Você está na página 1de 88

JUR0232_V3.

RECURSOS II E OUTROS MEIOS


DE IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES
JUDICIAIS
2

Carolina Uzeda

RECURSOS II E OUTROS MEIOS DE


IMPUGNAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS
1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2021
3

© 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser


reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização,
por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A.

Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A


Paulo de Tarso Pires de Moraes

Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Camila Turchetti Bacan Gabiatti
Giani Vendramel de Oliveira
Gislaine Denisale Ferreira
Henrique Salustiano Silva
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo

Coordenador
Gislaine Denisale Ferreira

Revisor
André Faustino

Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Carolina Yaly
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


________________________________________________________________________________________
Uzeda, Carolina
U99r Recursos II e outros meios de impugnação das
decisões judiciais/ Carolina Uzeda, – São Paulo:
Platos Soluções Educacionais S.A., 2021.
89 p.

ISBN 978-65-89881-98-8

1. Recursos. 2. Impugnação. 3. Decisão Judicial. I. Título.

CDD 347
____________________________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB-8 SP-010289/O

2021
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
4

RECURSOS II E OUTROS MEIOS DE IMPUGNAÇÃO


DAS DECISÕES JUDICIAIS

SUMÁRIO

Apresentação da disciplina____________________________________ 05

Reclamação Constitucional____________________________________ 06

Ação rescisória _______________________________________________ 25

Cumprimento de sentença____________________________________ 48

Execução______________________________________________________ 61
5

Apresentação da disciplina

A disciplina abrange ações impugnativas autônomas e a parte geral da


Execução. Na primeira aula, tratamos da Reclamação, abordando os
principais pontos e controvérsias sobretudo quanto ao cabimento. A
segunda aula versa sobre Ação Rescisória, única ação expressamente
prevista em lei para impugnar a decisão sobre a qual tenha incidido
coisa julgada material ou formal forte (hipótese, por exemplo, de
algumas sentenças/decisões interlocutórias terminativas). Também na
segunda aula, fizemos um panorama das decisões prolatadas pela Corte
Interamericana de Direito Humanos, como meio para desconstituição
de coisa julgada interna. Isso após traçar uma breve introdução sobre
a coisa julgada e sua função garantidora da segurança jurídica e, por
consequência, do próprio Estado de Direito. A terceira aula trata da
teoria geral da execução, princípios e regras norteadoras e espécies.
Também da sua fase inicial, competência, suspensão e extinção. Por fim,
a quarta aula inicia o estudo do cumprimento de sentença, versando
sobre sua fase inicial, o cumprimento provisório de sentença e a
possibilidade de protesto da decisão transitada em julgado. Diante das
limitações impostas pela proposta do Curso, buscamos abordar apenas
os principais pontos de cada tema, sempre com os olhos voltados à
advocacia e incluindo doutrina recente e decisões judiciais prolatadas
pelo Superior Tribunal de Justiça.
6

Reclamação Constitucional
Autoria: Carolina Uzeda
Leitura crítica: André Faustino

Objetivos
• Ações impugnativas autônomas.

• Reclamação Constitucional.

• Cabimento e questões polêmicas.


7

1. Introdução
O homem é naturalmente falho. Ciente disso criou mecanismos para
que as decisões judiciais possam ser revistas e muito embora não seja
possível afirmar que a justiça da decisão se mede pelo número de
reexames a que foi submetida, fato é que a possibilidade de revisão
das decisões judiciais atende amplamente ao devido processo legal e
aos ideais de justiça1-2. Além disso, temos a necessidade, construída
historicamente, de evitar um juiz déspota3. A ciência de que as decisões
judiciais serão controladas por órgão, em regra, hierarquicamente
superior, cria uma “trava” psicológica, evitando abusos de poder4.

E é partindo dessas premissas e com essa necessidade que o


sistema cria meios de impugnação das decisões judiciais, os quais
são compostos por ações impugnativas autônomas (Reclamação
ação anulatória/declaratória e ação ordinária para reversão de tutela
antecipada estabilizada) e recursos5-6.

1
NERY JUNIOR., Nelson. Teoria geral dos recursos. 6. ed. atual., ampl. e reform. São Paulo: Revista dos Tribu-
nais, 2004, p. 43.
2
“Como diz Chiovenda, basta que o juiz saiba que a sua sentença pode ser reexaminada e modificada por um
tribunal superior para que ela seja mais cuidadosa e mais justa. Os vários graus de jurisdição existem não apenas
porque os superiores têm mais conhecimento ou sabedoria, pois, se assim não fosse, as ações deveriam ser jul-
gadas todas diretamente por eles, mas porque, em cada grau, o órgão jurisdicional vê o caso concreto de maneira
própria: o primeiro, mais próximo ao fato, pode apreciar todos os seus pormenores, inclusive os fatores de difícil
transcrição para o papel, como, por exemplo, a sinceridade de uma testemunha; o segundo grau, exatamente por-
que está mais distante dos fatos, pode ter uma visão mais adequada do contexto dos acontecimentos e de outros
casos análogos, bem como aperfeiçoa, em termos gerais, a interpretação do direito.” (GRECO FILHO, Vicente.
Direito processual civil brasileiro. v. 2. 12. edição, rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 265).
3
NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos. 6. ed. atual., ampl. e reform. São Paulo: Revista dos Tribu-
nais, 2004, p. 39.
4
Sobre os aspectos históricos da impugnação a partir da antiguidade: MATEO, Juan de Dios Doval de. La
revision civil. Barcelona: Libreria Bosch, 1979, p. 9-24; AZEVEDO, Luiz Carlos de. Origem e introdução da
apelação no Direito Lusitano. São Paulo: FIEO, 1976; e LIMA, Alcides de Mendonça. Introdução aos recursos
cíveis. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1976, p. 1-71.
5
A teoria geral da impugnação tem por objetivo o controle geral da regularidade dos atos processuais e, em es-
pecial, da atividade do tribunal, principalmente por meio de suas decisões. [...] Funciona, então, como um remédio
contra uma atividade indevida (desviada, ilegítima...)” (VESCOVI, Enrique. Los recursos judiciales y demás medios
impugnativos en Iberoamérica. Buenos Aires : Ediciones Depalma, 1988, p. 1). Tradução livre. Do original: “La
teoria general de la impugnación tiene por objetivo el control general de la regularidade de los actos procesales y,
en especial, la actividad del tribunal, principalmente por medio de sus resoluciones. (...) Funciona, entonces, como
in remédio a uma atividade indebida (desviada, ilegítima...).”
6
Araken de Assis inclui também, ao lado das ações impugnativas autônomas e os recursos, os sucedâneos re-
cursais, dentre os quais estariam a remessa necessária, a correição parcial, a suspensão da segurança, o pedido
de reconsideração e o agravo regimental. (Manual dos recursos – 8 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo : Editora
Revista dos Tribunais, 2016, pp. 1.011/1.056).
8

No Brasil, embora o recurso tenha tomado a posição de protagonista na


impugnação das decisões judiciais, concentrando em si a possibilidade
de questionamento tanto dos vícios de julgamento, quanto de
forma, não foram excluídos os demais métodos impugnativos, para
situações nas quais a utilização desse não seja possível ou apta a gerar
imediatamente os efeitos desejados. Ou seja, sempre que não couber
recurso ou que este seja inútil, as ações impugnativas assumem a
posição de meio adequado para obtenção da tutela jurisdicional.

As duas principais – e mais frequentemente utilizadas - ações


impugnativas são o Mandado de Segurança contra ato judicial, previsto
na Lei nº 12.016/09 e a Reclamação que, agora, recebeu tratamento pela
lei processual, em seus arts. 988 a 993.

2. Reclamação Constitucional

2.1 Histórico

É certo que a garantia da autoridade das decisões emanadas pelas


Cortes sempre foi uma preocupação de todos aqueles que lidam com o
processo. Afinal, de nada adiantaria garantir o duplo grau de jurisdição,
sem o necessário respeito às decisões prolatadas por órgãos superiores.

Apesar disso, embora a doutrina aponte para o aparecimento do


pedido de Reclamação em 19117, foi na emenda ao Regimento Interno
do STF, datada de 1957, que ela surgiu expressamente e passou a ser
regulamentada. E apenas na Constituição de 1988 que ela surgiu de
forma explícita no âmbito da competência do STF e do STJ8.

7
HC n. 3061, julgado pelo STF em 29 de julho de 1911.
8
NOBRE JUNIOR, Edilson Pereira. Reclamação e Tribunais de Justiça. In: Reclamação Constitucional. Org.
NOGUEIRA, Pedro Henrique Pedrosa; COSTA, Eduardo José da Fonseca. Salvador: Juspodivm, 2013, enrique
Pedroap. 113-115.
9

No âmbito da legislação federal, a Reclamação surgiu na Lei 8.038/90,


em seus arts. 13 a 189, os quais foram, finalmente, revogados pelo novo
Código de Processo Civil, que assumiu, desde o início da sua vigência, a
regulamentação do instituto em seus arts. 988 a 993.

2.2 Cabimento

A Reclamação é demanda típica de fundamentação vinculada, ou


seja, apenas será cabível quando presentes algumas das situações
expressamente previstas em lei. O cabimento da Reclamação está previsto
no art. 988 do CPC, que autoriza seu ajuizamento para: (I) preservar a
competência do tribunal; (II) garantir a autoridade das decisões do tribunal;
(III) garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de decisão do
Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; e
(IV) garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de
resolução de demandas repetitivas ou de incidente de assunção de competência.

A primeira hipótese de cabimento (preservação da competência do


tribunal), se dá quando, apesar de incompetente, o juízo decide a matéria,
usurpando a competência de tribunal. É o que ocorre, por exemplo, quando
o juiz de primeiro grau, apesar de não ter competência para exercer
juízo de admissibilidade de recurso de apelação, o inadmite. Ou quando
o presidente ou vice-presidente do tribunal de origem inadmite agravo
em recurso especial ou extraordinário e deixa de remeter o recurso ao
respectivo tribunal superior10. Em regra, as decisões sujeitas a Reclamação
9
“Art. 13–Para preservar a competência do Tribunal ou garantir a autoridade das suas decisões, caberá recla-
mação da parte interessada ou do Ministério Público. Parágrafo único–A reclamação, dirigida ao Presidente do
Tribunal, instruída com prova documental, será autuada e distribuída ao relator da causa principal, sempre que
possível. Art. 14–Ao despachar a reclamação, o relator: I–requisitará informações da autoridade a quem for im-
putada a prática do ato impugnado, que as prestará no prazo de dez dias; II–ordenará, se necessário, para evitar
dano irreparável, a suspensão do processo ou do ato impugnado. Art. 15–Qualquer interessado poderá impugnar
o pedido do reclamante. Art. 16–O Ministério Público, nas reclamações que não houver formulado, terá vista do
processo, por cinco dias, após o decurso do prazo para informações. Art. 17–Julgando procedente a reclamação,
o Tribunal cassará a decisão exorbitante de seu julgado ou determinará medida adequada à preservação de sua
competência. Art. 18–O Presidente determinará o imediato cumprimento da decisão, lavrando-se o acórdão poste-
riormente”. (BRASIL, 1990, art. 13-18)    

10
Neste sentido, é o enunciado 658, do FPPC: “Cabe reclamação, por usurpação de competência do Tribunal Su-
perior, contra decisão do tribunal local que não admite agravo em recurso especial ou em recurso extraordinário.”
10

por usurpação de competência versam sobre a admissibilidade de recursos


que, não se pode olvidar, sempre poderá/deverá ser analisada pelo juízo
competente para julgar seu mérito.

