa/resolutiva).
O Código Civil possui algumas regras sobre transação, valendo a pena destacar essas duas:
Art. 840. É lícito aos interessados prevenirem ou terminarem o litígio mediante concessões mútuas.
Art. 841. Só quanto a direitos patrimoniais de caráter privado se permite a transação.

Existe transação envolvendo créditos tributários? Um contribuinte que está devendo tributos poderá fazer
uma transação com a Administração Tributária?
SIM. É possível. O CTN prevê que a transação é uma forma de extinção do crédito tributário:
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Página

2
Disponível em: https://www.dizerodireito.com.br/2020/04/lei-139882020-estabelece-os-
requisitos.html#:~:text=Foi%20publicada%20hoje%20a%20Lei,aprova%C3%A7%C3%A3o%20da%20MP%20899%2F20
19.

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Art. 156. Extinguem o crédito tributário:
(...)
III - a transação;

Desse modo, o Fisco (credor) e o devedor tributário, mediante concessões mútuas, resolvem ceder parcela
de suas obrigações e realizarem a quitação do tributo em atraso.

Como ocorre essa transação? O administrador público poderá livremente fazer a transação envolvendo
créditos tributários?
NÃO. Para que seja possível a transação é necessário que o respectivo ente federativo edite uma lei
disciplinando os requisitos e as condições para que isso ocorra:
Art. 171. A lei pode facultar, nas condições que estabeleça, aos sujeitos ativo e passivo da obrigação tributária
celebrar transação que, mediante concessões mútuas, importe em determinação de litígio e consequente
extinção de crédito tributário.
Parágrafo único. A lei indicará a autoridade competente para autorizar a transação em cada caso.

O que faz a Lei nº 13.988/2020?


Estabelece os requisitos e as condições para que a União, as suas autarquias e fundações e os devedores ou
as partes adversas realizem transação resolutiva de litígio, nos termos do art. 171 do CTN.
Art. 1º Esta Lei estabelece os requisitos e as condições para que a União, as suas autarquias e fundações, e
os devedores ou as partes adversas realizem transação resolutiva de litígio relativo à cobrança de créditos da
Fazenda Pública, de natureza tributária ou não tributária.

A Lei nº 13.988/2020 disciplina a transação envolvendo Estados, Distrito Federal e Municípios?


NÃO. Isso porque cada ente federativo é quem deve editar a sua própria lei, não podendo ser uma lei
nacional.

A União, as autarquias e fundações federais são obrigadas a realizar a transação?


NÃO. A realização ou não da transação é um juízo de oportunidade e conveniência.
O art. 1º, § 1º da Lei afirma que “a União, em juízo de oportunidade e conveniência, poderá celebrar
transação em quaisquer das modalidades de que trata esta Lei, sempre que, motivadamente, entender que
a medida atende ao interesse público.”
Apesar de o dispositivo falar apenas na “União”, as autarquias e fundações federais também realizam esse
juízo de oportunidade e conveniência tendo em vista que estamos aqui tratando o princípio da supremacia
do interesse público.

Princípios que deverão ser observados


Na regulamentação e aplicação da transação de que trata a Lei nº 13.988/2020 deverão ser observados,
dentre outros, os princípios da:
• isonomia;
• capacidade contributiva;
• transparência;
• moralidade;
• razoável duração dos processos;
• eficiência;
• publicidade (resguardadas as informações protegidas por sigilo).
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Divulgação na internet das transações realizadas


A observância do princípio da transparência será efetivada, entre outras ações, pela divulgação em meio
Página

eletrônico de todos os termos de transação celebrados, com informações que viabilizem o atendimento do
princípio da isonomia, resguardadas as legalmente protegidas por sigilo.

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Agentes públicos que participarem da transação, em regra, estão apenas cumprindo seu dever, não podendo
ser responsabilizados
Segundo o art. 29 da Lei:
Art. 29. Os agentes públicos que participarem do processo de composição do conflito, judicial ou
extrajudicialmente, com o objetivo de celebração de transação nos termos desta Lei somente poderão ser
responsabilizados, inclusive perante os órgãos públicos de controle interno e externo, quando agirem com
dolo ou fraude para obter vantagem indevida para si ou para outrem.

Compromissos mínimos que o devedor deverá assumir


A proposta de transação deverá expor os meios para a extinção dos créditos nela contemplados e estará
condicionada, no mínimo, à assunção pelo devedor dos compromissos de:
1) não utilizar a transação de forma abusiva, com a finalidade de limitar, de falsear ou de prejudicar, de
qualquer forma, a livre concorrência ou a livre iniciativa econômica;
2) não utilizar pessoa natural ou jurídica interposta para ocultar ou dissimular a origem ou a destinação de
bens, de direitos e de valores, os seus reais interesses ou a identidade dos beneficiários de seus atos, em
prejuízo da Fazenda Pública federal;
3) não alienar nem onerar bens ou direitos sem a devida comunicação ao órgão da Fazenda Pública
competente, quando exigido em lei;
4) desistir das impugnações ou dos recursos administrativos que tenham por objeto os créditos incluídos na
transação e renunciar a quaisquer alegações de direito sobre as quais se fundem as referidas impugnações
ou recursos; e
5) renunciar a quaisquer alegações de direito, atuais ou futuras, sobre as quais se fundem ações judiciais,
incluídas as coletivas, ou recursos que tenham por objeto os créditos incluídos na transação, por meio de
requerimento de extinção do respectivo processo com resolução de mérito, nos termos do art. 487, III, “c”,
do CPC/2015:
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:
(...)
III - homologar:
(...)
c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção.

Confissão por parte do devedor


A proposta de transação deferida importa em aceitação plena e irretratável de todas as condições
estabelecidas na Lei nº 13.988/2020 e em sua regulamentação, de modo a constituir confissão irrevogável e
irretratável dos créditos abrangidos pela transação, nos termos dos arts. 389 a 395 do CPC/2015.
Em outras palavras, o devedor confessa, de modo irretratável e irrevogável, a dívida.

Transação que envolva moratória ou parcelamento


A transação pode acabar envolvendo também moratória ou parcelamento. Neste caso, a exigibilidade do
crédito ficará suspensa, na forma do art. 151, I e VI do CTN:
Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:
I - moratória;
(...)
VI – o parcelamento.

Quando os créditos abrangidos pela transação são considerados extintos?


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Os créditos abrangidos pela transação somente serão extintos quando integralmente cumpridas as condições
previstas no respectivo termo.
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Causas de rescisão da transação

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Implicará a rescisão da transação:
I - o descumprimento das condições, das cláusulas ou dos compromissos assumidos;
II - a constatação, pelo credor, de ato tendente ao esvaziamento patrimonial do devedor como forma de
fraudar o cumprimento da transação, ainda que realizado anteriormente à sua celebração;
III - a decretação de falência ou de extinção, pela liquidação, da pessoa jurídica transigente;
IV - a comprovação de prevaricação, de concussão ou de corrupção passiva na sua formação;
V - a ocorrência de dolo, de fraude, de simulação ou de erro essencial quanto à pessoa ou quanto ao objeto
do conflito;
VI - a ocorrência de alguma das hipóteses rescisórias adicionalmente previstas no respectivo termo de
transação; ou
VII - a inobservância de quaisquer disposições da Lei ou do edital.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Direito à revisão de benefício previdenciário cujo mérito não foi apreciado na concessão também decai em
dez anos
Aplica-se o prazo decadencial de dez anos estabelecido no art. 103, caput, da Lei nº 8.213/1991 às hipóteses
em que a questão controvertida não foi apreciada no ato administrativo de análise de concessão de benefício
previdenciário.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.644.191-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 11/12/2019 (Recurso Repetitivo –
Tema 975) (Info 676).

Se a parte recebeu benefício previdenciário ou assistencial por força de decisão judicial precária que,
posteriormente, foi revogada, ela terá que devolver as quantias
A reforma da decisão que antecipa os efeitos da tutela final obriga o autor da ação a devolver os valores dos
benefícios previdenciários ou assistenciais recebidos, o que pode ser feito por meio de desconto em valor
que não exceda 30% (trinta por cento) da importância de eventual benefício que ainda lhe estiver sendo
pago.
STJ. 1ª Seção. Pet 12.482-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 11/05/2022 (Recurso Repetitivo – Tema
692) (Info 737).

Reconhecido o direito de opção pelo benefício mais vantajoso concedido administrativamente, no curso de
ação judicial em que se reconheceu benefício menos vantajoso, é possível a execução das parcelas do
benefício postulado na via judicial
O segurado tem direito de opção pelo benefício mais vantajoso concedido administrativamente, no curso de
ação judicial em que se reconheceu benefício menos vantajoso.
Em cumprimento de sentença, o segurado possui o direito à manutenção do benefício previdenciário
concedido administrativamente no curso da ação judicial e, concomitantemente, à execução das parcelas do
benefício reconhecido na via judicial, limitadas à data de implantação daquele conferido na via
administrativa.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.767.789-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 08/06/2022 (Recurso Repetitivo –
Tema 1018) (Info 740).

Direito à aposentadoria híbrida mesmo que o último vínculo tenha sido urbano
Para ter direito à aposentadoria híbrida, a última atividade exercida pela pessoa deve ser a agrícola? Exige-
se que a pessoa tenha saído da atividade urbana para a agrícola?
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NÃO. O reconhecimento do direito à aposentadoria híbrida por idade não está condicionado ao exercício de
atividade rurícola no período imediatamente anterior ao requerimento administrativo.
Em outras palavras, a aposentadoria híbrida pode ser concedida ainda que a última atividade do segurado tenha
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sido a urbana, ou seja, ainda que ele tenha começado na atividade rural e depois migrado para a urbana.

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Não faz diferença se ele está exercendo atividade urbana ou rural no momento em que completa a idade ou
apresenta o requerimento administrativo.
Quem sai do campo para cidade tem direito à aposentadoria híbrida, assim como quem sai da cidade e vai
para o campo.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.476.383-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 1º/10/2015 (Info 570).

Direito à aposentadoria híbrida mesmo que o trabalho preponderante tenha sido urbano
Para ter direito à aposentadoria híbrida, a pessoa tem que ter trabalhado mais tempo na agricultora do que
em atividades urbanas? A agricultura tem que ser a atividade preponderante? Existe essa exigência?
NÃO. Seja qual for a predominância do labor misto no período de carência ou o tipo de trabalho exercido no
momento do implemento do requisito etário ou do requerimento administrativo, o trabalhador tem direito à
aposentadoria híbrida, desde que cumprida a carência com a utilização de labor urbano ou rural.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.497.086/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe de 06/04/2015.

O trabalho rural prestado por menor de 12 anos, apesar de ser proibido, caso seja desempenhado, deve
ser computado para fins previdenciários
Apesar da proibição do trabalho infantil, o tempo de labor rural prestado por menor de 12 anos deve ser
computado para fins previdenciários.
STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 956.558-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 02/06/2020
(Info 674).

O tempo que o segurado fica afastado do trabalho gozando de auxílio-doença pode ser considerado
“tempo especial” para fins de aposentadoria especial
O segurado que exerce atividades em condições especiais, quando em gozo de auxílio-doença, seja
acidentário ou previdenciário, faz jus ao cômputo desse mesmo período como tempo de serviço especial.
Ex: João trabalhou, de 2000 a 2015, em atividades permanentes no subsolo de minerações subterrâneas.
Segundo o Anexo IV do Decreto nº 3.048/99, se o segurado trabalhar durante 15 anos nessa atividade, ele
terá direito a aposentadoria especial. João requereu, então, a sua aposentadoria especial. Ocorre que o INSS
negou o pedido sob o argumento de que em 2012, João ficou 6 meses sem trabalhar porque estava gozando
de auxílio-doença previdenciário em razão de uma diverticulite. Essa argumentação da autarquia não é aceita
pela STJ que considera ser possível o cômputo desse período como serviço especial.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.759.098-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 26/06/2019 (recurso
repetitivo) (Info 652).

É legítima a incidência de contribuição social, a cargo do empregador, sobre os valores pagos ao


empregado a título de terço constitucional de férias gozadas
É legítima a incidência de contribuição social, a cargo do empregador, sobre os valores pagos ao empregado
a título de terço constitucional de férias gozadas.
STF. Plenário. RE 1072485, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 31/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 985)
(Info 993 – clipping).

Não é legítima a incidência de contribuição social, a cargo do empregador, sobre os valores pagos a título
de salário-maternidade
É inconstitucional a incidência de contribuição previdenciária a cargo do empregador sobre o salário-
maternidade.
STF. Plenário. RE 576967, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 72)
101

(Info 996 – clipping).

É constitucional a exclusão do 13º salário da base de cálculo de benefício previdenciário


Página

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É constitucional a exclusão da gratificação natalina (13º salário) da base de cálculo de benefício
previdenciário, notadamente diante da inexistência de ofensa à garantia constitucional da irredutibilidade
do valor dos benefícios da seguridade social.
É constitucional, em especial diante da ausência de violação ao direito adquirido, a eliminação do abono de
permanência em serviço do rol dos benefícios previdenciários sujeitos à carência de 180 contribuições
mensais, já que mantido esse período de carência para as demais prestações pecuniárias previstas
(aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial).
STF. Plenário. ADI 1049/DF, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 6/3/2023 (Info 1085).

É constitucional a regra do art. 57, § 8º da Lei 8.213/91, que proíbe o titular da aposentadoria especial de
continuar ou voltar a trabalhar com atividades que o exponham a agentes nocivos
I – É constitucional a vedação de continuidade da percepção de aposentadoria especial se o beneficiário
permanece laborando em atividade especial ou a ela retorna, seja essa atividade especial aquela que ensejou
a aposentação precoce ou não.
II – Nas hipóteses em que o segurado solicitar a aposentadoria e continuar a exercer o labor especial, a data
de início do benefício será a data de entrada do requerimento, remontando a esse marco, inclusive, os efeitos
financeiros; efetivada, contudo, seja na via administrativa, seja na judicial, a implantação do benefício, uma
vez verificada a continuidade ou o retorno ao labor nocivo, cessará o pagamento do benefício previdenciário
em questão.
STF. Plenário. RE 791961 ED, Rel. Dias Toffoli, julgado em 24/02/2021.

O acréscimo de 25% previsto no art. 45 da Lei 8.213/91 (grande invalidez) só se aplica para a aposentadoria
por invalidez (aposentadoria por incapacidade permanente), não podendo ser estendido para outras
espécies de aposentadoria
Não é possível a extensão do auxílio contido no art. 45 da lei 8.213/1991, também chamado de auxílio de
grande invalidez ou auxílio-acompanhante, para todos os segurados aposentados que necessitem de ajuda
permanente para o desempenho de atividades básicas da vida diária.
Tese fixada pelo STF:
No âmbito do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), somente lei pode criar ou ampliar benefícios e
vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão de extensão do auxílio da grande invalidez a todas
as espécies de aposentadoria.
STF. Plenário. Plenário. RE 1221446/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 18/6/2021 (Repercussão Geral –
Tema 1095) (Info 1022).

A falta de estudo atuarial específico e prévio não inviabiliza o aumento da alíquota da contribuição
previdenciária dos servidores, não sendo irrazoável o aumento de 11% para 13,25%
1. A ausência de estudo atuarial específico e prévio à edição de lei que aumente a contribuição previdenciária
dos servidores públicos não implica vício de inconstitucionalidade, mas mera irregularidade que pode ser
sanada pela demonstração do déficit financeiro ou atuarial que justificava a medida.
2. A majoração da alíquota da contribuição previdenciária do servidor público para 13,25% não afronta os
princípios da razoabilidade e da vedação ao confisco.
STF. Plenário. ARE 875958/GO, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/10/2021 (Repercussão Geral –
Tema 933) (Info 1034).

O pagamento indevido feito ao segurado e que decorreu de erro administrativo é repetível e está sujeito
a desconto, salvo se o segurado, no caso concreto, comprovar a sua boa-fé objetiva
102

Os pagamentos indevidos aos segurados decorrentes de erro administrativo (material ou operacional), não
embasado em interpretação errônea ou equivocada da lei pela Administração, são repetíveis, sendo legítimo
o desconto no percentual de até 30% (trinta por cento) de valor do benefício pago ao segurado/beneficiário,
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ressalvada a hipótese em que o segurado, diante do caso concreto, comprova sua boa-fé objetiva, sobretudo
com demonstração de que não lhe era possível constatar o pagamento indevido.

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STJ. 1ª Seção. REsp 1.381.734/RN, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 10/03/2021 (Recurso Repetitivo
– Tema 979) (Info 688).

O art. 115, II, da Lei 8.213/91 pode ser aplicado para cobrança de valores pagos pelo INSS por força de
decisão judicial posteriormente revogada?
• Antes da Lei 13.846/2019: NÃO
O STJ entendia que:
O art. 115, II, da Lei nº 8.213/91 não autorizava o INSS a descontar, na via administrativa, valores concedidos
a título de tutela antecipada (tutela provisória de urgência), posteriormente cassada com a improcedência
do pedido.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.338.912-SE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 23/5/2017 (Info 605).

O inciso II do art. 115 aplicava-se apenas para a recuperação de pagamentos feitos pelo INSS na via
administrativa, não podendo ser utilizado caso o pagamento tenha sido determinado por decisão judicial.
Quando o valor pago ao segurado ou beneficiário ocorreu por força de decisão judicial, o STJ afirmava que o
INSS deveria se valer dos instrumentos judiciais para ter de volta essa quantia.
Assim, o art. 115, II, não autorizava a Administração Previdenciária a cobrar, administrativamente, valores
pagos a título de tutela judicial, sob pena de afronta ao princípio da segurança jurídica.

• Depois da Lei 13.846/2019: a Lei afirma que SIM


O inciso II do art. 115 da Lei nº 8.213/91 foi alterado e passou a prever expressamente essa possibilidade.
Veja a redação do dispositivo:
Art. 115. Podem ser descontados dos benefícios:
(...)
II - pagamento administrativo ou judicial de benefício previdenciário ou assistencial indevido, ou além do
devido, inclusive na hipótese de cessação do benefício pela revogação de decisão judicial, em valor que não
exceda 30% (trinta por cento) da sua importância, nos termos do regulamento;

Súmula Vinculante 53: A competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da Constituição
Federal alcança a execução de ofício das contribuições previdenciárias relativas ao objeto da condenação
constante das sentenças que proferir e acordos por ela homologados.

O termo inicial da aposentadoria especial será a data do requerimento administrativo mesmo que o
segurado tenha continuado trabalhando após o pedido, não incidindo, até a concessão do benefício, a
regra do art. 57, § 8º da Lei 8.213/91
O art. 57, § 8º, da Lei nº 8.213/91 não impede o reconhecimento judicial do direito do segurado ao benefício
aposentadoria especial com efeitos financeiros desde a data do requerimento administrativo, se preenchidos
nessa data todos os requisitos legais, mesmo que ainda não tenha havido o afastamento das atividades
especiais.
Não é possível condicionar o reconhecimento do direito à implementação da aposentadoria especial ao
prévio desligamento do vínculo laboral em que exercida atividade em condições especiais, uma vez que,
dessa forma, estar-se-ia impondo ao segurado que deixasse de exercer a atividade que lhe garante a
subsistência antes da concessão definitiva do benefício substitutivo de sua renda.
STJ. 2ª Turma. REsp 1764559/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 23/03/2021 (Info 690).

Ficha de cadastro de trabalhadores emitida em nome de trabalhador rural em data anterior ao


103

ajuizamento de demanda com pedido de aposentadoria rural configura documento novo apto a
demonstrar o início de prova material
Caso concreto: segurado pediu aposentadoria rural. Houve sentença de improcedência transitada em
Página

julgado. Segurado ajuizou ação rescisória, com fundamento no art. 966, VII do CPC/2015, alegando “prova

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nova”. Essa prova nova foi uma ficha de cadastro de trabalhadores emitida em nome de trabalhador rural
em data anterior ao ajuizamento de demanda com pedido de aposentadoria rural.
O STJ aceitou e julgou procedente a ação rescisória.
O documento novo apto a aparelhar a ação rescisória, fundada no art. 966, VII, do CPC/2015, é aquele que,
já existente à época da decisão rescindenda, era ignorado pelo autor ou do qual não pôde fazer uso, capaz
de assegurar, por si só, a procedência do pedido.
Em se tratando de trabalhadores rurais, deve ser mitigado o rigor conceitual impingido ao “documento
novo”, pois não se pode desconsiderar as precárias condições de vida que envolvem o universo social desses
trabalhadores.
Diante da dificuldade probatória atinente ao exercício de atividade rural pelos chamados trabalhadores
“boias-frias”, a apresentação de prova material relativa apenas à parte do lapso temporal pretendido, não
implica violação ao enunciado da Súmula 149/STJ (Tema 554/STJ).
STJ. 1ª Seção. AR 6081-PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 25/05/2021 (Info 738).

É possível receber o benefício por incapacidade, concedido judicialmente, mesmo que o período coincida
com àquele em que o segurado estava trabalhando e aguardava o deferimento do benefício
Caso concreto: o segurado teve indeferido pelo INSS benefício por incapacidade (auxílio-doença ou
aposentadoria por invalidez) na via administrativa. Para conseguir se sustentar, teve que trabalhar após o
indeferimento e entrou com ação judicial para a concessão do benefício. O pedido foi julgado procedente
para conceder o benefício desde o requerimento administrativo, o que acabou por abranger o período em
que o segurado trabalhou. O INSS alegava que o benefício por incapacidade concedido judicialmente não
poderia ser pago no período em que o segurado estava trabalhando. Isso porque o benefício por
incapacidade não pode ser cumulado com salário. O STJ não concordou com a tese da autarquia.
O segurado foi obrigado a trabalhar, mesmo estando incapacitado, por culpa do INSS, que indeferiu o
benefício indevidamente. Esse trabalho realizado para o sustento, mesmo diante de uma situação de
incapacidade é chamado de “sobre-esforço”.
Tese fixada pelo STJ:
No período entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou de
aposentadoria por invalidez, mediante decisão judicial, o segurado do RPGS tem direito ao recebimento
conjunto das rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível com sua incapacidade laboral, e do
respectivo benefício previdenciário pago retroativamente.
STJ. 1ª Seção. REsp 1788700-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/06/2020 (Recurso Repetitivo –
Tema 1013) (Info 675).

Não há, por ora, previsão legal do direito à 'desaposentação' ou à ‘reaposentação’, sendo constitucional a
regra do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/91
Em 2016, o STF decidiu que não há previsão legal do direito à “desaposentação”.
Depois da decisão do STF começaram a ser propostas ações alegando que o Supremo havia decidido apenas
sobre a desaposentação, mas não sobre a reaposentação.
• Desaposentação: o segurado, mesmo depois de se aposentar, continua trabalhando e pagando
contribuições previdenciárias. Depois de algum tempo nessa situação, ele renuncia à aposentadoria que
recebe e pede para somar o tempo que contribuiu antes e depois da aposentadoria com o objetivo de
requerer uma nova aposentadoria, desta vez mais vantajosa.
• Reaposentação: o segurado, mesmo depois de se aposentar, continua trabalhando e pagando contribuições
previdenciárias. Depois de algum tempo nessa situação, ele renuncia à aposentadoria que recebe e pede
para que seja concedida uma nova aposentadoria utilizando unicamente o tempo de contribuição posterior
à primeira aposentadoria.
104

Os Ministros entenderam que o STF já rejeitou a hipótese de reaposentação no primeiro julgamento ocorrido
em 2016. No entanto, para evitar dúvidas, o STF resolveu alterar a tese anterior para deixar isso mais claro:
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Tese original: No âmbito do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, somente lei pode criar benefícios e
vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à “desaposentação”, sendo
constitucional a regra do art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991.
Tese modificada: No âmbito do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, somente lei pode criar benefícios
e vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à 'desaposentação' ou à
‘reaposentação’, sendo constitucional a regra do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/1991.
Por outro lado, o STF deu parcial provimento aos embargos declaratórios para:
• dizer que são irrepetíveis os valores alimentares recebidos de boa-fé por segurados beneficiados com
desaposentação ou reaposentação, até a proclamação do resultado.
• garantir o direito daqueles que usufruem de “desaposentação” ou de “reaposentação” em decorrência de
decisão transitada em julgado, até a proclamação do resultado do julgamento dos embargos de declaração
(06/02/2020).
STF. Plenário. RE 381367 ED/RS e RE 827833 ED/SC, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, julgado em 6/2/2020 (repercussão geral) (Info 965).

Para fins de aposentadoria híbrida, o tempo rural pode ser remoto, descontínuo, não predominante, sem
contribuições, não concomitante ao implemento das condições ou à data do requerimento administrativo
O tempo de serviço rural, ainda que remoto e descontínuo, anterior ao advento da Lei nº 8.213/91, pode ser
computado para fins da carência necessária à obtenção da aposentadoria híbrida por idade, ainda que não
tenha sido efetivado o recolhimento das contribuições, nos termos do art. 48, § 3º, da Lei nº 8.213/91, seja
qual for a predominância do labor misto exercido no período de carência ou o tipo de trabalho exercido no
momento do implemento do requisito etário ou do requerimento administrativo.
STJ. 1ª Seção. REsp 1788404-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/08/2019 (recurso
repetitivo - Tema 1007) (Info 655).

É constitucional a contribuição previdenciária devida por aposentado pelo RGPS que permaneça em
atividade ou a essa retorne
É constitucional a contribuição previdenciária devida por aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social
(RGPS) que permaneça em atividade ou a essa retorne.
STF. Plenário virtual. ARE 1224327/ES, Min. Presidente Dias Toffoli, julgado em 27/09/2019 (repercussão
geral – Tema 1065)
Benefício de prestação continuada
Não se exige incapacidade absoluta para conceder o benefício de prestação continuada
A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) não exige incapacidade absoluta de pessoa com deficiência para
concessão do Benefício de Prestação Continuada.
STJ. 1ª Turma. REsp 1404019-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/6/2017 (Info 608).

OUTROS TEMAS
Nos pedidos de revisão do benefício formulados com base em sentença trabalhista, o termo inicial do prazo
decadencial é a data do trânsito em julgado da sentença trabalhista
O marco inicial da fluência do prazo decadencial, previsto no caput do art. 103 da Lei nº 8.213/91, quando
houver pedido de revisão da renda mensal inicial (RMI) para incluir verbas remuneratórias recebidas em ação
trabalhista nos salários de contribuição que integraram o período básico de cálculo (PBC) do benefício, deve
ser o trânsito em julgado da sentença na respectiva reclamatória.
STJ. 1ª Seção. REsp 1947419-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 24/08/2022 (Recurso Repetitivo –
Tema 1117) (Info 746).
105

Revisão da vida toda é constitucional


É possível a aplicação da regra mais vantajosa à revisão da aposentadoria de segurados que tenham
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ingressado no Regime Geral de Previdência Social (RGPS) até o dia anterior à publicação da Lei nº 9.876/99,

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que criou o fator previdenciário e alterou a forma de apuração dos salários de contribuição para efeitos do
cálculo de benefício, dele excluindo as contribuições anteriores a julho de 1994.
Tese fixada pelo STF:
“O segurado que implementou as condições para o benefício previdenciário após a vigência da Lei nº 9.876,
de 26.11.1999, e antes da vigência das novas regras constitucionais, introduzidas pela EC 103/2019, tem o
direito de optar pela regra definitiva, caso esta lhe seja mais favorável”.
STF. Plenário. RE 1276977/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 1/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 1102) (Info 1078).

Nas ações de acidente do trabalho, se o INSS for vencedor da demanda, os honorários periciais que foram
adiantados pela autarquia previdenciária serão pagos pelo Estado-membro onde tramitou o processo
Nas ações de acidente do trabalho, os honorários periciais, adiantados pelo INSS, constituirão despesa a
cargo do Estado, nos casos em que sucumbente a parte autora, beneficiária da isenção de ônus
sucumbenciais, prevista no parágrafo único do art. 129 da Lei nº 8.213/91.
Nas ações propostas contra o INSS pedindo benefício previdenciário decorrente de acidente de trabalho, o
INSS deverá adiantar os honorários periciais por força do art. 8º, § 2º da Lei nº 8.620/93.
Se o INSS, ao final, for sucumbente (perder a demanda): neste caso, ele perderá o valor que foi adiantado a
título de honorários periciais. Aquilo que era só um “adiantamento”, torna-se definitivo.
Se o INSS, ao final, for vencedor (se o autor perder a demanda): os honorários periciais, adiantados pela
autarquia, constituirão despesa a cargo do Estado-membro em que tramitou a ação.
STJ. 1ª Seção. REsp 1824823-PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade, julgado
em 21/10/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1044) (Info 715).

A sentença trabalhista meramente homologatória de acordo serve como início de prova material, na forma
do art. 55, § 3º, da Lei 8.213/91?
A sentença trabalhista homologatória de acordo somente será considerada início válido de prova material,
para os fins do art. 55, § 3º, da Lei nº 8.213/91, quando fundada em elementos probatórios contemporâneos
dos fatos alegados, aptos a evidenciar o exercício da atividade laboral, o trabalho desempenhado e o
respectivo período que se pretende ter reconhecido, em ação previdenciária.
STJ. 1ª Seção. PUIL 293-PR, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. para acórdão Min. Assusete Magalhães, julgado em
14/12/2022 (Info 762).

DIREITO AMBIENTAL
Responsabilidade civil por dano ambiental
Súmula 629-STJ: Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de
não fazer cumulada com a de indenizar.

O cumprimento da obrigação de reparar integralmente o dano ambiental (in natura ou pecuniariamente)


não afasta a obrigação de indenizar os danos ambientais interinos
Os danos ambientais interinos (também chamados de intercorrentes, transitórios, temporários, provisórios
ou intermediários) não se confundem com os danos ambientais definitivos (residuais, perenes ou
permanentes).
Os danos definitivos somente se verificam, e são indenizáveis em pecúnia, se a reparação integral da área
degradada não for possível em tempo razoável, após o cumprimento das obrigações de fazer. Seu marco
inicial, portanto, é o término das ações de restauração do meio ambiente.
106

O marco inicial do dano intercorrente, por sua vez, é a própria lesão ambiental. Seu marco final é o da
reparação da área, seja por restauração in natura, seja por compensação indenizatória do dano residual, se
a restauração não for viável.
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O dano residual compensa a natureza pela impossibilidade de retorná-la ao estado anterior à lesão.

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O dano intercorrente compensa a natureza pelos prejuízos causados entre o ato degradante e sua reparação.
O poluidor deve não só devolver a natureza a seu estado anterior, mas reparar os prejuízos experimentados
no interregno, pela indisponibilidade dos serviços e recursos ambientais nesse período.
STJ. 2ª Turma. REsp 1845200-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/8/2022 (Info Especial 8).

A indenização de dano ambiental deve abranger a totalidade dos danos causados, não sendo possível ser
decotadas em seu cálculo despesas referentes à atividade empresarial (impostos e outras)
Caso concreto: ACP ajuizada pela União objetivando condenação dos réus na obrigação de restauração de
área degradada e ao pagamento de valor total do lucro obtido com a extração ilegal de areia e argila. O TRF
fixou a indenização no montante de 50% do faturamento total da empresa proveniente da extração irregular
do minério, por ter descontado as despesas referentes à atividade empresarial (impostos e outras).
O STJ não concordou com o TRF. A indenização deve abranger a totalidade dos danos causados ao ente
federal, sob pena de frustrar o caráter pedagógico-punitivo da sanção e incentivar a impunidade de empresa
infratora, que praticou conduta grave com a extração mineral irregular.
STJ. 2ª Turma.REsp 1923855-SC, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 26/04/2022 (Info 734).

Constituição Federal
Art. 20. São bens da União:
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das
vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei;
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um
Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham,
bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas
e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao
serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 46, de 2005)
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;
VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a participação
no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia
elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona
econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 102, de 2019)
§ 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada
como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do território nacional, e sua ocupação e
utilização serão reguladas em lei.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
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preservá-lo para as presentes e futuras gerações.


§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
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ecossistemas;

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II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas
à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem
risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
VIII - manter regime fiscal favorecido para os biocombustíveis destinados ao consumo final, na forma de
lei complementar, a fim de assegurar-lhes tributação inferior à incidente sobre os combustíveis fósseis,
capaz de garantir diferencial competitivo em relação a estes, especialmente em relação às contribuições
de que tratam a alínea "b" do inciso I e o inciso IV do caput do art. 195 e o art. 239 e ao imposto a que se
refere o inciso II do caput do art. 155 desta Constituição. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 123, de
2022)
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo
com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas
ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona
Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que
assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias,
necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que
não poderão ser instaladas.
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas
desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta
Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural
brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 96, de 2017)

Inaplicabilidade do fato consumado


Súmula 613-STJ: Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em tema de Direito Ambiental.

O erro na concessão de licença ambiental não configura fato de terceiro capaz de interromper o nexo causal
na reparação por lesão ao meio ambiente
Os danos ambientais são regidos pela teoria do risco integral. A pessoa que explora a atividade econômica
ocupa a posição de garantidor da preservação ambiental, sendo sempre considerado responsável pelos
danos vinculados à atividade. Logo, não se pode admitir a exclusão da responsabilidade pelo fato exclusivo
de terceiro ou força maior.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.612.887-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/04/2020 (Info 671).
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É inconstitucional a redução de unidade de conservação por meio de MP


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É inconstitucional a redução ou a supressão de espaços territoriais especialmente protegidos, como é o caso


das unidades de conservação, por meio de medida provisória. Isso viola o art. 225, § 1º, III, da CF/88.

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Assim, a redução ou supressão de unidade de conservação somente é permitida mediante lei em sentido
formal.
A medida provisória possui força de lei, mas o art. 225, § 1º, III, da CF/88 exige lei em sentido estrito.
A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda que não
conste expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/4/2018 (Info 896).

É inconstitucional a revogação de Resolução do Conama que protegia o meio ambiente sem que ela seja
substituída ou atualizada por outra que também garanta proteção
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado se configura como direito fundamental da pessoa
humana.
A mera revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis necessários ao
cumprimento da legislação ambiental, sem sua substituição ou atualização, aparenta comprometer a
observância da Constituição Federal, da legislação vigente e de compromissos internacionais.
STF. Plenário. ADPF 747 MC-Ref/DF, ADPF 748 MC-Ref/DF e ADPF 749 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber,
julgados em 27/11/2020 (Info 1000).

É inconstitucional lei estadual que remete o regramento do cultivo comercial e das atividades com
organismos geneticamente modificados à regência da legislação federal
A competência para legislar sobre as atividades que envolvam organismos geneticamente modificados
(OGM) é concorrente (art. 24, V, VIII e XII, da CF/88).
No âmbito das competências concorrentes, cabe à União estabelecer normas gerais e aos Estados-membros
editar leis para suplementar essas normas gerais (art. 24, §§ 1º e 2º).
Determinado Estado-membro editou lei estabelecendo que toda e qualquer atividade relacionada com os
OGMs naquele Estado deveria observar “estritamente à legislação federal específica”.
O STF entendeu que essa lei estadual é inconstitucional porque significou uma verdadeira “renúncia” ao
exercício da competência legislativa concorrente prevista no art. 24, V, VIII e XII, da CF/88. Em outras
palavras, o Estado abriu mão de sua competência suplementar prevista no art. 24, § 2º da CF/88.
Essa norma estadual remissiva fragiliza a estrutura federativa descentralizada, e consagra o monopólio da
União, sem atentar para nuances locais.
STF. Plenário. ADI 2303/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/9/2018 (Info 914).

É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e
testes de produtos cosméticos
É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e testes
de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes.
A proteção da fauna é matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, VI, da CF/88).
A Lei federal nº 11.794/2008 possui uma natureza permissiva, autorizando, a utilização de animais em
atividades de ensino e pesquisas científicas, desde que sejam observadas algumas condições relacionadas
aos procedimentos adotados, que visam a evitar e/ou atenuar o sofrimento dos animais.
Mesmo que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela lei estadual, isso não se mostra
inconstitucional porque, em princípio, é possível que os Estados editem normas mais protetivas ao meio
ambiente, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na preponderância de seu interesse,
conforme o caso.
STF. Plenário. ADI 5996, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info 975).
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Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local, ainda que, de modo
reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor
É constitucional lei municipal que proíbe a conferência de mercadorias realizada na saída de
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estabelecimentos comerciais localizados na cidade. A Lei prevê que, após o cliente efetuar o pagamento nas
caixas registradoras da empresa instaladas, não é possível nova conferência na saída.

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Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local (art. 30, I, da CF/88), ainda
que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor.
STF. 2ª Turma. RE 1.052.719 AgR/PB, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 25/9/2018 (Info 917).

É constitucional lei municipal que estabelece que os supermercados ficam obrigados a colocar à disposição
dos consumidores pessoal suficiente nos caixas, de forma que a espera na fila não seja superior a 15
minutos
É constitucional lei municipal que estabelece que os supermercados e hipermercados do Município ficam
obrigados a colocar à disposição dos consumidores pessoal suficiente no setor de caixas, de forma que a
espera na fila para o atendimento seja de, no máximo, 15 minutos. Isso porque compete aos Municípios
legislar sobre assuntos de interesse local, notadamente sobre a definição do tempo máximo de espera de
clientes em filas de estabelecimentos empresariais.
Vale ressaltar que essa lei municipal não obriga a contratação de pessoal, e sim sua colocação suficiente no
setor de caixas para o atendimento aos consumidores.
STF. 1ª Turma. ARE 809489 AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 28/5/2019 (Info 942).

Os estados-membros detêm competência administrativa para explorar loterias


A competência da União para legislar exclusivamente sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive
loterias, não obsta a competência material (administrativa) para a exploração dessas atividades pelos entes
estaduais ou municipais, nem a competência regulamentar dessa exploração.
Os arts. 1º e 32, caput e § 1º, do Decreto-Lei 204/1967 não foram recepcionados pela Constituição Federal
de 1988.
STF. Plenário. ADPF 492/RJ, ADPF 493/DF e ADI 4986/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 30/9/2020
(Info 993).

Compete aos Municípios legislar sobre meio ambiente em assuntos de interesse local
O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição, quando se tratar de
interesse local.
Ex: é constitucional lei municipal, regulamentada por decreto, que preveja a aplicação de multas para os
proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima de padrões considerados aceitáveis.
STF. Plenário. RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em
29/6/2017 (Info 870).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município
Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não,
transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.
Essa lei municipal invade a competência da União.
O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expansão urbana de seu território,
transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária,
o que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.
Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal
impôs restrição desproporcional.
Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de
instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e,
de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.
STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 11/10/2018 (Info 919).
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Inconstitucionalidade de lei municipal que proíbe a queima da cana


O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a União e o Estado-
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membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja harmônico com a disciplina
estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II, da CF/88).
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O STF julgou inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego de fogo para fins de
limpeza e preparo do solo no referido município, inclusive para o preparo do plantio e para a colheita de
cana-de-açúcar e de outras culturas.
Entendeu-se que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio ambiente obtida com a
proibição imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos empregos dos trabalhadores que atuem
neste setor. No caso, o STF entendeu que deveria prevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadores
canavieiros, que merecem proteção diante do chamado progresso tecnológico e da respectiva mecanização,
ambos trazidos pela pretensão de proibição imediata da colheita da cana mediante uso de fogo.
Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a necessidade de se traçar um
planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como método despalhador e
facilitador para o corte da cana. Nesse sentido: Lei 12.651/2012 (art. 40) e Decreto 2.661/98.
STF. Plenário. RE 586224/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 5/3/2015 (repercussão geral) (Info 776).

Análise da constitucionalidade da LC 140/2011


A LC 140/2011 foi declarada constitucional.

Vale ressaltar, no entanto, que dois dispositivos da Lei merecem interpretação conforme.
§ 4º do art. 14 da LC 140/2011:
§ 4o A renovação de licenças ambientais deve ser requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte)
dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva licença, ficando este automaticamente
prorrogado até a manifestação definitiva do órgão ambiental competente.

É inconstitucional regra que autoriza estado indeterminado de prorrogação automática de licença ambiental.
Assim, a omissão ou mora administrativa imotivada e desproporcional na manifestação definitiva sobre os
pedidos de renovação de licenças ambientais instaura a competência supletiva do art. 15.

§ 3º do art. 17 da LC 140/2011:
§ 3o O disposto no caput deste artigo não impede o exercício pelos entes federativos da atribuição comum
de fiscalização da conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente poluidores ou
utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental em vigor, prevalecendo o auto de infração
ambiental lavrado por órgão que detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere o
caput.

A prevalência do auto de infração lavrado pelo órgão originalmente competente para o licenciamento ou
autorização ambiental não exclui a atuação supletiva de outro ente federado, desde que comprovada
omissão ou insuficiência na tutela fiscalizatória.
No exercício da cooperação administrativa cabe atuação suplementar — ainda que não conflitiva — da União
com a dos órgãos estadual e municipal.
STF. Plenário. ADI 4757/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/12/2022 (Info 1079).

É inconstitucional norma estadual que cria dispensa do licenciamento ambiental para atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente
É inconstitucional — por invadir a competência legislativa geral da União (art. 24, VI, §§ 1º e 2º, da CF/88) e
violar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, § 1º, IV, da CF/88) — norma estadual
que cria dispensa do licenciamento ambiental para atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente.
STF. Plenário. ADI 4529/MT, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 21/11/2022 (Info 1076).
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Empresa que deixou vazar amônia em rio e danos aos pescadores profissionais
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A responsabilidade por dano ambiental é OBJETIVA, informada pela teoria do RISCO INTEGRAL. Não são
admitidas excludentes de responsabilidade, tais como o caso fortuito, a força maior, fato de terceiro ou culpa
exclusiva da vítima.
O registro de pescador profissional e o comprovante do recebimento do seguro-defeso são documentos
idôneos para demonstrar que a pessoa exerce a atividade de pescador. Logo, com tais documentos é possível
ajuizar a ação de indenização por danos ambientais que impossibilitaram a pesca na região.
Se uma empresa causou dano ambiental e, em decorrência de tal fato, fez com que determinada pessoa
ficasse privada de pescar durante um tempo, isso configura dano moral.
O valor a ser arbitrado como dano moral não deverá incluir um caráter punitivo. É inadequado pretender
conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato, pois a punição é função que
incumbe ao direito penal e administrativo. Assim, não há que se falar em danos punitivos (punitive damages)
no caso de danos ambientais.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.354.536-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 26/3/2014 (recurso repetitivo) (Info 538).

Construção de hidrelétrica e prejuízo aos pescadores artesanais do local


João é pescador artesanal e vive da pesca que realiza no rio Paranapanema, que faz a divisa dos Estados de
São Paulo e Paraná. A empresa "XXX", após vencer a licitação, iniciou a construção de uma usina hidrelétrica
neste rio. Ocorre que, após a construção da usina, houve uma grande redução na quantidade de alguns peixes
existentes no rio, em especial "pintados", "jaú" e "dourados". Vale ressaltar que estes peixes eram os mais
procurados pela população e os que davam maior renda aos pescadores do local. Diante deste fato, João
ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a empresa (concessionária de serviço
público) sustentando que a construção da usina lhe causou negativo impacto econômico e sofrimento moral,
já que ele não mais poderia exercer sua profissão de pescador. O pescador terá direito à indenização em
decorrência deste fato?
Danos materiais: SIM.
Danos morais: NÃO.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.371.834-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 5/11/2015 (Info 574).

Particular que deposita resíduos tóxicos em seu terreno


O particular que deposita resíduos tóxicos em seu terreno, expondo-os a céu aberto, em local onde, apesar
da existência de cerca e de placas de sinalização informando a presença de material orgânico, o acesso de
outros particulares seja fácil, consentido e costumeiro, responde objetivamente pelos danos sofridos por
pessoa que, por conduta não dolosa, tenha sofrido, ao entrar na propriedade, graves queimaduras
decorrentes de contato com os resíduos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.373.788-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 6/5/2014 (Info 544).

Empresa de mineração que deixou vazar resíduos de lama tóxica


Determinada empresa de mineração deixou vazar resíduos de lama tóxica (bauxita), material que atingiu
quilômetros de extensão e se espalhou por cidades dos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, deixando
inúmeras famílias desabrigadas e sem seus bens móveis e imóveis.
O STJ, ao julgar a responsabilidade civil decorrente desses danos ambientais, fixou as seguintes teses em sede
de recurso repetitivo:
a) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo
de causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a
invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para
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afastar sua obrigação de indenizar;


b) em decorrência do acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e morais causados e
c) na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito caso a caso e
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com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico do autor, e, ainda, ao porte
da empresa, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência, com razoabilidade,

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valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de
modo que, de um lado, não haja enriquecimento sem causa de quem recebe a indenização e, de outro, haja
efetiva compensação pelos danos morais experimentados por aquele que fora lesado.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.374.284-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2014 (Info 545).

Dano moral coletivo no direito ambiental


Na hipótese de ação civil pública proposta em razão de dano ambiental, é possível que a sentença
condenatória imponha ao responsável, cumulativamente, as obrigações de recompor o meio ambiente
degradado e de pagar quantia em dinheiro a título de compensação por dano moral coletivo.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.328.753-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/5/2013 (Info 526).

A responsabilidade administrativa ambiental é de natureza subjetiva


A aplicação de penalidades administrativas não obedece à lógica da responsabilidade objetiva da esfera cível
(para reparação dos danos causados), mas deve obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja,
a conduta deve ser cometida pelo alegado transgressor, com demonstração de seu elemento subjetivo, e
com demonstração do nexo causal entre a conduta e o dano.
Assim, a responsabilidade CIVIL ambiental é objetiva; porém, tratando-se de responsabilidade administrativa
ambiental, a responsabilidade é SUBJETIVA.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1318051/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 08/05/2019 (Info 650).

Posse irregular de animais silvestres por longo período de tempo


O particular que, por mais de vinte anos, manteve adequadamente, sem indício de maus-tratos, duas aves
silvestres em ambiente doméstico, pode permanecer na posse dos animais.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.425.943-RN, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 2/9/2014 (Info 550).

Para que haja a apreensão de veículo utilizado na prática de infração ambiental não é necessário que se
comprove que o bem era utilizado de forma específica, exclusiva ou habitual na prática de ilícitos
ambientais
A apreensão do instrumento utilizado na infração ambiental, fundada no § 4º do art. 25 da Lei nº 9.605/98,
independe do uso específico, exclusivo ou habitual para a empreitada infracional.
Os arts. 25 e 72, IV, da Lei nº 9.605/98 estabelecem como efeito imediato da infração a apreensão dos bens
e instrumentos utilizados na prática do ilícito ambiental.
A exigência de que o bem/instrumento fosse utilizado de forma específica, exclusiva ou habitual para a
prática de infrações não é um requisito que esteja expressamente previsto na legislação. Tal exigência
compromete a eficácia dissuasória inerente à medida, consistindo em incentivo, sob a perspectiva da teoria
econômica do crime, às condutas lesivas ao meio ambiente.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.814.944-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/02/2021 (Recurso
Repetitivo – Tema 1036) (Info 685).

As autoridades ambientais podem apreender veículo utilizado para a prática de infração ambiental mesmo
que este bem seja alugado e quem tenha cometido o ilícito tenha sido o locatário
Ainda que se trate de bem locado ao real infrator, a apreensão do bem é possível. Não se pode dizer que
houve uma injusta restrição ao proprietário (que não deu causa à infração ambiental).
Ao alugar o veículo, o locador assume o risco decorrente da exploração da atividade econômica por ele
exercida.
Além disso, seja em razão do conceito legal de poluidor, seja em função do princípio da solidariedade que
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rege o direito ambiental, a responsabilidade administrativa pelo ilícito recai sobre quem, de qualquer forma,
contribuiu para a prática da infração ambiental, por ação ou omissão.
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Ademais, aquele que realiza a atividade de locação de veículos deve adotar garantias para a prevenção e o
ressarcimento dos danos causados pelo locatário. Não é possível admitir que o Judiciário comprometa a

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eficácia da legislação ambiental e impeça a apreensão do veículo tão somente porque o instrumento utilizado
no ilícito originou-se de um contrato de locação, cessão ou de qualquer outro meio juridicamente previsto.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.084.396-RO, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 19/09/2019 (Info 659).

O locador (proprietário) do bem apreendido tem o direito de se defender administrativamente


Após a medida de apreensão, a autoridade administrativa deverá notificar o proprietário do veículo locado
para dar a ele a oportunidade de comprovar a sua boa-fé antes de decidir sobre a destinação do bem
apreendido pela prática de infração ambiental.
Cabe ao proprietário do veículo comprovar sua boa-fé, demonstrando que, pelas circunstâncias da prática
envolvida e apesar de ter tomado as precauções necessárias, não tinha condições de prever a utilização do
bem no ilícito ambiental.
A autoridade administrativa deve notificar o proprietário do veículo locado para oportunizar que comprove
a sua boa-fé antes de decidir sobre a destinação do bem apreendido pela prática de infração ambiental.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.084.396-RO, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 19/09/2019 (Info 659).

O transporte em quantidade excessiva de madeira, não acobertada pela respectiva guia de autorização,
legitima a apreensão de toda a mercadoria
A empresa “Alta Vista Ltda.” estava transportando toras de madeira quando foi parada em uma fiscalização
do IBAMA. Os servidores da autarquia ambiental constataram que a empresa estava transportando madeiras
serradas em desacordo com a nota fiscal e com a licença de transporte que possuía. A empresa estava
transportando 4.000 m3 de madeira a mais do que estava autorizada. Isso significa que ela estava
transportando cerca de 10% a mais da carga que poderia. A legislação ambiental prevê a lavratura de auto
de infração e a apreensão da carga. Indaga-se: deverá ser apreendida a carga toda (todas as madeiras) ou
apenas aquelas que excederam a autorização prevista na guia de transporte?
A carga inteira. A gravidade da conduta de quem transporta madeira em descompasso com a respectiva guia
de autorização não se calcula com base apenas no quantitativo em excesso. Essa infração compromete a
eficácia de todo o sistema de proteção ambiental. Logo, a medida de apreensão deve compreender a
totalidade da mercadoria transportada.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.784.755-MT, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 17/09/2019 (Info 658).

Infração ambiental grave e aplicação de multa independentemente de prévia advertência


Configurada infração ambiental grave, é possível a aplicação da pena de multa sem a necessidade de prévia
imposição da pena de advertência (art. 72 da Lei 9.605/98).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.318.051-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/3/2015 (Info 561).

Para que haja a apreensão de veículo utilizado na prática de infração ambiental não é necessário que se
comprove que o bem era utilizado de forma específica, exclusiva ou habitual na prática de ilícitos
ambientais
A apreensão do instrumento utilizado na infração ambiental, fundada no § 5º do art. 25 da Lei nº 9.605/98,
independe do uso específico, exclusivo ou habitual para a empreitada infracional.
Os arts. 25 e 72, IV, da Lei nº 9.605/98 estabelecem como efeito imediato da infração a apreensão dos bens
e instrumentos utilizados na prática do ilícito ambiental.
A exigência de que o bem/instrumento fosse utilizado de forma específica, exclusiva ou habitual para a
prática de infrações não é um requisito que esteja expressamente previsto na legislação. Tal exigência
compromete a eficácia dissuasória inerente à medida, consistindo em incentivo, sob a perspectiva da teoria
econômica do crime, às condutas lesivas ao meio ambiente.
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STJ. 1ª Seção. REsp 1814944-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/02/2021 (Recurso
Repetitivo – Tema 1036) (Info 685).
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É proibida a utilização de qualquer forma de amianto

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As leis estaduais que proíbem o uso do amianto são constitucionais.
O art. 2º da Lei federal nº 9.055/95, que autorizava a utilização da crisotila (espécie de amianto), é
inconstitucional.
Houve a inconstitucionalidade superveniente (sob a óptica material) da Lei nº 9.055/95, por ofensa ao direito
à saúde (art. 6º e 196, CF/88); ao dever estatal de redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de
normas de saúde, higiene e segurança (art. 7º, inciso XXII, CF/88); e à proteção do meio ambiente (art. 225,
CF/88).
STF. Plenário. ADI 3937/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/8/2017
(Info 874).

Direito à informação ambiental e obrigação do Estado com a transparência


Tese A) O direito de acesso à informação no Direito Ambiental brasileiro compreende:
i) o dever de publicação, na internet, dos documentos ambientais detidos pela Administração não sujeitos a
sigilo (transparência ativa);
ii) o direito de qualquer pessoa e entidade de requerer acesso a informações ambientais específicas não
publicadas (transparência passiva); e
iii) direito a requerer a produção de informação ambiental não disponível para a Administração
(transparência reativa);

Tese B) Presume-se a obrigação do Estado em favor da transparência ambiental, sendo ônus da


Administração justificar seu descumprimento, sempre sujeita a controle judicial, nos seguintes termos:
i) na transparência ativa, demonstrando razões administrativas adequadas para a opção de não publicar;
ii) na transparência passiva, de enquadramento da informação nas razões legais e taxativas de sigilo; e
iii) na transparência ambiental reativa, da irrazoabilidade da pretensão de produção da informação
inexistente;

Tese C) O regime registral brasileiro admite a averbação de informações facultativas sobre o imóvel, de
interesse público, inclusive as ambientais;
Tese D) O Ministério Público pode requisitar diretamente ao oficial de registro competente a averbação de
informações alusivas a suas funções institucionais.
STJ. 1ª Seção. REsp 1857098-MS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 11/05/2022 (Tema IAC 13) (Info 737).

Princípio da precaução, campo eletromagnético e legitimidade dos limites fixados pela Lei 11.934/2009
No atual estágio do conhecimento científico, que indica ser incerta a existência de efeitos nocivos da
exposição ocupacional e da população em geral a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos gerados
por sistemas de energia elétrica, não existem impedimentos, por ora, a que sejam adotados os parâmetros
propostos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), conforme estabelece a Lei nº 11.934/2009.
STF. Plenário. RE 627189/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/6/2016 (repercussão geral) (Info 829).

Negativa de autorização de queimada por órgão ambiental não gera dano moral
Não gera dano moral a conduta do IBAMA de, após alguns anos concedendo autorizações para
desmatamento e queimada em determinado terreno com a finalidade de preparar o solo para atividade
agrícola, deixar de fazê-lo ao constatar que o referido terreno integra área de preservação ambiental.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.287.068-RR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/9/2013 (Info 531).

A legislação municipal não pode reduzir a proteção conferida às áreas de preservação permanente
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previstas pelo Código Florestal


A legislação municipal não pode reduzir o patamar mínimo de proteção marginal dos cursos d'água, em toda
sua extensão, fixado pelo Código Florestal.
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A norma federal conferiu uma proteção mínima, cabendo à legislação municipal apenas intensificar o grau
de proteção às margens dos cursos d'água, ou quando muito, manter o patamar de proteção (jamais reduzir
a proteção ambiental).
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.312.435-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 07/02/2019 (Info 643).

O art. 15 do Código Florestal não se aplica para situações consolidadas antes de sua vigência
O art. 15 da Lei nº 12.651/2012, que admite o cômputo da área de preservação permanente no cálculo do
percentual de instituição da reserva legal do imóvel, não retroage para alcançar situações consolidadas antes
de sua vigência.
Em matéria ambiental, deve prevalecer o princípio tempus regit actum, de forma a não se admitir a aplicação
das disposições do novo Código Florestal a fatos pretéritos, sob pena de retrocesso ambiental.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.646.193-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria,
julgado em 12/05/2020 (Info 673).

