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LAUDOS E PERÍCIAS
EM ENGENHARIA
2

Julio Assis de Freitas

LAUDOS E PERÍCIAS EM ENGENHARIA


1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2021
3

© 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


_____________________________________________________________________________

Freitas, Julio Assis de


F866l Laudos e perícias em engenharia / Julio Assis de Freitas, -
São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021.
33 p.

ISBN 978-65-89965-54-1

1. Conceito de laudos e perícia. 2. Perito judicial.


3. Assistente técnico. I. Título.
CDD 620
_____________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB: 8 SP-010289/O

2021
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
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LAUDOS E PERÍCIAS EM ENGENHARIA

SUMÁRIO

A perícia judicial e o papel do engenheiro de segurança______ 05

Diligência, elaboração do laudo, esclarecimentos


e impugnação_________________________________________________ 19

Cadastro on-line para peritos e conceitos de insalubridade e


periculosidade________________________________________________ 34
5

A perícia judicial e o papel do


engenheiro de segurança
Autoria: Júlio Assis de Freitas
Leitura crítica: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior

Objetivos
• Apresentar a introdução e os conceitos gerais sobre
laudos e perícias de engenharia de segurança do
trabalho.

• Descrever o papel do engenheiro de segurança do


trabalho como perito judicial ou assistente técnico.

• Detalhar os dispositivos legais que regulam a


atuação dos peritos judiciais e assistentes técnicos.
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1. Introdução

Quando uma questão está sendo discutida no Judiciário, o juiz precisa


de elementos probatórios para consolidar sua convicção, de modo
que ele possa emitir uma sentença, fundamentada em evidências
válidas. Porém, nem tudo pode ser aceito como prova para a justiça,
como gravações de escutas telefônicas obtidas por meios ilegais, que
são descartadas. No judiciário há uma máxima que diz que “o fruto da
árvore podre é podre”, ou seja, uma prova ilegal é igualmente ilegal, não
importa o seu teor.

O CPC (Código de Processo Civil Brasileiro) (BRASIL, 2015) discorre


sobre provas no Capítulo XII dentro de sua parte especial, Livro I. Ali se
encontram os tipos de provas admitidas pelo direito brasileiro, sendo
elas:

• O depoimento pessoal previsto nos artigos 385 a 388.

• A confissão prevista nos artigos 389 a 395.

• A exibição de documento ou coisa prevista nos artigos 396 a 404.

• A prova documental prevista nos artigos 405 a 438.

• Os documentos eletrônicos previstos nos artigos 439 a 441.

• A prova documental prevista nos artigos 442 a 449.

• A prova testemunhal prevista nos artigos 450 a 463.

• A prova pericial, prevista nos artigos 464 a 480.

• A inspeção judicial, prevista nos artigos 481 a 484.


7

O Juiz é um indivíduo com notório saber jurídico, capaz de decidir


segundo as regras e doutrinas do direito. Porém, quando se depara
com matéria técnica, precisa de um auxiliar para lhe emitir parecer
sobre o tema, de modo que ele, como leigo nessas pautas, tenha
fundamentação para a sua tomada de decisão no processo.

É nesse cenário que o engenheiro de segurança do trabalho pode atuar


como auxiliar da Justiça, produzindo a prova pericial de que tratam os
itens 464 a 480 do CPC. Por exemplo, se há em um processo trabalhista
a discussão sobre eventual direito à insalubridade ou periculosidade, o
engenheiro de segurança do trabalho será requisitado para analisar as
condições de trabalho do reclamante e emitir um laudo que servirá de
prova técnica.

Para Beleze (2014, p. 19), a prova pericial “é a realização da perícia


propriamente dita, que será realizada por profissional especializado
com a finalidade de suprir a falta de conhecimento técnico do
magistrado sobre determinado assunto”. Assim, se uma pessoa está
reclamando um vício em um produto adquirido, como um carro, o Juiz
pode solicitar a análise de um engenheiro mecânico; se a queixa for
sobre manifestações patológicas em um imóvel por supostos defeitos
na construção, o especialista a ser requisitado pela Justiça será o
engenheiro civil ou arquiteto; se a questão envolver algum tipo de
doença adquirida no exercício do trabalho, um médico será chamado
para avaliar o caso; e assim por diante.

Há situações em que o engenheiro de segurança do trabalho será o


profissional que vai atuar como perito judicial. Na maioria das vezes,
esse acionamento será para avaliar questões envolvendo o pagamento
de adicionais de insalubridade e periculosidade, ou na determinação da
responsabilidade sobre acidentes do trabalho.

Neste material, vamos discorrer sobre esse universo, conhecendo


os dispositivos legais que regulam a atuação do perito judicial e do
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assistente técnico, a fim de entender esses papéis e onde o engenheiro


de segurança pode assumir.

2. Dispositivos legais que regulam a


perícia técnica

A justiça se vale do apoio de alguns profissionais para que ela possa dar
cargo de suas atribuições, sejam eles servidores públicos que integram
o judiciário ou não, como é o caso dos peritos judiciais. O CPC lista os
auxiliares da justiça, por meio do seu art. 149.

[...] Art. 149. São auxiliares da Justiça, além de outros cujas atribuições
sejam determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão,
o chefe de secretaria, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o
administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o conciliador judicial,
o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias. (BRASIL,
2015)

O CPC (BRASIL, 2015) assegura, segundo o art. 156, que o Juiz será
assistido por perito, quando a prova do fato depender de conhecimento
técnico ou científico. O parágrafo 1º desse mesmo artigo determina que
o perito judicial será profissional legalmente habilitado, o que significa
que ele deve dispor da formação necessária para exercer a profissão
ligada à especialização que a perícia técnica requer, ou seja, se o pleito
jurídico em discussão for uma questão médica, o perito judicial deverá
ser um médico.

Quando a pauta discutida em um processo judicial é insalubridade,


periculosidade, ou ambas, apenas o engenheiro de segurança ou o
médico do trabalho são os profissionais legalmente habilitados para a
realização da perícia técnica, segundo o art. 195 da CLT (Consolidação
das Leis do Trabalho).
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[...] Art.195–A caracterização e a classificação da insalubridade e da


periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se-
ão através de perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do
Trabalho, registrados no Ministério do Trabalho. (BRASIL, 1943)

Está implícito, portanto, que, se apenas engenheiro de segurança


e médico do trabalho podem emitir laudos de insalubridade e de
periculosidade, apenas esses profissionais podem exercer o mister de
perito judicial nesses temas. Além disso, dentro ou fora da atividade
pericial, para exercício dessas profissões, esses profissionais devem
estar devidamente regularizados a adimplentes em seus respectivos
concelhos de classe, isto é, o CREA (Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia), no caso dos engenheiros, e o CRM (Conselho Regional de
Medicina), no caso dos médicos.

Os artigos 156 a 158 do CPC (BRASIL, 2015) discorrem sobre a figura


do perito. Nesse sentido, além da habilitação profissional já discutida,
é possível verificar que o profissional que pretende atuar como perito
deve estar previamente cadastrado para que possa ser nomeado
pela Vara ou Secretaria para atuar em ações que demandem a sua
especialidade profissional, devendo as perícias serem distribuídas
aos profissionais cadastrados de forma equitativa, considerando a
capacidade técnica e a área de conhecimento.

O perito judicial não é um funcionário público ou detentor de qualquer


tipo de vínculo empregatício com o judiciário, mas sim um profissional
liberal que se coloca à disposição para exercer o mister de perito,
prestando auxílio à justiça quando nomeado. Diante disso, não seria
correto o indivíduo responder “sou perito judicial” ao ser perguntado
pela sua profissão, já que ele “está” perito quando nomeado e atuando
em auxílio à justiça. Portanto, encerrado o ato pericial e havendo a
entrega do laudo, ele volta a ser apenas engenheiro, médico, empresário
ou qualquer outra profissão, mas não perito judicial.
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A responsabilidade do perito judicial é máxima, visto que ele vai entregar


à justiça um laudo que servirá de prova para decidir sobre uma questão
técnica. Portanto, se o laudo for equivocado, o Juízo poderá ser induzido
ao erro. Em função disso, o CPC prevê responsabilização e sansões ao
perito judicial que prejudicar uma das partes de um processo em função
de erros em seu laudo, sejam eles intencionais ou não. Vejamos o que
diz o art. 158 do CPC nesse sentido.