É possível, também, ocorrer usurpação de competência quando demanda


de competência originária é instaurada em juízo distinto. Fredie Didier Jr.
e Leonardo Carneiro da Cunha citam o exemplo a hipótese de impetração
de Mandado de Segurança contra ato de Presidente da República, perante
juízo federal de primeira instância. Nesse caso, será cabível a Reclamação
para o STF para preservação da sua competência11.

A segunda hipótese, de garantia da autoridade das decisões, busca impedir


que juízos “inferiores” desrespeitem comandos exarados por juízos aos
quais estão vinculados. Caberá Reclamação para garantia da autoridade de
decisão quando o juiz deixa de suspender o processo, apesar da atribuição
de efeito suspensivo em recurso de agravo de instrumento.

Também será cabível Reclamação dentro do próprio tribunal, quando a


câmara ou turma (ou o relator) deixar de cumprir decisão prolatada pelo
plenário ou pelo órgão especial12.

11
Curso de Direito Processual Civil: o Processo Civil nos Tribunais, Recursos, Ações de Competência Originária
de Tribunal e Querela Nullitatis, Incidentes de Competência Originária de Tribunal. 13. ed. reform. – Salvador: Jus-
Podivm, 2016, p. 542-543.
12
Apesar disso, o STF, afirmando não estar vinculado aos próprios precedentes, tem decidido, mesmo no âmbito
do CPC/2015 e apesar do que consta no art. 927, V, pelo não cabimento da reclamação contra decisão de relator
ou turma contrário à decisão do plenário: “Agravo regimental na reclamação. Reclamação contra decisão proferida
no RE nº 718.874/RS-RG. Alegada violação do entendimento firmado nos RE nºs 363.852/MG e 596.177/RS-RG e
na ADI nº 4.071/DF. Inadmissibilidade de reclamação contra decisão do STF. Competência do Plenário do Supre-
mo Tribunal Federal. Agravo regimental não provido. 1. É inadmissível a reclamação proposta contra decisão judi-
cial de ministro ou órgão colegiado da Suprema Corte. 2. A eficácia vinculante de precedente da Suprema Corte se
opera relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário (art. 102, § 3º e art. 103-A, caput, ambos da CF/88),
os quais, na sistemática da repercussão geral, têm a competência para, em casos idênticos, procederem à concre-
tização da norma de interpretação constitucional exarada pelo STF no representativo da controvérsia, com vistas
à racionalização do sistema de Justiça. 3. As decisões proferidas no RE nº 596.177/RS ou na ADI nº 4.071/DF não
vinculam esta Suprema Corte na análise do RE nº 718.874/RS-RG e, portanto, não obstam ou tornam ilegítimo o
exercício da competência jurisdicional do STF firmada no sentido da necessidade de revisitação, na sistemática da
repercussão geral, da temática constitucional relacionada com a contribuição social do empregador rural pessoa
física, tendo em vista a superveniente edição da Emenda Constitucional nº 20/1998. 4. Agravo regimental não
provido.” (Rcl 27049 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 21/11/2017, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-278 DIVULG 01-12-2017 PUBLIC 04-12-2017).
11

Os incisos III e IV, do art. 988, visam garantir a autoridade das teses
fixadas em Incidente de Assunção de Competência, Incidente de
Resolução de Demandas Repetitivas, enunciados de súmula do STF e
STJ, além, claro, das súmulas vinculantes e das decisões de controle
concentrado de constitucionalidade. Veja-se que o art. 988 limitou seu
escopo, deixando de prever todos os precedentes vinculantes previstos
no art. 927, o que não impede, porém, a interpretação analógica do
dispositivo, pelo menos quanto ao sistema de julgamento de casos
repetitivos e a repercussão geral.

Dito isto, considerando que os acórdãos proferidos em julgamento de


recursos extraordinários ou especiais repetitivos integram o conceito de
precedente vinculante (ou obrigatório) para os fins do sistema trazido
pelo CPC vigente, sobretudo em seu artigo 927, bem como, o sistema
de julgamento de casos repetitivos (do qual o IRDR faz parte), também
caberá Reclamação contra decisões que deixem de aplicar a tese neles
fixada.

O mesmo se dá com relação aos acórdãos de recurso extraordinário


com repercussão geral reconhecida. Isto porque, sobretudo após a
Lei 13.256, de 4 de fevereiro de 2016, o sistema processual brasileiro,
ratificando a previsão anterior e ampliando suas hipóteses, fez
sobressair a vinculação dos juízes às teses fixadas nestas situações (vide,
p. ex., artigos 927, V, 988, § 5º, II e 1.030, I, “a”).

A novidade foi mais que salutar, uma vez que a vinculação dos tribunais
ao decidido pelo STF e STJ garante que as Cortes cumpram efetivamente
suas funções nomofilática e uniformizadora, impedindo entendimentos
dispersos e garantindo a isonomia entre os jurisdicionados13.

13
Sobre a função do STF e os precedentes vinculantes como meio de garantir a isonomia: ARRUDA ALVIM,
Teresa; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a Nova Função dos Tribunais Superio-
res no Direito Brasileiro de acordo com o CPC de 2015 e a Lei 13.256/16. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016.
12

A única limitação existente está prevista no § 5º do art. 988, que exige o


esgotamento das instâncias ordinárias, para propositura de Reclamação
“para garantir a observância de acórdão de recurso extraordinário com
repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de
recursos extraordinário ou especial repetitivos”.

Também não poderá ser proposta Reclamação após o trânsito em


julgado da decisão reclamada, sendo certo que esta não obsta ou limita
a interposição do respectivo recurso.

2.3 Competência

A Reclamação, na forma do art. 988, § 1º, pode ser proposta perante


qualquer tribunal e seu julgamento competirá ao órgão jurisdicional
cuja competência se busca preservar ou cuja autoridade se pretenda
garantir14. Assim, caso descumprido, por exemplo, entendimento
firmado em acórdão proferido em recurso especial repetitivo, a
Reclamação deverá ser proposta perante o STJ.

2.4 Legitimidade

A Reclamação é ação a ser proposta pela parte prejudicada pela decisão


reclamada, pelo Ministério Público ou, ainda, pelo assistente. Fredie
Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha esclarecem que também podem
propor Reclamação todos aqueles que se afirmem atingidos por decisão
contrária à decisão em controle concentrado de constitucionalidade ou
por ato contrário a enunciado de súmula vinculante15.

14
Vide enunciados do FPPC sobre o tema: “349. (arts. 982, § 5º e 988) Cabe reclamação para o tribunal que
julgou o incidente de resolução de demandas repetitivas caso afrontada a autoridade dessa decisão.” e “558. (art.
988, IV, § 1º; art. 927, III; art. 947, § 3º) Caberá reclamação contra decisão que contrarie acórdão proferido no
julgamento dos incidentes de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência para o tribunal
cujo precedente foi desrespeitado, ainda que este não possua competência para julgar o recurso contra a decisão
impugnada.”
15
Curso de Direito Processual Civil: o Processo Civil nos Tribunais, Recursos, Ações de Competência Originária
de Tribunal e Querela Nullitatis, Incidentes de Competência Originária de Tribunal. 13. ed. reform. – Salvador: Jus-
Podivm, 2016, p. 559.
13

A Reclamação deverá ser proposta em face do beneficiário da decisão


e nunca da autoridade que praticou o ato atacado, que será chamada a
prestar informações, na forma do art. 989, I.

2.5 Procedimento

Proposta perante o presidente do tribunal, a Reclamação, que deve


respeitar os requisitos da petição inicial previstos no art. 31916, será
distribuída preferencialmente ao relator do processo de origem que,
na forma do art. 989, (i) requisitará informações da autoridade que
praticou o ato atacado e (ii) determinará a citação para apresentação de
contestação em 15 dias.

Também é possível que o relator conceda tutela provisória, de urgência


ou de evidência, a qual poderá ensejar a suspensão do processo ou do
ato impugnado, na forma do art. 989, II.

Por fim, após a intimação do Ministério Público, os arts. 992 e 993


dispõem que a decisão que julgar a Reclamação, se provida, cassará o ato
impugnado ou determinará a medida adequada à solução da controvérsia,
o que tem efeitos imediatos e independentemente da lavratura do acórdão.

2.6 Honorários advocatícios

A Reclamação é uma ação de competência originária do tribunal17 e


embora o STF tenha, anteriormente, afirmado que esta não levaria à
condenação a honorários advocatícios, tal entendimento foi alterado na
vigência do novo CPC, como se observa, por exemplo, no julgamento,
por maioria, da Rcl 24464:

16
Além disso, o autor, por certo, deverá demonstrar a presença de algum dos requisitos de cabimento previstos no
art. 988.
17
Fredie Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha ressaltam que “A reclamação é uma ação que provoca o exercí-
cio da jurisdição contenciosa.” (Curso de Direito Processual Civil: o Processo Civil nos Tribunais, Recursos,
Ações de Competência Originária de Tribunal e Querela Nullitatis, Incidentes de Competência Originária de
Tribunal. 13. ed. reform. – Salvador: JusPodivm, 2016, p. 534)
14

Agravo interno em Reclamação. Direito Processual Civil. Instauração do


contraditório. Honorários de sucumbência. Cabimento. Agravo interno
provido. 1. A Lei nº 8.038/93 foi derrogada pela Lei nº 13.105/2015
(art. 1.072, IV), alcançando a expressa revogação, dentre outros, dos
arts. 13 a 18 do diploma legislativo de 1990, passando o instituto da
reclamatória a estar abalizado pelos arts. 988 a 993 do novel diploma
processual, com previsão da instauração do contraditório (CPC, art.
989, III). 2. Embora ambos os institutos possuam sedes materiae na Lei
nº 13.105/2015, a litigância de má-fé e os honorários sucumbenciais
distinguem-se tanto na ratio de sua instituição quanto no beneficiário do
provimento. 3. Cabimento da condenação em honorários advocatícios
quando verificada a angularização da relação processual na ação
reclamatória. 4. Agravo interno provido para fixar os honorários
de sucumbência em 10% (dez por cento) sobre o valor do benefício
econômico perseguido nos autos em referência (art. 85, § 2º, do CPC), cuja
execução deverá ser realizada no juízo de origem.18

Ou seja, angularizada a relação processual, a jurisprudência do STF


tende a admitir a condenação em honorários do reclamante, como,
inclusive, consignou o enunciado nº 661, do FPPC: “É cabível a fixação de
honorários advocatícios na Reclamação, atendidos os critérios legais.”

Pontuando
• Reclamação Constitucional é ação impugnativa autônoma:

• Para garantia da autoridade das decisões.

• Obediência dos precedentes.

• Proteção da competência do tribunal.

18
BRASIL. Supremo Tribunal da Justiça (Segunda Turma). Rcl 24464 AgR. Relator: Min. Gilmar Mendes. Relator
p/ Acórdão: Min. Dias Toffoli. Julgado em: 27/10/2017. Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, DF, 8 fev. 2018.
15

Glossário
• Reclamação Constitucional: ação impugnativa autônoma prevista
no art. 988 do CPC.

