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EXECUÇÃO

JUR0233_v2.0
Carolina Uzeda

EXECUÇÃO
1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2021
© 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


________________________________________________________________________________________
Uzeda, Carolina
U99e Execução / Carolina Uzeda, – São Paulo: Platos
Soluções Educacionais S.A., 2021.
77 p.

ISBN 978-65-89965-34-3

1. Defesa. 2. Embargos. 3. Alienação. I. Título.

CDD 344
____________________________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB-8 SP-010289/O

2021
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
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EXECUÇÃO

SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 05

Defesas do devedor 06

Aspectos polêmicos da execução por quantia certa 31

Tutela jurisdicional, tutela específica e execução de título


judicial e extrajudicial das obrigações de fazer, não fazer
e dar coisa 49

Tutela jurisdicional dos direitos reais e ações possessórias 66

4
Apresentação da disciplina

A disciplina abrange desde as defesas do executado até os embargos de


terceiro e as ações possessórias. Na primeira aula, tratamos das defe-
sas do devedor, como forma de evitar abusos e excessos praticados pelo
credor. Assim, iniciamos a aula com os embargos do devedor, seguidos
da impugnação ao cumprimento de sentença e da exceção de pré-exe-
cutividade. A segunda aula versa sobre os atos executivos, tratando da
penhora, avaliação e da expropriação (adjudicação e alienação – por ini-
ciativa particular e por leilão). A terceira aula trata da tutela específica das
obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa (certa ou incerta). Por fim,
a quarta aula versa sobre procedimentos especiais para defesa de direito
de propriedade e posse, dentre os quais as ações possessórias (manu-
tenção, reintegração de posse e interdito proibitório) e embargos de ter-
ceiro. Diante das limitações impostas pela proposta do Curso, buscamos
abordar apenas os principais pontos de cada tema, sempre com os olhos
voltados à advocacia e incluindo doutrina recente e decisões judiciais pro-
latadas, preferencialmente, pelo Superior Tribunal de Justiça.

5
DEFESAS DO DEVEDOR

Objetivos

• Aspectos gerais das defesas do devedor.

• Embargos à execução.

• Impugnação ao cumprimento de sentença.

• Exceção de pré-executividade.

6
1. Embargos à execução

1.1 Cabimento

Os embargos do executado são espécie de defesa do devedor que, dife-


rente da impugnação ao cumprimento de sentença, possuem natureza de
ação. Isso significa dizer que possuem fundamentação livre e ampla cog-
nição, sendo suscetíveis de produção probatória (inclusive, testemunhal).

A doutrina, em um passado não muito remoto, costuma ressaltar que


o contraditório na execução seria exercido de forma ampla apenas em
sede de embargos, porém, tal máxima não é mais aplicável, uma vez que
modernamente entende-se que a execução, em si, é campo amplo para
exercício do contraditório pelo devedor, que poderá, além dos próprios
embargos, defender-se por outros meios (como, por exemplo, a exceção
de pré-executividade).

O cabimento dos embargos à execução está previsto nos arts. 914 e se-
guintes do Código de Processo Civil (BRASIL, 2015) e serve, não apenas
para limitar as matérias passíveis de serem arguidas, mas, principalmen-
te, para indicar aquelas que apenas podem ser objeto da ação própria,
não podendo ser suscitadas em outras formas de defesa do devedor, res-
salvadas, claro, as hipóteses passíveis de conhecimento de ofício e em
qualquer grau de jurisdição1:
Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:
I - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
II - penhora incorreta ou avaliação errônea;
III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução
1
PRECLUSÃO. Execução por quantia certa. “Impugnação à execução”. Alegação de crédito da executada a ser compensado
do débito exequendo. Preclusão. Tese passível de ser alegada apenas em embargos à execução, cujo prazo para oposição
transcorreu sem manifestação da executada. Matéria que não constitui questão de ordem pública, tampouco fato
superveniente ao transcurso do prazo para oposição de embargos. Decisão mantida. Recurso não provido. (TJSP; Agravo
de Instrumento 2066770-14.2018.8.26.0000; Relator(a): Tasso Duarte de Melo; Órgão Julgador: 12ª Câmara de Direito
Privado; Foro Unificado - N/A; Data do Julgamento: 07/05/2018; Data de Registro: 07/05/2018).

7
para entrega de coisa certa;

V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;


VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo
de conhecimento. (BRASIL, 2015, art. 917).

Inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação. A primeira hipó-


tese de cabimento de embargos à execução é a inexequibilidade do título
ou inexigibilidade da obrigação. Isto porque a existência de título que con-
tenha obrigação certa, líquida e exigível é requisito para o ajuizamento da
ação de execução.
Penhora incorreta ou avaliação errônea. Também cabem embargos para
impugnar atos de penhora ou avaliação. São os chamados, ao tempo do
CPC/73, de embargos de segunda fase, que viabilizam que a parte se de-
fenda de eventuais irregularidades nos atos constritivos realizados no
curso da execução. Nesse caso, a doutrina diverge acerca da possibilidade
de tal defesa, caso os atos irregulares tenham acontecido posteriormente
à oposição dos embargos, ocorrer por mera petição, dispensando-se a via
da ação autônoma.
Excesso de execução ou cumulação indevida de execuções. O excesso de exe-
cução é, certamente, a causa de oferecimento de embargos mais comum.
Nesse caso há a necessidade de o embargante apontar especificamente
os motivos pelos quais acredita que há excesso, indicando o valor incon-
troverso e juntado aos autos a respectiva planilha de cálculos.
Já quanto à cumulação indevida de execuções, é importante ressaltar que
o art. 327, § 2º, do CPC (BRASIL, 2015), é plenamente aplicável ao presente
caso, sendo possível, hoje em dia, a cumulação de execuções com proce-
dimentos distintos, desde que seja utilizado o procedimento comum.
Retenção por benfeitorias necessárias ou úteis. No CPC (BRASIL, 1973, art. 744),
inicialmente, havia embargos próprios para a retenção de benfeitorias. A re-
forma de 2006 trouxe o tema para o cabimento dos embargos à execução,
admitindo sua utilização para permitir que o executado retenha o bem, até
que sejam indenizadas as benfeitorias úteis e necessárias por ele realizadas,
a matéria no CPC (BRASIL, 2015) está disposta no art. 917, §5º.
Incompetência. Já no CPC (BRASIL, 1973), quando cabível exceção de

8
incompetência relativa, a incompetência do juízo era hipótese de cabi-
mento de embargos. Àquela época, porém, os embargos seriam o cami-
nho para a arguição apenas quando esta fosse a única matéria de defesa.
Havendo mais de uma matéria, a parte deveria oferecer a exceção de
incompetência e os embargos.
Com a extinção da exceção de incompetência relativa, que passou a ser
objeto de preliminar de contestação, art. 337, II, CPC (BRASIL, 2015), tanto
esta quanto a incompetência absoluta deverão ser objeto de embargos,
independentemente de serem a única matéria arguida.
Qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de
conhecimento. Por fim, o inciso VI apresenta uma categoria genérica de ca-
bimento dos embargos, permitindo que o executado se defenda de forma
ampla, apresentando tanto defesas processuais, quanto fatos extintivos,
modificativos e impeditivos do direito do autor.
Sobre o tema, Olavo de Oliveira Neto ressalta que o inciso VI se presta a
garantir o princípio constitucional da ampla defesa, dado que o sujeito
deve ter “o direito de se defender de modo amplo e mediante a utilização de
todos os meios de defesa a ele facultados por lei”2.

1.2 Procedimento

Petição inicial. A petição inicial dos embargos, a ser distribuída por depen-
dência, deve preencher todos os requisitos previstos nos arts. 319 e 320
do CPC3, além de, quando alegado excesso de execução, trazer planilha
com o valor discriminado que o devedor reputa devido4. Frise-se que, em
que pese a disposição do art. 917, §§ 3º e 4º, por certo, não juntada a
2
Comentário ao art. 917. In: Comentários ao código de processo civil – volume 3 (arts. 539 a 925). Cassio Scarpinella Bueno
(coordenador). São Paulo: Saraiva, 2017, p. 804.
3
Art. 319. A petição inicial indicará: I - o juízo a que é dirigida; II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união
estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o
endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV - o
pedido com as suas especificações; V - o valor da causa; VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade
dos fatos alegados; VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. Art. 320. A
petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação.
4
Art. 917. § 3º. Quando alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à do título, o embargante
declarará na petição inicial o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado de seu cálculo. § 4º.
Não apontado o valor correto ou não apresentado o demonstrativo, os embargos à execução: I – serão liminarmente
rejeitados, sem resolução de mérito, se o excesso de execução for seu único fundamento; II – serão processados, se houver
outro fundamento, mas o juiz não examinará a alegação de excesso de execução.

9
planilha – requisito da petição inicial, antes que o processo seja extinto,
deverá o juiz conceder prazo para regularização do vício, na forma do art.
3215, do CPC (BRASIL, 2015).

É importante ressaltar que, considerando que se trata de nova demanda,


o embargante deverá, também, juntar o respectivo mandato, garantindo
a regularidade da sua representação.

Os embargos devem ser oferecidos no prazo de quinze dias, sendo certo


que não é necessária a garantia do juízo, que se faz relevante apenas para
a concessão de efeito suspensivo, na forma do art. 919:
Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito suspensivo.
§ 1o O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspen-
sivo aos embargos quando verificados os requisitos para a concessão
da tutela provisória e desde que a execução já esteja garantida por
penhora, depósito ou caução suficientes.

Veja-se que, no caso, a garantia do juízo agrega-se aos demais requisitos


para concessão de tutela provisória (de urgência ou evidência), não sen-
do, em regra, dispensável ainda que estejam presentes a probabilidade
do direito e o risco pela demora, ou uma das hipóteses do art. 311, do
(BRASIL, 2015) 6.

5
Art. 321. O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos
e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a
emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. Parágrafo único. Se o autor não
cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial.
6
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. EFEITO SUSPENSIVO. ART. 919, § 1º, DO CPC/2015.
AUSÊNCIA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES. REVOLVIMENTO DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA 7/STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. O art. 919, § 1º, do CPC/2015 prevê que o magistrado poderá atribuir
efeito suspensivo aos embargos à execução quando presentes, cumulativamente, os seguintes requisitos: (a)
requerimento do embargante; (b) relevância da argumentação; (c) risco de dano grave de difícil ou incerta reparação;
e (d) garantia do juízo. 2. No caso, diante das premissas fáticas constantes no acórdão, não está demonstrado o dano
de difícil ou incerta reparação necessário à suspensão da execução, mormente considerando que eventual levantamento
do valor depositado em juízo pelo recorrente somente deve ser deferido mediante a adoção das cautelas necessárias
ao prosseguimento da execução provisória, inclusive prestação de caução, o que será analisado pelo magistrado, no
caso concreto. 3. Agravo interno não provido. (AgInt no REsp 1651168/MT, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,
julgado em 28/03/2017, DJe 18/04/2017). No mesmo sentido, tratando também da tutela de evidência: PROCESSUAL CIVIL.
EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. ATRIBUIÇÃO DE EFEITO SUSPENSIVO. QUESTÕES RELEVANTES. AUSÊNCIA DE VALORAÇÃO.
OMISSÃO PARCIALMENTE CONFIGURADA. [...] 3. A atribuição de efeito suspensivo aos Embargos do Devedor depende
da conjugação simultânea das seguintes circunstâncias: presença dos requisitos para a concessão da tutela provisória e
garantia da execução por penhora, depósito ou caução (art. 919, § 1º, do CPC). A tutela provisória, por seu turno, pode
ser de urgência ou de evidência, e em ambos os casos a sua concessão também depende do preenchimento dos
requisitos estabelecidos em lei. [...] (REsp 1680868/PE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em
22/08/2017, DJe 01/02/2018)

10
Defesa. Recebidos os embargos, o credor-embargado será intimado para
manifestar-se em 15 dias, sendo dispensável sua citação7, conforme art.
920, I, do CPC (BRASIL, 2015). No prazo ofertará a respectiva defesa, que
conterá todas as características de uma contestação, inclusive quanto a
eventuais alegações preliminares.

Findo o prazo para resposta, embora o art. 920, II, ressalte que o próximo
passo será necessariamente o julgamento do pedido ou designação de
audiência, aplica-se a regra comum, quanto às providências preliminares
e saneamento do processo, uma vez que não há qualquer obstáculo à re-
alização ampla da instrução probatória, quando for o caso.

Sentença. Encerrada a instrução, o juiz proferirá sentença, de acordo com


o art. 920, III, do CPC (BRASIL, 2015), na qual condenará o vencido ao pa-
gamento de honorários advocatícios. Sobre o tema, há importante altera-
ção no CPC/15.

Como se sabe, os honorários de sucumbência em execução decorrem da


causalidade8. A resistência do devedor em pagar o débito no vencimento,
que impõe que o credor busque respaldo judicial para a efetivação do seu
direito, justifica sejam arbitrados honorários desde logo e independente-
mente da atuação do devedor no processo em si9.

Por isso o art. 827 do CPC ressalta que “Ao despachar a inicial, o juiz fixa-
rá, de plano, os honorários advocatícios de dez por cento, a serem pagos
pelo executado”. Considerando, ainda, a causalidade, o § 1º do mesmo
dispositivo aplica uma sanção premial, concedendo ao devedor um des-
conto de 50% do valor devido a título de honorários, sempre que pague
o valor integral do débito em 3 dias, art. 827, §1º, do CPC (BRASIL, 2015).

7
(AREsp 153.209/ES, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 22/08/2017, DJe 06/10/2017)
8
“É o princípio da causalidade que impõe seja o executado responsável pelos ônus da sucumbência no cumprimento de
sentença ou na execução. Com efeito, não efetuado o pagamento do crédito constante de título executivo, o devedor
mantém atividade de resistência à satisfação do crédito, causando a necessidade da propositura da ação de execução.”
DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: execução. Fredie Didier Jr., Leonardo Carneiro da Cunha, Paula
Sarno Braga, Rafael Alexandria de Oliveira – 7. ed., rev., ampl. e atual. – Salvador: Ed. Juspodivm, 2017, p. 427-428.
9
Vide: UZEDA, Carolina. Honorários arbitrados em embargos à execução e o respeito à vontade do credor quanto ao
procedimento adotado para sua efetivação. Artigo no prelo.

11
O arbitramento de honorários iniciais na execução não depende da su-
cumbência do devedor, ressaltando Eduardo de Avelar Lamy que o tra-
tamento diferenciado se justifica uma vez que relacionados aos “que
tem os seus direitos assegurados no mundo dos fatos através de atos
executivos”10.
Disso decorre que é absolutamente razoável que os honorários advoca-
tícios, nesse caso, embora arbitrados por decisão judicial, sigam necessa-
riamente o mesmo procedimento para execução do crédito principal. Eles
serão acessórios, não sujeitos à execução por meio de procedimento de
cumprimento de sentença.
Veja-se que o termo acessório, aqui, não exclui a autonomia dos hono-
rários advocatícios previstos no art. 85, § 14, com relação aos benefícios
decorrentes da sua natureza alimentar. Porém, impede a autonomia do
procedimento executivo, que deverá seguir, até o efetivo pagamento, o
mesmo caminho do débito principal.
A decisão que arbitra honorários advocatícios iniciais em execução, em
que pese preencha os requisitos do art. 515, I do CPC não pode ser consi-
derada, portanto, como título executivo judicial sujeito a cumprimento de
sentença.
Já nos embargos à execução, reconhecidamente ação de conhecimento,
os honorários arbitrados em favor do exequente/embargado, na hipótese
de improcedência total ou parcial, decorrem não apenas da causalidade,
mas, também, da sucumbência em si. São verbas autônomas, como, in-
clusive, tem decidido o STJ11. Tal autonomia, porém, como ressaltado pelo

10
LAMY, Eduardo de Avelar. A fixação de honorários sucumbenciais no cumprimento de sentença no novo CPC. In:
Honorários advocatícios. Coordenadores, Marcus Vinícius Furtado Coêlho, Luiz Henrique Volpe Camargo. – Salvador:
Juspodivm, 2015. (Coleção Grandes Temas do Novo CPC, v.2; coordenador geral, Fredie Didier Jr.), p. 1093-1101.
11
PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. AÇÃO DE EXECUÇÃO E EMBARGOS DO DEVEDOR. AUTONOMIA
DAS DEMANDAS. CABIMENTO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. In casu, a Corte Regional entendeu que a verba
honorária arbitrada na ação executória se deu de modo provisório e que, na hipótese de interposição de embargos do
devedor, como ocorrido no caso, a decisão anteriormente prolatada fica substituída pela sentença proferida nos autos
incidentais, excluídos os honorários anteriormente fixados na execução. 2. De acordo com a jurisprudência dominante
do STJ, constituindo os Embargos do Devedor verdadeira Ação de Conhecimento que não se confunde com a Ação de
Execução, os honorários advocatícios devem ser fixados de forma autônoma e independente em cada uma das referidas
ações, desde que a cumulação da verba honorária não exceda o limite máximo previsto no § 3º do art. 20 do CPC/1973. 3.
Recurso Especial provido. (REsp 1670357/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 22/08/2017,
DJe 13/09/2017)

12
próprio STJ, é relativa, já que “o sucesso dos embargos do devedor impor-
ta a desconstituição do título exequendo e, consequentemente, interfere
na respectiva verba honorária”12.

