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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ____ VARA

DA FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DA COMARCA ________________________________

FULANO DE TAL, nacionalidade (...), estado civil (...), profissão (...), inscrito no RG
(...,) e no CPF (...), residente e domiciliada na (...), endereço eletrônico (...), por
meio de seus advogados infra-assinados, conforme procuração anexa, com
endereço profissional (...), endereço que indicam para fins do art. 77, V do CPC,
vem respeitosamente perante Vossa Excelência, com base no art. 5º LXIX da Lei
12.016/2009 e vem impetrar:

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO LIMINAR

em face do(a) PREFEITO DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, com endereço


funcional na Av. Afonso Pena, 1212, Centro, Belo Horizonte/MG - CEP 30130-098
e do SECRETARIO MUNICIPAL DE PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO
(SMPOG), com endereço funcional na Av. Augusto de Lima, 30, Centro, Belo
Horizonte/MG - CEP 30130-001, pelos motivos de fato e de direito a seguir
aduzidos.

1. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA E TRAMITAÇÃO PRIORITÁRIA

A situação econômica do impetrante não lhe permite arcar com as custas


processuais e honorários advocatícios sem que isso implique em prejuízo ao seu
sustento e de sua família, conforme declaração de hipossuficiência e
documentos anexos. Razão pela qual, requer-se a este juízo que seja deferido o
benefício da gratuidade da justiça, nos termos da Lei n. º 1.060/1950, dos arts.
98 e 99 do Código de Processo Civil e do art. 5º, LXXIV, da Constituição Federal.

A impetrante é pessoa com deficiência na forma da lei, razão pela qual requer
ainda a concessão do benefício de TRAMITAÇÃO PRIORITÁRIA, nos termos do
art. 1048, §§ 1º a 4º, do Código de Processo Civil c/c art. 9º, VII, da Lei n. º
13.146/2015, conforme laudo médico que instrui esta exordial.

2. DA TEMPESTIVIDADE
A Lei 12.016/2009 estabelece em seu art. 23 que o direito de requerer mandado
de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da
ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

O ato administrativo impugnado, Edital 01/2019 do Processo Seletivo


Simplificado SUGESP, foi publicado no dia 21/05/2019, sendo que o prazo
decadencial para impetração do presente remédio constitucional seria
18/09/2019. Logo resta preenchido o requisito da tempestividade.

3. SÍNTESE DOS FATOS

O Município de Belo Horizonte, por meio da Subsecretaria de Gestão de Pessoas


– SUGESP, coordenada pela Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e
Gestão (SMPOG), publicou o Edital 01/2019 do Processo Seletivo Simplificado
SUGESP com o objetivo de contratar de profissionais para trabalhar
temporariamente como psicólogos no Projeto de Revisão da Readaptação
Funcional.

O certame foi organizado em duas etapas: 1º Análise Curricular e 2º Entrevista.


Contudo, o referido edital não trouxe previsão de reserva de vagas para pessoas
com deficiência.

Ocorre que a impetrante é pessoa com deficiência física, diretamente


interessada em disputar uma das vagas em igualdade de oportunidades, pois
possui a formação acadêmica necessária para o exercício do cargo e atende a
todos os demais requisitos constantes do edital.

Ao constatar a ilegalidade da ausência de previsão da reserva de vagas para


pessoas com deficiência, a impetrante tentou contato por e-mail junto ao setor
responsável pela organização do processo seletivo, mas até o presente
momento não teve nenhuma resposta.

Ainda assim, para não perder a oportunidade, a impetrante se inscreveu no


processo seletivo. Logrou êxito na 1ª etapa e figurou entre os classificados. Mas
não conseguiu ser convocada para a 2ª etapa.

Situação que poderia ter sido diferente, caso o edital não estivesse eivado de
vício de ilegalidade pela ausência da previsão de reserva de vagas para pessoas
com deficiência.
Ocorre ainda que, por se tratar de processo seletivo simplificado, antes mesmo
do fim do prazo decadencial de 120 dias para o presente remédio constitucional,
o resultado final foi homologado iniciando-se às convocações dos primeiros
aprovados, enquanto as autoridades responsáveis sequer se manifestaram
sobre o descumprimento dos comandos legais e constitucionais que visam
assegurar o direito da impetrante aqui invocado.