• Precedentes: De acordo com as premissas do texto, é toda tese


fixada em alguma das situações previstas no art. 927.

Verificação de leitura

1. Arnóbio propôs ação indenizatória em face de Joaquim.


Na petição inicial afirmou que Joaquim teria jogado
óleo quente em sua face, razão pela qual sofreu
lesões que o impedem de exercer a profissão de
modelo. Pediu indenização por danos estéticos, além
de pensão por ato ilícito. Intimadas as partes para se
manifestarem sobre as provas que pretendiam produzir,
Joaquim requereu prova pericial, alegando que esta
demonstraria que Arnóbio não sofreu qualquer dano
estético e que sua face não foi atingida pelo óleo. O juiz
indeferiu a referida prova e determinou a designação
de audiência de instrução e julgamento, para oitiva de
testemunhas. Diante da situação apresentada, qual
alternativa melhor elucida o problema?

a. Considerando a necessidade de produção da


prova e a inutilidade do conhecimento da matéria
pelo tribunal, apenas quando da apelação, poderá
Joaquim interpor agravo de instrumento, com
fundamento na necessidade de interpretação
extensiva do rol previsto no art. 1015 do CPC.
16

b. Em que pese a necessidade de produção da


prova, deverá Joaquim aguardar a sentença e, se
procedente o pedido, interpor recurso contra o
indeferimento da prova em preliminar de razões da
apelação, na forma do art. 1009, § 1º do CPC.
c. Considerando a necessidade de produção da
prova e a inutilidade do conhecimento da matéria
pelo tribunal, apenas após a sentença, poderá
Joaquim interpor apelação por instrumento, com
fundamento na necessidade de apreciação imediata
do tema pelo tribunal, sem prejuízo de futuro
recurso a ser interposto contra a sentença.
d. Considerando a necessidade de produção da
prova e a inutilidade do conhecimento da matéria
pelo tribunal, apenas quando da apelação, poderá
Joaquim impetrar Mandado de Segurança, sob
fundamento de existência de direito líquido e certo
à prova.
e. Joaquim não poderá recorrer, nem utilizar qualquer
ação impugnativa autônoma.

2. Maria propôs reclamação trabalhista em face de Marco


Zero Empreendimentos, na qual questiona a validade
de plano de demissão voluntária, afirmando que, em
que pese tenha dado quitação às verbas trabalhistas, o
PDV não é apto a quitar o débito do empregador. Marco
Zero se defende, afirmando que o PDV cumpriu todas
as formalidades legais, inclusive aquelas previstas na
tese fixada no RE 590.415. Apesar da demonstração
de adequação ao precedente, a reclamação trabalhista
foi julgada procedente nas instâncias ordinárias e
pelo TST, razão pela qual Marco Zero interpôs recurso
extraordinário, alegando, dentre outros fundamentos,
17

a necessidade de aplicação do precedente vinculante.


O RE, porém, foi inadmitido pelo TST, na forma do
art. 1030, V, uma vez que, no entendimento do juízo
de origem, ao afirmar que o PDV em questão está
adequado ao precedente firmado, a parte pretendia
análise de matéria fática, o que é vedado em sede de
recurso extraordinário. Marco Zero, então, interpôs
agravo em recurso extraordinário, o qual foi inadmitido
pelo vice-presidente do TST que determinou a remessa
dos autos à origem imediatamente, considerando a
impossibilidade de oposição de embargos de declaração
contra decisão que versa sobre admissibilidade de
recurso extraordinário. Diante da situação apresentada,
qual alternativa melhor elucida o problema?

a. Cabe Mandado de Segurança contra ato judicial,


considerando que a decisão é irrecorrível.
b. Não cabe recurso ou qualquer medida impugnativa
contra a decisão.
c. Cabe Reclamação por violação ao precedente fixado
pelo STF.
d. Cabe Reclamação por usurpação da competência do
STF.
e. Cabe ADPF, pelo descumprimento à orientação do
Supremo.

3. Moqueca Ltda. é restaurante que atua nas dependências


do Aeroporto Internacional da Cidade de Curumim/
MG. A administração do referido aeroporto foi licitada
e, hoje, é realizada por consórcio de empresas que,
tão logo assumiu a gestão do complexo, renovou os
contratos com todos os comerciantes que utilizam os
espaços. Moqueca, portanto, é locatária do consórcio.
18

Por considerar que o valor da locação se tornou


desproporcional, propôs ação revisional em uma das
varas cíveis da comarca de Curumim. O pedido foi
julgado procedente e interposto recurso de apelação
que, por sua vez, foi distribuído a uma das câmaras
de direito privado do Tribunal de Justiça do Estado de
Minas Gerais. Ocorre que, anteriormente, foi julgado
conflito de competência pelo Órgão Especial do TJMG
que consignou que a competência para julgar conflitos
envolvendo o consórcio e seus locatários é de uma das
câmaras de direito público. Instado a se manifestar
sobre o tema, o relator ressaltou a competência da
câmara, bem como, determinou a designação de
pauta para julgamento do recurso. Diante da situação
apresentada, qual alternativa melhor elucida o
problema?

a. Cabe Reclamação para o Órgão Especial do TJMG,


por violação ao precedente firmado, na forma do
art. 927, V.
b. Cabe Mandado de Segurança, por violação a direito
líquido e certo ao julgamento por juízo competente.
c. Não cabe qualquer ação impugnativa autônoma
contra a decisão do relator.
d. Cabe recurso extraordinário, por violação ao
princípio do juiz natural.
e. Nenhuma das respostas anteriores.

4. O juiz da 13ª Vara Cível da Comarca de Seropédica


designou audiência de instrução e julgamento para
oitiva de testemunhas arroladas nos autos de ação
indenizatória movida por Maria Antonieta, em face
de seu vizinho Luis. Ocorre que na data indicada pelo
19

magistrado, a advogada de Maria Antonieta estaria


na iminência de dar à luz, razão pela qual solicitou o
adiamento do ato processual, para, pelo menos, após
três meses da data indicada por seu médico como
provável para realização do parto. O juiz indeferiu o
pedido, afirmando que, nesse caso, Maria Antonieta
deveria constituir novo patrono, não podendo o juízo
se submeter às necessidades especiais da advogada
da parte. Indignada, a advogada impetrou Mandado
de Segurança, em litisconsórcio com a autora, tendo
sido deferida a liminar e determinado, pelo TJRJ, que a
audiência fosse imediatamente designada, nos termos
do requerido pela advogada. O juiz, ao receber, por
e-mail, a referida ordem, manteve a audiência por
reputar a decisão do Tribunal inconstitucional, uma
vez que estaria dando tratamento diferente para
homens e mulheres, sendo certo que não se cogitaria
adiar o ato processual, caso a representante de Maria
Antonieta fosse homem. Ressaltou, ainda, que não é
obrigado a seguir determinações do Tribunal quando
estas forem flagrantemente teratológicas. Diante da
situação apresentada, qual alternativa melhor elucida o
problema?

a. Maria Antonieta poderá deixar de comparecer à


audiência, uma vez que o ato, se praticado, será
nulo e incapaz de surtir qualquer efeito prejudicial
em sua esfera jurídica.
b. Cabe agravo de instrumento contra a decisão que
manteve a audiência, na forma do art. 1015, I do CPC.
c. Cabe novo Mandado de Segurança, tendo em
vista a irrecorribilidade da decisão que manteve a
audiência.
20

d. Cabe Reclamação para garantir a autoridade da


decisão do TJRJ, na forma do art. 988, II do CPC.
e. As respostas b e d estão corretas.

5. Ricardo propôs ação indenizatória em face de IBERO


Construtora, alegando, em síntese, ter comprado imóvel
na planta e que, quando da assinatura da escritura,
descobriu que a empresa cobrou taxa de comissão
de corretagem, no valor de R$ 20.000,00. Alega que a
cobrança é indevida, uma vez que compareceu sozinho
ao stand de vendas e não foi atendido, em momento
algum, por corretor de imóveis. A demanda foi julgada
procedente em primeira e segunda instâncias, tendo
a construtora interposto recurso especial. Enquanto o
recurso especial aguardava juízo de admissibilidade pelo
vice-presidente do TJRJ, a matéria foi afetada pelo STJ,
que determinou a suspensão de todos os processos em
trâmite, que versassem sobre cobrança de comissão
de corretagem. Com o julgamento do recurso afetado,
foi firmado precedente pelo STJ, no qual considerou a
legalidade da cobrança de comissão de corretagem em
compra e venda de imóveis na planta, sempre que exista
cláusula expressa no contrato. Os autos foram remetidos
para a Segunda Câmara Cível do TJRJ para exercício
de juízo de retratação, tendo o acórdão sido mantido.
Segundo o órgão, a previsibilidade do pagamento da
comissão de corretagem no contrato nunca foi objeto
de discussão no processo, razão pela qual não entende
possível a aplicação do precedente. Diante da situação
apresentada, qual alternativa melhor elucida o problema?

a. A IBERO deverá ratificar seu recurso especial,


demonstrando a adequação do caso concreto ao
21

precedente, tema que será apreciado pelo STJ,


quando do julgamento do REsp.
b. Considerando que a decisão é irrecorrível, a IBERO
deverá impetrar Mandado de Segurança, contra o
acórdão que deixou de exercer juízo de retratação.
c. Cabe Reclamação contra o acórdão que deixou de
exercer juízo de retratação, especialmente porque
a adequação do precedente ao caso concreto não
poderá ser avaliada pelo STJ em sede de recurso
especial, por se tratar de matéria fática.
d. Cabe Reclamação contra o acórdão que deixou
de exercer juízo de retratação, sem prejuízo da
ratificação do REsp e demonstração da adequação
do caso concreto ao precedente.
e. As respostas a e b estão corretas.

Referências
ARRUDA ALVIM, Teresa; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso
Extraordinário e a Nova Função dos Tribunais Superiores no Direito Brasileiro:
(de acordo com o CPC de 2015 e a Lei 13.256/16). 3. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
ASSIS, Araken. Manual dos Recursos. 8. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2016.
AZEVEDO, Luiz Carlos de. Origem e Introdução da Apelação no Direito Lusitano.
São Paulo: FIEO, 1976.
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual
Civil: o Processo Civil nos Tribunais, Recursos, Ações de Competência Originária
de Tribunal e Querela Nullitatis, Incidentes de Competência Originária de
Tribunal. 13. ed. reform. Salvador: JusPodivm, 2016.
GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. v. 2. 12. ed., rev. e atual.
São Paulo: Saraiva, 1997.
LIMA, Alcides de Mendonça. Introdução aos Recursos Cíveis. 2. ed. rev. e atual. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 1976.
22

MACÊDO, Lucas Buril de. A Análise dos Recursos Excepcionais pelos Tribunais
Intermediários – o Pernicioso art. 1.030 do CPC e sua Inadequação Técnica
como Fruto de uma Compreensão Equivocada do Sistema de Precedentes
Vinculantes. Revista de Processo, v. 262. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo Civil:
Tutela dos Direitos Mediante Procedimentos Diferenciados. v. 3., 3. ed. rev.,
atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017.
MATEO, Juan de Dios Doval de. La Revision Civil. Barcelona: Libreria Bosch, 1979.
MEIRELLES, Hely Lopes; WALD, Arnoldo; MENDES, Gilmar Ferreira. Mandado de
Segurança e Ações Constitucionais. 36. ed. atual. e ampl. São Paulo: Malheiros
Editores, 2014, p. 45.
NERY JUNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos. 6. ed. atual., ampl. e reform. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
NOBRE JUNIOR, Edilson Pereira. Reclamação e tribunais de justiça. In: Reclamação
Constitucional. Org. NOGUEIRA, Pedro Henrique Pedrosa; COSTA, Eduardo José da
Fonseca. Salvador: Juspodivm, 2013.
VESCOVI, Enrique. Los Recursos Judiciales y Demás Medios Impugnativos en
Iberoamérica. Buenos Aires: Ediciones Depalma, 1988.