A relativização da autonomia entre os honorários iniciais arbitrados em


execução e os de sucumbência arbitrados nos embargos também sobres-
sai no texto do art. 827, § 2º, que esclarece que o valor dos honorários
“poderá ser elevado até vinte por cento, quando rejeitados os embargos à
execução”. Veja-se que, no caso, a relatividade da referida autonomia im-
põe que, embora autônomos, os honorários da execução e dos embargos
não ultrapassem o teto previsto em lei.

Aqui nota-se um equívoco no texto legal, que impõe seja ele interpretado
considerando-se a autonomia entre os processos e as verbas em cada um
deles arbitradas. Isso porque o art. 827 fala em majoração de honorários,
quando, a bem da verdade, pretende esclarecer apenas que não será pos-
sível impor ao devedor, ainda que apresente embargos, honorários advo-
catícios em valor que exceda o limite imposto no art. 8513. Não se está fa-
lando em majorar, mas sim, em acrescentar novos honorários, arbitrados
de forma autônoma. A hipótese não é, portanto, similar à prevista para os
honorários de sucumbência arbitrados em fase recursal.

Tudo o que foi dito é relevante para a análise do que dispõe o art. 85, § 13,
que ressalta que “As verbas de sucumbência arbitradas em embargos à
execução rejeitados ou julgados improcedentes e em fase de cumprimen-
to de sentença serão acrescidas no valor do débito principal, para todos
os efeitos legais”.
12
AgRg no AgRg no REsp 1.216.219/RS, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJe 24.8.2012
13
Tal não parece ser o entendimento de Rodrigo Barioni que, comentando o art. 827, cogita a possibilidade de, mesmo
havendo embargos à execução julgados improcedentes, não ocorrer qualquer “majoração” nos honorários inicialmente
fixados. Em suas palavras: “É preciso salientar, porém, que a elevação dos honorários não será obrigatória, mesmo que
os embargos à execução sejam apresentados e julgados improcedentes. Cabe ao juiz considerar se houve remuneração
adequada pelo trabalho da execução; a majoração deve ser justificada pela realização de trabalhos além do esperado no
início da execução.” (Comentário ao art. 827. In: Comentários ao novo Código de Processo Civil / coordenação Antonio do
Passo Cabral, Ronaldo Cramer – 2. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 1183). No mesmo sentido,
Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, comentando o § 2º do art. 827, ressaltam que “A possibilidade (e não
obrigatoriedade, frise-se) de majoração do valor visa recompensar o trabalho do advogado do exequente.” Código de
processo civil comentado. 16. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 1818.

13
Em uma primeira leitura, pode-se concluir que necessariamente os hono-
rários arbitrados em julgamento de improcedência de embargos à execu-
ção deverão ser executados em conjunto com o débito principal. Isto é,
acrescidos no montante devido na execução de título judicial, cumulan-
do-se, no mesmo processo, a cobrança dos honorários iniciais, do crédito
principal e dos honorários de sucumbência arbitrados nos embargos.

Nesse sentido, inclusive, tem decidido o Tribunal de Justiça do Estado de


São Paulo, o qual ressaltou, no julgamento do Agravo de Instrumento nº
2128853-03.2017.8.26.0000, de relatoria do Des. Álvaro Torres Júnior, que
a “Medida acarreta celeridade e economia processual que representam
benefício não só para a parte, como representam interesse público”14.

O problema de tomar como premissa tal entendimento não está em ad-


mitir que o débito seja cobrado em conjunto com o principal, quando o
credor dos honorários advocatícios assim o queira. Nesses casos, é evi-
dente que, inexistindo prejuízo, o débito poderá ser acrescido ao princi-
pal, como orienta o art. 85, § 1315:

Luiz Henrique Volpe Camargo ressalta os benefícios decorrentes da pos-


sibilidade de adicionar o valor dos honorários ao débito principal, esclare-
cendo que “O § 13 do art. 85 trata, portanto, da dispensa do ajuizamento
de cumprimento de sentença específico para executar os honorários de
sucumbência arbitrados”, bem como que, nesses casos, apesar da outor-
ga de legitimidade extraordinária para o credor originário cobrar os hono-
rários arbitrados nos embargos, nada impede que o advogado ingresse
na execução para buscar seu crédito em nome próprio16.

14
20ª Câmara de Direito Privado, julgamento em 06.11.2017.
15
“Ademais, resta claro no dispositivo que se os honorários do processo de execução são acrescidos ao débito principal, assim
como os que forem devidos ao exequente/embargado sempre que tal demanda for julgada em desfavor do executado.”
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Honorários no processo de execução. In: Honorários advocatícios. Coordenadores, Marcus
Vinícius Furtado Coêlho, Luiz Henrique Volpe Camargo. – Salvador: Juspodivm, 2015. (Coleção Grandes Temas do Novo CPC,
v. 2; coordenador geral, Fredie Didier Jr.), p. 1119-1129.
16
Comentário ao art. 85. In: Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil. Teresa Arruda Alvim Wambier... [et al.],
coordenadores. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 329-330.

14
O que não é possível é afirmar que tal cobrança seja obrigatória, impon-
do-se ao advogado cumular os honorários de sucumbência arbitrados em
processo de conhecimento autônomo com (a) o crédito do cliente e (b) os
honorários arbitrados em fase inicial, em decorrência da mera causalida-
de17. Estamos falando de situações diferentes que, na hipótese, devem
ser tratadas tomando-se como premissa a autonomia entre os embargos
e a execução, bem como, entre os honorários arbitrados em um e em ou-
tro caso.

Admitir que há obrigatoriedade em executar a decisão judicial, prolatada


nos embargos e transitada em julgado, pelo procedimento de execução
de título executivo extrajudicial, em um primeiro momento, leva, necessa-
riamente, a uma situação não isonômica, exemplificada na sentença pro-
latada pelo juízo da 3ª Vara Cível da Comarca de Pindamonhangaba/SP18,
a qual consignou que “A verba sucumbencial favorável ao credor-embar-
gado deverá ser cobrada conjuntamente com o débito no feito executivo,
nos termos do art. 85, § 13 do NCPC. Já a verba sucumbencial devida ao
devedor-embargante deverá ser cobrada nestes autos dos embargos, em
fase de cumprimento de sentença”.

Ou seja, julgados procedentes os embargos, o advogado do devedor-em-


bargante poderá utilizar-se do cumprimento de sentença, com os bene-
fícios dele advindos, como o arbitramento de honorários advocatícios e
multa previstos no art. 523, §1º, do CPC (BRASIL, 2015). Já o advogado do
credor-embargado, caso vitorioso, deverá necessariamente ver seu crédito
acrescido ao “principal”, sem a possibilidade de cobrar de forma autônoma
o valor que lhe é devido.

Por certo, é possível que o credor prefira aproveitar a citação e os even-


tuais atos constritivos já realizados, em evidente atenção à economia e à
celeridade. O artigo 85, § 13 traz uma faculdade que o permite aderir ao
crédito principal, para todos os efeitos legais.
17
Nesse sentido: NERY JUNIOR, Nelson. Código de processo civil comentado. Nelson Nery Junior, Rosa Maria de Andrade
Nery. 16. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 479.
18
Processo nº 1004221-47.2014.8.26.0445, publicado em 10/05/2016.

15
Nada obsta, porém, que busque a efetivação do seu direito pelo procedi-
mento de cumprimento de sentença, valendo-se do título executivo judi-
cial para requerer a intimação do devedor para pagar o débito, no prazo
de quinze dias, sob pena de multa e arbitramento de novos honorários19.
Os honorários arbitrados em embargos de execução julgados improce-
dentes são autônomos daqueles arbitrados inicialmente na execução e
podem ser cobrados também autonomamente, sem que seja legal, ou
constitucional, afirmar que o advogado está obrigado a tornar-se litiscon-
sorte ativo do seu cliente20.
Recursos. Por fim, da sentença dos embargos à execução caberá apelação.
Paira dúvida na doutrina acerca do cabimento de agravo de instrumento,
fora das hipóteses previstas no rol do art. 1.015. O STJ já se manifestou,
por exemplo, pela necessidade de interpretação extensiva do art. 1.015,
de tal forma que seja cabível agravo de instrumento nos casos de indefe-
rimento de concessão de efeito suspensivo:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DECISÃO QUE
INDEFERIU PEDIDO DE CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO AOS EMBARGOS
À EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE. ART. 1.015, X, DO CPC/2015. INTERPRETAÇÃO
EXTENSIVA. ISONOMIA ENTRE AS PARTES. PARALELISMO COM O ART. 1.015,
I, DO CPC/2015. NATUREZA DE TUTELA PROVISÓRIA.

1. A questão objeto da controvérsia é eminentemente jurídica e cinge-se à


verificação da possibilidade de interpor Agravo de Instrumento contra deci-
sões que não concedem efeito suspensivo aos Embargos à Execução.

[...]

19
Luiz Henrique Volpe Camargo aventa, ainda, a possibilidade de a cobrança dos honorários arbitrados em embargos ser
realizada de forma necessariamente autônoma: “O específico pedido de cumprimento de sentença para exigir o pagamento
de honorários advocatícios só será necessário quando a execução fundada em título extrajudicial (art. 824 e seguintes) ou o
cumprimento de sentença (art. 523 e seguintes) já tiver sido extinto pela satisfação da obrigação (art. 924, II), situação que
pode ocorrer quando a execução prosseguir pela não atribuição de efeito suspensivo aos embargos à execução (art. 919)
ou à impugnação ao cumprimento de sentença (art. 525, § 5º), tudo nos termos da parte final do art. 903.” Comentário ao
art. 85. In: Breves comentários ao Novo Código de Processo Civil. Teresa Arruda Alvim Wambier... [et al.], coordenadores.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 330.
20
“Os honorários sucumbenciais, portanto, constituem direito autônomo do advogado e, portanto, independente da
execução do crédito principal.” MELLO, Rogerio Licastro Torres de. Honorários advocatícios sucumbenciais: apreciações
gerais e princípios aplicáveis. In: Honorários advocatícios. Coordenadores, Marcus Vinícius Furtado Coêlho, Luiz Henrique
Volpe Camargo. – Salvador: Juspodivm, 2015. (Coleção Grandes Temas do Novo CPC, v. 2; coordenador geral, Fredie Didier
Jr.), p. 57-61.

16
4. A situação dos autos reclama a utilização de interpretação extensiva do
art. 1.015, X, do CPC/2015.
5. Em que pese o entendimento do Sodalício a quo de que o rol do citado
art. da nova lei processual é taxativo, não sendo, portanto, possível a inter-
posição de Agravo de Instrumento, nada obsta a utilização da interpretação
extensiva.
6. “As hipóteses de agravo de instrumento estão previstas em rol taxativo.
A taxatividade não é, porém, incompatível com a interpretação extensiva.
Embora taxativas as hipóteses de decisões agraváveis, é possível interpre-
tação extensiva de cada um dos seus tipos”. (Curso de Direito Processual
Civil, vol. 3. Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha. ed. JusPodivm,
13ª edição, p. 209).
7. De acordo com lição apresentada por Luis Guilherme Aidar Bondioli, “o
embargante que não tem a execução contra si paralisada fica exposto aos
danos próprios da continuidade das atividades executivas, o que reforça o
cabimento do agravo de instrumento no caso”. (Comentários ao Código de
Processo Civil, vol. XX. Luis Guilherme Aidar Bondioli. ed. Saraiva, p. 126).
8. Ademais, o pedido de concessão de efeito suspensivo aos Embargos à
Execução poderia perfeitamente ser subsumido ao que preconiza o inciso
I do art. 1.015 do CPC/2015, por ter natureza de tutela provisória de ur-
gência. Dessa forma, por paralelismo com o referido inciso do art. 1015 do
CPC/2015, qualquer deliberação sobre efeito suspensivo dos Embargos à
Execução é agravável.
9. Dessa forma, deve ser dada interpretação extensiva ao comando contido
no inciso X do art. 1.015 do CPC/2015, para que se reconheça a possibili-
dade de interposição de Agravo de Instrumento nos casos de decisão que
indefere o pedido de efeito suspensivo aos Embargos à Execução.
10. Recurso Especial provido.
(REsp 1694667/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, jul-
gado em 05/12/2017, DJe 18/12/2017)

Para nós, a questão se resolve em outra seara. Isto porque, embora au-
tônomos, os embargos à execução estão intimamente atrelados ao pro-
cesso executivo, sendo certo que as decisões nele prolatadas interferirão

17
diretamente na execução em si. São demandas conexas, com laço de pre-
judicialidade, uma vez que, embora instituída a autonomia dos embargos
por nosso sistema processual, este não passa, na prática, de uma espécie
de defesa do devedor. Daí porque a ampla recorribilidade na execução,
prevista pelo parágrafo único do art. 1.015, deverá ser por eles atraída, via-
bilizando que tanto na execução, quanto na defesa-ação sejam garantidos
os mesmos direitos às partes, garantindo-se a isonomia e a ampla defesa.

2. Impugnação ao cumprimento de sentença

2.1 Cabimento

A impugnação ao cumprimento de sentença é defesa do devedor, a ser


realizada nos próprios autos do cumprimento. Ou seja, difere-se dos em-
bargos à execução por não ser considerada, para todos os efeitos legais,
uma ação autônoma.

Por se tratar de defesa a ser apresentada contra um título executivo ju-


dicial, sobre o qual já foi exercido o contraditório, a impugnação possui
escopo mais limitado que os embargos, sendo possível à parte alegar, na
forma do art. 525, § 1º:
I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo cor-
reu à revelia;

II - ilegitimidade de parte;

III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;

IV - penhora incorreta ou avaliação errônea;

V - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;

VI - incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;

VII - qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamen-


to, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superve-
nientes à sentença.

18
Falta ou nulidade da citação. Essa hipótese de impugnação apenas é admis-
sível se o processo correu à revelia do devedor. Isto porque seu ingresso
nos autos supre o defeito, corrigindo eventuais nulidades na formação do
título executivo judicial. Somente quando, realmente, o devedor apenas
ingressar no feito já na execução, sendo irregular o ato citatório, o tema
pode ser aventado em impugnação. É certo, em todo caso, que a alegação
do vício de citação, por se tratar de vício transrescisório21, poderá ser for-
mulada também por ação declaratória própria.
Ilegitimidade da parte. A alegação de ilegitimidade da parte é admissível
apenas nas hipóteses em que haja modificação do polo passivo na fase
executiva, não se referindo às hipóteses de ilegitimidade para a fase de
conhecimento. Quando a alegação de ilegitimidade se voltar à demanda
propriamente dita, em se tratando de cumprimento definitivo de senten-
ça, caberá ao devedor ajuizar a ação rescisória.
Inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação. Embora seja mais
difícil a hipótese de inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obri-
gação em cumprimento de sentença, ela ocorre com frequência nos ca-
sos em que se faz necessária a liquidação da sentença.
Outra situação adequável ao inciso III é a hipótese prevista nos §§ 12 a 15,
do art. 525, do CPC (BRASIL, 2015), que reconhece inexigível a obrigação
reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato normativo
considerado inconstitucional pelo STF, ou fundado em aplicação ou inter-
pretação da lei ou do ato normativo tido pelo STF como incompatível com
a Constituição. Nesse caso a inconstitucionalidade pode ser oriunda de
decisão prolatada tanto em controle concentrado, quanto em difuso.
O inciso busca evitar a efetivação de decisões judiciais inconstitucionais,
reconhecendo que estas são inexigíveis e permitindo que a inconstitucio-
nalidade seja arguida em impugnação.
Veja-se que, no caso, a impugnação não se confundirá com ação rescisó-
ria, nem terá efeitos desconstitutivos do título executivo judicial. Apenas é
reconhecida sua inexigibilidade, sendo certo que é mantida a necessidade
21
São aqueles vícios que afetam o processo de forma tal, atacando pontos tão importantes que acabam por se projetar
para além do prazo da ação rescisória.

19
de ajuizamento da ação rescisória para rescisão e rejulgamento da causa.

Causa superveniente à sentença. Diferente dos embargos à execução, que


admitem que o devedor apresente toda e qualquer defesa que seria lícito
deduzir no processo de conhecimento, a impugnação apenas admite a
alegação de causa modificativa ou extintiva da obrigação, quando super-
veniente à sentença. Isto porque a parte já teve oportunidade de apresen-
tar defesa, antes da formação do título executivo, não sendo admissível
abrir-se novamente a oportunidade de alegação de toda e qualquer ma-
téria, de fato ou de direito, já cobertas pela preclusão.

2.2 Procedimento

A petição de impugnação ao cumprimento de sentença, quando alegado


excesso de execução, conforme art. 525, §4º, do CPC (BRASIL, 2015), deve-
rá trazer planilha com o valor discriminado que o devedor reputa devido22.
Frise-se que, diferente do que ocorre com os embargos à execução, a não
juntada da planilha implicará as consequências previstas no art. 525, § 5º.

