Você está na página 1de 52

WBA0856_v1.

ADMINISTRAÇÃO APLICADA À
ENGENHARIA DE SEGURANÇA
2

Arthur Ribeiro Torrecilhas

ADMINISTRAÇÃO APLICADA À
ENGENHARIA DE SEGURANÇA
1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2021
3

© 2021 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser


reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização,
por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.

Presidente
Rodrigo Galindo

Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada


Paulo de Tarso Pires de Moraes

Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Carolina Yaly
Giani Vendramel de Oliveira
Gislaine Denisale Ferreira
Henrique Salustiano Silva
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo

Coordenador
Nirse Ruscheinsky Breternitz

Revisor
Joubert Rodrigues dos Santos Júnior

Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Gilvânia Honório dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
__________________________________________________________________________________________
Torrecilhas, Arthur Ribeiro
T689a Administração aplicada à engenharia de segurança /
Arthur Ribeiro Torrecilhas, – Londrina: Editora e
Distribuidora Educacional S.A., 2021.
31 p.

ISBN 978-65-5903-104-7

1. Segurança do Trabalho. 2. Administração da


Segurança. 3. ISO 45001. I. Título.

CDD 363.11
____________________________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB 010289/O

2021
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
4

ADMINISTRAÇÃO APLICADA À ENGENHARIA DE


SEGURANÇA

SUMÁRIO

Introdução à administração na segurança no trabalho________ 05

Custo x benefício e políticas de segurança na empresa_______ 20

Gestão da segurança e saúde no trabalho ____________________ 38

Projetos pedagógicos em Educação Ambiental________________ 53


5

Introdução à administração na
segurança no trabalho
Autoria: Arthur Ribeiro Torrecilhas
Leitura crítica: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior

Objetivos
• Apresentar ao aluno os conceitos introdutórios da
administração relacionada à segurança no trabalho.

• Especificar as etapas para aquisição de


equipamentos e materiais da segurança no trabalho.

• Estabelecer critérios para controle e distribuição dos


materiais de segurança.
6

1. Conceito de administração

A palavra administração tem sua origem do latim ad minister, que se


pode traduzir como direção e obediência. Assim, podemos definir a
administração como sendo “o ato de trabalhar com e por meio de
pessoas, no intuito de cumprir os objetivos da organização e seus
membros” (LACOMBE; HEILBORN, 2003). Nota-se que ela busca
aprimorar sistemas e condições de trabalho em que agregam condições
favoráveis para funcionários e organizações. Esse princípio é muito
observado nos aspectos da ergonomia cognitiva e organizacional. Sendo
assim, já podemos notar a nítida relação entre a segurança no trabalho,
produtividade e administração.

Também podemos definir a administração como o processo em que


são colocadas em práticas as decisões sobre os objetivos e utilização
dos recursos da companhia (LACOMBE; HEILBORN, 2003). A Figura 1
apresenta um esquema dos principais conceitos a serem analisados pela
administração voltada para a segurança do trabalho nas empresas.

Figura 1 – Principais conceitos a serem analisados pela


administração voltada para a segurança nas empresas

Fonte: elaborada pelo autor.


7

Observe que a administração busca gerenciar as pessoas, o espaço,


e as instalações da companhia, no intuito de gerir da melhor maneira
possível o tempo, os recursos e o dinheiro gasto em cada atividade.

Para a administração dos aspectos voltados à segurança das equipes de


trabalho e da empresa, é necessário o conhecimento de pelo menos três
habilidades para a correta e eficaz execução do processo administrativo,
as quais são: habilidade técnica, habilidade humana e habilidade
conceitual (LACOMBE; HEILBORN, 2003).

• Habilidade técnica: trata-se da utilização dos conhecimentos,


metodologias, técnicas e equipamentos para a realização
de tarefas especificas, por meio de instruções, experiência e
educação.

• Habilidade humana: é a capacidade e discernimento para atuar


com as pessoas, entender suas atitudes e motivações e limites.
Isso favorece a aplicação efetiva de uma boa liderança.

• Habilidade conceitual: consiste na habilidade de conhecer e


compreender as complexidades organizacionais, bem como
o ajustamento do comportamento dos integrantes desta
organização. Essa habilidade é fundamental para que a pessoa
atue em sua função cumprindo com os objetivos da empresa, e
não apenas com os objetivos e necessidades de seu setor.

Em resumo, o estudo da administração possibilita a ação coordenada


do coletivo, visando a redução de gastos e perda de recursos, com
foco na produtividade, qualidade e lucro em um determinado sistema
organizacional.
8

2. Princípios básicos da organização

No conteúdo apresentado, quando usamos o termo organização não


estamos nos referindo a um local em ordem, bem organizado, estamos
nos referindo à empresa ou instituição, ou seja, o espaço organizacional,
coorporativo. Assim, a organização consiste em um conjunto de posições
profissionais e funcionais hierárquicas, com foco no objetivo econômico
da produção de bens ou serviços. Os princípios fundamentais de uma
organização formal são: divisão do trabalho; especialização; hierarquia; e
amplitude administrativa.

2.1 Divisão do trabalho

O propósito imediato e indispensável de toda organização é a produção


de bens e/ou serviços. Para que esse processo seja eficiente, a produção
destes bens ou serviços, deve ser baseada na divisão do trabalho. Esta,
por sua vez, de forma simplificada, é a maneira na qual um processo
complexo pode ser desmembrado em diversas tarefas menores.

A divisão do trabalho teve seu início com a Revolução Industrial,


causando uma mudança drástica no conceito de produção pela
fabricação maciça. Coincidentemente, o período da Revolução Industrial
foi um dos propulsores na segurança no trabalho.

O objetivo da divisão do trabalho é a especialização do trabalhador,


ou seja, diminuindo a quantidade de informações e decisões que
o funcionário deve tomar, especializando-o em apenas um simples
conjunto de tarefas. Por exemplo, ao invés de um funcionário montar
um carro por completo, ele se especializa apenas no aperto do parafuso
das rodas.

Como consequência, esse funcionário desenvolverá seu trabalho muito


mais rápido, pois agora faz parte de um processo. Essa é a essência da
9

divisão do trabalho. Faz-se importante que cada pessoa produza a maior


quantidade possível de unidades dentro de um padrão de qualidade
estabelecido.

Entretanto, com o olhar da segurança, esse princípio pode trazer sérios


problemas ergonômicos, por exemplo a monotonia, estresse físico e
cognitivo, repetição de movimentos, dentre outros.

Portanto, como fator administrativo, a divisão do trabalho pode


proporcionar pontos positivos no controle e no tempo de um serviço,
entretanto, pode afetar a qualidade de vida e a saúde dos trabalhadores.

2.2 Especialização

A especialização é uma consequência da divisão do trabalho; ela ocorre


quando isolamos um trabalhador de um processo organizacional
complexo e o inserimos em partes menores deste processo. Cada órgão
ou cargo dentro de uma organização passa a ter uma função específica e
especializada.

2.3 Hierarquia

A hierarquia, uma outra consequência da divisão de trabalhos,


proporciona o desdobramento das funções de comando, cuja missão é a
direção das atividades nas quais devem cumprir de maneira harmoniosa
as missões e objetivos da empresa. Ou seja, além de uma função
estruturada na especialização, a organização será mantida por meio de
uma hierarquia que irá dirigir os setores organizacionais nos quais estão
subordinados hierarquicamente.

Em toda organização formal irá existir uma hierarquia dividindo e


setorizando as funções e atividades da organização, em que estas
camadas ou níveis hierárquicos definem a autoridade dentro da
10

companhia. Conforme a escala hierárquica sobe, o volume de


autoridade administrativa também sobe, ao mesmo tempo que diminui
a necessidade do conhecimento técnico-operacional.

Podemos resumir que quanto maior o nível hierárquico, menos


especializado em serviços técnicos e operacionais será o administrador,
por outro lado, as tomadas de decisão e responsabilidades serão de
extrema complexidade e grande importância para a organização. Por
exemplo: um gerente de uma fábrica de camisas não precisa saber
costurar utilizando determinado maquinário, certo? Entretanto, é
necessário que ele tenha conhecimento suficiente para verificar se o
produto final satisfaz as exigências de qualidade da organização, assim
como o processo de fabricação.

Percebeu como o nível hierárquico se afasta das especializações


técnicas e operacionais? Assim, podemos afirmar que quanto maior
o nível hierárquico, amplia-se o campo de visão organizacional do
administrador.