Gabarito

Questão 01 – Resposta: B

Resolução: A exclusão de recurso imediato contra decisão que


indefere a produção de prova foi proposital. Diferir a impugnação
para sentença visa evitar recursos inúteis. Supondo, por exemplo,
que a demanda seja julgada improcedente, não haverá interesse
recursal de Joaquim em impugnar o indeferimento da prova.
Não há o que se falar, na esteira do que vem decidindo o STJ,
em impetração de Mandado de Segurança contra decisão não
prevista no rol do art. 1015, salvo quando efetivamente esta for
teratológica ou provocar prejuízos imediatos a direito líquido e
certo da parte.
23

Questão 02 – Resposta: D

Resolução: A competência para o juízo de admissibilidade


do agravo em recurso extraordinário é exclusiva do STF, não
podendo o juízo de origem limitar a remessa dos autos ao órgão
competente. Neste caso houve usurpação de competência do STF,
cabendo o ajuizamento da Reclamação, na forma do art. 988, I.

Questão 03 – Resposta: C

Resolução: No momento, não cabe qualquer ação impugnativa


autônoma. Em que pese “a orientação do plenário ou do órgão
especial” seja considerado precedente vinculante e encontre
previsão no art. 927, V, ela não foi encampada pelo rol do art.
988, razão pela qual tal decisão não está sujeita ao ajuizamento
de Reclamação constitucional. Também não cabe Mandado de
Segurança contra ato judicial, porque há recurso previsto contra
a decisão do relator, devendo ser interposto agravo interno, na
forma do art. 1021 do CPC.

Questão 04 – Resposta: D

Resolução: Cabe Reclamação para garantia do cumprimento da


decisão do Tribunal, considerando a necessidade de fazer cumprir
a decisão já prolatada, em caráter liminar, pelo relator.

Questão 05 – Resposta: D

Resolução: Ao manter o acórdão contrário à tese fixada, a


Segunda Câmara do TJRJ descumpriu precedente obrigatório.
Considerando que foram esgotadas as instâncias ordinárias, a
IBERO poderá propor Reclamação, na forma do art. 988, § 5º,
II do CPC. Sem prejuízo, deverá ratificar o seu recurso especial,
demonstrando a adequação do caso concreto ao precedente.
Considerando que o requisito criado quando do julgamento
24

do recurso repetitivo (previsão no contrato) não era conhecido


pela parte no momento da interposição do REsp, bem como, a
necessidade de manter íntegra a jurisprudência dos tribunais,
primordialmente com o respeito aos próprios precedentes, não há
obstáculo à análise da adequação pelo STJ, uma vez que a matéria
fática não é o objeto do recurso, mas, questão lateral, cuja análise
é necessária para aplicação do precedente vinculante.
25

Ação rescisória
Autoria: Carolina Uzeda
Leitura crítica: André Faustino

Objetivos
• Ações impugnativas autônomas.

• Ação Rescisória.

• Coisa julgada e instrumentos para revisão.

• Cabimento e questões polêmicas.


26

1. Introdução

Antes de iniciar qualquer estudo acerca da coisa julgada e dos meios para
sua relativização, faz-se imperativo verificar qual o objetivo primário da
sua criação e disposição em praticamente todos os sistemas processuais
existentes. Tais premissas nortearão o estudo e, principalmente, os limites
impostos para a utilização dos meios de revisão.

A importância da manutenção de segurança jurídica data dos tempos de


aceitação do contrato social, através do qual os indivíduos conscientes
de que não tinham condições de viverem isolados e já não suportando
os inúmeros conflitos vivenciados, optaram por dispor de seus direitos
individuais em prol do todo, do conjunto e da harmonia do grupo social.

Com a exclusiva finalidade de terem paz social, mediante a certeza de


que não seriam aborrecidos ininterruptamente por inimigos ou pessoas
desejosas de suas condições, que os homens cederam sua liberdade,
optando por uma vivência ética e social, na qual devem se submeter às
normas impostas para manter a ordem e a segurança. O indivíduo, ao
concordar com a centralização do poder, tinha plena ciência que não
poderia mais agir conforme seus desejos, bem como que deveria se
submeter à vontade do Estado, uma vez que a mesma refletia, e reflete
até hoje, a vontade de todo o grupo. Assim foi bem claro Rousseau1:

Enfim, cada qual, dando-se a todos, não se dá a ninguém, e, como não


existisse um associado sobre quem não se adquira o mesmo direito que
lhe foi cedido, ganha-se o equivalente de tudo o que se perde e maior
força para conservar o que se tem.

Daí conclui-se, sem maiores dúvidas, que um dos principais


fundamentos para a submissão ao Estado foi a promessa de que
seria garantida segurança, com a solução dos conflitos por um poder
supremo e não pelas partes.
1
ROUSSEAU, Jean Jacques. Do Contrato Social. São Paulo: Ridendo Castigat Mores, 2001.
27

A jurisdição foi, portanto, o primeiro dever e atribuição do Estado, o


poder de dirimir conflitos em decisão de força cogente, capaz de garantir
a paz social e proporcionar a todos a tão almejada segurança jurídica.

Assim, a importância do instituto está inegavelmente entrelaçada à


validade do Estado de Direito, sendo seu principal pilar e fundamento,
razão de sua existência e de seu reconhecimento por todos os homens.

A coisa julgada, portanto, serve à realização do princípio da segurança


jurídica, tutelando a ordem jurídica estatal e, ao mesmo tempo, a confiança
dos cidadãos nas decisões judiciais. Sem coisa julgada material não há
ordem jurídica e possibilidade de o cidadão confiar nas decisões do
Judiciário. Não há, em outras palavras, estado de direito.2

Não é possível, então, tratar a coisa julgada, instrumento material


garantidor da segurança jurídica, como mero preceito processual ou
como formalismo apenas presente dentre as cláusulas pétreas por
um acidente de percurso3, é imperativo que se respeite sua posição,
decorrente de fundamentos políticos, jurídicos e sociais4.

É inadmissível que se aceite e defenda qualquer tese conflitante à


garantia da coisa julgada sem, anteriormente, buscar identificar sua real
importância, uma vez que em se tratando de garantia constitucional,
sua mitigação apenas poderá ocorrer mediante a devida ponderação,
para a qual a natureza dos interesses contrapostos é de conhecimento
essencial, bem como seu significado jurídico.

2
MARINONI, Luiz Guilherme. Coisa Julgada Inconstitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 68.
3
“Como anotado por Walter Burckhardt, aquilo que é identificado como vontade da Constituição “deve ser hones-
tamente preservado, mesmo que, para isso, tenhamos de renunciar a alguns benefícios, ou até a algumas vanta-
gens justas. Quem se mostra disposto a sacrificar um interesse em favor da preservação de um princípio constitu-
cional fortalece o respeito à Constituição e garante um bem da vida indispensável à essência do Estado mormente
ao Estado democrático”. Aquele que, ao contrário, não se dispõe a esse sacrifício, malbarata, pouco a pouco, um
capital que significa muito mais do que todas as vantagens angariadas, e que, desperdiçado, não mais será recu-
perado.” (HESSE, Conrad. A Força Normativa da Constituição. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1991,
p. 21-22).
4
MARINONI, Luiz Guilherme. Ação rescisória por ofensa à coisa julgada. In: Aspectos Polêmicos dos Recur-
sos Cíveis e Assuntos Afins. v. 13. Coord. NERY JUNIOR, Nelson; ALVIM, Teresa Arruda. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2017.
28

Justamente por isso a legislação vigente deixa claro que todas as


possibilidades de mitigação da garantia devem ser expressas, de forma
taxativa e sem margem a qualquer ampliação ou redução hermenêutica,
da mesma forma que expressas estão também as legítimas violações a
direitos como vida e liberdade. Ou seja, da mesma forma que qualquer
outro direito fundamental de alta importância, a coisa julgada apenas
pode ser mitigada nos casos expressos em lei, quando o interesse
conflitante for de maior relevância social. Em razão disso, o legislador
impôs prazo máximo para sua desconstituição.

Assim, admite-se a desconstituição da coisa julgada apenas nos casos


previstos no art. 966, do CPC e quando há violação a direitos humanos,
cujo descumprimento, se alcançasse repercussão pública, poderia,
também, atingir a paz social de maneira grave e irreparável. Neste caso,
a parte poderá formular denúncia perante a Comissão Interamericana
de Direitos Humanos que, após o procedimento inicial previsto na
Convenção, poderá requerer a instauração de processo perante a Corte
Interamericana. Identificada a violação de direito humano, a Corte
poderá cassar a decisão acobertada pela coisa julgada, determinando o
reestabelecimento das garantias fundamentais do indivíduo lesado5.

São dois, portanto, os meios para desconstituição da coisa julgada


legalmente previstos: o primeiro deles é a ação rescisória e o segundo é
a cassação em virtude de comando da Corte Interamericana de Direitos
Humanos.

2. Decisão da Corte Interamericana de Direitos


Humanos

O Brasil, cada vez mais, adere a instrumentos internacionais de defesa


e proteção de direitos humanos. Sua atenção com a mais relevante
5
Sobre o tema, vide: TALAMINI, Eduardo. Coisa Julgada e sua Revisão. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2005.
29

das classes de direitos não se restringe apenas a demonstrações


internacionais, mas, também no direito interno, há inúmeros meios de
tutela e um extenso acervo jurisprudencial.

Tanto assim o é que através da Emenda Constitucional nº 45, de 30 de


dezembro de 2004, o país atribuiu efeitos de emenda constitucional às
convenções ou aos tratados internacionais que estabeleçam normas
de proteção aos direitos humanos, dentre os quais a Convenção
Interamericana de Direitos Humanos se destaca.

O Brasil, ao aderir à Convenção, reconheceu tanto a competência da


Comissão quanto a jurisdição da Corte. Diferente de alguns países, como
o México, que apresentou inúmeras ressalvas à submissão às decisões
da Corte, nosso país de plano concordou com a jurisdição supranacional,
deixando claro para toda comunidade americana sua sujeição aos
ditames da Corte.

Apesar da omissão do direito constitucional interno, o direito


internacional criou regras para determinar quando uma norma
internacional é autoexecutável no direito interno. As automaticamente
aplicáveis são aquelas em que o legislador internacional cria meios para
que sejam autoexecutáveis, o que se dá através do conteúdo ou de
indícios constantes no próprio texto.

No caso da convenção americana de direitos humanos, o legislador


internacional foi expresso ao determinar a autoexecutividade das
decisões da Corte nos países aderentes, conforme consta no art. 68.