A impugnação deve ser oferecida no prazo de quinze dias, contados do


fim do prazo para pagamento, ou da data do pagamento parcial, quando
este ocorrer antes do seu termo.

Veja-se que, também aqui, a garantia do juízo não é requisito para a ofer-
ta de impugnação, porém, agrega-se aos demais requisitos para conces-
são de tutela provisória (de urgência ou evidência), não sendo, em regra,
dispensável, ainda que estejam presentes a probabilidade do direito e o
risco pela demora, ou uma das hipóteses do art. 311.

Recebida a impugnação, o credor-impugnado será intimado para mani-


festar-se em 15 dias, prazo após o qual o juiz, não sendo a hipótese de
instrução do feito, decidirá.
22
Art. 525. § 5º. Na hipótese do § 4º, não apontado o valor correto ou não apresentado o demonstrativo, a impugnação
será liminarmente rejeitada, se o excesso de execução for seu único fundamento, ou, se houver outro, a impugnação será
processada, mas o juiz não examinará a alegação de excesso de execução.

20
A decisão que julga impugnação ao cumprimento de sentença poderá ser
interlocutória ou sentença, a depender do seu conteúdo. Caso o juiz aco-
lha integralmente a impugnação e extinga o cumprimento de sentença,
estaremos diante de sentença, impugnável por apelação. Caso persista,
ainda que parcialmente, o cumprimento, a decisão será interlocutória, su-
jeita a agravo de instrumento.

Com relação aos honorários advocatícios, o STJ firmou entendimento no


sentido do não cabimento de honorários advocatícios pela rejeição da
impugnação ao cumprimento de sentença23. Assim, a jurisprudência con-
solidou-se no sentido do arbitramento de honorários apenas quando a
impugnação for acolhida, hipótese na qual o credor-impugnado seria con-
denado. A distinção parece-nos ferir a isonomia e desconsiderar direito
do advogado do credor que, diante da impugnação ofertada, teve claro
aumento de trabalho.

3. Exceção de pré-executividade

A exceção de pré-executividade é meio de defesa do devedor, apresenta-


do por simples petição e sem prazo pré-definido. Surgiu a partir da neces-
sidade de, em determinadas situações e considerando a gravidade dos
vícios da execução, o devedor se defender sem garantir o juízo.

Com o advento do CPC/15 e a dispensa da garantia do juízo para apre-


sentação de impugnação ou oposição de embargos, chegou-se a cogitar
a desnecessidade da exceção, o que, prontamente, percebeu-se que não
ocorreria.

23
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. TELEFONIA.
COMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES. JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO. CUMULAÇÃO COM DIVIDENDOS. CABIMENTO. PEDIDO
IMPLÍCITO. DECORRÊNCIA LÓGICA DO PEDIDO DE COMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES. INCLUSÃO NO CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA SEM PREVISÃO NO TÍTULO EXECUTIVO. OFENSA À COISA JULGADA. 1. Para fins do art. 543-C do CPC: [...] 2.4.
“Não são cabíveis honorários advocatícios pela rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença”. 2.5. “Apenas no
caso de acolhimento da impugnação, ainda que parcial, serão arbitrados honorários em benefício do executado, com
base no art. 20, § 4º, do CPC” (REsp 1.134.186/RS, rito do art. 543-C). 3. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO. (REsp
1373438/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/06/2014, DJe 17/06/2014)

21
Isto porque a exceção de pré-executividade, além de se tratar de medida
mais simples, não sujeita a prazos ou a requisitos (como custas, apresen-
tação de planilha, etc.), pelo menos inicialmente não enseja a condenação
em honorários de sucumbência.

Será cabível para suscitar matérias que devem ser conhecidas de ofício
pelo juiz, como condições da ação e pressupostos processuais. Servirá,
ainda, possível arguir por meio da exceção, a ilegitimidade da parte e a
prescrição do débito. A única restrição imposta pela jurisprudência do STJ
é com relação à instrução probatória:
TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO
FISCAL - EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE - PRESCRIÇÃO - ANÁLISE DA
SITUAÇÃO FÁTICA - IMPOSSIBILIDADE - SÚMULA 07/STJ.

1. A oposição de exceção de pré-executividade é possível quando alegada


a ocorrência da prescrição dos créditos executivos, desde que a matéria
tenha sido aventada pela parte, e que não haja a necessidade de dilação
probatória.

2. Na hipótese, o Tribunal afastou a prescrição, considerando as circunstân-


cias específicas dos autos, razão pela qual nesse ponto incide a Súmula 07
do STJ.

Agravo regimental improvido.

(AgRg no REsp 987.231/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA


TURMA, julgado em 05/02/2009, DJe 26/02/2009)

Pontuando

Embargos do devedor:
1. Defesa do devedor.
2. Natureza jurídica de ação.
3. Dispensa garantia do juízo.
Amplo cabimento.

22
Impugnação ao cumprimento de sentença:
1. Defesa do devedor.
2. Dispensa garantia do juízo.
3. Incidental, nos próprios autos do cumprimento.

Exceção de pré-executividade:
1. Matérias cognoscíveis de ofício.
2. Dispensa de dilação probatória.

Glossário

• Embargos do devedor: ação autônoma prevista no art. 914 e se-


guintes do CPC.

• Impugnação ao cumprimento de sentença: defesa do devedor,


prevista no art. 525 do CPC.

• Exceção de pré-executividade: defesa do devedor destinada a le-


var ao conhecimento do juiz matérias cognoscíveis de ofício.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Arnóbio propôs ação de execução em face de Joaquim. Na


petição inicial juntou o título executivo e indicou de for-
ma clara e precisa o preenchimento dos requisitos para
admissibilidade da execução. Citado, Joaquim propôs, no
prazo, embargos do devedor, alegando a incompetência
relativa do juízo e excesso de execução. Deixou, porém, de
juntar aos autos a planilha de cálculos indicando o exces-
so. Neste caso, é correto afirmar:

23
a) a planilha é requisito da petição inicial dos embargos à
execução, não sendo possível, considerando o que dis-
põe o art. 917, a regularização posterior do vício;
b) a planilha é requisito da petição inicial dos embargos
à execução, o que não impede a concessão de prazo
para regularização do vício. Não apresentada a planilha
no prazo indicado pelo juiz, os embargos deverão ser
extintos;
c) tanto na impugnação de sentença, quanto nos em-
bargos, é plenamente possível a correção do defeito e
juntada posterior da planilha de cálculos, o que se dá
em atenção ao princípio da primazia da resolução do
mérito;
d) não regularizada a petição inicial dos embargos, no pra-
zo ofertado pelo juiz, estes deverão ser extintos com
relação ao excesso de execução e prosseguir para aná-
lise da incompetência relativa;
e) a incompetência relativa deveria ter sido suscitada por
meio de exceção de pré-executividade, o que impede
sua análise em sede de embargos.
2. Maria, representada pelo escritório de advocacia Oliveira &
Oliveira Advogados Associados, propôs Ação de Execução
em face de Roberto, que contratou o advogado Ricardo
para apresentar sua defesa, na forma de embargos à exe-
cução. Sobre os honorários advocatícios em sede de em-
bargos à execução, é correto afirmar:
a) julgados procedentes os embargos à execução, o va-
lor dos honorários advocatícios devidos a Ricardo se-
rão cobrados em nova ação de execução por título
extrajudicial;

24
b) julgados procedentes os embargos à execução e extin-
ta a obrigação, não há o que se falar em condenação do
credor em honorários advocatícios;
c) julgados improcedentes os embargos à execução, não
há o que se falar em condenação do devedor em ho-
norários advocatícios, tendo em vista os honorários ini-
ciais arbitrados quando do recebimento da execução;
d) julgados improcedentes os embargos à execução, po-
derá o advogado do credor optar por cobrar seus ho-
norários nos autos principais ou por cumprimento de
sentença, a ser iniciado nos autos dos embargos;
e) julgados improcedentes os embargos à execução, o
advogado do credor deverá iniciar o cumprimento de
sentença, requerendo a intimação do devedor a pagar
o débito relativo aos honorários, sob pena de multa e
novos honorários.
3. Com relação à impugnação prevista no art. 525, §§ 12 e
seguintes, é correto afirmar:
a) visa obstar a execução de título fundado em norma tida
por inconstitucional pelo STF, caracterizando hipótese
de relativização da coisa julgada;
b) confunde-se com a ação rescisória, servindo aos mes-
mos fins e evitando que uma decisão inconstitucional
persista surtindo efeitos no ordenamento jurídico;
c) não se presta a desconstituir a coisa julgada, servindo,
tão somente, ao reconhecimento de inexigibilidade do
título executivo judicial;
d) pode ser utilizada, na forma do art. 927, sempre que o
título executivo contrarie precedente vinculante;
e) nenhuma das respostas anteriores.

25
4. O juiz da 13ª Vara Cível da Comarca de Seropédica deter-
minou a citação de Maria Antonieta Silva, doméstica, para
pagamento do débito relacionado em ação de execução
proposta por Banco ABX, no valor de R$ 15.000.000,00.
Maria Antonieta, ao receber a citação, prontamente identi-
ficou que o título executivo indicava pessoa diversa, homô-
nima sua que, por sua vez, reside na comarca do Distrito
Federal. Contatou imediatamente o núcleo de atendimento
da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro que apre-
sentou mera petição nos autos, indicando a ilegitimidade de
Maria Antonieta e apontando o equívoco, mediante a junta-
da de seus documentos pessoais. Intimado na forma do art.
10, o Banco ABX requereu o prosseguimento da execução,
mediante penhora dos bens de Maria Antonieta, uma vez
que transcorrido o prazo para oferecimento dos embargos.
a) ainda que Maria Antonieta tenha feito equivocado uso
da exceção de pré-executividade, nada impede que o
magistrado aplique o princípio da fungibilidade e a re-
ceba como embargos à execução;
b) Maria Antonieta deveria ter oferecido os embargos à
execução, como determina o art. 917, VI, não sendo ad-
missível a exceção de pré-executividade enquanto ain-
da não esgotado o prazo para embargos;
c) a exceção de pré-executividade pode ser livremente
utilizada para demonstração da ilegitimidade da par-
te, ainda que seja necessária a produção de prova
testemunhal;
d) apenas é possível a utilização da exceção de pré-exe-
cutividade no prazo para embargos, razão pela qual a
petição de Maria Antonieta não deverá ser recebida;
e) Maria Antonieta utilizou a via adequada para demons-
trar sua ilegitimidade, razão pela qual o processo deve-
rá ser extinto.

26
5. Ricardo propôs ação indenizatória em face de IBERO
Construtora, alegando, em síntese, ter comprado imóvel
na planta e que, quando da assinatura da escritura, des-
cobriu que a empresa cobrou taxa de comissão de corre-
tagem, no valor de R$ 20.000,00. Alega que a cobrança é
indevida, uma vez que compareceu sozinho ao stand de
vendas e não foi atendido, em momento algum, por corre-
tor de imóveis. A demanda foi julgada procedente em pri-
meira e segunda instâncias, tendo a construtora interpos-
to recurso especial. Enquanto o recurso especial aguarda-
va juízo de admissibilidade pelo vice-presidente do TJRJ, a
matéria foi afetada pelo STJ, que determinou a suspensão
de todos os processos em trâmite, que versassem sobre
cobrança de comissão de corretagem. Com o julgamen-
to do recurso afetado, foi firmado precedente pelo STJ, no
qual considerou a legalidade da cobrança de comissão de
corretagem em compra e venda de imóveis na planta, sem-
pre que exista cláusula expressa no contrato. Ocorre que,
quando do julgamento pelo STJ, Ricardo já havia iniciado o
cumprimento provisório de sentença, tendo sido intimada,
a IBERO, a pagar o débito, sob pena de multa e honorários
advocatícios. No curso do prazo para impugnar e antes
do trânsito em julgado da decisão do STJ, a IBERO oferece
impugnação e requer efeito suspensivo, indicando, desde
logo, a modificação da decisão judicial que fundamentava
o cumprimento de sentença. Considerando a situação fáti-
ca, indique a alternativa correta:
a) apenas será possível conceder o efeito suspensivo pre-
tendido pela IBERO na hipótese de garantia do juízo;

27
b) IBERO agiu corretamente ao oferecer a impugnação,
a qual encontra cabimento no art. 525, VII, uma vez
que a causa extintiva da obrigação foi superveniente à
sentença;
c) apesar da disposição legal, considerando que a decisão
do STJ configura precedente vinculante, está dispensa-
da a garantia do juízo para impugnação, sendo possível
a concessão de tutela de evidência;
d) IBERO poderia ter comunicado o resultado do julga-
mento por mera petição, sendo dispensada a apresen-
tação de impugnação, para que a execução se conside-
re sem efeito (art. 520, II);
e) não é possível concessão de efeito suspensivo em cum-
primento provisório de sentença.

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28
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Civil. 1. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.

ZANETI JR., Hermes. Comentário ao art. 870. In: Comentários ao Código de Processo Civil:
artigos 824 ao 925. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.

29
Gabarito

Questão 1 – Resposta: D

Resolução: Em primeiro lugar, é obrigatório que o juiz outorgue pra-


zo para emenda da petição inicial, viabilizando que a parte corrija o
vício. Caso o prazo seja descumprido, os embargos de declaração
prosseguirão para análise da alegação de incompetência, devendo
ser extintos com relação ao excesso de execução.

Questão 2 – Resposta: D

Resolução: Embora o art. 85 afirme que os honorários arbitrados


em embargos à execução julgados improcedentes serão cobrados
em conjunto com o débito principal, é garantia do credor – o advo-
gado, no caso – optar pelo meio executivo que melhor satisfaça seus
interesses. É possível, portanto, que inicie o cumprimento de senten-
ça, requerendo a intimação do embargante ao pagamento no prazo
de quinze dias, sob pena de multa e novos honorários.

Questão 3 – Resposta: C

Resolução: A hipótese é de reconhecimento de inexigibilidade do


título, sem qualquer interferência na coisa julgada formada, que po-
derá ser desconstituída apenas por rescisória.

Questão 4 – Resposta: E

Resolução: A ilegitimidade de parte pode ser demonstrada em exce-


ção de pré-executividade, sendo dispensado o ajuizamento de em-
bargos à execução.

Questão 5 – Resposta: D

Resolução: A IBERO poderia ter comunicado o resultado do julga-


mento por mera petição, sendo dispensada qualquer formalidade,
para indicação de modificação da decisão exequenda.

30
ASPECTOS POLÊMICOS DA EXECUÇÃO
POR QUANTIA CERTA

Objetivos

• Aspectos polêmicos da execução por quantia certa.

• Atos iniciais da execução por quantia fundada em


título extrajudicial.

• Pré-penhora eletrônica.

• Favor legal.

• A averbação da execução no registro de bens do


devedor.

• Penhora.

• Impenhorabilidade.

• Avaliação.

• Expropriação.

31
1. Aspectos polêmicos da execução por quantia certa

1.1 Atos iniciais da execução por quantia fundada em título


extrajudicial
Como se sabe, recebida a petição inicial da execução, o devedor será cita-
do para pagar em 3 dias, já constando do mandado “a ordem de penhora
e a avaliação a serem cumpridas pelo oficial de justiça tão logo verificado
o não pagamento no prazo assinalado” (BRASIL, 2015, art. 829, § 1º).
Assim, recebida a citação, o executado deverá providenciar o pagamento
no prazo legal e, caso não o faça, o oficial de justiça – já munido do man-
dado, procederá à penhora.

1.2 Pré-penhora eletrônica

Caso o oficial de justiça não encontre o devedor, arrastar-lhe-á tantos


bens quantos bastem para garantir a execução. Tal previsão, constante
no art. 830, é o que a doutrina denomina pré-penhora.
Para que a pré-penhora (ou arresto executivo) ocorra é necessário que (i)
o devedor não seja encontrado e (ii) seja possível ao oficial de justiça iden-
tificar bens penhoráveis, independentemente da presença do devedor.
Sobre o tema, vale transcrever o ensinamento de Araken de Assis:
Preenchidos os pressupostos cabíveis, a realização da pré-penhora dispen-
sa temperamentos, porque, baseada na ausência do executado, das duas
uma: ou (a) o executado se oculta movido pelo propósito desesperado de
resistir à expropriação, quiçá dissipando bens, ou, por qualquer motivo,
(b) o executado não permanece no círculo de suas atividades habituais. A
pré-penhora, nas duas hipóteses, não configura abuso e excesso, pois nin-
guém assegura, no caso de a ausência decorrer de motivo justificável, a
custódia de parcela do patrimônio do devedor desaparecido não lhe aten-
der, outrossim, interesse próprio na conservação dos bens abandonados.
Decerto a medida satisfaz o interesse do exequente, enquanto o executado
transeunte visita, v.g., as ilhas do Caribe1.
1
Manual de execução civil. 20. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018.

32
Frise-se que, considerando que o novo CPC dispensa a garantia do juízo
para oferecimento de embargos, não é mais necessária a intimação do
devedor da conversão da pré-penhora em penhora, o que era exigido na
égide do CPC/73.