Essa noção é fundamental para a segurança no trabalho. Suponhamos


que você é responsável pela elaboração da SIPAT (Semana Interna de
Prevenção de Acidentes do Trabalho). No momento do planejamento
deste evento, você reservou as datas para sua realização no dia sete de
outubro. Sabendo que a SIPAT exige uma semana de pequenas pausas
na produção de sua empresa, e que esta atua no setor de brinquedos
infantis, como você avalia sua decisão para sua organização?

O dia 12 de outubro é o Dia das Crianças, portanto, parar a organização


em seu momento de maior produção seria uma péssima ideia. A posição
do profissional da segurança no trabalho, assume um nível hierárquico
na organização, na qual precisa ter uma visão macro dos diferentes
setores.
11

A mesma situação ocorrerá nos momentos em que será necessário


realizar inspeções de segurança em que alguns maquinários precisarão
ser paralisados. A tomada de decisão precipitada ou equivocada é capaz
de gerar prejuízos para a organização, além de transtornos na área
operacional e gerencial. Assim, dentro dos conceitos apresentados na
hierarquia, é necessário compreender sobre os termos: autoridade;
responsabilidade; e delegação.

A autoridade formal é caracterizada como o poder concedido


pela organização a um indivíduo que ocupa determinada posição
organizacional. É um direito formal e legítimo de tomar decisões e
transmitir ordens para alocar os recursos da empresa e alcançar os
objetivos da organização. A autoridade distingue-se por três principais
características:

I. Ela é inserida em posições da empresa, e nunca em pessoas. Ou


seja, a autoridade está no cargo e não na pessoa que ocupa o
cargo.
II. A autoridade deve ser aceita pelos subordinados. Isso ocorre
pelo fato de que os subordinados precisam acreditar no direito
legitimo, cedido pela organização ao administrador.
III. A autoridade deve derivar de cima para baixo, ou seja, a hierarquia
deve ser verticalizada. Cargos com maior autoridade devem ser
locados no topo da organização, sendo assim, consequentemente,
posições de topo possuem maior autoridade que as posições de
base.

A responsabilidade, por outro lado, significa o dever de cumprir e


desempenhar as tarefas ou atividades na qual o administrador foi
designado, de maneira eficaz e correta, buscando o benefício da
organização. Vale ressaltar que o grau de autoridade é relativamente
proporcional ao grau de responsabilidade assumido pelo administrador.
12

Também pode-se caracterizar a responsabilidade em uma organização,


como a relação contratual na qual o subordinado aceita executar certos
serviços em contrapartida monetária. Em resumo, a autoridade ocorre
do superior ao subordinado, e a responsabilidade é a obrigação dada do
superior ao subordinado para que este realize tais deveres.

Por fim, temos a delegação. A delegação é o processo de transferir a


autoridade e a responsabilidade para outras posições inferiores dentro
da estrutura hierárquica. A delegação de autoridade possui algumas
técnicas, que são:

• Delegar a tarefa inteira: ao invés de subdividir uma tarefa, o


administrador delega uma tarefa por completa para uma única
pessoa. Isso proporciona ao gerente melhor controle sobre os
resultados e uma responsabilidade completa sobre o subordinado.

• Delegar à pessoa exata: o administrador deve analisar o


subordinado com o talento ou especialização exato ao que a
tarefa necessita para ser concluída, assim, a tarefa delegada será
concluída com êxito.

• Delegar responsabilidade e autoridade: apenas delegar as


tarefas não constitui uma delegação por completo. O subordinado
que receber esse tipo de delegação, deve ter a responsabilidade e
autoridade para desempenhar a sua missão de maneira que julgue
mais adequada.

• Proporcionar conhecimentos adequados: para essa delegação,


devem ser incluídas ao subordinado as informações sobre “o quê”,
“por que”, “quando”, “onde”, “quem” e “como”. Assim, ele deve
compreender a sua tarefa e os resultados que são esperados.

• Manter a retroação: retroagir significa voltar à uma condição


ou situação, ou seja, manter a retroação é a delegação ao
subordinado em que esse mantém um canal de comunicação
13

aberto para responder as questões do administrador,


proporcionando orientação, sem que este exerça controle sobre o
subordinado. A retroação, proporciona ao subordinado – ao longo
da realização da tarefa – a confiança e a pista certa do melhor
caminho a ser seguido.

• Avaliar, promover e recompensar pelo desempenho: o


administrador que delegou uma tarefa a seu subordinado, deve
realizar uma avaliação dos resultados obtidos, estruturar um
feedback e, por fim, comunicar o subordinado. Esse procedimento
possibilita que sejam comunicados os pontos fortes e fracos da
operação, aspectos que podem ser melhorados ou mantidos.
Ainda, quando são alcançadas ou até mesmo ultrapassadas as
expectativas, o administrador deve recompensar o trabalho de
seu subordinado, sejam essas recompensas financeiras ou de
novas atividades que tornem o subordinado empolgado com seus
afazeres.

2.4 Amplitude administrativa

Como resultado do princípio da distribuição de autoridade e


responsabilidade, manifesta-se o conceito de amplitude administrativa,
que significa a relação do número de subordinados que um
administrador coordena e o limite no qual ele pode dirigir. Quando um
administrador tem muitos subordinados, sua amplitude de comando
torna-se ampla, o que pode prejudicar o controle do administrador
sobre sua equipe.

A amplitude administrativa em uma organização é fundamental para


a definição da estrutura organizacional. Essa configuração pode ser
observada conforme a Figura 2.
14

Figura 2 – Estrutura organizacional

Fonte: elaborada pelo autor.

Como observado, uma estrutura média estreita com muitos níveis


hierárquicos produzirá uma estrutura alta e alongada. Por outro lado,
uma amplitude média, larga e com poucos níveis hierárquicos irá
produzir uma estrutura organizacional achatada e dispersada ao longo
do horizonte.

3. Compra, recebimento, conferência,


armazenamento e controle de materiais
e equipamentos

Agora que abordamos todo o conceito administrativo organizacional,


bem como algumas de suas principais funções, vamos somar o
15

conteúdo sobre a aquisição e controle de materiais e equipamentos de


segurança.

Observe que todo o conteúdo sobre administração, hierarquias e


controle podem e irão ser aplicados aqui. Primeiramente, precisamos
entender que a segurança no trabalho busca promover a melhor
qualidade de vida e segurança não só para os trabalhadores, mas
também para a organização. Nesse caso, isso se resume em maior
produtividade, redução de custos com ações trabalhistas, impostos e
acidentes de trabalho.

Então, para que essas condições ocorram é preciso aplicar uma gama
de conceitos voltados para a segurança no trabalho, entre eles o uso
de EPIs e EPCs (Equipamento de Proteção Individual e Equipamento de
Proteção Coletiva, respectivamente). Entre estes equipamentos, existem
as ferramentas de controle e medição de agentes nocivos, por exemplo,
equipamentos de medição de ruído, temperatura, vibrações, dentre
outros.

A aquisição dos equipamentos utilizados na área de segurança do


trabalho, exige especificações técnicas adequadas previstas nos
procedimentos operacionais de segurança da empresa. Por uma
questão de ordem lógica, vamos começar com a aquisição de um
produto, ou seja, a compra.

3.1 Compra

A compra é a aquisição de algo. Levando em consideração que você


não é o administrador do setor de compras da organização, portanto
não tem autoridade para realizar uma compra, segundo Dias (2010),
é necessário a realização de uma solicitação de compra ao setor
responsável.
16

Em uma solicitação de compras, você deverá descrever o produto


necessário, suas especificações e quantidade. Poderão ser inseridas
a urgência, a data necessária para aquisição, o setor que utilizará o
produto, bem como outras especificações. A solicitação de compras,
tem por finalidade ajudar na especificação do produto a ser adquirido,
referências futuras, histórico de compras, agilidade na aquisição.

O setor de compra irá recorrer ao mercado para cotação dos produtos


nos fornecedores identificados. A finalização da compra estará
condicionada ao fornecedor que apresentar a melhor proposta
referente ao custo-benefício do produto.

Entretanto, podem existir empresas em que o engenheiro de segurança


é o responsável pela compra dos materiais, e que o administrador
ao qual ele é subordinado, delegou estes poderes ao engenheiro,
permitindo que este realize diretamente a compra destes materiais e
equipamentos.

Em outros casos, as solicitações de compras são realizadas pelos


responsáveis do almoxarifado e da produção. Isso ocorre quando
os níveis de estoque de equipamentos ou materiais estão abaixo do
esperado ou próximo de acabar.

Após a etapa de solicitação de compra, quando essa for aprovada no


setor responsável pelas compras, o funcionário da organização irá
realizar as cotações e levantamentos de preços, negociando valores,
quantidades e prazos de entrega. O objetivo deste setor é adquirir
materiais com alta qualidade em relação ao seu custo versus benefício.