Área de reserva legal e registro da sentença declaratória de usucapião


João é posseiro de um imóvel rural há muitos anos e propôs ação de usucapião a fim de se tornar o
proprietário do terreno.
A sentença foi julgada procedente, declarando que João adquiriu a propriedade.
Vale lembrar que a sentença de usucapião deve ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis para que
nele fique consignado que o novo proprietário é aquela pessoa que teve em seu favor a sentença de
usucapião. Em outras palavras, João deverá averbar a sentença de usucapião no Cartório de Registro de
Imóveis para ser considerado proprietário.
Ocorre que o juiz que sentenciou a ação de usucapião condicionou o registro da sentença no Cartório do
Registro de Imóveis ao prévio registro da Área Legal no CAR (Cadastro Ambiental Rural). Em outras palavras,
o juiz afirmou que a usucapião só poderia ser averbada se, antes, o autor inscrevesse a Área de Reserva Legal
no CAR.
Agiu corretamente o magistrado? Ele poderia ter feito essa exigência?
SIM. Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula seja registrada no Cartório
de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no Cadastro Ambiental Rural (CAR).
A Lei nº 12.651/2012 (novo Código Florestal) instituiu o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que passou a
concentrar as informações ambientais dos imóveis rurais, sendo dispensada a averbação da reserva legal no
Registro de Imóveis (art. 18, § 4º). Assim, ante esse novo cenário normativo, como condição para o registro
da sentença de usucapião no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal
no CAR.
A nova lei não pretendeu reduzir a eficácia da norma ambiental, pretendeu tão somente alterar o órgão
responsável pelo "registro" da reserva legal, que antes era o Cartório de Registro de Imóveis, e agora passou
a ser o órgão ambiental responsável pelo CAR.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.356.207-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/4/2015 (Info 561).

Negativa de autorização de queimada por órgão ambiental não gera dano moral
Não gera dano moral a conduta do IBAMA de, após alguns anos concedendo autorizações para
desmatamento e queimada em determinado terreno com a finalidade de preparar o solo para atividade
agrícola, deixar de fazê-lo ao constatar que o referido terreno integra área de preservação ambiental.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.287.068-RR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/9/2013 (Info 531).

Código Florestal define faixa não edificável a partir de curso d’água em áreas urbanas, não se aplicando
116

os limites menores previstos na Lei do Parcelamento do Solo Urbano


Na vigência do novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), a extensão não edificável nas Áreas de
Preservação Permanente de qualquer curso d'água, perene ou intermitente, em trechos caracterizados como
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área urbana consolidada, deve respeitar o que disciplinado pelo seu art. 4º, caput, inciso I, alíneas a, b, c, d e

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e, a fim de assegurar a mais ampla garantia ambiental a esses espaços territoriais especialmente protegidos
e, por conseguinte, à coletividade.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.770.760/SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 28/04/2021 (Recurso Repetitivo
– Tema 1010) (Info 694).

JURISPRUDÊNCIA EM TESES
Responsabilidade por Dano Ambiental
Causa inequívoco dano ecológico quem desmata, ocupa, explora ou impede a regeneração de Área de
Preservação Permanente - APP, fazendo emergir a obrigação propter rem de restaurar plenamente e de
indenizar o meio ambiente degradado e terceiros afetados, sob o regime de responsabilidade civil objetiva.

O reconhecimento da responsabilidade objetiva por dano ambiental não dispensa a demonstração do nexo
de causalidade entre a conduta e o resultado.

A responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de
causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a
invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para
afastar sua obrigação de indenizar. (Recurso Repetitivo – Tema 707)
Responsabilidade por danos ambientais:
• Responsabilidade CIVIL: objetiva (§ 1º do art. 14 da Lei 6.938/81).
• Responsabilidade ADMINISTRATIVA: subjetiva (caput do art. 14 da Lei 6.938/81).
• Responsabilidade PENAL: subjetiva (é vedada a responsabilidade penal objetiva).

DIREITO CIVIL
O ordenamento jurídico brasileiro não consagra o denominado direito ao esquecimento
É incompatível com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim entendido como o poder de
obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e
publicados em meios de comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais excessos ou abusos no exercício
da liberdade de expressão e de informação devem ser analisados caso a caso, a partir dos parâmetros
constitucionais – especialmente os relativos à proteção da honra, da imagem, da privacidade e da
personalidade em geral – e as expressas e específicas previsões legais nos âmbitos penal e cível.
STF. Plenário. RE 1010606/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2021 (Repercussão Geral – Tema 786)
(Info 1005).

Não se admite a declaração de incapacidade absoluta às pessoas com enfermidade ou deficiência mental
Depois do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), que alterou os arts. 3º e 4º do Código
Civil, não é mais possível declarar como absolutamente incapaz o maior de 16 anos que, em razão de
enfermidade permanente, encontra-se inapto para gerir sua pessoa e administrar seus bens de modo
voluntário e consciente.
A Lei nº 13.146/2015 teve por objetivo assegurar e promover a inclusão social das pessoas com deficiência
física ou psíquica e garantir o exercício de sua capacidade em igualdade de condições com as demais pessoas.
A partir da entrada em vigor da referida lei, só podem ser considerados absolutamente incapazes os menores
de 16 anos, ou seja, o critério passou a ser apenas etário, tendo sido eliminadas as hipóteses de deficiência
mental ou intelectual anteriormente previstas no Código Civil.
O instituto da curatela pode ser excepcionalmente aplicado às pessoas com deficiência, ainda que agora
117

sejam consideradas relativamente capazes, devendo, contudo, ser proporcional às necessidades e às


circunstâncias de cada caso concreto (art. 84, § 3º, da Lei nº 13.146/2015).
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STJ. 3ª Turma. REsp 1.927.423/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/04/2021 (Info 694).

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Prazo prescricional na responsabilidade contratual é de 10 anos e na responsabilidade extracontratual é
de 3 anos
É decenal o prazo prescricional aplicável às hipóteses de pretensão fundamentadas em inadimplemento
contratual.
É adequada a distinção dos prazos prescricionais da pretensão de reparação civil advinda de
responsabilidades contratual e extracontratual.
Nas controvérsias relacionadas à responsabilidade CONTRATUAL, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/2002)
que prevê 10 anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se
o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/2002, com prazo de 3 anos.
Para fins de prazo prescricional, o termo “reparação civil” deve ser interpretado de forma restritiva,
abrangendo apenas os casos de indenização decorrente de responsabilidade civil extracontratual.
Resumindo. O prazo prescricional é assim dividido:
• Responsabilidade civil extracontratual (reparação civil): 3 anos (art. 206, § 3º, V, do CC).
• Responsabilidade contratual (inadimplemento contratual): 10 anos (art. 205 do CC).
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.280.825-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/06/2018 (Info 632).

O vazamento de dados pessoais não gera dano moral presumido


Caso concreto: um hacker invadiu o sistema informatizado da concessionária de energia elétrica e de lá
copiou os dados pessoais de inúmeros consumidores. O hacker copiou os dados pessoais de Regina (nome
completo, endereço, número do RG, data de nascimento, número de telefone) e os vendeu para uma
empresa de marketing.
Regina ajuizou ação de indenização contra a concessionária sustentando a tese de que o vazamento de dados
pessoais gera dano moral presumido.
O STJ não concordou com o argumento.
O art. 5º, II, da Lei 13.709/2018 (LGPD), prevê que determinados dados pessoais devem ser qualificados como
“sensíveis”, exigindo exigir um tratamento diferenciado por parte de quem armazena essas informações. São
aqueles relacionados com origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou
a organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado
genético ou biométrico.
Os dados que a concessionária armazenava eram aqueles que se fornece em qualquer cadastro, inclusive nos
sites consultados no dia a dia, não sendo, portanto, acobertados por sigilo. Não eram, portanto, dados
pessoais sensíveis. O conhecimento desses dados “comuns” por terceiro em nada violaria o direito de
personalidade da autora.
O vazamento de dados pessoais, a despeito de se tratar de falha indesejável no tratamento de dados de
pessoa natural por pessoa jurídica, não tem o condão, por si só, de gerar dano moral indenizável.
Desse modo, não se trata de dano moral presumido, sendo necessário, para que haja indenização, que o
titular dos dados comprove qual foi o dano decorrente da exposição dessas informações.
STJ. 2ª Turma. AREsp 2130619-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 7/3/2023 (Info 766).

A pensão por ato ilícito somente é devida quando o autor do fato causa a morte ou a debilidade física da
vítima
Caso adaptado: “M” foi acusado de ter praticado homicídio contra “L”. Ele foi absolvido na esfera criminal
em razão da dúvida existente a respeito da causa da morte e do dolo. Na esfera cível, ele foi condenado a
pagar indenização por danos materiais em favor da filha de “L” consistente em pensão mensal. A condenação
na ação indenizatória baseou-se na omissão em prestar socorro e no abandono do corpo em local indevido.
Essa condenação não encontra amparo no Código Civil.
Nos termos dos arts. 948, II, e 950 do CC/2002, a pensão por ato ilícito somente é devida quando o autor do
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fato causa a morte ou a debilidade física da vítima. Não sendo nenhum destes o fundamento da
responsabilidade civil no caso, o afastamento da condenação ao pagamento de pensão é medida que se
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impõe.
STJ. 4ª Turma. REsp 1837149-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 22/11/2022 (Info Especial 9).

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A Teoria do Desvio Produtivo do Consumidor não pode ser adotada nas relações jurídicas regidas
exclusivamente pelo Direito Civil
A Teoria do Desvio Produtivo do Consumidor é predisposta a ser aplicada no âmbito do direito consumerista,
notadamente em razão da situação de desigualdade e de vulnerabilidade que são características das relações
de consumo, não se aplicando, portanto, a relações jurídicas não consumeristas regidas exclusivamente pelo
Direito Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 2017194-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/10/2022 (Info Especial 9).

Na teoria da perda de uma chance, a chance só é indenizável se houver a probabilidade que seria realizada
e a certeza de que a vantagem perdida resultou em prejuízo
Não se aplica a teoria da perda de uma chance para responsabilizar empresa que deixou de apresentar seus
livros societários em prazo hábil para subsidiar impugnação de alegada doação inoficiosa por um de seus
sócios, na hipótese de não restar comprovado o nexo de causalidade entre o extravio dos livros e as chances
de vitória na demanda judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1929450-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/10/2022 (Info 754).

Analfabeto pode celebrar empréstimo consignado, no entanto, alguém tem que assinar por ele a seu rogo;
não é válido o empréstimo consignado firmado por analfabeto e no qual constou apenas a sua digital (sem
a assinatura a rogo)
STJ. 3ª Turma. REsp 1.868.099-CE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/12/2020 (Info 684).

A responsabilidade civil do incapaz pela reparação dos danos é subsidiária, condicional, mitigada e
equitativa
Os incapazes (ex: filhos menores), quando praticarem atos que causem prejuízos, terão responsabilidade
subsidiária, condicional, mitigada e equitativa, nos termos do art. 928 do CC.
A responsabilidade dos pais dos filhos menores será substitutiva, exclusiva e não solidária.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.436.401-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/2/2017 (Info 599).

A prática de sham litigation (litigância simulada) configura ato ilícito de abuso do direito de ação, podendo
gerar indenização por danos morais e materiais
O ajuizamento de sucessivas ações judiciais, desprovidas de fundamentação idônea e intentadas com
propósito doloso, pode configurar ato ilícito de abuso do direito de ação ou de defesa, o denominado assédio
processual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.817.845-MS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 10/10/2019 (Info 658).

Terceiro ofensor também está sujeito à eficácia transubjetiva das obrigações, haja vista que seu
comportamento não pode interferir indevidamente na relação, perturbando o normal desempenho da
prestação pelas partes, sob pena de se responsabilizar pelos danos
Os contratos são protegidos por deveres de confiança, os quais se estendem a terceiros em razão da cláusula
de boa-fé objetiva. Diante do reconhecimento e da ampliação de novas áreas de proteção à pessoa humana,
resultantes da nova realidade social e da ascensão de novos interesses, surgem também novas hipóteses de
violações de direitos, o que impõe sua salvaguarda pelo ordenamento jurídico. Assim, viu-se a necessidade
de analisar o comportamento daquele terceiro que interfere ou induz o inadimplemento de um contrato sob
o prisma de uma proteção extracontratual, do capitalismo ético, da função social do contrato e da proteção
119

das estruturas de interesse da sociedade, tais como a honestidade e a tutela da confiança. De acordo com a
Teoria do Terceiro Cúmplice, terceiro ofensor também está sujeito à eficácia transubjetiva das obrigações,
haja vista que seu comportamento não pode interferir indevidamente na relação, perturbando o normal
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desempenho da prestação pelas partes, sob pena de se responsabilizar pelos danos decorrentes de sua
conduta. A responsabilização de um terceiro, alheio à relação contratual, decorre da sua não funcionalização

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sob a perspectiva social da autonomia contratual, incorporando como razão prática a confiança e o
desenvolvimento social na conduta daqueles que exercem sua liberdade. Uma das hipóteses em que a
conduta condenável do terceiro pode gerar sua responsabilização é a indução interferente ilícita, na qual o
terceiro imiscui-se na relação contratual mediante informações ou conselhos com o intuito de estimular uma
das partes a não cumprir seus deveres contratuais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1895272/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/4/2022 (Info 734).

Em regra, a competência para declarar a nulidade de cláusula de compromisso arbitral é do próprio árbitro
As questões relacionadas à existência de cláusula compromissória válida para fundamentar a instauração do
Juízo arbitral devem ser resolvidas, com primazia, por ele, e não pelo Poder Judiciário.
Nos termos do art. 8º, parágrafo único, da Lei de Arbitragem, a alegação de nulidade da cláusula arbitral,
bem como do contrato que a contém, deve ser submetida, em primeiro lugar, à decisão do próprio árbitro,
sendo prematura a apreciação pelo Poder Judiciário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.696-PI, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 09/08/2016.

Competência para declarar nulidade de compromisso arbitral patológico


O Poder Judiciário pode decretar a nulidade de cláusula arbitral (compromissória) sem que essa questão
tenha sido apreciada anteriormente pelo próprio árbitro?
Regra: Não. Segundo o art. 8º, parágrafo único da Lei de Arbitragem (Lei nº 9.307/96), antes de judicializar a
questão, a parte que deseja arguir a nulidade da cláusula arbitral deve formular esse pedido ao próprio
árbitro (REsp 1.302.900-MG).
Exceção: compromissos arbitrais patológicos. O Poder Judiciário pode, nos casos em que prima facie é
identificado um compromisso arbitral "patológico", isto é, claramente ilegal, declarar a nulidade dessa
cláusula, independentemente do estado em que se encontre o procedimento arbitral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

Os provedores de aplicações de internet não são obrigados a guardar e fornecer dados pessoais dos
usuários, sendo suficiente a apresentação dos registros de número IP
O provedor tem o dever de propiciar meios para que se possa identificar cada um dos usuários, coibindo o
anonimato e atribuindo a cada manifestação uma autoria certa e determinada.
Para cumprir essa obrigação, é suficiente que o provedor guarde e forneça o número IP correspondente à
publicação ofensiva indicada pela parte.
STJ. REsp 1.829.821-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/08/2020 (Info 680).

Provedor de aplicação deve remover conteúdo ofensivo a menor na internet, mesmo sem ordem judicial
Caso concreto: foi feito um post, no Facebook, trazendo a foto de uma criança com seu pai e uma acusação,
no texto, de que este último (o genitor), teria envolvimento com pedofilia e estupro.
O pai denunciou o fato à empresa, que, no entanto, se recusou a excluir a publicação, sob o argumento de
ter analisado a foto e não haver encontrado nela nada que violasse os “padrões de comunidade” da rede
social.
Diante disso, foi ajuizada ação de indenização por danos morais, tendo o Facebook sido condenado.
Responde civilmente por danos morais o provedor de aplicação de internet que, após formalmente
comunicado de publicação ofensiva a imagem de menor, se omite na sua exclusão, independentemente de
ordem judicial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.783.269-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 14/12/2021 (Info 723).
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Pessoa jurídica pode sofrer dano moral


Súmula 227-STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.
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Correção monetária nos contratos de seguro

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Súmula 632-STJ: Nos contratos de seguro regidos pelo Código Civil, a correção monetária sobre a indenização
securitária incide a partir da contratação até o efetivo pagamento.

Seguro e atraso no pagamento


Súmula 616-STJ: A indenização securitária é devida quando ausente a comunicação prévia do segurado
acerca do atraso no pagamento do prêmio, por constituir requisito essencial para a suspensão ou resolução
do contrato de seguro.

A cláusula de reajuste por faixa etária em contrato de seguro de vida é legal, ressalvadas as hipóteses em
que o contrato já tenha previsto alguma outra técnica de compensação do desvio de risco dos segurados
idosos
Em regra, é válida a cláusula de reajuste por faixa etária em contrato de seguro de vida.
Essa cláusula somente não será válida nos casos em que o contrato já tenha previsto alguma outra técnica
de compensação do “desvio de risco” dos segurados idosos, como nos casos de constituição de reserva
técnica para esse fim, a exemplo dos seguros de vida sob regime da capitalização (em vez da repartição
simples).
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 632.992/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 19/03/2019.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.816.750-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/11/2019 (Info 663).

Doença preexistente
Súmula 609-STJ: A recusa de cobertura securitária, sob a alegação de doença preexistente, é ilícita se não
houve a exigência de exames médicos prévios à contratação ou a demonstração de má-fé do segurado.

Cláusula de invalidez total deve abranger a incapacidade de exercer qualquer profissão


O fato de o beneficiário de seguro de vida ter sido reformado pelo Exército em razão de incapacidade total
para sua atividade habitual (serviço militar) não implica, por si só, o direito à percepção de indenização
securitária em seu grau máximo quando a apólice de seguro estipula que esse grau máximo é devido no caso
de invalidez total permanente para qualquer atividade laboral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.318.639-MS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 26/4/2016 (Info 582).

Cobertura securitária em caso de perda total do bem


Ainda que o sinistro tenha ocasionado a perda total do bem, a indenização securitária deve ser calculada com
base no prejuízo real suportado pelo segurado, sendo o valor previsto na apólice, salvo expressa disposição
em contrário, mero teto indenizatório.
A indenização a ser recebida pelo segurado no caso de sinistro deve corresponder ao real prejuízo do
interesse segurado. Há de ser apurado por perícia técnica o alcance do dano. O limite máximo é o da garantia
fixada na apólice. Se os prejuízos forem menores do que o limite máximo fixado na apólice, o segurador só
está obrigado a pagar por aquilo que realmente aconteceu.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.473.828-RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 27/10/2015 (Info 573).

A cláusula contratual que transfere ao comprador a responsabilidade pela desocupação do imóvel que lhe
é alienado pela CEF não é abusiva
A cláusula contratual que impõe ao comprador a responsabilidade pela desocupação de imóvel que lhe é
alienado pela CEF não é abusiva.
Não há abusividade porque a alienação se dá por preço consideravelmente inferior ao valor real do imóvel,
exatamente pela situação peculiar que o imóvel possa se encontrar.
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A obrigação do adquirente de ter que tomar medidas para que o terceiro desocupe o imóvel é um ônus que
já é informado pela CEF aos interessados antes da contratação. Tal informação consta expressamente no
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edital de concorrência pública e no contrato que é celebrado.

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A rápida alienação do imóvel, no estado em que se encontre, favorece o SFH porque libera recursos
financeiros que serão revertidos para novas operações de crédito em favor de famílias sem casa própria.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.509.933-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 4/10/2016 (Info 592).

Nos contratos de seguro de vida em grupo, a obrigação de prestar informações aos segurados recai sobre
o estipulante
(I) Na modalidade de contrato de seguro de vida coletivo, cabe exclusivamente ao estipulante, mandatário
legal e único sujeito que tem vínculo anterior com os membros do grupo segurável (estipulação própria), a
obrigação de prestar informações prévias aos potenciais segurados acerca das condições contratuais quando
da formalização da adesão, incluídas as cláusulas limitativas e restritivas de direito previstas na apólice
mestre, e
(II) não se incluem, no âmbito da matéria afetada, as causas originadas de estipulação imprópria e de falsos
estipulantes, visto que as apólices coletivas nessas figuras devem ser consideradas apólices individuais, no
que tange ao relacionamento dos segurados com a sociedade seguradora.
STJ. 2ª Seção.REsp 1874788-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 2/3/2023 (Recurso Repetitivo
– Tema 1112) (Info 766).

Nos seguros de pessoas, é devida a indenização mesmo que o sinistro tenha ocorrido por conta de
insanidade mental, alcoolismo ou uso de substâncias tóxicas
Nos seguros de pessoas, é vedada a exclusão de cobertura na hipótese de sinistros ou acidentes decorrentes
de atos praticados pelo segurado em estado de insanidade mental, de alcoolismo ou sob efeito de
substâncias tóxicas.
STJ. 2ª Seção. REsp 1999624-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, julgado em
28/09/2022 (Info 751).

Súmula 656-STJ: É válida a cláusula de prorrogação automática de fiança na renovação do contrato principal.
A exoneração do fiador depende da notificação prevista no art. 835 do Código Civil.

Em razão do princípio da unicidade da interrupção prescricional, mesmo diante de uma hipótese


interruptiva extrajudicial e outra em decorrência de citação judicial, apenas admite-se a interrupção do
prazo apenas pelo primeiro dos eventos (no caso, o protesto)
Nos termos do art. 202, caput, do Código Civil, a prescrição pode ser interrompida somente uma única vez.
Logo, em razão do princípio da unicidade da interrupção prescricional, mesmo diante de uma hipótese
interruptiva extrajudicial (protesto de título) e outra em decorrência de ação judicial de cancelamento de
protesto e título executivo, apenas admite-se a interrupção do prazo pelo primeiro dos eventos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1786266-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 11/10/2022 (Info 754).

Aspectos processuais
Súmula 529-STJ: No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo
terceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.
Súmula 537-STJ: Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar a denunciação ou
contestar o pedido do autor, pode ser condenada, direta e solidariamente junto com o segurado, ao
pagamento da indenização devida à vítima, nos limites contratados na apólice.

Fiança prestada por fiador casado sem a autorização do cônjuge


Súmula 332-STJ: A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia.
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Fiança prestada por fiador convivente em união estável sem a outorga uxória do outro companheiro
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Ainda que a união estável esteja formalizada por meio de escritura pública, é válida a fiança prestada por um
dos conviventes sem a autorização do outro.

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STJ. 4ª Turma. REsp 1.299.866-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/2/2014 (Info 535).

É necessária a outorga conjugal para fiança em favor de sociedade cooperativa.


STJ. 4ª Turma. REsp 1.351.058-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/11/2019 (Info 664).

Responsabilidade pelo pagamento de direitos autorais decorrentes de evento executado por sociedade
empresária contratada mediante licitação
Se o Município contratou, mediante licitação, uma empresa para a realização do evento, será dela a
responsabilidade pelo pagamento dos direitos autorais.
Exceções: esta responsabilidade poderá ser transferida para o Município em duas hipóteses:
1) se ficar demonstrado que o Poder Público colaborou direta ou indiretamente para a execução do
espetáculo; ou
2) se ficar comprovado que o Município teve culpa em seu dever de fiscalizar o cumprimento do contrato
público (culpa in eligendo ou in vigilando).
Em síntese: no caso em que sociedade empresária tenha sido contratada mediante licitação para a execução
integral de evento festivo promovido pelo Poder Público, a contratada - e não o ente que apenas a contratou,
sem colaborar direta ou indiretamente para a execução do espetáculo - será responsável pelo pagamento
dos direitos autorais referentes às obras musicais executadas no evento, salvo se comprovada a ação culposa
do contratante quanto ao dever de fiscalizar o cumprimento dos contratos públicos (culpa in eligendo ou in
vigilando).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.957-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/8/2016 (Info 588).

Inadmissibilidade de interdito proibitório


Súmula 228-STJ: É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral.

É lícita a divulgação de paródia sem a indicação do autor da obra originária


Caso concreto: programa de TV Pânico na Band fez uma paródia de determinada música. O compositor da
canção ajuizou ação de indenização por danos morais. O pedido foi julgado improcedente.
A paródia é forma de expressão do pensamento, é imitação cômica de composição literária, filme, música,
obra qualquer, dotada de comicidade, que se utiliza do deboche e da ironia para entreter. É interpretação
nova, adaptação de obra já existente a um novo contexto, com versão diferente, debochada, satírica.
As paródias são permitidas e o autor da obra musical, em regra, não pode impedir a sua veiculação. Tanto
que a paródia é considerada como uma limitação do direito de autor, conforme prevê o art. 47 da Lei nº
9.610/98. Assim, se respeitados os limites da paródia, não é necessária prévia autorização do autor nem
enseja pagamento de indenização, não se aplicando o art. 29 da Lei nº 9.610/98.
Vale ressaltar, por fim, que não há, na Lei de Direitos Autorais, qualquer dispositivo que imponha, quando
do uso da paródia, o anúncio ou a indicação do nome do autor da obra originária.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.967.264-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/02/2022 (Info 725).

Eficácia subjetiva da coisa julgada de ação reintegratória


Fernando vendeu um imóvel para Pedro. Este, por sua vez, alienou o bem para João.
Ocorre que Pedro não pagou Fernando, razão pela qual este propôs ação de rescisão contratual cumulada
com reintegração de posse unicamente contra Pedro.
A sentença foi procedente, determinado a rescisão da venda feita para Pedro e determinado que ele
devolvesse a posse do imóvel para Fernando.
Sucede que Pedro não mais reside no imóvel. Quem está na posse do imóvel é João, que assumiu o local
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antes de a ação de reintegração ser proposta.


Os efeitos da sentença de reintegração de posse estendem-se a João (terceiro de boa-fé)?
NÃO. Não está sujeito aos efeitos de decisão reintegratória de posse proferida em processo do qual não
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participou o terceiro de boa-fé que, antes da citação, adquirira do réu o imóvel objeto do litígio.

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Em regra, a sentença faz coisa julgada somente para as partes do processo, não beneficiando nem
prejudicando terceiros (art. 472 do CPC 1973; art. 506 do CPC 2015). Também não é caso de aplicar o art. 42,
§ 3º do CPC 1973 (art. 109, § 3º do CPC 2015) porque João (terceiro) adquiriu o imóvel ANTES da ação
proposta pelo autor. No momento em que ele comprou a coisa, esta ainda não era litigiosa, ou seja, ainda
não havia nenhuma demanda judicial disputando este bem. O bem ou direito somente se torna litigioso com
a litispendência, ou seja, com a lide pendente. A lide é considerada pendente, para o autor, com a propositura
da ação, enquanto que, para o réu, com a citação válida (art. 219 do CPC 1973) (art. 240 do CPC 2015). Se o
bem é adquirido por terceiro de boa-fé antes de configurada a litigiosidade, não há falar em extensão dos
efeitos da coisa julgada ao adquirente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.458.741-GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/4/2015 (Info 560).

Na ação de reintegração exige-se a citação de todos os que exercem a posse simultânea do imóvel,
considerando que são litisconsortes passivos necessários
Na hipótese de composse (quando mais de uma pessoa exerce a posse do mesmo bem), a decisão judicial de
reintegração de posse deverá atingir de modo uniforme todas as partes ocupantes do imóvel, configurando-
se caso de litisconsórcio passivo necessário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.811.718-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 02/08/2022 (Info 743).

Invalidade da penhora sobre a integralidade de imóvel submetido a time-sharing


É inválida a penhora da integralidade de imóvel submetido ao regime de multipropriedade (time-sharing) em
decorrência de dívida de condomínio de responsabilidade do organizador do compartilhamento.
A multipropriedade imobiliária, mesmo não efetivamente codificada, possui natureza jurídica de direito
real, harmonizando-se com os institutos constantes do rol previsto no art. 1.225 do Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.546.165-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 26/4/2016 (Info 589).

A procuração em causa própria (in rem suam) não é título translativo de propriedade
A procuração em causa própria é o negócio jurídico unilateral que confere um poder de representação ao
outorgado, que o exerce em seu próprio interesse, por sua própria conta, mas em nome do outorgante.
Também é conhecido pelas expressões em latim “in rem propriam” ou “in rem suam”.
Sua utilização é muito comum para a celebração de contratos de compra e venda, facilitando a transmissão
da propriedade, já que não haverá a necessidade da presença física do alienante no cartório.
A procuração em causa própria, por si só, não é considerada título translativo de propriedade.
Em outras palavras, a procuração em causa própria não transmite o direito objeto do negócio jurídico. O que
essa procuração faz é passar ao outorgado o poder de transferir esse direito.
Assim, mesmo após passar a procuração, o outorgante continua sendo titular do direito (real ou pessoal)
objeto da procuração em causa própria. Quando recebe a procuração, o outorgado passa a ser apenas titular
do poder de dispor desse direito, em seu próprio interesse, mas em nome alheio.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.345.170-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

Em ação demolitória, não há obrigatoriedade de litisconsórcio passivo necessário dos coproprietários do


imóvel
Nas ações demolitórias de obra ajuizadas em face de construções erguidas em desacordo com as regras
urbanísticas ou ambientais é prescindível a citação dos coproprietários do imóvel para integrarem a relação
processual, na qualidade de litisconsorte passivo necessário.
STJ. 1ª Turma. REsp 1830821-PE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 14/2/2023 (Info 764).
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Inaplicabilidade do direito de preferência em contrato de compra e venda celebrado entre condôminos


O direito de preferência previsto no art. 504 do CC aplica-se ao contrato de compra e venda celebrado entre
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condômino e terceiro, e não àquele ajustado entre condôminos.

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Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro consorte a
quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o
preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de
decadência.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.137.176-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 16/2/2016 (Info 577).

Condômino inadimplente e direito a voto


O condômino que estiver em débito com as obrigações condominiais não poderá votar nas assembleias do
condomínio (art. 1.335, III, do CC).
No entanto, se o condômino for proprietário de diversas unidades autônomas, ainda que inadimplente em
relação a uma ou algumas destas, terá direito de participação e de voto relativamente às suas unidades que
estejam em dia com as taxas do condomínio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.375.160-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 1º/10/2013 (Info 530).

Não se pode proibir o condômino inadimplente de usar as áreas comuns do condomínio


O condomínio, independentemente de previsão em regimento interno, não pode proibir, em razão de
inadimplência, condômino e seus familiares de usar áreas comuns, ainda que destinadas apenas a lazer.
Assim, é ilícita a disposição condominial que proíbe a utilização de áreas comuns do edifício por condômino
inadimplente e seus familiares como medida coercitiva para obrigar o adimplemento das taxas condominiais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.564.030-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 9/8/2016 (Info 588).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.699.022-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/05/2019 (Info 651).

Cobrança de cota condominial proposta apenas contra o promitente comprador e impossibilidade de


penhora
Em ação de cobrança de cotas condominiais proposta somente contra o promissário comprador, não é
possível a penhora do imóvel que gerou a dívida — de propriedade do promissário vendedor —, admitindo-
se, no entanto, a constrição dos direitos aquisitivos decorrentes do compromisso de compra e venda.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.273.313-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 3/11/2015 (Info 573).

Ação de cobrança de débitos condominiais proposta contra o arrendatário


A ação de cobrança de débitos condominiais pode ser proposta contra o arrendatário do imóvel.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.704.498-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/04/2018 (Info 624).

Aplicação de multas sancionatória e moratória por inadimplência condominial contumaz


Se o condômino descumpre reiteradamente o dever de contribuir para as despesas do condomínio (inciso I
do art. 1.336 do CC), o condomínio poderá aplicar contra ele, além da multa moratória (§ 1º do art. 1.336 do
CC), multa sancionatória em razão de comportamento "antissocial" ou "nocivo" (art. 1.337 do CC).
Assim, o condômino que deixar de adimplir reiteradamente a importância devida a título de cotas
condominiais poderá, desde que aprovada a sanção em assembleia por deliberação de 3/4 (três quartos) dos
condôminos, ser obrigado a pagar multa em até o quíntuplo do valor atribuído à contribuição para as
despesas condominiais, conforme a gravidade da falta e a sua reiteração.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.247.020-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/10/2015 (Info 573).

Condomínios residenciais podem impedir, por meio da convenção condominial, o uso de imóveis para
locação pelo Airbnb
Existindo na Convenção de Condomínio regra impondo destinação residencial, mostra-se indevido o uso de
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unidade condominial para fins de hospedagem remunerada, com múltipla e concomitante locação de
aposentos existentes nos apartamentos, a diferentes pessoas, por curta temporada (ex: locação pelo Airbnb).
Vale ressaltar que existe a possibilidade de os próprios condôminos de um condomínio edilício de fim
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residencial deliberarem em assembleia, por maioria qualificada (2/3 das frações ideais), permitir a utilização

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das unidades condominiais para fins de hospedagem atípica, por intermédio de plataformas digitais ou outra
modalidade de oferta, ampliando o uso para além do estritamente residencial e, posteriormente, querendo,
incorporarem essa modificação à Convenção do Condomínio.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.819.075-RS, Rel. p/ acórdão Min. Raul Araújo, julgado em 20/04/2021 (Info 693).

Aplicação de multa a condômino antissocial e direito de defesa


O Código Civil prevê que, se o condômino apresentar reiterado comportamento antissocial, poderá ser
punido com multa (art. 1.337, parágrafo único).
Essa sanção para o comportamento antissocial reiterado de condômino só poderá ser aplicada se antes foram
conferidas ao condômino as garantias da ampla defesa e do contraditório.
Enunciado 92-CJF: Art. 1.337: As sanções do art. 1.337 do novo Código Civil não podem ser aplicadas sem
que se garanta direito de defesa ao condômino nocivo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.365.279-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/8/2015 (Info 570).

O condomínio, por ser uma massa patrimonial, não possui honra objetiva e não pode sofrer dano moral
STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.593-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

É possível o reconhecimento da usucapião de bem imóvel com a implementação do requisito temporal no


curso da demanda
É possível o reconhecimento da usucapião quando o prazo exigido por lei se complete no curso do processo
judicial, conforme a previsão do art. 493, do CPC/2015, ainda que o réu tenha apresentado contestação.
Em março de 2017, João ajuizou ação pedindo o reconhecimento de usucapião especial urbana, nos termos
do art. 1.240 do CC (que exige posse ininterrupta e sem oposição por 5 anos). Em abril de 2017, o proprietário
apresentou contestação pedindo a improcedência da demanda. As testemunhas e as provas documentais
atestaram que João reside no imóvel desde setembro de 2012, ou seja, quando o autor deu entrada na ação,
ainda não havia mais de 5 anos de posse. Em novembro de 2017, os autos foram conclusos ao juiz para
sentença. O magistrado deverá julgar o pedido procedente considerando que o prazo exigido por lei para a
usucapião se completou no curso do processo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/06/2018 (Info 630).

Bem furtado pode ser objeto de usucapião, desde que tenha cessado a clandestinidade
É possível a usucapião de bem móvel proveniente de crime após cessada a clandestinidade ou a violência.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.637.370-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/09/2019 (Info 656).

Não configura decisão extra petita a sentença que, reconhecendo a usucapião, determina a liquidação
para individualizar a área usucapida, ainda que não haja pedido expresso na inicial
É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem com condenar a parte em quantidade
superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.
No entanto, não há julgamento extra petita quando o julgador reconhece os pedidos implícitos formulados
na petição inicial. Assim, o magistrado não se encontra restrito ao que está expresso no capítulo referente
aos pedidos, sendo-lhe permitido extrair, mediante interpretação lógico-sistemática da petição inicial, aquilo
que a parte pretende obter, aplicando o princípio da equidade.
Não é extra petita o julgado que decide questão que é reflexo de pedido deduzido na inicial, superando a
ideia da absoluta congruência entre o pedido e a sentença para outorgar ao demandante a tutela jurisdicional
adequada e efetiva.
A sentença judicial que, ao reconhecer a usucapião, individualiza, de forma clara e precisa, a área usucapida,
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pode ser objeto de registro no cartório de registro de imóveis, sem a necessidade de pedido expresso na
inicial a respeito da medida extrajudicial.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1802192-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 12/12/2022 (Info
Página

765).

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A existência de contrato de arrendamento mercantil do bem móvel impede a aquisição de sua propriedade
pela usucapião, contudo, verificada a prescrição da dívida, inexiste óbice legal para prescrição aquisitiva
A existência de contrato de arrendamento mercantil do bem móvel impede a aquisição de sua propriedade
pela usucapião, contudo, verificada a prescrição da dívida, inexiste óbice legal para prescrição aquisitiva.
Exemplo: João celebrou contrato de arrendamento mercantil com o banco para aquisição de um automóvel;
em 1998, o arrendatário deixou de pagar as prestações; o arrendador tinha o prazo de 5 anos para ajuizar
ação de cobrança, ou seja, até 2003; até essa data (2003), não se podia falar em usucapião; a partir de 2003,
como o arrendador já não mais poderia ajuizar a ação de cobrança, entende-se que cessaram os vícios que
maculavam a posse do arrendatário; logo, a partir de 2003 começou a ser contado o prazo de usucapião;
como o prazo de usucapião extraordinário de bem móvel é de 5 anos, o arrendatário adquiriu a propriedade
por usucapião em 2008.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.528.626-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, julgado em
17/12/2019 (Info 667).

Usucapião especial urbana e possibilidade de a área do imóvel ser inferior ao "módulo urbano"
Determinada pessoa preencheu os requisitos para obter o direito à usucapião especial urbana, prevista no
art. 183 da CF/88. Ocorre que o juiz negou o pedido alegando que o plano diretor da cidade proíbe a
existência de imóveis urbanos registrados com metragem inferior a 100m2. Em outras palavras, fixou que o
módulo mínimo dos lotes urbanos naquele Município seria de 100m2 e, como a área ocupada pela pessoa
seria menor que isso, ela não poderia registrar o imóvel em seu nome.
A decisão do magistrado está correta? O fato de haver essa limitação na lei municipal impede que a pessoa
tenha direito à usucapião especial urbana?
NÃO. Se forem preenchidos os requisitos do art. 183 da CF/88, a pessoa terá direito à usucapião especial
urbana e o fato de o imóvel em questão não atender ao mínimo dos módulos urbanos exigidos pela legislação
local para a respectiva área (dimensão do lote) não é motivo suficiente para se negar esse direito, que tem
índole constitucional.
Para que seja deferido o direito à usucapião especial urbana basta o preenchimento dos requisitos exigidos
pelo texto constitucional, de modo que não se pode impor obstáculos, de índole infraconstitucional, para
impedir que se aperfeiçoe, em favor de parte interessada, o modo originário de aquisição de propriedade.
STF. Plenário. RE 422349/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/4/2015 (repercussão geral) (Info 783).

Imóveis vinculados ao SFH não são suscetíveis de usucapião


O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, porque afetado à
prestação de serviço público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois, imprescritível (insuscetível
de usucapião).
STJ. 3ª Turma. REsp 1448026/PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016.

Súmula 11-STJ: A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação de usucapião especial, não afasta
a competência do foro da situação do imóvel.

A destinação de parte do imóvel para fins comerciais não impede o reconhecimento da usucapião especial
urbana sobre a totalidade da área
O fato de o autor da ação de usucapião utilizar uma parte do imóvel para uma atividade comercial que serve
ao sustento da família domiciliada no imóvel não inviabiliza a prescrição aquisitiva buscada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.777.404-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).
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Não cabe oposição em ação de usucapião


Não cabe intervenção de terceiros na modalidade de oposição na ação de usucapião.
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STJ. 3ª Turma. REsp 1.726.292-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/02/2019 (Info 642).

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Não é possível o reconhecimento de ofício do direito ao recebimento de indenização por benfeitorias úteis
ou necessárias em ação possessória
STJ. 3ª Turma. REsp 1.836.846-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info 680).

Ajuizamento de ação possessória por invasor de terra pública contra outros particulares
É cabível o ajuizamento de ações possessórias por parte de invasor de terra pública contra outros
particulares.
A ocupação de área pública, sem autorização expressa e legítima do titular do domínio, não pode ser
confundida com a mera detenção.
Aquele que invade terras e nela constrói sua moradia jamais exercerá a posse em nome alheio. Não há entre
ele e o proprietário uma relação de dependência ou subordinação.
Ainda que a posse não possa ser oposta ao ente público, senhor da propriedade do bem, ela pode ser oposta
contra outros particulares, tornando admissíveis as ações possessórias entre invasores.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.484.304-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/3/2016 (Info 579).

Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias para defender a sua
permanência no local?
1) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face do PODER PÚBLICO: não é possível.
Não terá direito à proteção possessória. Não poderá exercer interditos possessórios porque, perante o Poder
Público, ele exerce mera detenção.
2) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face de outro PARTICULAR: terá direito,
em tese, à proteção possessória. É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares
sobre bem público dominical, pois entre ambos a disputa será relativa à posse.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).

Particular pode ajuizar ação possessória tendo como objeto bem público de uso comum do povo
Particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre exercício do uso de via municipal (bem
público de uso comum do povo) instituída como servidão de passagem.
Ex: a empresa começou a construir uma indústria e a obra está invadindo a via de acesso (rua) que liga a
avenida principal à uma comunidade de moradores locais. Os moradores possuem legitimidade para ajuizar
ação de reintegração de posse contra a empresa alegando que a rua que está sendo invadida representa uma
servidão de passagem.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.176-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/9/2016 (Info 590).

Ação possessória entre particulares e possibilidade de oposição do ente público


Súmula 637-STJ: O ente público detém legitimidade e interesse para intervir, incidentalmente, na ação
possessória entre particulares, podendo deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive, se for o caso, o
domínio.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 07/11/2019.

A averbação do desmembramento de imóvel urbano é condição indispensável para a procedência da ação


de adjudicação compulsória
Exemplo hipotético: Jasmim Ltda. ajuizou ação de adjudicação compulsória contra Dimensão Ltda. alegando
em síntese que celebrou contrato de promessa de compra e venda de um lote que se encontrava em fase de
desmembramento perante a “Prefeitura” (Município). Afirma que, apesar de celebrado o negócio, a ré ainda
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não outorgou a escritura definitiva do imóvel. A requerida defendeu-se afirmando que não outorgou a
escritura pública porque ainda não houve o desdobro do imóvel prometido à venda e que isso seria obstáculo
à procedência da adjudicação compulsória.
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Em um caso semelhante a esse, o STJ decidiu que não é possível a procedência da ação de adjudicação
compulsória.

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O art. 37 da Lei nº 6.766/79 (Lei de parcelamento do solo urbano) afirma que “é vedado vender ou prometer
vender parcela de loteamento ou desmembramento não registrado”.
Além disso, segundo o regramento previsto no Decreto-Lei nº 58/1937, julgada procedente a ação de
adjudicação compulsória, a sentença valerá como título para transcrição no cartório de registro de imóveis
respectivo. Assim, se o imóvel de cuja escritura se exige a outorga não tem matrícula própria, individualizada
no registro de imóveis, eventual sentença que substitua a declaração de vontade do promitente vendedor
torna-se inócua, considerando que não será possível a sua transcrição.
A existência de imóvel registrável (imóvel que pode ser levado a registro) é condição específica da ação de
adjudicação compulsória, de modo que a averbação do desmembramento de imóvel urbano, devidamente
aprovado pelo Município, é formalidade que antecede necessariamente o registro de área fracionada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.851.104-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

BEM DE FAMÍLIA
Bem de família e pessoa que mora sozinha
Súmula 364-STJ: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente
a pessoas solteiras, separadas e viúvas.

Impenhorabilidade de bem de família alugado


Súmula 486-STJ: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde
que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família.

Impenhorabilidade do único imóvel comercial do devedor que esteja alugado


Segundo a redação literal da súmula 486-STJ, "é impenhorável o único imóvel RESIDENCIAL do devedor que
esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a
moradia da sua família."
A 2ª Turma do STJ, contudo, ampliou esta proteção e decidiu que também é impenhorável o único imóvel
COMERCIAL do devedor que esteja alugado quando o valor do aluguel é destinado unicamente ao pagamento
de locação residencial por sua entidade familiar.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

O benefício da impenhorabilidade do bem de família deve ser concedido ainda que o imóvel tenha sido
adquirido no curso da demanda executiva, salvo na hipótese do art. 4º da Lei 8.009/90
Para o bem de família instituído nos moldes da Lei nº 8.009/90, a proteção conferida pelo instituto alcançará
todas as obrigações do devedor, indistintamente, ainda que o imóvel tenha sido adquirido no curso de uma
demanda executiva.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.792.265-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/12/2021 (Info 723).

Bem de família ocupado por familiar


Se o executado possui um único imóvel residencial, mas quem mora nele é um parente (ex.: filho), mesmo
assim esse imóvel será considerado como bem de família, sendo impenhorável.
Em outras palavras, constitui bem de família, insuscetível de penhora, o único imóvel residencial do devedor
em que resida seu familiar, ainda que o proprietário nele não habite.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.216.187-SC, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 14/5/2014 (Info 543).

Impenhorabilidade do imóvel em nome da sociedade empresária, mas no qual reside o sócio


A impenhorabilidade do bem de família no qual reside o sócio devedor não é afastada pelo fato de o imóvel
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pertencer à sociedade empresária.


STJ. 4ª Turma. EDcl no AREsp 511.486-SC, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 3/3/2016 (Info 579).
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O imóvel dado em caução em contrato de locação comercial que pertence a determinada sociedade
empresária e é utilizado como moradia por um dos sócios recebe a proteção da impenhorabilidade de bem
de família
É impenhorável o bem de família oferecido como caução em contrato de locação comercial. Isso porque a
exceção prevista no art. 3º, VII, da Lei nº 8.009/90 não se aplica à hipótese de caução, mas apenas para os
casos de fiança.
O instituto do bem de família é um corolário da dignidade da pessoa humana e tem o condão de proteger o
direito fundamental à moradia (arts. 1º, III, e 6º da Constituição Federal).
Assim, o imóvel no qual reside o sócio não pode, em regra, ser objeto de penhora pelo simples fato de
pertencer à pessoa jurídica, ainda mais quando se trata de sociedades empresárias de pequeno porte. Em
tais situações, mesmo que no plano legal o patrimônio de um e outro sejam distintos - sócio e sociedade -, é
comum que tais bens, no plano fático, sejam utilizados indistintamente pelos dois.
Se a lei tem por escopo a ampla proteção ao direito de moradia, o fato de o imóvel ter sido objeto de caução,
não retira a proteção somente porque pertence à pequena sociedade empresária. Caso contrário, haveria o
esvaziamento da salvaguarda legal e daria maior relevância do direito de crédito em detrimento da utilização
do bem como residência pelo sócio e por sua família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.935.563-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 03/05/2022 (Info 735).

Proprietário que aceita que seu bem de família sirva como garantia de um contrato de alienação fiduciária
em garantia não pode, posteriormente, alegar que esse ato de disposição foi ilegal
A proteção legal conferida ao bem de família pela Lei nº 8.009/90 não pode ser afastada por renúncia do
devedor ao privilégio, pois é princípio de ordem pública, prevalente sobre a vontade manifestada.
A despeito disso, o bem de família legal não gera inalienabilidade. Logo, é possível que o proprietário pratique
atos de disposição dele, podendo, por exemplo, oferecê-lo como objeto de alienação fiduciária em garantia.
A utilização abusiva do direito à proteção do bem de família viola o princípio da boa-fé objetiva e, portanto,
não deve ser tolerada. Assim, deve ser afastado o benefício conferido ao titular do bem de família que exerce
o direito em desconformidade com o ordenamento jurídico.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.595.832-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 29/10/2019 (Info 664).

O crédito oriundo de contrato de empreitada para a construção, ainda que parcial, de imóvel residencial,
encontra-se nas exceções legais à impenhorabilidade do bem de família
O crédito oriundo de contrato de empreitada para a construção, ainda que parcial, de imóvel residencial,
encontra-se nas exceções legais à impenhorabilidade do bem de família.
Ex: João comprou uma casa antiga para reformar e passar a morar ali com a família. Ele contratou a empresa
FB Engenharia para fazer a reforma. A empresa terminou o serviço e João passou a residir no local. Ocorre
que ele não pagou as últimas parcelas do contrato com a empresa e ficou devendo R$ 40 mil, materializado
em notas promissórias. O imóvel onde João reside poderá ser penhorado para pagar a dívida, sendo essa
uma exceção à impenhorabilidade do bem de família. Fundamento: art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90.
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária,
trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: (...) II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento
destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função
do respectivo contrato;
STJ. 4ª Turma. REsp 1.221.372-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/10/2019 (Info 658).

Bem de família dado em garantia hipotecária


O bem de família é IMPENHORÁVEL quando for dado em garantia real de dívida por um dos sócios da pessoa
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jurídica, cabendo ao credor o ônus da prova de que o proveito se reverteu à entidade familiar.
O bem de família é PENHORÁVEL quando os únicos sócios da empresa devedora são os titulares do imóvel
hipotecado, sendo ônus dos proprietários a demonstração de que não se beneficiaram dos valores auferidos.
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Assim, é possível a penhora de bem de família dado em garantia hipotecária pelo casal quando os cônjuges
forem os únicos sócios da pessoa jurídica devedora.

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STJ. 2ª Seção. EAREsp 848.498-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/04/2018 (Info 627).

Bem de família e vaga de garagem


Súmula 449-STJ: A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem
de família para efeito de penhora.

Bem de família e imóvel rural


Tratando-se de bem de família que se constitua em imóvel rural, é possível que se determine a penhora da
fração que exceda o necessário à moradia do devedor e de sua família.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.237.176-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 4/4/2013 (Info 521).

Não se pode penhorar o bem de família com base no inciso IV do art. 3º da Lei 8.009/90 se o débito de
natureza tributária está relacionado com outro imóvel que pertencia ao devedor
Para a aplicação da exceção à impenhorabilidade do bem de família prevista no art. 3º, IV, da Lei nº 8.009/90
é preciso que o débito de natureza tributária seja proveniente do próprio imóvel que se pretende penhorar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.332.071-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 18/02/2020 (Info 665).

Possibilidade de penhora do bem de família do fiador


Súmula 549-STJ: É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 14/10/2015, DJe 19/10/2015.

É possível penhorar a casa do fiador por dívidas decorrentes do contrato de locação?


SIM. É legítima a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação. Isso porque o art.
3º, VII, da Lei 8.009/90 afirma que a impenhorabilidade do bem de família não se aplica no caso de dívidas
do fiador decorrentes do contrato de locação.
O STF decidiu que esse dispositivo é constitucional e não viola o direito à moradia.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.363.368-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo)
(Info 552).

Hipóteses de penhorabilidade do bem de família devem ser interpretadas restritivamente


Segundo o STJ, as exceções à impenhorabilidade do bem de família, previstas no art. 3º, da Lei nº 8.009/90,
devem ser interpretadas restritivamente.
STJ. 4ª Turma. REsp 997.261-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/3/2012.

Penhora do bem de família e garantia de dívida


É possível a penhora do bem de família para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia
real pelo casal ou pela entidade familiar (inciso V do art. 3º).
A exceção prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90, que deve ser interpretada restritivamente, somente
atinge os bens que foram dados em garantia de dívidas contraídas em benefício da própria família, não
abrangendo bens dados em garantia de terceiros.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.115.265-RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 24/4/2012.

Penhorabilidade de bem de família dado em hipoteca não registrada


O art. 3º da Lei nº 8.009/90 traz as hipóteses em que o bem de família legal pode ser penhorado. O inciso V
afirma que o imóvel poderá ser penhorado, mesmo sendo bem de família, se ele foi dado como hipoteca
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(garantia real) de uma dívida em favor da entidade familiar e esta, posteriormente, não foi paga. Neste caso,
o bem de família poderá ser alienado e seu produto utilizado para satisfazer o credor.
Vale ressaltar que não é necessário que a hipoteca esteja registrada no cartório de Registro de Imóveis.
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Assim, a ausência de registro da hipoteca em cartório de registro de imóveis não afasta a exceção à regra de
impenhorabilidade prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90.

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Em outras palavras, o fato de a hipoteca não ter sido registrada não pode ser utilizado como argumento pelo
devedor para evitar a penhora do bem de família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.455.554-RN, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 14/6/2016 (Info 585).

O terreno cuja unidade habitacional está em fase de construção, para fins de residência, está protegido
pela impenhorabilidade por dívidas, por se considerar antecipadamente bem de família
A obra inacabada já se presume como residência e deve ser protegida. Para fins de proteção do bem de
família, deve-se adotar uma interpretação finalística e valorativa da Lei nº 8.009/90, uma interpretação que
leve em consideração o contexto sociocultural e econômico do País.
Diante disso, o imóvel adquirido para o escopo de moradia futura, ainda que não esteja a unidade
habitacional pronta - por estar em etapa preliminar de obra, sem condições para qualquer cidadão nela
residir -, fica excluído da constrição judicial, uma vez que a situação econômico-financeira vivenciada por boa
parte da população brasileira evidencia que a etapa de construção imobiliária, muitas vezes, leva anos de
árduo esforço e constante trabalho para a sua concretização, para fins residenciais próprios ou para obtenção
de frutos civis voltados à subsistência e moradia em imóvel locado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1960026-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 11/10/2022 (Info 753).

O cônjuge ou companheiro sobrevivente possui direito real de habitação mesmo que seja proprietário de
outros bens
O reconhecimento do direito real de habitação, a que se refere o art. 1.831 do Código Civil, não pressupõe a
inexistência de outros bens no patrimônio do cônjuge/companheiro sobrevivente. Em outras palavras,
mesmo que o cônjuge ou companheiro sobrevivente possua outros bens, ele terá direito real de habitação.
Isso se justifica porque o objetivo da lei é permitir que o cônjuge/companheiro sobrevivente permaneça no
mesmo imóvel familiar que residia ao tempo da morte como forma, não apenas de concretizar o direito
constitucional à moradia, mas também por razões de ordem humanitária e social, já que não se pode negar
a existência de vínculo afetivo e psicológico estabelecido pelos cônjuges/companheiros com o imóvel em
que, no transcurso de sua convivência, constituíram não somente residência, mas um lar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.582.178-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/09/2018 (Info 633).

Súmula 642-STJ: O direito à indenização por danos morais transmite-se com o falecimento do titular,
possuindo os herdeiros da vítima legitimidade ativa para ajuizar ou prosseguir a ação indenizatória.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 02/12/2020, DJe 07/12/2020.

Súmula 619-STJ: A ocupação indevida de bem público configura mera detenção, de natureza precária,
insuscetível de retenção ou indenização por acessões e benfeitorias.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 24/10/2018, DJe 30/10/2018.

Súmula 382-STJ: A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica
abusividade.
• Importante.

Súmula 369-STJ: No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja cláusula resolutiva
expressa, é necessária a notificação prévia do arrendatário para constituí-lo em mora.
• Importante.

Súmula 293-STJ: A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de
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arrendamento mercantil.
• Aprovada em 05/05/2004, DJ 13/05/2004.
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• Importante.

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Súmula 370-STJ: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.
• Importante.

JURISPRUDÊNCIA EM TESES
Direito das Coisas
A inexistência de registro imobiliário de imóvel objeto de ação de usucapião não induz presunção de que o
bem seja público (terras devolutas), cabendo ao Estado provar a titularidade do terreno como óbice ao
reconhecimento da prescrição aquisitiva.