1.3 A averbação da execução no registro de bens do devedor


(art. 828, CPC)

O art. 828 admite que o credor, tão logo exercido o juízo de admissibilida-
de da petição inicial, obtenha certidão comprobatória da distribuição da
execução, para fins de averbação nos registros de imóveis, evitando-se,
assim, a prática de fraude à execução.

A expedição da certidão comprobatória é direito potestativo do exequen-


te, que não depende de deferimento do magistrado, como, inclusive,
consta no enunciado 130 do Fórum Permanente de Processualistas Civis:
“A obtenção da certidão prevista no art. 828 independe de decisão judicial”.

Após a averbação, determina o § 1º do art. 828 que o exequente apresen-


te em juízo a comprovação das averbações realizadas.

2. Penhora

2.1 Penhora. Natureza, efeitos, objeto, limites, formalidades.


Impenhorabilidade.

Hermes Zaneti Jr. conceitua penhora como “ato executivo instrumental


que identifica no patrimônio do devedor ou responsável quais bens esta-
rão sujeitos à expropriação”2. Ele se presta, por certo, não apenas a iden-
tificar, mas a, desde logo, ‘marcar’ o bem, garantindo o quanto antes o
direito do credor.

2
ZANETI JR., Hermes. Comentário ao art. 870. In: Comentários ao Código de Processo Civil: artigos 824 ao 925. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 248.

33
Assim, é evidente que o objeto da penhora será toda universalidade de
bens do devedor ou responsável passível de valoração econômica, ressal-
vados os bens impenhoráveis.

A penhora de dinheiro será sempre preferencial, na forma da ordem pre-


vista no art. 835, a qual deverá ser observada sempre em atenção à pon-
deração entre a necessidade de satisfação do credor – que é o objetivo
principal da execução – e o princípio da menor onerosidade excessiva.

2.2 Impenhorabilidade

Embora a expropriação de bens do devedor, para satisfação do credor,


seja o objetivo principal da execução, este sofre ponderação, de forma
a garantir mantenham-se intactos os núcleos de determinados direitos
fundamentais do devedor.

Por isso, alguns bens são considerados impenhoráveis, não sendo possí-
vel que se volte a execução sobre eles.

São considerados impenhoráveis, além do bem de família, com previsão


da Lei 8009/90, aqueles constantes no rol do art. 833: (i) os bens inalie-
náveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; (ii)
os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a re-
sidência do executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem
as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida;
(iii) os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado,
salvo se de elevado valor; (iv) os vencimentos, os subsídios, os soldos, os
salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões,
os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberali-
dade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os
ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,
ressalvado o § 2o; (v) os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios,

34
os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício
da profissão do executado; (vi) o seguro de vida; (vii) os materiais necessá-
rios para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; (viii) a
pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada
pela família; (ix) os recursos públicos recebidos por instituições privadas
para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social; (X)
a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (qua-
renta) salários-mínimos; (XI) os recursos públicos do fundo partidário re-
cebidos por partido político, nos termos da lei; e (XII) os créditos oriundos
de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobi-
liária, vinculados à execução da obra.

Os parágrafos do art. 833 excepcionam a regra, ressaltando que não se


cogita da impenhorabilidade quando a dívida for do próprio bem (por ex.,
obrigações propter rem) e, no que toca aos rendimentos e ao saldo em
caderneta de poupança, quando o débito for de alimentos.

Também excepciona a regra o art. 834, que autoriza a penhora de frutos


e rendimentos de bens inalienáveis, sempre que não for possível localizar
bens passíveis de penhora.

2.3 Ordem legal

Como dito, o dinheiro sempre será o primeiro bem na lista de preferên-


cias, especialmente em razão da desnecessidade da prática de outros atos
de expropriação, como avaliação e leilão. A penhora de dinheiro pode
ocorrer, como é frequente, através de bloqueio online, apto a atingir os
valores disponíveis em nome do devedor junto às instituições financeiras
cadastradas no Banco Central.

Ocorre que, na forma o art. 835, § 1º, é possível que o juiz modifique a
ordem prevista, de ofício ou a requerimento do executado, desde que tal

35
se dê, em ambos os casos, fundamentadamente3. Isto porque a ordem de
preferência prevista no art. 835 é garantia do credor, que apenas pode
ser afastada excepcionalmente, quando houver motivo suficiente que in-
dique que a alteração se presta a “tornar mais fácil e rápida a execução e
de conciliar quanto possível os interesses das partes”4.

3. Avaliação

Para Cândido Rangel Dinamarco, “Avaliar é, em sentido amplo, a atribuição


de valor econômico a um bem. Avaliar é descobrir, revelar.” É o ato necessá-
rio e preparatório para a expropriação, seja qual for a sua forma (adjudi-
cação ou alienação, por iniciativa particular ou leilão).

É importante ter em mente que a avaliação vai determinar o meio da ex-


propriação. Lembrando que, em regra, a adjudicação se faz pelo preço da

3
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. NOMEAÇÃO DE BENS À PENHORA. PRECATÓRIO. DIREITO DE RECUSA DA FAZENDA
PÚBLICA. ORDEM LEGAL. SÚMULA 406/STJ. ADOÇÃO DOS MESMOS FUNDAMENTOS DO RESP 1.090.898/SP (REPETITIVO), NO
QUAL SE DISCUTIU A QUESTÃO DA SUBSTITUIÇÃO DE BENS PENHORADOS. PRECEDENTES DO STJ. 1. Cinge-se a controvérsia
principal a definir se a parte executada, ainda que não apresente elementos concretos que justifiquem a incidência do
princípio da menor onerosidade (art. 620 do CPC), possui direito subjetivo à aceitação do bem por ela nomeado à penhora
em Execução Fiscal, em desacordo com a ordem estabelecida nos arts. 11 da Lei 6.830/1980 e 655 do CPC. 2. Não se
configura a ofensa ao art. 535 do Código de Processo Civil, uma vez que o Tribunal de origem julgou integralmente a lide e
solucionou a divergência, tal como lhe foi apresentada. 3. Merece acolhida o pleito pelo afastamento da multa nos termos
do art. 538, parágrafo único, do CPC, uma vez que, na interposição dos Embargos de Declaração, a parte manifestou a
finalidade de provocar o prequestionamento. Assim, aplica-se o disposto na Súmula 98/STJ: “Embargos de declaração
manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório”. 4. A Primeira Seção do STJ,
em julgamento de recurso repetitivo, concluiu pela possibilidade de a Fazenda Pública recusar a substituição do bem
penhorado por precatório (REsp 1.090.898/SP, Rel. Ministro Castro Meira, DJe 31.8.2009). No mencionado precedente,
encontra-se como fundamento decisório a necessidade de preservar a ordem legal conforme instituído nos arts. 11 da Lei
6.830/1980 e 655 do CPC. 5. A mesma ratio decidendi tem lugar in casu, em que se discute a preservação da ordem legal no
instante da nomeação à penhora. 6. Na esteira da Súmula 406/STJ (“A Fazenda Pública pode recusar a substituição do bem
penhorado por precatório”), a Fazenda Pública pode apresentar recusa ao oferecimento de precatório à penhora, além
de afirmar a inexistência de preponderância, em abstrato, do princípio da menor onerosidade para o devedor sobre o da
efetividade da tutela executiva. Exige-se, para a superação da ordem legal prevista no art. 655 do CPC, firme argumentação
baseada em elementos do caso concreto. Precedentes do STJ. 7. Em suma: em princípio, nos termos do art. 9°, III, da
Lei 6.830/1980, cumpre ao executado nomear bens à penhora, observada a ordem legal. É dele o ônus de comprovar a
imperiosa necessidade de afastá-la, e, para que essa providência seja adotada, mostra-se insuficiente a mera invocação
genérica do art. 620 do CPC. 8. Diante dessa orientação, e partindo da premissa fática delineada pelo Tribunal a quo, que
atestou a “ausência de motivos para que [...] se inobservasse a ordem de preferência dos artigos 11 da LEF e 655 do CPC,
notadamente por nem mesmo haver sido alegado pela executada impossibilidade de penhorar outros bens [...]” - fl. 149,
não se pode acolher a pretensão recursal. 9. Recurso Especial parcialmente provido apenas para afastar a multa do art.
538, parágrafo único, do CPC. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ. (REsp
1337790/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/06/2013, DJe 07/10/2013)
4
STJ. REsp 167.158/PE, rel. Min. Salvio de Figueiredo Teijeira, j. 17.06.1999.

36
avaliação. E, no leilão, por qualquer preço, menos o preço vil5. Além disso,
tem íntima relação com o devido processo legal, “pois garante-se a parte
que a privação a seus bens ocorra exatamente na medida da dívida que
o executado possui com a restituição dos valores superiores à dívida par
ao seu patrimônio”6.

Poderá, ainda, ser dispensada, na forma do art. 871, do CPC (BRASIL,


2015), sempre que (I) uma das partes aceitar a estimativa feita pela outra;
(II) se tratar de títulos ou de mercadorias que tenham cotação em bolsa,
comprovada por certidão ou publicação no órgão oficial; (III) se tratar de
títulos da dívida pública, de ações de sociedades e de títulos de crédito
negociáveis em bolsa, cujo valor será o da cotação oficial do dia, compro-
vada por certidão ou publicação no órgão oficial; e (IV) se tratar de veícu-
los automotores ou de outros bens cujo preço médio de mercado possa
ser conhecido por meio de pesquisas realizadas por órgãos oficiais ou de
anúncios de venda divulgados em meios de comunicação, caso em que
caberá a quem fizer a nomeação o encargo de comprovar a cotação de
mercado.

Na hipótese do inciso I, verificando o juiz que, em que pese a concordân-


cia de ambas as partes, o valor indicado é incompatível com o mercado,
poderá, de ofício, determinar a realização da avaliação, evitando, assim, o
uso do processo para fins obscuros.

Finalidades da Avaliação
1. Fixar valor para futura expropriação – principalmente tendo em men-
te o preço vil;
2. Determinar a suficiência ou insuficiência dos bens penhoráveis, a acar-
retar a ampliação ou redução da penhora.
5
Art. 891. Não será aceito lance que ofereça preço vil. Parágrafo único. Considera-se vil o preço inferior ao m–ínimo
estipulado pelo juiz e constante do edital, e, não tendo sido fixado preço mínimo, considera-se vil o preço inferior a
cinquenta por cento do valor da avaliação.
6
ZANETI JR., Hermes. Comentário ao art. 870. In: Comentários ao Código de Processo Civil: artigos 824 ao 925. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 248.

37
Competência da Avaliação
A avaliação pode ser atribuída ao oficial de justiça – regra geral – ou, na
necessidade de conhecimento especializado, por quem a lei chama de
“avaliador”. Seja no cumprimento de sentença, seja na execução para o
pagamento de quantia certa de título executivo extrajudicial (art. 870).
A figura do avaliador não está prevista dentre os auxiliares da justiça, ra-
zão pela qual paira dúvidas sobre a sua qualificação como verdadeiro pe-
rito. E, em se tratando de perícia, questiona-se se é possível, por exemplo,
a nomeação de assistente técnico e elaboração de quesitos.
A resposta parece positiva, especialmente porque o próprio art. 873 in-
dica o dispositivo respectivo à realização de nova perícia, para quando a
matéria não esteja suficientemente esclarecida (art. 480).

Avaliação errônea
Lavrado o auto de avaliação, admite-se a realização de novo ato, sempre
que qualquer das partes arguir a ocorrência de erro ou dolo do avaliador,
se verificar a modificação posterior do valor do bem e o juiz tiver dúvida
fundada sobre o valor atribuído ao bem na primeira avaliação.

4. Expropriação

Para Dinamarco, “A transferência de um bem, na execução forçada, é um ato


imperativo do estado-juiz, realizado independentemente da vontade do dono,
que é o executado, ou mesmo contra ela.”

Finalidade da Expropriação:

Medina: “Com a expropriação, busca-se extrair a propriedade de bens do exe-


cutado para a satisfação do direito do credor ao recebimento de quantia certa.”

Ainda no tempo do CPC (BRASIL, 1973), uma grande mudança no regime


da expropriação foi colocar a adjudicação, ou seja, o recebimento do bem
penhorado como pagamento, em primeiro lugar. A adjudicação era uma

38
exceção no regime anterior. Só era possível adjudicar se não houvesse
lançador na hasta pública. E, aí sim, nascia o credor e o direito à adjudi-
cação. O CPC (BRASIL, 2015) manteve a adjudicação como primeira opção
na expropriação, facilitando a entrega do bem ao credor e, por consequ-
ência, dando maior efetividade à execução.
Outra inovação na expropriação, já implementada ao tempo do CPC
(BRASIL, 1973) e mantida no CPC (BRASIL, 2015), foi a possibilidade de alie-
nação dos bens por iniciativa particular. Nesse caso, busca-se a alienação
a um terceiro, por intermédio de profissional especializado.

4.1 Adjudicação

A adjudicação, meio pelo qual, na lição de Humberto Theodoro Junior, “o


juiz, em nome do estado, transfere o bem penhorado para o exequente, ou
para outras pessoas a quem ele confere preferência na aquisição”, é prevista
como meio preferencial de expropriação.

Deverá sempre ser realizada por preço não inferior ao da avaliação, sen-
do certo que se o valor do bem for superior ao do débito, será lícito ao
exequente adjudicar o bem e realizar o depósito da diferença, o qual será
entregue ao executado.

Também são legitimados à adjudicação, os sujeitos previstos no art. 889,


II a VIII, os credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, o
cônjuge, companheiro, descendentes ou ascendentes do executado, via-
bilizando que o bem permaneça no patrimônio da família.

Por esse motivo, os membros da família do executado terão preferência


na licitação, sempre que haja concurso de interessados na adjudicação do
imóvel. O mesmo se dá com relação aos sócios da empresa, na hipótese
de penhora de ações.

Realizado o pedido de adjudicação, o executado será intimado e, cumpri-


das as formalidades legais, será lavrado o auto de adjudicação, do que se

39
segue a expedição da respectiva carta.

O art. 878, por fim, acolheu entendimento já defendido por Cassio


Scarpinella Bueno, no sentido de que, ainda que, em um primeiro momen-
to, não seja possível a realização da adjudicação; frustradas as tentativas
de alienação do bem, será reaberta a oportunidade para requerimento,
mediante, conforme o caso, nova avaliação7.

4.2 Alienação por iniciativa particular

A alienação por iniciativa particular, na esteira da lição de Fredie Didier


Jr., Leonardo José Carneiro da Cunha, Paula Sarno Braga e Rafael Oliveira
Alexandria:
“[...] não é um contrato privado, não é uma simples compra e venda. Até mesmo
porque os seus contornos são determinados pelo juiz. Que, inclusive, fiscaliza
a sua execução. É uma venda judicial, alienação coativa, expropriação da coi-
sa penhorada, semelhante à hasta pública, só que por um procedimento mais
simples, pois a busca dos compradores é feita pelo próprio exequente. Sem a
participação obrigatória do aparelho estatal.” 8

Frise-se que o STJ já se manifestou no sentido de ser um direito do credor


optar tanto pela adjudicação, quanto pela alienação por iniciativa particu-
lar, não se submetendo, nesses casos, à vontade do devedor. Ou seja, o
credor poderá optar diretamente pela alienação em leilão judicial, dispen-
sando a tentativa de alienação particular9.
7
Manual de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 513
8
Curso de direito processual civil. Volume V. Salvador: Editora Juspodivm, p. 627.
9
TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL FUNDADO NO CPC/73. EXECUÇÃO DE VERBA HONORÁRIA
ADVOCATÍCIA. FAZENDA PÚBLICA CREDORA. MEDIDAS EXPROPRIATÓRIAS. ARTS. 647 E 685-C DO CPC/73. DESINTERESSE
DA PARTE EXEQUENTE NA ADJUDICAÇÃO DO BEM E NA ALIENAÇÃO POR INICIATIVA PARTICULAR. FACULDADE DO CREDOR.
POSSIBILIDADE DE OPÇÃO PELA HASTA PÚBLICA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS COM PROPÓSITO PREQUESTIONADOR.
APLICAÇÃO DA MULTA PREVISTA NO ART. 538 DO CPC/73. AFASTAMENTO. SÚMULA 98/STJ. 1 - Manifestado o desinteresse da
parte exequente na adjudicação e na alienação particular do imóvel penhorado (arts. 647, I e II e 685-C do CPC/73), poderá ela,
desde logo, requerer sua alienação em hasta pública. 2 - Extrai-se do art. 685-C do CPC/73 que a norma confere uma faculdade
ao credor de se valer da alienação por iniciativa particular (art. 647, II), sem impedir a opção pela hasta pública. Precedente:
REsp 1.410.859/RN, Rel. Ministro Francisco Falcão, Segunda Turma, DJe 13/06/2017. 3 - A multa imposta com base no parágrafo
único do art. 538 do CPC/73 deve ser afastada quando os embargos de declaração tenham sido opostos com visível propósito
de prequestionamento, de modo a elidir o seu caráter protelatório, como assentado na Súmula 98 do STJ e na jurisprudência
consolidada do STJ. 4 - Recurso especial a que se dá provimento para que a execução retome seu curso, com a pretendida
alienação em hasta pública, afastando-se, mais, a multa fundada no art. 538 do CPC/73. (REsp 1312509/RN, Rel. Ministro SÉRGIO
KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/12/2017, DJe 14/12/2017)

40
4.3 Leilão

Não sendo possível a expropriação por adjudicação ou alienação por ini-


ciativa particular, resta apenas o leilão judicial (eletrônico ou presencial),
que será, em regra, conduzido por leiloeiro público.