No pedido de compra, devem constar as informações da organização,


a descrição dos produtos a serem adquiridos, quantidades, unidades
17

métricas (metro linear, unidade, metro quadrado, metro cúbico), data


de entrega, local de entrega, preços, prazo para pagamento e outras
informações que forem pertinentes para o comprador e vendedor.

Após o pedido, cópias são enviadas para o setor financeiro, para que
esse possa realizar a verificação do fornecedor e registrar os valores em
contas a pagar da empresa conforme valores negociados no momento
da compra.

3.2 Recebimento e conferência

Após a efetivação da compra, ocorre o recebimento do material, ou a


sua coleta no local comprado. Para ambas as situações é importante
a conferência destes. A conferência dos materiais é realizada para
verificação da qualidade, quantidade e se atendeu as especificações
requisitadas no momento da compra.

Vale lembrar que essa verificação precisa estar pareada com os dados
presentes na nota fiscal da mercadoria, caso contrário deve ser alertado
ao setor de compras e financeiro da empresa, recusando o recebimento
ou a coleta da mercadoria até uma resposta dos setores de hierarquia
superior.

Em alguns casos, haverá a necessidade de uma inspeção formal, isso


quando algumas peças precisarem de maiores critérios de aceitação.
Caso haja alguma peça fora destes critérios, o item deverá ser rejeitado.

Essas informações devem ser compiladas para geração do relatório


de recebimento, que tem como função a notificação ao financeiro, e
ao setor de compras o recebimento dos materiais e a liberação para
o pagamento; e o registro dos dados de recebimento como a data de
entrega, informações sobre os itens adquiridos, preço, transporte, índice
de itens rejeitados e aprovados etc.
18

Estas informações, apenas para ressaltar, deverão ser gerenciadas


por meio de um sistema informatizado ou conforme procedimento
interno da empresa. As vantagens da utilização de um sistema de
gestão integrada para controle dos processos em uma organização
são inúmeras, como a redução de erros, acréscimo na produtividade,
redução no tempo de execução das tarefas, segurança dos dados,
dentre outros.

3.3 Armazenamento

O mal armazenamento de materiais, pode provocar perda de mercadorias,


avarias, redução no tempo de obtenção de peças em estoque, dentre
outros problemas. O armazenado correto de materiais e equipamentos,
deve levar em consideração as boas práticas de armazenamento,
observando as características do local, especificação dos produtos e dos
equipamentos.

Quando armazenados em grandes quantidades, carecem de atenção aos


cuidados no transporte, sendo necessário, assim, mecanismos que facilitem
a ação dos maquinários no local de armazenamento, por exemplo, paletes
com acesso ao garfo da paleteira. Outro mecanismo de organização é a
implantação de sistemas de localização dos objetos, como o mapeamento
destes, e a localização de acordo com a frequência de saída destes
materiais.

3.4 Controle

O controle dos materiais é de extrema importância na organização, uma


vez que controlar pode auxiliar na redução de perdas destes. Controlar
o estoque é saber os itens e componentes de uma tarefa com relação às
quantidades e etapas onde serão empregados ao longo da execução das
tarefas.
19

Controlar os itens de um estoque pode ter diversas variáveis. Podemos


controlar a quantidade de saída, para prevenir que o estoque acabe
durante uma tarefa, ou, podemos controlar a saída de determinado item
que futuramente terá seu retorno ao estoque após o uso.

Essa ação de controlar pode ser empregada pelo uso de fichas de


recebimento de materiais e equipamentos. Por exemplo, um funcionário
precisa de certo equipamento de proteção descartável; para a retirada, ele
assina uma ficha de solicitação e recebimento do equipamento e faz o seu
uso. O controlador do almoxarifado, ou do setor responsável pelo controle,
verifica, a partir do sistema, a quantidade de item faltante, verificando se há
ou não a necessidade de reposição de estoque.

Outra situação é quando o funcionário precisa fazer uso de um EPI que


será devolvido ao almoxarifado após seu uso. Nessa situação o funcionário
assina uma ficha de solicitação e recebimento de equipamento e, ao
devolvê-lo, o almoxarifado faz a baixa na ficha, indicando o equipamento
e a condição na qual foi devolvido. Com base nos assuntos apresentados,
podemos observar a importância dos aspectos administrativos em diversos
momentos da segurança no trabalho.

As noções de hierarquia, autoridade, planejamento, recursos humanos,


custos, entre outras apresentadas aqui, são fundamentais para o bom
desenvolvimento de uma empresa, ainda mais na presença dos aspectos
relacionados à segurança das equipes de trabalho e a organização formal.

Referências Bibliográficas
DIAS, Marco A. P. Administração materiais: princípios, conceitos e gestão. 6. ed.
São Paulo: Atlas, 2010.
LACOMBE, Francisco; HEILBORN, Gilberto. Administração, princípios e
tendências. São Paulo: Saraiva. 2003.
TADEU, Hugo F. B. Gestão de estoques: fundamentos, modelos matemáticos e
melhores práticas aplicadas. São Paulo: Cengage, 2010.
20

Custo x benefício e políticas de


segurança na empresa
Autoria: Arthur Ribeiro Torrecilhas
Leitura crítica: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior

Objetivos
• Compreender a relação custo versus benefício no
ambiente de trabalho e para a organização.

• Reconhecer a importância da apresentação dos


resultados na empresa.

• Desenvolver as políticas de segurança na


organização.
21

1. Introdução

Neste tema, em nossa Leitura Digital, vamos trabalhar sobre três


assuntos distintos, os quais são:

• O estudo da relação custo versus benefício em uma organização.

• Técnicas para apresentação de resultados aos administradores.

• Elaboração das políticas de segurança no ambiente de trabalho e


na organização.

Os três itens citados acima, possuem uma grande importância para


a administração da segurança do trabalho, tanto para as equipes de
trabalho quanto para as organizações empregadoras.

Análises de custo versus benefício são fundamentais na tomada de


decisões, pois podem salvar boa parte do capital de uma empresa.
Em certos casos, a aquisição de uma nova máquina ou equipamento,
ou até mesmo repassar a responsabilidade de certo serviço à uma
terceirizada, pode resultar em maior lucratividade e produtividade para
a organização, reduzindo gastos e despesas que antes de uma análise
não haviam sido observadas.

Vale ressaltar que, a partir deste momento, quando tratarmos de


maquinários, equipamentos e serviços, estamos nos referindo àqueles
que envolvem a segurança do trabalho e do trabalhador, no intuito de
trazer para a empresa um ambiente com melhor qualidade de vida e
segurança, além da redução das responsabilidades administrativas da
empresa, por exemplo, processos trabalhistas, acidentes de trabalho,
doenças ocupacionais, impostos, entre outros.

Entretanto, saber repassar essa mensagem para hierarquias superiores


nem sempre é simples, pois muitas vezes é preciso entender
22

determinadas situações da organização, conhecer o público alvo e o


tempo que você tem para convencê-los de que sua decisão é positiva
para a organização. Essa é a importância de saber apresentar os
resultados para os administradores.

Por fim, a elaboração das políticas de segurança na empresa, tem


como objetivo definir pontos de vista que coloquem as atividades da
organização dentro das diretrizes da segurança no trabalho, criando,
assim, uma cultura organizacional voltada para a segurança.

2. Relação Custo versus Benefício

A relação custo versus benefício (C/B) tem como objetivo esclarecer


dúvidas referentes à determinada tomada de decisão. Nela são definidas
as melhores escolhas a serem consideradas pelos administradores,
tendo como variáveis os custo de implementação ou aquisição,
comparados com os benefícios que esses irão trazer. Em um exemplo
bem simples e prático, suponhamos que você, mensalmente, precise
realizar uma medição do ruído em determinado ambiente de sua
empresa e que a contratação deste serviço por meio de uma empresa
terceirizada seja de R$ 90,00 por visita ao local. Você pesquisou e
identificou que o aparelho para tal medição custa em torno de R$
800,00. Nesse sentido, sabendo que, em um ano, você gastaria R$
1.080,00 para a realização destas medições mensais por meio de
terceiros, compensa realizar a aquisição do equipamento de medição
de ruídos por R$ 800,00. Assim, sua organização evitou gastar R$ 280,00
neste primeiro ano, e ainda fará economias ao longo dos anos seguintes.
Claro que este exemplo está sendo analisado em sua forma simplificada,
pois dentro destas condições é necessário incluir outras variáveis como:
seguro, manutenção e calibração do equipamento, treinamento do
técnico que irá fazer a utilização, entre outros fatores que iremos discutir
mais à frente.
23

Estes e muitos outros fatores irão determinar o resultado da relação


C/B e devem ser avaliados por ferramentas de gerenciamento e análise
de risco, tendo em mente todas as possibilidades de ganhos e perdas
que podem ocorrer com os inúmeros cenários possíveis. Por exemplo,
por mais barato que seja certo equipamento, após uma análise C/B feita
pelo engenheiro de segurança, pode ser que este não seja viável devido
ao fato de apresentar elevado risco ao ambiente de trabalho.

