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Aduz o Autor que foram publicadas as contratações sem a realização de concurso público em
contrariedade ao estabelecido na Constituição Federal em seu art. 37. Que houve incentivo pela
Prefeitura, através do programa PDI – Programa de Desligamento Incentivado, para que funcionários
se desligassem do serviço municipal, expediente este que abriu vagas para as contratações. Que
referidas contratações não foram autorizadas por lei municipal.
Em razão desta circunstância, requereu a anulação dos contratos e que fosse devolvida pelos Réus
a verba ao erário público.
Em impugnação às fls. 241/247, o Autor afirmou que as leis invocadas pelos Requeridos para
infirmar de legais as contratações, não servem para tê-las como legais e autorizar contratações sem
concurso. Que não houve lei que definisse qual situação emergencial existia para que fossem
autorizadas as contratações, consoante determina a Constituição Federal.
Decreto de revelia dos Réus contratados pela municipalidade à fl. 297 e nomeação de Curador à fl.
288, que contesta às fls. 289/290.
É o relatório. Decido.
Afasto as preliminares alegadas na contestação, vez que, no caso presente, de forma abstrata, e
sem considerar as peculiaridades do caso concreto, entendo que estão presentes todas as condições
da ação, ou seja, requisitos de existência e exercício do direito de ação, direito público subjetivo
deduzido contra o Estado, buscando um provimento jurisdicional, qualquer que seja a natureza deste.
Estão presentes também todos os pressupostos processuais, ou seja, requisitos necessários para a
constituição e o desenvolvimento regular do processo.
Ora, a Lei Lei 4.717/65 é clara ao definir quem pode ingressar com uma ação como a ora apreciada,
vejamos o texto do art. 1º da referida Lei:
“Art. 1º - Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade
de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, de
entidades autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição art. 141, § 38), de sociedades
mútuas de seguro nas quais a União representa os segurados ausentes, de empresas públicas, de
serviços sociais autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o tesouro
público haja concorrido ou concorra com mais de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da
receita ânua de empresas incorporadas ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e
dos Municípios e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres públicos.
§ 1º. Consideram-se patrimônio público para os fins referidos neste artigo, os bens e direitos de valor
econômico, artístico, estético, histórico ou turístico.
§ 2º. Em se tratando de instituições ou fundações, para cuja criação ou custeio o tesouro público
concorra com menos de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da receita ânua, bem como de
pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas, as conseqüências patrimoniais da invalidez dos atos
lesivos terão por limite a repercussão deles sobre a contribuição dos cofres públicos.
§ 3º. A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o título eleitoral, ou com
documento que a ele corresponda” (grifos meus).
O Autor trouxe aos Autos Certidão da Justiça Eleitoral dando conta de que o mesmo está quite com
aquela Justiça especializada. É o que basta.
Há de se entender que as condições da ação e pressupostos processuais nada têm a haver com a
existência do direito subjetivo afirmado pelo Autor. Considera-se, como condições da ação e
pressupostos processuais, a possibilidade de apreciação pelo órgão jurisdicional acerca de
determinada demanda in abstrato, sem entrar ao seu mérito, vez que o mérito da ação será
verificado posteriormente, quando da procedência ou da improcedência do pedido.
Especificamente, está presente o interesse de agir. Sob esse prisma, entendo que a prestação
jurisdicional solicitada é necessária e adequada. Há a necessidade da tutela jurisdicional na
impossibilidade de obter a satisfação do alegado direito sem a intercessão do Poder Judiciário. Por
outro lado, está configurada a adequação eis que o provimento jurisdicional é apto a corrigir o mal de
que o autor se queixa.
Outrossim, ao contrário das argumentações da parte ré, existe, in casu, plena possibilidade jurídica
do pedido. Não verifico qualquer disposição ou norma legal previstos no ordenamento jurídico que
exclua, a priori, o presente requerimento da apreciação do Poder Judiciário, de forma abstrata sem
qualquer consideração das peculiaridades do caso concreto.
No que pertine ao mérito propriamente dito, temos que a partir da edição da Constituição Federal de
1988, a investidura em cargo ou emprego público só pode acontecer através de concurso público.
Magistralmente, JOSÉ AUGUSTO RODRIGUES PINTO leciona que “A Constituição Federal de 1988
proíbe a investidura em cargo ou emprego público, de agente não submetido a prévia aprovação em
concurso público. A proibição foi tomada, como não se cansa de realçar, em prol do resguardo da
moralidade administrativa, buscando represar nosso hábito atávico de usar o serviço público para
abrigo de apadrinhados de toda sorte”.
No caso vertente, a Prefeitura Municipal promoveu contratação irregular de 996 funcionários, pois,
independentemente da vedação constitucional expressa, admitiu em seus quadros servidores sem a
realização de concurso.
A alegação de que havia uma lei que autorizava a contratação temporária e excepcional, datada de
1991, a meu vem não dava à municipalidade a autorização prevista no inciso IX, do art. 37, da
Constituição Federal, pois comungo do entendimento de que lei autorizadora deve ser específica,
atual e expressa quanto à necessidade temporária e de excepcional interesse público, o que não vejo
nestes autos. Neste sentido:
Consta nos autos a documentação dos servidores que foram contratados irregularmente após a
promulgação da Constituição Federal. A contratação nestes casos é nula, como preceitua o art. 129,
§ 2º da Carta Magna.
O Egrégio Tribunal de Justiça já se posicionou sobre o tema nestes autos. Eis a decisão firmada pela
Terceira Câmara Cível, onde figurou como relator o saudoso Desembargador Wandyr Clait Duarte:
Ocorre que, embora tenha o Autor afirmado o acima transcrito, nada provou em relação a eventuais
funcionários fantasmas. Temos que ter em mente que houve a prestação dos serviços sim para a
educação municipal, mormente pelo fato de que não há prova ao contrário.
Ainda no que diz respeito à devolução da verba ao erário, tenho que não cabe aos contratados, eis
que trabalharam na educação municipal. Eventual devolução há de ser pelos responsáveis pelo ato
administrativo nulo, ou seja, o Administrador Público, cuja responsabilidade deve ser provada em
procedimento próprio.
Isto posto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido para DECLARAR NULOS os contratos
dos 996 (novecentos e noventa e seis) servidores elencados na inicial.
Tendo em vista que a presente foi julgada parcialmente procedente, com fundamento no art. 19 da
Lei 4.717/65, determino que, após o decurso do prazo do recurso voluntário, sejam os autos
encaminhados à Superior Instância, em vista do reexame necessário da sentença.
“Condeno os requeridos ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, que
arbitro em R$ 3.000,00 (três mil reais), levando-se em conta a natureza jurídica da ação e de
conformidade com o § 4º do artigo 20 do Código de Processo Civil.”
Notifique-se o MP.
P.R.I.C.