A usucapião é forma de aquisição originária da propriedade, de modo que não permanecem os ônus reais
que gravavam o imóvel antes da sua declaração.

Arbitragem
O Poder Judiciário pode, em situações excepcionais, declarar a nulidade de cláusula compromissória arbitral,
independentemente do estado em que se encontre o procedimento arbitral, quando aposta em
compromisso claramente ilegal.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Não ofende o art. 10 do CPC/2015 o provimento jurisdicional que dá classificação jurídica à questão
controvertida apreciada em sede de embargos de divergência
Não há ofensa ao princípio da não surpresa (art. 10 do CPC) quando o magistrado, diante dos limites da causa
de pedir, do pedido e do substrato fático delineado nos autos, realiza a tipificação jurídica da pretensão no
ordenamento jurídico posto, aplicando a lei adequada à solução do conflito, ainda que as partes não a
tenham invocado (iura novit curia) e independentemente de oitiva delas, até porque a lei deve ser do
conhecimento de todos, não podendo ninguém se dizer surpreendido com a sua aplicação.
Esse princípio não é absoluto e sua aplicação não é automática e irrestrita.
Desse modo, não há ofensa ao art. 10 do CPC/2015 se o Tribunal dá classificação jurídica aos fatos
controvertidos contrários à pretensão da parte com aplicação da lei aos fatos narrados nos autos.
STJ. 1ª Seção. EDcl nos EREsp 1213143-RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 8/2/2023 (Info 763).

Ação contra a Eletrobrás nos casos de empréstimo compulsório sobre energia elétrica
Súmula 553-STJ: Nos casos de empréstimo compulsório sobre o consumo de energia elétrica, é competente
a Justiça estadual para o julgamento de demanda proposta exclusivamente contra a Eletrobrás. Requerida a
intervenção da União no feito após a prolação de sentença pelo juízo estadual, os autos devem ser remetidos
ao Tribunal Regional Federal competente para o julgamento da apelação se deferida a intervenção.

ANATEL não é parte legítima em ação de usuário de telefonia contra a concessionária


Súmula 506-STJ: A Anatel não é parte legítima nas demandas entre a concessionária e o usuário de telefonia
decorrentes de relação contratual.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 26/03/2014.

Demanda em que se pede a obtenção de diploma de curso de ensino à distância negado por problemas de
credenciamento da instituição de ensino superior junto ao MEC
Súmula 570-STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento de demanda em que se discute a
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ausência de ou o obstáculo ao credenciamento de instituição particular de ensino superior no Ministério da


Educação como condição de expedição de diploma de ensino a distância aos estudantes.
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O procedimento de dúvida suscitado por registrador imobiliário será julgado pela Justiça Federal caso
envolva bens de autarquia pública federal
Caso concreto: a Universidade Federal do Ceará (autarquia pública federal) protocolizou no cartório do
Registro de Imóveis pedido de unificação de dois imóveis com abertura de uma matrícula para o terreno
unificado. O Titular do Registro Imobiliário expediu nota devolutiva fazendo certas exigências. A UFC não
concordou e pediu que o Oficial suscitasse dúvida. Essa dúvida será julgada por um juiz federal.
O processamento e julgamento de procedimento administrativo de dúvida suscitado por oficial de registro
imobiliário relativamente a imóveis de autarquia pública federal compete ao Juízo federal.
STJ. 1ª Seção. CC 180.351-CE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 28/09/2022 (Info 751).

O autor pode optar pelo ajuizamento da ação contra a União na capital do Estado-membro, mesmo que
exista Vara Federal instalada no município do interior em que ele for domiciliado
O art. 109, § 2º, da Constituição Federal encerra a possibilidade de a ação contra a União ser proposta no
domicílio do autor, no lugar em que ocorrido o ato ou fato ou em que situada a coisa, na capital do estado-
membro, ou ainda no Distrito Federal.
Desse modo, o autor, se quiser ajuizar demanda contra a União, terá cinco opções, podendo propor a ação:
a) no foro do domicílio do autor;
b) no lugar em que ocorreu o ato ou fato que deu origem à demanda;
c) no lugar em que estiver situada a coisa;
d) na capital do Estado-membro; ou
e) no Distrito Federal.
STF. 1ª Turma. RE 463101 AgR-AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 27/10/2015.
STF. 2ª Turma. ARE 1151612 AgR/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19/11/2019 (Info 960).

Competência para julgar causas envolvendo a OAB


Compete à justiça federal processar e julgar ações em que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), quer
mediante o conselho federal, quer seccional, figure na relação processual.
STF. Plenário. RE 595332/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 31/8/2016 (repercussão geral) (Info 837).

Competência e discussão sobre área remanescente das comunidades dos quilombos


A União deverá figurar como litisconsorte necessária em ação na qual se discute com particulares se
determinada área é remanescente das comunidades dos quilombos (art. 68 do ADCT), mesmo que na ação
já exista a presença da Fundação Cultural Palmares (fundação federal).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.116.553-MT, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 17/5/2012 (Info 497).

Aplicação do § 2º do art. 109 da CF/88 também às autarquias federais


Apesar de o dispositivo somente falar em “União”, o STF entende que a regra de competência prevista no §
2º do art. 109 da CF/88 também se aplica às ações propostas contra autarquias federais. Isso porque o
objetivo do legislador constituinte foi o de facilitar o acesso à justiça.
STF. Plenário. RE 627709/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/8/2014 (Info 755).

Litígios envolvendo servidores temporários e administração pública: não é Justiça do Trabalho


A Justiça competente para julgar litígios envolvendo servidores temporários (art. 37, IX, da CF/88) e a
Administração Pública é a JUSTIÇA COMUM (estadual ou federal).
A competência NÃO é da Justiça do Trabalho.
STF. 1ª Turma. Rcl 6527 AgR/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/8/2015 (Info 796).
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A Súmula 222 do STJ abarca apenas situações em que a contribuição sindical diz respeito a servidores
estatutários, mantendo-se a competência da Justiça do Trabalho para julgar as ações relativas à
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contribuição sindical referentes a celetistas (servidores públicos ou não)

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A Súmula 222 do STJ prevê o seguinte: Compete à Justiça Comum processar e julgar as ações relativas à
contribuição sindical prevista no art. 578 da CLT.
O STJ, depois do que o STF decidiu no RE 1089282/AM (Tema 994), teve que conferir nova interpretação a
esse enunciado. O que prevalece atualmente é o seguinte:
a) Compete à Justiça Comum julgar as ações em que se discute a contribuição sindical de servidor público
estatutário.
b) Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações em que se discute a contribuição sindical de empregado
celetista (seja ele servidor público ou trabalhador da iniciativa privada).
STJ. 1ª Seção. CC 147.784/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 24/03/2021 (Info 690).

Causas entre União e Estados/DF que caracterizem "conflito federativo"


Segundo o art. 102, I, “f”, da CF/88, compete ao STF processar e julgar “as causas e os conflitos entre a União
e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da
administração indireta”.
O STF confere interpretação restritiva a esse dispositivo e entende que, para se caracterizar a hipótese do
art. 102, I, “f”, da CF/88, é indispensável que, além de haver uma causa envolvendo União e Estado, essa
demanda tenha densidade suficiente para abalar o pacto federativo. Em outras palavras, não é qualquer
causa envolvendo União contra Estado que irá ser julgada pelo STF, mas somente quando essa disputa puder
resultar em ofensa às regras do sistema federativo.
STF. 1ª Turma. Rcl 12957/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/8/2014 (Info 756).

Ao editar norma própria, o ente federado, desde que em consonância com sua capacidade econômica e
com o princípio da proporcionalidade, pode estabelecer quantia inferior à prevista no art. 87 do ADCT como
teto para pagamento da RPV
(I) As unidades federadas podem fixar os limites das respectivas requisições de pequeno valor em patamares
inferiores aos previstos no artigo 87 do ADCT, desde que o façam em consonância com sua capacidade
econômica.
(II) A aferição da capacidade econômica, para este fim, deve refletir não somente a receita, mas igualmente
os graus de endividamento e de litigiosidade do ente federado.
(III) A ausência de demonstração concreta da desproporcionalidade na fixação do teto das requisições de
pequeno valor impõe a deferência do Poder Judiciário ao juízo político-administrativo externado pela
legislação local.
STF. Plenário. RE 1359139/CE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1/9/2022 (Repercussão Geral – Tema 1231) (Info
1066).

Ação monitória proposta contra estado-membro


Segundo a jurisprudência do STJ, o Estado-membro não tem prerrogativa de foro. Logo, poderá ser
demandado em outra comarca que não a de sua capital. Poderá ser até mesmo demandado em outro Estado-
membro da Federação.
No caso de ação monitória proposta contra o Estado-membro, a competência para julgar a causa é do local
onde a obrigação deveria ser satisfeita e onde deveria ter ocorrido o pagamento da contraprestação,
conforme prevê o art. 100, IV, “d”, do CPC 1973 (art. 53, III, "d", do CPC 2015).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.316.020-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 2/4/2013 (Info 517).

A isenção prevista em favor da Fazenda Pública no art. 39 da Lei 6.830/80 não pode ser estendida às
despesas com o deslocamento dos oficiais de justiça para a prática do ato citatório
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O art. 39 da LEF prevê que “a Fazenda Pública não está sujeita ao pagamento de custas e emolumentos”.
As despesas com a citação POSTAL estão compreendidas no conceito de “custas processuais”. Logo, aplica-
se o art. 39 para as despesas com citação postal (REsp 1.858.965-SP– Tema 1054).
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Por outro lado, as despesas com o deslocamento dos oficiais de justiça não configuram custas ou
emolumentos. Sua natureza jurídica é de “remuneração de terceiras pessoas acionadas pelo aparelho

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jurisprudencial” (REsp 1.036.656/SP, Rel. Ministra Eliana Calmon, Primeira Seção, DJe 06/04/2009), motivo
pelo qual não estão abrangidas pela isenção de que trata o art. 39 da Lei nº 6.830/80, estando a Fazenda
Pública obrigada a realizar o depósito prévio da quantia correspondente.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1995692-PB, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 22/08/2022 (Info 747).

Quando devida a verba honorária recursal, e o relator deixar de aplicá-la em decisão monocrática, poderá
o colegiado arbitrá-la, inclusive de ofício
Caso hipotético: em um processo de Alfa contra Beta, o Ministro Relator, no STJ, proferiu decisão
monocrática, não conhecendo do recurso especial interposto pela Alfa. Ao decidir assim, ele deveria ter
majorado os honorários advocatícios recursais já fixados pelo Tribunal de origem. Ocorre que não fez isso. A
parte sucumbente (Alfa) interpôs agravo interno contra a decisão monocrática. A Turma manteve a decisão
monocrática. Em regra, não cabe a majoração de honorários recursais no julgamento de agravo interno. Isso
porque não se inaugura uma nova instância. No entanto, como neste caso, a decisão monocrática não havia
fixado os honorários recursais, a Turma poderia fazê-lo. Ocorre que a Turma não fez isso. Diante desse
cenário, a parte que seria beneficiada com os honorários recursais (Beta), opôs embargos de declaração
pedindo os honorários recursais.
O STJ deu provimento aos embargos e determinou a majoração dos honorários advocatícios fixados na
origem (TJ) em desfavor da parte embargada, no importe de 5% sobre o valor já arbitrado, nos termos do
art. 85, § 11, do CPC.
STJ. 2ª Turma. EDcl no AgInt no AREsp 1249853-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/3/2023 (Info
767).

Há condenação em honorários advocatícios de sucumbência no procedimento de jurisdição voluntária?


No procedimento de jurisdição voluntária, em regra, não há litígio. Como não há litígio, não há, em regra,
condenação ao pagamento de honorários advocatícios de sucumbência.
O vetor primordial que orienta a imposição ao pagamento de verba honorária sucumbencial é o fato da
derrota na demanda, cujo pressuposto é a existência de litigiosidade, a qual, em regra, não há em
procedimento de jurisdição voluntária.
Vale ressaltar, contudo, que, no procedimento de jurisdição voluntária, pode surgir litígio, mudando-se, neste
caso, a aplicação de princípios, que passam a ser os mesmos da jurisdição contenciosa, admitindo-se,
inclusive, a reconvenção. Nesta hipótese passa a ser possível, em tese, a condenação em honorários
advocatícios.
Em procedimento de jurisdição voluntária, quando a parte ré concorda com o pedido formulado na inicial,
mas formula pedido autônomo:
I) se o Juiz não admitir o pedido autônomo como reconvenção e julgar apenas a pretensão autoral, não serão
devidos honorários de sucumbência;
II) se o Juiz admitir o pedido autônomo como reconvenção e julgar ambas as pretensões, serão devidos
honorários de sucumbência apenas na reconvenção e desde que configurado litígio quanto à pretensão
reconvencional.
STJ. 3ª Turma. REsp 2028685-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2022 (Info 761).

Juros de precatórios do Fundef/Fundeb podem ser usados para pagar honorários contratuais
Nas demandas envolvendo valores relacionados ao FUNDEF/FUNDEB, é possível a utilização dos juros
moratórios dos precatórios para pagamento dos honorários contratuais, ante a natureza autônoma dos juros
em relação à verba principal.
STJ. 1ª Turma. AREsp 1369724-AL, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 02/08/2022 (Info 743).
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STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1880972-AL, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 19/04/2022 (Info 735).

O reconhecimento da inconstitucionalidade do pagamento de honorários advocatícios contratuais com


Página

recursos alocados no FUNDEF/FUNDEB não exclui a possibilidade de adimplemento de tal verba com base
no montante correspondente aos juros de mora incidentes sobre o valor do precatório devido pela União.

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STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1874550-RN, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 25/10/2022 (Info 755).

Concessão de ofício
O juiz poderá conceder de ofício o benefício da assistência judiciária gratuita?
NÃO. É vedada a concessão “ex officio” do benefício de assistência judiciária gratuita pelo magistrado. Assim,
é indispensável que haja pedido expresso da parte.
STJ. 4ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 167.623/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 05/02/2013.

Possibilidade de concessão de gratuidade da justiça a estrangeiros não residentes no Brasil


A gratuidade da justiça passou a poder ser concedida a estrangeiro não residente no Brasil após a entrada
em vigor do CPC/2015.
STJ. Corte Especial. Pet 9.815-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 29/11/2017 (Info 622).

As entidades beneficentes prestadoras de serviços à pessoa idosa têm direito à assistência judiciária
gratuita, sem precisar comprovar insuficiência econômica
Pessoas jurídicas sem finalidade lucrativa também precisam demonstrar essa precariedade de sua situação
financeira para terem direito à justiça gratuita? Em regra, sim. É necessário demonstrar.
Súmula 481-STJ: Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que
demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais.
Contudo, existe uma exceção:
As entidades beneficentes prestadoras de serviços à pessoa idosa, em razão do seu caráter filantrópico ou
sem fim lucrativo e da natureza do público atendido, têm direito ao benefício da assistência judiciária
gratuita, independentemente da comprovação da insuficiência econômica. Isso ocorre em razão da previsão
específica do art. 51 do Estatuto do Idoso: Art. 51. As instituições filantrópicas ou sem fins lucrativos
prestadoras de serviço às pessoas idosas terão direito à assistência judiciária gratuita.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.742.251-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 23/08/2022 (Info 746).

Momento
Qual é o momento em que deverá ser formulado o pedido de justiça gratuita?
Normalmente, o pedido de justiça gratuita é feito na própria petição inicial (no caso do autor) ou na
contestação (no caso do réu). No entanto, a orientação pacífica da jurisprudência é de que a assistência
judiciária gratuita pode ser pleiteada a qualquer tempo.
STJ. REsp 1261220/SP, DJe 04/12/2012.

Requerimento no recurso
É possível requerer a assistência jurídica gratuita no ato da interposição do recurso.

Recurso contra a decisão que INDEFERE ou REVOGA o benefício


O juiz pode indeferir por meio de decisão interlocutória ou na própria sentença.
• Se for por decisão interlocutória: o recurso cabível é o agravo de instrumento.
• Se for por sentença: o recurso será a apelação.

A parte contrária poderá impugnar o pedido de justiça gratuita?


SIM. Isso é comumente chamado de “impugnação à justiça gratuita”, “impugnação à concessão do benefício
de assistência judiciária gratuita” ou “revogação da justiça gratuita”.
Veja como o CPC 2015 trata sobre o tema (art. 100):
137

A parte poderá oferecer impugnação à justiça gratuita na:


• na contestação;
• na réplica;
Página

• nas contrarrazões do recurso; ou

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• nos casos de pedido superveniente ou formulado por terceiro, a impugnação será feita por meio de
petição simples.
Prazo para oferecimento da impugnação: 15 dias.
Importante: a impugnação é feita nos autos do próprio processo e não suspende o seu curso.

Eficácia da concessão de assistência judiciária gratuita


Imagine que o juiz conceda o benefício da justiça gratuita logo no início do processo de conhecimento (ex:
na petição inicial ou na contestação). É necessário que a parte refaça esse pedido quando se iniciarem as
outras fases do processo (ex: na fase de recurso, na fase de execução etc.) ou caso tenha incidentes
processuais?
NÃO. Quando a assistência judiciária gratuita for deferida, a eficácia da concessão do benefício prevalecerá,
independentemente de renovação de seu pedido, em todas as instâncias e para todos os atos do processo
— alcançando, inclusive, as ações incidentais ao processo de conhecimento, os recursos, as rescisórias, assim
como o subsequente processo de execução e eventuais embargos à execução.
Assim, depois de a justiça gratuita ter sido concedida, ela irá perdurar automaticamente até o final do
processo, e só perderá sua eficácia se o juiz ou o Tribunal expressamente revogarem caso tenha
comprovadamente melhorado a condição econômico-financeira do beneficiário.
Ex: João ajuizou ação de indenização contra Pedro e pediu o benefício da justiça gratuita, o que foi deferido
pelo magistrado logo na decisão inicial. O juiz julgou o pedido improcedente. João interpôs apelação. O autor
não precisará recolher as custas porque já lhe foi deferida justiça gratuita (e isso ainda está valendo). No
recurso proposto, João não necessita pedir novamente o benefício. Imaginemos que o Tribunal condene
Pedro a pagar a indenização. No momento do cumprimento de sentença (fase de execução), João continuará
tendo direito à justiça gratuita mesmo que não faça novo pedido nesse sentido.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EAREsp 86.915-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 26/2/2015 (Info 557).

Dispensabilidade do prévio preparo do recurso contra a decisão que indeferiu a justiça gratuita
A pessoa que pediu justiça gratuita e esta foi negada, para que possa recorrer terá que pagar as custas do
recurso e comprovar o pagamento no momento da interposição?
É desnecessário o preparo do recurso cujo mérito discute o próprio direito ao benefício da assistência
judiciária gratuita. Não há lógica em se exigir que o recorrente primeiro recolha o que afirma não poder pagar
para só depois a Corte decidir se faz jus ou não ao benefício.
Assim, não se aplica a pena de deserção a recurso interposto contra o indeferimento do pedido de justiça
gratuita.
Se o recurso diz respeito justamente à alegação do recorrente de que ele não dispõe de condições
econômico-financeiras para arcar com os custos da demanda, não faz sentido considerá-lo deserto por falta
de preparo, uma vez que ainda está sob análise o pedido de assistência judiciária e, caso seja deferido, neste
momento, o efeito da decisão retroagirá até o período da interposição do recurso e suprirá a ausência do
recolhimento e, caso seja indeferido, deve ser dada oportunidade de regularização do preparo.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 1.222.355-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 4/11/2015 (Info 574).

Justiça gratuita e honorários periciais


É ônus do Estado arcar com os honorários periciais na hipótese em que a sucumbência recai sobre
beneficiário da assistência judiciária, tendo em vista o dever constitucional de prestar assistência judiciária
aos hipossuficientes.
STJ. 2ª Turma. EDcl no AgRg no REsp 1.327.281-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/10/2012
(Info 507).
138

Gratuidade de justiça e atos praticados por notários e registradores


A gratuidade de justiça obsta a cobrança de emolumentos pelos atos de notários e registradores
Página

indispensáveis ao cumprimento de decisão proferida no processo judicial em


que fora concedido o referido benefício.

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Em resumo, os beneficiários da justiça gratuita têm isenção dos emolumentos nas serventias notariais e
registrais para os atos necessários ao cumprimento da decisão judicial.
STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 24.557-MT, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 7/2/2013 (Info 517).

Na contagem dos prazos em dias úteis, não se deve computar o dia em que, por força de ato administrativo
editado pela presidência do Tribunal local, os prazos processuais estavam suspensos
Segundo a previsão do art. 219 do CPC/2015, “na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo
juiz, computar-se-ão somente os dias úteis”. Desse modo, na contagem realizada conforme o disposto no
art. 219 do CPC/2015, não se deve computar o dia em que, por força de ato administrativo editado pela
presidência do Tribunal local, os prazos processuais estavam suspensos.
Para que o Tribunal destinatário possa aferir a tempestividade do recurso, é dever do recorrente comprovar,
no ato da interposição, a ocorrência de feriado local ou da suspensão dos prazos processuais, conforme
determina o art. 1.003, § 6º, do CPC/2015.
A cópia de página do Diário de Justiça Eletrônico, editado na forma do disposto no art. 4º, da Lei nº
11.419/2006, é documento idôneo para comprovar a tempestividade recursal.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.788.341-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos
Ferreira, julgado em 03/05/2022 (Info 738).

Se houver duplicidade de intimações, ou seja, o advogado for intimado tanto pelo Diário de Justiça
Eletrônico como também pelo Portal Eletrônico de Intimação, qual deverá prevalecer?
O termo inicial de contagem dos prazos processuais, em caso de duplicidade de intimações eletrônicas, dá-
se com a realizada pelo portal eletrônico, que prevalece sobre a publicação no Diário da Justiça (DJe).
STJ. Corte Especial. EAREsp 1.663.952-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 19/05/2021 (Info 697).

Quando há pluralidade de réus, a data da primeira citação válida é o termo inicial para contagem dos juros
de mora
STJ. 3ª Turma. REsp 1.868.855-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info 680).

Efeito material da revelia em caso de ação de indenização por danos materiais


Em uma ação de indenização, se ocorrer a revelia, deve-se presumir a veracidade quanto aos danos narrados
na petição inicial. No entanto, esta presunção de veracidade não alcança a definição do quantum
indenizatório indicado pelo autor.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.520.659-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 1º/10/2015 (Info 574).

É admissível a reconvenção sucessiva, também denominada de reconvenção à reconvenção, desde que a


questão que justifique a propositura tenha surgido na contestação ou na primeira reconvenção
STJ. 3ª Turma. REsp 1.690.216-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 22/09/2020 (Info 680).

Impossibilidade de suspensão dos prazos processuais por greve dos advogados públicos
A greve de advogados públicos não constitui motivo de força maior a ensejar a suspensão ou devolução dos
prazos processuais (art. 265, V do CPC).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.280.063-RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 4/6/2013 (Info 524).

A inversão do ônus da prova prevista no art. 6º, VIII, do CDC é regra de instrução (e não regra de
julgamento)
139

A inversão do ônus da prova prevista no art. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor é regra de instrução
e não regra de julgamento, motivo pelo qual a decisão judicial que a determina deve ocorrer antes da etapa
instrutória ou, quando proferida em momento posterior, há que se garantir à parte a quem foi imposto o
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ônus a oportunidade de apresentar suas provas, sob pena de absoluto cerceamento de defesa.

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STJ. 4ª Turma. REsp 1.286.273-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 08/06/2021 (Info 701).

O ressarcimento dos prejuízos advindos com o deferimento da tutela provisória posteriormente revogada
por sentença que extingue o processo sem resolução de mérito, sempre que possível, deverá ser liquidado
nos próprios autos
O CPC/2015, seguindo a mesma linha do CPC/1973, adotou a teoria do risco-proveito, ao estabelecer que o
beneficiado com o deferimento da tutela provisória deverá arcar com os prejuízos causados à parte adversa,
sempre que: i) a sentença lhe for desfavorável; ii) a parte requerente não fornecer meios para a citação do
requerido no prazo de 5 dias, caso a tutela seja deferida liminarmente; iii) ocorrer a cessação da eficácia da
medida em qualquer hipótese legal; ou iv) o juiz acolher a decadência ou prescrição da pretensão do autor
(art. 302).
Em relação à forma de se buscar o ressarcimento dos prejuízos advindos com o deferimento da tutela
provisória, o parágrafo único do art. 302 do CPC/2015 é claro ao estabelecer que “a indenização será
liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre que possível”, dispensando-se, assim, o
ajuizamento de ação autônoma para esse fim.
A obrigação de indenizar a parte adversa dos prejuízos advindos com o deferimento da tutela provisória
posteriormente revogada é decorrência ex lege da sentença de improcedência ou de extinção do feito sem
resolução de mérito, como no caso, sendo dispensável, portanto, pronunciamento judicial a esse respeito,
devendo o respectivo valor ser liquidado nos próprios autos em que a medida tiver sido concedida, em
obediência, inclusive, aos princípios da celeridade e economia processual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.770.124-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/05/2019 (Info 649).

O pedido de antecipação dos efeitos da tutela pode ser feito em sede de sustentação oral
É possível o requerimento de antecipação dos efeitos da tutela em sede de sustentação oral.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.766-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1/6/2017 (Info 608).

A Súmula 410 do STJ continuou válida mesmo após a edição das Leis nº 11.232/2005 e 11.382/2006 e
mesmo depois que entrou em vigor o CPC/2015
É necessária a prévia intimação pessoal do devedor para a cobrança de multa pelo descumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer antes e após a edição das Leis nº 11.232/2005 e 11.382/2006, nos termos da
Súmula n. 410 do STJ.
Súmula 410-STJ: A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança de
multa pelo descumprimento da obrigação de fazer ou não fazer.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.360.577-MG, Rel. Min. Humberto Martins, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 19/12/2018 (Info 643).

Exequibilidade de multa cominatória de valor superior ao da obrigação principal


A depender do caso concreto, o valor de multa cominatória pode ser exigido em montante superior ao da
obrigação principal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.352.426-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 5/5/2015 (Info 562).

Possibilidade de multa diária para obrigar plano de saúde a autorizar tratamento


É possível que o juiz estipule multa diária (art. 461, § 4º do CPC 1973 / art. 537 do CPC 2015) como forma de
compelir que a operadora de plano de saúde autorize que o hospital realize procedimento médico-hospitalar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.186.851-MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/8/2013 (Info 527).
140

É possível que as astreintes sejam alteradas de ofício no recurso, no entanto, para isso, é indispensável que
o recurso tenha sido conhecido
O valor das astreintes não pode ser reduzido de ofício em segunda instância quando a questão é suscitada
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em recurso de apelação não conhecido.

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STJ. 3ª Turma. REsp 1.508.929-RN, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 7/3/2017 (Info 600).

É possível que o magistrado, a qualquer tempo, e mesmo de ofício, revise o valor desproporcional das
astreintes
O valor das astreintes é estabelecido sob a cláusula rebus sic stantibus, de maneira que, quando se tornar
irrisório ou exorbitante ou desnecessário, pode ser modificado ou até mesmo revogado pelo magistrado, a
qualquer tempo, até mesmo de ofício, ainda que o feito esteja em fase de execução ou cumprimento de
sentença, não havendo falar em preclusão ou ofensa à coisa julgada.
STJ. Corte Especial. EAREsp 650.536/RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 07/04/2021 (Info 691).

Decisão que fixa valor das astreintes não preclui nem faz coisa julgada
A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo tampouco coisa julgada.
A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a multa cominatória não integra a coisa julgada, sendo
apenas um meio de coerção indireta ao cumprimento do julgado, podendo ser cominada, alterada ou
suprimida posteriormente.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 9/4/2014 (recurso
repetitivo) (Info 539).

É possível a imposição de astreintes contra a Fazenda Pública para fornecimento de medicamento


É permitida a imposição de multa diária (astreintes) a ente público para compeli-lo a fornecer medicamento
a pessoa desprovida de recursos financeiros.
STJ. 1ª Seção. REsp 1474665-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 26/4/2017 (recurso repetitivo)
(Info 606).

Não cabe multa diária para forçar o cumprimento de uma obrigação de pagar quantia
A fixação da multa diária só tem espaço no plano das obrigações de fazer e não fazer, sendo vedada sua
utilização no campo das obrigações de pagar.
STJ. 1ª Turma. REsp 1747877-GO, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 20/9/2022 (Info Especial 8).

Outras questões
1) O juiz pode arbitrar as astreintes de ofício (STJ. REsp 1.198.880-MT) (art. 537 do CPC 2015)
2) É possível cumular as astreintes com encargos contratuais. Isso porque são institutos com naturezas
distintas. As astreintes possuem natureza processual e os encargos contratuais possuem natureza de direito
material (STJ. REsp 1.198.880-MT) (STJ. REsp 1.198.880-MT).
3) O destinatário das astreintes é o autor da demanda (STJ. REsp 949.509-RS) (art. 537, § 2º do CPC 2015).

Suspeição por motivo superveniente não anula atos processuais anteriores


A declaração pelo magistrado ("autodeclaração") de suspeição por motivo superveniente não tem efeitos
retroativos, não importando em nulidade dos atos processuais praticados em momento anterior ao fato
ensejador da suspeição.
STJ. 1ª Seção. PET no REsp 1.339.313-RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min. Assusete Magalhães,
julgado em 13/4/2016 (Info 587).

Análise do art. 489, § 1º, IV, do CPC/2015


O julgador não está obrigado a responder a todas as questões suscitadas pelas partes, quando já tenha
encontrado motivo suficiente para proferir a decisão.
141

O julgador possui o dever de enfrentar apenas as questões capazes de infirmar (enfraquecer) a conclusão
adotada na decisão recorrida. Essa é a interpretação que se extrai do art. 489, § 1º, IV, do CPC/2015.
Assim, mesmo após a vigência do CPC/2015, não cabem embargos de declaração contra a decisão que não
Página

se pronunciou sobre determinado argumento que era incapaz de infirmar a conclusão adotada.

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Se não há consenso entre as partes a respeito da escolha do perito, o profissional indicado por uma das
partes, mas rejeitado pela outra, não pode realizar a produção da prova como perito do juízo
Os peritos são escolhidos entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos
devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado.
Na localidade onde não houver inscrito no cadastro disponibilizado pelo tribunal, a nomeação do perito é de
livre escolha pelo juiz e deverá recair sobre profissional ou órgão técnico ou científico comprovadamente
detentor do conhecimento necessário à realização da perícia.
As partes podem, de comum acordo, escolher o perito, mediante requerimento dirigido ao magistrado, desde
que sejam plenamente capazes e a causa admitir autocomposição.
Inexistindo consenso entre os litigantes, o profissional indicado por uma das partes e rejeitado por outra não
pode realizar a prova pericial nos autos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1924452-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 04/10/2022 (Info 755).

As preliminares da contestação que se confundem com o mérito da demanda devem com este ser
examinadas, não havendo nulidade no despacho saneador que posterga essa análise
Não há nulidade no despacho saneador que se limita a postergar o exame das matérias preliminares, quando
essas se confundem com a pretensão meritória e há necessidade de prévia instrução probatória.
STJ. 1ª Turma. REsp 1945660-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 27/09/2022 (Info 751).

Impedimento à advocacia envolvendo parlamentares


O art. 30, II, da Lei nº 8.906/94, prevê que os membros do Poder Legislativo (Vereadores, Deputados e
Senadores) são impedidos de exercer a advocacia contra ou a favor das pessoas jurídicas de direito público,
empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações públicas, entidades paraestatais ou empresas
concessionárias ou permissionárias de serviço público.
STJ. 1ª Seção. EAREsp 519.194-AM, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 14/6/2017 (Info 607).

Intimação pessoal de advogados públicos


Com o novo CPC, os advogados públicos tanto da União, como dos Estados/DF e Municípios gozam da
prerrogativa de serem intimados pessoalmente:
Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de
direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá
início a partir da intimação pessoal.
§ 1º A intimação pessoal far-se-á por carga, remessa ou meio eletrônico.
§ 2º Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo
próprio para o ente público.

Obs1: repare que o art. 183 não abrange empresas públicas e sociedades de economia mista.
Obs2: a grande novidade deste dispositivo está no fato de que, na vigência do Código passado, os
Procuradores do Estado/DF não gozavam, em regra, da prerrogativa de intimação pessoal por ausência de
previsão legal.

A prerrogativa de prazo em dobro para as manifestações processuais também se aplica aos escritórios de
prática jurídica de instituições privadas de ensino superior
A partir da entrada em vigor do art. 186, § 3º, do CPC/2015, a prerrogativa de prazo em dobro para as
manifestações processuais também se aplica aos escritórios de prática jurídica de instituições privadas de
142

ensino superior.
Art. 186. A Defensoria Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais. (...)
§ 3º O disposto no caput aplica-se aos escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito reconhecidas
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na forma da lei e às entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de convênios firmados com
a Defensoria Pública.

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STJ. Corte Especial. REsp 1.986.064-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/06/2022 (Info 740).

Intimação do representante da Fazenda Pública Nacional


É válida a intimação do representante judicial da Fazenda Pública Nacional por carta com aviso de
recebimento quando o respectivo órgão não possuir sede na comarca em que tramita o feito.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.352.882-MS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/6/2013 (recurso repetitivo)
(Info 522).

Observação: é possível que o STJ mantenha esse entendimento mesmo com a previsão do § 1º do art. 183
do novo CPC. Isso porque, não havendo o órgão na comarca, fica inviabilizada a carga ou remessa, salvo se o
processo for eletrônico.

Intimação pessoal de decisão prolatada em audiência e procuradores federais


Se o Procurador Federal foi intimado da audiência, mas não compareceu, e neste ato foi proferida alguma
decisão ou sentença, não será necessária nova intimação do Procurador, sendo presumida a ciência quanto
ao teor do julgado (art. 242, § 1º, do CPC 1973) (art. 1.003, § 1º, do CPC 2015).
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 226.951-GO, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 9/10/2012 (Info 506).

Revelia e fazenda pública


Incidem os efeitos materiais da revelia contra o Poder Público na hipótese em que, devidamente citado, deixa
de contestar o pedido do autor, sempre que estiver em litígio uma obrigação de direito privado firmada pela
Administração Pública, e não um contrato genuinamente administrativo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.084.745-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 6/11/2012 (Info 508).

Depósito prévio do preparo


Súmula 483-STJ: O INSS não está obrigado a efetuar depósito prévio do preparo por gozar das prerrogativas
e privilégios da Fazenda Pública.

Fazenda pública não é isenta do pagamento de emolumentos


A Fazenda Pública não é isenta do pagamento de emolumentos cartorários, havendo, apenas, o diferimento
deste para o final do processo, quando deverá ser suportado pelo vencido.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.276.844-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. em 5/2/2013 (Info 516).

Em caso de sentenças prolatadas a partir de 18/03/2016, a condenação em honorários advocatícios deverá


observar o CPC/2015
A sentença, como ato processual que qualifica o nascedouro do direito à percepção dos honorários
advocatícios, deve ser considerada o marco temporal para a aplicação das regras fixadas pelo CPC/2015.
Assim, nos casos de sentença proferida a partir do dia 18/3/2016, deverão ser utilizadas as normas do novo
CPC relativas aos honorários sucumbenciais.
STJ. Corte Especial. EAREsp 1255986/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/03/2019 (Info 648).

Responsabilidade pelos juros e correção monetária do valor depositado em juízo


Na fase de execução, o depósito judicial do montante (integral ou parcial) da condenação extingue a
obrigação do devedor, nos limites da quantia depositada.
STJ. Corte Especial. REsp 1.348.640-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/5/2014 (recurso
repetitivo) (Info 540).
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Honorários advocatícios e caráter alimentar


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Súmula vinculante 47-STF: Os honorários advocatícios incluídos na condenação ou destacados do montante


principal devido ao credor consubstanciam verba de natureza alimentar cuja satisfação ocorrerá com a

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expedição de precatório ou requisição de pequeno valor, observada ordem especial restrita aos créditos
dessa natureza.

Incidem juros da mora entre a data da realização dos cálculos e a da requisição ou do precatório
Incidem os juros da mora no período compreendido entre a data da realização dos cálculos e a da requisição
ou do precatório.
STF. Plenário. RE 579431/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/4/2017 (repercussão geral) (Info 861).
Obs: cuidado para não confundir com a SV 17: Durante o período previsto no parágrafo 1º (obs: atual § 5º)
do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos. O
período de que trata este RE 579431/RS é anterior à requisição do precatório, ou seja, anterior ao interregno
tratado pela SV 17.

Só cabe reclamação ao STF por violação de tese fixada em repercussão geral após terem se esgotado todos
os recursos cabíveis nas instâncias antecedentes
O art. 988, § 5º, II, do CPC/2015 prevê que é possível reclamação dirigida ao Supremo Tribunal Federal contra
decisão judicial que tenha descumprido tese fixada pelo STF em recurso extraordinário julgado sob o rito da
repercussão geral. O CPC exige, no entanto, que, antes de a parte apresentar a reclamação, ela tenha
esgotado todos os recursos cabíveis nas "instâncias ordinárias".
O STF afirmou que essa hipótese de cabimento prevista no art. 988, § 5º, II, do CPC deve ser interpretada
restritivamente, sob pena de o STF assumir, pela via da reclamação, a competência de pelo menos três
tribunais superiores (STJ, TST e TSE) para o julgamento de recursos contra decisões de tribunais de 2º grau
de jurisdição.
Assim, segundo entendeu o STF, quando o CPC exige que se esgotem as instâncias ordinárias, significa que a
parte só poderá apresentar reclamação ao STF depois de ter apresentado todos os recursos cabíveis não
apenas nos Tribunais de 2º grau, mas também nos Tribunais Superiores (STJ, TST e TSE). Se ainda tiver algum
recurso pendente no STJ ou no TSE, por exemplo, não caberá reclamação ao STF.
Em suma, nos casos em que se busca garantir a aplicação de decisão tomada em recurso extraordinário com
repercussão geral, somente é cabível reclamação ao STF quando esgotados todos os recursos cabíveis nas
instâncias antecedentes.
STF. 2ª Turma. Rcl 24686 ED-AgR/RJ, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/10/2016 (Info 845).

É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a diferenças do FUNDEF
É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a diferenças do FUNDEF.
Os valores relacionados ao FUNDEF, hoje FUNDEB, encontram-se constitucional e legalmente vinculados ao
custeio da educação básica e à valorização do seu magistério, sendo vedada a sua utilização em despesa
diversa, tais como honorários advocatícios contratuais.
Ex: determinado Município do interior do Estado ajuizou ação contra a União com o objetivo de conseguir o
repasse integral de verbas do FUNDEF. Como o Município não possuía procuradores municipais concursados,
foi contratado um escritório de advocacia privado para patrocinar a causa. No contrato assinado com os
advogados ficou combinado que, se o Município vencesse a demanda, pagaria 20% do valor da causa ao
escritório. O pedido foi julgado procedente e transitou em julgado. O Município requereu, então, que 20%
do valor da condenação (verbas do FUNDEF a serem pagas pela União) fosse separado para pagamento dos
honorários contratuais dos advogados que atuaram na causa, nos termos do art. 22, § 4º da Lei 8.906/94.
Esse pedido não deve ser acolhido. Não é possível a aplicação do art. 22, § 4º, da Lei 8.906/1994 nas
execuções contra a União em que se persigam quantias devidas ao FUNDEF/FUNDEB, devendo o advogado
credor buscar a satisfação de seu crédito por outros meios.
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STJ. 1ª Seção. REsp 1.703.697-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10/10/2018 (Info 643).

Não é possível o fracionamento da execução dos honorários advocatícios decorrentes de uma única ação
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proposta contra a Fazenda Pública por vários litisconsortes ativos facultativos

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Não é possível fracionar o crédito de honorários advocatícios em litisconsórcio ativo facultativo simples em
execução contra a Fazenda Pública por frustrar o regime do precatório.
A quantia devida a título de honorários advocatícios é uma só, fixada de forma global, pois se trata de um
único processo, e, portanto, consiste em título a ser executado de forma una e indivisível.
STF. Plenário. RE 919269 ED-EDv/RS, ARE 930251 AgR-ED-EDv/RS, ARE 797499 AgR-EDv/RS, RE 919793 AgR-
ED-EDv/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/2/2019 (Info 929).

Os honorários advocatícios de sucumbência, quando vencedora a Fazenda Pública, integram o patrimônio


da entidade estatal, não constituindo direito autônomo do procurador judicial
Caso hipotético: a empresa Alfa Ltda. ajuizou ação contra o Município de São Paulo. O pedido foi julgado
improcedente e a empresa autora foi condenada a pagar R$ 100 mil de honorários advocatícios de
sucumbência. Houve o trânsito em julgado. Como a empresa não pagou voluntariamente a verba relativa aos
honorários, o Município de São Paulo iniciou cumprimento de sentença requerendo a intimação da Alfa Ltda
para o pagamento da quantia.
A empresa ofereceu impugnação ao cumprimento de sentença alegando que tem um crédito líquido, certo
e exigível com o Município no valor de R$ 120 mil e que, portanto, requer a compensação das dívidas.
O juiz rejeitou a impugnação alegando não seria possível a compensação porque os créditos não seriam
recíprocos:
• a empresa possui realmente um crédito para receber do Município;
• ocorre que o valor que está sendo executado neste cumprimento de sentença não pertence ao Município,
e sim aos Procuradores do Município. Logo, a empresa não pode querer utilizar uma verba que pertence aos
Procuradores para abater uma dívida que é do Município.
A decisão do juiz está de acordo com a jurisprudência do STJ? Não.
A jurisprudência consolidada do STJ é no sentido de que os honorários advocatícios de sucumbência, quando
vencedora a Fazenda Pública, integram o patrimônio da entidade estatal, não constituindo direito
autônomo do procurador judicial, o que viabiliza sua compensação. Esse entendimento persiste mesmo após
a edição do CPC/2015 e a previsão do art. 85, § 19.
STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 1.834.717-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/05/2022
(Info 743).

Incide a Súmula 326 do STJ, no caso de discrepância entre o valor indicado no pedido e o quantum arbitrado
na condenação, não havendo falar em sucumbência dos autores da demanda, vencedores em seu pedido
indenizatório
Caso concreto: João ajuizou ação de indenização por danos morais contra o jornal pedindo R$ 1 milhão de
reparação. O juiz reconheceu que o jornal cometeu grave erro na reportagem veiculada, praticando,
portanto, ato ilícito, mas condenou o réu ao pagamento de apenas R$ 25 mil. O jornal recorreu alegando
que, como o autor pediu 1 milhão e somente obteve 25 mil, ele obteve provimento equivalente a 2,5% do
valor pleiteado, devendo, portanto, ser condenado ao pagamento de 97,5% dos honorários advocatícios e
das verbas de sucumbência.
O STJ acolheu a tese do réu? Não. No caso concreto, conforme demonstrado, existe uma substancial
discrepância entre o quantum pleiteado a título de indenização e o valor arbitrado pelo juiz. Por conta disso,
o réu alega que o autor sucumbiu na maior parte do pedido. O STJ, contudo, não concordou com essa
argumentação.
Aplica-se aqui a Súmula 326-STJ: Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior
ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.
O entendimento exposto na Súmula 326 do STJ permanece válido mesmo depois que o art. 292, V, do
CPC/2015 passou a exigir que o autor da demanda indique o valor pretendido a título de reparação pelos
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danos morais que diz haver suportado.


O valor sugerido pela parte autora para a indenização por danos morais traduz mero indicativo referencial,
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apenas servindo para que o julgador pondere a informação como mais um elemento para a árdua tarefa de

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arbitrar o valor da condenação, a fim de que se afigure suficiente para reparar o prejuízo imaterial suportado
pela vítima do evento danoso.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.837.386-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2022 (Info 746).

Termo inicial do prazo de decadência e prazo em dobro


O termo inicial do prazo decadencial de dois anos para a propositura, por particular, de ação rescisória, é a
data do trânsito em julgado da última decisão proferida na causa.
Se a Fazenda Pública participou da ação, este prazo bienal somente se inicia após ter se esgotado o prazo em
dobro que a Fazenda Pública tem para recorrer, ainda que o ente público tenha sido vencedor na última
decisão proferida na demanda.
STJ. 1ª Turma. AREsp 79.082-SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 5/2/2013 (Info 514).

Em ação rescisória, o depósito prévio não pode ser realizado por outros meios senão em dinheiro
O art. 968, II, do CPC determina que o autor da ação rescisória deverá realizar um depósito no valor de 5%
do valor da causa. Essa quantia se converterá em multa e será revertida em favor da parte contrária caso a
ação rescisória, por unanimidade de votos, seja: a) declarada inadmissível; ou b) julgada improcedente.
O depósito prévio de que trata o art. 968, II, do CPC precisa ser obrigatoriamente em dinheiro.
O art. 968, II, do CPC/2015 utiliza o verbo “depositar” e o objeto direto “importância”, razão pela qual se
pode concluir que ele se refere à quantia em espécie (dinheiro). Logo, é inviável a sua ampliação para se
permitir o depósito por outros meios que não sejam em dinheiro.
Se a intenção do legislador fosse admitir outros meios, isso teria ficado mais claro, como foi feito, por
exemplo, na redação do § 1º do art. 919 do CPC/2015.
STJ. 4ª Turma. REsp 1871477-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 13/12/2022 (Info 761).

A apresentação de nova prova é um vício rescisório quando, apesar de preexistente ao julgado, não foi
juntada ao processo originário pelo interessado por desconhecimento ou por impossibilidade
O documento novo apto a aparelhar a ação rescisória, fundada no art. 966, VII, do CPC/2015, é aquele que,
já existente à época da decisão rescindenda, era ignorado pelo autor ou do qual não pôde fazer uso, capaz
de assegurar, por si só, a procedência do pedido.
STJ. 1ª Seção. AR 5196-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 14/12/2022 (Info 762).

Ação anulatória proposta por particular com o objetivo de anular acordo firmado com a Fazenda Pública e
homologado judicialmente
No caso em que particular e Fazenda Pública firmaram, sem a participação judicial, acordo que tenha sido
meramente homologado por decisão judicial — a qual, por sua vez, apenas extinguiu a relação jurídica
processual existente entre as partes, sem produzir efeitos sobre a relação de direito material existente entre
elas —, o prazo decadencial para anular o ajuste por meio de ação ajuizada pelo particular é de 5 anos,
contados da data da celebração da transação, e não da decisão homologatória.
STJ. 2ª Turma. REsp 866.197-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/2/2016 (Info 581).

Não se pode alterar o índice de correção monetária fixado na sentença transitada em julgado mesmo que
o STF tenha declarado tal índice inconstitucional posteriormente à sentença
Na fase de cumprimento de sentença não se pode alterar os critérios de atualização dos cálculos
estabelecidos na decisão transitada em julgado, ainda que para adequá-los ao entendimento do STF firmado
em repercussão geral.
Sem que a decisão acobertada pela coisa julgada tenha sido desconstituída, não é cabível ao juízo da fase de
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cumprimento de sentença alterar os parâmetros estabelecidos no título judicial, ainda que no intuito de
adequá-los à decisão vinculante do STF.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.861.550-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/06/2020 (Info 676).
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Não contraria o princípio da adstrição o deferimento de medida cautelar que diverge ou ultrapassa os
limites do pedido formulado pela parte, se entender o magistrado que essa providência milita em favor da
eficácia da tutela jurisdicional
O poder geral de cautela, positivado no art. 297 do CPC/2015, autoriza que o juiz defira medidas “ex officio”,
no escopo de preservar a utilidade de provimento jurisdicional futuro.
No caso concreto, embora o Tribunal de Justiça tenha afirmado que não era possível conceder a tutela de
urgência pleiteada pela autora (abstenção total do uso da invenção objeto do litígio), deferiu medida cautelar
de natureza alternativa e provisória para evitar o enriquecimento indevido da ré, que estava deixando de
remunerar a autora pelo uso da patente.
O TJ, ao decidir dessa maneira, o fez com o objetivo de equilibrar os interesses em disputa.
STJ. 4ª Turma. AgInt na Pet 15420/RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 6/12/2022 (Info 763).

A técnica de ampliação de julgamento (art. 942 do CPC/2015) deve ser utilizada quando o resultado da
apelação for não unânime, independentemente de ser julgamento que reforma ou mantém a sentença
impugnada
Assim como ocorria com os embargos infringentes, para a aplicação da técnica de julgamento do art. 942 do
CPC exige-se que a sentença tenha sido reformada no julgamento da apelação?
NÃO. A técnica do julgamento ampliado vale também para sentença mantida pelo Tribunal no julgamento
da apelação por decisão não unânime.
A técnica de ampliação de julgamento prevista no art. 942 do CPC/2015 deve ser utilizada quando o resultado
da apelação for não unânime, independentemente de ser julgamento que reforma ou mantém a sentença
impugnada.
Assim, o que importa é que a decisão que julgou a apelação tenha sido por maioria (julgamento não
unânime), não importando que a sentença tenha sido mantida ou reformada.
Obs: cuidado com as hipóteses de cabimento do art. 942 do CPC nos casos de acórdão que julga agravo de
instrumento e ação rescisória.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.733.820-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/10/2018 (Info 639).

Técnica do julgamento ampliado também pode ser aplicada a embargos de declaração opostos contra
acórdão que julgou apelação, desde que cumpridos os demais requisitos do art. 942 do CPC
A técnica de julgamento ampliado do art. 942 do CPC aplica-se aos aclaratórios opostos ao acórdão de
apelação quando o voto vencido nascido apenas nos embargos for suficiente para alterar o resultado inicial
do julgamento, independentemente do desfecho não unânime dos declaratórios (se rejeitados ou se
acolhidos, com ou sem efeito modificativo).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.786.158-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
em 25/08/2020 (Info 678).

Os novos julgadores convocados na forma do art. 942 do CPC/2015 poderão analisar todo o conteúdo das
razões recursais, não se limitando à matéria sobre a qual houve divergência
O colegiado formado com a convocação dos novos julgadores (art. 942 do CPC/2015) poderá analisar de
forma ampla todo o conteúdo das razões recursais, não se limitando à matéria sobre a qual houve
originalmente divergência.
Constatada a ausência de unanimidade no resultado da apelação, é obrigatória a aplicação do art. 942 do
CPC/2015, sendo que o julgamento não se encerra até o pronunciamento pelo colegiado estendido, ou seja,
inexiste a lavratura de acórdão parcial de mérito.
Os novos julgadores convocados não ficam restritos aos capítulos ou pontos sobre os quais houve
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inicialmente divergência, cabendo-lhes a apreciação da integralidade do recurso.


O prosseguimento do julgamento com quórum ampliado em caso de divergência tem por objetivo a
qualificação do debate, assegurando-se a oportunidade para a análise aprofundada das teses jurídicas
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contrapostas e das questões fáticas controvertidas, com vistas a criar e manter uma jurisprudência uniforme,
estável, íntegra e coerente.

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STJ. 3ª Turma. REsp 1.771.815-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/11/2018 (Info 638).

Aplica-se a técnica de ampliação do colegiado quando o Tribunal, por maioria, der provimento aos
embargos de declaração para reformar a decisão embargada e, por consequência, reformar a decisão
parcial de mérito prolatada pelo juiz em 1ª instância
Em se tratando de aclaratórios opostos a acórdão que julga agravo de instrumento, a aplicação da técnica de
julgamento ampliado somente ocorrerá se os embargos de declaração forem acolhidos para modificar o
julgamento originário do magistrado de primeiro grau que houver proferido decisão parcial de mérito.
Quando se tratar de embargos de declaração contra acórdão que decidiu agravo de instrumento, só será
caso de ampliação do colegiado se, ao julgar os embargos declaratórios, o colegiado - por maioria - deliberar
por reformar decisão de mérito (o que significa dizer que se terá, por deliberação não unânime, atribuído
efeitos infringentes aos embargos de declaração, reformando-se a decisão embargada e, por conseguinte,
reformando a decisão parcial de mérito prolatada pelo órgão de primeira instância) (CÂMARA, Alexandre
Freitas. A ampliação do colegiado em julgamentos não unânimes. Revista de Processo, ano 43, vol. 282,
ago/2018, p. 264).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.841.584-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/12/2019 (Info 662).

Aplica-se a técnica prevista no art. 942 do CPC no julgamento de recurso de apelação interposto em
mandado de segurança
A técnica de ampliação do colegiado, prevista no art. 942 do CPC/2015, aplica-se também ao julgamento de
apelação interposta contra sentença proferida em mandado de segurança.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.868.072-RS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

Não cabe a instauração de IRDR se, quando a parte requereu o incidente, o Tribunal já havia julgado o
mérito do recurso e estava pendente agora apenas os embargos de declaração contra a decisão
Não caberá a instauração de IRDR se já encerrado o julgamento de mérito do recurso ou da ação originária,
mesmo que pendente de julgamento embargos de declaração.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.470.017-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 15/10/2019 (Info 658).

Os tribunais podem, diante do recurso de apelação, aplicar a técnica do julgamento antecipado parcial do
mérito
Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso;
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355.
Situação hipotética: João foi vítima de um acidente de carro. Ele ajuizou ação de indenização por danos
morais e materiais contra a empresa causadora. O juiz condenou a ré a pagar R$ 50 mil de indenização por
danos morais. Por outro lado, negou o pedido para que a empresa pagasse pensão mensal vitalícia ao autor
em razão da perda da capacidade laborativa. O pedido foi indeferido mesmo sem ter sido realizada perícia
médica. Tanto João como a empresa interpuseram apelação. O Tribunal de Justiça, ao julgar o recurso: a)
manteve a condenação por danos morais; b) quanto ao pedido de fixação de pensão por redução da
capacidade laborativa, o TJ entendeu que as provas produzidas eram insuficientes e afirmou ser necessária
a produção de perícia. Em razão disso, com fundamento no art. 356 do CPC/2015, o TJ apenas anulou a
sentença nesse tópico, determinando o retorno dos autos à origem para a complementação da prova. O STJ
afirmou que isso era possível.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.845.542/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/05/2021 (Info 696).
148

Não cabe recurso contra o acórdão que admite ou inadmite o IRDR


É irrecorrível o acórdão que admite ou inadmite o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas – IRDR.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.846-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi,
Página

julgado em 05/11/2019 (Info 661).

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O procedimento de distinção (distinguishing) previsto no art. 1.037, §§ 9º a 13, do CPC/2015, aplica-se
também ao incidente de resolução de demandas repetitivas – IRDR
O procedimento de alegação de distinção (distinguishing) entre a questão debatida no processo e a questão
submetida ao julgamento sob o rito dos recursos repetitivos, previsto no art. 1.037, §§9º a 13, do CPC, aplica-
se também ao IRDR.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.846.109-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/12/2019 (Info 662).

Se for interposto RE ou Resp contra o acórdão que julgar o IRDR, os processos individuais e coletivos
continuam suspensos até o julgamento desses recursos
Interposto Recurso Especial ou Recurso Extraordinário contra o acórdão que julgou Incidente de Resolução
de Demandas Repetitivas - IRDR, a suspensão dos processos realizada pelo relator ao admitir o incidente só
cessará com o julgamento dos referidos recursos, não sendo necessário, entretanto, aguardar o trânsito em
julgado.
O art. 982, § 5º, do CPC afirma que a suspensão dos processos pendentes, no âmbito do IRDR, só irá cessar
se não for interposto recurso especial ou recurso extraordinário contra a decisão proferida no incidente.
Assim, se for interposto algum desses recursos, a suspensão persiste.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.869.867/SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/04/2021 (Info 693).