Trata-se de manifesta violação de natureza constitucional, além de grave ofensa


à legislação de direitos e garantias das pessoas com deficiência, conforme se
verá na fundamentação jurídica do presente mandado de segurança.

Logo, diante da frustração em não ter acesso ao tratamento isonômico que


merece e diante da lesão a direito líquido e certo, a impetrante não viu outro
caminho capaz de reverter a situação senão acionando o Poder Judiciário por
meio do presente remédio constitucional.

4. DO DIREITO LÍQUIDO

A Constituição Federal de 1988 consagra em seu art. 5º LXIX o mandado de


segurança como remédio adequado para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.

A Lei 12.016/2009 ratifica e disciplina a presente via processual, que no caso


pretende atacar o ato administrativo da autoridade coatora que não considerou
o autismo como deficiência na forma da lei.

O art. 37, VII da CR/1988 estabelece que lei reservará percentual dos cargos e
empregos públicos para as pessoas com deficiência e definirá os critérios de sua
admissão.

Trata-se de uma política constitucional afirmativa para a garantia da isonomia


no acesso a cargos e empregos públicos por pessoas com deficiência.

O artigo 27 da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com


Deficiência (Decreto 6.949/2009), que possui força normativa constitucional por
inteligência do art. 5º §3º da CR/1988, estabelece o dever dos Estados Partes
de empregar pessoas com deficiências no setor público em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas.
Como corolário desse diploma internacional, a Lei Brasileira de Inclusão da
Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015) assevera em seu art. 35: “é finalidade
primordial das políticas públicas de trabalho e emprego promover e
garantir condições de acesso e de permanência da pessoa com deficiência
no campo de trabalho.”

Para atender a esse microssistema constitucional e legal de garantia de acesso


dos direitos das pessoas com deficiência no setor público, foi publicado o
recente Decreto 9.508/2018 que reserva às pessoas com deficiência percentual
de cargos e de empregos públicos oferecidos em concursos públicos e em
processos seletivos no âmbito da administração pública federal direta e
indireta.

De igual modo, o raciocínio constitucional e federal simétrico da reserva de


vagas para pessoas com deficiência foi consagrado no Estado de Minas Gerais
por meio do art. 1º da Lei Estadual 11.867/1995, bem como no município de
Belo Horizonte pela lei 9078/2005 e, sobretudo, pela redação atualizada do art.
7ªA da Lei Municipal 7.863/99 que estabelece a reserva de 10% de vagas para
pessoas com deficiência concursos públicos nesta capital.

O edital elaborado e publicado pelas autoridades impetradas é manifestamente


ilegal na medida em não traz nenhuma regra expressa de garantia do
percentual mínimo de reserva de vagas para pessoas com deficiência.

Deixar de reproduzir a política de reserva de vagas para pessoas com


deficiência, ainda que seja em processo seletivo municipal, nada mais é do que a
violação da garantia do tratamento isonômico diretamente ligado à dignidade
humana das pessoas nessa qualidade.

No presente remédio constitucional, a lesão ao direito líquido e certo decorre da


omissão normativa do edital publicado que é manifestamente ilegal e
inconstitucional por não trazer a previsão expressa da reserva de vagas para
pessoas com deficiência.

A impetrante é pessoa com deficiência, com formação específica em psicologia,


atendendo a todos os requisitos do edital e está sendo privada do tratamento
isonômico que poderia lhe garantir a igualdade de oportunidades no acesso aos
cargos de psicólogos oferecidos pelo município de Belo Horizonte.
O direito líquido e certo da impetrante é comprovado pela manifesta violação à
letra da lei, bem como à hermenêutica constitucional aqui defendida, somada
aos documentos oficiais que seguem anexos, cumprindo o requisito da prova
pré-constituída exigida pelo art. 6º da Lei 12.016/2009.

Não é por acaso a propositura do presente remédio constitucional, pois sendo


corrigido o processo seletivo atacado, a autora terá garantido o direito subjetivo
de concorrer de forma isonômica com a prerrogativa de acesso via reserva de
vagas para pessoas com deficiência.

Cumpre esclarecer que a premissa de reserva de vagas para pessoas com


deficiência em cargos e empregos públicos, contido no art. 37 da CR/1988, é
indiferente no que tange à forma efetiva ou temporária de provimento.