Ainda, por meio do parecer consultivo 07/86, a Corte decidiu pela


autoaplicabilidade da Convenção, impondo que os direitos nela
representados possam ser exigidos perante qualquer autoridade
do país signatário, independentemente de nova lei disciplinando ou
regulamentando sua aplicação.
30

Surgiu, portanto, jurisdição supranacional, a qual o Brasil se submete


integralmente, inclusive para o cumprimento de seus julgados, com a
já mencionada finalidade de, macroscopicamente falando, atingir a paz
social mediante a transferência de determinados conflitos a terceiro.

Ressalta-se que não há, sob hipótese alguma, violação à soberania


nacional. O Brasil integrou a seu ordenamento jurídico norma
internacional e admitiu a submissão à Corte Internacional por ter plena
ciência, inclusive em virtude de seu histórico ditatorial, que o Estado é o
maior responsável por grandes violações aos direitos do homem.

A jurisdição da Corte, entretanto, será sempre complementar e


suplementar à interna. Isto porque, de acordo com a Convenção, a
Comissão e por consequência a Corte apenas poderá tomar parte
na situação violadora de direitos humanos quando esgotadas as vias
internas.

Nunca devemos esquecer que a autoridade internacional não exclui ou


subordina a nacional, muito pelo contrário, apenas é chamada quando a
nacional é ineficaz a solucionar o problema. É, pois, subsidiária.

A Corte não é um tribunal estrangeiro. É supranacional e inclui os órgãos


capazes de produzir decisões eficazes e válidas em âmbito nacional, em
virtude da já mencionada autoaplicabilidade.

Importante ressaltar que a autoaplicabilidade não se restringe às


normas internacionais, abrangendo as decisões exaradas pelos tribunais
internacionais, cuja jurisdição é ampla. Consoante a própria Corte, no
parecer consultivo 07/86, o art. 2º introduz “obrigação complementar à
obrigação internacional de respeitar e garantir diretamente os direitos
reconhecidos pela Convenção”.

Assim, pode-se concluir que a sentença (e decisão interlocutória)


emitidas pela Corte não são documentos estrangeiros, mas, por seu
31

caráter supranacional, podem ser considerados, para todos os fins de


direito, decisões internas distintas das demais por terem sua previsão
em legislação processual especial.

São ainda hierarquicamente superiores às decisões de direito interno,


uma vez que apenas é convocada a utilização da via supranacional
quando o Judiciário é incapaz, seja pela demora da máquina, seja por
seu apoio à violação, de proteger o indivíduo vítima da violação a direito
humano.

Evidente que se houver, portanto, qualquer decisão que autorize a


continuidade da ofensa aos direitos humanos, esta será sobreposta pela
decisão da Corte, cuja relevância e especialidade impõe tal superação.6

A decisão, por ter plena eficácia interna, revoga imediatamente e


independentemente de homologação pelo STJ, todos os atos praticados
em ofensa aos Direitos Humanos, inclusive sentenças acobertadas pelo
manto da coisa julgada.

Em que pese haver a Convenção atribuído imediata eficácia às decisões


da Corte, foi omissa quanto aos meios cabíveis para sua efetivação no
ordenamento interno dos países signatários.

Há, portanto, duas possibilidades, com critérios e respostas distintos.

A primeira delas, de simples solução, ocorrerá sempre que a parte


beneficiária da sentença invalidada for o Estado, nesse caso, a União
Federal, que também foi parte no processo internacional e nele exerceu
plenamente o contraditório.

6
Com entendimento diverso, mas também defendendo a autoridade da decisão internacional sobre a de
Direito interno, independentemente de coisa julgada, temos o entendimento de André de Ramos: “Ora, como
exposto, diante da implementação de decisão internacional não cabe alegar coisa julgada, graças à separa-
ção do direito interno e do direito internacional. Não é o órgão internacional (por exemplo a Corte Intera-
mericana de Direitos Humanos) um órgão de revisão ou cassação, superior aos Tribunais internos. Assim,
deve-se implementar a decisão internacional tout court, sem que se alegue eventual imutabilidade da deci-
são local. “RAMOS, André de. Processo Internacional de Direitos Humanos. Editora Renovar: Rio de
Janeiro, 2002, p. 357.”
32

A esta situação pode-se aplicar à sentença internacional os mesmos


critérios da sentença estrangeira homologada ou da penal condenatória,
sendo, portanto, considerada de pronto título executivo judicial. Caso
ainda pendente a fase executiva da sentença invalidada, esta se fará
cessar mediante simples petição, bem como os prejuízos e o valor da
indenização deverão ser arbitrados em liquidação por artigos.

Sendo o caso de partes distintas, ou seja, o beneficiado pela sentença


invalidada não ser o Estado e, portanto, não ter exercido contraditório
no processo internacional, a melhor solução será sempre a Ação
Ordinária para Desconstituição da Coisa Julgada, a qual não poderá
discutir o teor da decisão internacional, devendo ater-se, tão somente,
valorar a indenização de acordo com os princípios vigentes no Direito
Civil e Processual Civil, como boa-fé objetiva, prejuízo mínimo ao
devedor, etc.

Estando ainda em fase executiva, a sentença invalidada poderá


facilmente ser atacada através de impugnação ou exceção de pré-
executividade, para primeiro anular o título executivo e, posteriormente,
em liquidação, apurar o prejuízo sofrido e eventual indenização.

3. Ação Rescisória (Admissibilidade e Mérito)

A Ação Rescisória é o único meio para relativizar ou desconstituir a coisa


julgada expressamente previsto no Código de Processo Civil, sendo,
no correto entender de Pontes de Miranda: “uma conciliação entre os
extremos do respeito incondicional à coisa julgada e a possibilidade de
reforma permanente das decisões judiciais” 7.

Surgiu com a específica finalidade de evitar grandes injustiças


eventualmente acobertadas pelo manto da coisa julgada que, caso
7
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Fo-
rense, 3. ed., rev. e aumentada.
33

perpetradas, poderiam provocar ainda maiores transtornos sociais, sob


a alegação de ineficácia do judiciário e de suas decisões. É, portanto,
instrumento de justiça, apto a corrigir situações acobertadas pela coisa
julgada (sentenças ou interlocutórias de mérito)8-9 ou por estabilidade
que impeça a parte de ajuizar nova demanda ou interpor o recurso
correspondente10-11.

Sua existência transcende os direitos da parte, uma vez que apenas é


possível e cabível em casos específicos e graves, os quais constituem,
na maioria das vezes, defeitos do processo em si, que deveriam ter sido
verificados pelo magistrado durante o trâmite processual. Também
por isso há limitação temporal, com prazo decadencial de dois anos
do trânsito ou, excepcionalmente, do julgamento do STF que declare
a inconstitucionalidade da norma na qual foi fundada a decisão
rescindenda ou da descoberta da prova nova (esta, limitada a cinco
anos).

É mais um exemplo da busca incessante do Estado por segurança


jurídica, uma vez que perpetração de grandes injustiças atingiria
frontalmente a almejada paz social e provocaria juízo de incerteza acerca
da capacidade do Estado em dirimir conflitos e ser o efetivo gestor dos
interesses de seus tutelados.

Conforme muito bem tratou Gilmar Mendes12, em lição que pode ser
tranquilamente observada na vigência do CPC/15, o rol de hipóteses de
8
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
9
Cabe rescisória, ainda, contra (i) decisão que aplica sanção processual, como, por exemplo, as multas por liti-
gância de má-fé; (ii) decisão que homologa autocomposição; (iii) decisão que homologa partilha; (iv) decisão que
julga liquidação de sentença; e (v) decisão que extingue a execução. Sobre o tema, vide: CARVALHO, Fabiano.
Ação rescisória: decisões rescindíveis. São Paulo: Saraiva, 2010 e DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carnei-
ro da. Curso de Direito Processual Civil: o Processo Civil nos Tribunais, Recursos, Ações de Competência
Originária de Tribunal e Querela Nullitatis, Incidentes de Competência Originária de Tribunal. 13. ed. reform.
Salvador: JusPodivm, 2016.
10
§ 2o Nas hipóteses previstas nos incisos do caput, será rescindível a decisão transitada em julgado que, embora
não seja de mérito, impeça: I–nova propositura da demanda; ou II–admissibilidade do recurso correspondente.
11
Enunciado nº 33 do FPPC: “Não cabe ação rescisória nos casos de estabilização da tutela antecipada de urgên-
cia.”
12
“Isto pode ser extraído das hipóteses de admissibilidade da rescisória descritas no art. 485 do CPC. Sem dúvi-
da, de uma leitura positiva dos incisos que compõem o art. 485, depreende-se que o sistema busca, entre outros
34

cabimento da ação rescisória, previsto no art. 966, deixa claro o ânimo


do legislador em evitar toda e qualquer espécie de ilegalidade e injustiça,
exigindo que a decisão seja dotada de: honestidade (incisos I a III),
harmonia (IV), fidelidade (VI, VII e VIII) e respeito (V)13.

O referido rol, por sua vez, é taxativo e traz em si a causa de pedir da


ação rescisória, razão pela qual a ausência de indicação de alguma das
hipóteses previstas no art. 966 implica improcedência do pedido.

Frise-se que a parte pode não indicar expressamente qual inciso justifica
sua ação rescisória e, ainda assim, ter sua demanda admitida e julgada,
desde que do conjunto da sua argumentação seja possível extrair a
causa de pedir e a adequação desta ao rol previsto lei. A única exigência
da jurisprudência é no sentido de que, caso proposta a ação rescisória
pelo inciso V, do art. 966, a parte indique expressamente qual a norma
jurídica que reputa violada.

3.1 Prevaricação, concussão ou corrupção do juiz

As hipóteses do inciso I estão previstas nos arts. 316, 317 e 319 do


Código Penal, não sendo necessária a condenação prévia do magistrado
ou a existência de ação penal pendente de julgamento. A própria ação
rescisória pode ser ambiente para demonstração da prática do ato
criminoso pelo juiz.

3.2 Impedimento ou incompetência absoluta do juiz

Aqui é prestigiado o princípio do juiz natural, que exige que toda demanda
levada ao Judiciário seja julgada por juiz competente e imparcial. Veja-se
que não se questiona se o juiz impedido agiu de forma a beneficiar alguma
aspectos, sentenças proferidas por juízes honestos (incisos I e II), que sejam harmônicas em relação a outros
procedimentos judiciais (inc. IV), que tenham substrato probatório consistente (VI, VII e VIII), e que respeitem a
ordem legal objetiva (V), etc. Não observados tais objetivos, o sistema estabelece uma via processual de correção,
nas hipóteses específicas do art. 485, do CPC.” (Voto proferido nos autos do RE 328.812 – ED/AM).
13
A lei também prevê ação rescisória contra a decisão que julga partilha (art. 658).
35

das partes. A mera existência de causa de impedimento é suficiente para


levar à rescisão da decisão. Isto porque, em se tratando de impedimento,
há presunção legal de imparcialidade do julgador.

3.3 Dolo, coação, simulação ou colusão

A norma, a exemplo do que acontece no inciso I, busca a defesa da


honestidade. Não se admite que sejam mantidas decisões prolatadas
mediante fraude, em detrimento de terceiros ou da ordem jurídica.
Nesse caso, podem propor a ação tanto o prejudicado pelo ilícito,
quanto aquele que o praticou. Isso porque, aqui, com mais razão, não
há que se cogitar a aplicação do “princípio da não alegação da própria
torpeza em benefício de si mesmo”14.