Cabe recurso especial contra acórdão proferido pelo Tribunal de origem em julgamento de IRDR?
Não cabe recurso especial contra acórdão proferido pelo Tribunal de origem que fixa tese jurídica em
abstrato em julgamento do IRDR, por ausência do requisito constitucional de cabimento de “causa decidida”,
mas apenas naquele que aplique a tese fixada, que resolve a lide, desde que observados os demais requisitos
constitucionais do art. 105, III, da Constituição Federal e dos dispositivos do Código de Processo Civil que
regem o tema.
STJ. Corte Especial. REsp 1.798.374-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/05/2022 (Info
737).

É possível afastar a intempestividade do recurso quando isso decorreu do fato de o site do Tribunal ter
disponibilizado informação equivocada, que induziu a parte em erro
A tempestividade recursal pode ser aferida, excepcionalmente, por meio de informação constante em
andamento processual disponibilizado no sítio eletrônico, quando informação equivocadamente
disponibilizada pelo Tribunal de origem induz a parte em erro.
Caso concreto: o TJ/MS negou provimento a uma apelação que havia sido interposta pela parte; na
movimentação processual existente no site do TJ/MS, constou a informação de que o vencimento do prazo
recursal para a interposição de recurso ao STJ contra o acórdão do TJ se daria no dia 10/12; assim, no dia
10/12, a parte apresentou recurso especial contra o acórdão do TJ; ocorre que essa informação estava
errada; o termo final do prazo era dia 09/12; isso significa que parte interpôs o recurso especial
intempestivamente; vale ressaltar, contudo, que a parte foi induzida em erro pela informação constante no
sítio oficial do TJ; o STJ, excepcionalmente, considerou tempestivo o recurso.
STJ. Corte Especial. EAREsp 688.615-MS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 04/03/2020 (Info
666).

É necessária a comprovação de feriado local no ato de interposição do recurso (art. 1.003, § 6º do


CPC/2015)
Nos termos do art. 1.003, § 6º, do CPC/2015, a comprovação da ocorrência de feriado local deve ser feita no
149

ato da interposição do recurso, sendo intempestivo quando interposto fora do prazo previsto na lei
processual civil.
STJ. 3ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 1539007/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/03/2020.
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STF. 1ª Turma. RE-AgR 1.198.084, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 23/08/2019.

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A simples referência à existência de feriado local previsto em Regimento Interno e em Código de
Organização Judiciária Estadual não é suficiente para a comprovação de tempestividade do recurso
especial nos moldes do art. 1.003, §6º, do CPC/2015
STJ. 3ª Turma. REsp 1.763.167-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em
18/02/2020 (Info 665).

Art. 932, parágrafo único, do CPC não pode ser aplicado para o caso de recurso que não tenha impugnado
especificamente os fundamentos da decisão recorrida
O prazo de 5 dias previsto no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015 só se aplica aos casos em que seja
necessário sanar vícios formais, como ausência de procuração ou de assinatura, e não à complementação da
fundamentação.
Assim, esse dispositivo não incide nos casos em que o recorrente não ataca todos os fundamentos da decisão
recorrida. Isso porque, nesta hipótese, seria necessária a complementação das razões do recurso, o que não
é permitido.
STF. 1ª Turma. ARE 953221 AgR/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/6/2016 (Info 829).

Possibilidade de o Ministro Relator decidir monocraticamente recurso que tramita no STJ


Súmula 568-STJ: O relator, monocraticamente e no Superior Tribunal de Justiça, poderá dar ou negar
provimento ao recurso quando houver entendimento dominante acerca do tema.

Em caso de descumprimento do § 3º do art. 941 do CPC, haverá nulidade do acórdão, mas não do
julgamento
O § 3º do art. 941 do CPC/2015 prevê que:
§ 3º O voto vencido será necessariamente declarado e considerado parte integrante do acórdão para todos
os fins legais, inclusive de pré-questionamento.
Há nulidade do acórdão e do julgamento caso o § 3º do art. 941 do CPC seja descumprido? Há nulidade se o
voto vencido não tiver sido juntado ao acórdão?
• Haverá nulidade do acórdão.
• Não haverá nulidade do julgamento (salvo se o resultado proclamado não refletir a vontade da maioria).
Em suma: haverá nulidade do acórdão que não contenha a totalidade dos votos declarados; por outro lado,
não haverá nulidade do julgamento se o resultado proclamado refletir, com exatidão, a conjunção dos votos
proferidos pelos membros do colegiado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.729.143-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/02/2019 (Info 642).

Não é possível fixar honorários recursais quando o processo originário não preveja condenação em
honorários
Não cabe a fixação de honorários recursais (art. 85, § 11, do CPC/2015) em caso de recurso interposto no
curso de processo cujo rito exclua a possibilidade de condenação em honorários. Em outras palavras, não é
possível fixar honorários recursais quando o processo originário não preveja condenação em honorários.
Assim, suponha que foi proposta uma ação que não admite fixação de honorários advocatícios. Imagine que
uma das partes, no bojo deste processo, interponha recurso extraordinário. O STF, ao julgar este RE, não
fixará honorários recursais, considerando que o rito aplicável ao processo originário não comporta
condenação em honorários advocatícios.
Como exemplo desta situação, podemos citar o mandado de segurança, que não admite condenação em
honorários advocatícios (art. 25 da Lei nº 12.016/2009, súmula 105-STJ e súmula 512-STF). Logo, se for
interposto um recurso extraordinário neste processo, o Tribunal não fixará honorários recursais.
150

STF. 1ª Turma. ARE 948578 AgR/RS, ARE 951589 AgR/PR e ARE 952384 AgR/MS, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgados em 21/6/2016 (Info 831).
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Se houve a exclusão de um dos litisconsortes passivos, sem pôr fim à demanda, os honorários
sucumbenciais deverão ser fixados, no mínimo, em 10% ou poderão ser arbitrados em percentual menor?

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Poderão ser em percentual menor.
O art. 85, § 2º, do CPC, ao fixar honorários advocatícios mínimos de 10% sobre o valor da causa, teve em vista
as decisões judiciais que apreciassem a causa por completo. Decisões que, com ou sem julgamento de mérito,
abrangessem a totalidade das questões submetidas a juízo.
Assim, nas hipóteses de julgamento parcial, como ocorre na decisão que exclui um dos litisconsortes passivos
sem por fim a demanda, os honorários devem observar proporcionalmente a matéria efetivamente
apreciada.
Nesse sentido é o Enunciado nº 5 da I Jornada de Direito Processual Civil do CJF: Ao proferir decisão parcial
de mérito ou decisão parcial fundada no art. 485 do CPC, condenar-se-á proporcionalmente o vencido a pagar
honorários ao advogado do vencedor, nos termos do art. 85 do CPC.
Desse modo, os honorários advocatícios sucumbenciais, nos casos de decisões parciais de mérito, devem
observar a parcela da pretensão decidida antecipadamente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.760.538-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 24/05/2022 (Info 738).

O art. 1.005 do CPC somente se aplica para o litisconsórcio unitário?


A regra do art. 1.005 do CPC/2015 não se aplica apenas às hipóteses de litisconsórcio unitário, mas, também,
a quaisquer outras hipóteses em que a ausência de tratamento igualitário entre as partes gere uma situação
injustificável, insustentável ou aberrante.
A expansão subjetiva dos efeitos do recurso pode ocorrer em três hipóteses:
1) quando há litisconsórcio unitário (art. 1.005, caput, c/c o art. 117 do CPC/2015);
2) quando há solidariedade passiva (art. 1.005, parágrafo único, do CPC/2015); e
3) quando a ausência de tratamento igualitário entre as partes gerar uma situação injustificável,
insustentável ou aberrante (art. 1.005, caput, do CPC/2015).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.993.772-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/06/2022 (Info 743).

O adquirente de bem usucapido, na condição de sucessor do usucapiente, deve integrar o polo passivo da
ação rescisória intentada contra a sentença de usucapião, sob pena de nulidade do feito por falta de
citação do litisconsorte passivo necessário
Caso adaptado: João ajuizou ação de usucapião contra Carlos. O pedido foi julgado procedente. Houve o
trânsito em jugado e a sentença foi levada a registro no cartório de Registro de Imóveis. Logo em seguida,
João alienou o imóvel para Luiz. Um ano depois, Pedro, herdeiro de Carlos, ajuizou ação rescisória
unicamente contra João alegando a existência de nulidade absoluta no processo de usucapião. João foi
citado, mas não contestou. Luiz não foi citado nem soube da existência do processo. A ação rescisória foi
julgada procedente pelo Tribunal de Justiça para desconstituir a sentença de usucapião e cancelar a matrícula
respectiva. Cinco anos depois, Luiz ingressou com ação declaratória de inexistência (querela nullitatis),
afirmando que o acórdão da ação rescisória seria nulo, porque ele deveria participado obrigatoriamente do
feito na condição de proprietário registrário do bem.
Para o STJ, o pedido formulado na querela nullitatis deve ser julgado procedente.
Devem figurar como réus na ação rescisória todos aqueles que integraram a relação jurídica original e
também seus sucessores. Assim, o adquirente de bem usucapido, na condição de sucessor do usucapiente,
deve integrar o polo passivo da ação rescisória intentada contra a sentença de usucapião, sob pena de
nulidade do feito por falta de citação do litisconsorte passivo necessário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1938743-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 6/12/2022 (Info Especial 9).

O rol do art. 1.015 do CPC/2015 é de taxatividade mitigada


O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de
151

instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de


apelação.
STJ. Corte Especial. REsp 1.704.520-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/12/2018 (recurso repetitivo)
Página

(Info 639).

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Como se deve interpretar a expressão “decisões interlocutórias que versem sobre tutelas provisórias”
presente no art. 1.015, I, do CPC/2015?
O conceito de “decisão interlocutória que versa sobre tutela provisória” previsto no art. 1.015, I, do
CPC/2015, abrange as decisões que digam respeito à:
1) à presença ou não dos pressupostos que justificam o deferimento, indeferimento, revogação ou alteração
da tutela provisória (é o chamado núcleo essencial);
2) ao prazo e ao modo de cumprimento da tutela;
3) à adequação, suficiência, proporcionalidade ou razoabilidade da técnica de efetivação da tutela provisória;
e
4) à necessidade ou dispensa de garantias para a concessão, revogação ou alteração da tutela provisória.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.752.049-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/03/2019 (Info 644).

Não cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que impõe ao beneficiário o dever de arcar
com as despesas da estadia do bem móvel objeto da busca e apreensão em pátio de terceiro.
Tal situação não pode ser enquadrada no art. 1.015, I, do CPC/2015 porque essa decisão não se relaciona, de
forma indissociável, com a tutela provisória.
Trata-se, na verdade, de decisão que diz respeito a aspectos externos relacionados com a executoriedade,
operacionalização ou implementação fática da busca e apreensão (e não com a tutela provisória em si).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.752.049-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/03/2019 (Info 644).

A decisão interlocutória que majora a multa fixada para a hipótese de descumprimento de decisão
antecipatória de tutela anteriormente proferida é recorrível por agravo de instrumento
A decisão interlocutória que majora a multa que havia sido fixada inicialmente consiste em uma tutela
provisória sendo, portanto, recorrível por agravo de instrumento com base no art. 1.015, I, do CPC/2015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
Se é concedida uma tutela provisória e, posteriormente, é proferida uma segunda decisão interlocutória
modificando essa tutela provisória, pode-se considerar que esse segundo pronunciamento jurisdicional se
enquadra no conceito de decisão interlocutória que verse sobre tutela provisória.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.827.553-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/08/2019 (Info 655).

A decisão interlocutória que rejeita a ocorrência de prescrição ou decadência é uma decisão de mérito, que
enseja a agravo de instrumento com base no inciso II do art. 1.015 do CPC/2015
A decisão interlocutória que afasta (rejeita) a alegação de prescrição é recorrível, de imediato, por meio de
agravo de instrumento com fundamento no art. 1.015, II, do CPC/2015. Isso porque se trata de decisão de
mérito.
Embora a ocorrência ou não da prescrição ou da decadência possam ser apreciadas somente na sentença,
não há óbice para que essas questões sejam examinadas por intermédio de decisões interlocutórias, hipótese
em que caberá agravo de instrumento com base no art. 1.015, II, do CPC/2015, sob pena de formação de
coisa julgada material sobre a questão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.756-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/02/2019 (Info 643).

Não cabe agravo de instrumento contra a decisão que aplica multa por ato atentatório à dignidade da
justiça pelo não comparecimento à audiência de conciliação
A decisão que aplica a multa do art. 334, §8º, do CPC, à parte que deixa de comparecer à audiência de
conciliação, sem apresentar justificativa adequada, não pode ser impugnada por agravo de instrumento, não
152

se inserindo na hipótese prevista no art. 1.015, II, do CPC. Tal decisão poderá, no futuro, ser objeto de recurso
de apelação, na forma do art. 1.009, §1º, do CPC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.762.957-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/03/2020 (Info 668).
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Cabe agravo de instrumento contra decisão interlocutória que exclui o litisconsorte; não cabe este recurso
contra a decisão que mantém o litisconsorte
Segundo o inciso VII do art. 1.015, do CPC/2015: “cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem sobre exclusão de litisconsorte”.
Essa previsão abrange somente a decisão que exclui o litisconsorte.
Assim, cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que exclui o litisconsorte.
Por outro lado, não cabe agravo de instrumento contra a decisão que indefere o pedido de exclusão de
litisconsorte (decisão que mantém o litisconsorte).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.724.453-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/03/2019 (Info 644).

É cabível a interposição de agravo de instrumento contra todas as decisões interlocutórias em processo


falimentar e recuperacional
Cabe agravo de instrumento de todas as decisões interlocutórias proferidas no processo de recuperação
judicial e no processo de falência, por força do art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.717.213-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/12/2020 (Recurso Repetitivo –
Tema 1022) (Info 684).
A Lei nº 14.112/2020 incluiu o § 1º ao art. 189 da Lei nº 11.101/2005 acolhendo o entendimento
jurisprudencial e prevendo expressamente o cabimento do agravo de instrumento:
Art. 189. Aplica-se, no que couber, aos procedimentos previstos nesta Lei, o disposto na Lei nº 13.105, de 16
de março de 2015 (Código de Processo Civil), desde que não seja incompatível com os princípios desta Lei. §
1º Para os fins do disposto nesta Lei: (...) II - as decisões proferidas nos processos a que se refere esta Lei
serão passíveis de agravo de instrumento, exceto nas hipóteses em que esta Lei previr de forma diversa.

É possível interpor agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito suspensivo aos embargos
à execução
É admissível a interposição de agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito suspensivo aos
embargos à execução.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.694.667-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/12/2017 (Info 617).

Se o processo é eletrônico na 1ª instância, mas é físico no Tribunal, não se aplica a dispensa de juntada de
documentos prevista no art. 1.017, § 5º do CPC/2015
A disposição constante do art. 1.017, § 5º, do CPC/2015, que dispensa a juntada das peças obrigatórias à
formação do agravo de instrumento em se tratando de processo eletrônico, exige, para sua aplicação, que
os autos tramitem por meio digital tanto no primeiro quanto no segundo grau de jurisdição.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.643.956-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/5/2017 (Info 605).

Possibilidade de aplicação da teoria da causa madura em julgamento de AI


Admite-se a aplicação da teoria da causa madura (art. 515, § 3º, do CPC/1973 / art. 1.013, § 3º do CPC/2015)
em julgamento de agravo de instrumento.

Relator do agravo interno não pode simplesmente "copiar e colar" a decisão agravada
É vedado ao relator limitar-se a reproduzir a decisão agravada para julgar improcedente o agravo interno.
O novo CPC proibiu expressamente esta forma de decidir o agravo interno (art. 1.021, § 3º).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.622.386-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/10/2016 (Info 592).

Embargos de declaração com efeitos infringentes não podem ser recebidos como pedido de reconsideração
153

Os embargos de declaração, ainda que contenham nítido pedido de efeitos infringentes, não devem ser
recebidos como mero "pedido de reconsideração".
Página

Tal proceder é incabível por três razões principais:

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a) não atende a nenhuma previsão legal, tampouco aos requisitos de aplicação do princípio da fungibilidade
recursal considerando que pedido de reconsideração nem é previsto na lei nem pode ser considerado
recurso;
b) traz surpresa e insegurança jurídica ao jurisdicionado, pois, apesar de interposto tempestivamente o
recurso cabível, ficará à mercê da subjetividade do magistrado;
c) acarreta ao embargante grave sanção sem respaldo legal, qual seja, a não interrupção de prazo para
posteriores recursos, aniquilando o direito da parte embargante, o que supera a penalidade objetiva
positivada no § 2º do art. 1.022 do CPC 2015.
STJ. Corte Especial. REsp 1.522.347-ES, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 16/9/2015 (Info 575).

Irrecorribilidade da decisão que determina o sobrestamento dos recursos especiais repetitivos


Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou especiais com fundamento em
idêntica questão de direito, haverá afetação para julgamento de acordo com as disposições desta Subseção,
observado o disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e no do Superior Tribunal de
Justiça.
§ 1º O presidente ou o vice-presidente de tribunal de justiça ou de tribunal regional federal selecionará 2 (dois)
ou mais recursos representativos da controvérsia, que serão encaminhados ao Supremo Tribunal Federal ou ao
Superior Tribunal de Justiça para fins de afetação, determinando a suspensão do trâmite de todos os processos
pendentes, individuais ou coletivos, que tramitem no Estado ou na região, conforme o caso.

Se a parte interpõe o agravo do art. 1.042 em vez do agravo interno, o STJ não conhecerá do recurso e não
mais aplicará o princípio da fungibilidade
O CPC/2015 trouxe previsão legal expressa de que não cabe agravo para o STJ contra decisão que inadmite
recurso especial quando o acórdão recorrido decidiu em conformidade com recurso repetitivo (art. 1.042).
Tal disposição legal aplica-se aos agravos apresentados contra decisão publicada após a entrada em vigor do
Novo CPC, em conformidade com o princípio tempus regit actum.
Caso o Tribunal de origem decida em conformidade com entendimento firmado pelo STJ em recurso
repetitivo, a parte deverá interpor agravo interno. Se, em vez disso, a parte interpuser o agravo em recurso
especial para o STJ (art. 1.042), cometerá erro grosseiro.
Chegando ao STJ este agravo, ele não será conhecido e ele não retornará para que seja julgado pelo Tribunal
de origem como agravo interno.
Assim, após a entrada em vigor do CPC/2015, não é mais devida a remessa pelo STJ, ao Tribunal de origem,
do agravo interposto contra decisão que inadmite recurso especial com base na aplicação de entendimento
firmado em recursos repetitivos, para que seja conhecido como agravo interno.
STJ. 3ª Turma. AREsp 959.991-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. em 16/8/2016 (Info 589).

Repercussão geral em recurso extraordinário


Não cabe recurso ou reclamação ao STF para rever decisão do tribunal de origem que aplica a sistemática da
repercussão geral, a menos que haja negativa motivada do juiz em se retratar para adotar a decisão da
Suprema Corte.
STF. Plenário. Rcl 15165 AgR/MT, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/3/2013 (Info 699).

Reconhecida a repercussão geral, não é mais possível que as partes desistam do processo
O novo CPC permite que a parte desista, mas afirma que a questão cuja repercussão geral foi reconhecida
continuará sendo analisada. Em outras palavras, a parte pode até desistir do processo, mas mesmo assim a
tese jurídica que era discutida na lide será definida pelo STF:
154

Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir
do recurso.
Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já tenha
Página

sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos.

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Tempestividade de recurso especial ou extraordinário e feriado local
Art. 1.003 (...)
§ 6º O recorrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso.

Não cabimento de decisão monocrática do relator


O recurso extraordinário é inadmissível quando interposto após decisão monocrática proferida pelo relator,
haja vista não esgotada a prestação jurisdicional pelo tribunal de origem. Aplica-se, no caso, o enunciado 281
do STF:
Súmula 281-STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber, na justiça de origem, recurso
ordinário da decisão impugnada.
STF. 2ª Turma. ARE 868922/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/6/2015 (Info 788).

Recurso extraordinário e preliminar de repercussão geral


Art. 1.035 (...)
§ 2º O recorrente deverá demonstrar a existência de repercussão geral para apreciação exclusiva pelo
Supremo Tribunal Federal.

A suspensão dos processos em virtude de reconhecimento de repercussão geral (§ 5º do art. 1.035 do CPC)
pode ser aplicada para processos criminais
O § 5º do art. 1.035 do CPC/2015 preconiza:
§ 5º Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal determinará a suspensão do
processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e
tramitem no território nacional.
O STF fixou as seguintes conclusões a respeito desse dispositivo:
a) a suspensão prevista nesse § 5º não é uma consequência automática e necessária do reconhecimento da
repercussão geral. Em outras palavras, ela não acontece sempre. O Ministro Relator do recurso
extraordinário paradigma tem discricionariedade para determiná-la ou modulá-la;
b) a possibilidade de sobrestamento se aplica aos processos de natureza penal. Isso significa que, reconhecida
a repercussão geral em um recurso extraordinário que trata sobre matéria penal, o Ministro Relator poderá
determinar o sobrestamento de todos os processos criminais pendentes que versem sobre a matéria;
c) se for determinado o sobrestamento de processos de natureza penal, haverá, automaticamente, a
suspensão da prescrição da pretensão punitiva relativa aos crimes que forem objeto das ações penais
sobrestadas. Isso com base em uma interpretação conforme a Constituição do art. 116, I, do Código Penal;
d) em nenhuma hipótese, o sobrestamento de processos penais determinado com fundamento no art. 1.035,
§ 5º, do CPC abrangerá inquéritos policiais ou procedimentos investigatórios conduzidos pelo Ministério
Público;
e) em nenhuma hipótese, o sobrestamento de processos penais determinado com fundamento no art. 1.035,
§ 5º, do CPC abrangerá ações penais em que haja réu preso provisoriamente;
f) em qualquer caso de sobrestamento de ação penal determinado com fundamento no art. 1.035, § 5º, do
CPC, poderá o juízo de piso, no curso da suspensão, proceder, conforme a necessidade, à produção de provas
de natureza urgente.
STF. Plenário. RE 966.177 RG/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/6/2017 (Info 868).

É necessária a indicação da alínea do inciso III do art. 105, da Constituição, no momento da interposição
do recurso especial, para que este seja conhecido pelo STJ?
A falta de indicação expressa da norma constitucional que autoriza a interposição do recurso especial (alíneas
155

“a”, “b” e “c” do inciso III do art. 105 da CF/88) implica o seu não conhecimento pela incidência da Súmula
284 do STF, salvo, em caráter excepcional, se as razões recursais conseguem demonstrar, de forma
inequívoca, a hipótese de seu cabimento.
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Súmula 284-STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não
permitir a exata compreensão da controvérsia.

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STJ. Corte Especial. EAREsp 1672966-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/04/2022 (Info 734).

A parte interpôs recurso especial contra acórdão do TJ; no STJ, a União pede e é admitida como assistente
simples da recorrente; o STJ determina o retorno dos autos ao Tribunal de origem para novo julgamento;
o processo deverá ser remetido para o TRF (e não para o TJ)
Existindo interesse jurídico da União no feito, na condição de assistente simples, a competência afigura-se
da Justiça Federal, conforme prevê o art. 109, I, da Constituição da República, motivo pelo qual compete ao
Tribunal Regional Federal o julgamento de embargos de declaração opostos contra acórdão proferido pela
Justiça Estadual.
STJ. Corte Especial. EREsp 1265625-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 30/03/2022 (Info 731).

Não cabe REsp por violação de súmula


Súmula 518-STJ: Para fins do art. 105, III, a, da Constituição Federal, não é cabível recurso especial fundado
em alegada violação de enunciado de súmula.

Se a parte que opôs os embargos de declaração desistiu desse recurso, significa dizer que os embargos não
interromperam o prazo para a interposição de outros recursos
Extintos os embargos de declaração em virtude de desistência posteriormente manifestada, não é possível
sustentar a interrupção do prazo recursal para a mesma parte que desistiu, tampouco a reabertura desse
prazo a contar da intimação do ato homologatório.
STJ. 3ª Turma. REsp 1833120-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/10/2022 (Info 762).

O embargos de declaração opostos contra acórdão proferido pelo colegiado ampliado (art. 942 do CPC)
deverão ser julgados pelo mesmo órgão com colegiado ampliado
O julgamento dos embargos de declaração, quando opostos contra acórdão proferido pelo órgão em
composição ampliada, deve observar o mesmo quórum (ampliado), sob pena de o entendimento lançado,
antes minoritário, poder sagrar-se vencedor.
Ex: a Câmara Cível é composta originariamente por 3 Desembargadores. 2 votaram por negar provimento à
apelação e 1 votou por dar provimento. Houve convocação de 2 novos Desembargadores (art. 942 do CPC).
O placar final pelo colegiado ampliado foi em 3x2. Se forem opostos embargos de declaração contra este
acórdão, eles deverão ser julgados pelo órgão colegiado ampliado, ou seja, pelos 5 Desembargadores (e não
apenas pelo órgão colegiado originário, com 3 Desembargadores).
STJ. 3ª Turma. REsp 2024874/RS, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/3/2023 (Info 766).

Dia do servidor público, segunda-feira de carnaval, quarta-feira de cinzas, quarta e quinta da Paixão e
Corpus Christi são considerados feriados locais, para fins de interposição de recurso, devendo ser
comprovados por documento idôneo
O dia do servidor público (28 de outubro), a segunda-feira de carnaval, a quarta-feira de Cinzas, os dias que
precedem a sexta-feira da Paixão e, também, o dia de Corpus Christi não são feriados nacionais, em razão de
não haver previsão em lei federal, de modo que deve a parte comprovar a suspensão do expediente forense
quando da interposição do recurso, por documento idôneo.
STJ. 3ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 2006859-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/2/2023 (Info
765).

Cumprimento de sentença de improcedência de pedido declaratório


No caso em que, em ação declaratória de nulidade de notas promissórias, a sentença, ao reconhecer
156

subsistente a obrigação cambial entre as partes, atestando a existência de obrigação líquida, certa e exigível,
defina a improcedência da ação, o réu poderá pleitear o cumprimento dessa sentença, independentemente
de ter sido formalizado pedido de satisfação do crédito na contestação.
Página

STJ. 3ª Turma. REsp 1.481.117-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 3/3/2015 (Info 557).

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A suspensão do cumprimento de sentença, em virtude da ausência de bens passíveis de excussão, por longo
período de tempo, sem diligência por parte do credor, não configura supressio, de modo que não obsta a
fluência dos juros e da correção monetária
A supressio consubstancia-se na impossibilidade de se exercer um direito por parte de seu titular em razão
de seu não exercício por certo período variável de tempo e que, em razão desta omissão, gera da parte
contrária uma expectativa legítima de que não seria mais exigível. Não se confunde com a prescrição e com
a decadência, institutos pelos quais se opera a extinção da pretensão ou do direito potestativo pela simples
passagem do tempo.
A suspensão da execução ou do cumprimento de sentença, em virtude da ausência de bens passíveis de
excussão, por longo período de tempo, sem nenhuma diligência por parte do credor, não pode dar ensejo à
suspensão da fluência dos juros e da correção monetária pela configuração da supressio, porquanto a
pendência da ação que busca a concretização do título judicial impede que se gere no devedor a expectativa
de inexigibilidade do débito.
STJ. 4ª Turma. REsp 1717144-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 14/2/2023 (Info 765).

É irrecorrível o ato judicial que determina a intimação do devedor para o pagamento de quantia certa
Com o advento do CPC/2015, o início da fase de cumprimento de sentença para pagamento de quantia certa
passou a depender de provocação do credor (art. 523).
Assim, a intimação do devedor para pagamento é consectário legal do requerimento, e, portanto,
irrecorrível, por se tratar de mero despacho de expediente. O juiz simplesmente cumpre o procedimento
determinado pela lei, impulsionando o processo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.837.211/MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 09/03/2021 (Info 688).

Necessidade de prévia intimação das partes antes de se decretar a prescrição intercorrente


Em execução de título extrajudicial, o credor deve ser intimado para opor fato impeditivo à incidência da
prescrição intercorrente antes de sua decretação de ofício.
Esse dever de prévia intimação do credor para decretação da prescrição intercorrente não era previsto
expressamente no CPC/1973, sendo aplicado pelo STJ com base na incidência analógica do art. 40, §§ 4º e
5º, da Lei nº 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal).
O CPC/2015, contudo, resolve a questão e prevê expressamente a prévia oitiva das partes:
Art. 921 (...) § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício,
reconhecer a prescrição no curso do processo e extingui-lo, sem ônus para as partes. (Redação dada pela
Lei nº 14.195/2021)

Após a alteração do art. 921, § 5º, do CPC/2015, promovida pela Lei 14.195/2021, o reconhecimento da
prescrição intercorrente e a consequente extinção do processo obstam a condenação da parte que deu
causa à ação ao pagamento de honorários sucumbenciais
Antes da Lei 14.195/2021:
Art. 921 (...) § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício,
reconhecer a prescrição de que trata o § 4º e extinguir o processo.
Assim, o STJ dizia que, com base no princípio da causalidade, o executado deveria arcar com o pagamento
dos honorários e das custas processuais.

Depois da Lei 14.195/2021:


Art. 921 (...) § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício,
157

reconhecer a prescrição no curso do processo e extingui-lo, sem ônus para as partes.


Nas hipóteses em que extinto o processo com resolução do mérito, em razão do reconhecimento da
prescrição intercorrente, é de ser reconhecida a ausência de ônus às partes, a importar condenação nenhuma
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em custas e honorários sucumbenciais. Em outras palavras, sendo reconhecida a prescrição intercorrente,


nem o exequente nem o executado pagarão custas ou honorários advocatícios de sucumbência.

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Essa alteração se aplica para os processos que se iniciaram antes da Lei 14.195/2021?
Sim, desde que a sentença seja prolatada a partir de 26/8/2021, data em que entrou em vigor a Lei
14.195/2021.
A legislação que versa sobre honorários advocatícios possui natureza híbrida (material-processual), de modo
que o marco temporal para a aplicação das novas regras sucumbenciais deve ser a data de prolação da
sentença (ou ato jurisdicional equivalente, quando diante de processo de competência originária de
Tribunal).
STJ. 3ª Turma. REsp 2025303-DF, Rel. Ministra Nancy Andrighi, julgado em 8/11/2022 (Info 759).

O prazo para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em dias úteis
O prazo previsto no art. 523, caput, do Código de Processo Civil, para o cumprimento voluntário da obrigação,
possui natureza processual, devendo ser contado em dias úteis.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.708.348-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/06/2019 (Info 652).

O prazo para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em dobro no caso de
litisconsortes com procuradores distintos (art. 229 do CPC)
Em regra, o prazo para cumprimento voluntário da sentença é de 15 dias úteis (art. 523 do CPC).
Se os devedores forem litisconsortes com diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, este
prazo de pagamento deverá ser contado em dobro, nos termos do art. 229 do CPC/2015, desde que o
processo seja físico.
Assim, o prazo comum para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em dobro (ou seja,
em 30 dias úteis) no caso de litisconsortes com procuradores distintos, em autos físicos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.693.784-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017 (Info 619).

É constitucional o art. 139, IV, do CPC, que prevê medidas atípicas destinadas a assegurar a efetivação dos
julgados
São constitucionais — desde que respeitados os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os
valores especificados no próprio ordenamento processual, em especial os princípios da proporcionalidade e
da razoabilidade — as medidas atípicas previstas no CPC/2015 destinadas a assegurar a efetivação dos
julgados.
STF. Plenário. ADI 5941/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 9/02/2023 (Info 1082).

Garantia do juízo
Para que o devedor apresente impugnação, é indispensável a garantia do juízo, ou seja, é necessário que
haja penhora, depósito ou caução?
▪ CPC 1973: SIM (entendimento do STJ).
▪ CPC 2015: NÃO.
No novo CPC, a impugnação independe de prévia garantia do juízo.

Qual é o recurso cabível contra o pronunciamento que julga a impugnação ao cumprimento de sentença?
• Se o pronunciamento judicial extinguir a execução: será uma sentença e caberá APELAÇÃO.
• Se o pronunciamento judicial não extinguir a execução: será uma decisão interlocutória e caberá AGRAVO
DE INSTRUMENTO.
Assim, o recurso cabível contra a decisão que acolhe impugnação ao cumprimento de sentença e extingue a
execução é a apelação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.698.344-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2018 (Info 630).
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Cabe agravo de instrumento contra a decisão que declara a inexigibilidade parcial da execução
A decisão que declara a inexigibilidade parcial da execução é recorrível mediante agravo de instrumento,
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configurando erro grosseiro a interposição de apelação, o que inviabiliza a aplicação do princípio da


fungibilidade recursal.
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STJ. 2ª Turma. REsp 1947309-BA, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 7/2/2023 (Info 763).

A protocolização dos embargos à execução nos autos da própria ação executiva constitui vício sanável
Se o embargante (executado) apresenta, de forma incorreta, os embargos à execução nos próprios autos da
execução, o juiz não deverá rejeitar liminarmente esses embargos.
O magistrado deverá conceder prazo para que a parte faça o desentranhamento dos embargos e promova a
sua distribuição em autos apartados, por dependência. Isso porque a propositura dos embargos à execução
nos próprios autos da execução configura vício sanável, que pode ser, portanto, corrigido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.807.228-RO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/09/2019 (Info 656).

Em sede de exceção de pré-executividade, o juiz pode determinar a complementação das provas, desde
que elas sejam preexistentes
Para que a exceção de pré-executividade seja conhecida, é necessário o preenchimento de dois requisitos:
a) Material: o devedor só pode alegar matérias que possam ser conhecidas de ofício pelo magistrado (ex.:
condições da ação e os pressupostos processuais);
b) Formal: é indispensável que a decisão possa ser tomada sem necessidade de dilação probatória.
Com relação ao requisito formal, é imprescindível que a questão suscitada seja de direito ou diga respeito a
fato documentalmente provado. A exigência de que a prova seja pré-constituída tem por escopo evitar
embaraços ao regular processamento da execução. Assim, as provas capazes de influenciar no
convencimento do julgador devem acompanhar a petição de objeção de não-executividade. No entanto, a
intimação do executado para juntar aos autos prova pré-constituída mencionada nas razões ou
complementar os documentos já apresentados não configura dilação probatória, de modo que não excede
os limites da exceção de pré-executividade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.912.277-AC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/05/2021 (Info 697).

Penhora on line
Se foi tentada a penhora on line e não se conseguiu êxito, novas tentativas de penhora eletrônica somente
serão possíveis se o exequente (credor) apresentar ao juízo provas ou indícios de que a situação econômica
do executado (devedor) foi alterada, isto é, se o exequente indicar que há motivos concretos para se acreditar
que, desta vez, poderá haver valores depositados em contas bancárias passíveis de penhora.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.284.587-SP, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 16/2/2012.

Os bens da Fundação Habitacional do Exército - FHE são impenhoráveis


A Fundação Habitacional do Exército (FHE) é uma entidade vinculada ao Exército Brasileiro, criada pela Lei nº
6.855/80.
A FHE tem por objetivo facilitar a aquisição da “casa própria” para os militares e demais associados, além de
prestar outras formas de “apoio social” aos militares (exs: consórcios, seguros, planos odontológicos etc.).
Os bens da FHE são considerados impenhoráveis em razão de dois motivos:
1) a FHE possui características de autarquia federal (e os bens das autarquias são impenhoráveis);
2) o art. 31 da Lei nº 6.855/80 prevê que o patrimônio da FHE goza dos privilégios próprios da Fazenda
Pública, inclusive quanto à impenhorabilidade.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.802.320-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 12/11/2019 (Info 662).

Penhora sobre faturamento


É possível, em caráter excepcional, que a penhora recaia sobre o faturamento da empresa, desde que o
percentual fixado não torne inviável o exercício da atividade empresarial. Não há violação ao princípio da
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menor onerosidade para o devedor, previsto no art. 620 do CPC 1973 (art. 805 do CPC 2015).
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 242.970-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 13/11/2012.
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É possível a penhora de quotas sociais de sócio por dívida particular por ele contraída, ainda que de
sociedade empresária em recuperação judicial
Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação judicial, já que
não enseja, necessariamente, a liquidação da quota.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.250-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 23/06/2020 (Info 675).

É válida a penhora realizada sobre bens de sociedade de economia mista que posteriormente foi sucedida
pela União
É válida a penhora em bens de pessoa jurídica de direito privado, realizada anteriormente à sucessão desta
pela União, não devendo a execução prosseguir mediante precatório (art. 100, caput e § 1º, da Constituição
Federal).
STF. Plenário. STF. Plenário. RE 693112-MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 09/02/2017 (repercussão
geral) (Info 853).

A penhora de cotas de fundo de investimento não confere, automaticamente, ao exequente a condição de


cotista desse fundo, não sujeitando-se aos riscos provenientes dessa espécie de investimento
Ocorrendo a penhora sobre cotas de fundo de investimento, a propriedade desses bens mantém-se com o
devedor investidor até o resgate ou a expropriação final. A penhora em si confere ao exequente o mero
direito de preferência e de sequela, e não a propriedade da cota.
Logo, não se transfere ao exequente a álea (risco) inerente a esse tipo de negócio jurídico. Apenas os cotistas
contratantes é que ficam sujeitos aos riscos do investimento. Isso significa que o exequente não fica obrigado
pelos ônus nem pode se beneficiar dos bônus desse investimento, notadamente diante do princípio da
relatividade dos efeitos do contrato.
Portanto, enquanto não operado o resgate ou a expropriação final das cotas de fundo de investimento
penhoradas, podem ocorrer duas situações:
• as cotas do fundo se desvalorizaram: surge para o exequente o direito de requerer a complementação da
penhora, na linha do que prevê o art. 850 do CPC/2015;
• as cotas do fundo se valorizaram: no momento do efetivo adimplemento, deverá ocorrer a exclusão da
importância que superar o crédito exequendo (atualizado e acrescido dos encargos legais).
STJ. 3ª Turma. REsp 1885119-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/10/2022 (Info 756).

Depois que a parte devedora efetua o depósito em juízo ou tem valores penhorados, ela ainda continua
tendo responsabilidade pelo pagamento dos juros e correção monetária?
Na execução, o depósito efetuado a título de garantia do juízo ou decorrente da penhora de ativos financeiros
não isenta o devedor do pagamento dos consectários de sua mora, conforme previstos no título executivo,
devendo-se, quando da efetiva entrega do dinheiro ao credor, deduzir do montante final devido o saldo da
conta judicial.
STJ. Corte Especial. REsp 1820963-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/10/2022 (Recurso Repetitivo
– Tema 677) (Info 755).

Se a parte executada faz o depósito da quantia cobrada e afirma que não se tata de cumprimento
voluntário, mas sim de garantia do juízo, caso a impugnação seja julgada improcedente, ela terá que pagar
multa e honorários
A multa e honorários advocatícios a que se refere o § 1º do art. 523 do CPC/2015 serão excluídos apenas se
o executado depositar voluntariamente a quantia devida em juízo, sem condicionar seu levantamento a
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qualquer discussão do débito.


No caso concreto, a parte devora efetuou o depósito da quantia, mas manifestou a sua intenção de depositar
o valor executado como forma de garantia do juízo, destacando expressamente que não se tratava de
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cumprimento voluntário da obrigação. Por essa razão, sendo julgado improcedente a impugnação, o débito
exequendo deve ser acrescido das penalidades previstas no art. 523, § 1º, do CPC/2015.

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STJ. 3ª Turma. REsp 2007874-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/10/2022 (Info 756).

Índices de juros e correção monetária aplicados para condenações contra a Fazenda Pública
O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, na parte em que disciplina os
juros moratórios aplicáveis a condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos
oriundos de relação jurídico-tributária, aos quais devem ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais
a Fazenda Pública remunera seu crédito tributário, em respeito ao princípio constitucional da isonomia (art.
5º, da CF/88). Quanto às condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação dos juros
moratórios segundo o índice de remuneração da caderneta de poupança é constitucional, permanecendo
hígido, nesta extensão, o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº
11.960/2009. O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, na parte em que
disciplina a atualização monetária das condenações impostas à Fazenda Pública segundo a remuneração
oficial da caderneta de poupança, revela-se inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao direito
de propriedade (art. 5º, XXII, da CF/88), uma vez que não se qualifica como medida adequada a capturar a
variação de preços da economia, sendo inidônea a promover os fins a que se destina.
STF. Plenário. RE 870947/SE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/9/2017 (repercussão geral) (Info 878).

As cotas de fundo de investimento não são consideradas dinheiro para os fins do art. 835, I, do CPC
A cota de fundo de investimento não se subsume à ordem de preferência legal disposta no inciso I do art.
835 do CPC/2015 (art. 655 do CPC/1973).
Em outras palavras, as cotas de fundo de investimento não podem ser consideradas como dinheiro aplicado
em instituição financeira.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.388.642-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 3/8/2016 (recurso repetitivo)
(Info 589).

A mudança ordem da penhora somente poderá ocorrer se houver circunstâncias que justifiquem a
alteração da ordem legal
É lícito ao credor recusar a substituição de penhora incidente sobre bem imóvel por debêntures, ainda que
emitidas por companhia de sólida posição no mercado mobiliário, desde que não exista circunstância
excepcionalíssima cuja inobservância acarrete ofensa à dignidade da pessoa humana ou ao paradigma da
boa-fé objetiva.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.186.327-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/9/2013 (Info 531).

São penhoráveis os valores oriundos de empréstimo consignado, salvo se o mutuário comprovar que os
recursos são necessários à sua manutenção e de sua família
Os valores oriundos de empréstimo consignado em folha de pagamento, depositados em conta bancária do
devedor, não gozam de proteção da impenhorabilidade atribuída aos salários, proventos e pensões. Não se
aplica, neste caso, o art. 833, IV, do CPC/2015:
Art. 833. São impenhoráveis: IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador
autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º;
Assim, a quantia decorrente de empréstimo consignado, embora seja descontada diretamente da folha de
pagamento do mutuário, não tem caráter salarial, sendo, em regra, passível de penhora.
A proteção da impenhorabilidade ocorre somente se o mutuário (devedor) comprovar que os recursos
oriundos do empréstimo consignado são necessários à sua manutenção e à da sua família.
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STJ. 3ª Turma. REsp 1.820.477-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

Impenhorabilidade da pequena propriedade rural


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A pequena propriedade rural, trabalhada pela família, é impenhorável, ainda que dada pelos proprietários
em garantia hipotecária para financiamento da atividade produtiva.
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STJ. 4ª Turma. REsp 1.368.404-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 13/10/2015 (Info 574).

Requisitos para a impenhorabilidade da pequena propriedade rural


A pequena propriedade rural é impenhorável (art. 5º, XXVI, da CF/88 e o art. 833, VIII, do CPC) mesmo que a
dívida executada não seja oriunda da atividade produtiva do imóvel.
De igual modo, a pequena propriedade rural é impenhorável mesmo que o imóvel não sirva de moradia ao
executado e à sua família.
Desse modo, para que o imóvel rural seja impenhorável, nos termos do art. 5º, XXVI, da CF/88 e do art. 833,
VIII, do CPC, é necessário que cumpra apenas dois requisitos cumulativos:
1) seja enquadrado como pequena propriedade rural, nos termos definidos pela lei; e
2) seja trabalhado pela família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.591.298-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/11/2017 (Info 616).

Impenhorabilidade de valores do Fundo Partidário


Os recursos do Fundo Partidário são absolutamente impenhoráveis, inclusive na hipótese em que a origem
do débito esteja relacionada às atividades previstas no art. 44 da Lei 9.096/95.
Fundamento legal: art. 649, XI, do CPC 1973; art. 833, XI, do CPC 2015.

Não é possível a penhora de percentual do auxílio emergencial para pagamento de crédito constituído em
favor de instituição financeira
O Auxílio Emergencial é um benefício financeiro, instituído pela Lei nº 13.982/2020, pago pela União a
trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados, e que foi
criado com o objetivo de fornecer proteção emergencial, pelo prazo de poucos meses, às pessoas que
perderam sua renda em virtude da crise causada pela Covid-19.
O valor do auxílio emergencial pode ser penhorado? Em regra, não. Isso porque se trata de verba de natureza
alimentar, sendo impenhorável, nos termos do art. 833, IV, do CPC.
Há duas exceções previstas no § 2º do art. 833:
1) para pagamento de prestação alimentícia (qualquer que seja a sua origem).
2) sobre o montante que exceder 50 salários-mínimos.
É possível a penhora do auxílio emergencial para pagamento de dívidas com bancos?
Não. As dívidas comuns não podem gozar do mesmo status diferenciado da dívida alimentar a permitir a
penhora indiscriminada das verbas remuneratórias, sob pena de se afastarem os ditames e a própria ratio
legis do Código de Processo Civil (art. 833, IV, c/c o § 2º).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.935.102-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 29/06/2021 (Info 703).

Desnecessidade de exaurimento das vias extrajudiciais para a utilização do sistema RENAJUD


Para que o exequente requeira do Poder Judiciário a consulta ao RENAJUD sobre a existência de veículos em
nome do executado, é necessário que comprove que tentou previamente obter essa informação do DETRAN,
mas não conseguiu?
NÃO. A utilização do sistema RENAJUD com o propósito de identificar a existência de veículos penhoráveis
em nome do executado não pressupõe a comprovação do insucesso do exequente na obtenção dessas
informações mediante consulta ao DETRAN.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.347.222-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/8/2015 (Info 568).

Arma de fogo pode ser penhorada


A arma de fogo pode ser penhorada e expropriada, desde que assegurada pelo Juízo da execução a
162

observância das mesmas restrições impostas pela legislação de regência para a sua comercialização e
aquisição.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.866.148-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/05/2020 (Info 677).
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Possibilidade excepcional de penhora sobre honorários advocatícios
Os honorários advocatícios (contratuais ou sucumbenciais) são a remuneração do advogado e, portanto,
possuem caráter alimentar. Logo, são, em princípio, impenhoráveis, com base no art. 649, IV, do CPC 1973
(art. 833, IV, do CP 2015).
No entanto, o STJ entende que o art. 649, IV, do CPC 1973 (art. 833, IV, do CP 2015) não pode ser interpretado
de forma literal ou absoluta. Em determinadas circunstâncias é possível a sua relativização.
Assim, se os honorários advocatícios recebidos são exorbitantes e ultrapassam valores que seriam razoáveis
para sustento próprio e de sua família, a verba perde a sua natureza alimentar (finalidade de sustento) e
passa a ser possível a sua penhora, liberando-se apenas uma parte desse valor para o advogado.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.264.358-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 25/11/2014 (Info 553).

Estado cumprindo a decisão mediante pagamento por folha suplementar (e não por precatório)
Devem ser adimplidas por meio de folha suplementar — e não por precatório — as parcelas vencidas após o
trânsito em julgado que decorram do descumprimento de decisão judicial que tenha determinado a
implantação de diferenças remuneratórias em folha de pagamento de servidor público.
STJ. 1ª Turma. AgRg no Ag 1.412.030-RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 27/8/2013 (Info 529).

Execução contra a fazenda pública e prescrição intercorrente


Durante o período em que o processo de execução contra a Fazenda Pública estiver suspenso em razão da
morte da parte exequente (para a habilitação dos sucessores da parte falecida), não corre prazo para efeito
de reconhecimento de prescrição intercorrente da pretensão executória. Isso porque não há previsão legal
que imponha prazo específico para a habilitação dos referidos sucessores.
STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 286.713-CE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. em 21/3/2013 (Info 519).

Para a obtenção da preferência no pagamento de precatório, faz-se necessária a conjugação dos requisitos
constantes do art. 100, § 2º, da CF/88, ou seja, dívida de natureza alimentar e titular idoso ou portador de
doença grave
O § 2º do art. 100 prevê que os débitos de natureza alimentícia que tenham como beneficiários:
a) pessoas com idade igual ou superior a 60 anos;
b) pessoas portadoras de doenças graves;
c) pessoas com deficiência;
... terão uma preferência no recebimento dos precatórios.
O simples fato de o titular do precatório ser idoso é motivo suficiente para ele se enquadrar no § 2º do art.
100 da CF/88?
Não. É necessário que, além da idade, o crédito que ele tem para receber seja de natureza alimentar.
Requisitos cumulativos do § 2º do art. 100 da CF/88:
• requisito 1: o titular deve ser: a) idoso; b) pessoa portadora de doença grave; ou c) pessoa com deficiência.
• requisito 2: o débito deve ter natureza alimentícia.
Se a dívida não tem natureza alimentar, o seu titular receberá segundo a regra do caput do art. 100 (sem
qualquer preferência).
STJ. 2ª Turma. RMS 65.747/SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 16/03/2021 (Info 689).

Fazenda Pública executada apresenta impugnação alegando excesso de execução e pede a concessão de
prazo para apresentação da planilha com o valor devido; é razoável que o juiz conceda o referido prazo
A alegação da Fazenda Pública de excesso de execução sem a apresentação da memória de cálculos com a
indicação do valor devido não acarreta, necessariamente, o não conhecimento da arguição.
163

STJ. 2ª Turma. REsp 1.887.589/GO, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 06/04/2021 (Info 691).

A chamada execução invertida é constitucional


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Não ofende a ordem constitucional determinação judicial de que a União proceda aos cálculos e apresente
os documentos relativos à execução nos processos em tramitação nos juizados especiais cíveis federais,
ressalvada a possibilidade de o exequente postular a nomeação de perito.
STF. Plenário. ADPF 219/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 20/5/2021 (Info 1018).

É possível a compensação ser alegada em contestação, de forma a justificar o não pagamento do valor
cobrado ou a sua redução, extinguindo ou modificando o direito do autor
A compensação é matéria possível de ser alegada em contestação, de forma a justificar o não pagamento do
valor cobrado ou a sua redução, extinguindo ou modificando o direito do autor.
Todavia, conforme o art. 369 do CC/2002, a compensação se dá apenas entre dívidas líquidas, vencidas e de
coisas fungíveis.
STJ. 3ª Turma. REsp 2000288-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/10/2022 (Info 757).

Não é possível a Turma Recursal nos Juizados Especiais da Fazenda Pública realizar juízo prévio de
admissibilidade de Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei (PUIL) a ser julgado pelo STJ
O § 3º do art. 18 da Lei nº 12.153/2009 prevê que, se a decisão da Turma Recursal da Fazenda Pública estiver
em contrariedade com súmula do STJ, a parte prejudicada poderá ingressar com pedido de uniformização de
jurisprudência, a ser julgado pelo próprio STJ.
Vale ressaltar que, no pedido de uniformização baseado no § 3º do art. 18, não existe a previsão de juízo
prévio de admissibilidade pela Turma Recursal. O que a Turma Recursal irá fazer será apenas receber o
pedido, intimar a parte contrária para responder e, depois disso, remeter os autos ao STJ.
STJ. 1ª Seção. Rcl 42.409-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/06/2022 (Info 743).

Análise da (in) constitucionalidade da Lei do Mandado de Segurança


Não cabe mandado de segurança contra atos de gestão comercial praticados por administradores de
empresas públicas, sociedades de economia mista e concessionárias de serviço público. É constitucional o
art. 1º, § 2º da Lei nº 12.016/2019.
O juiz tem a faculdade de exigir caução, fiança ou depósito para o deferimento de medida liminar em
mandado de segurança, quando verificada a real necessidade da garantia em juízo, de acordo com as
circunstâncias do caso concreto. É constitucional o art. 7º, III, da Lei nº 12.016/2019.
É inconstitucional ato normativo que vede ou condicione a concessão de medida liminar na via mandamental.
É inconstitucional o art. 7º, § 2º da Lei nº 12.016/2009.
É inconstitucional o § 2º do art. 22, que exigia a oitiva prévia do representante da pessoa jurídica de direito
público como condição para a concessão de liminar em mandado de segurança coletivo. Essa previsão
restringia o poder geral de cautela do magistrado.
É constitucional o art. 23 da Lei nº 12.016/2009, que fixa o prazo decadencial de 120 dias para a impetração
de mandado de segurança.
É constitucional o art. 25 da Lei nº 12.016/2009, que prevê que não cabe, no processo de mandado de
segurança, a condenação em honorários advocatícios.
STF. Plenário. ADI 4296/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes julgado
em 9/6/2021 (Info 1021).

Requisitos para aplicação da teoria da encampação


Súmula 628-STJ: A teoria da encampação é aplicada no mandado de segurança quando presentes,
cumulativamente, os seguintes requisitos:
a) existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou informações e a que ordenou a prática
164

do ato impugnado;
b) manifestação a respeito do mérito nas informações prestadas; e
c) ausência de modificação de competência estabelecida na Constituição Federal.
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Desistência do MS mesmo após a sentença de mérito


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O impetrante pode desistir de mandado de segurança sem a anuência do impetrado mesmo após a prolação
da sentença de mérito.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.405.532-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/12/2013 (Info 533).

O mandado de segurança deverá ter seu mérito apreciado independentemente de superveniente trânsito
em julgado da decisão questionada pelo mandamus
É incabível mandado de segurança contra decisão judicial transitada em julgado (art. 5º, III, da Lei nº
12.016/2009 e Súmula nº 268-STF).
No entanto, se a impetração do mandado de segurança for anterior ao trânsito em julgado da decisão
questionada, mesmo que venha a acontecer, posteriormente, o mérito do MS deverá ser julgado, não
podendo ser invocado o seu não cabimento ou a perda de objeto.
STJ. Corte Especial. EDcl no MS 22.157-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/03/2019 (Info 650).

Se não for possível adotar a teoria da encampação, o juízo deverá determinar que o impetrante faça a
emenda da inicial, nos termos dos arts. 338 e 339 do CPC?
Em mandado de segurança, é vedada a oportunização ao impetrante de emenda à inicial para a indicação da
correta autoridade coatora, quando a referida modificação implique na alteração da competência
jurisdicional.
STJ. 2ª Turma. REsp 1954451-RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 14/2/2023 (Info 764).

Compartilhamento no inquérito civil das provas colhidas em investigação criminal mesmo que acobertadas
pelo sigilo
É possível compartilhar as provas colhidas em sede de investigação criminal para serem utilizadas, como
prova emprestada, em inquérito civil público e em outras ações decorrentes do fato investigado. Esse
empréstimo é permitido mesmo que as provas tenham sido obtidas por meio do afastamento ("quebra")
judicial dos sigilos financeiro, fiscal e telefônico.
STF. 1ª Turma. Inq 3305 AgR/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 23/2/2016 (Info 815).

É inconstitucional a delimitação dos efeitos da sentença proferida em sede de ação civil pública aos limites
da competência territorial de seu órgão prolator
I - É inconstitucional o art. 16 da Lei nº 7.347/85, alterada pela Lei nº 9.494/97.
II - Em se tratando de ação civil pública de efeitos nacionais ou regionais, a competência deve observar o art.
93, II, da Lei nº 8.078/90 (CDC).
III - Ajuizadas múltiplas ações civis públicas de âmbito nacional ou regional, firma-se a prevenção do juízo
que primeiro conheceu de uma delas, para o julgamento de todas as demandas conexas.
STF. Plenário. RE 1101937/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 7/4/2021 (Repercussão Geral –
Tema 1075) (Info 1012).