[...] Art. 158. O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações
inverídicas responderá pelos prejuízos que causar à parte e ficará
inabilitado para atuar em outras perícias no prazo de 2 (dois) a 5 (cinco)
anos, independentemente das demais sanções previstas em lei, devendo
o juiz comunicar o fato ao respectivo órgão de classe para adoção das
medidas que entender cabíveis. (BRASIL, 2015)

Além da suspensão, o artigo deixa claro que o perito poderá responder


pelos prejuízos eventualmente causados pelo seu trabalho falho,
independentemente de outras sanções previstas em lei. Isso significa
que, por exemplo, se constatado que houve dolo, como a fraude do
laudo pericial para favorecer uma parte, fica o perito sujeito a responder
criminalmente, com base no art. 171 do Código Penal (BRASIL, 1940),
relativo ao crime de estelionato, ou outros artigos e esferas judiciais
aplicáveis a depender das infrações cometidas.

Essas são as principais referências legais que instituem o perito judicial


como auxiliar da justiça e o laudo pericial como prova técnica. A área
de segurança do trabalho é rica em oportunidades de atuação: o
engenheiro de segurança pode compor o quadro da NR-04 de uma
empresa; atuar na área de prevenção de incêndio; especializar-se em
higiene ocupacional; empreender na área de consultoria de segurança
emitindo laudos, programas e treinamentos; entre tantas outras
possibilidades. Há ainda o meio judicial, que absorve o engenheiro de
segurança tanto como perito judicial quanto como assistente técnico.
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3. O perito judicial e o assistente técnico

Vamos agora conhecer melhor as figuras do perito judicial e do


assistente técnico, entendendo as atribuições e os papéis de cada um
deles dentro de um processo judicial.

Quando é necessário julgar matéria técnica, o art. 465 do CPC (BRASIL,


2015) determina que o juiz deverá nomear perito especializado no
objeto da perícia, e o inciso primeiro desse mesmo artigo prevê algumas
ações das partes após a nomeação do perito. A primeira delas é arguir
sobre o impedimento ou a suspeição do perito; por exemplo, se o
profissional nomeado foi funcionário da empresa ré no processo há
menos de cinco anos; se ele é credor ou devedor de uma das partes; se
atuou como assistente técnico ou testemunha naquele processo; entre
outras possíveis justificativas que comprometam a imparcialidade do
perito. Já a segunda ação prevista para as partes após a nomeação do
perito judicial é a indicação do assistente técnico, que é um profissional
legalmente habilitado, de preferência com as mesmas competências
técnicas sobre o objeto da perícia e que irá emitir um parecer técnico
acerca dele.

No cenário, por exemplo, de uma ação trabalhista de periculosidade,


tanto a parte reclamante (funcionário) quanto a parte reclamada
(empresa) podem nomear assistentes técnicos, os quais irão
acompanhar a perícia e expedir seus pareceres técnicos. Uma vez que
a matéria é técnica, no caso da periculosidade, é regulamenta pela
NR-16 (BRASIL, 2019), e espera-se que tanto o laudo pericial quanto os
pareceres técnicos cheguem às mesmas conclusões. Porém, caso eles
divirjam, servirão de contraprova técnica para que a parte que se sentir
prejudicada pelo laudo pericial possa questioná-lo.

Assim como o juiz é leigo e precisa do laudo pericial como prova para
julgar o mérito técnico, os advogados das partes também são leigos e
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não possuem habilitação legal para contestar a conclusão expedida por


um engenheiro. Diante disso, o único meio eficaz para tentar reverter
um laudo pericial desfavorável é demonstrando, por meio de uma
contraprova igualmente técnica, que há algo de errado na conclusão
pericial, o que deve ser observado pelo juiz.

O inciso LV do artigo 5º da Constituição Federal (BRASIL, 1988) disciplina


que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral, são assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes”. O parecer do assistente
técnico é, portanto, o meio que as partes possuem para exercer o direito
ao contraditório e à ampla defesa, caso se sintam prejudicadas pelo
laudo pericial.

Tanto o perito judicial quanto o assistente técnico têm as mesmas


prerrogativas e podem usar os meios disponíveis para analisar o objeto
da perícia, vistoriando dependências do local de trabalho, registrando
fotos, realizando medições, ou quaisquer outras ações pertinentes para
que cheguem à conclusão necessária. Diante do exposto, o engenheiro
de segurança do trabalho pode atuar em um processo como perito
judicial ou como assistente técnico das partes.

4. O rito processual

O perito judicial pode atuar em todas as esferas judiciais, como a


trabalhista, cível, previdenciária e outras, mas, para fins de ilustrar
o funcionamento de um processo, usaremos o exemplo da esfera
trabalhista. Antes de seguirmos, vale destacar algumas nomenclaturas
pelas quais as partes são normalmente denominadas em um processo
trabalhista. O empregado que ingressa com uma ação é conhecido como
autor ou reclamante; a empresa por ele acionada é a reclamada ou ré; e
os advogados das partes também podem ser referidos como patronos.
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Um trabalhador que entenda eventualmente que estava exposto à


insalubridade e/ou periculosidade em seu labor, mas não recebeu o
respectivo adicional salarial em função dessa exposição, pode ingressar
na justiça para requerer as verbas supostamente devidas. Há regras de
prazos para ingresso desse tipo de ação caso o trabalhador já tenha se
desligado da empresa, previstas no art. 11 da CLT.

[...] Art. 11. A pretensão quanto a créditos resultantes das relações de


trabalho prescreve em cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais,
até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho (BRASIL,
1943).

Isso significa que, após o término do pacto laboral, o trabalhador


tem até dois anos para ingressar com ação trabalhista para requerer
eventuais direitos; assim, quando passado esse prazo, ele não poderá
mais requerê-los judicialmente. Uma vez respeitado o prazo máximo
para ingresso com a ação, há ainda a prescrição de cinco anos, ou seja,
ainda que o trabalhador tenha laborado 20 anos em uma empresa sem
receber o adicional de periculosidade devido, apenas os últimos cinco
anos, contados da data de ingresso da ação, serão julgados.

Como exemplificação, vamos supor que um empregado trabalhou de


02/01/2010 a 31/12/2020 em uma empresa em que abastecia veículos
da frota com óleo diesel sem receber adicional de periculosidade, e ele
ingressou com ação apenas em 01/06/2021 para requerer tal direito.
Nesse caso, serão avaliadas pelo perito judicial apenas as atividades que
ele exerceu de 01/06/2016 até a data do seu desligamento, em função
da prescrição quinquenal prevista no art. 11 da CLT (BRASIL, 1943).

Ao ingressar com a ação trabalhista, o trabalhador, por meio de seu


advogado, apresenta a sua petição inicial, que é uma peça jurídica na
qual descreve o contrato de trabalho que manteve com a empresa e
apresenta seus pedidos, ou seja, quais direitos ele entende que não
lhe foram devidamente honrados pelo empregador citado como réu
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na ação. A petição inicial geralmente é encerrada com a síntese de


todos os pedidos postulados e seus respectivos valores estimados pelo
reclamante, como ilustra o recorte de petição inicial apresentado na
Figura 1.

Figura 1 – Recorte de petição inicial contendo parte dos pleitos

Fonte: acervo do autor.

A reclamada é notificada pela Vara do Trabalho e as partes são


intimadas a comparecer em data e hora predefinidas para a realização
da audiência inicial. Nessa audiência, a reclamada apresenta uma peça
denominada contestação, na qual se defende das acusações prestadas
na petição inicial do reclamante, anexando eventuais provas em sua
defesa, como espelhos de ponto, caso, entre outros pedidos, haja
alegação de horas extras não honradas pela ré.

Ainda na audiência inicial ocorre a tentativa de conciliação, na qual as


partes têm a oportunidade de chegar a um acordo. Porém, caso isso não
ocorra, registra-se na ata de audiência que a conciliação foi recusada,
e, havendo pedido de insalubridade, periculosidade, ou outro que
requeira perícia técnica, o Juiz nomeia o perito que conduzirá a vistoria e
apresentará o laudo pericial, como ilustra o recorte de ata de audiência
apresentado na Figura 2.
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Figura 2 – Recorte de ata de audiência em que ocorre


a nomeação do perito judicial

Fonte: acervo do autor.