2.1 Substituição ou aquisição de equipamentos/


materiais

A decisão de investir os recursos de uma empresa em ativos reais,


como equipamentos e máquinas, é uma das mais importantes na
administração do capital organizacional, pois essa decisão pode
impactar no futuro da empresa, e quando premeditada, pode gerar
consequências negativas e até irreversíveis (FANTI et al., 2015;
CASAROTTO FILHO; KOPITTKE, 2017).

Alguns equipamentos, podem apresentar custo de aquisição e


manutenção inicial baixos e, com o tempo, os custos de manutenção
podem aumentar exorbitantemente, junto com o risco à segurança dos
trabalhadores, que pode ser um fator determinante para a troca ou
descarte do objeto de análise. Isso ocorre por conta de diversos fatores,
como depreciação, deterioração, uso inadequado, dentre outros.

Sendo assim, por conta dessa depreciação do equipamento,


seu rendimento ou sua acuracidade diminuem, a frequência de
manutenções e custos destas aumentam, sendo inviável manter o
equipamento, restando ao administrador a troca ou substituição
(CESCA et al., 2017). A Tabela 1 apresenta um exemplo da relação entre
manutenção e desvalorização do equipamento qualquer.
24

Tabela 1 – Análise dos dados e valores de um


equipamento hipotético

Frequência da
Custo de Tempo
Valor do ativo manutenção
manutenção de uso
(ao ano)

R$ 846,62 R$ 20.000,00 0 1

R$ 1.132,56 R$ 16.988,00 1 2

R$ 1.588,45 R$ 14.421,80 1 3

R$ 1.957,40 R$ 12.224,53 2 4

R$ 2.398,55 R$ 10.340,85 3 5

R$ 3.222,26 R$ 8.705,72 3 6

R$ 4.045,85 R$ 7.293,86 4 7

R$ 5.042,41 R$ 6.085,78 4 8

R$ 6.267,68 R$ 5.038,92 4 9

R$ 7.800,00 R$ 4.058,08 5 10

Fonte: elaborada pelo autor.

Pode ser observado que, com o passar dos anos algumas condições
acabam sendo alteradas, por exemplo, o aumento na necessidade de
manutenções, gerando um aumento no custo ao longo do tempo. Vale
lembrar que, com o surgimento de novas tecnologias e novos modelos
de equipamentos, alguns vão se tornando obsoletos, sofrendo uma
desvalorização do ativo. Ainda, a falta de peças para manutenção reforça
o supracitado. O Gráfico 1 apresenta os dados da Tabela 1.
25

Gráfico 1 – Gráfico dos dados e valores de um equipamento


hipotético – manutenção e desvalorização de ativos

Fonte: elaborado pelo autor.

Como observado, no ano zero, não há manutenções a serem realizadas,


pois a primeira ocorre após o primeiro ano de uso do equipamento.
No início, o custo de manutenção ainda é baixo, e a desvalorização do
equipamento ocorre ao longo dos anos e de seu uso. Sabemos que
existem equipamentos que desvalorizam muito pouco ao longo dos
anos. Um equipamento sofrerá desvalorização por motivos, como:
avarias; obsolescência tecnológica; falta de manutenção; tempo de
uso; falta de peças para reposição; histórico de problemas relatados
pelos usuários; relação oferta e procura no mercado (compra e venda),
surgimento de riscos à saúde dos trabalhadores.

Ao comparar estes dados, o administrador pode optar por comprar um


equipamento novo ou substituir por um diferente. Entre os tipos de
substituição, podemos encontrar:
26

• Baixa sem reposição: essa modalidade de substituição ocorre


em produtos que podem ficar obsoletos rapidamente, ou seja,
o objeto em questão pode deixar de ser viável antes mesmo de
atingir sua vida útil. Nessa situação, o produto é descartado e
substituído por outro de forma rápida.

• Substituição idêntica: essa substituição ocorre quando


um equipamento começa a apresentar elevada despesa de
manutenção, por conta de seu tempo e tipo de uso. Nestes casos,
o equipamento pode ser revendido e a organização adquire um
novo com custos de manutenção menor.

Esse conceito pode ser denominado de vida econômica do


equipamento, indicando a aproximação do final da vida útil
do equipamento. Os fatores que indicam isso são: aumento
progressivo da desvalorização do bem; aumento no custo da
manutenção; redução da funcionalidade e da produtividade do
bem.

• Substituição não idêntica: essa substituição é realizada


ao comparar o atual equipamento com o de outras marcas
concorrentes. Para a decisão de substituição, deve ser realizada
uma análise da viabilidade.

• Substituição por progresso tecnológico: como o próprio


nome já diz, nessa modalidade, a troca ocorre por obsolescência
tecnológica do atual equipamento, sendo necessário adquirir um
novo para melhoria na produção e redução de custos.

• Substituição estratégica: a substituição estratégica ocorre pela


análise de diversas variáveis nos equipamentos, ou até mesmo na
aquisição de materiais e/ou equipamentos de custo inferior.
27

2.2 Repasse de responsabilidade

Outro aspecto que pode ser aplicado relação C/B é a terceirização


de serviços. Repassar a responsabilidade de determinado serviço ou
produto para um terceiro pode reduzir os riscos de acidente e custos
para uma organização.

Por exemplo, suponhamos que sua empresa irá realizar um serviço


de limpeza de janelas em edifícios com mais de 20 andares. Logo
entende-se dos riscos inerentes à NR-35. Entretanto, você sabe que,
para a realização desta atividade, precisaria comprar uma série de
equipamentos de segurança e de trabalho específicos para sua equipe,
bem como trabalhar na iminência de que ocorra algum acidente de
trabalho por falta de experiência dos operadores ou por outros fatores
negativos. Nessa situação, seria interessante que o engenheiro de
segurança, realizasse uma análise para determinar se compensaria sua
empresa custear essas atividades com a aquisição de equipamentos
e, também, de correr os riscos de acidentes de trabalho, ou se seria
interessante e seguro para a empresa delegar esse serviço para uma
terceirizada, respaldando-se, assim, de possíveis riscos.

Essa estratégia é muito comum em obras de grande porte, em que os


serviços especializados são realizados pela própria empresa, e os demais
serviços que não demandam certo grau de especialização, são realizados
por empreiteiros terceirizados.

2.3 Fatores de influência

Para análise da relação C/B, precisam ser verificados diversos fatores de


influência. São estes:

• Preço: custo do equipamento/material com relação ao seu


potencial de produção e sua taxa de depreciação.
28

• Rendimento: capacidade produtiva do equipamento ao longo do


tempo.

• Depreciação: o quanto o bem irá depreciar ao longo do uso,


definido mediante análise de mercado.

• Manutenção: quantidade de manutenções necessárias ao longo


do uso, custo de cada manutenção, bem como a facilidade de
encontrar peças e mão de obra especializada para reparos no
equipamento.

• Fluxo de caixa da empresa: referem-se aos valores de entrada e


saída de dinheiro da empresa. Muitas vezes, uma empresa investe
em um equipamento, mas não possui o retorno financeiro de
imediato, ou nem mesmo posteriormente, podendo colocar em
risco a economia da organização.

• Mão de obra: alguns equipamentos precisam de mão de


obra especializada para operação, devendo ser observada a
disponibilidade e seu custo.

• Seguro: o custo com seguro deve ser levado em consideração


visando minimizar possíveis prejuízos em equipamentos com valor
agregado alto, sujeito a sinistros de diversas ordens.

• Lucro/prejuízo: é análise do lucro e dos prejuízos que esse


equipamento irá gerar, em quanto tempo a organização que o
adquiriu terá o retorno, considerando os gastos e desvalorizações
ao longo dos anos.

• Uso: relacionado à mão de obra especializada para operação do


equipamento, a forma correta de manuseio e a determinação
dos responsáveis que irão utilizá-los, pode garantir uma maior
durabilidade do bem adquirido, ou uma redução no valor por
avarias e má utilização.
29

2.4 Cálculo da relação C/B

Para melhor entendermos o estudo da análise da relação custo versus


benefício, vamos aplicar a seguinte situação: sua organização está
precisando verificar a viabilidade de determinado equipamento que
já está em uso. Sendo assim, você, como engenheiro de segurança,
solicitou uma reunião com os gestores dos setores de produção,
contabilidade, financeiro e compras. Nesta reunião foi estudada a
relação C/B de determinado equipamento.