3.4 Ofensa à coisa julgada

A hipótese versa sobre o conflito de coisas julgadas. Segundo Fredie


Didier Jr. e Leonardo Carneiro da Cunha, “A ofensa à coisa julgada pode
dar-se tanto em relação ao efeito negativo (proibição de nova decisão)
quanto ao efeito positivo (imposição de levar em consideração a coisa
julgada como questão prejudicial)”15.

Quando proposta a ação rescisória por violação ao efeito negativo da


coisa julgada (por ex., a decisão rescindenda decidiu novamente matéria já
coberta por coisa julgada anterior), o julgamento da ação rescisória apenas
terá a finalidade de cassar a nova decisão do ordenamento jurídico, não
sendo possível um novo julgamento da lide. Quando a ofensa for ao efeito
positivo da coisa julgada (por ex., liquidação de sentença que modifica os

14
Tratando especificamente do ajuizamento da rescisória, na hipótese prevista no artigo 966, III: WAMBIER, Te-
resa Arruda Alvim; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins; RIBEIRO, Leonardo Ferres da Silva; MELLO, Rogerio Licastro
Torres de. Comentário ao art. 966. In: Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil: Artigo por
Artigo. 2. ed. em e-book baseada na 2. ed. impressa. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
15
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: o Processo Civil nos
Tribunais, Recursos, Ações de Competência Originária de Tribunal e Querela Nullitatis, Incidentes de Com-
petência Originária de Tribunal. 13. ed. reform. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 486.
36

critérios estabelecidos na sentença), será necessário o rejulgamento da


causa, adequando-o à primeira coisa julgada16.

Supondo que a parte não proponha a ação rescisória no prazo legal,


haverá conflito de coisas julgadas. Nesse caso, deverá prevalecer a
segunda coisa julgada formada, “não só como homenagem ao princípio
da segurança jurídica, mas também pelo fato de que, se a decisão tem
força de lei entre as partes (art. 503, CPC), lei posterior revoga a anterior,
não obstante a segunda lei pudesse ter sido rescindida; como não o foi,
fica imutável pela coisa julgada e, assim, deve prevalecer”17.

No ambiente do CPC/15 as rescisórias por violação à coisa julgada


ganham um novo espaço: as questões prejudiciais decididas em
processos anteriores. Isso porque, em que pese não constem
expressamente do pedido, o art. 503 autoriza que, preenchidos
determinados requisitos, a coisa julgada atinja também a resolução de
questão prejudicial. Nesse caso, o preenchimento dos pressupostos
previstos no § 1º acabará por ser objeto de análise na futura rescisória,
ampliando a cognição do órgão julgador, que deverá apreciar se o
julgamento do mérito dependia da resolução da questão, se houve
contraditório prévio e efetivo e se, por certo, o juízo era competente
para decidir a questão como principal.

3.5 Violação manifesta à norma jurídica

O inciso V trata da manifesta violação à norma jurídica, aqui


compreendida como norma geral (Constituição Federal, lei ordinária,
complementar, estadual, municipal, etc). Nessa hipótese inclui-se
a violação a precedente obrigatório, isto é, sempre que a decisão
16
Enunciado 554, do FPPC: (art. 966, inc. IV) Na ação rescisória fundada em violação ao efeito positivo da coisa
julgada, haverá o rejulgamento da causa após a desconstituição da decisão rescindenda. (Grupo: Sentença, coisa
julgada e ação rescisória).

17
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: o Processo Civil nos
Tribunais, Recursos, Ações de Competência Originária de Tribunal e Querela Nullitatis, Incidentes de Com-
petência Originária de Tribunal. 13. ed. reform. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 487.
37

rescindenda contrariar tese fixada em alguma das situações previstas no


art. 927, será possível o ajuizamento de ação rescisória.

No que toca à ação rescisória proposta contra decisão fundada em


norma considerada inconstitucional pelo STF, ou fundada “em aplicação
ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal
Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle
de constitucionalidade concentrado ou difuso”, o prazo decadencial
para rescisória será de dois anos, contados da decisão do Supremo
(art. 525, § 15). No caso, como muito bem esclarece Nelson Nery
Junior, é necessário que o art. 525, § 15 seja interpretado conforme a
Constituição, de tal forma que “somente pode ser iniciado o prazo da
rescisória a partir do trânsito em julgado da decisão do STF, se ainda
não tiver sido extinta a pretensão rescisória cujo prazo tenha-se iniciado
do trânsito em julgado da decisão exequenda”18. O que se tem, no
caso, é um alargamento do início do prazo que esteja em curso, para as
hipóteses de inconstitucionalidade superveniente.

Também é possível, na forma do § 5º do art. 966, o ajuizamento de


ação rescisória contra decisão baseada em enunciado de súmula ou
acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos (IRDR e recursos
repetitivos), que não tenha considerado a existência de distinção, ou
seja, a presença de diferenças fáticas suficientes a afastar a aplicação
do precedente ao caso concreto. No caso, a rescisória proposta poderá
servir à distinção, devendo o autor, como determina o art. 966, § 6º,
demonstrar as circunstâncias fáticas que impõem outra solução jurídica.

3.6 Prova falsa

Nesse caso, a falsidade da prova pode ter sido demonstrada em processo


criminal ou ser objeto de análise na própria rescisória. Para que a decisão
seja rescindida, é necessário que a prova falsa seja o seu único fundamento.
18
NERY JUNIOR, Nelson. Código de Processo Civil Comentado/ Nelson Nery Junior, Rosa Maria de Andrade
Nery. 16. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 1.412.
38

3.7 Prova nova

Quanto à prova nova, o CPC/15 andou bem ao ajustar o prazo para


sua distribuição, consignando que será de dois anos a partir da sua
descoberta, limitado a cinco anos (art. 975, § 2º). Assim, ainda que
se trate de nova tecnologia, haverá, em prol da segurança jurídica,
a limitação de cinco anos. A questão é de extrema relevância, já que
expressamente limita a utilização de ‘movimento’ jurisprudencial
conhecido como relativização da coisa julgada, iniciado e principalmente
fundamentado na questão dos exames de DNA, para ações de
reconhecimento de paternidade/maternidade.

Considera-se prova nova aquela que não foi usada na causa, não sendo
necessário que seu surgimento tenha ocorrido após o trânsito em
julgado da decisão.

3.8 Erro de fato

É, por fim, possível rescindir decisão fundada em erro de fato, que


admita fato inexistente ou considere fato existente como inexistente. A
exemplo do que ocorre com a prova falsa, é preciso que a sentença seja
um efeito do erro de fato, sobre ele não tenha havido controvérsia entre
as partes ou decisão judicial e que “seja aferível pelo exame das provas
já constantes dos autos da ação matriz”19.

3.9 Procedimento

A ação rescisória poderá ser proposta por quem foi parte, pelo
Ministério Público ou, ainda, por terceiros eventualmente prejudicados
pela decisão rescindenda.

19
NERY JUNIOR, Nelson. Código de Processo Civil Comentado. / Nelson Nery Junior, Rosa Maria de Andrade
Nery. 16 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, p. 2061.
39

É de competência originária do tribunal. Assim, sempre que a decisão


rescindenda for prolatada por juiz de primeira instância, a ação
rescisória deverá ser proposta perante o tribunal. Quando a decisão for
prolatada pelo próprio tribunal, caberá a este processar e julgar a ação
rescisória. Cada tribunal é competente para processar e julgar as ações
rescisórias propostas contra seus próprios julgados.

O objeto da ação rescisória poderá ser toda a decisão, ou apenas parte


dela, considerando-se a autonomia dos capítulos da sentença. Nesse
caso, da mesma forma que é possível a interposição de recurso parcial,
a rescisória poderá abranger apenas um ou alguns dos capítulos da
sentença (ou decisão interlocutória)20. É possível, por exemplo, ação
rescisória apenas para discutir verba honorária, conforme entendimento
já consolidado no STJ, desde que não verse sobre sua irrisoriedade ou
exorbitância, critérios exclusivamente subjetivos:

RECURSO INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DO CPC/1973. ENUNCIADO


ADMINISTRATIVO Nº 2. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA PARA
DISCUTIR VERBA HONORÁRIA EXCESSIVA OU IRRISÓRIA FIXADA PELA
SENTENÇA/ACÓRDÃO RESCINDENDO. ART. 20, § 3º E § 4º, CPC/1973. NÃO
CABIMENTO (IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO). AUSÊNCIA DE
VIOLAÇÃO LITERAL À DISPOSIÇÃO DE LEI. ART. 485, V, CPC/1973. [...] 3.
É cabível ação rescisória exclusivamente para discutir verba honorária,
pois: “A sentença pode ser rescindida, ou dela só se pedir a rescisão, em
determinado ponto ou em determinados pontos. Por exemplo: somente
no tocante à condenação às despesas” (cf. Giuseppe Chiovenda, La
Condanna nelle spese giudiziali, nº 400 e 404), (Pontes de Miranda, op. cit.,
p. 174). Precedentes nesse sentido: REsp. n. 886.178/RS, Corte Especial, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 2.12.2009; AR. 977/RS, Terceira Seção, Rel. Min.
Felix Fischer, julgado em 12.3.2003; REsp. n. 894.750/PR, Primeira Turma,
Rel. Min. Denise Arruda, julgado em 23/09/2008; REsp. n. 1.321.195–
RS, Segunda Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
13.11.2012. Precedentes em sentido contrário: AR n. 3.542/MG, Segunda

20
Enunciado 337, do FPPC: (art. 966, caput e § 3º, 503, § 1º). Cabe ação rescisória para desconstituir a coisa
julgada formada sobre a resolução expressa da questão prejudicial incidental. (Grupo Sentença, Coisa Julgada e
Ação Rescisória).
40

Seção, Rel. Min. Fernando Gonçalves, julgado em 14.4.2010; REsp. n. 489.073/


SC, Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6.3.2007. [...]

6. No caso concreto a ação rescisória foi ajuizada para discutir a


exorbitância de verba honorária, o que considero incabível (pedido
juridicamente impossível).

7. Recurso especial não provido.21

A petição inicial observará os requisitos previstos no art. 319 e deverá,


ainda, quando for o caso, cumular ao pedido de rescisão o de novo
julgamento do processo. Isto porque, como se sabe, o julgamento da
rescisória é dividido em dois momentos. Primeiro é rescindida a decisão
e, após, há um novo rejulgamento da causa. Há situações, como já dito,
que ocorrerá apenas o juízo rescindente, não sendo necessário um novo
julgamento da lide (por ex. na rescisória por ofensa à coisa julgada).

A parte também deverá depositar a importância de cinco por cento do


valor da causa, que, na forma do art. 968, será convertido em multa,
no caso de improcedência do pedido a inadmissibilidade da ação (por
unanimidade). Estão dispensados de realizar o depósito à União, aos
Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios, às suas respectivas autarquias
e fundações de direito público, ao Ministério Público, à Defensoria Pública
e aos que tenham obtido o benefício de gratuidade da justiça.

É possível concessão de tutela provisória em sede de ação rescisória,


inclusive, para suspender os efeitos da decisão rescindenda e eventual
cumprimento de sentença já em trâmite (art. 969).