Outro ponto relevante a se dar destaque na ata de audiência é que


nela o Juiz determina prazos para as partes arguirem suspeição ou
impedimento do perito nomeado, indicarem seus assistentes técnicos e
apresentarem os quesitos prévios. Quesitos são perguntas que o perito
judicial deverá, obrigatoriamente, responder em seu laudo pericial, de
modo a elucidar dúvidas sobre o objeto da perícia. A quesitação está
prevista no CPC (BRASIL, 2015), e pode o próprio Juiz, inclusive, formular
quesitos, como prevê o art. 470, inciso II, do CPC, em que se lê que
incumbe ao Juiz “formular os quesitos que entender necessários ao
esclarecimento da causa”.

O inciso IV do art. 473 do CPC (BRASIL, 2015) disciplina que o laudo


pericial deverá conter “resposta conclusiva a todos os quesitos
apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público”.
As partes podem, ainda, apresentar quesitos suplementares durante a
perícia, ferramenta prevista no art. 469 do CPC.
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[...] Art. 469. As partes poderão apresentar quesitos suplementares


durante a diligência, que poderão ser respondidos pelo perito previamente
ou na audiência de instrução e julgamento (BRASIL, 2015, art. 469).

Os quesitos suplementares são uma ferramenta prevista no CPC para


que as partes possam exercer o direito à ampla defesa, uma vez que
algum acontecimento durante a diligência pode levar à necessidade de
colocação de novos quesitos que não tenham sido previstos na fase da
elaboração dos quesitos prévios.

Exemplificando, é importante deixar claro que, ao designar uma perícia


de periculosidade, compete ao perito avaliar o trabalho do reclamante e
compará-lo com todos os anexos da NR 16 (BRASIL, 2019), e não apenas
aquele que foi reclamado. Imagine, portanto, que o autor está pedindo
periculosidade por entender que realizava atividades com eletricidade,
porém, durante a diligência, o perito identifica que havia também o
armazenamento de inflamáveis dentro da oficina onde o reclamante
laborava e começa a avaliar essa exposição. As partes, nesse caso,
podem ter apresentado quesitos prévios exclusivamente focados na
atividade com eletricidade, fazendo-se necessária, então, a apresentação
de quesitos suplementares durante a diligência.

Uma vez realizada a perícia e apresentado o laudo pericial, as partes


passam a ter prazo para se manifestar acerca do seu teor. Essa
manifestação pode tanto ser favorável, em caso de concordância integral
ou parcial, quanto desfavorável, quando é feita uma impugnação,
refutando integral ou parcialmente as conclusões do laudo pericial.

No caso da impugnação, a parte que se sente prejudicada pela


conclusão do laudo faz apontamentos dos pontos de discordância.
Ela pode ainda apresentar quesitos complementares, ou seja, novos
questionamentos, os quais devem ser respondidos pelo perito judicial, a
fim de elucidar pontos de dúvida ou de discordância em relação ao teor
do laudo pericial por ele apresentado.
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Em tese, não há limite para o número de vezes que a parte pode seguir
impugnando e apresentando quesitos complementares até que as
divergências sejam sanadas, mas não é comum que os juízes permitam
que isso ocorra indefinidamente, se, ao seu ver, foi assegurado o
direito à ampla defesa e todas as dúvidas estão esclarecidas. Assim,
não havendo risco de arguição de cerceamento de defesa, dá-se por
encerrada a questão em uma ou duas rodadas de manifestações e
impugnações, e as provas técnicas (laudo pericial e pareceres técnicos)
são usadas para fundamentar a futura sentença a ser emitida na
audiência de instrução.

Em geral, assim se desenrola um processo trabalhista de insalubridade


e periculosidade, que é o tipo mais comum e recorrente de ação que
demanda a atuação do engenheiro de segurança como perito judicial.
Porém, não existe apenas essa, havendo outras esferas de atuação
possíveis, como a previdenciária, em que segurados tentam comprovar
o direito à aposentadoria especial no INSS (Instituto Nacional do Seguro
Social); perícias cíveis envolvendo acidentes de trânsito e acidentes
do trabalho; reclamações da comunidade quanto a ruído gerado por
atividade industrial; ações cíveis públicas movidas pelo Ministério
Público do Trabalho em relação a trabalho análogo ao escravo; entre
outras possibilidades.

Nesses casos, a matéria pode eventualmente ser mais ou menos


complexa, mas o rito processual aqui discutido é exatamente o mesmo,
haja visto que ele está previsto e regulamentado no Código de Processo
Civil Brasileiro.

5. Conclusão

Com base nos conceitos discutidos neste material, você adquiriu noções
do que norteia e de como se dá o trabalho do perito judicial. Você viu
18

também as principais leis aplicáveis ao processo judicial, que incluem


a atuação do perito e do assistente técnico. Foi discutido ainda, em
detalhes, todo o rito processual, desde o ingresso da ação trabalhista,
passando pela nomeação do perito judicial, pela apresentação de
quesitos e pela realização da perícia, até a entrega do laudo pericial, as
manifestações e as impugnações.

O objetivo deste material era introduzir conceitos básicos sobre os


temas abordados. Caso queira saber mais, uma boa sugestão de
pesquisa é a leitura do Código de Processo Civil, disponível na internet.
Veja na íntegra os artigos e os itens aqui abordados, a fim de reforçar
seus conhecimentos no assunto!

Referências
BELEZE, Cleverson A. Perícia trabalhista e avaliação de desempenho. Londrina:
UNOPAR, 2014.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília:
Presidência da República, 1988.
BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de
Janeiro: Presidência da República, 1940.
BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das
Leis do trabalho. Rio de Janeiro: Presidência da República, 1943.
BRASIL. Lei n. 13.105 de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília:
Presidência da República, 2015.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 16 – Atividades e operações
perigosas. Brasília: MTPS, 2019.
19

Diligência, elaboração do laudo,


esclarecimentos e impugnação
Autoria: Júlio Assis de Freitas
Leitura crítica: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior

Objetivos
• Apresentar o laudo pericial sob a ótica do Código de
Processo Civil (CPC).

• Discorrer sobre a metodologia de elaboração de


laudo pericial.

• Ilustrar um modelo comentado de estrutura para a


elaboração de um laudo pericial.
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1. Introdução

A elaboração do laudo pericial segue uma estrutura mínima, que


é imposta pelo CPC (Código de Processo Civil Brasileiro) (BRASIL,
2015). Para Beleze (2014), uma vez que a perícia é indispensável no
processo para a comprovação de métodos ou procedimentos, existe a
necessidade de estabelecer critérios e metodologias para a condução do
trabalho pericial e a construção do laudo.

Nesse sentido, veremos aqui uma estrutura básica sugerida para a


construção de um laudo pericial, comentada tópico a tópico. Por fim,
encerraremos com o fluxo de tramitação desde a nomeação do perito,
passando pela realização da perícia, elaboração do laudo pericial e a
resposta a quesitos, manifestações e impugnações.

2. O CPC e a prova pericial

O CPC dita em seu art. 473 algumas informações obrigatórias que


devem constar no laudo pericial.

[...] Art. 473. O laudo pericial deverá conter:

I–a exposição do objeto da perícia;

II–a análise técnica ou científica realizada pelo perito;

III–a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser


predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento
da qual se originou;

IV–resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas


partes e pelo órgão do Ministério Público. (BRASIL, 2015)
21

O objeto da perícia de que trata o inciso I do art. 473 do CPC é aquilo


que o Juiz do caso determinou que o perito apurasse. Essa informação
geralmente é encontrada na ata de audiência ou em despachos, quando
não ocorre audiência presencial. Nesse documento, o Juiz nomeia o
perito que irá conduzir os trabalhos técnicos e indica o que deverá ser
avaliado. A Figura 1 exemplifica um trecho de ata de audiência com a
exposição do objeto da perícia.