Na forma do art. 885, o juiz estabelecerá o preço mínimo, as condições de


pagamento e as garantias que poderão ser prestadas pelo arrematante,
que constarão no edital.

O edital é o regulamento do leilão. Todas as regras, em princípio, devem


constar no edital. O artigo 886 do CPC prevê seus requisitos mínimos, sob
pena de ineficácia ou até mesmo a nulidade do edital pode ser conhecida
de ofício pelo magistrado10.

São legitimados a oferecerem lance todos aqueles que estiverem na ad-


ministração dos seus bens. Excluem-se, porém, em atenção à lealdade e a
boa-fé, todos aqueles que poderiam estar em posição de vantagem, com
relação aos demais licitantes. É, por exemplo, do advogado de qualquer
das partes, dos leiloeiros e seus prepostos e do juiz, em relação aos bens
e direitos objeto de alienação na localidade onde servirem ou a que se
estender sua autoridade.

4.4 Pagamento

Superada a fase de expropriação, tem-se a satisfação do crédito do exe-


quente, que poderá ocorrer pela entrega de dinheiro (fruto da alienação
ou da adjudicação a terceiro) ou pela adjudicação dos bens penhorados.
10
Art. 886. O leilão será precedido de publicação de edital, que conterá: I - a descrição do bem penhorado, com suas
características, e, tratando-se de imóvel, sua situação e suas divisas, com remissão à matrícula e aos registros; II - o valor
pelo qual o bem foi avaliado, o preço mínimo pelo qual poderá ser alienado, as condições de pagamento e, se for o caso,
a comissão do leiloeiro designado; III - o lugar onde estiverem os móveis, os veículos e os semoventes e, tratando-se de
créditos ou direitos, a identificação dos autos do processo em que foram penhorados; IV - o sítio, na rede mundial de
computadores, e o período em que se realizará o leilão, salvo se este se der de modo presencial, hipótese em que serão
indicados o local, o dia e a hora de sua realização; V - a indicação de local, dia e hora de segundo leilão presencial, para a
hipótese de não haver interessado no primeiro; VI - menção da existência de ônus, recurso ou processo pendente sobre
os bens a serem leiloados. Parágrafo único. No caso de títulos da dívida pública e de títulos negociados em bolsa, constará
do edital o valor da última cotação.

41
Com relação à entrega de dinheiro, o art. 905 autoriza, ainda, que o exe-
quente levante os frutos e rendimentos oriundos dos bens penhorados
(inclusive faturamento de empresa), sempre que este possua direito de
preferência sobre os bens e não haja sobre eles qualquer outro impedi-
mento ou restrição, como, por exemplo, direito de preferência instituído
anteriormente à penhora.

Na hipótese de concurso de credores, prevista no art. 908, o dinheiro será


distribuído entre todos, respeitando-se a ordem de preferência. Em se
tratando de pagamento apenas parcial, além da ordem de preferência,
deve ser respeitada a proporcionalidade do crédito de cada credor.

Pontuando

• Satisfação do credor.

• Inicia-se pela penhora e avaliação.

• Seguidas da fase de expropriação (adjudicação e alienação).

• Do pagamento.

Glossário

• Penhora: ato de identificação do patrimônio do devedor passível


de garantir a execução.

• Expropriação: transferência forçada de bem do devedor, para via-


bilizar a efetivação da execução.

• Adjudicação: meio pelo qual o juiz transfere a propriedade de


bem do executado ao exequente ou a alguma das pessoas indica-
das em lei.

42
VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Sobre a pré-penhora, é correto afirmar:


a) deve ser realizada automaticamente, sempre que o de-
vedor não seja localizado pelo oficial de justiça;
b) deve ser seguida de intimação do devedor, sob pena de
ineficácia;
c) é também chamada de arresto executivo e exige o pre-
enchimento dos requisitos previstos para concessão
de tutela cautelar;
d) para que ocorra a pré-penhora é necessário que (i) o
devedor não seja encontrado e (si) seja possível ao ofi-
cial de justiça identificar bens penhoráveis, indepen-
dentemente da presença do devedor;
e) parte da doutrina entende que a pré-penhora constitui
abuso, beirando à inconstitucionalidade, uma vez que o
executado sofrerá constrição em seu patrimônio antes
mesmo de ser cientificado da existência da execução.
2. Banco ABN propôs ação de execução em face de Rodomildo
Pneus Ltda., a qual foi distribuída para a Vara Única da
Comarca de Seropédica. Tão logo cientificado da distribui-
ção, o advogado do Banco ABN compareceu à serventia, so-
licitando a emissão da certidão prevista no art. 828 do CPC.
a) A outorga da certidão é direito potestativo do credor,
razão pela qual deve ser fornecida imediatamente pela
serventia.
b) É necessário que o advogado do Banco ABN peticione
requerendo a emissão da certidão, dado que o ato ge-
rará para a parte o ônus de demonstrar o registro em
dez dias.

43
c) Apenas será possível a emissão da certidão após o
exercício do juízo de admissibilidade da petição inicial.
d) A expedição da certidão comprobatória é direito sub-
jetivo do exequente, que depende de deferimento do
magistrado.
e) Após a averbação, o exequente deverá apresentar em
juízo a comprovação das averbações realizadas, sob
pena de ineficácia destas.
3. Sobre a penhora, é correto afirmar que:
a) a penhora de dinheiro será sempre preferencial, na
forma da ordem prevista no art. 835, sendo direito po-
testativo do credor, não sujeito à modificação a reque-
rimento do devedor;
b) em se tratando de débito de alimentos, não há o que se
falar em impenhorabilidade, estando sujeitos à execu-
ção todos os bens do devedor;
c) são considerados impenhoráveis, dentre outros, os
móveis, os pertences e as utilidades domésticas que
guarnecem a residência do executado, inclusive os de
elevado valor;
d) os frutos e rendimentos de bens inalienáveis são su-
jeitos à penhora, sempre que não for possível localizar
bens passíveis de penhora;
e) nenhuma das alternativas é correta.
4. Angela, exequente, logrou localizar fazenda em nome da
devedora Catarina, na cidade de Magé, Estado do Rio de
Janeiro. Considerando as características do imóvel, inclu-
sive a vasta produção de abacaxi nele existente, o juiz da
2ª Vara Cível da Comarca da Capital do Rio de Janeiro, de-
terminou a realização de avaliação por profissional espe-
cializado. Catarina, então, apresentou quesitos e indicou

44
assistente técnico, requerendo a intimação do profissional
para comparecer, junto com o avaliador, na data da reali-
zação do ato. Sobre a avaliação, é incorreto afirmar:
a) em que pese possa ser dispensada quando uma das
partes aceite a estimativa feita pela outra, o juiz poderá
determinar sua realização, sempre que o valor indica-
do seja incompatível com o mercado;
b) tem dupla finalidade: fixar valor para futura expropria-
ção e determinar a suficiência ou insuficiência dos bens
penhoráveis, a acarretar a ampliação ou redução da
penhora;
c) o avaliador, por não constar no rol dos auxiliares da
justiça, não está sujeito às hipóteses de suspeição e
impedimento;
d) é possível, na avaliação, a nomeação de assistente téc-
nico e elaboração de quesitos;
e) admite-se a realização de novo ato, sempre que qual-
quer das partes arguir a ocorrência de erro ou dolo do
avaliador, se verificar a modificação posterior do valor
do bem e o juiz tiver dúvida fundada sobre o valor atri-
buído ao bem na primeira avaliação.
5. Sobre os atos de expropriação, é correto afirmar:
a) pode ser realizada por preço não inferior ao da avalia-
ção, desde que não seja considerado preço vil;
b) são legitimados os sujeitos previstos no art. 889, II a
VIII, os credores concorrentes que hajam penhorado o
mesmo bem, o cônjuge, companheiro, descendentes
ou ascendentes do executado, com preferência dos
credores;
c) a lei autoriza que, ainda que em um primeiro mo-
mento não seja possível a realização da adjudicação,

45
frustradas as tentativas de alienação do bem, seja rea-
berta a oportunidade para requerimento;
d) a alienação por iniciativa particular constitui contrato
privado, de compra e venda, sujeito às regras gerais do
Código Civil;
e) cabe ao devedor optar pela realização da alienação por
iniciativa particular, indicando o profissional qualifica-
do para realizar a venda.

Referências Bibliográficas

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46
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Gabarito

Questão 1 – Resposta: D

Resolução: São requisitos para que o oficial de justiça possa realizar


a pré-penhora (a) a não localização do devedor e (b) a possibilidade
de identificação, de pronto, de bens penhoráveis.

Questão 2 – Resposta: C

Resolução: A certidão apenas poderá ser expedida após o juízo de

47
admissibilidade da petição inicial, ou seja, o seu recebimento com a
determinação de citação do executado.

Questão 3 – Resposta: D

Resolução: Embora não seja possível penhorar bens inalienáveis, tal


restrição não atinge os seus furtos e rendimentos, que são passí-
veis de constrição, sempre que não for possível localizar outros bens
penhoráveis.

Questão 4 – Resposta: C

Resolução: O avaliador, tal qual todo e qualquer auxiliar da justiça,


está sujeito às hipóteses de suspeição e impedimento previstos nos
arts. 144 e 145 do CPC.

Questão 5 – Resposta: C

Resolução: É possível reabrir a oportunidade para requerimento de


adjudicação, sempre que frustradas as tentativas de alienação do
bem, conforme art. 878.

48
A TUTELA JURISDICIONAL,
TUTELA ESPECÍFICA E EXECUÇÃO DE
TÍTULO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL
DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER,
NÃO FAZER E DAR COISA

Objetivos

• Tutela jurisdicional.

• Tutela específica das obrigações de fazer e não fazer.

• Tutela específica das obrigações de dar coisa.

• Resultado prático equivalente.

• Poder geral de efetivação.

49
Introdução

“Executar é satisfazer uma prestação devida”1. E, em se tratando do pro-


cesso de execução e do cumprimento de sentença, é satisfazer a presta-
ção devida de maneira forçada, utilizando o poder de império do Estado
contra o devedor, em uma atividade eminentemente substitutiva da sua
vontade.

A tutela jurisdicional, considerando a perspectiva do resultado buscado,


deverá moldar-se à realidade do direito material, buscando meios para
que o credor obtenha a exata prestação a que tenha direito, ainda que
esta seja específica.

Não basta, portanto, viabilizar meios de entrega de dinheiro ao credor. Há


situações, muito frequentes, em que a satisfação deve ser dar por meio
da entrega de uma coisa ou pela prática de determinada conduta, impon-
do-se que o ordenamento jurídico esteja preparado para, respeitando os
direitos fundamentais dos indivíduos, alcançar a máxima equivalência en-
tre aquilo que foi pedido e o que será entregue.

No que nos interessa, cabe classificar a tutela jurisdicional em genérica ou


efetiva. A primeira, que será, sabe-se, sempre utilizada em último caso,
compreende a satisfação da parte por meio de entrega em dinheiro. A
segunda poderá abranger tanto obrigações de fazer ou não fazer, quanto
de entregar coisa ou prestar declaração.

1
DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: execução. 7. ed. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 45.

50
1. Tutela específica das obrigações de fazer e não fazer

Em se tratando de título executivo judicial, por força do art. 497, este já


fará constar o prazo para cumprimento da obrigação ou as providên-
cias necessárias a assegurar a obtenção da tutela pelo resultado prático
equivalente.

A partir do momento em que a decisão começar a produzir efeitos, seja


por ter transitado em julgado, seja por ter sido admitido recurso despro-
vido de efeito suspensivo, pode ser iniciado o cumprimento de sentença,
exclusivamente mediante requerimento da parte.

O que é possível ser feito de ofício é a determinação de medidas ne-


cessárias à satisfação do exequente, após tenha este dado início à fase
executiva.

Embora o art. 513, § 1º afirme que “o cumprimento da sentença que reco-


nhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, far-se-á a requeri-
mento do exequente”, não é possível realizar leitura em sentido contrário,
que indique a possibilidade de início, de ofício, do cumprimento de sen-
tença das obrigações de fazer e não fazer.

Isto porque uma interpretação sistemática do CPC indica, em atenção ao


princípio do dispositivo, a impossibilidade de execução ex officio (a exem-
plo da autorização expressa para as execuções no processo do trabalho).
Em primeiro lugar, a execução permanece disponível, podendo, o credor,
optar por não promovê-la ou por dela desistir a qualquer tempo ou fase,
ressalvadas as observações feitas na aula anterior. Além disso, por todo o
texto do CPC, percebe-se que o poder geral de efetivação está vinculado à
concessão de medidas pelo juiz, após o início da fase executiva2.

2
José Rogério Cruz e Tucci parece entender em sentido contrário, ou seja, pela possibilidade de cumprimento de sentença
de obrigação de fazer ou não fazer, de ofício: “Observa-se, pois, que a regra ora comentada prevê a possibilidade de o juiz,
de ofício ou a requerimento do demandante, tomar providências tendentes ao cumprimento da sentença, quando, embora
regular e validamente intimado, o executado deixa de acatar a ordem judicial.” (Comentários ao Código de Processo Civil.
Vol. VIII. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 351.

51
Sendo a execução fundada em título executivo extrajudicial, seguirá o
procedimento previsto nos artigos 814 e seguintes. O juiz, ao admitir a
petição inicial, fixará a multa para a hipótese de descumprimento, bem
como o prazo para adimplemento da obrigação de fazer, salvo se outro
não constar no título executivo.

Não cumprida a obrigação, poderá o exequente requerer que terceiro


cumpra a obrigação, às custas do executado, ou a respectiva conversão
em perdas e danos3. Sendo obrigação infungível, sem qualquer possibi-
lidade de alcance a resultado equivalente, infrutífera, portanto, a execu-
ção, será esta convertida em perdas e danos cujo valor será apurado em
liquidação.

Em se tratando de obrigação de não fazer, o cumprimento de sentença


dar-se-á exclusivamente quando já ocorrido o inadimplemento por parte
do devedor, situação que dará ensejo à determinação de desfazimento,
pelo devedor ou por terceiro às suas custas, além de perdas e danos4.

3
Processo Civil. Dação de imóveis em pagamento de dívida contraída. Obrigação de fazer, e não de dar coisa certa. Conversão,
por opção do autor, em perdas e danos. Possibilidade. Inteligência do arts. 880 e 881 do CC/16, e 461, § 1º, do CPC. - A
obrigação, assumida pela construtora de um empreendimento imobiliário, de remunerar a proprietária do terreno mediante
a dação em pagamento de unidades ideais com área correspondente a 25% do total construído qualifica-se como obrigação
de fazer, e não como obrigação de dar coisa certa. Como conseqüência, o inadimplemento dessa obrigação, representado
pelo acréscimo de área ao imóvel sem o conhecimento da proprietária e, consequentemente, sem que lhe tenha sido feito
o correspondente pagamento, dá lugar à incidência dos arts. 461, § 1º, do CPC, e 880 e 881, do CC/16, possibilitando a
escolha, pelo credor entre requerer o adimplemento específico da obrigação ou a respectiva conversão em perdas
e danos. - A quitação, dada pelo credor mediante escritura pública, da obrigação de dação em pagamento de 25% da área
construída no imóvel, não pode abranger os acréscimos de áreas feitos posteriormente sem o conhecimento do credor.
A interpretação da quitação, dada pelo Tribunal de origem, não pode ser revista nesta sede em função do que determina
a Súmula 5/STJ. - O pedido de “declaração da reformulação do projeto inicial” de um edifício é declaração de fato, e não
de relação jurídica, de forma que o seu não acolhimento encontra-se em consonância com a regra do art. 4º do CPC. - A
formulação de pedido sucessivo deve ser levada em consideração no momento da fixação dos honorários advocatícios.
Recurso especial da ré não conhecido, e recurso especial do autor provido para o fim de restabelecer a sentença no que diz
respeito aos honorários advocatícios. (REsp 598.233/RS, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Rel. p/ Acórdão Ministra
NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/08/2005, DJ 29/08/2005, p. 332)
4
Art. 822. Se o executado praticou ato a cuja abstenção estava obrigado por lei ou por contrato, o exequente requererá
ao juiz que assine prazo ao executado para desfazê-lo. Art. 823. Havendo recusa ou mora do executado, o exequente
requererá ao juiz que mande desfazer o ato à custa daquele, que responderá por perdas e danos. Parágrafo único. Não
sendo possível desfazer-se o ato, a obrigação resolve-se em perdas e danos, caso em que, após a liquidação, se observará
o procedimento de execução por quantia certa.