Competência absoluta do local do dano


A competência para processar e julgar ação civil pública é absoluta e se dá em função do local onde ocorreu
o dano.
STJ. 1ª Seção. AgRg nos EDcl no CC 113.788-DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 14/11/2012.

Continência entre ACP ajuizada na justiça estadual e outra na justiça federal


Súmula 489-STJ: Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações civis públicas
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propostas nesta e na Justiça estadual.


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Afastamento da presunção de legitimidade de associação para propositura de ação coletiva

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É possível ao juízo, de ofício, reconhecer a inidoneidade de associação regularmente constituída para
propositura de ação coletiva?
SIM. Quando houver sintomas de que a legitimação coletiva vem sendo utilizada de forma indevida ou
abusiva, o magistrado poderá, de ofício, afastar a presunção legal de legitimação de associação regularmente
constituída para propositura de ação coletiva.

O juiz, ao analisar se uma associação tem pertinência temática para propor ACP, deve adotar interpretação
flexível e ampla
O juízo de verificação da pertinência temática para a proposição de ações civis públicas há de ser
responsavelmente flexível e amplo, em contemplação ao princípio constitucional do acesso à justiça,
mormente a considerar-se a máxima efetividade dos direitos fundamentais.
STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 1.788.290-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/05/2022
(Info 738).

Possibilidade de a associação que ajuizou a ACP ser substituída por outra associação no polo ativo da
demanda
Caso ocorra dissolução da associação que ajuizou ação civil pública, é possível sua substituição no polo ativo
por outra associação.
O microssistema de defesa dos interesses coletivos privilegia o aproveitamento do processo coletivo,
possibilitando a sucessão da parte autora pelo Ministério Público ou por algum outro colegitimado (ex:
associação), mormente em decorrência da importância dos interesses envolvidos em demandas coletivas.
STJ. 3ª Turma. EDcl no REsp 1405697/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/09/2019.

Legitimidade ativa de associação para defender os interesses de seus filiados


A associação não tem legitimidade ativa para defender os interesses dos associados que vierem a se agregar
somente após o ajuizamento da ação de conhecimento.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.468.734-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 1º/3/2016 (Info 579).
Se uma associação ajuizou ACP, na condição de substituta processual, e obteve sentença coletiva
favorecendo os substituídos, todos os beneficiados possuem legitimidade para a execução individual,
mesmo que não sejam filiados à associação autora
Em ação civil pública proposta por associação, na condição de substituta processual, possuem legitimidade
para a liquidação e execução da sentença todos os beneficiados pela procedência do pedido,
independentemente de serem filiados à associação promovente.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.438.263/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/03/2021 (Recurso Repetitivo
– Tema 948) (Info 694).

Necessidade de demonstração de motivos para a formação de litisconsórcio ativo facultativo entre o MPE
e o MPF
Em ação civil pública, a formação de litisconsórcio ativo facultativo entre o Ministério Público Estadual e o
Federal depende da demonstração de alguma razão específica que justifique a presença de ambos na lide.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.254.428-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 2/6/2016 (Info 585).

Para ser beneficiada pela sentença favorável é necessário que a pessoa esteja filiada no momento da
propositura e seja residente no âmbito da jurisdição do órgão julgador
A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação coletiva, de rito ordinário, ajuizada por
associação civil na defesa de interesses dos associados, somente alcança os filiados, residentes no âmbito da
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jurisdição do órgão julgador, que o fossem em momento anterior ou até a data da propositura da demanda,
constantes da relação jurídica juntada à inicial do processo de conhecimento.
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STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864).

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Ação coletiva proposta pela associação
A autorização estatutária genérica conferida à associação não é suficiente para legitimar a sua atuação em
juízo na defesa de direitos de seus filiados. Para cada ação, é indispensável que os filiados autorizem de forma
expressa e específica a demanda.
Teses firmadas pelo STF neste julgado:
"O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República encerra representação específica, não alcançando
previsão genérica do estatuto da associação a revelar a defesa dos interesses dos associados."
"As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida pela
representação no processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos associados e a lista destes
juntada à inicial."
Exceção: no caso de impetração de mandado de segurança coletivo, a associação não precisa de autorização
específica dos filiados.
STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
julgado em 14/5/2014 (repercussão geral) (Info 746).

Embargos de terceiro e proprietário sem posse


O proprietário sem posse a qualquer título não tem legitimidade para ajuizar, com fundamento no direito de
propriedade, embargos de terceiro contra decisão transitada em julgado proferida em ação de reintegração
de posse, da qual não participou, e na qual nem sequer foi aventada discussão em torno da titularidade do
domínio.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.417.620-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 2/12/2014 (Info 553).

Não se admite cumulação de pedidos estranhos à natureza constitutivo-negativa dos embargos de terceiro
Além do pedido de proteção da posse ou propriedade, é possível formular pedido de indenização por danos
morais em embargos de terceiro?
NÃO. Os embargos de terceiro têm como única finalidade a de evitar ou afastar a constrição judicial sobre
bens de titularidade daquele que não faz parte do processo. Diz-se, portanto, que os embargos de terceiro
possuem uma cognição limitada/restrita porque se limitam a uma providência constitutivo-negativa.
Dessa forma, considerando a cognição limitada dos embargos de terceiro, revela-se inadmissível a cumulação
de pedidos estranhos à sua natureza constitutivo-negativa, como, por exemplo, o pleito de condenação a
indenização por danos morais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.703.707-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/05/2021 (Info 698).

Conversão da ação reintegratória em indenizatória


O terreno do proprietário foi invadido por inúmeras pessoas de baixa renda.
O proprietário ingressou com ação de reintegração de posse, tendo sido concedida a medida liminar, mas
nunca cumprida mesmo após vários anos.
Vale ressaltar que o Município e o Estado fizeram toda a infraestrutura para a permanência das pessoas no
local.
Diante disso, o juiz, de ofício, converteu a ação reintegratória em indenizatória (desapropriação indireta),
determinando a emenda da inicial, a fim de promover a citação do Município e do Estado para apresentar
contestação e, em consequência, incluí-los no polo passivo da demanda.
O STJ afirmou que isso estava correto e que a ação possessória pode ser convertida em indenizatória
(desapropriação indireta) - ainda que ausente pedido explícito nesse sentido - a fim de assegurar tutela
alternativa equivalente (indenização) ao particular que teve suas térreas invadidas.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.442.440-AC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 07/12/2017 (Info 619).
167

EXECUÇÃO FISCAL
O teto mínimo para ajuizamento de execução fiscal independe do valor estabelecido como anuidade pelos
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Conselhos de fiscalização profissional

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A Lei nº 12.514/2011 prevê uma restrição de valor para que o Conselho Profissional possa ajuizar a execução
fiscal cobrando as anuidades em atraso:
Art. 8º Os Conselhos não executarão judicialmente dívidas, de quaisquer das origens previstas no art. 4º
desta Lei, com valor total inferior a 5 (cinco) vezes o constante do inciso I do caput do art. 6º desta Lei,
observado o disposto no seu § 1º.
O teto mínimo para ajuizamento de execução fiscal pelos Conselhos Profissionais corresponde a 5 vezes o
valor máximo que pode ser cobrado a título de anuidade. Ex: se o valor máximo que pode ser cobrado de
anuidade for R$ 1.000,00, o valor mínimo para ser permitida a execução fiscal será R$ 5.000,00.
Se o Conselho Profissional, no caso concreto, decide fixar a anuidade em R$ 800,00 (mesmo sendo possível
R$ 1.000,00), o teto mínimo para ajuizamento da execução fiscal continuará sendo R$ 5.000,00 (e não R$
4.000,00, correspondente a 5 x R$ 800,00).
O teto mínimo para ajuizamento de execução fiscal independe do valor estabelecido pelos Conselhos de
fiscalização profissional, pois o legislador optou pelo valor fixo do art. 6º, I, da Lei nº 12.514/2011.
STJ. 2ª Turma. REsp 2043494-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/2/2023 (Info 764).

Termo inicial da prescrição para redirecionamento em caso de dissolução irregular da empresa


i) o prazo de redirecionamento da Execução Fiscal, fixado em cinco anos, contado da diligência de citação da
pessoa jurídica, é aplicável quando o referido ato ilícito, previsto no art. 135, III, do CTN, for precedente a
esse ato processual;
ii) a citação positiva do sujeito passivo devedor original da obrigação tributária, por si só, não provoca o início
do prazo prescricional quando o ato de dissolução irregular for a ela subsequente, uma vez que, em tal
circunstância, inexistirá, na aludida data (da citação), pretensão contra os sócios-gerentes (conforme
decidido no REsp 1.101.728/SP, no rito do art. 543-C do CPC/1973, o mero inadimplemento da exação não
configura ilícito atribuível aos sujeitos de direito descritos no art. 135 do CTN). O termo inicial do prazo
prescricional para a cobrança do crédito dos sócios-gerentes infratores, nesse contexto, é a data da prática
de ato inequívoco indicador do intuito de inviabilizar a satisfação do crédito tributário já em curso de
cobrança executiva promovida contra a empresa contribuinte, a ser demonstrado pelo Fisco, nos termos do
art. 593 do CPC/1973 (art. 792 do novo CPC - fraude à execução), combinado com o art. 185 do CTN
(presunção de fraude contra a Fazenda Pública); e,
iii) em qualquer hipótese, a decretação da prescrição para o redirecionamento impõe seja demonstrada a
inércia da Fazenda Pública, no lustro que se seguiu à citação da empresa originalmente devedora (REsp
1.222.444/RS) ou ao ato inequívoco mencionado no item anterior (respectivamente, nos casos de dissolução
irregular precedente ou superveniente à citação da empresa), cabendo às instâncias ordinárias o exame dos
fatos e provas atinentes à demonstração da prática de atos concretos na direção da cobrança do crédito
tributário no decurso do prazo prescricional.
STJ. 1ª Seção. REsp 1201993-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 08/05/2019 (recurso repetitivo -
Tema 444) (Info 662).

Em regra, não é possível o bloqueio de ativos financeiros via Bacen Jud antes da citação
Apenas quando o executado for validamente citado, e não pagar nem nomear bens à penhora, é que poderá
ter seus ativos financeiros bloqueados por meio do sistema Bacen-Jud, sob pena de violação ao princípio do
devido processo legal.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1933725/SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 27/9/2021.

É constitucional o art. 40 da Lei 6.830/80, que trata sobre a prescrição na execução fiscal; não era
necessário que a prescrição intercorrente fosse disciplinada em lei complementar
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É constitucional — por não afrontar a exigência de lei complementar para tratar da matéria (art. 146, III, “b”,
CF/88) — o art. 40 da LEF — lei ordinária nacional — quanto à prescrição intercorrente tributária e ao prazo
de um ano de suspensão da execução fiscal. Contudo, o § 4º do aludido dispositivo deve ser lido de modo
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que, após o decurso do prazo de um ano de suspensão da execução fiscal, a contagem do prazo de prescrição
de cinco anos seja iniciada automaticamente.

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Tese fixada pelo STF:
É constitucional o art. 40 da Lei nº 6.830/1980 (Lei de Execução Fiscal – LEF), tendo natureza processual o
prazo de um ano de suspensão da execução fiscal. Após o decurso desse prazo, inicia-se automaticamente a
contagem do prazo prescricional tributário de cinco anos.
STF. Plenário. RE 636562/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/02/2023 (Repercussão Geral – Tema
390) (Info 1083).

A ineficácia do negócio jurídico decretada no juízo falimentar não impede prosseguimento da execução
fiscal
Caso hipotético: Fazenda Nacional ajuizou execução fiscal contra a empresa Alfa. A Alfa alienou seu
estabelecimento empresarial para Delta. Foi decretada a falência de Alfa e o juízo falimentar decretou a
ineficácia desse negócio jurídico. Mesmo assim, o juízo da execução fiscal entendeu que houve
responsabilidade tributária decorrente de sucessão empresarial e redirecionou a execução fiscal contra a
Delta.
O STJ considerou que a decisão foi correta.
Os atos considerados ineficazes pelo juízo falimentar não produzem qualquer efeito jurídico perante a massa.
Por outro lado, isso não vincula o juízo da execução fiscal. A decretação da ineficácia do negócio jurídico por
parte do juízo falimentar não impede que o juízo da execução fiscal continue decidindo que houve
responsabilidade tributária decorrente de sucessão empresarial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1822226-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/09/2022 (Info 753).

Na conta corrente conjunta solidária presume-se a divisão do saldo em partes iguais, ficando eventual
penhora limitada à metade do numerário do total encontrado, na hipótese de execução movida por pessoa
distinta da instituição financeira mantenedora
A) É presumido, em regra, o rateio em partes iguais do numerário mantido em conta corrente conjunta
solidária quando inexistente previsão legal ou contratual de responsabilidade solidária dos correntistas pelo
pagamento de dívida imputada a um deles.
B) Não será possível a penhora da integralidade do saldo existente em conta conjunta solidária no âmbito de
execução movida por pessoa (física ou jurídica) distinta da instituição financeira mantenedora, sendo
franqueada aos cotitulares e ao exequente a oportunidade de demonstrar os valores que integram o
patrimônio de cada um, a fim de afastar a presunção relativa de rateio.
STJ. Corte Especial. REsp 1.610.844-BA, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/06/2022 (Tema IAC 12)
(Info 741).
O STJ decidiu que esse entendimento também se aplica para as execuções fiscais.
STJ. Corte Especial. EREsp 1734930-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 21/9/2022 (Info Especial 10).

Não cabe agravo de instrumento em execuções fiscais cujo valor não supere cinquenta Obrigações
Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNS
O art. 34 da Lei de Execuções Fiscais (Lei nº 6.830/80) prevê a seguinte regra:
Art. 34. Das sentenças de primeira instância proferidas em execuções de valor igual ou inferior a 50
(cinquenta) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, só se admitirão embargos infringentes e
de declaração.
Assim, se o juiz julga uma execução fiscal cujo valor é igual ou inferior a 50 ORTN, contra esta sentença só se
admitirão embargos infringentes e de declaração. Em outras palavras, não cabe apelação.
Além da apelação, também não cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias.
Não há recurso para a segunda instância quando o valor executado for inferior ao valor de alçada (50 ORTNs),
169

de modo que, estando o valor da execução abaixo do estipulado, haverá exceção ao duplo grau de jurisdição,
seja para a Fazenda Pública, seja para o executado.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1751847-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 16/08/2022 (Info 745).
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É possível a manutenção de penhora de valores via sistema BACENJUD no caso de parcelamento do crédito
fiscal?
O bloqueio de ativos financeiros do executado via sistema BACENJUD, em caso de concessão de
parcelamento fiscal, seguirá a seguinte orientação:
(i) será levantado o bloqueio se a concessão é anterior à constrição; e
(ii) fica mantido o bloqueio se a concessão ocorre em momento posterior à constrição, ressalvada, nessa
hipótese, a possibilidade excepcional de substituição da penhora online por fiança bancária ou seguro
garantia, diante das peculiaridades do caso concreto, mediante comprovação irrefutável, a cargo do
executado, da necessidade de aplicação do princípio da menor onerosidade.
STJ. 1ª Seção. REsp 1696270-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 08/06/2022 (Recurso
Repetitivo – Tema 1012) (Info 740).

O sócio só pode ser atingido pelo redirecionamento fundado na dissolução irregular se ele era
administrador no momento dessa dissolução; se havia saído antes, em regra, não poderá ser
responsabilizado
O redirecionamento da execução fiscal, quando fundado na dissolução irregular da pessoa jurídica executada
ou na presunção de sua ocorrência, não pode ser autorizado contra o sócio ou o terceiro não sócio que,
embora exercessem poderes de gerência ao tempo do fato gerador, sem incorrer em prática de atos com
excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato social ou aos estatutos, dela regularmente se retirou e não
deu causa à sua posterior dissolução irregular, conforme art. 135, III do CTN.
STJ. 1ª Seção. REsp 1377019-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 24/11/2021 (Recurso Repetitivo
- Tema 962) (Info 719).

Observado o princípio da causalidade, é cabível a fixação de honorários advocatícios em exceção de pré-


executividade, quando o sócio é excluído do polo passivo da execução fiscal, que não é extinta
É possível a fixação de honorários advocatícios, em exceção de pré-executividade, quando o sócio é excluído
do polo passivo da execução fiscal, que não é extinta.
STJ. 1ª Seção. REsp 1764405/SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 10/03/2021 (Recurso Repetitivo
– Tema 961) (Info 688).

É possível a inscrição em cadastro de inadimplentes do devedor que figura no polo passivo de execução
fiscal
O art. 782, §3º, do CPC é aplicável às execuções fiscais, devendo o magistrado deferir o requerimento de
inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes, preferencialmente pelo sistema SERASAJUD,
independentemente do esgotamento prévio de outras medidas executivas, salvo se vislumbrar alguma
dúvida razoável à existência do direito ao crédito previsto na Certidão de Dívida Ativa - CDA.
STJ. 1ª Seção. REsp 1807180/PR, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 24/02/2021 (Recurso Repetitivo – Tema
1026) (Info 686).

Redirecionamento da execução fiscal para cobrança de créditos tributários à incorporadora sem alteração
da CDA em caso de sucessão empresarial não oportunamente informada ao fisco
A execução fiscal pode ser redirecionada em desfavor da empresa sucessora para cobrança de crédito
tributário relativo a fato gerador ocorrido posteriormente à incorporação empresarial e ainda lançado em
nome da sucedida, sem a necessidade de modificação da Certidão de Dívida Ativa, quando verificado que
esse negócio jurídico não foi informado oportunamente ao fisco.
STJ. 1ª Seção. REsp 1848993-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 26/08/2020 (Recurso Repetitivo –
170

Tema 1049) (Info 678).

Forma de contagem do prazo da prescrição intercorrente prevista no art. 40, da LEF


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Termo inicial do prazo de 1 ano: data da intimação da Fazenda Pública

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O prazo de 1 (um) ano de suspensão do processo e do respectivo prazo prescricional previsto no art. 40, §§
1º e 2º da Lei nº 6.830/80 (LEF) tem início automaticamente na data da ciência da Fazenda Pública a respeito
da não localização do devedor ou da inexistência de bens penhoráveis no endereço fornecido, havendo, sem
prejuízo dessa contagem automática, o dever de o magistrado declarar ter ocorrido a suspensão da execução.
Sem prejuízo do disposto anteriormente:
1.1) nos casos de execução fiscal para cobrança de dívida ativa de natureza tributária (cujo despacho
ordenador da citação tenha sido proferido antes da vigência da Lei Complementar n. 118/2005), depois da
citação válida, ainda que editalícia, logo após a primeira tentativa infrutífera de localização de bens
penhoráveis, o Juiz declarará suspensa a execução; e,
1.2) em se tratando de execução fiscal para cobrança de dívida ativa de natureza tributária (cujo despacho
ordenador da citação tenha sido proferido na vigência da Lei Complementar nº 118/2005) e de qualquer
dívida ativa de natureza não tributária, logo após a primeira tentativa frustrada de citação do devedor ou de
localização de bens penhoráveis, o Juiz declarará suspensa a execução.

Encerrado o prazo de 1 ano, inicia-se automaticamente a contagem do prazo prescricional


Havendo ou não petição da Fazenda Pública e havendo ou não pronunciamento judicial nesse sentido, findo
o prazo de 1 (um) ano de suspensão, inicia-se automaticamente o prazo prescricional aplicável (de acordo
com a natureza do crédito exequendo), durante o qual o processo deveria estar arquivado sem baixa na
distribuição, na forma do art. 40, §§ 2º, 3º e 4º da Lei n. 6.830/1980 - LEF, findo o qual o Juiz, depois de ouvida
a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato.

Para interrupção do prazo prescricional é necessário requerimento da Fazenda Pública que acarrete efetiva
constrição ou efetiva citação
A efetiva constrição patrimonial e a efetiva citação (ainda que por edital) são aptas a interromper o curso da
prescrição intercorrente, não bastando para tal o mero peticionamento em juízo, requerendo, v.g., a feitura
da penhora sobre ativos financeiros ou sobre outros bens. Os requerimentos feitos pelo exequente, dentro
da soma do prazo máximo de 1 (um) ano de suspensão mais o prazo de prescrição aplicável (de acordo com
a natureza do crédito exequendo) deverão ser processados, ainda que para além da soma desses dois prazos,
pois, citados (ainda que por edital) os devedores e penhorados os bens, a qualquer tempo - mesmo depois
de escoados os referidos prazos -, considera-se interrompida a prescrição intercorrente, retroativamente, na
data do protocolo da petição que requereu a providência frutífera.

Falta de intimação da Fazenda Pública e efetivo prejuízo


A Fazenda Pública, em sua primeira oportunidade de falar nos autos (art. 278 do CPC/2015), ao alegar
nulidade pela falta de qualquer intimação dentro do procedimento do art. 40 da LEF, deverá demonstrar o
prejuízo que sofreu (exceto a falta da intimação que constitui o termo inicial - Tema 566, onde o prejuízo é
presumido), por exemplo, deverá demonstrar a ocorrência de qualquer causa interruptiva ou suspensiva da
prescrição.

Juiz, ao reconhecer a prescrição intercorrente, deverá demonstrar os marcos que foram aplicados na
contagem
O magistrado, ao reconhecer a prescrição intercorrente, deverá fundamentar o ato judicial por meio da
delimitação dos marcos legais que foram aplicados na contagem do respectivo prazo, inclusive quanto ao
período em que a execução ficou suspensa.
STJ. 1ª Seção. REsp 1340553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/09/2018 (Recurso
Repetitivo - Tema 566) (Info 635).
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OUTROS TEMAS
A realização do julgamento na modalidade virtual, ainda que haja expressa e tempestiva oposição de parte
no processo, não acarreta a sua nulidade
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A realização do julgamento na modalidade virtual não acarreta a sua nulidade, porquanto se trata de
providência que está de acordo com os princípios da colegialidade, da adequada duração do processo e do
devido processo legal.
Não há, no ordenamento jurídico vigente, o direito de exigir que o julgamento ocorra por meio de sessão
presencial. Portanto, o fato de o julgamento ter sido realizado de forma virtual, mesmo com a oposição
expressa e tempestiva da parte, não é, por si só, causa de nulidade.
A realização do julgamento por meio virtual, mesmo com a oposição pela parte, não gera, em regra, prejuízo
nas hipóteses em que não há previsão legal ou regimental de sustentação oral, sendo imprescindível, para a
decretação de eventual nulidade, a comprovação de efetivo prejuízo na situação concreta.
Além disso, mesmo quando há o direito de sustentação oral, se o seu exercício for garantido e viabilizado na
modalidade de julgamento virtual, não haverá qualquer prejuízo ou nulidade, ainda que a parte se oponha a
essa forma de julgamento, porquanto o direito de sustentar oralmente as suas razões não significa o de,
necessariamente, o fazer de forma presencial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1995565-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2022 (Info 762).

Hipótese em que o vício indicado pela parte configura a denominada “nulidade de algibeira”, que não é
aceita pela jurisprudência do STJ
Em regra, é necessária a intimação do terceiro titular de direito real (v.g. usufrutuário) acerca da penhora e
da alienação judicial do bem gravado com tal direito, na forma dos arts. 799, II, e 889, III, do CPC/2015.
Na situação julgada, contudo, as peculiaridades do caso concreto revelam que a falta de intimação do
usufrutuário acerca da penhora e da arrematação do imóvel constitui vício que já poderia ter sido alegado,
tendo o usufrutuário retardado indevidamente essa alegação.
Hipótese em que o vício indicado configura a denominada “nulidade de algibeira”, que deve ser rechaçada
em virtude do dever imposto a todos aqueles que participam do processo, de proceder com lealdade e boa-
fé.
STJ. 3ª Turma. REsp 2000959-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 4/10/2022 (Info Especial 9).

JUIZADOS ESPECIAIS
O que acontece se a decisão da Turma Recursal disser respeito à interpretação de lei federal e contrariar
entendimento consolidado ou mesmo sumulado do STJ?
Compete às Câmaras Reunidas ou à Seção Especializada dos Tribunais de Justiça a competência para
processar e julgar as Reclamações destinadas a dirimir divergência entre acórdão prolatado por Turma
Recursal Estadual e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, consolidada em incidente de assunção
de competência e de resolução de demandas repetitivas, em julgamento de recurso especial repetitivo e em
enunciados das Súmulas do STJ.
STJ. 1ª Seção. AgInt na Rcl 41841-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/2/2023 (Info 763).

JURISPRUDÊNCIA EM TESES
É faculdade do autor a escolha do local de impetração de mandado de segurança contra autarquias federais
objetivando o recebimento de auxílio emergencial implantado em razão da pandemia da covid-19.

Por se tratar de verba destinada a garantir a subsistência do beneficiário no período da pandemia da covid-
19, é impenhorável o auxílio emergencial concedido pelo Governo Federal, salvo para o pagamento de
prestação alimentícia (art. 833, IV e § 2º, do CPC).
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A declaração de inconstitucionalidade, pelo Supremo Tribunal Federal, das leis estaduais que determinaram
descontos obrigatórios nos valores de mensalidades da rede de ensino privada em decorrência da pandemia
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da covid-19, por si só, não implica perda do objeto de ações civis públicas.

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Habeas corpus coletivo não é a via adequada para a concessão de prisão domiciliar a todos os indivíduos
privados de liberdade que se enquadram no grupo de risco da covid-19, pois se faz necessário o exame
individual da situação de cada paciente.

DIREITO EMPRESARIAL
A ANVISA, no exercício do “ato de anuência prévia” do art. 229-C da Lei 9.279/96, podia adentrar no exame
de quaisquer aspectos dos produtos ou processos farmacêuticos
Em se tratando de pedido de patente de fármacos, competia à Anvisa analisar - previamente à análise do
INPI - quaisquer aspectos dos produtos ou processos farmacêuticos - ainda que extraídos dos requisitos de
patenteabilidade (novidade, atividade inventiva e aplicação industrial) - que lhe permitam inferir se a outorga
de direito de exclusividade (de produção, uso, comercialização, importação ou licenciamento) poderá ensejar
situação atentatória à saúde pública.
Art. 229-C. A concessão de patentes para produtos e processos farmacêuticos dependerá da prévia anuência
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. (Incluído pela Lei nº 10.196/2001) (Posteriormente
revogado pela Lei nº 14.195/2021)
STJ. 4ª Turma. REsp 1.543.826-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 05/08/2021 (Info 703).

Propaganda comparativa
A propaganda comparativa é forma de publicidade na qual se compara, explícita ou implicitamente, produtos
ou serviços concorrentes, a fim de conquistar a escolha do consumidor.
Em nosso país, não há lei definindo o que seja publicidade comparativa.
A doutrina e o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária do CONAR afirmam que a publicidade
comparativa, em regra, é permitida, desde que não viole alguns princípios.
Segundo decidiu o STJ, é lícita a propaganda comparativa entre produtos alimentícios de marcas distintas e
de preços próximos no caso em que:
a) a comparação tenha por objetivo principal o esclarecimento do consumidor;
b) as informações vinculadas sejam verdadeiras, objetivas, não induzam o consumidor a erro, não depreciem
o produto ou a marca, tampouco sejam abusivas (art. 37, § 2º, do CDC); e
c) os produtos e marcas comparados não sejam passíveis de confusão.
A publicidade comparativa não é vedada pelo CDC, desde que obedeça ao princípio da veracidade das
informações, seja objetiva e não abusiva.
De igual forma, em regra, a propaganda comparativa não é proibida pela Lei 9.279/96 (LPI). Para que a
propaganda comparativa viole o direito marcário do concorrente, as marcas devem ser passíveis de confusão
ou a menção à marca do concorrente deve ser feita de forma depreciativa, acarretando a degradação
(desgaste do outro produto) e o consequente desvio de clientela.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.377.911-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/10/2014 (Info 550).

Os “privilégios do agricultor”, previstos no art. 10 da Lei nº 9.456/97, não se aplicam para o caso de
processo de inserção do gene na semente da soja
As limitações ao direito de propriedade intelectual constantes do art. 10 da Lei nº 9.456/97 - aplicáveis tão
somente aos titulares de Certificados de Proteção de Cultivares - não são oponíveis aos detentores de
patentes de produto e/ou processo relacionados à transgenia cuja tecnologia esteja presente no material
reprodutivo de variedades vegetais.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.610.728-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/10/2019 (Tema IAC 4) (Info 658).
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CONTRATOS EMPRESARIAIS
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Empresa de factoring pode emprestar dinheiro a juros (mútuo feneratício), mas os juros cobrados não
podem ultrapassar 12% ao ano, permitida apenas capitalização anual

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Embora não constitua instituição financeira, não é vedado à sociedade empresária de factoring celebrar
contrato de mútuo feneratício, devendo apenas serem respeitadas as regras dessa espécie contratual
aplicáveis aos particulares, especialmente quanto aos juros devidos e à capitalização.
STJ. 3ª Turma. REsp 1987016-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/09/2022 (Info 750).

A variação dos Certificados de Depósitos Interbancários - CDI pode ser utilizada como encargo financeiro
em contratos bancários
Não há vedação à adoção da variação dos Certificados de Depósitos Interbancários - CDI como encargo
financeiro em contratos bancários, devendo o abuso ser observado caso a caso, em cotejo com as taxas
médias de mercado regularmente divulgadas pelo Banco Central do Brasil para as operações de mesma
espécie, o que não ocorre na espécie.
STJ. 4ª Turma.REsp 1630706-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 07/06/2022 (Info 742).

FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL


Produtor rural pode pedir recuperação judicial?
Ao produtor rural que exerça sua atividade de forma empresarial há mais de dois anos, é facultado requerer
a recuperação judicial, desde que esteja inscrito na Junta Comercial no momento em que formalizar o pedido
recuperacional, independentemente do tempo de seu registro.
STJ. 2ª Seção. REsp 1905573-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/06/2022 (Recurso Repetitivo
– Tema 1145) (Info 743).

É possível que a Fazenda Pública habilite na falência o crédito tributário que já está sendo cobrado em uma
execução fiscal em curso?
É possível a Fazenda Pública habilitar em processo de falência crédito tributário objeto de execução fiscal em
curso, mesmo antes da vigência da Lei nº 14.112/2020, e desde que não haja pedido de constrição de bens
no feito executivo.
STJ. 1ª Seção. Resp 1872759-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 18/11/2021 (Recurso Repetitivo –
Tema 1092) (Info 718).

Para fins de submissão à recuperação judicial, considera-se existente o crédito na data de seu fato gerador
ou no dia do trânsito em julgado da sentença que o reconhece?
Para o fim de submissão aos efeitos da recuperação judicial, considera-se que a existência do crédito é
determinada pela data em que ocorreu o seu fato gerador.
Ex: em janeiro/2017, Lucas consumiu leite estragado comprado no Supermercado BR. Em fevereiro/2017,
ajuizou ação de indenização contra o Supermercado. Em setembro/2017, o supermercado ingressou com
pedido de recuperação judicial. Em outubro/2017, o juiz julgou o pedido de Lucas procedente e condenou a
empresa a pagar R$ 50 mil. Houve o trânsito em julgado. Diante disso, Lucas ingressou com pedido de
habilitação de seu crédito na recuperação judicial. Esse crédito poderá ser habilitado na recuperação (art. 49
da Lei nº 11.101/2005) porque foi constituído na data do acidente de consumo (janeiro/2017) e não na data
da sentença, que apenas declarou uma obrigação já existente.
STJ. 2ª Seção. Resp 1842911-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 09/12/2020 (Recurso
Repetitivo – Tema 1051) (Info 684).

Compete ao Juízo da Recuperação manifestar-se acerca da natureza do crédito, definindo se está ou não
submetido aos efeitos da recuperação judicial; se ele devolver o crédito para o juízo de origem, caberá a
este efetuar o pagamento devido
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Havendo manifestação do Juízo da recuperação judicial no sentido de que determinado crédito não integra
o patrimônio da recuperanda ou não está submetido aos efeitos da recuperação judicial, cabe ao Juízo a que
vinculada a conta judicial em que depositado este crédito ultimar os atos de pagamento.
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STJ. 2ª Seção. CC 185966-AM, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/12/2022 (Info 762).

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O Juízo da Recuperação Judicial não pode anular ou simplesmente desconsiderar ou suspender os atos de
constrição determinados pelo Juízo da Execução Fiscal
O Juízo da Recuperação Judicial não pode anular ou simplesmente desconsiderar ou suspender os atos de
constrição determinados pelo Juízo da Execução Fiscal, porque o novo regramento da questão exige dele
postura proativa, cooperativa, que também contemple os interesses da Fazenda Pública, somente se opondo
aos atos constritivos de forma fundamentada e razoável.
1) Compete ao Juízo da Execução Fiscal, determinar os atos de constrição judicial sobre bens e direitos de
sociedade empresária em recuperação judicial, sem proceder à alienação ou levantamento de quantia
penhorada, comunicando aquela medida ao juízo da recuperação, como dever de cooperação; e
2) Compete ao Juízo da Recuperação Judicial, tomando ciência daquela constrição, exercer juízo de controle
e deliberar sobre a substituição do ato constritivo que recaia sobre bens de capital essenciais à manutenção
da atividade empresarial até o encerramento do procedimento de soerguimento, podendo formular
proposta alternativa de satisfação do crédito, em procedimento de cooperação recíproca.
STJ. 2ª Seção. CC 187255-GO, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 14/12/2022 (Info 762).

É cabível a medida coercitiva atípica de apreensão de passaportes, em sede de processo de falência,


quando constatados fortes indícios de ocultação de patrimônio
A apreensão do passaporte do devedor é medida atípica e restritiva da liberdade de locomoção do indivíduo,
podendo caracterizar constrangimento ilegal e arbitrário, susceptível de análise em sede de habeas corpus,
como via processual adequada.
Em homenagem ao princípio do resultado na execução, o CPC/2015 inovou no ordenamento jurídico ao
prever, em seu art. 139, IV, a adoção de medidas executivas atípicas, tendentes à satisfação da obrigação
exequenda.
Sendo a falência um processo de execução coletiva decretado judicialmente, deve o patrimônio do falido
estar comprometido exclusivamente com o pagamento da massa falida, de modo que se tem como cabível,
de forma subsidiária, a aplicação da referida regra do art. 139, IV, conforme previsto no art. 189 da Lei
11.101/2005.
No caso concreto, o STJ considerou que a apreensão do passaporte do falido foi uma medida coercitiva
dotada de razoabilidade tendo em vista que determinada mediante decisão fundamentada e com
observância do contraditório prévio, em sede de processo de falência que perdura por mais de dez anos,
após constatados fortes indícios de ocultação de vasto patrimônio em paraísos fiscais e que as luxuosas e
frequentes viagens internacionais do paciente são custeadas com patrimônio indevidamente transferido a
familiares pelo próprio falido, tudo como forma de subtrair-se pessoalmente aos efeitos da quebra.
STJ. 4ª Turma. HC 742879-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 13/09/2022 (Info 749).

O crédito constituído anteriormente à incorporação de empresa a grupo empresarial em recuperação


judicial deve se submeter ao juízo universal
No caso, o crédito foi constituído até a data do pedido da recuperação judicial, no entanto, a incorporação
da empresa pelo conglomerado de empresas em recuperação se deu posteriormente.
Mesmo que a empresa não estivesse no conglomerado de empresas que tiveram o pedido de recuperação
judicial deferido, deve prevalecer o princípio da preservação da empresa, razão pela qual o juízo universal
deve ser o único a gerir os atos de constrição e alienação dos bens do grupo de empresas em recuperação.
Sendo assim, o juízo universal deve exercer o controle sobre os atos constritivos sobre o patrimônio do grupo
em recuperação judicial, adequando a essencialidade do bem à atividade empresarial, independente da data
em que a empresa foi incorporada à outra, já em plano de recuperação judicial.
Nessa esteira, mesmo que a incorporação tenha ocorrido após a constituição do crédito e ao pedido de
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recuperação judicial, deve se operar a força atrativa do juízo universal como forma de manter a higidez do
fluxo de caixa das empresas e, assim, gerenciar de forma exclusiva o plano de recuperação.
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STJ. 3ª Turma. Resp 1972038-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 29/03/2022 (Info 733).

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É possível a desconsideração da personalidade jurídica incidentalmente no processo falimentar,
independentemente de ação própria, verificada a fraude e a confusão patrimonial entre a falida e outras
empresas
Uma vez verificada a ocorrência de fraude e confusão patrimonial entre a falida e outras empresas, é possível
a desconsideração das personalidades jurídicas incidentalmente no processo falimentar,
independentemente de ação própria (anulatória ou revocatória), inclusive com o objetivo de arrecadar bens
das sociedades empresariais envolvidas na fraude reconhecida pelas instâncias ordinárias. Precedentes.
A desconsideração da personalidade jurídica, quando preenchidos os seus requisitos, pode ser requerida a
qualquer tempo, não se submetendo, à míngua de previsão legal, a prazos decadenciais ou prescricionais.
STJ. 3ª Turma. Resp 1686123-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/03/2022 (Info 730).

Possibilidade de uma associação civil sem fins lucrativos se submeter a recuperação judicial
Associações civis sem fins lucrativos com finalidade e atividades econômicas detêm legitimidade para
requerer recuperação judicial.
STJ. 4ª Turma. AgInt no TP 3654-RS, Rel. Min. Raul Araújo, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
15/03/2022 (Info 729).

Competência para julgar falência de instituição sob a intervenção do BACEN


A competência para processar e julgar o pedido de falência de empresa em liquidação extrajudicial, ou seja,
sob intervenção do BACEN é da Justiça Estadual (e não da Justiça Federal).
STJ. 3ª Turma. Resp 1.162.469-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/04/2012.

Competência
Compete à Justiça Estadual, e não à Justiça Federal, processar e julgar ação proposta em face de sociedade
de economia mista, ainda que se trate de instituição financeira em regime de liquidação extrajudicial, sob
intervenção do Banco Central.
STJ. 4ª Turma. Resp 1.093.819-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 19/3/2013 (Info 519).

Ações envolvendo trade dress e nulidade de registro de marca


As questões acerca do trade dress (conjunto-imagem) dos produtos, concorrência desleal e outras demandas
afins, por não envolver registro no INPI e cuidando de ação judicial entre particulares, é inequivocamente de
competência da Justiça estadual, já que não afeta interesse institucional da autarquia federal. No entanto,
compete à Justiça Federal, em ação de nulidade de registro de marca, com a participação do INPI, impor ao
titular a abstenção do uso, inclusive no tocante à tutela provisória.
STJ. 2ª Seção. Resp 1527232-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/12/2017 (recurso repetitivo)
(Info 618).

Não há coisa julgada envolvendo ação cominatória e indenizatória por uso indevido, decidida na JF, com
ação de nulidade de registro de marca, proposta pela mesma autora contra idêntica empresa e contra o
INPI, decidida na Justiça Federal
Não há coisa julgada envolvendo ação cominatória e indenizatória por uso indevido de marca proposta contra
empresa que utiliza marca semelhante à da autora, que tramitou na Justiça Comum estadual, e ação de
nulidade de registro de marca, proposta pela mesma autora contra idêntica empresa e contra o INPI, decidida
na Justiça Federal.
STJ. 2ª Seção. AgInt na AR 6868-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 9/11/2022 (Info Especial
9).
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Termo inicial de correção monetária e de juros de mora em cobrança de cheque


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Em qualquer ação utilizada pelo portador para cobrança de cheque, a correção monetária incide a partir da
data de emissão estampada na cártula, e os juros de mora a contar da primeira apresentação à instituição
financeira sacada ou câmara de compensação.
STJ. 2ª Seção. Resp 1556834-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/6/2016 (recurso repetitivo)
(Info 587).

O acionista minoritário não tem legitimidade extraordinária para buscar a responsabilização civil dos
controladores (art. 246 da Lei 6.404/76 – ação social ut singuli) enquanto não caracterizada a inércia da
companhia
Os acionistas minoritários não têm legitimidade extraordinária para promover procedimentos arbitrais
destinados à responsabilização civil dos controladores, com base no art. 246 da Lei nº 6.404/76, (ação social
ut singuli) enquanto não caracterizada a inércia da companhia, o que se verifica quando, convocada
assembleia geral para deliberar sobre a responsabilidade destes, há deliberação autorizativa e não são
promovidas as medidas cabíveis dentro dos três meses subsequentes ou quando há deliberação negativa.
STJ. 2ª Seção. CC 185702/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/06/2022 (Info 749).

É possível a penhora de quotas sociais de sócio por dívida particular por ele contraída, ainda que de
sociedade empresária em recuperação judicial
Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação judicial, já que
não enseja, necessariamente, a liquidação da quota.
STJ. 3ª Turma. Resp 1803250-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 23/06/2020 (Info 675).

JURISPRUDÊNCIA EM TESES
Títulos de Crédito
A instituição financeira é responsável pelos danos resultantes de extravio de talonários de cheques utilizados
fraudulentamente por terceiros.

O estabelecimento bancário não está obrigado a verificar a autenticidade das assinaturas dos endossantes,
mas tem o dever de atestar a regularidade formal da cadeia de endossos.

A investigação da causa debendi é admitida nas hipóteses em que o cheque é dado como garantia, bem como
nos casos em que o negócio jurídico subjacente for constituído em flagrante desrespeito à ordem jurídica.

A prescrição da pretensão executória de título cambial não enseja o cancelamento automático de anterior
protesto regularmente lavrado e registrado.

Propriedade Industrial
Para se conceder a proteção especial da marca de alto renome, em todos os ramos de atividade, (art. 125 da
LPI) é necessário procedimento administrativo junto ao INPI.

Cabe ao INPI e não ao Poder Judiciário analisar os requisitos necessários à qualificação da marca como de
alto renome.

DIREITO INTERNACIONAL
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PÚBLICO E PRIVADO
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Desnecessidade de novo processo de extradição em caso de reingresso de extraditando foragido

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Em caso de reingresso de extraditando foragido, não é necessária nova decisão jurisdicional acerca da
entrega, basta a emissão de ordem judicial.
STF. 2ª Turma. Ext 1225/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/11/2017 (Info 885).

Crime tributário, ausência de constituição definitiva e extradição


Se o estrangeiro está respondendo a ação penal por crime tributário no exterior, ele poderá ser extraditado
mesmo que ainda não tenha havido a constituição do crédito tributário no país requerente. O que se exige,
para o reconhecimento do pedido, é que o fato seja típico em ambos os países, não sendo necessário que o
Estado requerente siga as mesmas regras fazendárias existentes no Brasil.
STF. 2ª Turma. Ext 1222/República Federal da Alemanha, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/8/2013 (Info
716).

Não é possível conceder a extradição se o crime está prescrito no Brasil


O Governo da Itália pediu a extradição de nacional italiano que está no Brasil em virtude de ele ter sido
condenado por crimes de falência fraudulenta naquele país.
O STF negou o pedido já que houve a prescrição da pretensão executória da pena do referido delito segundo
a lei brasileira.
Em outras palavras, estando o crime prescrito, não é possível conceder a extradição por faltar o requisito da
dupla punibilidade (art. 77, VI, do Estatuto do Estrangeiro).
STF. 2ª Turma. Ext 1324/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2015 (Info 780).

Não se deve conceder a extradição se, na época do fato, a conduta imputada ao extraditando não era
punida como crime no Brasil
Não se deve conceder a extradição se, na época do fato, a conduta imputada ao extraditando não era punida
como crime no Brasil, ainda que, no momento do pedido de extradição, já exista lei tipificando como infração
penal. Isso porque seria uma ofensa à irretroatividade da lei penal brasileira.
Ex: extraditando financiou grupo terrorista em 2013; ocorre que a Lei de Terrorismo somente foi editada em
2016 (Lei nº 13.260/2016).
STF. 2ª Turma. Ext 1578/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/8/2019 (Info 946).

Não se deve conceder a extradição se a conduta do extraditando de financiar grupo terrorista que
pretendia tomar o poder caracteriza-se como crime político
Não se deve conceder a extradição se a conduta do extraditando de financiar grupo terrorista que pretendia
tomar o poder caracteriza-se como crime político, tendo em vista a vedação prevista no art. 5º, LII, da CF/88.
STF. 2ª Turma. Ext 1578/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/8/2019 (Info 946).

Não se deve conceder a extradição se o país requerente vem enfrentando um quadro de instabilidade
política
Não se deve conceder a extradição se o país requerente vem enfrentando um quadro de instabilidade
política, tendo ocorrido a demissão de juízes e a prisão de opositores do governo. Isso porque, neste caso,
haveria o risco de o extraditando ser submetido a um tribunal ou juízo de exceção (art. 82, VIII, da Lei nº
13.445/2017).
STF. 2ª Turma. Ext 1578/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/8/2019 (Info 946).

O fato de o Estado requerente ter qualificado os delitos do extraditando como de lesa-humanidade não
178

torna tais crimes imprescritíveis no Brasil


O Brasil não deverá deferir pedido de extradição se o delito praticado pelo extraditando estiver prescrito
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segundo as leis brasileiras, considerando que deverá ser respeitado o requisito da dupla punibilidade (art.
77, VI, do Estatuto do Estrangeiro).

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O fato de o Estado requerente ter qualificado os delitos imputados ao extraditando como de lesa-
humanidade não torna tais crimes imprescritíveis no Brasil. Isso porque:
1) o Brasil não subscreveu a Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra
a Humanidade, nem aderiu a ela;
2) apenas a lei interna pode dispor sobre prescritibilidade ou imprescritibilidade de crimes no Brasil.
STF. Plenário. Ext 1362/DF, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, julgado em 9/11/2016
(Info 846).

Extradição supletiva
A pessoa que foi extraditada somente pode ser julgada ou cumprir pena no Brasil pelo(s) crime(s) contido(s)
no pedido de extradição. Se o extraditando havia cometido outros crimes antes do pedido de extradição, em
regra, ele não poderá responder por tais delitos se não constaram expressamente no pedido de extradição.
A isso se dá o nome de “princípio da especialidade”. Ex: o Brasil pediu a extradição mencionando o crime 1;
logo, em regra, o réu somente poderá responder por este delito; como o crime 2 tinha sido praticado antes
do pedido de extradição, o governo brasileiro deveria ter mencionado expressamente não apenas o crime 1,
como também o 2.
Para que o réu responda pelo crime 2, o governo brasileiro deverá formular ao Estado estrangeiro um pedido
de extensão da autorização da extradição. Isso é chamado de “extradição supletiva”.
Assim, caso seja oferecida denúncia pelo Ministério Público por fato anterior e não contido na solicitação de
extradição da pessoa entregue, deve a ação penal correspondente ser suspensa até que seja julgado pedido
de extradição supletiva.
STJ. 5ª Turma. RHC 45.569-MT, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 4/8/2015 (Info 566).

Procedimento simplificado no caso de o extraditando concordar com o pedido


Em regra, o simples fato de o extraditando estar de acordo com o pedido extradicional e de declarar que
deseja retornar ao Estado requerente a fim de se submeter ao processo criminal naquele País não exonera
(não exime) o STF do dever de efetuar o controle da legalidade sobre a postulação formulada pelo Estado
requerente.
No entanto, é possível que ocorra uma peculiaridade. É possível que o tratado que rege a extradição entre o
Brasil e o Estado estrangeiro preveja um procedimento simplificado no caso de o extraditando concordar
com o pedido. É o caso, por exemplo, da “Convenção de Extradição entre os Estados Membros da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa”. Este tratado internacional estabeleceu regime simplificado
de extradição, que autoriza a entrega imediata do extraditando às autoridades competentes do Estado
requerente, sempre que o súdito estrangeiro manifestar, de forma livre e de modo voluntário e inequívoco,
o seu desejo de ser extraditado. Nesta hipótese, a tarefa do STF será a de homologar (ou não) a declaração
do extraditando de que concorda com a extradição.
STF. 2ª Turma. Ext 1476/DF, rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/5/2017 (Info 864).

Veja como o tema é tratado pela Lei nº 13.445/2017:


Art. 87. O extraditando poderá entregar-se voluntariamente ao Estado requerente, desde que o declare
expressamente, esteja assistido por advogado e seja advertido de que tem direito ao processo judicial de
extradição e à proteção que tal direito encerra, caso em que o pedido será decidido pelo Supremo Tribunal
Federal.

Os fatos incriminados que sejam investigados, anteriores a 24/12/2019, impõem, para fins de extradição,
o compromisso do Estado estrangeiro em estabelecer o cumprimento de pena máxima de 30 anos para o
179

extraditando
O art. 96, III, da Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017) prevê que, para que o Brasil conceda a extradição, o
país que está pedindo a medida deverá se comprometer, formalmente, em não permitir que o extraditando
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cumpra pena por tempo superior a 30 anos.

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Com o advento da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), que modificou o art. 75 do CP, esse prazo foi
ampliado para 40 anos. Vale ressaltar, contudo, que esse novo limite temporal de 40 anos se aplica somente
para os crimes imputados ao extraditando praticados após a entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019.
STF. 1ª Turma. Ext 1652/Governo do Chile, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 19/10/2021 (Info 1035).

Poder Judiciário não pode examinar conveniência e oportunidade do ato de expulsão


O Poder Judiciário poderá avaliar a decisão de expulsão?
SIM, é possível. No entanto, como o ato de expulsão é considerado discricionário, somente cabe ao Poder
Judiciário analisar se ele foi praticado em conformidade ou não com a legislação em vigor (controle de
legalidade), não podendo examinar a sua conveniência e oportunidade, ou seja, não poderá realizar o
controle sobre o mérito da decisão.
Assim, o ato administrativo de expulsão, manifestação da soberania do país, é de competência privativa do
Poder Executivo, competindo ao Judiciário apenas a verificação da higidez do procedimento por meio da
observância das formalidades legais.
STJ. 1ª Seção. HC 239.329/DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 28/05/2014.
STJ. 1ª Seção. HC 333.902-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 14/10/2015 (Info 571).

Estrangeiro que tenha filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência não pode ser expulso
mesmo que o nascimento tenha ocorrido após os fatos que ensejaram a expulsão
Para a configuração das hipóteses legais de inexpulsabilidade não é exigível a contemporaneidade dessas
mesmas causas em relação aos fatos que deram ensejo ao ato expulsório.
Caso concreto: portaria de expulsão do estrangeiro foi publicada em 2017; enquanto aguardava a efetivação
da expulsão, esse estrangeiro teve um filho brasileiro, nascido em 2019; a Lei de Migração (Lei nº
13.445/2017), em seu art. 55, II, “a”, proíbe a expulsão caso o estrangeiro tenha filho brasileiro e ele esteja
sob a sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva; muito embora a portaria de expulsão tenha
sido editada antes do nascimento do filho brasileiro, o certo é que não se pode exigir para a configuração das
hipóteses legais de inexpulsabilidade a contemporaneidade dessas mesmas causas em relação aos fatos que
deram ensejo ao ato expulsório.
STJ. 1ª Seção. HC 452.975-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 667).

Imunidade de jurisdição e ONU/PNUD


A Organização das Nações Unidas — ONU e sua agência Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento — PNUD possuem imunidade de jurisdição e de execução, abrangendo, inclusive, as causas
trabalhistas.
STF. Plenário. RE 597368/MT, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, 15/5/2013;
RE 578543/MT, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, 15/5/2013 (Info 706).

Homologação de sentença estrangeira e confisco de imóvel situado no Brasil


É possível a homologação de sentença penal estrangeira que determine o perdimento de imóvel situado no
Brasil em razão de o bem ser produto do crime de lavagem de dinheiro.
Ex: cidadão finlandês foi condenado em seu país pela prática de lavagem de dinheiro. Na sentença, determinou-
se o perdimento de imóvel situado no Brasil. Esta sentença estrangeira pode ser homologada pelo STJ.
Não há ofensa ao art. 23, I, do CPC/2015, pois a sentença estrangeira não tratou especificamente sobre a
situação dos bens imóveis, sobre a sua titularidade, mas sim sobre os efeitos civis de uma condenação penal,
determinando o perdimento de bens que foram objeto de crime de lavagem de capitais.
STJ. Corte Especial. SEC 10.612-FI, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 18/5/2016 (Info 586).
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A ausência de jurisdição brasileira conduz necessariamente à falta de interesse processual na homologação


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de provimento estrangeiro

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A ausência de jurisdição brasileira conduz necessariamente à falta de interesse processual na homologação
de provimento estrangeiro.
STJ. Corte Especial. SEC 8.542-EX, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 29/11/2017 (Info 621).

Não cabe renúncia em processo de homologação de sentença estrangeira


É inadmissível a renúncia em sede de homologação de provimento estrangeiro.
STJ. Corte Especial. SEC 8.542-EX, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 29/11/2017 (Info 621).

Oitiva de estrangeiro, preso por ordem do STF em processo de extradição


A oitiva de estrangeiro, preso por ordem do STF em processo de extradição, enquadra-se como providência
a ser cumprida por meio de auxílio direto.
O pedido de cooperação jurídica internacional, na modalidade de auxílio direto, possui natureza distinta da
carta rogatória.
Formulado pedido de assistência direta pelo Ministério Público português ao Parquet brasileiro, com base
em tratado internacional de mútua cooperação em matéria penal, firmado entre Brasil e Portugal – Decreto
1.320/94 –, o cumprimento em território pátrio depende de mero juízo de delibação, sendo desnecessária a
atuação homologatória em exequatur pelo STJ.
STF. 1ª Turma. Pet 5946/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
16/8/2016 (Info 835).
Condição para expulsão de refugiado
A expulsão de estrangeiro que ostente a condição de refugiado não pode ocorrer sem a regular perda dessa
condição. Assim, mesmo que o refugiado seja condenado com trânsito em julgado pela prática de crime
grave, antes de ele ser expulso deverá ser instaurado devido processo legal, com contraditório e ampla
defesa, para se decretar a perda da condição de refugiado, nos termos do art. 39, III, da Lei nº 9.474/97.
Somente após essa providência, ele poderá ser expulso.
STJ. 1ª Seção. HC 333.902-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 14/10/2015 (Info 571).

Lei aplicável para reger a sucessão causa mortis e bem imóvel situado no exterior
Aplica-se a lei brasileira para reger a sucessão de bem imóvel situado no exterior? A Justiça brasileira é
competente para julgar inventário e partilha de bem imóvel localizado em outro país?
NÃO. Ainda que o domicílio do autor da herança seja o Brasil, aplica-se a lei estrangeira da situação da coisa
(e não a lei brasileira) na sucessão de bem imóvel situado no exterior.
O art. 10 da LINDB afirma que a lei do domicílio do autor da herança regulará a sucessão por morte. Ocorre
que essa regra não é absoluta e deverá ser interpretada sistematicamente, ou seja, em conjunto com os
demais dispositivos que regulam o tema, em especial o art. 8º, caput, e § 1º do art. 12, ambos da LINDB e o
art. 89 do CPC 1973 (art. 23 do CPC 2015).
Desse modo, esses dispositivos revelam que a lei brasileira só se aplica para os bens situados no Brasil e
autoridade judiciária brasileira somente poderá fazer o inventário dos bens imóveis aqui localizados.
Mas no caso em que há um bem imóvel no Brasil e outro no exterior, como fazer?
Deverão ser abertos dois inventários: um aqui no Brasil para reger o bem situado em nosso território e outro
no exterior para partilhar o imóvel de lá.
STJ. 3ª Turma. Resp 1.362.400-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. em 28/4/2015 (Info 563).