Considerando que se trata de norma constitucional relativa ao trabalho da


pessoa com deficiência, ou seja, norma de direito fundamental, necessário se
faz buscar a sua máxima efetividade, sob pena de afronta à dignidade humana
das pessoas nessa qualidade.

Nesse sentido, vale lembrar o constitucionalista J.J. Gomes Canotilho, ao ensinar


que, segundo o princípio da máxima efetividade, a uma norma constitucional
deve ser atribuído o sentido que maior eficácia lhe dê.

Ademais, nenhum argumento razoável existe para justificar a diferenciação


entre a necessidade de reserva em concursos ou em processos seletivos
simplificados, seja para cargos e empregos públicos de provimento efetivo ou
temporário.

A igualdade material é direito líquido e certo e tem que acontecer, sob pena de
institucionalização de fraude a uma das principais políticas de inclusão da
pessoa com deficiência no trabalho existentes em nosso ordenamento jurídico.

Logo, é inequívoca a necessidade imediata de suspensão do processo seletivo


aqui atacado, como medida de segurança, para que o edital seja retificado e o
certame sofra as adequações necessárias para assegurar à impetrante o direito
de participar com a prerrogativa de acesso pela reserva de vagas às pessoas
com deficiência, assegurando assim o respeito à sua dignidade e a efetividade
do tratamento isonômico garantido pelo texto constitucional.
5. DO PEDIDO LIMINAR

Segundo o art. 7º, III, da Lei 12.016/09, a tutela de provisória urgência será
concedida sempre que houver elementos capazes de evidenciar a probabilidade
do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.

O art. 8º da Lei nº 13.146/2015 - Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com


Deficiência – estabelece que é dever do Estado assegurar à pessoa com
deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos referentes à educação, à
profissionalização e ao trabalho entre outros decorrentes da Constituição
Federal, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu
Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam seu bem-estar
pessoal, social e econômico.

A prova inequívoca do direito pleiteado ou requisito da probabilidade do direito


– fumus bonis juris – está consubstanciada nas disposições legais já expostas,
bem como dos documentos que seguem anexos como provas pré-constituídas
suficientes para sustentar a violação do direito líquido e certo aqui defendido.

Para tanto seguem anexos fazendo parte integrante deste mandado de


segurança, o edital publicado sem previsão de reserva de vagas para pessoas
com deficiência; laudo médico atestando a deficiência física da impetrante;
diploma de graduação da impetrante no curso de psicologia; classificação da
impetrante na primeira etapa do processo seletivo; e-mails enviados pela
impetrante questionando a violação legal, sem nenhuma resposta da
Administração Pública.

É evidente que o edital do processo seletivo municipal atacado viola diretamente


toda a construção constitucional para empregabilidade da pessoa com
deficiência no setor público, mitigando a garantia da reserva de vagas para
pessoas com deficiência, que deveria ser adotada em todo e qualquer concurso
público ou processo seletivo para provimento de cargos efetivos ou
temporários.

O direito líquido e certo de participação isonômica do impetrante está sendo


violado por total ofensa ao artigo 27, “g)” da Convenção Internacional dos
Direitos das Pessoa com Deficiência (Decreto 6.949/2009), ao art. 37 VIII
CR/1988, bem como ao arcabouço protetivo de acesso ao trabalho da pessoa
com deficiência estabelecido pela Lei Brasileira de Inclusão da PcD (Lei
13.146/2015).

Ademais a ausência da reserva de vagas para pessoas com deficiência no edital


atacado, afronta diretamente as legislações específicas que fixam percentuais
mínimos para reserva de vagas das pessoas com deficiência em concursos
públicos e processos seletivos, quais sejam, o Decreto Federal 9.508/2018, a Lei
Estadual 11.867/1995, a Lei Municipal 9.078/2005 e Lei Municipal 7.863/99,
diplomas que asseguram a isonomia e a garantia da máxima efetividade na
inclusão de pessoas com deficiência no setor público, nas três esferas, federal,
estadual e municipal.

O perigo de dano irreparável – periculum in mora – é patente uma vez que o


direito líquido e certo já foi violado dada à celeridade de realização de processos
seletivos dessa natureza, de modo que, a Administração Pública já concluiu as
etapas de análise curricular e entrevista individual, homologando o certame em
29/06/2019, antes mesmo que se esgotasse o prazo decadencial para a
impetração do presente mandado de segurança, sendo certo que a impetrante
foi aprovada na etapa de análise curricular, mas sequer foi convocada para
entrevista individual.