Para darmos continuidade é preciso entender alguns termos:

• TMA (Taxa Média Atrativa): é o percentual de rendimento de seu


capital quando é preciso optar entre duas opções para investir
seu recurso. Por exemplo: você tem R$ 100.000,00 em recursos, e
duas opções de investimento, (A) comprar um equipamento que
te dará 6% de lucro ao ano; (B) investir esse dinheiro na poupança
que te renderá os mesmos 6% ao ano. Nessa situação hipotética,
fica evidente que a melhor relação C/B é investir na poupança,
uma vez que o maquinário mesmo rendendo, sofre desvalorização
e desgastes. Portanto, a TMA é a taxa média atrativa que auxilia
nessa tomada de decisões.

• VP (Valor Presente): é o quanto vale hoje determinado montante


final, podendo ser realizado para até mesmo uma data futura. Por
exemplo, a previsão do VP de um produto nos próximos 5 anos.
Esse valor é o montante final financeiro, descontando-se a TMA ao
longo de um tempo estimado.

Na reunião, foram levantados diversas informações e dados. Esses


dados possibilitam estimar o retorno que o equipamento traz para
a organização. Sendo assim, suponhamos que sua equipe fez o
levantamento dos dados de 2018 a 2022, tendo como exemplo o
apresentado na Tabela 2.
30

Tabela 2 – Análise dos dados levantados pela equipe

ANO Valor de venda Custos Receita TMA (Selic)

2018 R$ 82.700,00 R$ 17.132,34 R$ 43.241,40  

2019 R$ 78.700,00 R$ 24.636,27 R$ 43.622,14 6,0%

2020 R$ 74.700,00 R$ 36.199,19 R$ 46.660,57 3,0%

2021 R$ 70.700,00 R$ 49.867,94 R$ 52.320,32 2,0%

2022 R$ 66.700,00 R$ 51.643,47 R$ 53.177,27 2,0%

Fonte: elaborada pelo autor.

Pelos dados da Tabela 2, pode ser observado que com o passar dos anos
espera-se uma desvalorização do equipamento. Mesmo ele gerando
gastos para a empresa, a receita ainda cobre estes gastos e prove lucro
para a organização. Como exemplo, foi adotada a taxa Selic como TMA.

Agora, diante destas situações, é necessário definir o VP, verificando-se a


viabilidade de determinado equipamento ao longo de sua vida útil. Para
tal, utilizaremos a Equação (1):

Onde: VP = Valor Presente; VVa = Valor de Venda do ano anterior; R =


Receita; C = Custos; VVi = Valor de Venda na data em estudo; TMA = Taxa
Média Atrativa.

Sendo assim, obtemos os seguintes valores, conforme Tabela 3:


31

Tabela 3 – Valores de VP calculado

ANO Valor de venda Custos Receita VP TMA (Selic)

2018 R$ 82.700,00 R$ 17.132,34 R$ 43.241,40    

2019 R$ 78.700,00 R$ 24.636,27 R$ 43.622,14 9.456,48 6,0%

2020 R$ 74.700,00 R$ 36.199,19 R$ 46.660,57 3.980,95 3,0%

2021 R$ 70.700,00 R$ 49.867,94 R$ 52.320,32 - 2.981,98 2,0%

2022 R$ 66.700,00 R$ 51.643,47 R$ 53.177,27 - 3.804,12 2,0%

Fonte: elaborada pelo autor.

Conforme Casarotto Filho e Kopittke (2017), o valor do número de VP


indica a viabilidade de se manter determinado equipamento. Assim,
quando em determinada data o VP for inferior a zero (VP<0), é desejável
que o equipamento seja substituído.

Nessa situação, vamos considerar que o equipamento em estudo sofrerá


a substituição por baixa sem reposição, assim, podemos notar que
ele precisaria de substituição no ano de 2021, já que em 2021 e 2022
o VP foi inferior a zero, indicando que o equipamento já não traz mais
lucro para a organização. Claro, essa verificação parte de pressupostos
contábeis. No papel de engenheiro de segurança, você precisa, por meio
de inspeções de segurança, verificar se, ainda no período de VP positivo,
o equipamento fornece a segurança necessária para seus trabalhadores
e o ambiente laboral. Essa verificação deve ser realizada com base nas
diretrizes da NR-12.

2.5 Aspectos subjetivos à relação custo versus benefício

É importante entender que, na função de engenheiro de segurança


do trabalho, a análise de custo e benefício não pode se limitar apenas
na verificação dos dados quantitativos, mas também aos fatores
32

qualitativos. Por exemplo, um dado quantitativo é observar que certo


equipamento depreciou ao longo de seu uso; já o olhar qualitativo,
é observar que aquele equipamento, com o passar do tempo, está
proporcionando maiores riscos à saúde da equipe de trabalho.

Por estas razões, mesmo chegando nos valores numéricos da relação


C/B é fundamental que o profissional da segurança atue com as
inspeções ao equipamento, verificando sua estabilidade e segurança
com base nas normas regulamentadoras, seja esse um maquinário, um
equipamento de medição, um veículo, um EPI ou EPC, um serviço ou
atividade.

Assim, podemos concluir que o engenheiro de segurança precisa manter


seu foco em relação não apenas à contabilidade, mas também aos
valores referentes à seguridade ocupacional.

3. Apresentação de resultados

Apresentar os resultados para as equipes e gestores é um dos grandes


desafios da administração. Transmitir uma mensagem com clareza e
objetividade, muitas vezes, pode ser difícil. Para que os resultados sejam
transmitidos de maneira coerente é necessário observar alguns aspectos
como: o público; o local; o planejamento do discurso e da apresentação
dos dados.

Definir o público que receberá a mensagem é fundamental, pois,


dependendo do nível das informações, sua mensagem pode sofrer
ruídos e não ser entregue por completo para os ouvintes. Por exemplo,
suponhamos que você irá apresentar para a equipe do departamento
financeiro os resultados financeiros de determinada linha de produção
(considerando que a mensagem que você deseja passar é de que os
resultados foram positivos), sua apresentação deverá ser estruturada
em gráficos e tabelas financeiras. Enquanto para a equipe do chão de
33

fábrica, estes dados podem gerar ruídos na compreensão, por conta de


suas especificidades e complexidades, portanto, é necessário ajustar as
informações e simplificá-las, a ponto de todos entenderem a mensagem
que você quer passar.

Durante ou depois de uma apresentação, pode haver dúvidas por parte


dos ouvintes, por isso, é fundamental que o apresentador, prontamente,
tenha os dados apresentados. Você precisa ter o total domínio de todo o
conteúdo que irá apresentar.

O local em que irá apresentar também é de suma importância, é preciso


garantir que todos receberam as informações com qualidade nos
diferentes meios de comunicação, seja pelo som (volume da voz ou uso
de microfones), pela visão (todos enxergam a TV, o computador, o papel),
e ainda, dependendo do tempo de apresentação, a equipe precisa estar
confortável, caso contrário, a probabilidade de dispersão é maior.

Antes da apresentação, elabore um roteiro, contendo começo, meio e


fim. Estruture-a em uma sequência lógica; deixe claro as metas que foram
cumpridas, os objetivos a serem alcançados, e os planos de ações para as
próximas atividades.

Lembre-se de ensaiar sua apresentação. Ensaios são importantes para


revisar e reparar em erros cometidos por vícios durante a elaboração da
apresentação. E, ainda, se possível, um dia antes de sua apresentação,
vá até o local, verifique os equipamentos disponíveis e a compatibilidade
destes com os seus equipamentos. Dessa forma, pode-se evitar que, no
dia, aconteçam imprevistos.

4. Políticas de segurança na organização

A política de segurança, ou PSST (Política de Saúde e Segurança do


Trabalhador), é um plano baseado em ações que buscam a prevenção
34

de acidentes e doenças ocupacionais nas organizações. Vale lembrar


que cada organização deve possuir a sua PSST, isso vai depender das
condições e do meio de trabalho da empresa, bem como das normas
regulamentadoras que serão exigidas na organização.

Ao elaborar uma PSST, a organização demonstra suas intenções com


relação aos princípios estratégicos e seu desempenho em segurança
e saúde ocupacional. Implantar políticas de segurança é obrigatório
na maioria dos países, e nestas, precisam ser incluídos, no mínimo,
os elementos requeridos pela legislação aplicável às instituições e
empresas.