Súmula 1-STF: É vedada a expulsão de estrangeiro casado com brasileira, ou que tenha filho brasileiro,
dependente da economia paterna.
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O tema é agora tratado pelo art. 55 da Lei nº 13.445/2017:


Art. 55. Não se procederá à expulsão quando:
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(...)
II – o expulsando:

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a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa
brasileira sob sua tutela;
b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma, reconhecido judicial ou
legalmente;

Súmula 421-STF: Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditado casado com brasileira ou ter
filho brasileiro.

Súmula 420-STF: Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do trânsito em julgado.

Com a entrada em vigor do CPC/2015, tornou-se necessário que a sentença estrangeira esteja eficaz no país
de origem para sua homologação no Brasil.
O art. 963, III, do CPC/2015, não mais exige que a decisão judicial que se pretende homologar tenha
transitado em julgado, mas apenas que ela seja eficaz em seu país de origem, tendo sido tacitamente
revogado o art. 216-D, III, do RISTJ.
STJ. Corte Especial. SEC 14.812-EX, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/05/2018 (Info 626).

Os atos ilícitos praticados por Estados estrangeiros em violação a direitos humanos não gozam de
imunidade de jurisdição
A imunidade de jurisdição de Estado estrangeiro não alcança atos de império ofensivos ao direito
internacional da pessoa humana praticados no território brasileiro, tais como aqueles que resultem na morte
de civis em período de guerra.
Tese fixada pelo STF: “Os atos ilícitos praticados por Estados estrangeiros em violação a direitos humanos
não gozam de imunidade de jurisdição”.
STF. Plenário. ARE 954858/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 20/8/2021 (Repercussão Geral – Tema 944)
(Info 1026).
STJ. 4ª Turma. RO 109-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 07/06/2022 (Info 740).

HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA


Não é possível a homologação de sentença estrangeira se ela se mostra contrária ao conteúdo de decisão
judicial proferida no Brasil
A mera pendência de ação judicial no Brasil não impede a homologação da sentença estrangeira, mas a
existência de decisão judicial proferida no Brasil contrária ao conteúdo da sentença estrangeira impede a sua
homologação.
STJ. Corte Especial. AgInt na SEC 6362-EX, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 01/06/2022 (Info 739).

Em sede de homologação de decisão estrangeira, aplica-se a norma do § 8º do art. 85 do CPC, fixando-se


os honorários advocatícios por equidade
Não se aplica o § 2º do art. 85 do CPC, mas sim o § 8º (apreciação equitativa) porque o procedimento de
homologação de sentença estrangeira não tem natureza condenatória ou proveito econômico imediato.
O mérito da decisão homologada não é objeto de deliberação no STJ. Logo, não faz sentido que o Tribunal
utilize o proveito econômico ou o valor da causa como parâmetros para o cálculo dos honorários advocatícios
com base nos percentuais do § 2º do art. 85.
Vale ressaltar, no entanto, que, se o pedido de homologação de decisão estrangeira tiver por objeto demanda
de cunho patrimonial, o valor da causa julgada no exterior deverá ser usado como um dos critérios para
embasar a fixação dos honorários de sucumbência por equidade, conforme o § 8º do art. 85 do CPC.
182

Assim, no momento de fazer a apreciação equitativa, o STJ deverá levar em consideração também o valor da
causa como um dos critérios para definir a quantia a ser paga a título de honorários advocatícios
sucumbenciais, quando a causa originária, tratar de relações patrimoniais.
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STJ. Corte Especial. HDE 1809/EX, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 22/04/2021 (Info 693).

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É proibida a expulsão caso o estrangeiro tenha filho brasileiro e ele esteja sob a sua guarda ou dependência
socioafetiva, o que pode ser comprovado por uma declaração da mãe da criança
É inviável a expulsão de estrangeiro visitante ou migrante do território nacional quando comprovado tratar-
se de pai de criança brasileira que se encontre sob sua dependência socioafetiva.
Vale ressaltar que, no caso concreto, a única prova trazida aos autos foi uma declaração fornecida pela
genitora da criança, na qual ela afirma que o paciente, em vias de ser expulso do Brasil, sempre assistiu,
afetiva e materialmente, o infante.
STJ. 1ª Seção. HC 666247-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 10/11/2021 (Info 719).

É proibida a expulsão caso o estrangeiro tenha filho brasileiro e ele esteja sob a sua guarda ou dependência
econômica ou socioafetiva, mesmo que isso tenha ocorrido após o fato ensejador do ato expulsório
É inadmissível a expulsão de estrangeiro que possua filho brasileiro, dependente socioafetivo ou econômico,
mesmo que o crime ensejador da expulsão tenha ocorrido em momento anterior ao reconhecimento ou
adoção do filho.
O Estado deve garantir a proteção especial à família e a proteção integral às crianças e aos adolescentes,
sendo o convívio familiar uma das mais expressivas projeções dos direitos sociais.
Além disso, a dependência econômica não é o único fator a impedir a expulsão de estrangeiros com filhos
brasileiros. A dependência socioafetiva também constitui fato juridicamente relevante apto a obstar o
processo expulsório.
Nesse sentido, o art. 55, II, “a”, da Lei nº 13.445/2017 expressamente prevê que “Não se procederá à
expulsão quando o expulsando tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou
socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela”.
Evidencia-se, portanto, que o próprio legislador infraconstitucional erigiu a socioafetividade à condição de
causa impeditiva da expulsão.
STF. Plenário. RHC 123891 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 23/2/2021 (Info 1007).

Se a vítima do sequestro não foi encontrada, o prazo prescricional não começou a correr
O crime de sequestro, por ser permanente, não prescreve enquanto não for encontrada a pessoa ou o corpo.
Assim, se o Estado requerer a extradição de determinado indivíduo pelo crime de sequestro, se a vítima ou
o corpo nunca foi encontrado, não terá começado a correr o prazo prescricional.
STF. 1ª Turma.Ext 1270/DF, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em
12/12/2017 (Info 888).

DIREITO PENAL E
PROCESSUAL PENAL
Acórdão que confirma ou reduz a pena interrompe a prescrição
Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão condenatório sempre interrompe a
prescrição, inclusive quando confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou
aumentando a pena anteriormente imposta.
A prescrição é, como se sabe, o perecimento da pretensão punitiva ou da pretensão executória pela inércia
do próprio Estado.
No art. 117 do Código Penal, que deve ser interpretado de forma sistemática, todas as causas interruptivas
da prescrição demonstram, em cada inciso, que o Estado não está inerte.
Não obstante a posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre acórdão condenatório
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inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão. Não há, sistematicamente, justificativa para
tratamentos díspares.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1.668.298-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
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STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020.

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É constitucional o art. 83 da Lei nº 9.430/96
A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes de apropriação indébita previdenciária e de
sonegação de contribuição previdenciária será encaminhada ao ministério público depois de proferida a
decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente.
STF. Plenário. ADI 4980/DF, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 10/3/2022 (Info 1047).

O fiel depositário de penhora judicial sobre o faturamento está sujeito às penas previstas no art. 168, § 1º,
II, do CP (apropriação indébita)
O fiel depositário de penhora judicial sobre o faturamento está sujeito às penas previstas no art. 168, § 1º,
II, do Código Penal.
STJ. 6ª Turma. AgRg no Resp 1.871.947/PR, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 26/04/2022.

O crime tipificado no art. 2º da Lei 8.176/91 é permanente ou instantâneo?


É hipótese de crime permanente, a conduta tipificada no art. 2º da Lei nº 8.176/91, na modalidade de
usurpação por exploração de matérias-primas pertencentes à União, enquanto verificada a prática de
múltiplas condutas visando a extração do bem mineral, sem evidência de que o agente ativo
intencionalmente cessou a atividade extrativa.
STJ. 6ª Turma. Resp 1.998.631-BA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 07/06/2022 (Info 740).

Estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP)


O estelionato previdenciário é crime “permanente” ou “instantâneo de efeitos permanentes”?
• Quando praticado pelo próprio beneficiário: é PERMANENTE.
• Quando praticado por terceiro diferente do beneficiário: é INSTANTÂNEO de efeitos permanentes.
STF. 1ª Turma. HC 102049, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 22/11/2011.
STJ. 6ª Turma. HC 190.071/RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 02/05/2013.

Estelionato previdenciário e devolução da vantagem antes do recebimento da denúncia


O art. 9º da Lei 10.684/2003 prevê que o pagamento integral do débito fiscal realizado pelo réu é causa de
extinção de sua punibilidade.
Imagine que determinado indivíduo tenha praticado estelionato contra o INSS, conhecido como estelionato
previdenciário (art. 171, § 3º do CP). Antes do recebimento da denúncia, o agente paga integralmente o
prejuízo sofrido pela autarquia. Isso poderá extinguir sua punibilidade, com base no art. 9º da Lei
10.684/2003?
NÃO. Não extingue a punibilidade do crime de estelionato previdenciário (art. 171, § 3º, do CP) a devolução
à Previdência Social, antes do recebimento da denúncia, da vantagem percebida ilicitamente.
O art. 9º da Lei 10.684/2003 menciona os crimes aos quais são aplicadas suas regras: a) arts. 1º e 2º da Lei
nº 8.137/90; b) art. 168-A do CP (apropriação indébita previdenciária); c) Art. 337-A do CP (sonegação de
contribuição previdenciária). Repare, portanto, que o estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP) não
está listado nessa lei.
Mesmo sem o estelionato previdenciário estar previsto, não é possível aplicar essas regras por analogia em
favor do réu?
NÃO. O art. 9º da Lei 10.684/2003 somente abrange crimes tributários materiais, delitos que são
ontologicamente distintos do estelionato previdenciário e que protegem bens jurídicos diferentes. Dessa
forma, não há lacuna involuntária na lei penal a demandar analogia.
O fato de o agente ter pago integralmente o prejuízo trará algum benefício penal?
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SIM. O agente poderá ter direito de receber o benefício do arrependimento posterior, tendo sua pena
reduzida de 1/3 a 2/3 (art. 16 do CP).
STJ. 6ª Turma. Resp 1.380.672-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. em 24/3/2015 (Info 559).
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Estelionato comum e devolução da vantagem indevida antes do recebimento da denúncia


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A causa especial de extinção de punibilidade prevista no § 2º do art. 9º da Lei nº 10.684/2003, relativamente
ao pagamento integral do crédito tributário, não se aplica ao delito de estelionato (CP, art. 171).
O art. 9º da Lei 10.684/2003 menciona os crimes aos quais são aplicadas suas regras: a) arts. 1º e 2º da Lei
nº 8.137/90; b) art. 168-A do CP (apropriação indébita previdenciária); c) Art. 337-A do CP (sonegação de
contribuição previdenciária). Repare, portanto, que o estelionato (art. 171 do CP) não está listado nessa lei.
STF. 2ª Turma. RHC 126917/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 25/8/2015 (Info 796).

Art. 293 do CP e desnecessidade de constituição definitiva do crédito tributário


É dispensável a constituição definitiva do crédito tributário para que esteja consumado o crime previsto no
art. 293, § 1º, III, “b”, do CP. Isso porque o referido delito possui natureza FORMAL, de modo que já estará
consumado quando o agente importar, exportar, adquirir, vender, expuser à venda, mantiver em depósito,
guardar, trocar, ceder, emprestar, fornecer, portar ou, de qualquer forma, utilizar em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria sem selo oficial.
Por ser um crime formal, não incide na hipótese, a Súmula Vinculante 24 do STF, que tem a seguinte redação:
“Não se tipifica crime MATERIAL contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº
8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.”
STJ. 6ª Turma. Resp 1.332.401-ES, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 19/8/2014 (Info 546).

Art. 297, § 4º do CP e necessidade de ser demonstrado o dolo de falso


A simples omissão de anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) não configura, por si só,
o crime de falsificação de documento público (art. 297, § 4º, do CP). Isso porque é imprescindível que a
conduta do agente preencha não apenas a tipicidade formal, mas antes e principalmente a tipicidade
material, ou seja, deve ser demonstrado o dolo de falso e a efetiva possibilidade de vulneração da fé pública.
STJ. 5ª Turma. Resp 1.252.635-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 24/4/2014 (Info 539).

Configura o crime de peculato-desvio o fomento econômico de candidatura à reeleição por Governador de


Estado com o patrimônio de empresas estatais
Governador do Estado que desvia grande soma de recursos públicos de empresas estatais, utilizando esse
dinheiro para custear sua campanha de reeleição, pratica o crime de peculato-desvio.
As empresas estatais gozam de autonomia administrativa e financeira. Mesmo assim, pode-se dizer que o
Governador tem a posse do dinheiro neste caso?
É possível. Isso porque a posse necessária para configuração do crime de peculato deve ser compreendida
não só como a disponibilidade direta, mas também como disponibilidade jurídica, exercida por meio de
ordens.
STJ. 5ª Turma. Resp 1.776.680-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 11/02/2020 (Info 666).

A garantia do crédito tributário na execução fiscal não possui natureza de pagamento voluntário e,
portanto, não configura hipótese de extinção da punibilidade ou de suspensão do processo por crime
tributário
O fato de a dívida ativa estar garantida por contrato de seguro no bojo de execução fiscal movida contra o
contribuinte não descaracteriza a materialidade dos crimes fiscais ou a lesividade da conduta.
A constituição definitiva do crédito tributário, pressuposto material do crime fiscal, não é afastada pela mera
garantia do débito em execução.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 173258/PB, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 14/2/2023 (Info
764).
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Servidor público que se apropria dos salários que lhe foram pagos e não presta os serviços, não comete
peculato
Caso hipotético: João, vereador, contratou seu primo Paulo para exercer o cargo público de assessor na
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Câmara Municipal. Ocorre que ele não trabalhava efetivamente. Apenas comparecia ao trabalho para assinar

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o ponto, sem que exercesse suas atribuições do cargo. Apesar disso, Paulo recebia remuneração todos os
meses.
João e Paulo não praticaram nenhum crime.
Não é típico o ato do servidor que se apropria de valores que já lhe pertenceriam, em razão do cargo por ele
ocupado.
Assim, a conduta do servidor poderia ter repercussões disciplinares ou mesmo no âmbito da improbidade
administrativa, mas não se ajusta ao delito de peculato, porque seus vencimentos efetivamente lhe
pertenciam.
Se o servidor merecia perceber a remuneração, à luz da ausência da contraprestação respectiva, é questão a
ser discutida na esfera administrativo-sancionadora, mas não na instância penal, por falta de tipicidade.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2.073.825-RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 16/08/2022 (Info 746).

Desacato continua sendo crime


Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela continua a ser crime.
O crime de desacato é compatível com a Constituição Federal e com o Pacto de São José da Costa Rica.
A figura penal do desacato não tolhe o direito à liberdade de expressão, não retirando da cidadania o direito
à livre manifestação, desde que exercida nos limites de marcos civilizatórios bem definidos, punindo-se os
excessos.
STF. 2ª Turma. HC 141949/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 13/3/2018 (Info 894).
STJ. 3ª Seção. HC 379.269/MS, Rel. para acórdão Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 24/05/2017.

O pagamento integral do imposto sonegado extingue apenas a punibilidade da sonegação fiscal, mas não
influencia no delito de corrupção ativa que foi praticado em conjunto pelo agente
O pagamento da diferença do imposto devido, antes do recebimento da denúncia, não extingue a
punibilidade pelo crime de corrupção ativa atrelado ao de sonegação fiscal.
Ex: João, sócio de uma empresa, ofereceu e pagou propina ao fiscal para que pudesse recolher um valor
menor de imposto. Assim, em vez de pagar R$ 400 mil de imposto, João pagou apenas R$ 100 mil. Os fatos
foram descobertos. João praticou, em tese, corrupção ativa (art. 333 do CP) e sonegação fiscal (art. 1º, I, da
Lei nº 8.137/90). Antes que a denúncia fosse oferecida, João pagou a diferença do imposto devido acrescido
de multa, juros e correção monetária. Esse pagamento irá gerar a extinção do crime de sonegação fiscal, mas
não da corrução ativa que deverá ser julgada normalmente.
STJ. 6ª Turma. RHC 95.557-GO, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/06/2018 (Info 631).

Advogado que atua como advogado dativo, por força de convênio com o Poder Público, é funcionário
público para fins penais
O advogado que, por força de convênio celebrado com o Poder Público, atua de forma remunerada em
defesa dos hipossuficientes agraciados com o benefício da assistência judiciária gratuita, enquadra-se no
conceito de funcionário público para fins penais. Sendo equiparado a funcionário público, é possível que
responda por corrupção passiva (art. 317 do CP).
STJ. 5ª Turma. HC 264.459-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 10/3/2016 (Info 579).

Diretor de organização social é considerado funcionário público por equiparação para fins penais
O diretor de organização social pode ser considerado funcionário público por equiparação para fins penais
(art. 327, § 1º do CP). Isso porque as organizações sociais que celebram contratos de gestão com o Poder
Público devem ser consideradas “entidades paraestatais”, nos termos do art. 327, § 1º do CP.
STF. 1ª Turma. HC 138484/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/9/2018 (Info 915).
186

O simples fato de o réu exercer mandato eletivo não é suficiente para a causa de aumento do art. 327, §
2º, do CP
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O simples fato de o réu exercer um mandato popular não é suficiente para fazer incidir a causa de aumento
do art. 327, § 2º, do CP. É necessário que ele ocupe uma posição de superior hierárquico (o STF chamou de
"imposição hierárquica").
STF. Plenário. Inq 3983/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 02 e 03/03/2016 (Info 816).

Pratica corrupção passiva o Deputado que concede apoio político à permanência de Diretor da Petrobrás
em troca do recebimento de propina
Determinado Deputado Federal integrava a cúpula de um partido de sustentação do governo federal.
Como importante figura partidária, ele exercia pressão política junto à Presidência da República a fim de que
Paulo Roberto Costa fosse mantido como Diretor de Abastecimento da Petrobrás.
Como “contraprestação” por esse apoio, o Deputado recebia dinheiro do referido Diretor, quantia essa
oriunda de contratos ilegais celebrados pela Petrobrás.
O STF entendeu que esta conduta se enquadra no crime de corrupção passiva (art. 317 do CP).
Obs: foi a primeira condenação do STF envolvendo a chamada “operação Lava Jato”.
STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018 (Info 904).

A majorante prevista no art. 334, § 3º, do CP deve ser aplicada mesmo que o transporte seja feito em um
voo regular
Incide a causa especial de aumento de pena prevista no § 3º do art. 334 do Código Penal quando se tratar de
descaminho praticado em transporte aéreo, não sendo relevante o fato de o voo ser regular ou clandestino.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2197959-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/2/2023
(Info 765).

Servidor público que se apropria dos salários que lhe foram pagos e não presta os serviços, não comete
peculato
Caso hipotético: João, vereador, contratou seu primo Paulo para exercer o cargo público de assessor na
Câmara Municipal.Ocorre que ele não trabalhava efetivamente. Apenas comparecia ao trabalho para assinar
o ponto, sem que exercesse suas atribuições do cargo.Apesar disso, Paulo recebia remuneração todos os
meses.
João e Paulo não praticaram nenhum crime.
Não é típico o ato do servidor que se apropria de valores que já lhe pertenceriam, em razão do cargo por ele
ocupado.
Assim, a conduta do servidor poderia ter repercussões disciplinares ou mesmo no âmbito da improbidade
administrativa, mas não se ajusta ao delito de peculato, porque seus vencimentos efetivamente lhe
pertenciam.
Se o servidor merecia perceber a remuneração, à luz da ausência da contraprestação respectiva, é questão a
ser discutida na esfera administrativo-sancionadora, mas não na instância penal, por falta de tipicidade.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2073825-RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 16/08/2022 (Info 746).

São atípicas as condutas de submeter-se à vacinação contra Covid-19 em local diverso do agendado e/ou
com aplicação de imunizante diverso do reservado e/ou de submeter-se à vacinação sem a realização de
agendamento (Caso Wesley Safadão)
São atípicas, por falta de previsão legal:
• a conduta de submeter-se à vacinação contra Covid-19 em local diverso do agendado;
• a conduta de ser vacinado com imunizante diverso daquele que estava reservado (ex: tomou Janssen e era
para ter sido a AstraZeneca); e
187

• a conduta de submeter-se à vacinação contra Covid-19 sem a realização de agendamento.


STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 160947-CE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 27/09/2022 (Info 752).
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Comete o delito de desobediência o condutor do veículo que não cumpre a ordem de parada dada pela
autoridade em contexto de policiamento ostensivo para prevenção e repressão de crimes
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A desobediência à ordem legal de parada, emanada por agentes públicos em contexto de policiamento
ostensivo, para a prevenção e repressão de crimes, constitui conduta penalmente típica, prevista no art. 330
do Código Penal Brasileiro.
STJ. 3ª Seção. REsp 1859933-SC, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 09/03/2022 (Recurso
Repetitivo – Tema 1060) (Info 732).

Análise das circunstâncias judiciais no crime de gestão temerária


Conclusões do STJ sobre o que pode ou não ser utilizado para majorar a pena do crime de gestão temerária
na 1ª fase da dosimetria:
1) Somente pode ser sujeito ativo do crime de gestão temerária de instituição financeira alguma das pessoas
mencionadas no art. 25 da Lei nº 7.492/86. Por essa razão, não se pode aumentar a pena-base do delito
argumentando que a culpabilidade do réu é elevada em virtude de ele ocupar umas das funções ali
mencionadas. Essa condição é ínsita (própria) ao tipo penal praticado.
2) Na condenação pela gestão temerária, é vedado agravar a pena do réu alegando que ele agiu com
ganância, que violou as regras regentes da atividade financeira ou que sua conduta abalou a credibilidade do
sistema financeiro, pois essas circunstâncias são, todas elas, intrínsecas a esse tipo penal.
3) Para a consumação do delito de gestão temerária não se exige que tenha havido prejuízo à instituição
financeira. No entanto, esta circunstância pode ser utilizada na 1ª fase da dosimetria para aumentar a pena-
base, considerando que se trata de consequência negativa do crime.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.613.260-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 9/8/2016 (Info 588).

A aplicação financeira realizada por meio da aquisição de cotas de fundo de investimento no exterior sem
que isso seja declarado ao BACEN configura o crime do art. 22, parágrafo único, parte final, da Lei nº
7.492/86
A aplicação financeira não declarada à repartição federal competente no exterior se subsume ao tipo penal
previsto na parte final do parágrafo único do art. 22 da Lei nº 7.492/86.
Art. 22. (...) Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer título, promove, sem autorização
legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver depósitos não declarados à repartição
federal competente.
Ex: indivíduo residente no Brasil subscreveu cotas de fundo de investimento sediado nas Ilhas Cayman e não
informou a existência de tais valores na declaração de capitais brasileiros no exterior, que deveria ter sido
entregue ao Bacen.
STJ. 5ª Turma. AREsp 774.523-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 07/05/2019 (Info 648).

Simples fato de ter recebido a propina em espécie não configura lavagem de dinheiro
O mero recebimento de valores em dinheiro não tipifica o delito de lavagem, seja quando recebido pelo
próprio agente público, seja quando recebido por interposta pessoa.
STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018 (Info 904).

Recebimento de propina em depósitos bancários fracionados pode configurar lavagem


Pratica lavagem de dinheiro o sujeito que recebe propina por meio de depósitos bancários fracionados, em
valores que não atingem os limites estabelecidos pelas autoridades monetárias à comunicação compulsória
dessas operações.
Ex: suponhamos que, na época, a autoridade bancária dizia que todo depósito acima de R$ 20 mil deveria
ser comunicado ao COAF; diante disso, um Deputado recebia depósitos periódicos de R$ 19 mil para burlar
essa regra. Para o STF, isso configura o crime de lavagem. Trata-se de uma forma de ocultação da origem e
188

da localização da vantagem pecuniária recebida pela prática do crime antecedente.


STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018 (Info 904).
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Tipicidade da omissão na apresentação de declaração ao Fisco

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Se o contribuinte deixa de apresentar declaração ao Fisco com o fim de obter a redução ou supressão de
tributo e consegue atingir o resultado almejado, tal conduta consubstancia crime de sonegação fiscal, na
modalidade do inciso I do art. 1º da Lei nº 8.137/90.
A constituição do crédito tributário, por vezes, depende de uma obrigação acessória do contribuinte, como
a declaração do fato gerador da obrigação tributária (lançamento por declaração). Se o contribuinte não
realiza tal ato com vistas a não pagar o tributo devido ou a reduzir o seu valor, comete o mesmo crime
daquele que presta informação incompleta.
A circunstância de o Fisco dispor de outros meios para constituir o crédito tributário, ante a omissão do
contribuinte em declarar o fato gerador, não afasta a tipicidade da conduta; o arbitramento efetivado é uma
medida adotada pelo Fisco para reparar a evasão decorrente da omissão e uma evidência de que a conduta
omissiva foi apta a gerar a supressão ou, ao menos, a redução do tributo na apuração.
Assim, segundo entendeu o STJ, a omissão na entrega da antiga Declaração de Informações Econômico-
Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ) consubstanciava conduta apta a firmar a tipicidade do crime de sonegação
fiscal previsto no art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90, ainda que o Fisco dispusesse de outros meios para a
constituição do crédito tributário. Obs: a DIPJ foi substituída pela Escrituração Contábil Fiscal (ECF).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.561.442-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/2/2016 (Info 579).

Para a incidência do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 em caso de sonegação fiscal de tributos federais, é
necessário que o valor da dívida seja igual ou superior a R$ 1 milhão; se a sonegação fiscal for de tributos
estaduais ou municipais, deve-se analisar o que define a Fazenda local
O art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 prevê que a pena do crime de sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90)
deverá ser aumentada no caso de o delito “ocasionar grave dano à coletividade”.
A jurisprudência entende que se configura a referida causa de aumento quando o agente deixa de recolher
aos cofres públicos uma vultosa quantia. Em outras palavras, se o valor sonegado foi alto, incide a causa de
aumento do art. 12, I.
Nesse cálculo deve-se incluir também os juros e multa:
Para os fins da majorante do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 (grave dano à coletividade), o dano tributário deve
ser valorado considerando seu valor atual e integral, incluindo os acréscimos legais de juros e multa.
A Portaria nº 320, editada pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, prevê que os contribuintes que estão
devendo acima de R$ 1 milhão são considerados “grandes devedores” e devem receber tratamento
prioritário na atuação dos Procuradores.
O STJ utiliza, então, essa Portaria como parâmetro para analisar a incidência ou não da causa de aumento do
art. 12, I:
A majorante do grave dano à coletividade, trazida pelo art. 12, I, da Lei nº 8.137/90, deve se restringir a
situações especiais de relevante dano. Desse modo, é possível, para os tributos federais, utilizar,
analogamente, o critério previsto no art. 14 da Portaria 320/PGFN, por meio do qual se definiu
administrativamente os créditos prioritários como sendo aqueles de valor igual ou superior a R$ 1.000.000,00
(um milhão de reais).
E se a sonegação fiscal envolver tributos estaduais ou municipais, como deverá ser o parâmetro nesses casos?
Em se tratando de tributos estaduais ou municipais, o critério deve ser, por equivalência, aquele definido
como prioritário ou de destacados créditos (grandes devedores) para a fazenda local.
Dito de outro modo, em caso de tributos estaduais ou municipais, não se de deve utilizar a Portaria
320/PGFN, mas sim os eventuais atos normativos estaduais e municipais que definam o que sejam “grandes
devedores” para o Fisco local.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.849.120-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/03/2020 (Info 668).

Crime do art. 54 e desnecessidade de perícia


189

O delito previsto na primeira parte do artigo 54 da Lei nº 9.605/1998 possui natureza formal, sendo suficiente
a potencialidade de dano à saúde humana para configuração da conduta delitiva, não se exigindo, portanto,
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a realização de perícia.

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Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à
saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora. Pena —
reclusão, de um a quatro anos, e multa.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1417279/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 11/04/2018 (Info 624).

Construir uma casa em uma unidade de conservação: crime do art. 64 da Lei 9.605/98 (os delitos dos arts.
40 e 48 ficam absorvidos)
Absorção do delito do art. 40 pelo crime do art. 64 da Lei nº 9.605/98
O delito de causar dano em unidade de conservação (art. 40 da Lei nº 9.605/98) pode ser absorvido pelo
delito de construir em solo que, por seu valor ecológico, não é edificável (art. 64 da Lei nº 9.605/98).
Para analisar a possibilidade de absorção do crime do art. 40 da Lei nº 9.605/98 pelo do art. 64, não é
relevante a diversidade de bens jurídicos protegidos por cada tipo incriminador; tampouco impede a
consunção o fato de que o crime absorvido tenha pena maior do que a do crime continente, como se vê na
própria Súmula 17/STJ.

Absorção do delito do art. 48 pelo crime do art. 64 da Lei nº 9.605/98


A conduta do art. 48 da Lei nº 9.605/98 é mero pós-fato impunível do ato de construir em local não edificável.
Afinal, com a própria existência da construção desejada e executada pelo agente - e à qual, portanto, se
dirigia seu dolo -, é inevitável que fique impedida a regeneração da flora antes existente no mesmo lugar.
Por isso, o princípio da consunção obsta a punição autônoma dos dois delitos.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.925.717-SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/05/2021 (Info 698).

O princípio da intranscendência da pena também se aplica para pessoas jurídicas; assim, se uma empresa
que está respondendo processo por crime ambiental for incorporada, sem nenhum indício de fraude,
haverá extinção da punibilidade
O princípio da intranscendência da pena, previsto no art. 5º, XLV, da CF/88, tem aplicação às pessoas
jurídicas. Afinal, se o direito penal brasileiro optou por permitir a responsabilização criminal dos entes
coletivos, mesmo com suas peculiaridades decorrentes da ausência de um corpo biológico, não pode negar-
lhes a aplicação de garantias fundamentais utilizando-se dessas mesmas peculiaridades como argumento.
Se a pessoa jurídica que estava respondendo processo penal por crime ambiental for incorporadora, ela se
considera legalmente extinta (art. 219, II, da Lei nº 6.404/76). Logo, neste caso, se não houver nenhum indício
de fraude, deve-se aplicar analogicamente o art. 107, I, do CP (morte do agente), com a consequente extinção
de sua punibilidade.
Obs: este julgamento tratou de situação em que a ação penal foi extinta pouco após o recebimento da
denúncia, muito antes da prolação da sentença. Ocorrendo fraude na incorporação (ou, mesmo sem fraude,
a realização da incorporação como forma de escapar ao cumprimento de uma pena aplicada em sentença
definitiva), haverá evidente distinção em face do precedente ora firmado, com a aplicação de consequência
jurídica diversa. É possível pensar, em tais casos, na desconsideração ou ineficácia da incorporação em face
do Poder Público, a fim de garantir o cumprimento da pena.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.977.172-PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/08/2022 (Info 746).

Se as informações requisitadas pelo MP forem dispensáveis à propositura da ACP, não haverá o delito
A Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) prevê como crime a seguinte conduta:
Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a
1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional — ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão
de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.
190

O crime consiste na conduta da pessoa que recebeu uma requisição do MP que exigia determinado
documento e/ou informação e o destinatário, em vez de cumpri-la, recusa, retarda ou se omite.
O STJ entende que se as informações requisitadas pelo MP não forem INDISPENSÁVEIS à propositura da ACP, não
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haverá crime. Ex: o MP instaurou IC e requisitou determinadas informações do Secretário de Saúde. Este prestou
as informações fora do prazo assinalado, de forma que houve retardamento. Em tese, o agente público teria

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praticado o crime do art. 10. Ocorre que, após receber as informações, o MP decidiu arquivar o IC por entender
que não houve qualquer violação a direitos transindividuais. Por via de consequência, não existiu o crime do art.
10, já que as informações retardadas não eram indispensáveis à propositura de ACP.
STJ. 5ª Turma. HC 303.856-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 7/4/2015 (Info 560).

Crime de embaraçar investigação previsto na Lei do Crime Organizado não é restrito à fase do inquérito
A Lei das organizações criminosas (Lei nº 12.850/2013) prevê o seguinte crime:
Art. 2º (...) § 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de
infração penal que envolva organização criminosa.
Quando o art. 2º, § 1º fala em “investigação” ele está se limitando à fase pré-processual ou abrange também
a ação penal? Se o agente embaraça o processo penal, ele também comete este delito?
SIM. A tese de que a investigação criminal descrita no art. 2º, § 1º, da Lei nº 12.850/2013 limita-se à fase do
inquérito não foi aceita pelo STJ. Isso porque as investigações se prolongam durante toda a persecução
criminal, que abarca tanto o inquérito policial quanto a ação penal deflagrada pelo recebimento da denúncia.
Assim, como o legislador não inseriu uma expressão estrita como “inquérito policial”, compreende-se ter
conferido à investigação de infração penal o sentido de “persecução penal”, até porque carece de
razoabilidade punir mais severamente a obstrução das investigações do inquérito do que a obstrução da ação
penal.
Ademais, sabe-se que muitas diligências realizadas no âmbito policial possuem o contraditório diferido, de
tal sorte que não é possível tratar inquérito e ação penal como dois momentos absolutamente
independentes da persecução penal.
O tipo penal previsto pelo art. 2º, §1º, da Lei nº 12.850/2013 define conduta delituosa que abrange o
inquérito policial e a ação penal.
STJ. 5ª Turma. HC 487.962-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 28/05/2019 (Info 650).

O delito do art. 2º, § 1º, da Lei 12.850/2013 é crime material, inclusive na modalidade embaraçar
A Lei nº 12.850/2013 (Lei de Organização Criminosa), prevê o seguinte delito no § 1º do art. 2º:
Art. 2º (...) Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às
demais infrações penais praticadas.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração
penal que envolva organização criminosa.
O crime do art. 2º, § 1º é formal ou material?
Material. O tipo penal possui dois núcleos (verbos): impedir e embaraçar.
No que tange ao núcleo “impedir”, nunca houve dúvida de que se trata de crime material.
A dúvida estava no verbo “embaraçar”. Alguns doutrinadores afirmavam que, neste ponto, o delito seria
formal. Não foi esta, contudo, a conclusão do STJ.
Tanto no núcleo impedir como embaraçar, o crime do art. 2º, § 1º da Lei nº 12.850/2013 é material.
A adoção da corrente que classifica o delito como crime material se explica porque o verbo embaraçar atrai
um resultado, ou seja, uma alteração do seu objeto. Na hipótese normativa, o objeto é a investigação, que
pode se dar na fase de inquérito ou na instrução da ação penal. Em outras palavras, haverá embaraço à
investigação se o agente conseguir produzir algum resultado, ainda que seja momentâneo e reversível.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.817.416-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 03/08/2021 (Info 703).

É necessária a edição de lei em sentido formal para a tipificação do crime contra a humanidade trazida
pelo Estatuto de Roma, mesmo se cuidando de Tratado internalizado
A definição dos crimes de lesa-humanidade, também chamados de crimes contra a humanidade, pode ser
191

encontrada no Estatuto de Roma, promulgado no Brasil por força do Decreto nº 4.388/2002.


No Brasil, no entanto, ainda não há lei que tipifique os crimes contra a humanidade. Diante da ausência de
lei interna tipificando os crimes contra a humanidade, não é possível utilizar tipo penal descrito em tratado
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internacional para tipificar condutas internamente, sob pena de se violar o princípio da legalidade (art. 5º,
XXXIX, da CF/88).

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Dessa maneira, não se mostra possível internalizar a tipificação do crime contra a humanidade trazida pelo
Estatuto de Roma, mesmo se cuidando de Tratado internalizado por meio do Decreto n. 4.388, porquanto
não há lei em sentido formal tipificando referida conduta.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.798.903-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/09/2019 (Info 659).

Para que se configure o crime do art. 5º da Lei nº 13.260/2016 (atos preparatórios de terrorismo) exige-se
que o sujeito tenha agido por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e
religião
A tipificação da conduta descrita no art. 5º da Lei Antiterrorismo (atos preparatórios de terrorismo) exige a
motivação por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, expostas no
art. 2º do mesmo diploma legal.
STJ. 6ª Turma. HC 537.118-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 05/12/2019 (Info 663).

Nos crimes contra honra não basta criticar o indivíduo ou a sua gestão da coisa pública, é necessário o dolo
específico de ofender a honra alheia
Nos crimes contra honra não basta criticar o indivíduo ou a sua gestão da coisa pública, é necessário o dolo
específico de ofender a honra alheia.
STJ. 3ª Seção. HC 653.641-TO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/06/2021.

Na autolavagem não ocorre a consunção entre a corrupção passiva e a lavagem de dinheiro


Embora a tipificação da lavagem de capitais dependa da existência de uma infração penal antecedente, é
possível a autolavagem, isto é, a imputação simultânea, ao mesmo réu, do delito antecedente e do crime de
lavagem, desde que sejam demonstrados atos diversos e autônomos daquele que compõe a realização do
primeiro crime, circunstância em que não ocorrerá o fenômeno da consunção.
A autolavagem (self laundering/autolavado) merece reprimenda estatal, na medida em que o autor da
infração penal antecedente, já com a posse do proveito do crime, poderia simplesmente utilizar-se dos bens
e valores à sua disposição, mas reinicia a prática de uma série de condutas típicas, a imprimir a aparência de
licitude do recurso obtido com a prática da infração penal anterior.
Dessa forma, se for confirmado, a partir do devido processo legal, que o indivíduo deu ares de legalidade ao
dinheiro indevidamente recebido, estará configurado o crime de lavagem de capitais.
STJ. Corte Especial. APn 989-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/02/2022 (Info 726).

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Denúncia anônima
As notícias anônimas ("denúncias anônimas") não autorizam, por si sós, a propositura de ação penal ou
mesmo, na fase de investigação preliminar, o emprego de métodos invasivos de investigação, como
interceptação telefônica ou busca e apreensão. Entretanto, elas podem constituir fonte de informação e de
provas que não podem ser simplesmente descartadas pelos órgãos do Poder Judiciário.
Procedimento a ser adotado pela autoridade policial em caso de “denúncia anônima”:
1) Realizar investigações preliminares para confirmar a credibilidade da “denúncia”;
2) Sendo confirmado que a “denúncia anônima” possui aparência mínima de procedência, instaura-se
inquérito policial;
3) Instaurado o inquérito, a autoridade policial deverá buscar outros meios de prova que não a interceptação
telefônica (esta é a ultima ratio). Se houver indícios concretos contra os investigados, mas a interceptação se
revelar imprescindível para provar o crime, poderá ser requerida a quebra do sigilo telefônico ao magistrado.
STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/3/2016 (Info 819).
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Não é possível decretar medida de busca e apreensão com base unicamente em “denúncia anônima”
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STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/3/2016 (Info 819).

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É ilícita a prova obtida por meio de revista íntima realizada com base unicamente em denúncia anônima
Caso concreto: a diretora da unidade prisional recebeu uma ligação anônima dizendo que Rafaela, que iria
visitar seu marido João, tentaria entrar no presídio com droga. Diante disso, a diretora ordenou que a agente
penitenciária fizesse uma revista minuciosa em Rafaela. Na revista íntima efetuada, a agente penitenciária
encontrou droga escondida na vagina da visitante. Rafaela confessou que estava levando a droga para seu
marido. A prova colhida é ilícita.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.695.349-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. em 08/10/2019 (Info 659).

A mera alegação genérica de “atitude suspeita” é insuficiente para a licitude da busca pessoal
Para a busca pessoal ou veicular sem mandado judicial exige-se, em termos de standard probatório, a
existência de fundada suspeita (justa causa) baseada em um juízo de probabilidade, descrita com a maior
precisão possível, aferida de modo objetivo e devidamente justificada pelos indícios e circunstâncias do caso
concreto – de que o indivíduo esteja na posse de drogas, armas ou de outros objetos ou papéis que
constituam corpo de delito, evidenciando-se a urgência de se executar a diligência.
Entretanto, o art. 244 do CPP não se limita a exigir que a suspeita seja fundada. É preciso, também, que esteja
relacionada à “posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito”.
O art. 244 do CPP não autoriza buscas pessoais praticadas como “rotina” ou “praxe” do policiamento
ostensivo, com finalidade preventiva e motivação exploratória, mas apenas buscas pessoais com finalidade
probatória e motivação correlata.
Desse modo, a busca pessoal não pode ser realizada com base unicamente em:
a) informações de fonte não identificada (e.g. denúncias anônimas); ou
b) intuições e impressões subjetivas, intangíveis, apoiadas, por exemplo, exclusivamente, no tirocínio
(experiência) policial.
Assim, não é possível a busca pessoal unicamente pelo fato de o policial, a partir de uma classificação
subjetiva, ter considerado que a pessoa:
• apresentou uma atitude ou aparência suspeita; ou
• teve uma reação ou expressão corporal tida como “nervosa”.
Essas circunstâncias não preenchem o standard probatório de “fundada suspeita” exigido pelo art. 244 do
CPP.
O fato de haverem sido encontrados objetos ilícitos após a revista não convalida a ilegalidade prévia, pois é
necessário que o elemento “fundada suspeita de posse de corpo de delito” seja aferido com base no que se
tinha antes da diligência. Se não havia fundada suspeita de que a pessoa estava na posse de arma proibida,
droga ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, não há como se admitir que a mera
descoberta casual de situação de flagrância, posterior à revista do indivíduo, justifique a medida.
A violação dessas regras e condições legais para busca pessoal resulta na ilicitude das provas obtidas em
decorrência da medida, bem como das demais provas que dela decorrerem em relação de causalidade, sem
prejuízo de eventual responsabilização penal do(s) agente(s) público(s) que tenha(m) realizado a diligência.
Há três razões principais para que se exijam elementos sólidos, objetivos e concretos para a realização de
busca pessoal – vulgarmente conhecida como “dura”, “geral”, “revista”, “enquadro” ou “baculejo” –, além
da intuição baseada no tirocínio policial:
a) evitar o uso excessivo desse expediente e, por consequência, a restrição desnecessária e abusiva dos
direitos fundamentais à intimidade, à privacidade e à liberdade (art. 5º, caput, e X, da Constituição),
porquanto, além de se tratar de conduta invasiva e constrangedora – mesmo se realizada com urbanidade,
o que infelizmente nem sempre ocorre –, também implica a detenção do indivíduo, ainda que por breves
instantes;
b) garantir a sindicabilidade da abordagem, isto é, permitir que tanto possa ser contrastada e questionada
pelas partes, quanto ter sua validade controlada a posteriori por um terceiro imparcial (Poder Judiciário), o
193

que se inviabiliza quando a medida tem por base apenas aspectos subjetivos, intangíveis e não
demonstráveis;
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c) evitar a repetição – ainda que nem sempre consciente – de práticas que reproduzem preconceitos
estruturais arraigados na sociedade, como é o caso do perfilamento racial, reflexo direto do racismo
estrutural.
STJ. 6ª Turma. RHC 158580-BA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. em 19/04/2022 (Info 735).

É lícita a gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem o conhecimento do outro
As inovações do Pacote Anticrime na Lei n. 9.296/1996 não alteraram o entendimento de que é lícita a prova
consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do outro.
STJ. 6ª Turma. HC 512.290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).

Não comete o crime do art. 10 da Lei 9.296/96 o advogado que grava escondido o depoimento do seu
cliente prestado em procedimento de investigação criminal
Situação adaptada: o Ministério Público instaurou procedimento de investigação criminal e notificou o
investigado para ser interrogado no órgão. O investigado compareceu acompanhado de sua advogada. A
profissional gravou o depoimento com um gravador próprio que estava dentro de sua bolsa. Posteriormente,
o MP soube que houve essa gravação e iniciou investigação contra a advogada pela suposta prática do crime
previsto no art. 10 da Lei nº 9.296/96:
Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática,
promover escuta ambiental ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não
autorizados em lei: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
O STJ não concordou e determinou o trancamento do PIC.
A gravação ambiental em que advogados participam do ato, na presença do inquirido e dos representantes
do Ministério Público, inclusive se manifestando oralmente durante a sua realização, ainda que clandestina
ou inadvertida, realizada por um dos interlocutores, não configura crime, escuta ambiental, muito menos
interceptação telefônica.
STJ. 5ª Turma. HC 662.690-RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 17/05/2022 (Info 737).

Não é lícita a prova obtida por meio de abertura de carta, telegrama ou qualquer encomenda postada nos
Correios, ante a inviolabilidade do sigilo das correspondências
Sem autorização judicial ou fora das hipóteses legais, é ilícita a prova obtida mediante abertura de carta,
telegrama, pacote ou meio análogo.
STF. Plenário. RE 1116949, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 1041) (Info 993).

É possível a antecipação de provas para a oitiva de testemunhas policiais


É possível a antecipação de provas para a oitiva de testemunhas policiais, dado que, pela natureza dessa
atividade profissional, diariamente em contato com fatos delituosos semelhantes, o decurso do tempo traz
efetivo risco de perecimento da prova testemunhal por esquecimento.
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1995527-SE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 19/12/2022 (Info
764).

O simples fato de os policiais terem considerado a atitude do morador suspeita não justifica o ingresso
forçado no domicílio
O fato de policiais, em diligência para intimar testemunha, considerarem suspeita a atitude do irmão desta,
por si só, não justifica a dispensa de investigações prévias ou do mandado judicial para ingresso forçado no
domicílio.
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STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 708400-RS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 12/12/2022 (Info
Especial 10).
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O estabelecimento comercial - em funcionamento e aberto ao público – não pode receber a proteção que
a Constituição Federal confere à casa
A abordagem policial em estabelecimento comercial, ainda que a diligência tenha ocorrido quando não havia
mais clientes, é hipótese de local aberto ao público, que não recebe a proteção constitucional da
inviolabilidade do domicílio.
STJ. 6ª Turma. HC 754.789-RS, Rel. Ministro Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região),
julgado em 6/12/2022 (Info 760).

Ação controlada do art. 8º, § 1º da Lei nº 12.850/2013 exige apenas comunicação prévia (e não autorização
judicial)
A ação controlada prevista no § 1º do art. 8º da Lei nº 12.850/2013 independe de autorização, bastando sua
comunicação prévia à autoridade judicial.
STJ. 6ª Turma. HC 512.290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).

Legalidade da Res. 063/2009-CJF que determinou a tramitação direta do IP entre a PF e o MPF


Não é ilegal a portaria editada por Juiz Federal que, fundada na Res. CJF n. 63/2009, estabelece a tramitação
direta de inquérito policial entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.
STJ. 5ª Turma. RMS 46.165-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 19/11/2015 (Info 574).

O Poder Judiciário não pode impor ao MP a obrigação de ofertar ANPP


O Poder Judiciário não pode impor ao Ministério Público a obrigação de ofertar acordo de não persecução
penal (ANPP). Não cabe ao Poder Judiciário, que não detém atribuição para participar de negociações na
seara investigatória, impor ao MP a celebração de acordos.
Não se tratando de hipótese de manifesta inadmissibilidade do ANPP, a defesa pode requerer o reexame de
sua negativa, nos termos do art. 28-A, § 14, do CPP, não sendo legítimo, em regra, que o Judiciário controle
o ato de recusa, quanto ao mérito, a fim de impedir a remessa ao órgão superior no MP. Isso porque a
redação do art. 28-A, § 14, do CPP determina a iniciativa da defesa para requerer a sua aplicação.
STF. 2ª Turma. HC 194677/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/5/2021 (Info 1017).

Utilização de formulários falsos da Receita Federal para iludir particular


O fato de os agentes, utilizando-se de formulários falsos da Receita Federal, terem se passado por Auditores
desse órgão com intuito de obter vantagem financeira ilícita de particulares não atrai, por si só, a
competência da Justiça Federal. Isso porque, em que pese tratar-se de uso de documento público, observa-
se que a falsidade foi empregada, tão somente, em detrimento de particular.
Assim sendo, se se pudesse cogitar de eventual prejuízo sofrido pela União, ele seria apenas reflexo, na
medida em que o prejuízo direto está nitidamente limitado à esfera individual da vítima, uma vez que as
condutas em análise não trazem prejuízo direto e efetivo a bens, serviços ou interesses da União, de suas
entidades autárquicas ou empresas públicas (art. 109, IV, da CF).
STJ. 3ª Seção. CC 141.593-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. em 26/8/2015 (Info 568).

Crime de redução à condição análoga à de escravo: Justiça Federal


STF. Plenário. RE 459510/MT, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em
26/11/2015 (Info 809).
STJ. 6ª Turma. RHC 25.583/MT, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura, julgado em 09/08/2012.

Calúnia e difamação praticadas em disputa pela posição de cacique: Justiça Federal


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Compete à Justiça Federal (e não à Justiça Estadual) processar e julgar ação penal referente aos crimes de
calúnia e difamação praticados no contexto de disputa pela posição de cacique em comunidade indígena
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(art. 109, XI, da CF/88).


STJ. 3ª Seção. CC 123.016-TO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/6/2013 (Info 527).

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Compete à Justiça Federal julgar falas de cunho homofóbico divulgadas em perfis abertos do Facebook e
do Youtube
Compete à Justiça Federal processar e julgar o conteúdo de falas de suposto cunho homofóbico divulgadas
na internet, em perfis abertos da rede social Facebook e na plataforma de compartilhamento de vídeos
Youtube, ambos de abrangência internacional.
STJ. 3ª Seção. CC 191970-RS, Rel. Ministra Laurita Vaz, julgado em 14/12/2022 (Info 761).

Crimes ambientais envolvendo animais silvestres, em extinção, exóticos ou protegidos por compromissos
internacionais
Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime ambiental de caráter transnacional que envolva animais
silvestres, ameaçados de extinção e espécimes exóticas ou protegidas por compromissos internacionais
assumidos pelo Brasil.
STF. Plenário. RE 835558/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 9/2/2017 (repercussão geral) (Info 853)

Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime de esbulho possessório de imóvel vinculado ao
Programa Minha Casa Minha Vida
O art. 161, § 1º, inciso II, do Código Penal, incrimina a conduta de invadir terreno ou edifício alheio, para o
fim de esbulho possessório, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas
pessoas.
A vítima do crime de esbulho possessório, tipificado no art. 161, § 1º, II, do Código Penal é o possuidor direto,
pois é quem exercia o direito de uso e fruição do bem. Na hipótese de imóvel alienado fiduciariamente, é o
devedor fiduciário que ostenta essa condição, pois o credor fiduciário possui tão-somente a posse indireta.
A Caixa Econômica Federal, enquanto credora fiduciária e, portanto, possuidora indireta, não é a vítima do
referido delito. Contudo, no âmbito cível, a empresa pública federal possui legitimidade concorrente para
propor eventual ação de reintegração de posse, diante do esbulho ocorrido. A sua legitimação ativa para a
ação possessória demonstra a existência de interesse jurídico na apuração do crime, o que é suficiente para
fixar a competência penal federal, nos termos do art. 109, IV, da CF/88.
Os imóveis que integram o Programa Minha Casa Minha Vida são adquiridos, em parte, com recursos
orçamentários federais. Tal fato evidencia o interesse jurídico da União na apuração do crime de esbulho
possessório em relação a esse bem, ao menos enquanto for ele vinculado ao mencionado Programa, ou seja,
quando ainda em vigência o contrato por meio do qual houve a compra do bem e no qual houve o subsídio
federal, o que é a situação dos autos.
STJ. 3ª Seção. CC 179.467-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 09/06/2021 (Info 700).

A competência será da Justiça Federal (art. 109, XI, da CF/88) em caso de crime praticado contra os direitos
indígenas coletivamente considerados (art. 231 da CF/88) mesmo que o delito tenha ocorrido em território
indígena ainda não demarcado
O que importa para configurar a violação dos direitos indígenas e, por conseguinte, atrair a competência da
Justiça Federal para o processamento do feito, é o impacto negativo da atuação dos acusados nas tradições,
modo de viver e terras que os indígenas habitam e utilizam, sendo despiciendo discutir se ocorreu ou não a
efetiva demarcação da terra como território indígena.
STJ. 3ª Seção. AgRg no CC 175037/AM, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT),
julgado em 26/10/2022 (Info Especial 10).

Em caso de conexão entre crime de competência da Justiça comum (federal ou estadual) e crime eleitoral,
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os delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça Eleitoral


Compete à Justiça Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos.
Cabe à Justiça Eleitoral analisar, caso a caso, a existência de conexão de delitos comuns aos delitos eleitorais
Página

e, em não havendo, remeter os casos à Justiça competente.


STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019 (Info 933).

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A Justiça Eleitoral é competente para processar e julgar crime comum conexo com crime eleitoral, ainda
que haja o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva do delito eleitoral
Caso concreto: o ex-Governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, com colaboração de outros agentes
políticos, teria desviado recursos públicos e utilizado esse dinheiro para financiar sua campanha de reeleição
no ano de 1998. Vale ressaltar que esse dinheiro utilizado na campanha não teria sido contabilizado na
prestação de contas, caracterizando aquilo que se chama, na linguagem popular, de “caixa dois”.
Em tese, o agente teria praticado os seguintes crimes: a) corrupção passiva (art. 317 do CP); b) falsidade
ideológica (art. 350 do Código Eleitoral); c) lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei nº 9.613/98).
Dois crimes são de competência da Justiça estadual comum e um deles da Justiça Eleitoral. Como ficará a
competência para julgar estes delitos? Serão julgados separadamente ou juntos? Qual será a Justiça
competente? Justiça ELEITORAL. Competirá à Justiça Eleitoral julgar todos os delitos. Segundo entende o
STF: Compete à Justiça Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos (Inq 4435
AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019).
Ocorre que, no caso concreto, há uma peculiaridade: ainda durante o inquérito, ficou reconhecida a
prescrição da pretensão punitiva em relação ao crime eleitoral. Logo, houve arquivamento do inquérito no
que tange ao crime eleitoral. Diante disso, indaga-se: mesmo assim, a Justiça Eleitoral continuará sendo
competente para julgar os demais delitos? SIM. Mesmo operada a prescrição quanto ao crime eleitoral,
subsiste a competência da Justiça Eleitoral. Trata-se de aplicação lógica do disposto no art. 81 do CPP.
STF. 2ª Turma. RHC 177243/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 29/6/2021 (Info 1024).

Inexistência de nulidade na atuação de juízes instrutores nas ações penais no STF/STJ


É possível que os Ministros do STJ e STF, em ações penais originárias destes Tribunais, deleguem a realização
de atos de instrução aos chamados juízes instrutores, não havendo nulidade nesta prática.
Os juízes instrutores atuam como longa manus do magistrado relator e, nessa condição, procedem sob sua
supervisão. Trata-se, portanto, de delegação limitada a atos de instrução, com poder decisório restrito ao
alcance desses objetivos.
A atuação dos juízes instrutores encontra respaldo no art. 3º da Lei 8.038/90.
STF. 1ª Turma. HC 131164/TO, rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/5/2016 (Info 827).