Figura 1 – Trecho de despacho com nomeação de perito

Fonte: acervo do autor

Como se pode observar no trecho destacado em amarelo na Figura 1,


o objeto da perícia é a avaliação da insalubridade. O perito nomeado é
engenheiro de segurança do trabalho, pois, quando a pauta discutida
em um processo judicial é insalubridade, periculosidade ou ambas,
apenas o engenheiro de segurança ou o médico do trabalho são os
profissionais legalmente habilitados para a realização da perícia técnica,
segundo o art. 195 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

[...] Art.195–A caracterização e a classificação da insalubridade e da


periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se-
22

ão através de perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do


Trabalho, registrados no Ministério do Trabalho (BRASIL, 1943).

A periculosidade e a insalubridade estão previstas na Constituição


Federal (BRASIL, 1988), mais especificamente no art. 7º, inciso XIII.
Entretanto, ela apenas prevê o direito a esses adicionais, deixando a
cargo do Legislativo definir as regras em maiores detalhes.

A título de curiosidade, o mesmo dispositivo da Constituição Federal


prevê também o adicional de penosidade, destinado, em tese, a
trabalhadores que realizam atividades desgastantes, como cortadores
de cana. Entretanto, o legislador até hoje não regulamentou esse
adicional, e, ainda que alguns reclamantes tenham se aventurado em
requerê-lo no judiciário, ninguém logrou êxito até hoje pela falta de
previsão legal e regulamentação do chamado trabalho penoso.

Dessa forma, a análise técnica ou científica de que trata o inciso II


do art. 473 do CPC (BRASIL, 2015) é a fundamentação sobre a qual o
laudo pericial foi construído. No caso das perícias de insalubridade e
periculosidade, que são a vasta maioria das discussões que se dão na
esfera trabalhista do judiciário, as técnicas a se empregar na análise
da exposição do trabalhador estão previstas na CLT e nas normas
regulamentadoras. Veremos a seguir, com os devidos comentários,
como a CLT aborda a insalubridade e a periculosidade.

[...] Art. 189–Serão consideradas atividades ou operações insalubres


aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho,
exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de
tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do
tempo de exposição aos seus efeitos. (BRASIL, 1943)

[...] Art. 190–O Ministério do Trabalho aprovará o quadro das atividades


e operações insalubres e adotará normas sobre os critérios de
caracterização da insalubridade, os limites de tolerância aos agentes
23

agressivos, meios de proteção e o tempo máximo de exposição do


empregado a esses agentes. (BRASIL, 1943)

Os artigos 189 e 190 da CLT (BRASIL, 1943) nos mostram que a relação
das atividades insalubres seria descrita pelo então Ministério do
Trabalho e Emprego, que foi extinto em 1º de janeiro de 2019 e teve
a maioria de suas atribuições, inclusive as relativas à segurança do
trabalho, absorvidas pelo Ministério da Economia.

[...] Art. 191–A eliminação ou a neutralização da insalubridade ocorrerá:

I–com a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro


dos limites de tolerância;

II–com a utilização de equipamentos de proteção individual ao trabalhador,


que diminuam a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância.
(BRASIL, 1943)

O artigo 191 (BRASIL, 1943) deixa claro que não basta o trabalhador
efetuar alguma atividade tida como insalubre à luz das normas
regulamentadoras, mas esta deve, ainda, efetivamente expô-lo ao
agente insalubre de modo que a sua saúde seja colocada em risco.
Logo, caso seja adotada alguma medida de ordem coletiva ou individual
que neutralize a exposição ao agente, também é neutralizada a
insalubridade, sendo indevido o respectivo adicional salarial.

Um exemplo prático disso é o ruído contínuo ou intermitente, que é


considerado insalubre segundo o Anexo 01 da NR-15 (BRASIL, 2019a).
Segundo esse anexo, para jornadas de 8 horas diárias, é insalubre a
exposição a níveis de pressão sonora acima de 85,0 dB(A); entretanto,
se a empresa adotar alguma medida de ordem coletiva, como o
enclausuramento acústico da fonte do ruído, ou de ordem individual,
como a adoção de protetores auriculares adequados ao nível de ruído
do ambiente, fica neutralizada a insalubridade nos termos do art. 191 da
CLT (BRASIL, 1943).
24

A periculosidade, por sua vez, é descrita pelo artigo 193 da CLT (BRASIL,
1943). Inicialmente era destinada apenas aos trabalhadores que
operavam com explosivos e inflamáveis. Porém, ao longo dos anos,
outras atividades foram sendo incorporadas ao texto original, incluindo
os trabalhadores que as exercem no rol daqueles que têm direito a esse
adicional.

[...] Art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas,


na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho
e Emprego, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho,
impliquem risco acentuado em virtude de exposição permanente do
trabalhador a:

I–inflamáveis, explosivos ou energia elétrica;

II–roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais


de segurança pessoal ou patrimonial.

[...] § 4o São também consideradas perigosas as atividades de trabalhador


em motocicleta. (BRASIL, 1943)

Apesar de não estar listado no art. 193 (BRASIL, 1943), a exposição


a radiações ionizantes também pode ser considerada perigosa, nos
termos do Anexo (*) da NR-16 (BRASIL, 2019b).1 Quanto à indicação do
método utilizado de que trata o inciso III do art. 473 do CPC (BRASIL,
2015), no caso das perícias de insalubridade e periculosidade, estas
estarão descritas nos anexos da NR-15 (BRASIL, 2019a) e NR-16 (BRASIL,
2019b), respectivamente.

O ruído contínuo ou intermitente deverá ser aferido conforme a


metodologia descrita no Anexo 01 e o ruído de impacto segundo o
Anexo 02 da NR-15 (BRASIL, 2019a); já o calor é medido em IBUTG,
conforme descrito no Anexo 03; e assim sucessivamente. Todos esses
exemplos têm em comum o fato de serem agentes físicos de avaliação
1
É um anexo sem número mesmo, identificado apenas pelo asterisco entre parênteses, intitulado Anexo (*) –
Atividades e operações perigosas com radiações ionizantes ou substâncias radioativas.
25

quantitativa, ou seja, há um limite de tolerância previsto na NR-15


(BRASIL, 2019a). É importante ressaltar que a insalubridade só se
configura se o trabalhador exercer atividades exposto a uma intensidade
ou concentração maior do que esse limite sem a efetiva proteção.

Há outros anexos da NR-15 (BRASIL, 2019a) que são avaliados


qualitativamente, ou seja, não é preciso medir para se constatar se há
ou não exposição insalubre, basta haver exposição ao agente sem a
devida proteção que já fica configurada a insalubridade. O exemplo
mais clássico dos agentes qualitativos são os biológicos, afinal não há
um nível de exposição seguro a um vírus ou uma bactéria. Enquanto
a maioria das pessoas, a longo prazo, só desenvolverá problemas
auditivos se ficar exposta a mais de 85,0 dB(A) sem alguma proteção, no
caso do agente biológico, basta em teoria uma única exposição, a um
único vírus de alguma doença infectocontagiosa, como as hepatites ou o
vírus do HIV (Human Immunodeficiency Virus – Vírus da Imunodeficiência
Humana), para que haja uma contaminação do trabalhador exposto.

Já a periculosidade sempre será enquadrada mediante a inspeção do


engenheiro de segurança ou médico do trabalho. Esses profissionais
deverão verificar se há ou não atividade perigosa ou operação em áreas
de risco previstas nos Anexos da NR-16 (BRASIL, 2019b).

Para encerrar a análise dos incisos do art. 473 do CPC (BRASIL, 2015),
o de número IV trata da resposta conclusiva a todos os quesitos
formulados e apresentados pelas partes interessadas. Podem elaborar
quesitos para resposta pelo perito tanto a parte autora ou reclamante
quanto a parte ré ou reclamada ou mesmo o próprio Juiz.

Quesitos são perguntas que devem ser respondidas pelo perito


objetivamente para elucidar dúvidas sobre o objeto da perícia. Por
exemplo, imagine que um trabalhador entrou com uma ação contra
a empresa em que trabalhou alegando que o local é muito ruidoso.
Nesse caso, a empresa ré, ciente de que sempre forneceu protetores
26

auriculares para neutralizar a exposição, pode colocar quesitos como:


O perito verificou se no setor de trabalho do reclamante há expressa
obrigatoriedade de uso do protetor auricular? Os protetores auriculares
fornecidos ao reclamante neutralizam a insalubridade?