Estes processos devem estar integrados ao plano estratégico da


organização, bem como aos processos gerenciais, devendo documentar:
os riscos presentes na organização; uma análise e avaliação destes
riscos; as formas de controle aplicadas aos riscos identificados; as
formas de revisão de eficiência dos programas de prevenção; assim
como as formas de participação dos trabalhadores na PSST e seus
aprimoramentos de competências desenvolvidas e praticadas.

A implantação dessa política nas organizações, fortalece o conceito


prevencionista nas equipes de trabalho. Assim, o ambiente ocupacional
passa a se tornar um local com menos riscos e acidentes laborais, mais
saudável e produtivo para os trabalhadores.

4.1 Considerações a serem levadas na elaboração de


uma PSST

Como discutimos anteriormente, a política de segurança em uma


organização tem como foco disseminar a cultura da segurança no
ambiente de trabalho. Para que isso ocorra de maneira eficiente, é
preciso entender as principais considerações no processo de elaboração
destas políticas de segurança.
35

A política deve abordar os agentes de risco nos ambientes laborais, para


isso, é necessário o uso de ferramentas de análise de risco, como por
exemplo a APR (Análise Preliminar de Riscos), Diagrama de Ishikawa, ou
também fazer uso de programas ocupacionais já existentes na empresa,
como exemplo o PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional), PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) (antigo
PPRA).

Com relação à divulgação da PSST nos ambientes laborais, o mapa


de risco é uma ferramenta que pode ser de grande valor. Esse mapa,
de uma maneira simples e gráfica, pode auxiliar os trabalhadores
na identificação e conscientização dos riscos presentes em suas
atividades. É aconselhável que esse processo seja complementado
com treinamentos entre as equipes. As capacitações e treinamentos
favorecem para que o funcionário amplie sua conscientização com
relação à sua segurança, à segurança do ambiente e dos colegas
de trabalho. Ainda, o fato de fornecer treinamentos e capacitações
para as equipes amplia a participação destes nos riscos presentes na
organização – foco principal da PSST.

Vale ressaltar que uma PSST só terá seu funcionamento de forma


eficiente quando a organização tiver bem estruturada quanto:

• À definição dos papeis de cada trabalhador, bem como suas


funções e poderes, sendo essa uma característica de estrutura
administrativa da empresa.

• Aos seus métodos de trabalho, definindo o processo e a


metodologia de trabalho para cada funcionário e cada setor.

• À oferta de recursos financeiros para a realização da PSST;

• Todos da empresa compreendem a necessidade e auxiliam na


aplicação de uma PSST no local de trabalho.
36

É importante entender que a política de segurança não substitui


nenhum programa exigido por lei, como o PGR, PCMSO, LTCAT (Laudo
Técnico das Condições Ambientais do Trabalho), muito menos necessita
da complexidade destes. Por exemplo, na política de segurança de
uma organização, não há a necessidade de destacar qual EPI deve ser
utilizado pelos trabalhadores em seus postos de trabalho, mas sim
destacar a importância do uso destes em conformidade com outros
programas.

4.2 Como aderir à uma PSST

A maior dificuldade nas organizações é a adesão dos funcionários à uma


PSST. Para isso, é essencial reforçar a participação destes em todos os
processos da elaboração e da manutenção da PSST. Entende-se como
manutenção todo o período que esta estiver vigente na empresa, bem
como o período em que precisa ser reformulada diante de mudanças
que gerem novos riscos às equipes de trabalho. Para essa adesão, é
necessário que fiquem estabelecidas as funções relacionadas à PSST
de cada trabalhador, equipe de trabalho e setor. Por exemplo, no setor
de produção é função dos que atuam nas esteiras assegurar a própria
segurança e de seus companheiros de trabalho, bem como é função do
gerente de linha de produção advertir funcionários que atuarem fora
das políticas de segurança da empresa.

Outro método de adesão das equipes à PSST, é por meio da divulgação


dos dados de segurança da empresa para todos os colaboradores,
bem como as metas para melhoria do ambiente laboral, estas medidas
favorecem a participação ativa das equipes de trabalho.

4.3 Conclusões finais da PSST

Podemos concluir que a PSST é uma ferramenta essencial nas


organizações. Ela não irá substituir os programas de segurança exigidos
37

por leis e normativas, entretanto, irá proporcionar uma melhor adesão


das equipes de trabalho às normas de segurança. Essa atitude favorece
a redução efetiva dos acidentes laborais, doenças ocupacionais,
afastamentos, processos trabalhistas, bem como a melhoria na
produção e qualidade do ambiente de trabalho.

Referências Bibliográficas
CASAROTTO FILHO, N.; KOPITTKE, B. H. Análise de investimentos: matemática
financeira, engenharia econômica, tomada de decisão, estratégia empresarial. São
Paulo: Atlas, 2017.
CESCA, I. G. et al. Modelo para previsão de custo de ciclo de vida de equipamentos e
sua aplicação na gestão de ativos na indústria do petróleo. Anais [...], 2012.
FANTI, L. D. et al. O uso das técnicas de valor presente líquido, taxa de interna
de retorno e payback descontado: um estudo de viabilidade de investimentos
no Grupo Breda Ltda. Desafio Online, Campo Grande, v. 3, n. 2, p. 1.141-1.157,
jan./2015. Disponível em: https://desafioonline.ufms.br/index.php/deson/article/
view/1251. Acesso em: 5 mar. 2021.
38

Gestão da segurança e
saúde no trabalho
Autoria: Arthur Ribeiro Torrecilhas
Leitura crítica: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior

Objetivos
• Conhecer e compreender sobre as normativas
relacionadas aos sistemas de gestão.

• Desenvolver conhecimentos teóricos e práticos


relacionados à auditoria em segurança e sistemas de
qualidade.

• Apresentar as metodologias de implantação de


sistemas de gestão.
39

1. Sistema de gestão

Os sistemas de gestão de uma organização são fundamentais para a


estrutura organizacional da empresa, pois auxiliam na manutenção
dos parâmetros de segurança e qualidade, bem como na ordem
destes. A aplicação de um sistema de gestão na saúde e segurança
dos trabalhadores, tem por objetivo proporcionar uma metodologia
de avaliação em busca da melhoria contínua no comportamento dos
colaboradores e na prevenção de acidentes e incidentes no ambiente de
trabalho.

Os sistemas de gestão são métodos lógicos e graduais de tomada de


decisão, que facilitam as respostas para as seguintes questões: “o que
é necessário fazer?”, “como fazer?”, “como acompanhar o processo?”,
“quais foram os resultados?”, “como melhorar estes resultados?”,
dentre outros questionamentos que visam a melhoria contínua de um
processo, ou seja, o aperfeiçoamento de uma operação

De acordo com a OIT (2011), todo esse conceito apresentado,


anteriormente, é baseado no famoso ciclo de Deming, mais conhecido
como ciclo PDCA. No ciclo PDCA, cada sigla significa uma ação, P de Plan
(planejar); D de Do (fazer); C de Check (verificar); e, por fim, A de Act (agir).
O ciclo de Deming pode ser observado conforme a Figura 01.

Figura 1 – Ciclo de Deming – PDCA

Fonte: elaborada pelo autor.


40

Repare que o ciclo PDCA não possui fim, cada etapa está ligada à
próxima, e isso se faz pelo fato de que o ciclo de Deming deve sofrer
constante revisão, buscando sempre o aperfeiçoamento de um processo
ou procedimento. Ou seja, ao longo da aplicação de um sistema de
gestão, próximo ao seu fim, devem ser observados os pontos positivos
e negativos gerados e, em seguida, estes devem ser otimizados e
corrigidos, dando início a um novo ciclo.

Quando aplicado à segurança e saúde ocupacional, o conceito de


Planejar engloba o conceito de projetar e desenvolver uma política de
saúde e segurança no trabalho. O fato de planejar, faz com que sejam
desenvolvidas, ou que se busca desenvolver, novas competências, novos
recursos, nova metodologia de operação, identificando e avaliando os
riscos e perigos do ambiente de trabalho.

A etapa de Fazer, ou desenvolver, se refere à implantação ou


implementação da operacionalidade do processo. Ou seja, é verificada
a atual situação, e esta é adaptada para um processo funcional que
atenda às novas demandas exigidas pela organização na busca de
uma melhoria contínua na segurança das equipes de trabalho e dos
ambientes laborais.

A fase de Verificar, busca avaliar e medir a eficiência do antes e do


depois da aplicação do programa de gestão. Essa etapa é fundamental
para a compreensão dos pontos em que o programa foi bem aplicado,
e os pontos em que sofreram algum ruído em sua implantação.
Ainda nessa etapa são levantados os dados para a concretização dos
benefícios adquiridos pela organização com a implantação de um
sistema de gestão. Aqui, são observados os aspectos que precisam de
melhoria e os aspectos que podem ser mantidos na empresa.