Recebida a petição inicial, o juiz deverá verificar a presença dos


requisitos autorizadores e antes de indeferi-la deverá permitir à parte
a regularização de eventual vício, na forma do art. 321. O art. 968, § 4º,
autoriza, ainda, a aplicação, na rescisória, das causas de improcedência
liminar do pedido (art. 332).
21
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Segunda Turma). REsp 1403357/PE. Relator: Min. Mauro Campbell Mar-
ques, Julgado em: 27/02/2018. Diário da Justiça Eletrônico, Brasília, 2 mar. 2018.
41

Regular a petição inicial, o juiz determinará a citação do réu para


apresentar resposta no prazo de 15 dias (podendo ser ampliado para até
30 dias) e, quando necessária realização de instrução, poderá delegar a
competência ao órgão que proferiu a decisão rescindenda, fixando prazo
de 1 a 3 meses para devolução dos autos (arts. 971 e 972).

A decisão que julga o mérito da ação rescisória poderá, em alguns casos,


ser dividida em dois capítulos. Primeiro, o tribunal exercerá o juízo
rescindente, no qual cassará a decisão impugnada na ação rescisória.
Após, poderá rejulgar a causa, exercendo o juízo rescisório.

Pontuando
• Ação rescisória é ação impugnativa autônoma

• Destinada a rescindir coisa julgada;

• Cabimento em hipóteses taxativas; e

• Competência do tribunal.

Glossário
• Coisa julgada: aquela lançada sobre decisão de mérito.

• Ação Rescisória: ação impugnativa autônoma prevista nos arts.


966 a 975.

• Corte Interamericana de Direitos Humanos: órgão competente


para julgar infrações de direitos humanos por Estados-Membros.
42

Verificação de leitura

1. Marcelo propôs ação rescisória por violação a


precedente firmado em julgamento de recurso especial
repetitivo, uma vez que o juiz deliberadamente
deixou de cumpri-lo, ao argumento de não poder
ser constrangido a acatar tese contrária ao seu
entendimento, uma vez que sua liberdade de julgar é
garantida pela Constituição Federal. Nesse sentido, qual
a resposta mais adequada ao problema apresentado?

a. Marcelo não poderá valer-se da ação rescisória, uma


vez que deixou de propor a respectiva reclamação,
ação cabível para os casos de desrespeito à
autoridade de precedente.
b. Marcelo poderá valer-se da ação rescisória, uma
vez que o art. 988, com a reforma realizada pela Lei
13.256/16, excluiu o acórdão de recurso especial
repetitivo do rol de cabimento da reclamação.
c. Marcelo poderá valer-se da ação rescisória,
independentemente da interposição de recurso
de apelação contra a sentença que descumpriu
precedente.
d. Marcelo poderá propor mandado de segurança
contra ato judicial, considerando ter direito líquido
e certo à aplicação do precedente ao seu caso
concreto.

2. Ana foi condenada a indenizar a União, em decorrência


da prática de ilícito civil. Embora tenha arguido a
prescrição do débito, uma vez que o ilícito foi praticado
em 2003, a sentença afirmou que a Constituição
reputava tal ação imprescritível, ressaltando não existir
43

qualquer óbice à cobrança. A sentença transitou em


julgado em abril de 2016. Ocorre que no fim de janeiro
de 2016, o STF, nos autos do RE 669069 fixou tese no
sentido da prescritibilidade da ação de reparação de
danos à Fazenda Pública, em decorrência de ilícito civil.
Nesse caso, considerando que a decisão do STF foi
prolatada antes do trânsito em julgado da sentença, não
é possível o ajuizamento de ação rescisória, na forma do
art. 525, §15 do CPC.

( ) Verdadeiro.
( ) Falso.

3. Mariana propôs ação indenizatória por danos morais em


face de Myrna. Julgado procedente o pedido e transitada
em julgado a sentença, Myrna propôs ação rescisória.
Nesse sentido, qual a resposta mais adequada ao
problema apresentado?

a. Myrna poderá requerer tutela provisória com o fim


de obstar a execução da sentença por Mariana.
b. A prescrição é interrompida pelo ajuizamento
da ação rescisória, podendo Mariana aguardar
o resultado da demanda para iniciar a fase de
cumprimento de sentença.
c. É possível estabilização da tutela antecipada em
ação rescisória, caso, deferida a liminar, Mariana
não interponha o respectivo recurso.
d. Não é possível a concessão de tutela provisória em
ação rescisória, por ausência de previsão legal.

4. Pedro foi indevidamente acusado do crime de tráfico


de entorpecentes, tendo sido preso em flagrante e
condenado pelo juiz de primeiro grau. No julgamento
44

do respectivo recurso, o tribunal reconheceu a


irregularidade da prisão e de toda a instrução
probatória, tendo, inclusive, determinado a remessa dos
autos ao Ministério Público, para apuração de possível
crime cometido pelos policiais que realizaram a prisão.
Pedro, que permaneceu injustamente preso por três
anos em condições desumanas, ajuizou demanda
indenizatória em face do Estado, a qual foi julgada
improcedente, com a condenação do autor ao
pagamento de honorários de sucumbência no valor de
R$ 5000,00.
Com o trânsito em julgado da decisão, Pedro apresentou
denúncia à Comissão Interamericana de Direitos
Humanos que, após inspeção no estabelecimento
prisional no qual Pedro foi mantido, solicitou a
instauração de processo junto à Corte Interamericana
de Direitos Humanos. O processo foi julgado procedente
e condenado, o Estado brasileiro, ao pagamento de
indenização a Pedro, no valor de R$ 1 milhão de reais.
Nesse sentido, qual a resposta mais adequada ao
problema apresentado?

a. Considerando o conflito existente entre a coisa


julgada interna e a decisão da CIDH, Pedro deverá
buscar a homologação da sentença internacional
pelo STJ.
b. A CIDH não tem competência para decidir de forma
contrária ao Estado brasileiro, razão pela qual a
decisão não terá qualquer eficácia em território
nacional.
c. Pedro poderá obstar a execução dos honorários de
sucumbência a que foi condenado, uma vez que a
decisão da CIDH se sobrepõe à interna.
45

d. Pedro deverá propor ação rescisória por violação


à norma jurídica, no prazo máximo de 2 anos, e
apenas poderá executar a decisão da CIDH após o
exercício do juízo rescindente pelo tribunal.

5. A coisa julgada formada sobre questão prejudicial


poderá ser objeto de ação rescisória. Neste caso o
tribunal deverá avaliar a presença dos requisitos
previstos no art. 503, § 1º.

( ) Verdadeiro.
( ) Falso.

Referências
DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual
Civil: o Processo Civil nos Tribunais, Recursos, Ações de Competência Originária
de Tribunal e Querela Nullitatis, Incidentes de Competência Originária de
Tribunal. 13. ed. reform. Salvador: JusPodivm, 2016.
HESSE, Conrad. A Força Normativa da Constituição. Porto Alegre: Sergio Antonio
Fabris Editor, 1991.
MARINONI, Luiz Guilherme. Ação rescisória por ofensa à coisa julgada. In: Aspectos
Polêmicos dos Recursos Cíveis e Assuntos Afins. v. 13. Coord. NERY JUNIOR,
Nelson; ALVIM, Teresa Arruda. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017.
MARINONI, Luiz Guilherme. Coisa Julgada Inconstitucional. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008.
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao Código de Processo
Civil. 3. ed. rev. e aumentada. Rio de Janeiro: Forense, 1976.
NERY JUNIOR, Nelson. Código de Processo Civil Comentado. / Nelson Nery Junior,
Rosa Maria de Andrade Nery. 16. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
ROUSSEAU, Jean Jacques. Do Contrato Social. Versão para eBook. Edição
Eletrônica. Editora Ridendo Castigat Mores.
TALAMINI, Eduardo. Coisa Julgada e sua Revisão. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2005.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins; RIBEIRO, Leonardo
Ferres da Silva; MELLO, Rogerio Licastro Torres de. Comentário ao art. 966. In:
46

Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil: Artigo por Artigo. 2.


ed. em e-book baseada na 2. ed. impressa. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.

Gabarito

Questão 01 – Resposta: C

Resolução: O esgotamento das instâncias recursais não é requisito


para cabimento da ação rescisória, que deverá ser proposta
perante o tribunal ao qual o juízo prolator da sentença é vinculado.
A utilização da reclamação e do mandado de segurança apenas é
possível antes do trânsito em julgado da decisão impugnada.

Questão 02 – Resposta: Falso

Resolução: Embora o § 15 do art. 525 afirme que quando a


decisão do STF for posterior à sentença caberá ação rescisória,
tal norma não limita que a parte exerça seu direito de ação para
rescindir a sentença inconstitucional. O que o art. 525 quer limitar
é a utilização da impugnação nesses casos e não a ação rescisória
em si, que poderá ser proposta por violação à norma jurídica,
independentemente de a decisão do Supremo ter sido prolatada
antes ou depois do trânsito.

Questão 03 – Resposta: A

Resolução: Embora, em regra, a propositura de ação rescisória


não impeça o cumprimento da decisão rescindenda, é possível a
concessão de tutela provisória, na forma do art. 969 do CPC.

Questão 04 – Resposta: C

Resolução: As decisões da CIDH têm eficácia imediata, não


necessitando de homologação pelo STJ. Pedro poderá obstar
47

imediatamente a execução dos honorários de sucumbência


e, ainda, executar a decisão da Corte, sem qualquer óbice em
decorrência da decisão interna.

Questão 05 – Resposta: Verdadeiro.

Resolução: O capítulo da sentença (ou decisão interlocutória)


que decide questão prejudicial passível de ser coberta pela
coisa julgada pode ser objeto de ação rescisória. Ainda que
exista relação de subordinação entre a questão prejudicial e o
dispositivo, é possível, ainda, considerando a autonomia entre
os capítulos da sentença, que a parte proponha a ação rescisória
apenas contra a questão prejudicial, desde que demonstre a
presença do seu interesse de agir. É possível, por exemplo, que
terceiros prejudicados por um reconhecimento de paternidade em
ação de alimentos proponham a ação rescisória apenas contra o
comando declaratório, buscando reverter o reconhecimento da
paternidade e nada falando quanto aos alimentos.
48

Cumprimento de sentença
Autoria: Carolina Uzeda
Leitura crítica: André Faustino

Objetivos
• Cumprimento de sentença.

• Conceito e noções fundamentais.

• Questões polêmicas.
49

1. Introdução

Faz-se cumprimento de sentença quando a parte tem em seu favor título


executivo judicial, cujo rol está previsto no art. 515 do CPC. Apesar do
nomen iuris, o cumprimento de sentença, previsto no Título II, se presta
à efetivação tanto de sentenças quanto de decisões interlocutórias,
prolatadas por juiz civil, penal e, ainda, por árbitro.

São títulos executivos judiciais as decisões (interlocutórias, sentenças,


acórdãos e decisões monocráticas) proferidas no processo civil, que
reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não
fazer ou de entregar coisa, inclusive as homologatórias de autocomposição
judicial ou extrajudicial e as que estabeleçam crédito de auxiliar da justiça.
Também é título executivo judicial o formal e a certidão de partilha, quando
estabeleça obrigações para o inventariante, herdeiros e sucessores a título
singular ou universal. A sentença penal condenatória transitada em julgado,
a sentença ou decisão interlocutória estrangeira homologada pelo STJ e a
sentença arbitral (que pode conter comando definitivo ou provisório).