O inciso IV do art. 473 do CPC (BRASIL, 2015) possui três parágrafos aos
quais o perito judicial deve estar atento:

[...] § 1º No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em


linguagem simples e com coerência lógica, indicando como alcançou suas
conclusões.

§ 2º É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua designação, bem


como emitir opiniões pessoais que excedam o exame técnico ou científico
do objeto da perícia.

§ 3º Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos


podem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas,
obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder da
parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo
com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos
necessários ao esclarecimento do objeto da perícia (BRASIL, 2015).

A mensagem dada pelo parágrafo primeiro supracitado é que quem


está demandando o laudo pericial é um Juiz de direito e, logo, o
resultado desse trabalho deve ser inteligível a ele. O Juiz é uma pessoa
com notório saber jurídico, mas depende de auxílio técnico para julgar
certas questões que fogem à sua esfera de conhecimento e habilitação
profissional. Assim, por mais que a conversão de dose de ruído para
decibéis, a escala logarítmica usada para somar dois ou mais níveis
de pressão sonora, ou a combinação das temperaturas de bulbo
seco, úmido e globo para obtenção do IBUTG (Índice de Bulbo Úmido
Termômetro de Globo) sejam conceitos técnicos complexos, mas
necessários para a conclusão sobre a insalubridade por ruído ou calor,
27

deve-se tomar o cuidado de apresentar uma conclusão no laudo que


seja entendida pelo Juiz e pelos advogados das partes.

Já no parágrafo segundo igualmente supracitado, alerta-se sobre um


erro que peritos iniciantes incorrem com frequência. Como foi dito,
Juízes e advogados são leigos na matéria técnica de insalubridade e
periculosidade e, por isso, recorrem a peritos e assistentes técnicos para
discutir esses casos. Diante disso, não é incomum que o advogado de
um reclamante erre no momento de redigir a petição inicial.

Para exemplificar, imagine que um trabalhador procura um advogado


para reclamar insalubridade, pois trabalhava em uma fábrica de tintas e
solventes e supostamente estaria exposto a agentes químicos. A partir
disso, o advogado procurado elabora uma petição inicial requerendo o
suposto direito ao adicional de insalubridade não pago pela empresa, e
o Juiz do caso determina a realização de uma perícia técnica para apurar
a existência da alegada insalubridade. Porém, na diligência, o perito
constata que o trabalhador na verdade atuava na área de expedição
dessa fábrica de tintas, onde todas as latas e recipientes já estão
embalados e lacrados, e apenas movimentava esse material que entrava
e saia do depósito de produtos acabados. Logo, ele não estava exposto
aos produtos, pois manuseava apenas embalagens fechadas.

Caso o perito aponte em seu laudo pericial que o trabalhador não estava
exposto à insalubridade por conta da ausência de contato direto com
os produtos, movimentando apenas as embalagens fechadas, mas
conclua que este teria direito à periculosidade, já que essas embalagens
contêm produtos inflamáveis armazenados em recinto fechado, ele
estaria incorrendo no descumprimento do parágrafo 2º do inciso IV
em comento, ultrapassando os limites de sua designação, que estava
restrita à análise da insalubridade. Isso é um problema na medida em
que é vedado ao próprio Juiz pelo CPC proferir sentença extra petita ou
ultra petita, ou seja, julgar algo que não foi pedido nos autos ou a mais
do que aquilo que foi pedido nos autos pela parte autora.
28

Vale destacar, entretanto, que, se o objeto da perícia é insalubridade,


todos os anexos da NR-15 podem e devem ser avaliados pelo perito.
Assim, ainda que o reclamante, leigo, tenha reclamado apenas de ruído
em sua petição inicial, caso o perito constate e enquadre a insalubridade
por outro agente, isso não configuraria ato de ultrapassar os limites da
designação.

Por fim, o parágrafo 3º do inciso IV do art. 473 do CPC (BRASIL, 2015)


dá ao perito e aos assistentes técnicos a prerrogativa de valer-se dos
meios necessários, desde que lícitos, naturalmente, para realizar seus
trabalhos e concluir acerca do objeto da perícia. Com isso, é possível
entrevistar testemunhas, solicitar documentos, realizar registros
fotográficos, reproduzir plantas, planilhas, mapas, entre outros meios
que o profissional julgue pertinentes.

3. Construindo o laudo pericial ou


parecer técnico

Recapitulando brevemente, o perito judicial é nomeado pelo Juiz,


enquanto os assistentes técnicos são nomeados pelas partes. Todos
eles têm a atribuição de investigar o objeto da perícia determinado
pelo Juízo e concluir, por exemplo, se há ou não direito a adicional de
insalubridade ou periculosidade. No caso, o relatório elaborado pelo
perito é conhecido como Laudo Pericial e o relatório dos assistentes
técnicos é conhecido como Parecer Técnico.

Neste item, será apresentada uma estrutura básica de tópicos de um


laudo pericial, seguida de comentários sobre o conteúdo a ser inserido
em cada um desses tópicos.
29

3.1 Capa

Na primeira linha da página do laudo pericial ou parecer técnico,


geralmente dirige-se o destinatário do documento com uma frase do
tipo: “EXMO. SR. DR. JUIZ DA ‘X’ª VARA DO TRABALHO DE ‘CIDADE – UF’”.
Em seguida, destaca-se o número do processo e o nome do reclamante
e da reclamada, ou reclamadas caso haja mais de uma empresa no polo
passivo.

Após os dados do processo, faz-se um breve parágrafo de introdução,


com um texto como “Fulano de Tal, engenheiro de segurança do
trabalho, registrado no CREA/UF sob n. X, nomeado Perito por
Vossa Excelência na Ação supra, tendo efetuado a vistoria e o
levantamento das condições de insalubridade e periculosidade, vem
mui respeitosamente apresentar Laudo Pericial”. Como se observa
aqui, já fica explícito o objeto da perícia que foi avaliado (insalubridade
e periculosidade no exemplo), mas poderia ser apenas uma delas, ou
ainda outro objeto qualquer, como eventualmente pode ser requerido
ao Perito, como a análise das condições ergonômicas do trabalho.

3.2 Introdução

Neste item, pode-se, por exemplo, expor os argumentos que o autor


traz em sua inicial para fundamentar seu pedido de insalubridade, bem
como os argumentos de defesa da empresa reclamada a esse respeito.

3.3 Vistoria

Aqui devem ser registrados data da vistoria; hora de início e término;


endereço; nome e cargo das pessoas que acompanharam a vistoria
pelas partes; nome e cargo dos paradigmas entrevistados; descrição dos
ambientes vistoriados, detalhando a área e o tipo de construção, de piso,
de cobertura, de ventilação natural e artificial, de iluminação natural e
30

artificial; entre outros dados relevantes sobre a vistoria que o Perito ou o


AT (Assistente Técnico) entenda como pertinente registrar.

3.4 Metodologia

Neste tópico, discorre-se sobre a metodologia técnico-cientifica utilizada


para a elaboração do laudo pericial. No caso de trabalhos relativos à
insalubridade e à periculosidade, em geral remete-se à NR-15 (BRASIL,
2019a) e à NR 16 (BRASIL, 2019b), respectivamente.

3.5 Descrição do setor

Neste item, o Perito ou o AT pode descrever o setor de trabalho avaliado,


informando o que é feito no local; como é feito; quantos trabalhadores
o fazem; o maquinário envolvido; as matérias-primas e os insumos
utilizados; se há movimentação de cargas manual ou mecanizada;
se há e como se dá a circulação de pessoas pelo local, como clientes,
fornecedores e visitantes; etc.

3.6 Descrição da função

Diferentemente do tópico anterior, que foca em descrever o processo


feito no setor como um todo, este tópico foca nas atividades que eram
exercidas exclusivamente pelo reclamante. Este talvez seja um dos tópicos
mais importantes, pois é a partir dele que se verificam as exposições do
empregado.

Aqui, o Perito ou o AT deve investigar o que o reclamante fazia. Nesse


sentido, é importante descrever nos mínimos detalhes como ele fazia;
com que frequência; por quanto tempo; que máquina, equipamento ou
ferramenta utilizava; se fazia sozinho ou em mais pessoas.
31

Na eventualidade de o trabalhador, ao longo do período não prescrito, ter


exercido mais de uma função, o Perito ou o AT deverá repetir essa análise
para cada cargo, uma vez que as exposições insalubres ou perigosas
podem ser diferentes.