Por fim, a etapa de Agir realiza o “fechamento” do ciclo. Nela, ocorre


uma análise de todo o sistema em busca da melhoria gerada e sua
41

continuidade. Aqui, busca-se o aperfeiçoamento de todo o sistema


preparando-se para o próximo ciclo.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2005), a


implantação de um Sistema de Gestão da Saúde e Segurança no
Trabalho possibilita que a empresa desenvolva algumas características
benéficas, entre as quais, pode-se destacar:

• A implementação de medidas preventivas e de proteção passam


a serem levadas a sério, como uma forma integrada da empresa,
sendo efetiva e coerente com a qualidade de vida das equipes de
trabalho.

• Os trabalhadores passam a assumir compromissos com a


segurança no ambiente laboral.

• As equipes passam a conhecer riscos de suas atividades e dos


equipamentos manuseados, reforçando o cuidado nas atividades e
a segurança nos procedimentos.

• Favorece que a direção e os trabalhadores se envolvam nos


processos aos níveis de responsabilidade de cada um.

2. Histórico do sistema de gestão na segurança


no trabalho

Em 1972 foi publicado pelo Comitê Britânico de Segurança e Saúde


no Trabalho um relatório que apontou a situação da seguridade dos
trabalhadores nos ambientes laborais, sendo essa situação preocupante,
devido ao alto índice de acidentes laborais. Anunciou-se, então, a
alteração dos regulamentos das indústrias e dos trabalhadores,
buscando-se uma condição de trabalho melhor.
42

Esse relatório trouxe como consequência, uma tendência de abordagens


sistêmicas de saúde e segurança no trabalho. Em 1974, no Reino Unido,
e em outras nações industrializadas, diversas legislações entraram em
vigor em busca de uma melhoria no ambiente ocupacional. Em 1981,
a nível internacional, a OIT (2011) criou uma convenção sobre o tema,
seguida de uma recomendação (nº 164) que dá ênfase à importância
de uma participação tripartida no desenvolvimento de programas
e projetos para a prevenção de acidentes ocupacionais e melhor
qualidade de vida no ambiente laboral, tanto a nível empresarial quanto
nacional.

Ao longo dos anos, com a crescente complexidade e a rápida mudança


na natureza das atividades econômicas, novos desafios começaram a
surgir, dificultando a manutenção das condições seguras no ambiente
laboral fossem mantidas. Assim, surgiram novos modelos de gestão, dos
quais necessitavam de uma rápida resposta aos riscos encontrados nos
diferentes ambientes laborais. Para isso, eram necessárias avaliações
continuadas e análise dos desempenhos. O surgimento destes
modelos foram os percursores para o desenvolvimento de abordagens
sistemáticas para gestão da segurança no trabalho.

Em necessidade de continuar a reduzir os acidentes e melhorar


os ambientes laborais, o conceito de gestão da segurança vem se
demonstrando extremamente efetivo em muitos campos, quando bem
aplicado. Nesse sentido, esse vem sendo adotado por inúmeras normas
e legislações por diversas nações. Logo na sequência, a abordagem de
um sistema de gestão na segurança e saúde no trabalho ganhou amplo
apoio e adesão pelas normas ISO da Organização Internacional para
Normalização (ISO). Com o sucesso destes novos métodos de gestão, a
série ISO desenvolveu as normas voltadas para qualidade a ISO 9000 –
posteriormente, voltada para aspectos ambientais, a série ISO 14000.
Estas séries, segundo a OIT (2011), baseiam-se em modelos e teorias
sistêmicas desenvolvidas com o intuito de aprimorar os parâmetros
sociais, naturais e empresariais nas organizações.
43

A nível internacional, em 2001, a OIT publicou seu material denominado


de Sistemas de gestão da segurança e saúde no trabalho: Diretrizes práticas
da OIT, que, por meio de uma abordagem tripartida, veio a se tornar um
modelo largamente utilizado no desenvolvimento de normas nacionais
na área. A Figura 2 apresenta um diagrama utilizado pela OIT para
apontar o modelo de um ciclo de melhoria contínua.

Figura 2 – Diagrama modelo de ciclo de melhoria

Fonte: adaptada de OIT (2011).

Por meio do diagrama elaborado pela OIT, podemos perceber algumas


semelhanças com o diagrama de Deming, por exemplo, o ciclo das
ações, indicando a constante manutenção nos sistemas de gestão.
Entretanto, esse ciclo se divide com as responsabilidades da empresa,
tais como: a política de segurança, sendo uma função a ser aderida
pelos trabalhadores; a organização responsável pela distribuição das
obrigações de cada competência e formação de bons profissionais; a
documentação e informação sobre Saúde e Segurança no Trabalho
(SST); as etapas de planejamento e implementação, com a presença
44

das análises de riscos, planejamentos e desenvolvimentos de sistemas;


a definição dos objetivos da SST e a prevenção de riscos laborais;
a avaliação com o monitoramento e medição do desempenho dos
programas, bem como a realização de auditorias e revisão de dados. Por
fim, a ação para melhorias, responsável por realizar as ações preventivas
e corretivas, buscando a melhoria contínua.

3. Auditoria

A auditoria é uma investigação ou um exame minucioso e sistemático


nas atividades desenvolvidas nas organizações. Tem como principal
objetivo verificar se estas estão atuando de acordo com o planejado ou
estabelecido em normativas e legislações. Podem ser divididas em dois
grupos de auditorias, as internas e as externas. Assim:

• Auditorias internas: são as realizadas por setores internos da


empresa, ou seja, são membros da própria organização que
realizam a inspeção de conformidade dentro da organização. Esse
serviço também pode ser realizado por terceiros especificamente
contratados para esta finalidade. Uma vez concluída, são
levantados os principais aspectos questionados nos objetivos da
auditoria, por exemplo, se o objetivo da auditoria são os acidentes
laborais, no final desta, são destacadas as principais falhas
observadas e as soluções para a correção dessas.

• Auditorias externas: são realizadas por um profissional


independente, ou por uma organização não vinculada com a
empresa a ser auditada, tem por objetivo analisar os padrões
técnicos e a confiabilidade das empresas auditadas. De forma
geral, a auditoria externa é contratada para atestar a veracidade
dos fatores regidos pela empresa auditada. Um exemplo disso são
as auditorias para certificações, como o selo de qualidade ISO 9000
e 90001, selo de responsabilidade ambiental, ISSO 45001, dentre
45

outros. Isso garante ao consumidor e aos demais, que a empresa


atua dentro das conformidades que garantem a qualidade em
seus processos e procedimentos, bem como na gestão de suas
atividades.

De modo geral, podemos caracterizar a auditoria como uma


monitorização de processos por um agente auditor ou uma equipe
de auditores, em busca de parâmetros sistemáticos e padronizações
normativas.

Durante o processo de auditoria, é necessário o acompanhamento dos


auditores por um profissional capacitado dentro da empresa, para que
haja facilidades na comunicação e no fornecimento de informações, por
exemplo: documentos, entrevistas com funcionários, registros, acesso a
locais restritos e outros pertinentes ao longo da auditoria. E ainda, após
a auditoria, é fundamental que a organização apresente os resultados
e os dados para os funcionários, bem como as novas medidas a serem
tomadas para implementação e melhoria do sistema (ABNT, 2018).

Segundo o relatório, “diretrizes sobre sistemas de gestão da segurança


e saúde no trabalho” (OIT, 2001), devem ser adotadas medidas que
estabeleçam indicações sobre os registros de auditorias passadas, bem
como as medidas realizadas para melhorias no sistema de gestão. Ainda,
ressalta-se que a auditoria compreende diversas partes dos elementos
de um sistema de gestão de saúde e segurança no trabalho em uma
organização, devendo cobrir os seguintes elementos:

• Política de SST.

• Participação das equipes de trabalhadores.

• Responsabilidade e obrigações de prestação de contas.

• Competências e capacitações realizadas na organização.


46

• Documentações e histórico do sistema de gestão da saúde e


segurança no trabalho.

• Comunicação eficiente com as equipes e setores.

• Planejamento, desenvolvimento, e implementação do sistema.

• Medidas de prevenção e controle adotadas.

• Gestão de mudanças aplicadas.

• Prevenção, preparação e atendimento a emergências e sinistro.

• Aquisições de bens e serviços voltados para a segurança no


trabalho.

• Contratação.

• Monitoramento e medição do desempenho das equipes e setores.

• Investigação de lesões, degradações da saúde, doenças e


incidentes relacionados ao trabalho e seus efeitos no desempenho
de segurança e saúde.

• Auditoria.