Cumpre esclarecer que a Administração Pública municipal já iniciou as primeiras


convocações para contratação imediata, sendo que, das 12 (doze) vagas
previstas no edital, ao menos 01 (uma), deveria estar reservada para pessoas
com deficiência, seguindo o raciocínio constitucional e legal já devidamente
fundamentado nesta exordial.

É inegável a real violação de direito líquido e certo já sofrida pela impetrante e


que carece da imediata segurança aqui pleiteada, a fim de que o processo
seletivo seja suspenso para que a Administração Pública municipal tome as
medidas necessárias para adequar o processo seletivo à política constitucional
da reserva de vagas para pessoas com deficiência.

Admitir que a Administração Pública municipal prossiga com as convocações


dando cabo ao processo seletivo na forma em que está, seria o mesmo que se
institucionalizar a violação do direito de reserva de vagas para pessoas com
deficiência e negar as garantias constitucionais de inclusão da pessoa com
deficiência no trabalho em igualdade de oportunidades com os demais.
Não há outra saída senão a procedência do presente remédio constitucional
para assegurar a efetividade do direito líquido e certo da impetrante participar
em igualdade de oportunidades do processo seletivo atacado.

Se o processo seletivo não for suspenso no presente momento, corre-se o


risco de que todas vagas sejam providas SEM A GARANTIA
CONSTITUCIONAL DE ACESSO A NENHUM CANDIDATO COM DEFICIÊNCIA,
sobretudo em relação à impetrante que se inscreveu sem ter a opção de
declarar sua deficiência e ainda se encontra cerceada no que tange ao direito de
participar e avançar no certame em igualdade de oportunidades com os demais,
por ausência de tratamento isonômico.

Para tanto, estão preenchidos os requisitos e pressupostos legais da Lei nº


12.016/2009 para a concessão do pedido liminar, determinando a SUSPENSÃO
DO PROCESSO SELETIVO SIMPLIFICADO SUGESP (EDITAL 01/2019), até as
autoridades impetradas tomem as providências necessárias para
assegurar a reserva de 10% das vagas para pessoas com deficiência no
certame; ou até que haja decisão definitiva no presente mandado de
segurança.

6. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Ante ao exposto, o impetrante pede e requer:

a) que seja deferida a gratuidade da justiça, nos termos da Lei nº 1.060/50,


tendo em vista a declaração de hipossuficiência e documentos anexos;

b) a concessão da LIMINAR inaudita altera parte pars, para suspender o


Processo Seletivo Simplificado SUGESP (Edital 01/2019), até que as
autoridades impetradas tomem as providências necessárias para
assegurar a reserva de 10% das vagas para pessoas com deficiência no
certame; ou, até que haja decisão definitiva no presente mandado de
segurança, a fim de assegurar à impetrante o direito de prosseguir e
disputar uma das vagas do certame, com isonomia e em igualdade de
oportunidade com os demais, conforme toda fundamentação jurídica e
normativa de defesa dos direitos das pessoas com deficiência
apresentados no bojo do presente remédio constitucional;

c) a notificação das autoridades coatoras e seus respectivos órgãos de


representação judicial, nos termos do art. 7º da Lei 12.016/2009;

d) a fixação de honorários sucumbenciais;

e) a intimação do Ministério Público, preferencialmente à competente


Promotoria de Justiça dos Direitos das Pessoas com Deficiência e Idosos;

f) a condenação dos impetrados nos honorários de sucumbência


correspondentes às fases processuais em que for forem aplicáveis;

g) que ao final seja concedida a segurança em caráter definitivo para


assegurar a fiel observância à reserva de vagas para pessoas com
deficiência no Processo Seletivo Simplificado SUGESP (Edital 01/2019),
garantido assim o tratamento constitucional digno e isonômico, às
pessoas com deficiência, em igualdade de oportunidade com os demais;

h) a juntada de todos os documentos anexos;

i) a produção de todos os meios de prova admitidos em direito;

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) para efeitos fiscais.


Termos em que pede deferimento.

Belo Horizonte, XX de MÊS de XXXX

Local e data
Advogado
OAB

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