3.7 Medidas de controle da exposição

Neste tópico, o laudo pericial ou parecer técnico deverá refletir se havia


medidas de controle que neutralizassem ou eliminassem a insalubridade,
como preveem a CLT (BRASIL, 1943) e a NR-15 (BRASIL, 2019a). Essas
medidas podem ser um EPC (Equipamento de Proteção Coletiva), como
uma capela de manuseio de agentes químicos, que impede a dispersão de
vapores e gases no ambiente para evitar que o trabalhador os respire; ou
um EPI (Equipamento de Proteção Individual), como o protetor auricular,
que protege o sistema auditivo do trabalhador do ruído alto.

3.8 Análise das condições de salubridade

Geralmente, os dados que serão apontados no Item 3.5 (Descrição do


setor), discutido anteriormente, são obtidos por meio de entrevistas com
o reclamante e paradigmas, nome dado a trabalhadores que exercem
naquele momento na empresa a mesma função que o reclamante exercia.
Nessas entrevistas, o Perito e o AT já têm uma noção de quais agentes
deverão avaliar no setor quando forem a loco vistoriar as atividades
acontecendo. Por exemplo, se o reclamante e os paradigmas reportarem
o uso de uma máquina, certamente será necessário avaliar o ruído; ou,
se relatarem que era feita a manutenção de elementos mecânicos de
máquinas, há de se investigar o contato com agentes químicos, como
graxa e óleo; e assim sucessivamente. Dessa forma, a análise necessária
para o preenchimento desse tópico normalmente ocorre no setor
de trabalho, com a medição de eventuais agentes quantitativos ou a
avaliação de agentes qualitativos aos quais o trabalhador se expunha.
32

A NR-15 (BRASIL, 2019a) possui atualmente 13 anexos vigentes, do


número 01 ao 14, tendo sido o Anexo 04 revogado em 23 de novembro
de 1990. Dessa forma, dentro desse tópico, todos os anexos da NR-15
pertinentes são detalhados, ou seja, caso o autor estivesse exposto a ruído,
o laudo pericial ou parecer técnico apresentará o resultado das medições
realizadas; se havia exposição ao calor, idem; se havia exposição a algum
agente qualitativo, será descrito como se dava a exposição do autor.

3.9 Análises das condições de periculosidade

A NR-16 (BRASIL, 2019b) conta com 06 anexos, do número 01 ao 05 mais o


Anexo (*). Como já descrito no tópico anterior, caso a periculosidade seja
objeto da perícia, neste tópico serão abordados os anexos pertinentes,
descrevendo-se como se dava a exposição do trabalhador nas atividades
ou áreas de risco previstas na NR-16 (BRASIL, 2019b).

3.10 Respostas aos quesitos

O título deste tópico é autoexplicativo. Aqui o perito judicial deverá


responder aos quesitos, como está previsto no art. 473, inciso IV, do CPC
(BRASIL, 2015).

3.11 Conclusão

Considerando tudo o que foi apurado e reproduzido nos tópicos


anteriores, é neste item que o Perito ou AT dirá em linguagem simples,
objetiva e fundamentada ao Juiz e aos advogados das partes se o
trabalhador faz jus a algum adicional.

3.12 Encerramento

Por fim, o Perito fecha o laudo pericial geralmente agradecendo a


designação e requerendo que sejam arbitrados os seus honorários.
33

Muitos peritos deixam registrado aqui o valor dos honorários pretendidos,


mas isso não significa que eles serão acatados pelo Juiz, que tem certa
autonomia para decidir o quanto deve ser pago ao Perito dentro do
princípio da razoabilidade.

4. Considerações finais

Com base nos conceitos discutidos aqui, você adquiriu noções de como
o CPC requer que seja construída a prova pericial. Também lhe foi
apresentado um norte em forma de tópicos que devem ser contemplados
em um laudo pericial ou parecer técnico.

O objetivo deste material era introduzir conceitos básicos sobre os


temas abordados. Caso queira saber mais, uma boa sugestão de
pesquisa é leitura do Código de Processo Civil e da Consolidação das Leis
Trabalhistas, que se encontram disponíveis na internet. Veja na íntegra os
artigos e os itens aqui abordados, a fim de reforçar seus conhecimentos
nesse assunto!

Referências
BELEZE, Cleverson A. Perícia trabalhista e avaliação de desempenho. Londrina:
UNOPAR, 2014.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília:
Presidência da República, 1988.
BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de
Janeiro: Presidência da República, 1940.
BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das
Leis do trabalho. Rio de Janeiro: Presidência da República, 1943.
BRASIL. Lei n. 13.105 de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília:
Presidência da República, 2015.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 15 – Atividades e operações
insalubres. Brasília: MTPS, 2019a.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 16 – Atividades e operações
perigosas. Brasília: MTPS, 2019b.
34

Cadastro on-line para peritos


e conceitos de insalubridade e
periculosidade
Autoria: Júlio Assis de Freitas
Leitura crítica: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior

Objetivos
• Apresentar o sistema eletrônico para cadastro
nacional de peritos na Justiça do Trabalho.

• Discorrer sobre os documentos necessários para a


realização do cadastro na Justiça do Trabalho.

• Abordar a plataforma PJe (Processo Judicial


eletrônico), na qual sãos acompanhadas as
nomeações, apresentados os laudos periciais, entre
outras operações.
35

1. Introdução

Com a informatização do judiciário, houve significativo ganho de


produtividade, uma vez que todas as partes envolvidas em um processo
passaram a ter acesso em tempo real às informações que ficam
disponibilizadas na nuvem. O perito judicial também foi impactado
com a mudança na tecnologia, visto que antigamente era necessário ir
pessoalmente à vara de origem da ação trabalhista e retirar o processo
físico, que por vezes vinha em vários volumes com seis cadernos ou
mais. Porém, enquanto o perito estivesse com o processo, ele ficava
indisponível para consultas pelas demais partes, e isso também deixava
sobre os ombros do detentor dos autos uma enorme responsabilidade,
pois gerava grande transtorno a todos os envolvidos se um processo se
extraviasse, o que não era raro. Há histórias, por exemplo, de peritos
que tiveram seus carros roubados enquanto transitavam com processos
para buscá-los ou devolvê-los na vara de origem.

Considerando que a informática e a internet estão difundidas em nosso


cotidiano já há algumas décadas, pode-se dizer que a informatização
do judiciário demorou a acontecer, uma vez que o Processo Judicial
eletrônico (PJe) só entrou em vigor oficialmente em 29 de março
de 2010. Porém, hoje em dia o judiciário está operando de forma
totalmente digital.

Discorreremos neste material sobre as plataformas eletrônicas com


as quais o perito judicial tem contato em seu cotidiano, desde o seu
cadastro no sistema para que possa atuar na Justiça do Trabalho, até o
sistema no qual ele verifica os processos nos quais foi nomeado, insere
seu laudo pericial, responde a eventuais impugnações ao laudo, entre
outras operações.
36

2. Dados cadastrais

Há até pouco tempo o profissional interessado em prestar serviços


como perito judicial deveria se dirigir às varas do trabalho nas quais
desejasse atuar munido de currículo profissional para entregá-lo
pessoalmente ao diretor ou secretário da vara. Porém, a partir do
advento da Resolução n. 247/2019 do CSJT (Conselho Superior de Justiça
do Trabalho) (BRASIL, 2019a), passou a ser necessário que o profissional
que pretende atuar como perito, tradutor ou intérprete esteja
previamente cadastrado no sistema AJ-JT (Assistência Judiciária da Justiça
do Trabalho). Como definição de seu objetivo, essa resolução descreve o
seguinte:

[...] Institui, no âmbito da Justiça do Trabalho, o Sistema Eletrônico de


Assistência Judiciária AJ/JT, destinado ao cadastro e gerenciamento de
peritos, órgãos técnicos ou científicos, tradutores e intérpretes e ao
pagamento dos profissionais nos casos dos processos que envolvam
assistência judiciária gratuita, e dá outras providências. (BRASIL, 2019a, p. 1)

Diante disso, o primeiro passo é o cadastro do profissional que pretende


atuar como perito, intérprete ou tradutor no sistema eletrônico, o qual
serve de base de dados ao judiciário quando é necessário encontrar
auxiliares interessados.