52
1.1 Técnicas de execução indireta

Já há algum tempo a doutrina afirma que o direito de ação corresponde


ao direito à tutela efetiva. Ou seja, não basta permitir que a parte tenha
acesso ao Judiciário. É necessário que sejam fornecidos os meios para
que a parte efetivamente obtenha do Estado a tutela jurisdicional, com
a satisfação integral da sua pretensão. É necessário que a lide saia do
processo e se materialize, de tal forma que a parte efetivamente receba o
que tem direito, o que não é possível apenas com a decisão judicial (pelo
menos na tutela condenatória) 5.

Para tratar da efetivação da tutela jurisdicional, o art. 536 utiliza as expres-


sões tutela específica e resultado prático equivalente, permitindo que o
juiz, para obtenção de um ou outro, tome as medidas constantes em seu
rol exemplificativo.

Em um primeiro momento é evidente que o Estado buscará entregar à


parte exatamente aquilo a que ela tem direito. Ou seja, se o título executi-
vo judicial determinou que o pedreiro Antonio termine a obra para a qual
foi contratado, a legislação busca encontrar meios para que essa situação
se realize.

Caso Antonio se recuse a cumprir a obrigação, considerando que o Estado


brasileiro não admite coação física ou restrição de liberdade – salvo nas
execuções de alimentos – buscará fornecer ao credor um meio de obten-
ção do resultado prático equivalente. Isto é, cabe ao credor avaliar se se
contenta com alguma outra prestação, com algo que, embora não seja a
tutela específica, se presta a gerar o mesmo resultado.

5
“Pelo princípio constitucional do direito de ação, além do direito ao processo justo, todos têm o direito de obter do Poder
Judiciário a tutela jurisdicional adequada. Não é suficiente o direito à tutela jurisdicional. É preciso que essa tutela seja a
adequada, sem o que estaria vazio de sentido o princípio.” (NERY JUNIOR. Nelson. Princípios do processo na Constituição
Federal: (processo civil, penal e administrativo). 12. ed. rev., ampl. e atual. com as novas súmulas do STF (simples e
vinculantes) e com o novo CPC (Lei 13.105/2015). São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 210).

53
Em ambos os casos, sem prejuízo de eventuais perdas e danos, o juiz po-
derá adotar as medidas previstas na tentativa de dar efetividade à tutela
jurisdicional, sem prejuízo de outras que se mostrem eficazes (art. 139, IV).
No rol exemplificativo6 do art. 536 (BRASIL, 2015) estão previstas a multa,
busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras
e o impedimento de atividade nociva, inclusive, mediante uso de força
policial.
A principal medida executiva é, sem dúvida, a multa, prevista especifica-
mente no art. 537 (BRASIL, 2015):

Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser apli-


cada na fase de conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na
fase de execução, desde que seja suficiente e compatível com a obrigação e

6
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. TRATAMENTO DE SAÚDE E FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS
A NECESSITADO. OBRIGAÇÃO DE FAZER. FAZENDA PÚBLICA. INADIMPLEMENTO. COMINAÇÃO DE MULTA DIÁRIA.
ASTREINTES. INCIDÊNCIA DO MEIO DE COERÇÃO. BLOQUEIO DE VERBAS PÚBLICAS. MEDIDA EXECUTIVA. POSSIBILIDADE,
IN CASU. PEQUENO VALOR. ART. 461, § 5.º, DO CPC. ROL EXEMPLIFICATIVO DE MEDIDAS. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL
À SAÚDE, À VIDA E À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PRIMAZIA SOBRE PRINCÍPIOS DE DIREITO FINANCEIRO E
ADMINISTRATIVO. NOVEL ENTENDIMENTO DA E. PRIMEIRA TURMA. [...] 6. Depreende-se do art. 461, § 5.º do CPC, que o
legislador, ao possibilitar ao juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas assecuratórias como a “imposição
de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento
de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial”, não o fez de forma taxativa, mas sim exemplificativa,
pelo que, in casu, o sequestro ou bloqueio da verba necessária à aquisição de medicamento objeto da tutela indeferida,
providência excepcional adotada em face da urgência e imprescindibilidade da prestação dos mesmos, revela-se medida
legítima, válida e razoável. 7. Deveras, é lícito ao julgador, à vista das circunstâncias do caso concreto, aferir o modo mais
adequado para tornar efetiva a tutela, tendo em vista o fim da norma e a impossibilidade de previsão legal de todas as
hipóteses fáticas. Máxime diante de situação fática, na qual a desídia do ente estatal, frente ao comando judicial emitido,
pode resultar em grave lesão à saúde ou mesmo por em risco a vida do demandante. 8. Os direitos fundamentais à vida e à
saúde são direitos subjetivos inalienáveis, constitucionalmente consagrados, cujo primado, em um Estado Democrático de
Direito como o nosso, que reserva especial proteção à dignidade da pessoa humana, há de superar quaisquer espécies de
restrições legais. Não obstante o fundamento constitucional, in casu, merece destaque a Lei Estadual nº 9.908/93, do Estado
do Rio Grande do Sul, que assim dispõe em seu art. 1º: “Art. 1º. O Estado deve fornecer, de forma gratuita, medicamentos
excepcionais para pessoas que não puderem prover as despesas com os referidos medicamentos, sem privarem-se dos
recurso indispensáveis ao próprio sustento e de sua família. Parágrafo único. Consideram-se medicamentos excepcionais
aqueles que devem ser usados com freqüência e de forma permanente, sendo indispensáveis à vida do paciente.” 9.
A Constituição não é ornamental, não se resume a um museu de princípios, não é meramente um ideário; reclama
efetividade real de suas normas. Destarte, na aplicação das normas constitucionais, a exegese deve partir dos princípios
fundamentais, para os princípios setoriais. E, sob esse ângulo, merece destaque o princípio fundante da República que
destina especial proteção à dignidade da pessoa humana. 10. Outrossim, a tutela jurisdicional para ser efetiva deve dar ao
lesado resultado prático equivalente ao que obteria se a prestação fosse cumprida voluntariamente. O meio de coerção
tem validade quando capaz de subjugar a recalcitrância do devedor. O Poder Judiciário não deve compactuar com o
proceder do Estado, que condenado pela urgência da situação a entregar medicamentos imprescindíveis à proteção da
saúde e da vida de cidadão necessitado, revela-se indiferente à tutela judicial deferida e aos valores fundamentais por ele
eclipsados. 11. In casu, a decisão ora hostilizada pelo recorrente importa na negativa de fixação das astreintes ou bloqueio
de valor suficiente à aquisição dos medicamentos necessários à sobrevivência de pessoa carente, revela-se indispensável
à proteção da saúde do autor da demanda que originou a presente controvérsia, mercê de consistir em medida de apoio
da decisão judicial em caráter de sub-rogação. 12. Por fim, sob o ângulo analógico, as quantias de pequeno valor podem
ser pagas independentemente de precatório e a fortiori serem, também, entregues, por ato de império do Poder Judiciário.
13. Recurso especial provido. (REsp 836.913/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 08/05/2007, DJ
31/05/2007, p. 371)

54
que se determine prazo razoável para cumprimento do preceito.

§ 1o O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a pe-


riodicidade da multa vincenda ou excluí-la, caso verifique que:
I - se tornou insuficiente ou excessiva;
II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obriga-
ção ou justa causa para o descumprimento.
§ 2º O valor da multa será devido ao exequente.
§ 3º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, de-
vendo ser depositada em juízo, permitido o levantamento do valor após o
trânsito em julgado da sentença favorável à parte.
§ 4º A multa será devida desde o dia em que se configurar o descumprimen-
to da decisão e incidirá enquanto não for cumprida a decisão que a tiver
cominado.
§ 5º O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao cumprimento de
sentença que reconheça deveres de fazer e de não fazer de natureza não
obrigacional.

Questão complexa desde o CPC (BRASIL, 1973) é a possibilidade de o juiz


reduzir, de ofício ou a requerimento, o valor total da multa. Por exemplo,
na hipótese de o inadimplemento se dar por longos períodos, ensejando
soma vultosa a título de astreintes, os tribunais reduziam o valor, não da
penalidade, mas da quantia executada pelo credor:
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. IMPUGNAÇÃO À EXECUÇÃO
DE ASTREINTES FIXADAS EM AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. REDUÇÃO DE
MULTA. POSSIBILIDADE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO.
AGRAVO NÃO PROVIDO.

1. É pacífico nesta Corte que o valor da multa cominatória prevista no art.


461 do CPC/73 pode ser alterado pelo magistrado a qualquer tempo, até
mesmo de ofício, quando irrisório ou exorbitante, não havendo falar em
preclusão ou ofensa à coisa julgada. Precedentes.

55
2. Na hipótese, o Tribunal de origem manteve decisão que acolheu impug-
nação do cumprimento de sentença para reduzir o valor das astreintes de
R$ 114.200,00 (cento e quatorze mil e duzentos reais) para R$ 30.000,00
(trinta mil reais), em razão dos princípios da razoabilidade e da proporcio-
nalidade, de acordo com as peculiaridades do caso concreto.
3. Para a demonstração da divergência, nos moldes preconizados pelo art.
255, § 2º, do RISTJ, c/c o art. 541, parágrafo único, do CPC, é necessária a
realização do cotejo analítico entre os arestos confrontados, de modo a evi-
denciar o alegado dissenso das teses jurídicas adotadas, alegadamente, em
situações de evidente similitude fática, o que não ocorreu no caso dos autos.
4. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 162.145/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA,
julgado em 28/03/2017, DJe 19/04/2017)

O CPC (BRASIL, 2015) tentou solucionar o problema, disciplinando no § 1º


do art. 537 que o valor e a periodicidade da multa vincenda poderão ser
alterados de ofício pelo juiz. Em sentido contrário, manteve intacta, con-
figurando direito adquirido da parte, a multa vencida, em decorrência do
inadimplemento do devedor.

Outra regra interessante é a prevista no § 3º, que admite o cumprimento


provisório da decisão e o levantamento dos valores depositados, tão logo
ocorra o trânsito em julgado. Se lida em conjunto com o § 4º, deixa claro
que a multa pode ser executada tão logo se dê o inadimplemento, inde-
pendentemente de ter sido arbitrada em sede de tutela provisória.

Em todo caso, poderá o devedor inadimplente ser considerado litigante


de má-fé. Isto porque, como leciona Paulo Henrique dos Santos Lucon, o
art. 536, § 3º “alça o cumprimento da prestação inadimplida reconhecida
como devida em juízo a um dever ético que, se desrespeitado, ensejará
a caracterização do obrigado como litigante de má-fé, sem prejuízo, ade-
mais, de eventual responsabilização por crime de desobediência”7.
7
Comentário ao art. 536. In: Comentários ao código de processo civil – volume 2 (arts. 318 a 538). Cassio Scarpinella Bueno
(coordenador). São Paulo: Saraiva, 2017, p. 761.

56
Por fim, não sendo possível o cumprimento da obrigação ou obtenção
do resultado prático equivalente, não restará outra alternativa ao credor
além de contentar-se com a conversão em perdas e danos, o que pode,
diante do caso concreto, ser determinado independentemente do seu
requerimento:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


ORDINÁRIA. NORMAS LEGAIS. FALTA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULAS 282/STF E 211/STJ. TUTELA ESPECÍFICA. IMPOSSIBILIDADE DO
CUMPRIMENTO OU DA OBTENÇÃO DE RESULTADO PRÁTICO EQUIVALENTE.
CONVERSÃO EM PERDAS E DANOS. CABIMENTO. ART. 461, § 1º, DO CPC.
DECISÃO AGRAVADA. FUNDAMENTO NÃO IMPUGNADO. SÚMULA N. 182/
STJ. AGRAVO DESPROVIDO.

1. Incidem as Súmulas n. 282/STF e 211/STJ quando as normas legais indi-


cadas no recurso especial não foram objeto de específico debate no acór-
dão da apelação cível, tampouco no aresto que julgou os embargos de
declaração.

2. Definida a obrigação pela prestação de tutela específica - seja ela obriga-


ção de fazer, não fazer ou dar coisa certa -, é plenamente cabível, de forma
automática, a conversão em perdas e danos, ainda que sem pedido explí-
cito, quando impossível o seu cumprimento ou a obtenção de resultado
prático equivalente (art. 461, § 1º, do CPC).

3. A não impugnação de fundamento autônomo da decisão agravada atrai


o óbice previsto na Súmula n. 182/STJ.

4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no REsp 1293365/RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,


TERCEIRA TURMA, julgado em 06/10/2015, DJe 13/10/2015)

57
2. Tutela específica das obrigações de entregar coisa

Em que pese o que consta no art. 513, § 1º, tanto para as obrigações de
fazer, quanto para as de entregar coisa, exige-se o requerimento da parte,
não sendo possível que a atividade executiva se desenvolva de ofício8.

Quanto às obrigações de entregar coisa, embora siga, no que cabe, as


disposições referentes às obrigações de fazer, o art. 538 traz uma pecu-
liaridade. Há situações nas quais o título contém obrigação de entregar
coisa incerta, o que exige que o credor indique, já no requerimento de
cumprimento de sentença, o que deve ser entregue.

Caso a coisa devida não seja entregue, será expedido mandado de busca
e apreensão ou de imissão na posse. Se, ainda assim, não for possível o
cumprimento da tutela específica, o juiz utilizará as medidas previstas no
art. 537, aptas a viabilizar a efetivação da decisão.

O procedimento desta execução fundado em título executivo extrajudicial


está regulado pelos arts. 806 a 813, do CPC (BRASIL, 2015).

Após a distribuição da petição, será citado o executado para, em no má-


ximo 15 dias, satisfazer a obrigação. Do mandado de citação constará,
ainda, a ordem para imissão na posse ou busca e apreensão, cujo cumpri-
mento será imediato, se o executado não satisfizer a obrigação no prazo
que lhe for designado.

Com a entrega da coisa, esta será liberada ao exequente e satisfeita a


obrigação, prosseguindo-se a execução para pagamento de frutos e even-
tuais ressarcimentos por prejuízos sofridos.

Havendo benfeitorias úteis ou necessárias a serem indenizadas, têm lu-


gar os respectivos embargos por retenção, previstos no art. 917, IV do
CPC (BRASIL, 2015).

8
Neste sentido, é o entendimento de Cassio Scarpinella Bueno (Manual de direito processual civil: inteiramente estruturado
à luz do novo CPC. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 423-426).

58
Por fim, é importante ressaltar que, ao tempo do CPC (BRASIL, 1973), não
havia previsão legal para impugnação ao cumprimento de sentença, o
que reconhecia a obrigação de dar coisa certa, o que fez com que o STJ fir-
masse entendimento no sentido do cabimento de embargos à execução,
então previstos no art. 7419. Considerando, porém, a disciplina dos arts.
536, § 4º c/c 538, § 3º, nada obsta o cabimento da defesa, em que pese o
art. 538, §§ 1º e 2º indiquem expressamente que o direito de retenção por
benfeitorias deve ser arguido na fase de conhecimento.

Execução para entrega de coisa incerta

A única diferença fundamental entre as espécies de execução é a neces-


sidade, quando for obrigação de dar coisa incerta, de concentração da
obrigação.

A concentração da obrigação ocorrerá na petição inicial, quando a esco-


lha couber ao credor. Sua omissão implicará necessariamente em renún-
cia ao ius eligendi.

Quando couber ao demandado (por força contratual ou pela omissão do


demandante), este concentrará a obrigação no momento de entrega do
bem, que será efetivamente o escolhido.

9
PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ALEGATIVA DE INCOMPETÊNCIA. QUESTÃO DE ORDEM PÚBLICA. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. ART. 535, II, DO CPC/1973. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. OBRIGAÇÃO
DE DAR COISA CERTA. ART. 461-A DO CPC/1973. IMPUGNAÇÃO. APLICAÇÃO DO REGRAMENTO NO ART. 741 DO CPC/1973.
1. A alegativa de incompetência não foi objeto de análise, nem sequer implicitamente, pela instância de origem, o que atrai
o óbice dos Enunciados 282 e 356 da Súmula do STF. Destaque-se que, em recurso especial, até a análise das questões de
ordem pública exige o devido prequestionamento. Precedente: REsp 1.655.051/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda
Turma, DJe 5/5/2017. 2. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC/1973 quando o Juízo a quo dirime de forma fundamentada as
questões que lhe são submetidas, apreciando integralmente a controvérsia posta nos autos. 3. Assiste razão à recorrente
quanto à alegativa de que não se aplica o regramento de impugnação ao cumprimento de sentença previsto no art. 475-J, §
1º, do CPC/1973 nos casos em que o título judicial veicula obrigação de dar coisa diversa de dinheiro, fundado no art. 461-A
do CPC/1973. 4. O Código de ritos de 1973 realmente não adotou procedimento específico para o caso de impugnação a
cumprimento de sentença que veicula obrigação de dar coisa certa diversa de dinheiro, o que, em tese, deixa o executado
em situação bastante desfavorável em relação a qualquer outro devedor submetido à execução de pagar quantia. 5. Atento
a essa questão, este Tribunal Superior firmou entendimento no sentido de que, em hipóteses como à dos autos, deve-se
adotar o regramento do art. 741 do CPC/1973. Precedentes: REsp 1.308.627/GO, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques,
Segunda Turma, DJe 9/8/2012; REsp 654.583/BA, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJ 6/3/2006, p. 177. 4.
Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, parcialmente provido para determinar que a instância de origem
prossiga no exame da impugnação apresentada pela ora recorrente, adotando o regramento constante do art. 741 do
CPC/1973. (REsp 1240538/RJ, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/08/2017, DJe 09/08/2017)

59
Cabendo ao demandado o direito de escolha e este permanecer inerte, o
ius eligendi será automaticamente transferido ao demandante, que infor-
mará sua escolha através de petição.