É possível que os crimes antecedentes sejam julgados em um processo e a acusação por lavagem seja
apreciada em outro processo desmembrado, mesmo que o MP esteja imputando a causa de aumento
descrita na parte final do § 4º do art. 1º da Lei 9.613/98
Caso concreto: a denúncia envolvia dezenas de réus, acusados pelos crimes de organização criminosa,
corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O juiz decidiu desmembrar os processos e as
imputações relacionadas com a lavagem de dinheiro estão sendo apuradas em outro processo penal, distinto
do processo que apura as infrações penais antecedentes.
A defesa de um dos réus alegou que não deveria ter ocorrido o desmembramento considerando que: 1) as
condutas apuradas nos processos sobre os crimes antecedentes podem ser úteis para a comprovação da
lavagem de dinheiro; 2) o MP imputou aos réus a causa de aumento do § 4º do art. 1º, da Lei de Lavagem (A
pena será aumentada de um a dois terços se a lavagem de dinheiro tiver sido cometida por intermédio de
organização criminosa), razão pela qual no processo de lavagem deve-se discutir a organização criminosa.
O STJ não concordou com os argumentos da defesa.
A reunião de processos em razão da conexão é uma faculdade do Juiz, conforme interpretação a contrario
sensu do art. 80 do CPP que possibilita a separação de determinados processos.
A eventual incidência da causa de aumento descrita na parte final do § 4º do art. 1º da Lei de Lavagem de
Dinheiro não constituiu empecilho para o juiz manter a separação dos feitos, nos termos do art. 80 do CPP.
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STJ. 5ª Turma. RHC 157077-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 03/05/2022 (Info 735).
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É aplicável a teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no curso do inquérito policial
quando autorizadas por juízo aparentemente competente

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A jurisprudência do STJ tem entendido, de maneira ampla, que o desvio de verbas do SUS atrai a competência
da Justiça Federal, tendo em vista o dever de fiscalização e supervisão do governo federal.
No caso concreto, as decisões foram proferidas pelo Juízo estadual.
Assim, deve-se reconhecer a incompetência do Juízo estadual. No entanto, os atos processuais devem ser
avaliados pelo Juízo competente, para que decida se valida ou não os atos até então praticados.
É pacífica a aplicabilidade da teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no curso do inquérito
policial quando autorizadas por juízo aparentemente competente.
As provas colhidas ou autorizadas por juízo aparentemente competente à época da autorização ou produção
podem ser ratificadas a posteriori, mesmo que venha aquele a ser considerado incompetente, ante a
aplicação no processo investigativo da teoria do juízo aparente.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 156413-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/04/2022 (Info 733).

SÚMULAS SOBRE COMPETÊNCIA


Súmula 42-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte
sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.

Súmula 107-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato praticado
mediante falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando não ocorrente
lesão à autarquia federal.

Súmula 208-STJ: Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita
a prestação de contas perante órgão federal.
Súmula 209-STJ: Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e
incorporada ao patrimônio municipal.

Súmula 498-STF: Compete a justiça dos estados, em ambas as instâncias, o processo e o julgamento dos
crimes contra a economia popular.

Súmula 140-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como
autor ou vítima.

Súmula 38-STJ: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por
contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas
entidades.
Súmula 546-STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em
razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do
órgão expedidor.

Súmula 147-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público
federal, quando relacionados com o exercício da função.

Súmula 208-STJ: Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita
a prestação de contas perante órgão federal.

Súmula 209-STJ: Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e
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incorporada ao patrimônio municipal.

As Súmulas 208 e 209 do STJ provêm da 3ª Seção do STJ e versam hipóteses de fixação da competência em
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matéria penal, em que basta o interesse da União ou de suas autarquias para deslocar a competência para a
Justiça Federal, nos termos do inciso IV do art. 109 da CF. Logo, não podem ser utilizadas como critério para

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as demandas cíveis. STJ. 1ª Seção. CC 142354/BA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
23/09/2015.

Jurisprudência em teses (ed. 187):


1) Nas ações de improbidade administrativa, a competência cível da Justiça Federal é definida em razão da
presença das pessoas jurídicas de direito público na relação processual e não em razão da natureza da verba
em discussão, afasta-se, assim, a incidência das Súmulas n. 208 e 209 do Superior Tribunal de Justiça, por
versarem sobre a fixação de competência em matéria penal.
STJ. 1ª Seção. AgRg no CC 133.619/PA, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 09/05/2018.

Súmula 704-STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração
por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados.

STJ não é competente para julgar crime praticado por Governador no exercício do mandato se o agente
deixou o cargo e atualmente voltou a ser Governador por força de uma nova eleição
O STJ é incompetente para julgar crime praticado durante mandato anterior de Governador, ainda que
atualmente ocupe referido cargo por força de nova eleição.
Ex: José praticou o crime em 2010, quando era Governador; em 2011 foi eleito Senador; em 2019 assumiu
novamente como Governador; esse crime praticado em 2010 será julgado em 1ª instância (e não pelo STJ).
Como o foro por prerrogativa de função exige contemporaneidade e pertinência temática entre os fatos em
apuração e o exercício da função pública, o término de um determinado mandato acarreta, por si só, a
cessação do foro por prerrogativa de função em relação ao ato praticado nesse intervalo.
STJ. Corte Especial. QO na APn 874-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2019 (Info 649).

Se um Senador, que responde ação penal no STF, foi eleito Deputado Federal, sem solução de continuidade,
o STF permanece sendo competente para a causa (mantem-se a competência do STF nos casos de mandatos
cruzados de parlamentar federal)
A competência penal originária do STF para processar e julgar parlamentares alcança os congressistas
federais no exercício de mandato em casa parlamentar diversa daquela em que consumada a hipotética
conduta delitiva, desde que não haja solução de continuidade. Desse modo, mantem-se a competência
criminal originária do STF nos casos de “mandatos cruzados” exclusivamente de parlamentar federal.
STF. Plenário. Inq. 4342 QO/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 1º/4/2022 (Info 1049).

A audiência de custódia constitui direito público subjetivo, de caráter fundamental


A audiência de custódia (ou de apresentação) constitui direito público subjetivo, de caráter fundamental,
assegurado por convenções internacionais de direitos humanos a que o Estado brasileiro aderiu, já
incorporadas ao direito positivo interno (Convenção Americana de Direitos Humanos e Pacto Internacional
sobre Direitos Civis e Políticos). Traduz prerrogativa não suprimível assegurada a qualquer pessoa. Sua
imprescindibilidade tem o beneplácito do magistério jurisprudencial (ADPF 347 MC) e do ordenamento
positivo doméstico (Lei nº 13.964/2019 e Resolução 213/2015 do CNJ).
STF. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/10/2020 (Info 994).
A superveniência da realização da audiência de instrução e julgamento não torna superada a alegação de
ausência de audiência de custódia
Imagine que o indivíduo foi preso em flagrante e não foi realizada a audiência de custódia. A defesa impetrou
sucessivos habeas corpus, mas os Tribunais não concederam a liberdade ao custodiado. Quando a questão
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chegou até o STF, esse indivíduo já tinha sido denunciado e foi realizado, inclusive, a audiência de instrução.
Isso significa que o pedido de realização da audiência de custódia fica prejudicado?
Ao julgar um caso como esse, houve empate na 2ª Turma do STF.
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Dois Ministros votaram no sentido de que a alegação de ausência da audiência de custódia estaria superada
(Nunes Marques e Edson Fachin).

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Outros dois Ministros votaram no sentido de que a alegação não estaria superada mesmo já tendo sido
realizada a audiência de instrução (Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski).
Diante do empate, a 2ª Turma concedeu parcialmente a ordem de habeas corpus e determinou ao juiz que
realizasse a audiência de custódia, no prazo de 24 horas, a contar da comunicação do julgamento.
Assim constou no Informativo:
A superveniência da realização da audiência de instrução e julgamento não torna superada a alegação de
ausência de audiência de custódia.
STF. 2ª Turma. HC 202579 AgR/ESe HC 202700 AgR/SP, Rel. Min. Nunes Marques, redator do acórdão Min.
Gilmar Mendes, julgados em 26/10/2021 (Info 1036).

Não se mostra razoável, para a realização da audiência de custódia, determinar o retorno de investigado
à localidade em que ocorreu a prisão quando este já tenha sido transferido para a comarca em que se
determinou a realização da busca e apreensão
Caso concreto: na comarca de São Lourenço do Oeste (SC) tramita um inquérito policial que investiga João e
outras pessoas. João mora em outro Município, qual seja, Pato Branco (PR). O juiz da comarca de São
Lourenço do Oeste decretou a busca e apreensão na casa de João. Durante o cumprimento do mandado na
residência de João, em Pato Branco (PR), a Polícia Civil encontrou grande quantidade de drogas. Os policiais
prenderam João e o transportaram até São Lourenço do Oeste, onde foi lavrado o auto de prisão em
flagrante. João está preso na cadeia pública de São Lourenço do Oeste.
Em regra, a audiência de custódia deve ser realizada na localidade em que ocorreu a prisão. No caso, porém,
o Investigado já foi conduzido à Comarca do Juízo que determinou a busca e apreensão, há aparente conexão
probatória com outros casos e prevenção daquele Juízo, de forma que não se mostra razoável determinar o
retorno do Investigado para análise do auto de prisão em flagrante, notadamente em razão da celeridade
que deve ser empregada em casos de análise da legalidade da custódia.
STJ. 3ª Seção. CC 182728-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 13/10/2021 (Info 714).

(Não) É cabível a realização de audiência de custódia por meio de videoconferência


A audiência de custódia, no caso de mandado de prisão preventiva cumprido fora do âmbito territorial da
jurisdição do Juízo que a determinou, deve ser efetivada por meio da condução do preso à autoridade judicial
competente na localidade em que ocorreu a prisão. Não se admite, por ausência de previsão legal, a sua
realização por meio de videoconferência, ainda que pelo Juízo que decretou a custódia cautelar.
STJ. 3ª Seção. CC 168522-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/12/2019 (Info 663).

Obs1: após esse julgado, o CNJ aprovou resolução proibindo a realização de audiência de custódia por
videoconferência. Segundo o Min. Dias Toffoli, “audiência de custódia por videoconferência não é audiência
de custódia e não se equiparará ao padrão de apresentação imediata de um preso a um juiz, em momento
consecutivo a sua prisão, estandarte, por sinal, bem definido por esse próprio Conselho Nacional de Justiça
quando fez aplicar em todo o país as disposições do Pacto de São José da Costa Rica.”

Obs2: considerando a pandemia mundial (Covid-19), o CNJ aprovou a Resolução 357/2020, permitindo a
audiência de custódia por videoconferência quando não for possível a realização, em 24 horas, de forma
presencial. Além disso, também prevê a possibilidade de o Ministério Público propor acordo de não
persecução penal (ANPP) nas hipóteses previstas no artigo 28-A do Código de Processo Penal.

Obs3: no dia 28-6-2021, o Min. Nunes Marques concedeu parcialmente liminar na ADI 6841 (liminar essa que
foi referendada por maioria do STF, no dia 1-7-2021), suspendendo os efeitos da expressão "vedado o
emprego de videoconferência", prevista no art. 3-B, § 1º, do CPP, inserido pelo Pacote Anticrime (Lei
200

13.964/2019), de modo a permitir a realização das audiências de custódia por videoconferência, enquanto
perdurar a pandemia de Covid-19, conforme art. 19, da Resolução n. 329/2020, CNJ, na redação que lhe foi
Página

dada pela Resolução n. 357/2020, CNJ, na forma do art. 10, § 3°, Lei n. 9.868/99, bem como no art. 21, V, do
RISTF.

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No mesmo sentido, confiram esses julgados do STF:
A pandemia causada pelo novo coronavírus não afasta a imprescindibilidade da audiência de custódia, que
deve ser realizada, caso necessário, por meio de videoconferência, diante da ausência de lei em sentido
formal que proíba o uso dessa tecnologia.
A audiência por videoconferência, sob a presidência do Juiz, com a participação do autuado, de seu defensor
constituído ou de Defensor Público, e de membro do Ministério Público, permite equacionar as medidas
sanitárias de restrição decorrentes do contexto pandêmico com o direito subjetivo do preso de participar de
ato processual vocacionado a controlar a legalidade da prisão.
STF. 2ª Turma. HC 186421, Rel. Celso de Mello, Rel. p/ Acórdão Edson Fachin, julgado em 20/10/2020.

A Recomendação 62/2020 do CNJ não aconselha a realização de audiência de custódia na forma presencial.
Realização por videoconferência. Medida destinada a minimizar os riscos de contaminação dos suspeitos,
membros do Ministério Público, magistrados, defensores e servidores. O atual estado de guerra viral sugere
cautela e prudência a fim de evitar seu agravamento. (...) Agravo improvido, com determinação para que o
Juízo realize a audiência de custódia em ambiente virtual, com nova avaliação da necessidade da prisão
preventiva, de forma fundamentada.
STF. 2ª Turma. HC 198399, Rel. Min. Gilmar Mendes de Mello, julgado em 22/04/2021.

Decisão proferida em audiência de custódia reconhecendo a atipicidade do fato não faz coisa julgada
A decisão que, na audiência de custódia, determina o relaxamento da prisão em flagrante sob o argumento
de que a conduta praticada é atípica não faz coisa julgada.
Assim, esta decisão não vincula o titular da ação penal, que poderá oferecer acusação contra o indivíduo
narrando os mesmos fatos e o juiz poderá receber essa denúncia.
STF. 1ª Turma. HC 157306/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/9/2018 (Info 917).

Depois da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), não é mais possível que o juiz, de ofício, converta a prisão
em flagrante em prisão preventiva (é indispensável requerimento)
Não é possível a decretação “ex officio” de prisão preventiva em qualquer situação (em juízo ou no curso de
investigação penal), inclusive no contexto de audiência de custódia, sem que haja, mesmo na hipótese da
conversão a que se refere o art. 310, II, do CPP, prévia, necessária e indispensável provocação do Ministério
Público ou da autoridade policial.
A Lei nº 13.964/2019, ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art. 282, § 2º, e do art. 311, ambos
do CPP, vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva sem o prévio requerimento das partes
ou representação da autoridade policial.
Logo, não é mais possível, com base no ordenamento jurídico vigente, a atuação ‘ex officio’ do Juízo
processante em tema de privação cautelar da liberdade.
A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz do art. 282, § 2º e do art. 311, significando que
se tornou inviável, mesmo no contexto da audiência de custódia, a conversão, de ofício, da prisão em
flagrante de qualquer pessoa em prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito,
anterior e formal provocação do Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do
querelante ou do assistente do MP.
STJ. 5ª Turma. HC 590039/GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/10/2020.
STF. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/10/2020 (Info 994).

Não é possível que o juiz, de ofício, decrete a prisão preventiva; vale ressaltar, no entanto, que, se logo
depois de decretar, a autoridade policial ou o MP requererem a prisão, o vício de ilegalidade que maculava
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a custódia é suprido
O que acontece se o juiz decretar a prisão preventiva de ofício (sem requerimento)?
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• Regra: a prisão deverá ser relaxada por se tratar de prisão ilegal.

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• Exceção: se, após a decretação, a autoridade policial ou o Ministério Público requererem a prisão, o vício
de ilegalidade que maculava a custódia é suprido (convalidado) e a prisão não será relaxada.
O posterior requerimento da autoridade policial pela segregação cautelar ou manifestação do Ministério
Público favorável à prisão preventiva suprem o vício da inobservância da formalidade de prévio
requerimento.
STJ. 5ª Turma. AgRg RHC 136.708/MS, Rel. Min. Felix Fisher, julgado em 11/03/2021 (Info 691).

Prisão domiciliar para gestantes, puérperas, mães de crianças e mães de pessoas com deficiência
Veja os artigos incluídos pela Lei nº 13.769/2018 no CPP:
Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou
pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:
I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.

Art. 318-B. A substituição de que tratam os arts. 318 e 318-A poderá ser efetuada sem prejuízo da aplicação
concomitante das medidas alternativas previstas no art. 319 deste Código.

Pais e outros responsáveis por menor de 12 anos ou por pessoa com deficiência possuem direito à prisão
domiciliar, desde que observados os requisitos do art. 318 do CPP e não tenham praticado crime com
violência ou grave ameaça ou contra os próprios filhos ou dependentes
Tem direito à substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar — desde que observados os requisitos
do art. 318 do Código de Processo Penal e não praticados crimes mediante violência ou grave ameaça ou
contra os próprios filhos ou dependentes — os pais, caso sejam os únicos responsáveis pelos cuidados de
menor de 12 anos ou de pessoa com deficiência, bem como outras pessoas presas, que não sejam a mãe ou
o pai, se forem imprescindíveis aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 anos ou com deficiência.
STF. 2ª Turma. HC 165704/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 20/10/2020 (Info 996).

A mera circunstância de o agente ter sido denunciado em razão dos delitos descritos na Lei 12.850/2013
não justifica a imposição automática da prisão preventiva, devendo-se avaliar a presença de elementos
concretos, previstos no art. 312 do CPP
Conquanto os tribunais superiores admitam a prisão preventiva para interrupção da atuação de integrantes
de organização criminosa, a mera circunstância de o agente ter sido denunciado pelos delitos descritos na
Lei n. 12.850/2013 não justifica a imposição automática da custódia prisional.
Com efeito, deve-se avaliar a presença de elementos concretos, previstos no art. 312 do CPP, como o risco
de reiteração delituosa ou indícios de que o grupo criminoso continua em atividade, colocando em risco à
ordem pública.
STJ. 5ª Turma. HC 708148-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, julgado
em 05/04/2022 (Info 732).

Requisitos estipulados pelo STF para a validade da decretação da prisão temporária


A decretação de prisão temporária somente é cabível quando:
(i) for imprescindível para as investigações do inquérito policial;
(ii) houver fundadas razões de autoria ou participação do indiciado;
(iii) for justificada em fatos novos ou contemporâneos;
(iv) for adequada à gravidade concreta do crime, às circunstâncias do fato e às condições pessoais do
indiciado; e
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(v) não for suficiente a imposição de medidas cautelares diversas.


STF. Plenário. ADI 3360/DF e ADI 4109/DF, Rel. Min. Carmen Lúcia, redator para o acórdão Min. Edson Fachin,
julgados em 11/2/2022 (Info 1043).
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O descumprimento do prazo do parágrafo único do art. 316 do CPP não acarreta automaticamente a
liberdade do preso. Esse dispositivo se aplica também aos Tribunais?
O transcurso do prazo previsto no parágrafo único do art. 316 do Código de Processo Penal não acarreta,
automaticamente, a revogação da prisão preventiva e, consequentemente, a concessão de liberdade
provisória.
A exigência da revisão nonagesimal quanto à necessidade e adequação da prisão preventiva aplica-se até o
final dos processos de conhecimento.
O parágrafo único do art. 316 do CPP se aplica para:
• o juízo em 1ª instância: SIM
• o TJ ou TRF: SIM (tanto nos processos de competência originária do TJ/TRF – foro por prerrogativa de função
– como também durante o tempo em que se aguarda o julgamento de eventual recurso interposto contra
decisão de 1ª instância).
• o STJ/STF: em regra, não. Encerrado o julgamento de segunda instância, não se aplica o art. 316, parágrafo
único, do CPP. Exceção: caso se trate de uma ação penal de competência originária do STJ/STF.
Em conclusão, o art. 316, parágrafo único, do CPP aplica-se:
a) até o final dos processos de conhecimento, onde há o encerramento da cognição plena pelo Tribunal de
segundo grau;
b) nos processos onde houver previsão de prerrogativa de foro.
Por outro lado, o art. 316, parágrafo único, do CPP não se aplica para as prisões cautelares decorrentes de
sentença condenatória de segunda instância ainda não transitada em julgado.
STF. Plenário. ADI 6581/DF e ADI 6582/DF, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Alexandre de
Moraes, julgados em 8/3/2022 (Info 1046).

Não existe o dever de revisão previsto art. 316, parágrafo único, do CPP, caso o acusado esteja foragido
Quando o acusado se encontrar foragido, não há o dever de revisão ex officio da prisão preventiva, a cada
90 dias, exigida pelo art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal.
A finalidade do dispositivo é a de evitar o gravíssimo constrangimento experimentado por quem está com
efetiva restrição à sua liberdade. Somente o gravíssimo constrangimento causado pela efetiva prisão justifica
o elevado custo despendido pela máquina pública com a promoção desses numerosos reexames impostos
pela lei.
Não seria razoável ou proporcional obrigar todos os Juízos criminais do país a revisar, de ofício, a cada 90
dias, todas as prisões preventivas decretadas e não cumpridas, tendo em vista que, na prática, há réus que
permanecem foragidos por anos.
Soma-se a isso o fato de que, se o acusado – que tem ciência da investigação ou processo e contra quem foi
decretada a prisão preventiva – encontra-se foragido, já se vislumbram, antes mesmo de qualquer reexame
da prisão, fundamentos para mantê-la – quais sejam, a necessidade de assegurar a aplicação da lei penal e a
garantia da instrução criminal –, os quais, aliás, conservar-se-ão enquanto perdurar a condição de foragido
do acusado.
Assim, pragmaticamente, parece pouco efetivo para a proteção do acusado, obrigar o Juízo processante a
reexaminar a prisão, de ofício, a cada 90 dias, nada impedindo, contudo, que a defesa protocole pedidos de
revogação ou relaxamento da custódia, quando entender necessário.
STJ. 5ª Turma. RHC 153528-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 29/03/2022 (Info 731).

Antecipação da prova testemunhal pela gravidade do crime e possibilidade concreta de perecimento


A antecipação da prova testemunhal prevista no art. 366 do CPP pode ser justificada como medida necessária
pela gravidade do crime praticado e possibilidade concreta de perecimento, haja vista que as testemunhas
poderiam se esquecer de detalhes importantes dos fatos em decorrência do decurso do tempo.
203

Além disso, a antecipação da oitiva das testemunhas não traz nenhum prejuízo às garantias inerentes à
defesa. Isso porque quando o processo retomar seu curso, caso haja algum ponto novo a ser esclarecido em
Página

favor do réu, basta que seja feita nova inquirição.

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STF. 2ª Turma. HC 135386/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 13/12/2016 (Info 851).

Para o acesso a dados telemáticos não é necessário a delimitação temporal para fins de investigações
criminais
Não é necessário especificar a limitação temporal para os acessos requeridos pelo Ministério Público, por se
tratar de dados estáticos, constantes nas plataformas de dados.
Apesar de o art. 22, III, da Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) determinar que a requisição judicial
de registro deve conter o período ao qual se referem, tal quesito só é necessário para o fluxo de
comunicações, sendo inaplicável nos casos de dados já armazenados que devem ser obtidos para fins de
investigações criminais.
STJ. 6ª Turma. HC 587.732-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 20/10/2020 (Info 682).

Não é possível aplicar multa contra o WhatsApp pelo fato de a empresa não conseguir interceptar as
mensagens trocadas pelo aplicativo e que são protegidas por criptografia de ponta a ponta
Caso concreto: o juiz expediu ordem para que o WhatsApp interceptasse as mensagens trocadas por
determinados investigados, suspeitos de integrarem uma organização criminosa que estariam ainda
praticando crimes. O WhatsApp respondeu que não consegue cumprir a determinação judicial por
impedimentos de ordem técnica. Isso porque as mensagens trocadas via aplicativo são criptografadas de
ponta a ponta. O magistrado não concordou com o argumento e aplicou multa contra a empresa.
Segundo a opinião dos especialistas, realmente não é possível a interceptação de mensagens criptografadas
do WhatsApp devido à adoção de criptografia forte pelo aplicativo.
Ao utilizar a criptografia de ponta a ponta, a empresa está criando um mecanismo de proteção à liberdade
de expressão e de comunicação privada, garantia reconhecida expressamente na Constituição Federal (art.
5º, IX).
A criptografia é, portanto, um meio de se assegurar a proteção de direitos que, em uma sociedade
democrática, são essenciais para a vida pública.
A criptografia protege os direitos dos usuários da internet, garantindo a privacidade de suas comunicações.
Logo, é do interesse do Estado brasileiro encorajar as empresas e as pessoas a utilizarem a criptografia e
manter o ambiente digital com a maior segurança possível para os usuários.
Existe, contudo, uma ponderação a ser feita: em alguns casos a criptografia é utilizada para acobertar a
prática de crimes, como, por exemplo, os casos de pornografia infantil e de condutas antidemocráticas, como
manifestações xenófobas, racistas e intolerantes, que ameaçam o Estado de Direito. A partir daí, indaga-se:
o risco à segurança pública representado pelo uso da criptografia justifica restringir ou proibir a sua adoção
pelas empresas?
O tema está sendo apreciado pelo STF na ADPF 403 e na ADI 5527, que foi iniciado com os votos dos Ministros
Edson Fachin e Rosa Weber, tendo sido suspenso em razão de pedido de vista.
Apesar de o julgamento dessas ações constitucionais ainda não ter sido concluído, a 3ª Seção do STJ, em
harmonia com os votos já proferidos pelos Ministros do STF, chegou à conclusão de que:
O ordenamento jurídico brasileiro não autoriza, em detrimento da proteção gerada pela criptografia de ponta
a ponta, em benefício da liberdade de expressão e do direito à intimidade, sejam os desenvolvedores da
tecnologia multados por descumprirem ordem judicial incompatível com encriptação.
Os benefícios advindos da criptografia de ponta a ponta se sobrepõem às eventuais perdas pela
impossibilidade de se coletar os dados das conversas dos usuários da tecnologia.
Diante disso, o recurso foi provido para afastar a multa aplicada pelo magistrado ante a impossibilidade
fática, no caso concreto, de cumprimento da ordem judicial, haja vista o emprego da criptografia de ponta-
a-ponta.
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STJ. 3ª Seção. RMS 60.531-RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/12/2020
(Info 684).
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Extração sem prévia autorização judicial de dados e de conversas registradas no WhatsApp

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Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por meio da extração de dados e de
conversas registradas no WhatsApp presentes no celular do suposto autor de fato delituoso, ainda que o
aparelho tenha sido apreendido no momento da prisão em flagrante.
STJ. 6ª Turma. RHC 51.531-RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/4/2016 (Info 583).

O acesso ao chip telefônico descartado pelo acusado em via pública não se qualifica como quebra de sigilo
telefônico
Caso adaptado: João praticou um roubo contra uma pessoa em via pública. O crime foi presenciado por
policiais militares que estavam em uma viatura e iniciaram perseguição para prender o sujeito. Durante a
fuga, João jogou fora um simulacro de arma de fogo, um aparelho celular e um chip de operadora de
telefonia, objetos recolhidos pelos policiais em via pública.
Apreendido o chip descartado pelo acusado, houve a inserção em outro aparelho telefônico pela polícia para
fins de possível identificação da vítima lesada, o que de fato ocorreu. Ocorre que a vítima não era proprietária
do celular descartado, mas somente do chip.
A defesa sustentou que o aparelho pertencia ao próprio acusado. Contudo, verificou-se que o aparelho
telefônico não foi examinado. Assim, ainda que o celular fosse de propriedade do acusado, não houve
extração de nenhum dado do aparelho, pois o alvo de análise foi apenas o chip telefônico descartado, que
de fato era de uma das vítimas. Logo, não houve quebra de sigilo telefônico.
Hipótese distinta seria se o celular fosse acessado pelos policiais e alguma informação retirada e utilizada em
desfavor do acusado, o que não ocorreu.
Dessa forma, o STJ não admitiu a tese defensiva no sentido de suposta violação de sigilo telefônico, uma vez
que não encontrou amparo no contexto fático narrado nos autos.
STJ. 5ª Turma. HC 720.605-PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/08/2022 (Info 744).

É lícito o compartilhamento de dados bancários feito por órgão de investigação do país estrangeiro para a
polícia brasileira, mesmo que, no Estado de origem, essas informações não tenham sido obtidas com
autorização judicial, já que isso não é exigido naquele país
Caso concreto: a Procuradoria de Nova Iorque (EUA) compartilhou com a Polícia Federal do Brasil uma
relação de brasileiros que mantinham contas bancárias nos EUA. A partir dessa informação, a Polícia Federal
instaurou inquérito para apurar os fatos e representou pela quebra do sigilo bancário dos investigados. O juiz
federal deferiu o pedido e expediu um MLAT aos EUA solicitando todos os detalhes das contas bancárias
mantidas naquele país. Esses dados foram enviados.
O compartilhamento de dados feito pela Procuradoria de Nova Iorque com a Polícia Federal foi realizado sem
autorização judicial. Mesmo assim, não há nulidade e tais elementos informativos podem ser utilizados no
Brasil, já que, no Estado de origem, não era necessária autorização judicial.
Assim, não viola a ordem pública brasileira o compartilhamento direto de dados bancários pelos órgãos
investigativos, mesmo que, no Estado de origem, sejam obtidos sem prévia autorização judicial, se a reserva
de jurisdição não é exigida pela legislação daquele local.
Ainda neste mesmo caso concreto, o STJ decidiu que a cooperação internacional feita pelo MLAT não será
nula, ainda que não tenha sido concretizada com a intermediação das autoridades centrais do Brasil e dos
EUA.
Respeitadas as garantias processuais do investigado, não há prejuízo na cooperação direta entre as agências
investigativas, sem a participação das autoridades centrais. A ilicitude da prova ou do meio de sua obtenção
somente poderia ser pronunciada se o réu demonstrasse alguma violação de suas garantias ou das
específicas regras de produção probatória.
STJ. 5ª Turma. AREsp 701.833/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 04/05/2021 (Info 695).
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É válida a autorização expressa para busca e apreensão em sede de empresa investigada dada por pessoa
que age como sua representante
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É válida, com base na teoria da aparência, a autorização expressa para que os policiais fizessem a busca e
apreensão na sede de empresa investigada, autorização essa dada por pessoa que, embora tenha deixado
de ser sócia formal, continuou assinando documentos como representante da empresa.
Caso concreto: policiais chegaram até a sede da empresa e, enquanto aguardavam decisão judicial para
entrar no local, foram autorizados a fazer a busca e apreensão no imóvel. Essa autorização foi concedida por
uma mulher que se apresentou como representante da empresa.
A mulher que concedeu a autorização, embora tenha deixado de ser formalmente sócia, continuou assinando
documentos como representante da empresa.
A evidência de que ela ainda agia como representante da empresa é reforçada pelo fato de que tinha a chave
do escritório sede da empresa e livre acesso a ele, não tendo sido barrada por nenhum dos empregados que
estavam no local, nem mesmo pelo advogado da empresa que acompanhou toda a diligência.
Diante disso, o STJ afirmou que deveria ser aplicada, no caso concreto, a teoria da aparência.
Embora tal teoria tenha encontrado maior amplitude de aplicação jurisprudencial na seara civil, processual
civil e no CDC, nada há que impeça sua aplicação também na seara penal.
STJ. 5ª Turma. RMS 57.740-PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 23/03/2021 (Info 690).

A colaboração premiada é um acordo realizado entre o acusador e a defesa, não podendo a vítima ser
colaboradora
O § 6º do art. 4º da Lei nº 12.850/2013 estipula que o acordo de colaboração premiada é celebrado pelo
investigado ou acusado.
Assim, a vítima não pode ser colaboradora, porque lhe faltaria interesse - haja vista que é a interessada na
tutela punitiva.
STJ. 6ª Turma. HC 750.946-RJ, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF da 1ª Região),
julgado em 11/10/2022 (Info 754).

Papel do Poder Judiciário no acordo de colaboração premiada


A colaboração é um meio de obtenção de prova cuja iniciativa não se submete à reserva de jurisdição (não
exige autorização judicial), diferentemente do que ocorre nas interceptações telefônicas ou na quebra de
sigilo bancário ou fiscal.
Nesse sentido, as tratativas e a celebração da avença são mantidas exclusivamente entre o Ministério Público
e o pretenso colaborador.
O Poder Judiciário é convocado ao final dos atos negociais apenas para aferir os requisitos legais de existência
e validade, com a indispensável homologação.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).

Poder Judiciário não pode obrigar o Ministério Público a celebrar o acordo de colaboração premiada
Não existe direito líquido e certo a compelir o Ministério Público à celebração do acordo de delação
premiada, diante das características desse tipo de acordo e considerando a necessidade de distanciamento
que o Estado-juiz deve manter durante o cenário investigado e a fase de negociação entre as partes do
cenário investigativo.
O acordo de colaboração premiada, além de meio de obtenção de prova, constitui-se em um negócio jurídico
processual personalíssimo, cuja conveniência e oportunidade estão submetidos à discricionariedade regrada
do Ministério Público e não se submetem ao escrutínio do Estado-juiz. Em outras palavras, trata-se de ato
voluntário, insuscetível de imposição judicial.
Vale ressaltar, no entanto, que o ato do membro do Ministério Público que se nega à realização do acordo
deve ser devidamente motivado. Essa recusa pode ser objeto de controle por órgão superior no âmbito do
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Ministério Público (Procurador-Geral de Justiça ou Comissão de Coordenação e Revisão), por aplicação


analógica do art. 28 do CPP (art. 62, IV, da LC 75/93).
Mesmo sem ter assinado o acordo, o acusado pode colaborar fornecendo as informações e provas que
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possuir. Ao final, na sentença, o juiz irá analisar esse comportamento processual e poderá conceder benefício
ao acusado mesmo sem que tenha havido a prévia celebração e homologação do acordo de colaboração

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premiada. Dito de outro modo, o acusado pode receber a sanção premial mesmo sem a celebração do acordo
caso o magistrado entenda que sua colaboração foi eficaz.
STF. 2ª Turma. MS 35693 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 28/5/2019 (Info 942).

Competência para homologação do acordo de colaboração premiada se o delatado tiver foro por
prerrogativa de função
Se a delação do colaborador mencionar fatos criminosos que teriam sido praticados por autoridade (ex:
Governador) e que teriam que ser julgados por foro privativo (ex: STJ), este acordo de colaboração deverá,
obrigatoriamente, ser celebrado pelo Ministério Público respectivo (PGR), com homologação pelo Tribunal
competente (STJ).
Assim, se os fatos delatados tiverem que ser julgados originariamente por um Tribunal (foro por prerrogativa
de função), o próprio acordo de colaboração premiada deverá ser homologado por este respectivo Tribunal,
mesmo que o delator não tenha foro privilegiado.
A delação de autoridade com prerrogativa de foro atrai a competência do respectivo Tribunal para a
respectiva homologação e, em consequência, do órgão do Ministério Público que atua perante a Corte.
Se o delator ou se o delatado tiverem foro por prerrogativa de função, a homologação da colaboração
premiada será de competência do respectivo Tribunal.
STF. 2ª Turma. HC 151605/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 20/3/2018 (Info 895).

A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, não constitui critério de determinação, de
modificação ou de concentração da competência
Os elementos de informação trazidos pelo colaborador a respeito de crimes que não sejam conexos ao objeto
da investigação primária devem receber o mesmo tratamento conferido à descoberta fortuita ou ao encontro
fortuito de provas em outros meios de obtenção de prova, como a busca e apreensão e a interceptação
telefônica. A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, não constitui critério de
determinação, de modificação ou de concentração da competência. Assim, ainda que o agente colaborador
aponte a existência de outros crimes e que o juízo, perante o qual foram prestados seus depoimentos ou
apresentadas as provas que corroborem suas declarações, ordene a realização de diligências (interceptação
telefônica, busca e apreensão etc.) para sua apuração, esses fatos, por si sós, não firmam sua prevenção.
STF. 2ª Turma. HC 181978 AgR/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/11/2020 (Info 999).

Natureza da decisão que homologa o acordo de colaboração premiada


A decisão do magistrado que homologa o acordo de colaboração premiada não julga o mérito da pretensão
acusatória, mas apenas resolve uma questão incidente. Por isso, esta decisão tem natureza meramente
homologatória, limitando-se ao pronunciamento sobre a regularidade, legalidade e voluntariedade do
acordo (art. 4º, § 7º, da Lei nº 12.850/2013).
O juiz, ao homologar o acordo de colaboração, não emite juízo de valor a respeito das declarações
eventualmente prestadas pelo colaborador à autoridade policial ou ao Ministério Público, nem confere o
signo da idoneidade a seus depoimentos posteriores.
A análise se as declarações do colaborador são verdadeiras ou se elas se confirmaram com as provas
produzidas será feita apenas no momento do julgamento do processo, ou seja, na sentença (ou acórdão),
conforme previsto no § 11 do art. 4º da Lei.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).

Acordo de colaboração homologado pelo Relator deve, em regra, produzir seus efeitos, salvo se presente
hipótese de anulabilidade
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O acordo de colaboração devidamente homologado individualmente pelo relator deve, em regra, produzir
seus efeitos diante do cumprimento dos deveres assumidos pelo colaborador.
Vale ressaltar, no entanto, que o órgão colegiado detém a possibilidade de analisar fatos supervenientes ou
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de conhecimento posterior que firam a legalidade do acordo, nos termos do § 4º do art. 966do CPC/2015:

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§ 4º Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e
homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão sujeitos
à anulação, nos termos da lei.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).

Direitos do colaborador somente serão assegurados se ele cumprir seus deveres


O direito subjetivo do colaborador nasce e se perfectibiliza na exata medida em que ele cumpre seus deveres.
Assim, o cumprimento dos deveres pelo colaborador é condição sine qua non para que ele possa gozar dos
direitos decorrentes do acordo.
Por isso diz-se que o acordo homologado como regular, voluntário e legal gera vinculação condicionada ao
cumprimento dos deveres assumidos pela colaboração, salvo ilegalidade superveniente apta a justificar
nulidade ou anulação do negócio jurídico.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).

Análise da legitimidade do delatado para impugnar o acordo de colaboração premiada


Em regra, o delatado não tem legitimidade para impugnar o acordo de colaboração premiada. Assim, em
regra, a pessoa que foi delatada não poderá impetrar um habeas corpus alegando que esse acordo possui
algum vício. Isso porque se trata de negócio jurídico personalíssimo.
Esse entendimento, contudo, não se aplica em caso de homologação sem respeito à prerrogativa de foro.
Desse modo, é possível que o delatado questione o acordo se a impugnação estiver relacionada com as regras
constitucionais de prerrogativa de foro. Em outras palavras, se o delatado for uma autoridade com foro por
prerrogativa de função e, apesar disso, o acordo tiver sido homologado em 1ª instância, será permitido que
ele impugne essa homologação alegando usurpação de competência.
STF. 2ª Turma. HC 151605/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 20/3/2018 (Info 895).

O delatado tem o direito de acesso aos termos de colaboração premiada que mencionem seu nome, desde
que já tenham sido juntados aos autos e não prejudiquem diligências em andamento
O delatado possui o direito de ter acesso às declarações prestadas pelos colaboradores que o incriminem,
desde que já documentadas e que não se refiram à diligência em andamento que possa ser prejudicada.
STF. 2ª Turma. Rcl 30742 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

É inconstitucional a previsão legal que determina o afastamento do servidor público pelo simples fato de
ele ter sido indiciado pela prática de crime
É inconstitucional a determinação de afastamento automático de servidor público indiciado em inquérito
policial instaurado para apuração de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores.
Com base nesse entendimento, o STF declarou inconstitucional o art. 17-D da Lei de Lavagem de Dinheiro
(Lei nº 9.613/98):
Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e
demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu
retorno.
O afastamento do servidor somente se justifica quando ficar demonstrado nos autos que existe risco caso
ele continue no desempenho de suas funções e que o afastamento é medida eficaz e proporcional para se
tutelar a investigação e a própria Administração Pública. Tais circunstâncias precisam ser apreciadas pelo
Poder Judiciário.
STF. Plenário. ADI 4911/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
20/11/2020 (Info 1000).
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Em ação penal envolvendo réus colaborares e não colaboradores, o réu delatado tem o direito de
apresentar suas alegações finais somente após o réu que firmou acordo de colaboração premiada
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O réu delatado tem o direito de apresentar suas alegações finais somente após o réu delator.

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Os réus colaboradores não podem se manifestar por último (ou no mesmo prazo dos réus delatados) porque
as informações trazidas por eles possuem uma carga acusatória.
O direito fundamental ao contraditório e à ampla defesa deve permear todo o processo legal, garantindo-se
sempre a possibilidade de a defesa se manifestar depois do agente acusador. Vale ressaltar que pouco
importa a qualificação jurídica do agente acusador: Ministério Público ou corréu colaborador. Se é um
“agente acusador”, a defesa deve falar depois dele.
Ao se permitir que os réus colaboradores falem por último (ou simultaneamente com os réus delatados), há
uma inversão processual que ocasiona sério prejuízo ao delatado, tendo em vista que ele não terá
oportunidade de repelir os argumentos eventualmente incriminatórios trazidos pelo réu delator ou para
reforçar os favoráveis à sua defesa.
Permitir o oferecimento de memoriais escritos de réus colaboradores, de forma simultânea ou depois da
defesa — sobretudo no caso de utilização desse meio de prova para prolação da condenação —, compromete
o pleno exercício do contraditório, que pressupõe o direito de a defesa falar por último, a fim de poder reagir
às manifestações acusatórias.
STF. 2ª Turma. HC 157627 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 27/8/2019 (Info 949).

Para que seja fixado o valor da reparação, deverá haver pedido expresso e formal do MP ou do ofendido?
SIM. Para que seja fixado, na sentença, o valor mínimo para reparação dos danos causados à vítima (art. 387,
IV, do CPP), é necessário que haja pedido expresso e formal, feito pelo parquet ou pelo ofendido, a fim de
que seja oportunizado ao réu o contraditório e sob pena de violação ao princípio da ampla defesa (STJ. 5ª
Turma. HC 321.279/PE, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Des. Conv. do TJ/PE), julgado em 23/06/2015).

Além dos prejuízos materiais, o juiz poderá também condenar o réu a pagar a vítima por danos morais?
SIM. O juiz, ao proferir sentença penal condenatória, no momento de fixar o valor mínimo para a reparação
dos danos causados pela infração (art. 387, IV, do CPP), pode, sentindo-se apto diante de um caso concreto,
quantificar, ao menos o mínimo, o valor do dano moral sofrido pela vítima, desde que fundamente essa
opção. Isso porque o art. 387, IV, não limita a indenização apenas aos danos materiais e a legislação penal
deve sempre priorizar o ressarcimento da vítima em relação a todos os prejuízos sofridos.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.585.684-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 9/8/2016 (Info 588).

A previsão da indenização contida no inciso IV do art. 387 surgiu com a Lei nº 11.719/2008. Se o crime
ocorreu antes da Lei e foi sentenciado após a sua vigência, pode ser aplicado o dispositivo e fixado o valor
mínimo de reparação dos danos?
NÃO. A regra do art. 387, inciso IV, do CPP, que dispõe sobre a fixação, na sentença condenatória, de valor
mínimo para reparação civil dos danos causados ao ofendido, é norma híbrida, de direito processual e
material, razão pela que não se aplica a delitos praticados antes da entrada em vigor da Lei nº 11.719/2008,
que deu nova redação ao dispositivo.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/8/2013.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.206.643/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 12/02/2015.
STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info 772).

O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares


O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de natureza criminal diversas da
prisão. Isso porque, se descumprida a “medida alternativa”, é possível o estabelecimento da custódia,
alcançando-se o direito de ir e vir.
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STF. 1ª Turma. HC 170735/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
30/6/2020 (Info 984).
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Não cabimento de HC para trancar impeachment

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Habeas corpus não é o instrumento adequado para pleitear trancamento de processo de impeachment.
A finalidade constitucional do habeas corpus é a da proteção do indivíduo contra qualquer ato limitativo ao
direito de locomoção (art. 5º, LXVIII, da CF/88).
O processo de impeachment pode resultar na aplicação de sanções de natureza político-administrativa.
Dessa forma, ao se impetrar um HC contra o processo de impeachment, o que se está fazendo é buscando
proteger o exercício de direitos políticos e não o direito de ir e vir.
STF. Plenário. HC 134315 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 16/6/2016 (Info 830).

Não cabe habeas corpus de decisão monocrática de Ministro do STF


Não é cabível HC em face de decisão monocrática de Ministro do STF.
STF. Plenário. HC 105959/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
17/2/2016 (Info 814).

Não cabimento de habeas corpus contra decisão monocrática de Ministro do STJ


Em regra, não cabe habeas corpus para o STF contra decisão monocrática do Ministro do STJ que não conhece
ou denega habeas corpus que havia sido interposto naquele Tribunal. É necessário que primeiro o impetrante
exaure (esgote), no tribunal a quo (no caso, o STJ), as vias recursais ainda cabíveis (no caso, o agravo
regimental).
Exceção: essa regra pode ser afastada em casos excepcionais, quando a decisão atacada se mostrar
teratológica, flagrantemente ilegal, abusiva ou manifestamente contrária à jurisprudência do STF, situações
nas quais o STF poderia conceder de ofício o habeas corpus.
STF. 1ª Turma. HC 139612/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/4/2017 (Info 862).

Não cabe habeas corpus para questionar passaporte vacinal/sanitário


O Habeas corpus não constitui via própria para impugnar Decreto de governador de Estado sobre adoção de
medidas acerca da apresentação do comprovante de vacinação contra a COVID-19 para que as pessoas
possam circular e permanecer em locais públicos e privados.
STJ. 2ª Turma. RDC no HC 700.487-RS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 22/02/2022 (Info 726).

A superveniência de sentença condenatória torna prejudicado o pedido feito no habeas corpus se buscava
o trancamento da ação penal sob a alegação de falta de justa causa
Súmula 648-STJ: A superveniência da sentença condenatória prejudica o pedido de trancamento da ação
penal por falta de justa causa feito em habeas corpus.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 14/04/2021, DJe 19/04/2021.

A Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 22/11/2018, que determina o cômputo da


pena em dobro, deve ser aplicada a todo o período cumprido pelo condenado no Instituto Penal Plácido de
Sá Carvalho (IPPSC)
O Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho (IPPSC) é um estabelecimento penal voltado ao cumprimento de
pena privativa de liberdade com o enfoque em pessoas do gênero masculino. Está localizado no Complexo
Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
O IPPSC apresentou elevados índices de mortes de presos decorrentes da superlotação e das más condições
sanitárias do local. Por essa razão, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) expediu medidas
provisórias em face do Brasil, sob o fundamento de que houve violação à integridade pessoal dos presos, nos
termos da Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH).
Em uma dessas Resoluções (de 22/11/2018), a Corte IDH determinou que deveria ser computado em dobro
210

cada dia de privação de liberdade na unidade prisional IPPSC, exceto para os acusados ou condenados por:
a) crimes contra a vida; b) crimes contra a integridade física; ou c) crimes sexuais.
O cômputo da pena em dobro deve ser sobre todo o período de pena cumprido pelo condenado no IPPSC ou
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deverá ficar limitado ao período posterior ao conhecimento formal do Brasil acerca da Resolução?

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O cômputo em dobro atinge a totalidade da pena cumprida. Logo, não é possível modular os efeitos do
cômputo da pena em dobro, tendo em vista a situação degradante do estabelecimento prisional,
inspecionado e alvo de inúmeras Resoluções da Corte IDH.
Não se mostra possível que a determinação de cômputo em dobro tenha seus efeitos modulados como se o
preso tivesse cumprido parte da pena em condições aceitáveis até a notificação e, a partir de então, tal
estado de fato tivesse se modificado. Em realidade, o substrato fático que deu origem ao reconhecimento
da situação degradante já perdurara anteriormente, até para que pudesse ser objeto de reconhecimento,
devendo, por tal razão, incidir sobre todo o período de cumprimento da pena.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 136.961-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 15/06/2021, DJe
21/06/2021 (Info 701).

DIREITO DO TRABALHO E
PROCESSUAL DO TRABALHO
Proibição de que o salário mínimo seja utilizado como indexador econômico
Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário mínimo vigente. Tal
previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o salário mínimo seja utilizado como
referência (parâmetro) para outras finalidades que não sejam a remuneração do trabalho. No entanto, o STF
afirmou que seria possível conferir interpretação conforme a Constituição e dizer que o dispositivo previu
que o valor do benefício seria igual ao salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$ 545).
Após isso, mesmo o salário mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode
acompanhar automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que ele não
pode servir como indexador. Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo contida na lei
estadual seja considerada como um valor certo que vigorava na data da edição da lei, passando a ser corrigido
nos anos seguintes por meio de índice econômico diverso. Com isso, o benefício continua existindo e será
necessário ao governo do Amapá apenas reajustar esse valor por meio de índices econômicos.
STF. Plenário. ADI 4726 MC/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/2/2015 (Info 774)

Taxa progressiva de juros do FGTS e trabalhador avulso


Súmula 571-STJ: A taxa progressiva de juros não se aplica às contas vinculadas ao FGTS de trabalhadores
qualificados como avulsos.

É inconstitucional a remuneração das férias em dobro quando, apesar de concedidas no período


concessivo, forem pagas em atraso
É inconstitucional o pagamento das férias em dobro quando realizado fora do prazo legal, apesar de o
descanso ser concedido na época própria.
O STF declarou inconstitucional a Súmula nº 450 do Tribunal Superior do Trabalho por considerar que houve
violação aos preceitos da legalidade e separação dos Poderes:
Súmula nº 450 da TST - É devido o pagamento em dobro da remuneração de férias, incluído o terço
constitucional, com base no art. 137 da CLT, quando, ainda que gozadas na época própria, o empregador
tenha descumprido o prazo previsto no art. 145 do mesmo diploma legal.
STF. Plenário. ADPF 501/SC, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 08/08/2022.

A dispensa em massa de empregados deve ser precedida da tentativa de diálogo entre a empresa e o
sindicato dos trabalhadores
211

A intervenção sindical prévia é exigência procedimental imprescindível para a dispensa em massa de


trabalhadores, que não se confunde com autorização prévia por parte da entidade sindical ou celebração de
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convenção ou acordo coletivo.

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STF. Plenário. RE 999435/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
8/6/2022 (Repercussão Geral – Tema 638) (Info 1058).

É constitucional norma oriunda de negociação coletiva que, apesar de limitar ou afastar direitos
trabalhistas, assegura aos trabalhadores os direitos absolutamente indisponíveis
São constitucionais os acordos e as convenções coletivos que, ao considerarem a adequação setorial
negociada, pactuam limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas, independentemente da explicitação
especificada de vantagens compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente indisponíveis.
STF. Plenário. ARE 1121633/GO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 1 e 2/6/2022 (Repercussão Geral –
Tema 1046) (Info 1057).

Não se aplica a Taxa Referencial (TR) como índice de correção monetária de débitos trabalhistas
I - É inconstitucional a utilização da Taxa Referencial - TR como índice de atualização dos débitos trabalhistas,
devendo ser aplicados, até que sobrevenha solução legislativa, os mesmos índices de correção monetária e
de juros vigentes para as condenações cíveis em geral, quais sejam a incidência do IPCA-E na fase pré-judicial
e, a partir do ajuizamento da ação, a incidência da taxa SELIC (art. 406 do Código Civil), à exceção das dívidas
da Fazenda Pública, que possuem regramento específico. A incidência de juros moratórios com base na
variação da taxa SELIC não pode ser cumulada com a aplicação de outros índices de atualização monetária,
cumulação que representaria bis in idem;
II - A fim de garantir segurança jurídica e isonomia na aplicação desta tese, devem ser observados os marcos
para modulação dos efeitos da decisão fixados no julgamento conjunto da ADI 5.867, ADI 6.021, ADC 58 e
ADC 59, como segue:
(i) são reputados válidos e não ensejarão qualquer rediscussão, em ação em curso ou em nova demanda,
incluindo ação rescisória, todos os pagamentos realizados utilizando a TR (IPCA-E ou qualquer outro índice),
no tempo e modo oportunos (de forma extrajudicial ou judicial, inclusive depósitos judiciais) e os juros de
mora de 1% ao mês, assim como devem ser mantidas e executadas as sentenças transitadas em julgado que
expressamente adotaram, na sua fundamentação ou no dispositivo, a TR (ou o IPCA-E) e os juros de mora de
1% ao mês;
(ii) os processos em curso que estejam sobrestados na fase de conhecimento, independentemente de
estarem com ou sem sentença, inclusive na fase recursal, devem ter aplicação, de forma retroativa, da taxa
Selic (juros e correção monetária), sob pena de alegação futura de inexigibilidade de título judicial fundado
em interpretação contrária ao posicionamento do STF (art. 525, §§ 12 e 14, ou art. 535, §§ 5º e 7º, do CPC e
(iii) os parâmetros fixados neste julgamento aplicam-se aos processos, ainda que transitados em julgado, em
que a sentença não tenha consignado manifestação expressa quanto aos índices de correção monetária e
taxa de juros (omissão expressa ou simples consideração de seguir os critérios legais).
STF. Plenário. RE 1269353/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/12/2021 (Repercussão Geral – Tema 1191)
(Info 1043).

O art. 790-B, caput e § 4º e o art. 791-A da CLT, com redação dada pela Lei 13.467/2017, são
inconstitucionais; por outro lado, é constitucional o art. 844, § 2º
São inconstitucionais as normas trabalhistas que determinam o pagamento de honorários periciais e
advocatícios por beneficiários da justiça gratuita, caso percam a ação, mas obtenham créditos suficientes
para o pagamento dessas despesas, ainda que em outra demanda.
É constitucional a imposição do pagamento de custas pelo beneficiário da justiça gratuita que faltar à
audiência inicial e não apresentar justificativa legal no prazo de 15 dias.
STF. Plenário. ADI 5766/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes,
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julgado em 20/10/2021 (Info 1035).

Justiça do Trabalho não tem competência para julgar ação na qual entidade sindical discute recolhimento
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de contribuição sindical envolvendo servidores públicos estatutários

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Compete à Justiça comum processar e julgar demandas em que se discute o recolhimento e o repasse de
contribuição sindical de servidores públicos regidos pelo regime estatutário.
STF. Plenário. RE 1089282/AM, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/12/2020 (Repercussão Geral – Tema
994) (Info 1001).

DIREITO AGRÁRIO3
No contrato de parceria agrícola, é possível a previsão de uma cláusula por meio da qual o outorgado (que
irá trabalhar a terra) renuncia ao direito às benfeitorias que realizar?
NÃO. Nos contratos agrários, é NULA a cláusula de renúncia à indenização pelas benfeitorias necessárias e
úteis.
Os contratos de direito agrário são regidos tanto por elementos de direito privado, como por normas de
caráter público e social, de observância obrigatória e, por isso, irrenunciáveis, tendo como finalidade
principal a proteção daqueles que, pelo seu trabalho, tornam a terra produtiva e dela extraem riquezas,
conferindo efetividade à função social da propriedade.
Apesar de sua natureza privada e de ser regulado pelos princípios gerais que regem o direito comum, o
contrato agrário sofre repercussões de direito público em razão de sua importância para o Estado, do
protecionismo que se quer emprestar ao homem do campo, à função social da propriedade e ao meio
ambiente, fazendo com que a máxima do "pacta sunt servanda" não se opere em absoluto nestes casos.
A legislação dos contratos de parceria agrícola preconiza o direito à indenização pelas benfeitorias como
sendo uma cláusula obrigatória. Logo, não pode o contrato de parceria agrícola prever a renúncia à
indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis, sendo nula qualquer disposição nesse sentido.
STJ. 4ª Turma. REsp 1182967-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 9/6/2015 (Info 564).