2.1 Dados pessoais

Para realizar esse cadastro, o interessado deve pesquisar por “AJ-TJ” na


internet, e os primeiros itens dessa pesquisa devem direcionar ao site
para cadastro de profissionais, como ilustra a Figura 1.
37

Figura 1 – Tela para log in ou cadastro de novos profissionais

Fonte: captura de tela de https://aj.sigeo.jt.jus.br/aj2/loginInternet.jsf.


Acesso em: 9 mar. 2022.

Ao clicar em cadastrar um novo profissional, o sistema vai ser


redirecionado para um termo de compromisso, no qual em apertada
síntese o cadastrando declara estar ciente dos termos da Resolução
n. 247/2019 do CSJT (BRASIL, 2019a) e se compromete a prestar
informações verídicas sob pena da lei. Deve então ser digitado o
CPF (Cadastro de Pessoas Físicas) do interessado para que o sistema
verifique se a pessoa já possui cadastro, e, estando tudo certo, são
acessadas as telas de cadastro – nada diferente do que qualquer
internauta já está habituado ao se registrar em qualquer site ou fazer
compras na internet.

A primeira tela é focada em dados pessoais, como nome, endereço,


número de CPF, e-mail, telefone e outros. Deverão ainda nessa tela ser
juntados alguns documentos em formado PDF/A.1 O sistema não aceita
PDF simples, mas não se preocupe, porque no momento da junção
do documento ele próprio oferece uma ferramenta para converter o
arquivo para PDF/A. Se, ao tentar anexar o arquivo PDF, aparecer na
tela a mensagem “Atenção: Os documentos anexados devem estar no
1
Esse “A” de archive significa que o arquivo PDF não precisa de nenhuma fonte de dados externa para ser
lido, pois já possui todas as fontes necessárias arquivadas consigo.
38

formato PDF/A. Clique aqui para convertê-los, caso necessário.”, basta


clicar no link da mensagem e o sistema irá abrir a janela da ferramenta
de conversão, como ilustra a Figura 2.

Figura 2 – Ferramenta de conversão de PDF para PDF/A

Fonte: captura de tela de https://aj.sigeo.jt.jus.br/aj2/internet/dadospessoais/


detalhamentodadospessoais.jsf#. Acesso em: 9 mar. 2022.

Um dos primeiros documentos necessários já na tela de cadastro de


dados pessoais é o CCM (Cadastro de Contribuintes Mobiliários), que
é necessário para todos os contribuintes mobiliários da Secretaria da
Fazenda do município onde o interessado mantém seu domicílio fiscal.
Nesse contexto, contribuintes mobiliários são as pessoas físicas que
exercem uma atividade econômica na forma de trabalho pessoal, sem
relação de emprego. O interessado deverá pesquisar no seu domicílio
fiscal como é feito o CCM localmente; muitas prefeituras já dispõem
de plataformas on-line para tanto, enquanto outras ainda realizam o
processo de forma presencial na Secretaria da Fazenda.

Ao se cadastrar no CCM, o contribuinte passa a pagar uma taxa anual,


que nada mais é do que um imposto sobre o lucro presumido que a
prefeitura estipula para esses profissionais, ou seja, uma vez que esse
perfil de pessoas físicas presta serviços no município, mas pela natureza
autônoma de suas atividades não emite notas fiscais de serviço de
onde possa ser computado o ISS (Imposto Sobre Serviços), o município
estipula um valor de anuidade a ser recolhido presumindo determinado
volume de serviços prestados. Esse valor varia para cada município, e
39

alguns, inclusive, como a cidade de São Paulo, isentam os contribuintes


do CCM dessa taxa. Logo, o interessado deverá pesquisar também se há
e qual será o valor de contribuição para obtenção do CCM.

Uma vez de posse do documento, ele deverá ser juntado no sistema AJ-
TJ, devidamente convertido para o formato PDF/A, assim como todos os
outros documentos que apresentaremos neste material. O interessado
também deverá apresentar uma certidão negativa de condenações
cíveis por ato de improbidade administrativa e inelegibilidade do CNJ
(Conselho Nacional de Justiça), similar ao modelo ilustrado na Figura 3.

Figura 3 – Modelo de certidão negativa do CNJ.

Fonte: captura de tela de https://www.cnj.jus.br/improbidade_adm/consultar_requerido.


php?validar=form. Acesso em: 9 mar. 2022.

Para obter a certidão negativa supracitada, o interessado deverá


pesquisar por “Cadastro Nacional de Condenações Cíveis por Ato de
Improbidade Administrativa e Inelegibilidade” na internet. O primeiro
resultado dessa pesquisa deve redirecionar para o sistema de emissão
da certidão, no qual deve ser preenchido o formulário ilustrado na
Figura 4.
40

Figura 4 – Sistema de emissão da certidão negativa do CNJ

Fonte: captura de tela de https://www.cnj.jus.br/improbidade_adm/consultar_requerido.


php. Acesso em: 9 mar. 2022.

Os demais documentos que devem ser juntados na seção de dados


pessoais são uma cópia frente e verso de documento de identificação
oficial com foto; comprovante de endereço em nome do interessado
emitido há no máximo três meses da data de cadastro; e comprovante
da conta corrente bancária individual. É importante destacar que não
são aceitas contas conjuntas ou empresariais para o recebimento de
honorários periciais, apenas contas de titularidade exclusiva do CPF do
interessado.

Após inserir todos os anexos, deve-se clicar em “enviar para validar”. No


rodapé da página de cadastro, há uma tabela com todos os documentos
juntados e uma coluna chamada “situação”, que ficará como “pendente”
até que os documentos sejam validados por servidores da área
responsável dentro do órgão judicial responsável. Caso a situação
se altere para “pendência”, significa que há algo a ser corrigido, e o
profissional poderá verificar no histórico qual mensagem foi deixada,
como “documento ilegível”, para providenciar a correção necessária.
41

Por fim, quando a coluna de situação registar “validado”, significa que o


documento foi devidamente aprovado.

2.2 Dados profissionais

No menu à esquerda do sistema, há o item seguinte para inserção


de “dados profissionais”, no qual basicamente será apresentado
um currículo do interessado. Aqui é possível cadastrar mais de uma
habilitação, isto é, o profissional pode, por exemplo, inserir uma linha
para engenheiro de segurança do trabalho, o que o habilita a atuar
em perícias de insalubridade, periculosidade e afins, e outra linha para
fisioterapeuta, supondo que ele também tenha essa formação, o que o
habilitaria também a atuar em perícias de vistorias ergonômicas.

Nessa tela de cadastro, deve ser selecionada a categoria (perito, tradutor


ou intérprete); a profissão base (engenharia, medicina, química etc.); a
especialização (engenheiro civil e segurança do trabalho, por exemplo);
as cidades onde o profissional tem interesse em atuar, podendo ser
selecionadas tantas quantas desejar; o órgão de classe ao qual o
profissional é filiado, seguido da unidade federativa, do número de
registro e da data de expedição do registro; e um minicurrículo de até
2000 caracteres. Nessa aba de dados profissionais, também devem
ser inseridos os seguintes documentos: certificados de conclusão
da graduação (ex.: eng. civil) e da especialização (ex.: eng. segurança
do trabalho) referentes à habilitação profissional que está sendo
cadastrada; cópia frente e verso da carteira de registro no órgão de
classe; e certidão de quitação de débitos no órgão de classe.

2.3 Dados bancários e outros

Esta aba é um cadastro muito simples e rápido, bastando informar os


números do banco, a agência e a conta corrente individual, atrelada ao
CPF do interessado. O sistema disponibiliza ainda algumas ferramentas
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úteis para quando o profissional já estiver com seu cadastro


devidamente validado e exercendo a atividade pericial.

Nas abas de dados do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) e do


ISS (Imposto Sobre Serviços), o profissional pode inserir comprovantes
de recolhimento previdenciário e de recolhimento de ISS. Caso não o
faça, esses encargos terão suas alíquotas máximas descontadas no
momento do pagamento de honorários. Há também abas para consultar
as nomeações nas quais o profissional foi indicado como perito e os
pagamentos de honorários realizados e pendentes.