• Análise crítica por parte da administração.

• Ações preventivas e corretivas aplicadas.

• Procedimentos adotados para a melhoria contínua.

• Outros critérios ou elementos que possam ser pertinentes.

Ao concluir uma auditoria, devem ser apresentadas as informações,


determinando se os elementos do sistema de gestão implementado
ou parte deles são suficientes e eficazes para satisfazer a política e os
47

objetivos de segurança no trabalho e saúde ocupacional da organização.


Se as medida são eficazes para que ocorra a promoção da participação
dos trabalhadores; se as medidas tomadas pela organização estão em
conformidade com as legislações nacionais; e se as medidas adotadas
cumpriram com as metas de melhoria continua adotadas (ABNT, 2018a).

4. ISO 9000 e 9001

A ISO 9000 faz parte de um conjunto de normas técnicas que, juntas,


estabelecem padrões e diretrizes para o desenvolvimento de um sistema
de gestão de qualidade no ambiente laboral. Esse conjunto de normas
é formado pelas normas ISO 9001, 9004 e 19011; todas, de sua maneira
especifica, buscam otimizar os processos de gestão e da qualidade em
um produto e/ou serviço. O objetivo principal da ISO 9000 é oferecer um
pacote de diretrizes que auxiliam as empresas a criar um sistema que
proporcione melhoria contínua em seus processos, produtos e serviços.

A ISO 9000 apresenta os principais fundamentos e vocabulários da


gestão da qualidade. Ela não se trata de uma norma justificável, mas
sim, de um documento que estabelece diretrizes para entendimento de
conceitos e termos, uma vez que alguns destes termos são essenciais
para a aplicação das demais normas. Por estas razões, a ISO 9000 é
considerada uma norma guia (ABNT, 2015).

As ISO 9004 e 19011, também são consideradas normas guias, onde


a ISO 9004 estabelece diretrizes com relação aos fatores técnicos,
administrativos e humanos. Estes, por sua vez, podem afetar a
qualidade do serviço ou produto final da empresa. Em geral, essa norma
apresenta diretrizes orientadoras para a melhoria contínua no aspecto
satisfação do cliente (ABNT, 2019; ABNT, 2018a). Por outro lado, a ISO
19011, apresenta orientações e diretrizes sobre auditorias internas
da qualidade, destacando o controle de boas práticas, condução das
48

avaliações, e dos sistemas auditados. Lembrando que a auditoria interna


é um sistema auxiliar para as empresas que irão passar por um sistema
de auditoria de certificação, sendo considerada uma prévia da avaliação
final.

A ISO 9001 estabelece requisitos mínimos para um bom sistema de


gestão da qualidade em busca de regularizar as empresas dentro destes
parâmetros. Tal normativa apresenta todos os itens que uma empresa
precisa adotar para se adequar a um sistema que garanta a gestão da
qualidade e a continuidade dessas políticas (ABNT, 2015).

Dentro das diretrizes da norma ISO 9001 são apresentados os pilares da


gestão da qualidade, sendo estes:

• Foco no cliente: quando possível, saber atender e superar as


necessidades e expectativas dos clientes é um dos focos principais
na gestão da qualidade, fator esse que contribuirá no sucesso das
empresas ao longo do tempo. Neste contexto, a norma frisa que é
importante manter a confiança dos clientes no processo, e sempre
adaptar-se às necessidades futuras, ou seja, observamos aqui um
aspecto da melhoria contínua.

• Liderança: determinar um direcionamento na missão da


organização, de maneira unificada, conduzindo as equipes de
trabalho por meio de uma liderança forte que saiba repassar os
objetivos de forma clara e objetiva.

• Engajamento das pessoas: buscar aumentar a dedicação dos


colaboradores em todos os níveis de trabalho. Isso possibilita o
comprometimento das equipes com os objetivos da empresa,
melhorando produtividade e qualidade no produto ou serviço final.

• Abordagem de processo: compreender os processos e as


atividades de uma organização como partes essenciais de um
todo. Fazer com que as equipes entendam seus papeis em cada
49

etapa da produção de um produto ou na prestação de um serviço,


auxilia na melhoria do processo e do produto final desenvolvido ou
prestado. Deixar o trabalhador familiarizado com todas as etapas
do processo, auxilia no melhor desenvolvimento da gestão da
qualidade.

• Melhoria: empresas com excelentes desempenhos estão sempre


direcionando seus olhares para a melhoria contínua. Adaptar-se
às mudanças que os mercados e o mundo sofrem, faz parte da
sobrevivência e progresso de uma empresa bem sucedida.

• Decisão baseada em evidência: tomar decisões, requer obter o


máximo de informação possível para que seja possível conhecer
todas as variáveis e caminhos que sua escolha pode causar,
por estas razões deve-se sempre tomar decisões baseadas
em evidências, ou seja, dados concretos de fatos internos e
externos à organização. Para isso, é fundamental que sejam feitos
registros das informações da empresa, bem como a aplicação de
ferramentas de gerenciamento para tomada de decisões.

• Gestão de relacionamento: saber identificar os relacionamentos


de valor entre as partes interessadas na organização, por exemplo,
os fornecedores de materiais e equipamentos, e estabelecer um
plano de ação para administrá-los e mantê-los amistosos, faz parte
da gestão de relacionamento. Com isso, essas medidas auxiliam no
sucesso contínuo da organização.

5. ISO 14001

A ISO 14001 – Sistema de gestão ambiental, apresenta os requisitos


com orientações para uso. Essa normativa, auxilia a empresa no
desenvolvimento de uma gestão ambiental voltada para medidas
que protegem o meio ambiente. Essa norma leva em consideração os
aspectos ambientais provocados pela organização e, também, aqueles
50

que podem ser evitados por ela. Em linhas gerais, a ISO 14001 (ABNT,
2015) é a norma que busca aplicar à gestão da qualidade, aspectos de
sustentabilidade para as empresas.

A implantação dessa norma, deve ser buscada para as organizações


que buscam comprometer-se com o meio ambiente, ou que pretendem
mostrar a seus clientes ou fornecedores externos, que possui esse
comprometimento e que ele é certificado.

Com a evolução da norma, a ISO 14001 (ABNT, 2015) ganhou o enfoque


não só na preservação do meio ambiente, mas, também, nos benefícios
que a sustentabilidade pode trazer para a empresa, por exemplo, os
ganhos econômicos com a redução de custos de embalagens, aplicação
de produtos menos poluentes consequentemente redução nos gastos
de tratamento de resíduos, dentre outros aspectos sustentáveis.

Ainda, a norma tem perspectivas de abranger aspectos


socioeconômicos, como a organização que cuida da região onde atua,
ou que proporciona benefícios sustentáveis àquela região, pode receber
incentivos fiscais como redução de impostos.

6. Implantação

Existem diversas maneiras de realizar a implantação de um sistema de


qualidade em uma organização. Para facilitar, podemos classificar, de
modo geral, a seguinte metodologia:

• Primeiramente, defina os objetivos e a razão para implantação das


normas de qualidade em sua empresa.

• Esteja seguro de que a alta direção da organização está alinhada


com os princípios das normas, e que a empresa irá atuar em
51

conformidade. É fundamental que todos os trabalhadores, de cima


para baixo, apoiem as medidas a serem instituídas.

• Em seguida, faz-se necessário identificar os principais processos


executados pela empresa, em busca de atender os objetivos e a
necessidade dos clientes e usuários.

Seguindo estes aspectos é possível dar início na implantação de um


sistema de gestão da qualidade na organização.

Referências Bibliográficas
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT: NBR ISO 9000 – Sistemas
da gestão da qualidade: fundamentos e vocabulário. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT: NBR ISO 9001 – Sistemas
da gestão da qualidade: requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT: NBR ISO 9004 – Gestão
da qualidade: qualidade de uma organização: orientação para alcançar o sucesso
sustentado. Rio de Janeiro: ABNT, 2019.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT: NBR ISO 14001 – Sistemas
da gestão ambiental: requisitos com orientação para uso. Rio de Janeiro: ABNT,
2015.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT: NBR ISO 19011 – Diretrizes
para auditoria de sistemas de gestão. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.
OIT. Organização Internacional do Trabalho. Diretrizes sobre Sistemas de Gestão
da Segurança e Saúde no Trabalho. São Paulo: Fundação Jorge Duprat Figueiredo
de Segurança e Medicina do Trabalho, 2005.
OIT. Organização Internacional do Trabalho. Sistema de Gestão da Segurança
e Saúde no Trabalho: um instrumento para uma melhoria contínua. São Paulo:
Ciência Gráfica, 2011.
52

BONS ESTUDOS!

Você também pode gostar