Em todo caso, ambas as partes poderão impugnar a escolha realizada


pela outra, no prazo de quinze dias, conforme previsto no art. 812.

Pontuando

• Tutela específica das obrigações de fazer e não fazer e de dar coisa.


• Exigem requerimento do exequente.
• Abrem ensejo às técnicas para efetivação da tutela ou da obtenção
do resultado prático equivalente.
• Possibilidade de o juiz adotar de ofício medidas que visem à obten-
ção da tutela específica ou do resultado prático equivalente.

Glossário

• Poder geral de efetivação: possibilidade de o juiz, de ofício, defe-


rir medidas aptas à efetivação da tutela específica ou da obtenção
de resultado prático equivalente.

• Astreintes: principal técnica coercitiva para obtenção da tutela


específica.

• Impugnação ao cumprimento de sentença: Defesa plenamente


cabível, sob a égide do CPC/15, nos cumprimentos de sentença que
contenham obrigações de fazer ou não fazer e de entregar coisa.

60
VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Mário ajuizou demanda em face de Pedro, na qual pediu


sua condenação na obrigação de fazer consistente na re-
alização de show de mágica, para seus filhos Catarina e
Ronaldo. Foi prolatada sentença de procedência do pedi-
do, com a condenação de Pedro a cumprir a obrigação, no
prazo máximo de quinze dias, sob pena de multa diária.
a) Após o trânsito em julgado da sentença, inicia-se o pra-
zo para Pedro cumprir a obrigação, sob pena de inci-
dência da multa, independentemente de requerimento
de Mário.
b) O art. 513, § 1º do CPC é claro ao admitir que o cumpri-
mento de sentença que reconheça obrigação de fazer
não necessita de requerimento da parte.
c) O prazo para Pedro cumprir a obrigação iniciará a partir
da sua intimação para tanto, em sede de cumprimento
de sentença, que deverá ser expressamente requerido
por Mário.
d) O juiz não poderá substituir a multa diária por outra
medida coercitiva, ainda que essa se mostre ineficaz,
sob pena de violar a coisa julgada.
e) Caso a obrigação não seja cumprida por Pedro, Mário
poderá requerer que Mister M realize o show de mági-
ca, hipótese em que as despesas serão rateadas pelas
as partes.
2. Sobre o poder geral de efetivação, é correto afirmar:
a) o rol previsto no art. 536 é taxativo;
b) dentre as medidas típicas de efetivação, estão a multa,
a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas,
desfazimento de obras e o impedimento de atividade
nociva, inclusive, mediante uso de força policial;

61
c) a multa prevista no art. 537 depende de prévia previ-
são no título executivo;
d) a multa prevista no art. 537 pode ter seu valor total re-
duzido, sempre que este se torne excessivo ou incom-
patível com a obrigação principal;
e) a multa apenas poderá ser executada após o trânsito
em julgado da decisão que a determinar.

3. Sobre o procedimento do cumprimento de sentença que


contenha obrigação de entregar coisa, é correto afirmar que:
a) iniciará independentemente de requerimento da parte;
b) excepcionalmente não encontra previsão legal para
apresentação de impugnação, devendo, o executado,
defender-se por meio de embargos;
c) quando a escolha da coisa couber ao credor, este deve-
rá fazê-la já no requerimento inicial, sob pena de inde-
ferimento do cumprimento de sentença;
d) na execução de título executivo extrajudicial, o execu-
tado será citado para cumprir a obrigação no prazo
máximo de 15 dias, independentemente da obrigação
original constante no contrato;
e) com a entrega da coisa, esta será liberada ao exequen-
te e satisfeita a obrigação, prosseguindo-se a execução
para pagamento de frutos e eventuais ressarcimentos
por prejuízos sofridos.

4. Sobre a execução para entrega de coisa certa, é incorreto


afirmar:
a) a concentração da obrigação ocorrerá na petição ini-
cial, quando a escolha couber ao credor. Sua omissão
implicará necessariamente em renúncia ao ius eligendi;

62
b) quando couber ao demandado (por força contratual
ou pela omissão do demandante), este concentrará a
obrigação no momento de entrega do bem, que será
efetivamente o escolhido;
c) caso o réu não exerça o ius eligendi, caberá ao juiz a es-
colha da coisa;
d) a escolha da coisa poderá ser impugnada por ambas as
partes, no prazo de quinze dias, conforme previsto no
art. 812;
e) todas as alternativas estão corretas.
5. O CPC/15 apenas autoriza que o juiz modifique a periodici-
dade e o valor da multa vincenda, resultando a vencida em
direito adquirido do credor.
( )V ( )F

Referências Bibliográficas
ARRUDA ALVIM NETTO, José Manoel de. Código de Processo Civil Comentado, v. I, n. 3. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1975, p. 426. (comentários ao art. 6º)
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2018.
BARIONI, Rodrigo. Comentário ao art. 827. In: Comentários ao novo Código de Processo
Civil. Coordenação Antonio do Passo Cabral, Ronaldo Cramer. 2. ed. rev., atual. e ampl.
Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 1183.
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF:
Presidência da República, [2015]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
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CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. São Paulo: Atlas, 2015.
CAMARGO, Luiz Henrique Volpe. Comentário ao art. 85. In: Breves comentários ao Novo
Código de Processo Civil. Teresa Arruda Alvim Wambier... [et al.], coordenadores. São

63
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: execução. Fredie Didier Jr.; Leonardo
Carneiro da Cunha; Paula Sarno Braga; Rafael Alexandria de Oliveira. 7. ed. Salvador:
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LAMY, Eduardo de Avelar. A fixação de honorários sucumbenciais no cumprimento
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LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Comentário ao art. 536. In: Comentários ao Código de
Processo Civil. V. 2 (arts. 318 a 538). Cassio Scarpinella Bueno (coordenador). São Paulo:
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MELLO, Rogerio Licastro Torres de. Honorários advocatícios sucumbenciais: apreciações
gerais e princípios aplicáveis. In: Honorários Advocatícios. Coordenadores: Marcus Vinícius
Furtado Coêlho, Luiz Henrique Volpe Camargo. Salvador: Juspodivm, 2015. (Coleção
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NERY JUNIOR, Nelson. Código de Processo Civil Comentado. Nelson Nery Junior, Rosa Maria
de Andrade Nery. 16. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2016, p. 479.
NERY JUNIOR. Nelson. Princípios do Processo na Constituição Federal: (processo civil, penal
e administrativo). 12. ed. rev., ampl. e atual. com as novas súmulas do STF (simples e vin-
culantes) e com o novo CPC (Lei 13.105/2015). São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2016.
OLIVEIRA NETO, Olavo. Comentário ao art. 917. In: Comentários ao Código de Processo Civil.
V. 3 (arts. 539 a 925). Cassio Scarpinella Bueno (coordenador). São Paulo: Saraiva, 2017.
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Honorários no processo de execução. In: Honorários
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SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 2015.
TUCCI, José Rogério Cruz e. Comentários ao Código de Processo Civil. V.VIII. São Paulo:
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UZEDA, Carolina. Honorários arbitrados em embargos à execução e o respeito à vontade
do credor quanto ao procedimento adotado para sua efetivação. Artigo no prelo.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim... [et al]. Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo

64
Civil. 1. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015.
ZANETI JR., Hermes. Comentário ao art. 870. In: Comentários ao Código de Processo Civil:
artigos 824 ao 925. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: C

Resolução: Em que pese o que consta no art. 513, não é possível


iniciar cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de
obrigação de fazer de ofício.

Questão 2 – Resposta: B

Resolução: As medidas típicas estão relacionadas no art. 536, sem


prejuízo da adoção de outras necessárias à efetivação da tutela
específica.

Questão 3 – Resposta: E

Resolução: Como disciplinado pelo art. 807 do CPC.

Questão 4 – Resposta: C

Resolução: Caso o réu não proceda à escolha da coisa a ser entre-


gue, o autor poderá fazê-lo através de simples petição.

Questão 5 – Resposta: V

Resolução: A assertiva é verdadeira, na forma do art. 537, § 1º.

65
TUTELA JURISDICIONAL DOS DIREITOS
REAIS E AÇÕES POSSESSÓRIAS

Objetivos

• Ações expropriatórias.

• Usucapião.

• Ação divisória e demarcatória.

• Ação discriminatória.

• Embargos de terceiro.

• Reintegração e manutenção na posse.

• Interdito proibitório.

66
1. Tutela jurisdicional dos direitos reais e ações
possessórias

Iniciamos, agora, o estudo de procedimentos especiais voltados à defesa


da propriedade e da posse. Bem se sabe que, em razão das características
do direito material envolvido, faz-se necessário um procedimento especí-
fico, voltado à realidade da tutela pretendida.

Isso leva a características próprias em cada procedimento, as quais não


excluem a aplicação do art. 327, § 2º do CPC (BRASIL, 2015), admitindo-se,
finalmente, a cumulação de pedidos, desde que seguido o procedimento
comum, sem prejuízo da utilização de técnicas do procedimento especial.

A seguir, trataremos das ações expropriatórias e de defesa da posse, que


possuem previsão tanto no CPC (BRASIL, 2015), quanto em legislação
extravagante.

2. Ação de usucapião

A usucapião é forma originária de aquisição de propriedade que, na vi-


gência do CPC (BRASIL, 2015), se dará preferencialmente por via adminis-
trativa, conforme consta no art. 1.071, sem prejuízo da utilização da via
judicial, caso a parte entenda conveniente.

Tanto assim o é que o Código não trouxe procedimento específico para a


referida ação, o que nos faz concluir que, ressalvadas certas menções es-
parsas no texto legal, o procedimento a ser adotado será o comum, como,
inclusive, passou a constar do art. 216-A, da Lei de Registros Públicos.

Será possível o ajuizamento da ação de usucapião sempre que o pedido


administrativo for negado, isto é, falta à parte interesse de agir para a de-
manda, até que tenha esgotado a esfera administrativa.

67
Na hipótese de impugnação do pedido de reconhecimento extrajudicial
da usucapião, o oficial de registro de imóveis remeterá, independente-
mente de requerimento, os autos ao juízo competente da comarca da
situação do imóvel, cabendo ao requerente emendar a petição inicial para
adequá-la ao procedimento comum.

Frise-se que, não se trata, a bem da verdade, de emenda da petição inicial,


uma vez que não se pode confundir o requerimento administrativo com
demanda. Ainda assim, a parte adequará seu requerimento, preenchen-
do os requisitos legais da petição inicial e viabilizando que o procedimen-
to administrativo protocolado em juízo tenha curso perante o judiciário.

3. Divisória e Demarcatória

As ações divisória e demarcatória de terras particulares estão previstas


nos arts. 569 e seguintes do CPC (BRASIL, 2015). Para Humberto Theodoro
Junior, o direito à divisão é inerente à propriedade, enquanto o direito à
demarcação é vinculado aos chamados direitos de vizinhança1.

É legitimado a propor a ação de demarcação o proprietário, para obrigar o


confinante a estremar os respectivos prédios, fixando-se novos limites ou
ressaltando-se os já existentes; já a ação de divisão pode ser proposta pelo
condômino para obrigar os demais consortes a estremar seus quinhões.

Assim como na usucapião, embora seja possível realizar a demarcação e


divisão por via extrajudicial, esta não obsta o ajuizamento direito da ação.
O art. 571 afirma que é possível a utilização da via extrajudicial, sempre
que os interessados sejam maiores, capazes e concordem com a divisão/
demarcação pretendida. Nada impede que, antes mesmo de tentar a via
extrajudicial, a parte ajuíze a demanda, especialmente quando não obtém
previamente a concordância de todos os interessados.
1
Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. Coordenação: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim, et. al. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2015, p. 1463.

68
A petição inicial da ação de demarcação deverá vir acompanhada dos tí-
tulos de propriedade, cabendo ao autor, ainda, designar o imóvel pela si-
tuação e pela denominação, descrever seus limites, aviventar ou renovar
e nomear todos confinantes da linha a ser demarcada.

Já a ação de divisão deverá conter necessariamente a origem da comu-


nhão e a denominação, a situação, os limites e as características do imó-
vel, além da indicação das benfeitorias (art. 588).

As ações de demarcação e de divisão podem ser cumuladas, na forma


do art. 570, que determina se proceda, inicialmente, à demarcação para,
após, ser viabilizada a divisão:

Art. 570. É lícita a cumulação dessas ações, caso em que deverá processar-
-se primeiramente a demarcação total ou parcial da coisa comum, citando-
-se os confinantes e os condôminos.
Realizada a demarcação, os confinantes passarão a ser considerados tercei-
ros quanto ao pedido divisório, sendo certo que deverão ser citados para a
ação todos os condôminos, se a sentença homologatória da divisão ainda
não houver transitado em julgado, e todos os quinhoeiros dos terrenos vin-
dicados, se a ação for proposta posteriormente. (BRASIL, 2015, art. 570)

Em que pese a perícia sempre tenha sido considerada essencial à ação de


demarcação, sendo prova tarifada indispensável à fixação de novos limi-
tes, considerando que a Lei nº 10.267 (BRASIL, 2001) tornou obrigatório o
georreferenciamento, o CPC (BRASIL, 2015) dispensou a realização da pro-
va pericial, que apenas será considerada nos casos em que o juiz a repute
necessária (art. 573).

4. Ação discriminatória

A ação discriminatória está prevista na Lei 6383/76 e se presta a “segre-


gar as terras devolutas do patrimônio particular”2. Tem como seu obje-
2
MARINONI, Luiz Guilherme. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimentos diferenciados,
volume 3. Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart, Daniel Mitidiero. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2017, p. 303.

69
to, a identificação das terras devolutas e sua separação do patrimônio
particular.
Para o ajuizamento da ação discriminatória, disciplina o art. 19 da Lei que
é necessária a prévia realização – ou tentativa de realização – de procedi-
mento administrativo, sendo certo que só cabe a referida ação “I - quan-
do o processo discriminatório administrativo for dispensado ou interrompido
por presumida ineficácia; II - contra aqueles que não atenderem ao edital de
convocação ou à notificação (artigos 4º e 10 da presente Lei); e III - quando
configurada a hipótese do art. 25 desta Lei”.

A ação discriminatória deverá ser proposta perante a Justiça Federal e


terá prioridade na tramitação, com as seguintes características especiais:
• É documento obrigatório da petição inicial o memorial descritivo da
área;
• A citação será feita por edital, observados os prazos da Lei; e
• A apelação será recebida apenas no efeito devolutivo.
A adoção do procedimento sumaríssimo é prevista na Lei nº 6.383 (BRASIL,
1976), porém, considerando que o CPC (BRASIL, 2015) não trouxe a previsão
de qualquer procedimento sumário, aplicar-se-á o procedimento comum.

5. Embargos de terceiro

Os embargos de terceiro estão previstos nos arts. 6743 e seguintes e se


tratam de ação destinada à proteção da propriedade ou posse de terceiros
indevidamente atingidos por decisão judicial. Na lição de Luiz Guilherme
Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero4:
“Embora a medida seja muito empregada em face de execuções (que atin-
gem o patrimônio do terceiro), ela é admissível sempre que se esteja diante
3
Art. 674. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição ou ameaça de constrição sobre bens que possua ou sobre
os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer seu desfazimento ou sua inibição por meio de
embargos de terceiro.
4
MARINONI, Luiz Guilherme. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimentos diferenciados,
volume 3. Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart, Daniel Mitidiero. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2017, p. 303.

70
de situação em que haja constrição judicial de bens deste terceiro que se
entenda indevida.”