Uma vez realizados todos esses cadastros e juntados todos os


documentos solicitados, o interessado deve acompanhar o processo
no sistema até que seja todo validado. O eventual surgimento de
pendências pode ser verificado no menu “pendências do sistema”,
as quais podem ser, por exemplo, a não aprovação de algum dos
documentos; nesse caso, o validador deixará ao interessado uma
mensagem descrevendo o problema a ser corrigido.

3. Processo Judicial eletrônico (PJe)

Uma vez que o profissional já esteja devidamente cadastrado e


validado no sistema AJ-JT, ele está apto a ser nomeado para atuar como
perito judicial na esfera trabalhista nas cidades em que ele informou
interesse durante o cadastro. Agora é necessário acessar o sistema
PJe para acompanhar as nomeações; abrir os processos em que foi
nomeado para ter acesso às informações neles contidas; inserir laudos
periciais concluídos; responder a eventuais impugnações ou quesitos
complementares apresentados pelas partes; entre outros movimentos
que competem ao perito dentro do sistema.
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Para tanto, o primeiro passo é obter uma assinatura digital, conhecida


como e-CPF (Cadastro de Pessoa Física eletrônico), o que pode ser feito
com uma certificadora credenciada. A busca por “e-CPF” na internet
irá retornar várias alternativas de empresas que prestam esse serviço.
O usuário poderá optar pelo certificado do tipo A1, que é instalado no
computador e permite a assinatura digital de documentos apenas a
partir desse aparelho, ou do tipo A3, que fica armazenado em uma mídia
externa, como um cartão ou um token, e pode ser usado em qualquer
computador em que o usuário conectar essas mídias. Todas as pessoas
que inserem documentos em um processo, como advogados, peritos,
tradutores e intérpretes, devem ter obrigatoriamente essas assinaturas
digitais, pois são elas que asseguram que um documento está de fato
sendo apresentado por aquela pessoa, ampliando o nível de segurança
da informação do sistema eletrônico da justiça.

De posse da assinatura eletrônica devidamente instalada no seu


dispositivo de acesso ao sistema, o usuário deve ingressar no site do PJe
e selecionar o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) onde atua, conforme
tela ilustrada na Figura 5.

Figura 5 – Tela de seleção do TRT no sistema PJe

Fonte: captura de tela de endereço http://www.pje.jus.br/navegador/.


Acesso em: 9 mar. 2022.
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Ao se selecionar o TRT desejado, o usuário será redirecionado para


uma tela em que efetivamente realizará o log in no sistema, como
ilustra a Figura 6. Aqui trazemos como exemplo o acesso ao TRT2, que é
responsável pela região metropolitana de São Paulo.

Figura 6 – Tela de log in no PJe

Fonte: captura de tela de https://pje.trt2.jus.br/primeirograu/login.seam.


Acesso em: 9 mar. 2022.

Como se observa na Figura 6, há a opção para ingressar no sistema por


meio da assinatura digital do usuário ou por meio do log in com CPF e
senha. Aqui a diferença é que, se acessar o sistema por meio do CPF/
senha, o usuário só terá acesso à leitura de processos, isto é, não poderá
juntar documentos, o que só é permitido ao usuário que ingressou
com sua assinatura, pois, ao juntar um documento no processo, ele
automaticamente o assina digitalmente.

Feito o acesso, o sistema irá direto ao painel do perito, no qual estarão


acessíveis todos os processos nos quais ele está atuando ou foi
nomeado para atuar, como ilustrado na Figura 7.
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Figura 7 – Painel do perito no PJe

Fonte: captura de tela de https://pje.trt2.jus.br/pjekz/perito/atalhos-perito.


Acesso em: 9 mar. 2022.

Ao acessar esse painel, o perito judicial aceita ou declina uma nova


perícia por meio do item “Novas designações”. Uma vez aceita, ela
passa a contabilizar no grupo “Aguardando laudo”. Quando agendada e
realizada a perícia, o profissional acessa o respectivo processo e junta o
laudo, e esse item passa então a contabilizar no grupo “Laudo juntado”.

Após a análise do laudo apresentado pelas partes e caso elas discordem


de seu teor, podem apresentar impugnação e quesitos complementares
a serem respondidos. Vale lembrar que, segundo Beleze (2014), quesitos
são questões das partes que devem ser respondidas com clareza e
embasamento técnico. Assim, o item passa a contabilizar no grupo
“Aguardando esclarecimentos” e, após todas as discussões, entra no
grupo das perícias “Finalizadas”. Por sua vez, o grupo “Arquivadas” se
destina às perícias que não foram realizadas em função de sua dispensa
pelo Juízo, como no caso de acordo entre as partes antes da realização
da perícia, tornando-a desnecessária.

4. Conceitos de insalubridade e periculosidade

A maior demanda com a qual o engenheiro de segurança do trabalho


se depara em sua rotina como assistente técnico ou perito judicial é a
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perícia de insalubridade, periculosidade ou ambas; logo, as respectivas


normas devem ser dominadas pelo profissional profundamente.
A insalubridade, por exemplo, pode ser avaliada de três maneiras
distintas, como prevê a própria NR 15:

15.1 São consideradas atividades ou operações insalubres as que se


desenvolvem:

15.1.1 Acima dos limites de tolerância previstos nos Anexos n.º 1, 2, 3, 5, 11


e 12;

15.1.3 Nas atividades mencionadas nos Anexos n.º 6, 13 e 14;

15.1.4 Comprovadas através de laudo de inspeção do local de trabalho,


constantes dos Anexos n.º 7, 8, 9 e 10. (BRASIL, 2019b)

Para as atividades previstas no Item 15.1.1 supracitado, as avaliações


devem ser quantitativas, ou seja, deve ser realizada uma medição da
concentração do agente no ambiente, de modo que se possa comparar
com o limite de tolerância, a fim de que então se enquadre ou não
a insalubridade. Já nas atividades previstas nos itens 15.1.3 e 15.1.4,
a análise se dá de forma qualitativa, ou seja, não se faz necessária a
medição do agente, bastando constatar que ocorre a atividade prevista
nesses anexos para que se enquadre a insalubridade. Em todo caso,
deve-se ainda avaliar se a exposição insalubre não foi neutralizada por
medidas de ordem coletiva ou individual, como prevê o item 15.4.1 da
NR 15 (BRASIL, 2019b).

Já no caso da periculosidade, conceitos como exposição permanente/


habitual e intermitente/eventual são importantes para se concluir se
dada atividade enseja o direito ao adicional ao trabalhador exposto. De
qualquer forma, a mensagem final é: o título de Perito não é em vão,
visto que o profissional deve ter alto nível de domínio dos conceitos
técnicos que englobam a área na qual pretende atuar, a fim de ser capaz
de produzir um laudo bem fundamentado na legislação.
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5. Conclusão

Com base nos conceitos discutidos aqui, você adquiriu noções de como
um profissional interessado se cadastra no sistema AJ-JT para atuar
como perito judicial e procede para operar o sistema PJe após já estar
devidamente cadastrado e atuando como perito.

O objetivo deste material era introduzir conceitos básicos sobre os


temas abordados. Caso queira saber mais, uma boa sugestão de
pesquisa é a leitura do manual disponível no site dos TRTs. Para isso,
basta pesquisar por Manual do usuário externo AJ-TJ na internet ou usar o
link disponível nas referências ao final.

Referências
BELEZE, Cleverson A. Perícia trabalhista e avaliação de desempenho. Londrina:
UNOPAR, 2014.
BRASIL. Conselho Superior da Justiça do Trabalho (Brasil). Resolução n. 247, de 25
de outubro de 2019. Institui, no âmbito da Justiça do Trabalho, o Sistema Eletrônico
de Assistência Judiciária AJ/JT [...]. Brasília: CSJT, 2019a.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 15 – Atividades e operações
insalubres. Brasília: MTPS, 2019b.
TRT. Tribunal Regional do Trabalho (Brasil). Manual do usuário externo. [s.d.].
Disponível em: https://ww2.trt2.jus.br/fileadmin/servicos/peritos/Manual_Usuario_
Externo.pdf. Acesso em: 9 mar. 2022.
BONS ESTUDOS!

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