Os Estados-membros e os Municípios não dispõem do poder de desapropriar imóveis rurais, por interesse
social
Os Estados-membros e os Municípios não dispõem do poder de desapropriar imóveis rurais, por interesse
social, para efeito de reforma agrária, inclusive para fins de implementação de projetos de assentamento
rural ou de estabelecimento de colônias agrícolas. (RE 496.861 AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 30-6-2015, 2ª
T, DJE de 13-8-2015)

Direito de preferência na concessão de título e na concessão de uso não permite que Administração Pública
omita-se de seu dever-poder.
“...A lei confere aos que trabalham no imóvel expropriado o direito à preferência na concessão de título e na
concessão de uso, conforme prevê o art. 19 da Lei nº 8.629/93. Ainda que o termo "preferência" demonstre
certo espectro de discricionariedade administrativa, não se pode admitir que a Administração,
menosprezando a própria lei, omita-se de seu dever-poder, contrariando toda uma gama de princípios do
próprio direito agrário, dentre eles o da justiça social, da função social da terra, da permanência na terra, das
condições de bem-estar e de progresso social e econômico...” (REsp 1.573.263, DJe 13/06/2016)

Possibilidade de o proprietário afastar a sanção do art. 243 da CF/88 se provar que não teve culpa
A expropriação prevista no art. 243 da Constituição Federal pode ser afastada, desde que o proprietário
comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo.
STF. Plenário. RE 635336/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/12/2016 (repercussão geral) (Info 851).
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As varas especializadas em matéria agrária (art. 126 da CF/88) não possuem, necessariamente,
competência restrita apenas à matéria de sua especialização.
Página

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Algumas orientações foram extraídas do material do @raioxdoedital (Acesse: Instagram Raio-X do Edital), disponível
em https://raioxdoedital.com.br/

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Não ofende a CF a legislação estadual que atribui competência aos juízes agrários, ambientais e minerários
para a apreciação de causas penais, cujos delitos tenham sido cometidos em razão de motivação
predominantemente agrária, minerária, fundiária e ambiental.
É inconstitucional dispositivo de lei estadual que atribui competência a juízes estaduais para julgar matérias
de competência da justiça federal.
STF. Plenário. ADI 3433/PA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1/10/2021 (Info 1032).

O direito de preferência para a aquisição do imóvel arrendado não é aplicável à empresa rural de grande
porte
O direito de preferência para a aquisição do imóvel arrendado, previsto no art. 92, § 3º, do Estatuto da Terra,
não é aplicável à empresa rural de grande porte (arrendatária rural).
STJ. 3ª Turma. REsp 1447082-TO, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/5/2016 (Info 583).

É de cinco anos o prazo mínimo para a duração de contrato de arrendamento rural em que ocorra pecuária
de gado bovino
É de cinco anos o prazo mínimo para a duração de contrato de arrendamento rural em que ocorra pecuária
de gado bovino, independentemente da maior ou menor escala da atividade exploratória ou da extensão da
área a que se refira o contrato.
STJ. 3ª Turma. REsp 1336293-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 24/5/2016 (Info 584).

É nula cláusula contratual que fixa o preço do arrendamento rural em frutos ou produtos ou seu
equivalente em dinheiro, nos termos do art. 18, parágrafo único, do Decreto nº 59.566/66.
É nula cláusula contratual que fixa o preço do arrendamento rural em frutos ou produtos ou seu equivalente
em dinheiro, nos termos do art. 18, parágrafo único, do Decreto nº 59.566/66. Essa nulidade não obsta que
o credor proponha ação de cobrança, caso em que o valor devido deve ser apurado, por arbitramento, em
liquidação.
Além disso, o contrato de arrendamento rural que estabelece pagamento em quantidade de produtos pode
ser usado como prova escrita para se ajuizar ação monitória com a finalidade de determinar a entrega de
coisa fungível, considerando que é indício da relação jurídica material subjacente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1266975-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/3/2016 (Info
580).

O falecimento do parceiro outorgante não extingue o contrato de parceria rural.


Os herdeiros somente poderão exercer o direito de retomada ao término do contrato e desde que obedeçam
às regras do Decreto nº 59.566/1966 quanto ao prazo para notificação e às causas para retomada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1459668-MG, Rel. Min. Ricardo Villas BôasCueva, julgado em 05/12/2017 (Info 618).

Não é necessária a outorga uxória para validade e eficácia de contrato de arrendamento rural.
Nos termos do Decreto nº 59.566/66, o arrendamento rural é, por definição legal, o contrato mediante o
qual uma pessoa se obriga a ceder a outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de imóvel rural,
mediante retribuição.
Não há exigência legal de forma especial para a sua plena validade e eficácia, sendo o arrendamento rural
um contrato não solene.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.764.873-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 14/05/2019 (Info 649).

É necessário que a União e a FUNAI executem e implementem atividade de proteção territorial nas terras
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indígenas, independentemente de sua homologação


Nos termos do art. 231 da Constituição Federal, a União tem o dever (e não a escolha de demarcar as terras
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indígenas. Tais demarcações deveriam estar concluídas no prazo de 5 anos, contados da promulgação da
Constituição, conforme art. 67 do ADCT.

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A não homologação das demarcações dessas terras deriva de inércia deliberada do Poder Público, em afronta
ao direito originário dos índios.
Ao afastar a proteção territorial em terras não homologadas, a FUNAI sinaliza a invasores que a União se
absterá de combater atuações irregulares em tais áreas, o que pode constituir um convite à invasão de terras
que são sabidamente cobiçadas por grileiros e madeireiros, bem como à prática de ilícitos de toda ordem.
Além disso, a suspensão da proteção territorial abre caminho para que terceiros passem a ali transitar, o que
põe em risco a saúde dessas comunidades, expondo-as a eventual contágio por COVID-19 e outras
enfermidades.
STF. Plenário. ADPF 709-MC-segunda-Ref/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 25/2/2022 (Info 1045).

A comunidade indígena cuja posse é questionada em ação de nulidade de demarcação deve ser
considerada como litisconsorte passiva necessária
A comunidade indígena cuja posse fundiária é questionada em ação de nulidade de demarcação tem o direito
subjetivo de ser ouvida no processo, na qualidade de litisconsorte passivo necessário.
STJ. 2ª Turma.AgInt na Pet no REsp 1586943-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17/05/2022 (Info
737).

A sobreposição da propriedade rural com área indígena, ainda que o processo de demarcação não tenha
sido concluído, inviabiliza a certificação de georreferenciamento
Caso hipotético: João, proprietário de uma fazenda, realizou o georreferenciamento de seu imóvel rural e,
em seguida, solicitou ao INCRA a atualização cadastral e a certificação das peças técnicas (planta e memorial
descritivo), decorrentes para atender as exigências da Lei 10.267/2001. O INCRA, contudo, recusou-se a fazer
a certificação sob o argumento de que a fazenda estaria sobreposta a uma reserva indígena.
A recusa do INCRA foi correta mesmo se a área indígena ainda não tiver sido demarcada.
As terras ocupadas pelos indígenas são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis
(§ 4º do art. 231 da CF/88). Não pode a Administração ser compelida a certificar situação imobiliária em
descumprimento da lei e Constituição, pois são nulos os títulos particulares sobre terras indígenas, a teor do
§ 6º do art. 231 da CF/88.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1640785-MS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 25/10/2022 (Info 755).

LEI Nº 8.629, DE 25 DE FEVEREIRO DE 1993: PRINCIPAIS ARTIGOS


Art. 2º A propriedade rural que não cumprir a função social prevista no art. 9º é passível de
desapropriação, nos termos desta lei, respeitados os dispositivos constitucionais. (Regulamento)

§ 1o Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural
que não esteja cumprindo sua função social.

§ 2o Para os fins deste artigo, fica a União, através do órgão federal competente, autorizada a
ingressar no imóvel de propriedade particular para levantamento de dados e informações, mediante
prévia comunicação escrita ao proprietário, preposto ou seu representante.

§ 3o Na ausência do proprietário, do preposto ou do representante, a comunicação será feita


mediante edital, a ser publicado, por três vezes consecutivas, em jornal de grande circulação na
capital do Estado de localização do imóvel.

§ 4o Não será considerada, para os fins desta Lei, qualquer modificação, quanto ao domínio, à
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dimensão e às condições de uso do imóvel, introduzida ou ocorrida até seis meses após a data da
comunicação para levantamento de dados e informações de que tratam os §§ 2o e 3o.
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§ 5o No caso de fiscalização decorrente do exercício de poder de polícia, será dispensada a


comunicação de que tratam os §§ 2o e 3o.

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§ 6o O imóvel rural de domínio público ou particular objeto de esbulho possessório ou invasão
motivada por conflito agrário ou fundiário de caráter coletivo não será vistoriado, avaliado ou
desapropriado nos dois anos seguintes à sua desocupação, ou no dobro desse prazo, em caso de
reincidência; e deverá ser apurada a responsabilidade civil e administrativa de quem concorra com
qualquer ato omissivo ou comissivo que propicie o descumprimento dessas vedações.

§ 7o Será excluído do Programa de Reforma Agrária do Governo Federal quem, já estando


beneficiado com lote em Projeto de Assentamento, ou sendo pretendente desse benefício na
condição de inscrito em processo de cadastramento e seleção de candidatos ao acesso à terra, for
efetivamente identificado como participante direto ou indireto em conflito fundiário que se
caracterize por invasão ou esbulho de imóvel rural de domínio público ou privado em fase de
processo administrativo de vistoria ou avaliação para fins de reforma agrária, ou que esteja sendo
objeto de processo judicial de desapropriação em vias de imissão de posse ao ente expropriante; e
bem assim quem for efetivamente identificado como participante de invasão de prédio público, de
atos de ameaça, seqüestro ou manutenção de servidores públicos e outros cidadãos em cárcere
privado, ou de quaisquer outros atos de violência real ou pessoal praticados em tais situações.

§ 8o A entidade, a organização, a pessoa jurídica, o movimento ou a sociedade de fato que, de


qualquer forma, direta ou indiretamente, auxiliar, colaborar, incentivar, incitar, induzir ou participar
de invasão de imóveis rurais ou de bens públicos, ou em conflito agrário ou fundiário de caráter
coletivo, não receberá, a qualquer título, recursos públicos.

§ 9o Se, na hipótese do § 8o, a transferência ou repasse dos recursos públicos já tiverem sido
autorizados, assistirá ao Poder Público o direito de retenção, bem assim o de rescisão do contrato,
convênio ou instrumento similar.

Art. 2o-A. Na hipótese de fraude ou simulação de esbulho ou invasão, por parte do proprietário ou
legítimo possuidor do imóvel, para os fins dos §§ 6o e 7o do art. 2o, o órgão executor do Programa
Nacional de Reforma Agrária aplicará pena administrativa de R$ 55.000,00 (cinqüenta e cinco mil
reais) a R$ 535.000,00 (quinhentos e trinta e cinco mil reais) e o cancelamento do cadastro do imóvel
no Sistema Nacional de Cadastro Rural, sem prejuízo das demais sanções penais e civis cabíveis.

Parágrafo único. Os valores a que se refere este artigo serão atualizados, a partir de maio de 2000,
no dia 1o de janeiro de cada ano, com base na variação acumulada do Índice Geral de Preços -
Disponibilidade Interna - IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas, no respectivo período.

Art. 4º Para os efeitos desta lei, conceituam-se:

I- Imóvel Rural - o prédio rústico de área contínua, qualquer que seja a sua localização, que se destine
ou possa se destinar à exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou agro-industrial;

II - Pequena Propriedade - o imóvel rural:


a) de área até quatro módulos fiscais, respeitada a fração mínima de parcelamento; (Redação dada
pela Lei nº 13.465, de 2017)

III - Média Propriedade - o imóvel rural:


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a) de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais;

§ 1o São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária a pequena e a média


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propriedade rural, desde que o seu proprietário não possua outra propriedade rural. (Redação dada
pela nº Lei nº 13.465, de 2017)

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§ 2o É obrigatória a manutenção no Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR) de informações
específicas sobre imóveis rurais com área de até um módulo fiscal.

Art. 5º A desapropriação por interesse social, aplicável ao imóvel rural que não cumpra sua função
social, importa prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária.

§ 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.

§ 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza
a União a propor ação de desapropriação.

§ 3º Os títulos da dívida agrária, que conterão cláusula assecuratória de preservação de seu valor
real, serão resgatáveis a partir do segundo ano de sua emissão, em percentual proporcional ao prazo,
observados os seguintes critérios:

I - do segundo ao décimo quinto ano, quando emitidos para indenização de imóvel com área de até
setenta módulos fiscais;

II - do segundo ao décimo oitavo ano, quando emitidos para indenização de imóvel com área acima
de setenta e até cento e cinqüenta módulos fiscais; e

III - do segundo ao vigésimo ano, quando emitidos para indenização de imóvel com área superior a
cento e cinqüenta módulos fiscais.

§ 4o Na hipótese de acordo administrativo ou acordo realizado no âmbito do procedimento previsto


na Lei Complementar no 76, de 6 de julho de 1993, o pagamento será efetuado de forma escalonada
em Títulos da Dívida Agrária (TDA), resgatáveis em parcelas anuais, iguais e sucessivas, a partir do
segundo ano de sua emissão, observadas as seguintes condições:

I - imóveis com área de até três mil hectares, no prazo de cinco anos;

II - imóveis com área superior a três mil hectares:


a) o valor relativo aos primeiros três mil hectares, no prazo de cinco anos;
b) o valor relativo à área superior a três mil e até dez mil hectares, em dez anos;
c) o valor relativo à área superior a dez mil hectares até quinze mil hectares, em quinze anos; e
d) o valor da área que exceder quinze mil hectares, em vinte anos.

§ 5o Os prazos previstos no § 4o, quando iguais ou superiores a dez anos, poderão ser reduzidos em
cinco anos, desde que o proprietário concorde em receber o pagamento do valor das benfeitorias
úteis e necessárias integralmente em TDA.

§ 6o Aceito pelo proprietário o pagamento das benfeitorias úteis e necessárias em TDA, os prazos
de resgates dos respectivos títulos serão fixados mantendo-se a mesma proporcionalidade
estabelecida para aqueles relativos ao valor da terra e suas acessões naturais.

§ 7o Na aquisição por compra e venda ou na arrematação judicial de imóveis rurais destinados à


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implementação de projetos integrantes do Programa Nacional de Reforma Agrária, o pagamento


poderá ser feito em dinheiro, na forma estabelecida em regulamento.
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§ 8o Na hipótese de decisão judicial transitada em julgado fixar a indenização da terra nua ou das
benfeitorias indenizáveis em valor superior ao ofertado pelo expropriante, corrigido
monetariamente, a diferença será paga na forma do art. 100 da Constituição Federal.

§ 9o Se houver imissão prévia na posse e, posteriormente, for verificada divergência entre o preço
ofertado em juízo e o valor do bem fixado na sentença definitiva, expressos em termos reais, sobre
a diferença eventualmente apurada incidirão juros compensatórios a contar da imissão de posse, em
percentual correspondente ao fixado para os títulos da dívida agrária depositados como oferta inicial
para a terra nua, vedado o cálculo de juros compostos.

Art. 6º Considera-se propriedade produtiva aquela que, explorada econômica e racionalmente,


atinge, simultaneamente, graus de utilização da terra e de eficiência na exploração, segundo índices
fixados pelo órgão federal competente.

§ 1º O grau de utilização da terra, para efeito do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a
80% (oitenta por cento), calculado pela relação percentual entre a área efetivamente utilizada e a
área aproveitável total do imóvel.

§ 2º O grau de eficiência na exploração da terra deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento),
e será obtido de acordo com a seguinte sistemática:

I - para os produtos vegetais, divide-se a quantidade colhida de cada produto pelos respectivos
índices de rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada
Microrregião Homogênea;

II - para a exploração pecuária, divide-se o número total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo
índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião
Homogênea;

III - a soma dos resultados obtidos na forma dos incisos I e II deste artigo, dividida pela área
efetivamente utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau de eficiência na exploração.

§ 3º Considera-se efetivamente utilizadas:

I - as áreas plantadas com produtos vegetais;

II - as áreas de pastagens nativas e plantadas, observado o índice de lotação por zona de pecuária,
fixado pelo Poder Executivo;

III - as áreas de exploração extrativa vegetal ou florestal, observados os índices de rendimento


estabelecidos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea, e a
legislação ambiental;

IV - as áreas de exploração de florestas nativas, de acordo com plano de exploração e nas condições
estabelecidas pelo órgão federal competente;

V - as áreas sob processos técnicos de formação ou recuperação de pastagens ou de culturas


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permanentes, tecnicamente conduzidas e devidamente comprovadas, mediante documentação e


Anotação de Responsabilidade Técnica.
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§ 4º No caso de consórcio ou intercalação de culturas, considera-se efetivamente utilizada a área


total do consórcio ou intercalação.

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§ 5º No caso de mais de um cultivo no ano, com um ou mais produtos, no mesmo espaço, considera-
se efetivamente utilizada a maior área usada no ano considerado.

§ 6º Para os produtos que não tenham índices de rendimentos fixados, adotar-se-á a área utilizada
com esses produtos, com resultado do cálculo previsto no inciso I do § 2º deste artigo.

§ 7º Não perderá a qualificação de propriedade produtiva o imóvel que, por razões de força maior,
caso fortuito ou de renovação de pastagens tecnicamente conduzida, devidamente comprovados
pelo órgão competente, deixar de apresentar, no ano respectivo, os graus de eficiência na
exploração, exigidos para a espécie.

§ 8º São garantidos os incentivos fiscais referentes ao Imposto Territorial Rural relacionados com os
graus de utilização e de eficiência na exploração, conforme o disposto no art. 49 da Lei nº 4.504, de
30 de novembro de 1964.

Art. 7º Não será passível de desapropriação, para fins de reforma agrária, o imóvel que comprove
estar sendo objeto de implantação de projeto técnico que atenda aos seguintes requisitos:

I - seja elaborado por profissional legalmente habilitado e identificado;

II - esteja cumprindo o cronograma físico-financeiro originalmente previsto, não admitidas


prorrogações dos prazos;

III - preveja que, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da área total aproveitável do imóvel seja
efetivamente utilizada em, no máximo, 3 (três) anos para as culturas anuais e 5 (cinco) anos para as
culturas permanentes;

IV - haja sido aprovado pelo órgão federal competente, na forma estabelecida em regulamento, no
mínimo seis meses antes da comunicação de que tratam os §§ 2o e 3o do art. 2o. (Redação dada
pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)

Parágrafo único. Os prazos previstos no inciso III deste artigo poderão ser prorrogados em até 50%
(cinqüenta por cento), desde que o projeto receba, anualmente, a aprovação do órgão competente
para fiscalização e tenha sua implantação iniciada no prazo de 6 (seis) meses, contado de sua
aprovação.

Art. 8º Ter-se-á como racional e adequado o aproveitamento de imóvel rural, quando esteja
oficialmente destinado à execução de atividades de pesquisa e experimentação que objetivem o
avanço tecnológico da agricultura.

Parágrafo único. Para os fins deste artigo só serão consideradas as propriedades que tenham
destinados às atividades de pesquisa, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da área total aproveitável
do imóvel, sendo consubstanciadas tais atividades em projeto:

I - adotado pelo Poder Público, se pertencente a entidade de administração direta ou indireta, ou a


empresa sob seu controle;
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II - aprovado pelo Poder Público, se particular o imóvel.


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Art. 9º A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo
graus e critérios estabelecidos nesta lei, os seguintes requisitos:

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I - aproveitamento racional e adequado;

II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;

III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

§ 1º Considera-se racional e adequado o aproveitamento que atinja os graus de utilização da terra e


de eficiência na exploração especificados nos §§ 1º a 7º do art. 6º desta lei.

§ 2º Considera-se adequada a utilização dos recursos naturais disponíveis quando a exploração se faz
respeitando a vocação natural da terra, de modo a manter o potencial produtivo da propriedade.

§ 3º Considera-se preservação do meio ambiente a manutenção das características próprias do meio


natural e da qualidade dos recursos ambientais, na medida adequada à manutenção do equilíbrio
ecológico da propriedade e da saúde e qualidade de vida das comunidades vizinhas.

§ 4º A observância das disposições que regulam as relações de trabalho implica tanto o respeito às
leis trabalhistas e aos contratos coletivos de trabalho, como às disposições que disciplinam os
contratos de arrendamento e parceria rurais.

§ 5º A exploração que favorece o bem-estar dos proprietários e trabalhadores rurais é a que objetiva
o atendimento das necessidades básicas dos que trabalham a terra, observa as normas de segurança
do trabalho e não provoca conflitos e tensões sociais no imóvel.

Art. 10. Para efeito do que dispõe esta lei, consideram-se não aproveitáveis:

I - as áreas ocupadas por construções e instalações, excetuadas aquelas destinadas a fins produtivos,
como estufas, viveiros, sementeiros, tanques de reprodução e criação de peixes e outros
semelhantes;

II - as áreas comprovadamente imprestáveis para qualquer tipo de exploração agrícola, pecuária,


florestal ou extrativa vegetal;

III - as áreas sob efetiva exploração mineral;

IV - as áreas de efetiva preservação permanente e demais áreas protegidas por legislação relativa à
conservação dos recursos naturais e à preservação do meio ambiente.

V - as áreas com remanescentes de vegetação nativa efetivamente conservada não protegidas pela
legislação ambiental e não submetidas a exploração nos termos do inciso IV do § 3º do art. 6º desta
Lei. (Incluído pela Lei nº 14.119, de 2021)

Art. 12. Considera-se justa a indenização que reflita o preço atual de mercado do imóvel em sua
totalidade, aí incluídas as terras e acessões naturais, matas e florestas e as benfeitorias indenizáveis,
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observados os seguintes aspectos:

I - localização do imóvel;
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II - aptidão agrícola;

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III - dimensão do imóvel;

IV - área ocupada e ancianidade das posses;

V - funcionalidade, tempo de uso e estado de conservação das benfeitorias.

§ 1o Verificado o preço atual de mercado da totalidade do imóvel, proceder-se-á à dedução do valor


das benfeitorias indenizáveis a serem pagas em dinheiro, obtendo-se o preço da terra a ser
indenizado em TDA.

§ 2o Integram o preço da terra as florestas naturais, matas nativas e qualquer outro tipo de
vegetação natural, não podendo o preço apurado superar, em qualquer hipótese, o preço de
mercado do imóvel.

§ 3o O Laudo de Avaliação será subscrito por Engenheiro Agrônomo com registro de Anotação de
Responsabilidade Técnica - ART, respondendo o subscritor, civil, penal e administrativamente, pela
superavaliação comprovada ou fraude na identificação das informações.

Art. 13. As terras rurais de domínio da União, dos Estados e dos Municípios ficam destinadas,
preferencialmente, à execução de planos de reforma agrária.

Parágrafo único. Excetuando-se as reservas indígenas e os parques, somente se admitirá a existência


de imóveis rurais de propriedade pública, com objetivos diversos dos previstos neste artigo, se o
poder público os explorar direta ou indiretamente para pesquisa, experimentação, demonstração e
fomento de atividades relativas ao desenvolvimento da agricultura, pecuária, preservação ecológica,
áreas de segurança, treinamento militar, educação de todo tipo, readequação social e defesa
nacional.
(...)

Art. 18. A distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária far-se-á por meio de títulos de domínio,
concessão de uso ou concessão de direito real de uso - CDRU instituído pelo art. 7o do Decreto-Lei
no 271, de 28 de fevereiro de 1967.

§ 1o Os títulos de domínio e a CDRU são inegociáveis pelo prazo de dez anos, contado da data de
celebração do contrato de concessão de uso ou de outro instrumento equivalente, observado o
disposto nesta Lei.

§ 2o Na implantação do projeto de assentamento, será celebrado com o beneficiário do programa


de reforma agrária contrato de concessão de uso, gratuito, inegociável, de forma individual ou
coletiva, que conterá cláusulas resolutivas, estipulando-se os direitos e as obrigações da entidade
concedente e dos concessionários, assegurando-se a estes o direito de adquirir título de domínio ou
a CDRU nos termos desta Lei.

§ 3o O título de domínio e a CDRU conterão cláusulas resolutivas e será outorgado ao beneficiário


do programa de reforma agrária, de forma individual ou coletiva, após a realização dos serviços de
medição e demarcação topográfica do imóvel a ser alienado.
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§ 4o Regulamento disporá sobre as condições e a forma de outorga dos títulos de domínio e da CDRU
aos beneficiários dos projetos de assentamento do Programa Nacional de Reforma Agrária.
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§ 5o O valor da alienação, na hipótese de outorga de título de domínio, considerará o tamanho da
área e será estabelecido entre 10% (dez por cento) e 50% (cinquenta por cento) do valor mínimo da
pauta de valores da terra nua para fins de titulação e regularização fundiária elaborada pelo Incra,
com base nos valores de imóveis avaliados para a reforma agrária, conforme regulamento.

§ 6o As condições de pagamento, carência e encargos financeiros serão definidas em regulamento,


não podendo ser superiores às condições estabelecidas para os financiamentos concedidos ao
amparo da Lei Complementar no 93, de 4 de fevereiro de 1998, e alcançarão os títulos de domínio
cujos prazos de carência ainda não expiraram.

§ 7o A alienação de lotes de até 1 (um) módulo fiscal, em projetos de assentamento criados em


terras devolutas discriminadas e registradas em nome do Incra ou da União, ocorrerá de forma
gratuita.

§ 8o São considerados não reembolsáveis:

I - os valores relativos às obras de infraestrutura de interesse coletivo;

II - aos custos despendidos com o plano de desenvolvimento do assentamento; e

III - aos serviços de medição e demarcação topográficos.

§ 9o O título de domínio ou a CDRU de que trata o caput poderão ser concedidos aos beneficiários
com o cumprimento das obrigações estabelecidas com fundamento no inciso V do art. 17 desta Lei e
no regulamento.

§ 10. Falecendo qualquer dos concessionários do contrato de concessão de uso ou de CDRU, seus
herdeiros ou legatários receberão o imóvel, cuja transferência será processada administrativamente,
não podendo fracioná-lo.

§ 11. Os herdeiros ou legatários que adquirirem, por sucessão, a posse do imóvel não poderão
fracioná-lo.

§ 12. O órgão federal executor do programa de reforma agrária manterá atualizado o cadastro de
áreas desapropriadas e das adquiridas por outros meios e de beneficiários da reforma agrária e
disponibilizará os dados na rede mundial de computadores.

§ 13. Os títulos de domínio, a concessão de uso ou a CDRU a que se refere o caput deste artigo serão
conferidos ao homem, na ausência de cônjuge ou companheira, à mulher, na ausência de cônjuge ou
companheiro, ou ao homem e à mulher, obrigatoriamente, nos casos de casamento ou união estável.

§ 14. Para fins de interpretação, a outorga coletiva a que se refere o § 3o deste artigo não permite a
titulação, provisória ou definitiva, a pessoa jurídica.

§ 15. Os títulos emitidos sob a vigência de norma anterior poderão ter seus valores reenquadrados,
de acordo com o previsto no § 5o deste artigo, mediante requerimento do interessado, observados
os termos estabelecidos em regulamento e vedada a restituição de valores já pagos que
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eventualmente excedam o valor devido após o reenquadramento.

Art. 18-A. Os lotes a serem distribuídos pelo Programa Nacional de Reforma Agrária não poderão ter
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área superior a 2 (dois) módulos fiscais ou inferior à fração mínima de parcelamento.

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§ 1o Fica o Incra autorizado, nos assentamentos com data de criação anterior ao período de dois
anos, contado retroativamente a partir de 22 de dezembro de 2016, a conferir o título de domínio
ou a CDRU relativos às áreas em que ocorreram desmembramentos ou remembramentos após a
concessão de uso, desde que observados os seguintes requisitos:

I - observância da fração mínima de parcelamento e do limite de área de até quatro módulos fiscais
por beneficiário, observado o disposto no art. 8o da Lei no 5.868, de 12 de dezembro de 1972;

II - o beneficiário não possua outro imóvel a qualquer título;

III - o beneficiário preencha os requisitos exigidos no art. 3o da Lei no 11.326, de 24 de julho de 2006;
e

IV - o desmembramento ou o remembramento seja anterior ao período de dois anos, contado


retroativamente a partir de 22 de dezembro de 2016.

§ 2o O beneficiário titulado nos termos do § 1o não fará jus aos créditos de instalação de que trata
o art. 17 desta Lei.

§ 3o Os títulos concedidos nos termos do § 1o deste artigo são inegociáveis pelo prazo de dez anos,
contado da data de sua expedição.

Art. 24. As ações de reforma agrária devem ser compatíveis com as ações da política agrícola, das
políticas sociais e das constantes no Plano Plurianual da União.

Art. 25. O orçamento da União fixará, anualmente, o volume de títulos da dívida agrária e dos
recursos destinados, no exercício, ao atendimento do Programa de Reforma Agrária.

§ 1º Os recursos destinados à execução do Plano Nacional de Reforma Agrária deverão constar do


orçamento do ministério responsável por sua implementação e do órgão executor da política de
colonização e reforma agrária, salvo aqueles que, por sua natureza, exijam instituições especializadas
para a sua aplicação.

§ 2º Objetivando a compatibilização dos programas de trabalho e propostas orçamentárias, o órgão


executor da reforma agrária encaminhará, anualmente e em tempo hábil, aos órgãos da
administração pública responsáveis por ações complementares, o programa a ser implantado no ano
subseqüente.

Art. 26. São isentas de impostos federais, estaduais e municipais, inclusive do Distrito Federal, as
operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária, bem como a
transferência ao beneficiário do programa.

Art. 26-A. Não serão cobradas custas ou emolumentos para registro de títulos translativos de domínio
de imóveis rurais desapropriados para fins de reforma agrária.

REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA (LEI Nº 11.952/2009) – PRINCIPAIS ARTIGOS:


Art. 3o São passíveis de regularização fundiária nos termos desta Lei as ocupações incidentes em
223

terras:

I - discriminadas, arrecadadas e registradas em nome da União com base no art. 1o do Decreto-Lei


Página

no 1.164, de 1o de abril de 1971;

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II - abrangidas pelas exceções dispostas no parágrafo único do art. 1o do Decreto-Lei no 2.375, de 24
de novembro de 1987;

III - remanescentes de núcleos de colonização ou de projetos de reforma agrária que tiverem perdido
a vocação agrícola e se destinem à utilização urbana;

IV - devolutas localizadas em faixa de fronteira; ou

V - registradas em nome do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Incra, ou por ele
administradas.

Parágrafo único. Esta Lei aplica-se subsidiariamente a outras áreas sob domínio da União, na
Amazônia Legal, sem prejuízo da utilização dos instrumentos previstos na legislação patrimonial.

Art. 4o Não serão passíveis de alienação ou concessão de direito real de uso, nos termos desta Lei,
as ocupações que recaiam sobre áreas:

I - reservadas à administração militar federal e a outras finalidades de utilidade pública ou de


interesse social a cargo da União;

II - tradicionalmente ocupadas por população indígena;

III - de florestas públicas, nos termos da Lei no 11.284, de 2 de março de 2006, de unidades de
conservação ou que sejam objeto de processo administrativo voltado à criação de unidades de
conservação, conforme regulamento; ou

IV - que contenham acessões ou benfeitorias federais.

§ 1o As áreas ocupadas que abranjam parte ou a totalidade de terrenos de marinha, terrenos


marginais ou reservados, seus acrescidos ou outras áreas insuscetíveis de alienação nos termos do
art. 20 da Constituição Federal, poderão ser regularizadas mediante outorga de título de concessão
de direito real de uso.

§ 2o As terras ocupadas por comunidades quilombolas ou tradicionais que façam uso coletivo da
área serão regularizadas de acordo com as normas específicas, aplicando-se-lhes, no que couber, os
dispositivos desta Lei.

CAPÍTULO II
DA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA EM ÁREAS RURAIS

Art. 5o Para regularização da ocupação, nos termos desta Lei, o ocupante e seu cônjuge ou
companheiro deverão atender os seguintes requisitos:

I - ser brasileiro nato ou naturalizado;

II - não ser proprietário de imóvel rural em qualquer parte do território nacional;


224

III - praticar cultura efetiva;


Página

IV - comprovar o exercício de ocupação e exploração direta, mansa e pacífica, por si ou por seus
antecessores, anterior a 22 de julho de 2008; (Redação dada pela Lei nº 13.465, de 2017)

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V - não ter sido beneficiado por programa de reforma agrária ou de regularização fundiária de área
rural, ressalvadas as situações admitidas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário.

§ 1o Fica vedada a regularização de ocupações em que o ocupante ou seu cônjuge ou companheiro


exerçam cargo ou emprego público:

I - no Incra;

II - na Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário da Casa Civil da


Presidência da República;

III - na Secretaria do Patrimônio da União (SPU); ou

IV - nos órgãos estaduais de terras.

§ 2o (Revogado).

(...)

Art. 15. O título de domínio ou, no caso previsto no § 4o do art. 6o, o termo de concessão de direito
real de uso deverá conter, entre outras, cláusulas que determinem, pelo prazo de dez anos, sob
condição resolutiva, além da inalienabilidade do imóvel: (Redação dada pela Lei nº 13.465, de 2017)
(Vide ADIN nº 4.269)

I - a manutenção da destinação agrária, por meio de prática de cultura efetiva;

II - o respeito à legislação ambiental, em especial quanto ao cumprimento do disposto no Capítulo VI


da Lei no 12.651, de 25 de maio de 2012;

III - a não exploração de mão de obra em condição análoga à de escravo; e

IV - as condições e a forma de pagamento.

§ 1o Na hipótese de pagamento por prazo superior a dez anos, a eficácia da cláusula resolutiva
prevista no inciso IV do caput deste artigo estender-se-á até a integral quitação.

§ 2o Ficam extintas as condições resolutivas na hipótese de o beneficiário optar por realizar o


pagamento integral do preço do imóvel, equivalente a 100% (cem por cento) do valor médio da terra
nua estabelecido na forma dos §§ 1o e 2o do art. 12 desta Lei, vigente à época do pagamento,
respeitado o período de carência previsto no art. 17 desta Lei e cumpridas todas as condições
resolutivas até a data do pagamento.

§ 3o O disposto no § 2o deste artigo aplica-se aos imóveis de até um módulo fiscal.

§ 4o (Revogado).
225

§ 5o (Revogado).

§ 6o O beneficiário que transferir ou negociar por qualquer meio o título obtido nos termos desta
Página

Lei não poderá ser beneficiado novamente em programas de reforma agrária ou de regularização
fundiária.

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Art. 16. As condições resolutivas do título de domínio e do termo de concessão de uso somente
serão liberadas após a verificação de seu cumprimento.

§ 1o O cumprimento do contrato deverá ser comprovado nos autos, por meio de juntada da
documentação pertinente, nos termos estabelecidos em regulamento.

§ 2o Caso a análise de que trata o § 1o não seja suficiente para atestar o cumprimento das condições
resolutivas, deverá ser realizada vistoria.

§ 3o A administração deverá, no prazo máximo de doze meses, contado da data do protocolo,


concluir a análise do pedido de liberação das condições resolutivas.

Art. 17. O valor do imóvel fixado na forma do art. 12 será pago pelo beneficiário da regularização
fundiária em prestações amortizáveis em até 20 (vinte) anos, com carência de até 3 (três) anos.

§ 1o Sobre o valor fixado incidirão encargos financeiros na forma estabelecida em regulamento.

§ 2o Na hipótese de pagamento à vista, será concedido desconto de 20% (vinte por cento), caso o
pagamento ocorra em até cento e oitenta dias, contados da data de entrega do título.

§ 3o O disposto no § 2o deste artigo não se aplica à hipótese de pagamento integral prevista no §


2o do art. 15 desta Lei.

§ 4o Os títulos emitidos anteriormente a esta Lei terão seus valores passíveis de enquadramento no
previsto nesta Lei mediante requerimento do interessado, observados os termos estabelecidos em
regulamento e vedada a restituição de valores já pagos que, por conta do enquadramento,
eventualmente excedam ao que se tornou devido.

Art. 18. O descumprimento das condições resolutivas pelo titulado implica resolução de pleno direito
do título de domínio ou do termo de concessão, declarada no processo administrativo que apurar o
descumprimento das cláusulas resolutivas, assegurados os princípios da ampla defesa e do
contraditório.

Parágrafo único. (Revogado).

§ 1o A análise do cumprimento das cláusulas resolutivas recairá estritamente sobre o período de


vigência das obrigações contratuais, tomando-se a mais longa como termo final.

§ 2o O descumprimento das obrigações após o período de vigência das cláusulas contratuais não
gerará o efeito previsto no caput deste artigo.

§ 3o O descumprimento das obrigações pelo titulado durante a vigência das cláusulas resolutivas
deverá ser demonstrado nos autos do processo administrativo por meio de prova material ou
documental.

§ 4o A prova material ou documental a que se refere o § 3o deste artigo será considerada essencial
226

à propositura de ação judicial reivindicatória de domínio.

§ 5o Em caso de inexistência da prova de que trata o § 4o, fica a Advocacia-Geral da União autorizada
Página

a desistir das ações já ajuizadas.

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§ 6o Na análise acerca do cumprimento das obrigações contratuais constantes dos títulos emitidos
anteriormente a 25 de junho de 2009, deverão ser ratificadas as vistorias realizadas em data anterior
à promulgação da Constituição Federal, a requerimento do interessado, garantidos o contraditório e
a ampla defesa.

§ 7o Resolvido o título de domínio ou o termo de concessão na forma do caput deste artigo, o


contratante:

I - terá direito à indenização pelas acessões e pelas benfeitorias, necessárias e úteis, podendo
levantar as voluptuárias no prazo máximo de cento e oitenta dias após a desocupação do imóvel, sob
pena de perda delas em proveito do alienante;

II - terá direito à restituição dos valores pagos com a devida atualização monetária, deduzido o
percentual das quantias abaixo:

a) 15% (quinze por cento) do valor pago a título de multa compensatória; e

b) 0,3% (três décimos por cento) do valor atualizado do contrato por cada mês de ocupação do imóvel
desde o início do contrato, a título de indenização pela fruição;

III - estará desobrigado de pagar eventual saldo devedor remanescente na hipótese de o montante
das quantias indicadas nas alíneas a e b do inciso II deste parágrafo eventualmente exceder ao valor
total pago a título de preço.

§ 8o A critério da administração pública federal, exclusivamente em casos de interesse social na


destinação da área, havendo desocupação voluntária, o ocupante poderá receber compensação
financeira pelas benfeitorias úteis ou necessárias edificadas até a data de notificação da decisão que
declarou a resolução do título de domínio ou da concessão.

§ 9o Ato do Poder Executivo disporá sobre regulamento para disciplinar o valor e o limite da
compensação financeira, além de estabelecer os prazos para pagamento e para a desocupação
prevista no § 7o deste artigo.

§ 10. Na hipótese de a área titulada passar a integrar a zona urbana ou de expansão urbana, deverá
ser priorizada a análise do requerimento de liberação das condições resolutivas.

LEI Nº 13.178, DE 22 DE OUTUBRO DE 2015 – PRINCIPAIS ARTIGOS:


Art. 1º São ratificados pelos efeitos desta Lei os registros imobiliários referentes a imóveis rurais com
origem em títulos de alienação ou de concessão de terras devolutas expedidos pelos Estados em
faixa de fronteira, incluindo os seus desmembramentos e remembramentos, devidamente inscritos
no Registro de Imóveis até a data de publicação desta Lei, desde que a área de cada registro não
exceda ao limite de quinze módulos fiscais, exceto os registros imobiliários referentes a imóveis
rurais: (Vide ADI 5623)

I - cujo domínio esteja sendo questionado ou reivindicado na esfera administrativa ou judicial por
órgão ou entidade da administração federal direta e indireta;
227

I – cujo domínio esteja sendo questionado nas esferas administrativa ou judicial por órgão ou
entidade da administração federal direta e indireta até a data de publicação da alteração deste inciso;
(Redação dada pela Lei nº 14.177, de 2021)
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II - que sejam objeto de ações de desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária
ajuizadas até a data de publicação desta Lei.

Parágrafo único. Na hipótese de haver sobreposição entre a área correspondente ao registro


ratificado e a área correspondente a título de domínio de outro particular, a ratificação não produzirá
efeitos na definição de qual direito prevalecerá.

§ 1º . Na hipótese de haver sobreposição entre a área correspondente ao registro ratificado e a área


correspondente a título de domínio de outro particular, a ratificação não produzirá efeitos na
definição de qual direito prevalecerá. (Renumerado do parágrafo único da Lei nº 14.177, de 2021)

Art. 4º Caso a desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária recaia sobre imóvel
rural, inscrito no Registro Geral de Imóveis em nome de particular, que não tenha sido destacado,
validamente, do domínio público por título formal ou por força de legislação específica, o Estado no
qual esteja situada a área será citado para integrar a ação de desapropriação.

§ 1º Nas ações judiciais em andamento, o órgão federal responsável requererá a citação do Estado.

§ 2º Em qualquer hipótese, feita a citação, se o Estado reivindicar o domínio do imóvel, o valor


depositado ficará retido até decisão final sobre a propriedade da área.

§ 3º Nas situações de que trata este artigo, caso venha a ser reconhecido o domínio do Estado sobre
a área, fica a União previamente autorizada a desapropriar o imóvel rural de domínio do Estado,
prosseguindo a ação de desapropriação em relação a este.

LEGISLAÇÃO SOBRE EDUCAÇÃO E CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO4


Constitucionalidade do sistema de cotas em universidades com critério étnico-racial
O sistema de cotas em universidades públicas, com base em critério étnico-racial, é CONSTITUCIONAL. No
entanto, as políticas de ação afirmativa baseadas no critério racial possuem natureza transitória.
STF. Plenário. ADPF 186/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 25 e 26/4/2012 (Info 663).

É inconstitucional lei estadual que dispõe sobre a aceitação de diplomas expedidos por universidades
estrangeiras
Invade a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional lei
estadual que dispõe sobre reconhecimento de diploma obtido por instituições de ensino superior de países
estrangeiros.
STF. Plenário. ADI 6592/AM, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2021 (Info 1028).

Revalidação de diploma estrangeiro


O registro de diploma estrangeiro no Brasil está submetido a prévio processo de revalidação, segundo o
regime previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (art. 48, § 2º, da Lei 9.394/1996).
Não existe qualquer dispositivo legal que proíba a universidade de exigir um processo seletivo para aceitar o
pedido de revalidação de diploma, além do que isso está inserido na autonomia didático-científica e
administrativa da Instituição (art. 53, V, da Lei 9.394/1996 e art. 207 da CF/88).
228
Página

4
Algumas orientações foram extraídas do material do @raioxdoedital (Acesse: Instagram Raio-X do Edital) , disponível
em https://raioxdoedital.com.br/

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Portanto, desde que observados os requisitos legais e os princípios constitucionais, deve-se garantir às
universidades a liberdade para editar regras específicas acerca do procedimento destinado à revalidação de
diplomas expedidos por universidades estrangeiras.
Assim, é legal a exigência feita por universidade, com base em resolução por ela editada, de prévia aprovação
em processo seletivo como condição para apreciar pedido de revalidação de diploma obtido em instituição
de ensino estrangeira.
STJ. 1ª Seção. REsp 1349445-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/5/2013 (recurso
repetitivo) (Info 520).

LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996


Principais artigos
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais
de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;

IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;

V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

VII - valorização do profissional da educação escolar;

VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;

IX - garantia de padrão de qualidade;

X - valorização da experiência extra-escolar;

XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

XII - consideração com a diversidade étnico-racial.

XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao longo da vida.

XIV - respeito à diversidade humana, linguística, cultural e identitária das pessoas surdas, surdo-cegas
e com deficiência auditiva. (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)

TÍTULO III
229

Do Direito à Educação e do Dever de Educar

Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:
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I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada
da seguinte forma:

a) pré-escola;

b) ensino fundamental;

c) ensino médio;

II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco) anos de idade;

III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas
e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino;

IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e médio para todos os que não os concluíram
na idade própria;

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a
capacidade de cada um;

VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;

VII - oferta de educação escolar regular para jovens e adultos, com características e modalidades
adequadas às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as
condições de acesso e permanência na escola;

VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;

IX – padrões mínimos de qualidade do ensino, definidos como a variedade e a quantidade mínimas,


por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem
adequados à idade e às necessidades específicas de cada estudante, inclusive mediante a provisão
de mobiliário, equipamentos e materiais pedagógicos apropriados;

X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino fundamental mais próxima de sua
residência a toda criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade.

XI – alfabetização plena e capacitação gradual para a leitura ao longo da educação básica como
requisitos indispensáveis para a efetivação dos direitos e objetivos de aprendizagem e para o
desenvolvimento dos indivíduos. (Incluído pela Lei nº 14.407, de 2022)

XII - educação digital, com a garantia de conectividade de todas as instituições públicas de educação
básica e superior à internet em alta velocidade, adequada para o uso pedagógico, com o
desenvolvimento de competências voltadas ao letramento digital de jovens e adultos, criação de
conteúdos digitais, comunicação e colaboração, segurança e resolução de problemas. (Incluído
pela Lei nº 14.533, de 2023)
230

Parágrafo único. Para efeitos do disposto no inciso XII do caput deste artigo, as relações entre o
ensino e a aprendizagem digital deverão prever técnicas, ferramentas e recursos digitais que
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fortaleçam os papéis de docência e aprendizagem do professor e do aluno e que criem espaços


coletivos de mútuo desenvolvimento. (Incluído pela Lei nº 14.533, de 2023)

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Art. 4º-A. É assegurado atendimento educacional, durante o período de internação, ao aluno da
educação básica internado para tratamento de saúde em regime hospitalar ou domiciliar por tempo
prolongado, conforme dispuser o Poder Público em regulamento, na esfera de sua competência
federativa.

Art. 5o O acesso à educação básica obrigatória é direito público subjetivo, podendo qualquer
cidadão, grupo de cidadãos, associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou
outra legalmente constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo.

§ 1o O poder público, na esfera de sua competência federativa, deverá:

I - recensear anualmente as crianças e adolescentes em idade escolar, bem como os jovens e adultos
que não concluíram a educação básica;

II - fazer-lhes a chamada pública;

III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola.

§ 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Público assegurará em primeiro lugar o acesso ao


ensino obrigatório, nos termos deste artigo, contemplando em seguida os demais níveis e
modalidades de ensino, conforme as prioridades constitucionais e legais.

§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste artigo tem legitimidade para peticionar no
Poder Judiciário, na hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, sendo gratuita e de rito
sumário a ação judicial correspondente.

§ 4º Comprovada a negligência da autoridade competente para garantir o oferecimento do ensino


obrigatório, poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade.

§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de ensino, o Poder Público criará formas


alternativas de acesso aos diferentes níveis de ensino, independentemente da escolarização anterior.

Art. 6o É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação básica a partir
dos 4 (quatro) anos de idade.

Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condições:

I - cumprimento das normas gerais da educação nacional e do respectivo sistema de ensino;

II - autorização de funcionamento e avaliação de qualidade pelo Poder Público;

III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o previsto no art. 213 da Constituição Federal.

Art. 7º-A Ao aluno regularmente matriculado em instituição de ensino pública ou privada, de


qualquer nível, é assegurado, no exercício da liberdade de consciência e de crença, o direito de,
mediante prévio e motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de aula marcada para dia em
231

que, segundo os preceitos de sua religião, seja vedado o exercício de tais atividades, devendo-se-lhe
atribuir, a critério da instituição e sem custos para o aluno, uma das seguintes prestações
alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do art. 5º da Constituição Federal:
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I - prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser realizada em data alternativa, no turno de
estudo do aluno ou em outro horário agendado com sua anuência expressa;

II - trabalho escrito ou outra modalidade de atividade de pesquisa, com tema, objetivo e data de
entrega definidos pela instituição de ensino.

§ 1º A prestação alternativa deverá observar os parâmetros curriculares e o plano de aula do dia da


ausência do aluno.

§ 2º O cumprimento das formas de prestação alternativa de que trata este artigo substituirá a
obrigação original para todos os efeitos, inclusive regularização do registro de frequência.

§ 3º As instituições de ensino implementarão progressivamente, no prazo de 2 (dois) anos, as


providências e adaptações necessárias à adequação de seu funcionamento às medidas previstas
neste artigo.

§ 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.

(...)

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino,
terão a incumbência de:

I - elaborar e executar sua proposta pedagógica;

II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;

III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas;

IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;

V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento;

VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com


a escola;

VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais,
sobre a frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica
da escola;

VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município a relação dos alunos que apresentem quantidade
de faltas acima de 30% (trinta por cento) do percentual permitido em lei;

IX - promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência,


especialmente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas;

X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas.


232

XI - promover ambiente escolar seguro, adotando estratégias de prevenção e enfrentamento ao uso


ou dependência de drogas.
Página

(...)

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Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos, quando registrados, terão validade nacional
como prova da formação recebida por seu titular.

§ 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão por elas próprias registrados, e aqueles
conferidos por instituições não-universitárias serão registrados em universidades indicadas pelo
Conselho Nacional de Educação.

§ 2º Os diplomas de graduação expedidos por universidades estrangeiras serão revalidados por


universidades públicas que tenham curso do mesmo nível e área ou equivalente, respeitando-se os
acordos internacionais de reciprocidade ou equiparação.

§ 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos por universidades estrangeiras só poderão


ser reconhecidos por universidades que possuam cursos de pós-graduação reconhecidos e avaliados,
na mesma área de conhecimento e em nível equivalente ou superior.

(...)

DA EDUCAÇÃO BILÍNGUE DE SURDOS

Art. 60-A. Entende-se por educação bilíngue de surdos, para os efeitos desta Lei, a modalidade de
educação escolar oferecida em Língua Brasileira de Sinais (Libras), como primeira língua, e em
português escrito, como segunda língua, em escolas bilíngues de surdos, classes bilíngues de surdos,
escolas comuns ou em polos de educação bilíngue de surdos, para educandos surdos, surdo-cegos,
com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades ou superdotação ou com outras
deficiências associadas, optantes pela modalidade de educação bilíngue de surdos. (Incluído pela
Lei nº 14.191, de 2021)

§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio educacional especializado, como o atendimento


educacional especializado bilíngue, para atender às especificidades linguísticas dos estudantes
surdos. (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)

§ 2º A oferta de educação bilíngue de surdos terá início ao zero ano, na educação infantil, e se
estenderá ao longo da vida. (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)

§ 3º O disposto no caput deste artigo será efetivado sem prejuízo das prerrogativas de matrícula em
escolas e classes regulares, de acordo com o que decidir o estudante ou, no que couber, seus pais ou
responsáveis, e das garantias previstas na Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa
com Deficiência), que incluem, para os surdos oralizados, o acesso a tecnologias assistivas. (Incluído
pela Lei nº 14.191, de 2021)

Art. 60-B. Além do disposto no art. 59 desta Lei, os sistemas de ensino assegurarão aos educandos
surdos, surdo-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas habilidades ou
superdotação ou com outras deficiências associadas materiais didáticos e professores bilíngues com
formação e especialização adequadas, em nível superior. (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021)

Parágrafo único. Nos processos de contratação e de avaliação periódica dos professores a que se
233

refere o caput deste artigo serão ouvidas as entidades representativas das pessoas surdas. (Incluído
pela Lei nº 14.191, de 2021)
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LEI Nº 10.973, DE 2 DE DEZEMBRO DE 2004
Principais artigos
Art. 1º Esta Lei estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no
ambiente produtivo, com vistas à capacitação tecnológica, ao alcance da autonomia tecnológica e ao
desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional do País, nos termos dos arts. 23, 24, 167,
200, 213, 218, 219 e 219-A da Constituição Federal.

Parágrafo único. As medidas às quais se refere o caput deverão observar os seguintes princípios:

I - promoção das atividades científicas e tecnológicas como estratégicas para o desenvolvimento


econômico e social;

II - promoção e continuidade dos processos de desenvolvimento científico, tecnológico e de


inovação, assegurados os recursos humanos, econômicos e financeiros para tal finalidade;

III - redução das desigualdades regionais;

IV - descentralização das atividades de ciência, tecnologia e inovação em cada esfera de governo,


com desconcentração em cada ente federado;

V - promoção da cooperação e interação entre os entes públicos, entre os setores público e privado
e entre empresas;

VI - estímulo à atividade de inovação nas Instituições Científica, Tecnológica e de Inovação (ICTs) e


nas empresas, inclusive para a atração, a constituição e a instalação de centros de pesquisa,
desenvolvimento e inovação e de parques e polos tecnológicos no País; (Incluído pela Lei nº 13.243,
de 2016)

VII - promoção da competitividade empresarial nos mercados nacional e internacional;

VIII - incentivo à constituição de ambientes favoráveis à inovação e às atividades de transferência de


tecnologia;

IX - promoção e continuidade dos processos de formação e capacitação científica e tecnológica;

X - fortalecimento das capacidades operacional, científica, tecnológica e administrativa das ICTs;

XI - atratividade dos instrumentos de fomento e de crédito, bem como sua permanente atualização
e aperfeiçoamento;

XII - simplificação de procedimentos para gestão de projetos de ciência, tecnologia e inovação e


adoção de controle por resultados em sua avaliação;

XIII - utilização do poder de compra do Estado para fomento à inovação;

XIV - apoio, incentivo e integração dos inventores independentes às atividades das ICTs e ao sistema
produtivo.
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Art. 3º A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e as respectivas agências de


fomento poderão estimular e apoiar a constituição de alianças estratégicas e o
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desenvolvimento de projetos de cooperação envolvendo empresas, ICTs e entidades

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privadas sem fins lucrativos voltados para atividades de pesquisa e desenvolvimento, que
objetivem a geração de produtos, processos e serviços inovadores e a transferência e a
difusão de tecnologia.

Parágrafo único. O apoio previsto no caput poderá contemplar as redes e os projetos


internacionais de pesquisa tecnológica, as ações de empreendedorismo tecnológico e de
criação de ambientes de inovação, inclusive incubadoras e parques tecnológicos, e a
formação e a capacitação de recursos humanos qualificados.

Art. 22. Ao inventor independente que comprove depósito de pedido de patente é facultado
solicitar a adoção de sua criação por ICT pública, que decidirá quanto à conveniência e à
oportunidade da solicitação e à elaboração de projeto voltado à avaliação da criação para
futuro desenvolvimento, incubação, utilização, industrialização e inserção no mercado.

§ 1º O núcleo de inovação tecnológica da ICT avaliará a invenção, a sua afinidade com a


respectiva área de atuação e o interesse no seu desenvolvimento.

§ 2º O núcleo informará ao inventor independente, no prazo máximo de 6 (seis) meses, a


decisão quanto à adoção a que se refere o caput deste artigo.

§ 3º Adotada a invenção por uma ICT, o inventor independente comprometer-se-á, mediante


contrato, a compartilhar os ganhos econômicos auferidos com a exploração industrial da
invenção protegida.

§ 3º O inventor independente, mediante instrumento jurídico específico, deverá


comprometer-se a compartilhar os eventuais ganhos econômicos auferidos com a
exploração da invenção protegida adotada por ICT pública.

Art. 22-A. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios, as agências de fomento e as


ICTs públicas poderão apoiar o inventor independente que comprovar o depósito de patente
de sua criação, entre outras formas, por meio de:

I - análise da viabilidade técnica e econômica do objeto de sua invenção;

II - assistência para transformação da invenção em produto ou processo com os mecanismos


financeiros e creditícios dispostos na legislação;

III - assistência para constituição de empresa que produza o bem objeto da invenção;

IV - orientação para transferência de tecnologia para empresas já constituídas.


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