Podem ser, ainda, propostos preventivamente, sempre que o terceiro


tome ciência da ameaça ao seu direito, conforme já decidiu o STJ:
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO PREVENTIVO. ART. 1.046, DO
CPC. AMEAÇA. CABIMENTO.
1. Os embargos de terceiro voltam-se contra a moléstia judicial à posse, que
se configura com a turbação, o esbulho e a simples ameaça de turbação ou
esbulho.
2. A tutela inibitória é passível de ser engendrada nas hipóteses em que o
terceiro opôs os embargos após ter os bens de sua propriedade relaciona-
dos à penhora pelo Sr. oficial de justiça em ação de execução fiscal.
3. É cediço na Corte que os embargos de terceiro são cabíveis de forma pre-
ventiva, quando o terceiro estiver na ameaça iminente de apreensão judi-
cial do bem de sua propriedade. Precedentes: REsp 751513/RJ, Rel. Ministro
Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 21/08/2006 Resp. n° 1.702/CE, Relator
o Ministro Eduardo Ribeiro, DJ de 9/4/90; REsp n° 389.854/PR, Relator o
Ministro Sálvio de Figueiredo, DJ de 19/12/02.
4. A ameaça de lesão encerra o interesse de agir no ajuizamento preventivo
dos embargos de terceiro, máxime à luz da cláusula pétrea da inafastabi-
lidade, no sentido de que nenhuma lesão ou ameaça de lesão escapará à
apreciação do judiciário (art. 5º, inciso XXXV, da CF).
5. Recurso especial desprovido.
(REsp 1019314/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em
02/03/2010, DJe 16/03/2010)

Na forma do art. 674 (BRASIL, 2015), são legitimados para propor embar-
gos de terceiro5:
5
O STJ já admitiu embargos de terceiro propostos por sócio, citado como litisconsorte da pessoa jurídica: PROCESSUAL
CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. SÓCIO-QUOTISTA. EMBARGOS DE TERCEIRO (ART. 1.046, CPC). PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA,
INSTRUMENTALIDADE E DA FUNGIBILIDADE. 1. OS EMBARGOS DE TERCEIRO PRESTAM-SE A QUEM NÃO É PARTE NO
PROCESSO DE EXECUÇÃO (ART. 1.046, CPC). A JURISPRUDÊNCIA, TODAVIA, TEM MITIGADO A COMPREENSÃO LINEAR,
ADMITINDO QUE O SÓCIO, CITADO COMO LITISCONSORTE PASSIVO DO DEVEDOR, VISANDO LIVRAR DA CONSTRIÇÃO
JUDICIAL SEUS BENS PARTICULARES, COMO HOMENAGEM AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA, DA INSTRUMENTALIDADE
E DA FUNGIBILIDADE, ASSEGURANDO-SE-LHE O ACESSO AO JUDICIÁRIO, TENHA OS SEUS EMBARGOS RECEBIDOS E
PROCESSADOS COMO A EXECUÇÃO. 2. PRECEDENTES DA JURISPRUDÊNCIA. 3. RECURSO PROVIDO. (REsp 31.347/SP, Rel.
Ministro MILTON LUIZ PEREIRA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 14/12/1994, DJ 20/02/1995, p. 3152)

71
I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a posse de bens próprios ou
de sua meação, ressalvado o disposto no art. 843;

II - o adquirente de bens cuja constrição decorreu de decisão que declara a


ineficácia da alienação realizada em fraude à execução;

III - quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsidera-
ção da personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte;

IV - o credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto


de direito real de garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais
dos atos expropriatórios respectivos.

Podem, ainda, opor embargos de terceiro, o sublocatário, na ação de des-


pejo, quando não tenha sido intimado a intervir no feito como assisten-
te6, o possuidor com domínio fundado em sentença transitada em jul-
gado não registrada no respectivo órgão7 e os adquirentes de unidades,
quando a instituição financiadora da obra requer a penhora do terreno
dado em garantia pela construtora8.

A petição inicial dos embargos de terceiro deverá indicar a prova sumá-


ria da posse ou do domínio e a qualidade de terceiro, sendo certo que o
sujeito legitimado a figurar no polo passivo (embargado) será aquele a
quem o ato constritivo aproveita.
6
PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE SENTENÇA PROLATADA EM AÇÃO DE DESPEJO. EMBARGOS DE
TERCEIRO. INADMISSIBILIDADE. 1. É inadmissível a propositura de embargos de terceiros em sede de execução de sentença
prolatada em ação de despejo, ressalvado o caso de comprovada sublocação legítima, com ausência de intimação do
sublocatário, de modo a viabilizar-lhe o meio hábil de defesa da posse do imóvel. Precedentes. 2. Recurso especial não
provido. (REsp 326.063/MT, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, Rel. p/ Acórdão Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 20/06/2013, DJe 23/08/2013)
7
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIROS. SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. REGISTRO PRETENDIDO
POSTERIOR À PENHORA. ARTS. 530, I, DO CÓDIGO CIVIL, E 1.046 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. CABÍVEIS
OS EMBARGOS DE TERCEIRO POSSUIDOR QUE TEM O DOMÍNIO RESULTANTE DE SENTENÇA TRANSITADA EM
JULGADO, AINDA QUE SÓ LEVADA A REGISTRO APÓS A PENHORA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (REsp
7.377/CE, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA, julgado em 11/03/1996, DJ 06/05/1996, p. 14418)
PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO. CONTRATO DE GAVETA. IMÓVEL FINANCIADO. MORTE DO
PROMITENTE VENDEDOR. A posse transmitida na promessa de compra e venda pode ser defendida em embargos
de terceiro, ainda que fundada em instrumento desprovido de registro (STJ - Súmula nº 84); e se essa posse está
ameaçada pelo arrolamento do respectivo imóvel em inventário, não obstante já alienado pelo de cujus, o promitente
comprador tem direito à realização da audiência de justificação de posse, tal como deflui do exame conjunto dos
artigos 1.046, caput e 1.050, § 1º, do Código de Processo Civil. Recurso especial conhecido e provido. (REsp
85.654/AL, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/11/1999, DJ 13/12/1999, p. 140)
8
4ª Turma do STJ, no julgamento do Recurso Especial n. 187.940-SP, relatado pelo então Min. Ruy Rosado de Aguiar:
“Procedem os embargos de terceiros opostos pelos promissários compradores de unidade residencial de edifício financiado,
contra a penhora efetivada no processo de execução hipotecária promovida pela instituição de crédito imobiliário que
financiou a construtora”.

72
Propostos os embargos de terceiro, que serão distribuídos por dependên-
cia ao juízo que ordenou a constrição, o embargado será intimado para
apresentar defesa no prazo de quinze dias, caso tenha advogado constitu-
ído nos autos da ação principal. Caso contrário, sua citação será pessoal.

Caso o embargado não tenha dado ensejo ao ato constritivo, ou seja, não
tenha indicado o bem penhorado e não se oponha à desconstituição do
ato constritivo, não será condenado em honorários.

6. Ações possessórias

A reintegração e a manutenção de posse são duas das ações possessórias


previstas nos arts. 554 a 566 do CPC (BRASIL, 2015) e, em que pese per-
maneçam com tratamento em apartado, bem se sabe, estão plenamente
sujeitas à fungibilidade.

Ou seja, o ajuizamento de uma ação possessória no lugar de outra, não


ensejará qualquer vício, sendo o procedimento absolutamente adaptável
às particularidades de cada forma de ofensa à posse do autor.

A fungibilidade, que já encontrava previsão no art. 920 do CPC (BRASIL,


1973), encontra guarida, no CPC (BRASIL, 2015), já no art. 554, que é claro
ao afirmar que “A propositura de uma ação possessória em vez de outra
não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal
correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados”.

Daí extrai-se que é necessário que o autor demonstre, na petição inicial e


independentemente do nome atribuído à demanda proposta, a existên-
cia da posse e a ocorrência de esbulho, turbação ou ameaça, bem como,
que peça a tutela de seu direito.

O art. 555 autoriza que a parte cumule pedido possessório com o de con-
denação em perdas e danos e indenização dos frutos. Em que pese a vasta

73
doutrina – e jurisprudência – indicando a impossibilidade de cumulação
de demanda possessória com petitória9, na qual a causa de pedir é o direi-
to de propriedade, pensamos que o art. 327, § 2º do CPC (BRASIL, 2015),
admite sejam os pedidos cumulados. Além do mais, o art. 555 possui rol
meramente exemplificativo, uma vez que, o que não é possível é que se
intente discutir domínio em demanda possessória. Tendo a parte direito
a ambas as ações, nada impede que defenda sua posse, utilizando-se das
medidas específicas da tutela possessória, sem prejuízo de simultanea-
mente formular pedido petitório que, na forma do art. 557, estará sujeito
à condição suspensiva.

Admitir tal cumulação implicará, sem dúvida, grande economia processu-


al, uma vez que, nos casos em que o domínio é fundamento para a tutela
possessória pretendida, toda a instrução realizada poderá ser ‘aproveita-
da’ quando do julgamento do pedido petitório.

Para os esbulhos ou turbações novos, ocorridos em menos de um ano e


dia do ajuizamento da demanda, é possível a concessão de liminar, a qual
sujeita-se ao preenchimento dos requisitos previstos no art. 561, demons-
trando a posse, a turbação ou o esbulho, a data em que ocorreu (justifi-
cando, assim, a concessão da liminar) e a continuação da posse, embora
turbada, na ação de manutenção, e a perda da posse, na reintegração.
Ainda que não estejam previstos os requisitos para a medida liminar es-
pecífica, nada obsta que a parte, demonstrando o preenchimento dos
pressupostos para concessão de tutela provisória (de urgência ou de
evidência), também logre obter medida liminar, de natureza cautelar ou
antecipada.
Deferida ou não a liminar, o art. 564 (BRASIL, 2015) determina que o autor
promova a citação do réu em cinco dias, o qual terá o prazo de quinze dias
para contestar, ressalvada a hipótese prevista no parágrafo único:
9
Nesse sentido: WOLKART, Erik Navarro. Comentário ao art. 555. Comentários ao novo código de processo civil. 2. ed. Coord.
Ronaldo Cramer e Antonio do Passo Cabral. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 895 e, ainda, TJSP; Agravo de Instrumento
2067005-78.2018.8.26.0000; Relator(a): Marcia Dalla Déa Barone; Órgão Julgador: 3ª Câmara de Direito Privado; Foro
Central Cível - 2ª Vara de Registros Públicos; Data do Julgamento: 24/04/2018; Data de Registro: 24/04/2018.

74
Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de rein-
tegração, o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias subsequentes, a citação do
réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias.

Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia, o prazo para


contestar será contado da intimação da decisão que deferir ou não a medi-
da liminar.

Após a apresentação de defesa pelo réu, o processo seguirá pelo proce-


dimento comum.

Por fim, o interdito proibitório é demanda possessória prevista nos arts.


567 e 568, que visa tutelar a posse contra ameaças praticadas por tercei-
ros. No caso, a parte pedirá que o juiz assegure sua manutenção na pos-
se, mediante mandado proibitório, que coíba a prática do ato ilícito pelo
réu. É, a bem da verdade, uma tutela inibitória, que contém obrigação de
não fazer, visando impedir a prática de turbação ou esbulho.

Pontuando

• Tutela da propriedade:
• Feita através de ações expropriatórias.

• Usucapião.

• Discriminatórias.

• Tutela da posse:
• Feita através das ações possessórias.

• Embargos de terceiro:

• Procedimento que serve à tutela da posse e da propriedade.

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Glossário

• Ação discriminatória: ação destinada a segregar terras devolutas


do patrimônio particular.

• Interdito proibitório: ação de obrigação de não fazer que visa im-


pedir ato de ameaça à posse.

• Usucapião: meio originário de aquisição da propriedade.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Será possível o ajuizamento da ação de usucapião sempre


que o pedido administrativo for negado, isto é, falta à par-
te interesse de agir para a demanda, até que tenha esgo-
tado a esfera administrativa.
( )V ( )F

2. Sobre divisão e demarcação, assinale a alternativa incorreta:


a) é necessário o esgotamento da via extrajudicial, para
que parte ajuíze a demanda;
b) a petição inicial da ação de demarcação deverá vir
acompanhada dos títulos de propriedade;
c) a petição inicial da ação de demarcação deverá desig-
nar o imóvel pela situação e pela denominação, descre-
ver seus limites, aviventar ou renovar e nomear todos
confinantes conhecidos da linha a ser demarcada;
d) a petição inicial da ação de divisão deverá conter neces-
sariamente a origem da comunhão e a denominação, a
situação, os limites e as características do imóvel;
e) a petição inicial da ação de divisão deverá conter a indi-
cação das benfeitorias.

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3. Marco propôs ação de divisão e, considerando que o imó-
vel foi anteriormente georreferenciado, juntou a docu-
mentação comprobatória e afirmou ser desnecessária a
realização de perícia. O juiz, porém, afirmando ser o desti-
natário da prova e sem apresentar qualquer outro funda-
mento, determinou a realização da perícia. Sobre a perícia
nas ações de divisão, assinale a afirmativa correta:
a) a perícia ainda é necessária para as ações de divisão,
considerando a imprescindibilidade de conhecimento
técnico;
b) o juiz não pode dispensar a realização de prova peri-
cial, sob pena de ferir a ampla defesa;
c) considerando que a Lei 10.267/2001 tornou obrigatório
o georreferenciamento, o CPC/15 dispensou a realiza-
ção da prova pericial, que, salvo declaração de invalida-
de do título, não poderá ser realizada;
d) o juiz, considerando que o CPC dispensa a produção
de prova pericial quando o imóvel tiver sido georrefe-
renciado, não pode determinar a produção de prova
pericial;
e) a perícia poderá ser realizada sempre que o juiz a repute
necessária (art. 573), mediante decisão fundamentada.
4. Marcela foi casada com Ronaldo por dezoito anos. Finda a
relação conjugal e realizado o divórcio, Marcela deixou de
promover a averbação da partilha no registro de imóveis,
razão pela qual os bens do casal permaneceram em nome
de Ronaldo.
Ronaldo, por sua vez, é executado na ação de execução
movida pelo Banco ABNorte. Tendo sido determinada a
penhora de todo o patrimônio de Ronaldo, este contata
sua ex-mulher e informa da decisão judicial.

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Sobre a situação concreta, é correto afirmar:
a) não é possível o ajuizamento de embargos de tercei-
ro por Marcela, uma vez que ainda não é formalmente
proprietária do imóvel;
b) os embargos de terceiro não podem ser propostos pre-
ventivamente, sendo necessária a efetiva turbação ou
esbulho;
c) os embargos de terceiro voltam-se contra a moléstia
judicial à posse, que se configura com a turbação ou o
esbulho, não sendo apto à proteção contra a simples
ameaça de turbação ou esbulho;
d) os embargos de terceiro são cabíveis de forma preven-
tiva, quando o terceiro estiver na ameaça iminente de
apreensão judicial do bem de sua propriedade;
e) nenhuma das alternativas anteriores.
5. Sobre o procedimento das ações possessórias, é correto
afirmar:
a) é necessário que o autor demonstre, na petição inicial
e independentemente do nome atribuído à demanda
proposta, a existência da posse e a ocorrência de esbu-
lho, turbação ou ameaça, bem como, que peça a tutela
de seu direito;
b) não é possível cumular pedido possessório com o de con-
denação em perdas e danos e indenização dos frutos;
c) para os esbulhos ou turbações novas, ocorridos em
menos de um ano do ajuizamento da demanda, é pos-
sível a concessão de liminar;
d) para concessão de liminar, é necessário o preenchi-
mento dos pressupostos para concessão de tutela
provisória;
e) não é possível concessão de liminar, em tutela posses-
sória, quando o esbulho ou a turbação houver ocorrido
há mais de ano e dia do ajuizamento da demanda.

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Referências Bibliográficas
BRASIL. Lei nº 6.383, de 7 de dezembro de 1976. Dispõe sobre o Processo Discriminatório
de Terras Devolutas da União, e dá outras Providências. Brasília, DF: Presidência da
República, [1976]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6383.htm.
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BRASIL. Lei nº 10.267, de 28 de agosto de 2001. Altera dispositivos das Leis nos 4.947, de
6 de abril de 1966, 5.868, de 12 de dezembro de 1972, 6.015, de 31 de dezembro de
1973, 6.739, de 5 de dezembro de 1979, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2001]. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10267.htm. Acesso em: 15 jul. 2021.
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NERY JUNIOR, Nelson. Código de Processo Civil Comentado. Nelson Nery Junior, Rosa Maria
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SCARPINELLA BUENO, Cassio. Comentários ao Código de Processo Civil. V. 3 (arts. 539 a
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THEODORO JR., Humberto. Breves Comentários ao Novo Código de Processo Civil. Teresa
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WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Breves Comentários ao Novo Código de Processo Civil.
Teresa Arruda Alvim Wambier... [et al.], coordenadores. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2015.

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Gabarito

Questão 1 – Resposta: F

Resolução: A alternativa é falsa. O art. 1071, ao alterar a Lei de


Registros Públicos, passou a adotar, preferencialmente, a via admi-
nistrativa para a usucapião. A existência de procedimento extraju-
dicial, porém, não impede a utilização da via judicial, caso a parte
entenda mais conveniente.

Questão 1 – Resposta: A

Resolução: Tanto na usucapião, quanto na divisão ou demarcação,


não é necessário o esgotamento da via extrajudicial, podendo a
parte optar por buscar diretamente o judiciário, sempre que achar
conveniente.

Questão 3 – Resposta: E

Resolução: Em que pese, inicialmente, a perícia seja considerada


desnecessária, o juiz, como destinatário da prova e diante da neces-
sidade de realização de prova pericial, devidamente fundamentada
e considerando as peculiaridades do caso concreto, poderá determi-
nar que esta seja realizada.

Questão 4 – Resposta: D

Resolução: O STJ firmou entendimento no sentido da possibilidade


de utilização preventiva dos embargos de terceiro.

Questão 5 – Resposta: A

Resolução: A fungibilidade é plenamente admissível, desde que a


parte apresente corretamente a causa de pedir, próxima e remota,
indicando a existência da posse e do esbulho ou turbação.

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