O cumprimento de sentença poderá referir-se a obrigações de pagar


quantia certa (arts. 523 a 527), pagar alimentos (arts. 528 a 533), de
pagar quantia certa quando o devedor for a Fazenda Pública (arts. 534 a
535), de fazer, não fazer e entregar coisa (arts. 536 a 538).

2. Fase inicial

A fase inicial do cumprimento de sentença dependerá necessariamente


do título executivo. Em se tratando de títulos previstos no art. 515, I a
V, que pressupõem a existência de um processo tramitando perante o
juízo cível, o cumprimento de sentença será fase e desenvolver-se-á nos
mesmos autos, dando prosseguimento ao feito1.
1
Também é possível que o cumprimento de sentença se desenvolva sem que os autos estejam disponíveis no
juízo de primeiro grau. Nesses casos, deverá ser formada a respectiva carta, com as cópias dos autos essenciais
à execução.
50

Nesses casos estamos diante de um processo sincrético que, por


essa razão, traz características distintas, tanto no requerimento do
cumprimento de sentença, quanto no ato de comunicação do devedor
para realizar o pagamento.

Em se tratando de cumprimento definitivo de sentença que reconhece


a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa, a parte deverá
requerer o cumprimento de sentença nos mesmos autos, instruindo seu
pedido com demonstrativo do débito e fazendo constar em sua petição
os demais requisitos previstos no art. 524:

I. o nome completo, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas


Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do exequente e do
executado, observado o disposto no art. 319, §§ 1º a 3º;
II. o índice de correção monetária adotado;
III. os juros aplicados e as respectivas taxas;
IV. o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizados;
V. a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;
VI. especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados;
VII. indicação dos bens passíveis de penhora, sempre que possível.

Recebida a petição e considerada regular, o executado será intimado,


por seu advogado, a realizar o pagamento do débito, no prazo de quinze
dias, acrescido de custas (art. 523).

Alexandre Freitas Câmara entende que o art. 513, § 1º, autoriza que o
cumprimento de sentença se desenvolva por impulso oficial, ressalvada
a hipótese em que o título reconheça o dever de pagar quantia,
provisório ou definitivo:

Nos casos, porém, em que o cumprimento de sentença é mera fase


complementar do mesmo processo em que formado o título executivo,
a regra geral (por força do impulso oficial, também estabelecida a
partir do art. 2º) é a de que se admite a atuação ex officio do juízo,
que está autorizado a instaurar a fase de cumprimento de sentença
independentemente de requerimento. Assim não é, porém, no caso de
51

cumprimento de sentença que condena a pagar dinheiro, caso em que a


instauração da fase executiva depende de requerimento do exequente.2

Em se tratando de títulos executivos previstos no art. 515, VI a IX, que


não pressupõem a existência de processo em trâmite perante o juízo
cível, será necessária a apresentação de uma petição inicial que, além
dos requisitos previstos no art. 524 (para as obrigações de pagar quantia
certa), deverá preencher aqueles do art. 319. Além disso, será necessária
a juntada do título executivo judicial. É certo que, também aqui, a
ausência de quaisquer pressupostos ensejará a intimação da parte para
regularizar o vício, antes do indeferimento da petição inicial. Nesses
casos, ao regularizar a petição inicial, o devedor será citado para pagar o
débito em quinze dias, equiparando-se o procedimento a partir daí.

Em um e em outro caso, o devedor poderá, independentemente


de garantia do juízo, apresentar impugnação ao cumprimento de
sentença, além, por certo, a qualquer tempo, oferecer exceção de
pré-executividade (para discussão de matérias de ordem pública,
cognoscíveis de ofício e erros de cálculo), conforme previsto no art. 518.

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO DE DESPEJO EM FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
VALORES APRESENTADOS PELA PARTE EXEQUENTE EM DISSONÂNCIA
COM O JULGADO EXEQUENDO. APRECIAÇÃO DA MATÉRIA. POSSIBILIDADE.
PRECLUSÃO. NÃO OCORRÊNCIA.

1. A jurisprudência do STJ orienta-se no sentido de que “os erros de


cálculo são passíveis de correção em qualquer tempo, de ofício ou a
requerimento da parte, sem que isso importe em violação à coisa julgada,
quando constatadas inconsistências de ordem material na elaboração
dos cálculos, com a efetiva necessidade de correção, de maneira a afastar
qualquer indício de enriquecimento sem causa pelo recebimento de
valores acima dos realmente devidos.” (AgRg no AREsp 113.266/SP, Rel.
Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, DJe 6/11/2015).
2. Agravo interno a que se nega provimento.3
2
CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. São Paulo: Atlas, 2015. p. 358.
3
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (Quarta Turma). AREsp 734.445/DF. Relator: Min. Maria Isabel Gallotti, Jul-
gado em: 12/04/2016. Diário da Justiça Eletrônica, Brasília, 22 abr. 2016.
52

Já o cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de


obrigação de prestar alimentos, previsto nos arts. 528 a 532 do CPC,
até mesmo pelas limitações à liberdade do devedor e a relevância do
crédito, essencial à garantia de direitos fundamentais do credor, pode
possuir procedimento distinto.

Isto porque o credor poderá optar por seguir o procedimento


do cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de
obrigação de pagar, inclusive quanto à multa do art. 523, ou seguir
pelo procedimento especial (art. 528, § 8º), que impõe seja o devedor
intimado para pagar o débito em três dias, sob pena de prisão. Nesse
caso, a defesa do devedor assume característica distinta, já que ele
poderá, também em três dias, comprovar que pagou ou apresentar
justificativa da impossibilidade de fazê-lo.

A prisão será afastada sempre que a justificativa seja aceita pelo


magistrado, sendo certo que isso não exime o devedor de realizar o
pagamento. Nesse caso, o cumprimento de sentença prosseguirá pelo
procedimento previsto no art. 523.

O STJ, por exemplo, já entendeu que a justificativa deverá ser um fato novo,
isto é, “que não tenha sido levado em consideração pelo juízo do processo
de conhecimento no momento da definição do débito alimentar”4.
4
RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. PRISÃO CIVIL. JUSTIFICATIVA APRESENTADA PELO
DEVEDOR. COMPROVAÇÃO DA SITUAÇÃO DE PENÚRIA. FATO NOVO. IMPOSSIBILIDADE MOMENTÂNEA.
AFASTAMENTO TEMPORÁRIO DA PRISÃO. 1. O art. 733 do CPC, buscando conferir efetividade à tutela juris-
dicional constitucional (CF, art. 5°, LXVII), previu meio executório com a possibilidade de restrição à liberdade
individual do devedor de alimentos, de caráter excepcional, estabelecendo que “na execução de sentença ou de
decisão, que fixa os alimentos provisionais, o juiz mandará citar o devedor para, em 3 (três) dias, efetuar o paga-
mento, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo”. 2. Valendo-se da justificativa, o devedor terá o
direito de comprovar a sua situação de penúria, devendo o magistrado conferir oportunidade para seu desiderato,
sob pena de cerceamento de defesa. Precedentes. 3. A justificativa deverá ser baseada em fato novo, isto é, que
não tenha sido levado em consideração pelo juízo do processo de conhecimento no momento da definição do dé-
bito alimentar. 4. Outrossim, a impossibilidade do devedor deve ser apenas temporária; uma vez reconhecida, irá
subtrair o risco momentâneo da prisão civil, não havendo falar, contudo, em exoneração da obrigação alimentícia
ou redução do encargo, que só poderão ser analisados em ação própria. 5. Portanto, a justificativa afasta tempo-
rariamente a prisão, não impedindo, porém, que a execução prossiga em sua forma tradicional (patrimonial), com
penhora e expropriação de bens, ou ainda, que fique suspensa até que o executado se restabeleça em situação
condizente à viabilização do processo executivo, conciliando as circunstâncias de imprescindibilidade de subsis-
tência do alimentando com a escassez superveniente de seu prestador, preservando a dignidade humana de am-
bos. 6. Na hipótese, de acordo com os fatos delineados nos autos, realmente não se pode ver decretada a prisão
do executado, ora recorrente, mas também não se pode simplesmente extinguir a execução ou ver retomado o
processo pelo rito do art. 733 do Código de Processo Civil, como entendeu o acórdão. Devem os autos retornar
53

3. Cumprimento provisório

Para as hipóteses de cumprimento de sentença de título executivo


previstas no art. 515, I, a lei autoriza que este se dê de forma provisória.
Ou seja, no caso de decisões não transitadas em julgado, inexistindo
recurso pendente de apreciação com efeito suspensivo, o credor poderá
iniciar a fase executiva, realizando, desde logo, atos de expropriação.

Ao tempo do CPC/73 havia grande controvérsia sobre o cabimento de


honorários advocatícios e da multa prevista no então art. 475-J, dando
ensejo, inclusive, ao julgamento de recurso especial repetitivo, no qual
o STJ ressaltou que “Em execução provisória, descabe o arbitramento
de honorários advocatícios em benefício do exequente.”5. A questão foi
solucionada pelo CPC/156, que no art. 520, § 2º:

§ 2o A multa e os honorários a que se refere o § 1o do art. 523 são devidos


no cumprimento provisório de sentença condenatória ao pagamento de
quantia certa.

O art. 520 do CPC disciplina, ainda, que o cumprimento provisório de


sentença correrá por iniciativa e responsabilidade do exequente. Na
hipótese de reversão da decisão executada, este deverá indenizar o
ao Juízo de piso que, consultado o credor, mantidas as condições averiguadas, poderá suspender a execução ou
transmudá-la para outro meio (CPC, art. 732). 7. Recurso especial parcialmente provido. (REsp 1185040/SP, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 13/10/2015, DJe 09/11/2015).
5
REsp 1291736/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 20/11/2013, DJe
19/12/2013.
6
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO (ART. 544 DO CPC/73)–AUTOS DE AGRAVO DE INSTRUMENTO NA
ORIGEM–CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE SENTENÇA–HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS–DECISÃO MONO-
CRÁTICA QUE DEU PROVIMENTO AO RECLAMO DO EXECUTADO PARA EXCLUIR A VERBA HONORÁRIA
DA CONDENAÇÃO. INSURGÊNCIA DO EXEQUENTE. 1. Em execução provisória, descabe o arbitramento de
honorários advocatícios em benefício do exequente. Posteriormente, convertendo-se a execução provisória em
definitiva, após franquear ao devedor, com precedência, a possibilidade de cumprir, voluntária e tempestivamente,
a condenação imposta, deverá o magistrado proceder ao arbitramento dos honorários advocatícios. Entendimento
consolidado em sede de recurso repetitivo.
2.
Inaplicáveis, ao caso, os novos regramentos constantes do CPC/2015 acerca do cabimento de honorários na
fase de execução provisória, porquanto, na hipótese ora em foco, a deflagração da referida fase processual
ocorreu no ano de 2010 e todas as deliberações das instâncias ordinárias acerca da questão, bem ainda o
próprio recurso especial, foram todos em momento no qual sequer vigente o referido normativo processual.
Inviável cogitar na retroatividade da norma processual para alcançar fatos e situações consolidadas sob a
vigência da norma revogada. 3. Agravo interno desprovido. (AgInt no AREsp 156.220/PR, Rel. Ministro MARCO
BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 07/11/2017, DJe 17/11/2017).
54

executado por todos os danos eventualmente sofridos. Veja-se que tal regra
aplica-se, como mencionado anteriormente, à execução como um todo:

RECURSO ESPECIAL. CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE SENTENÇA


QUE VEM A SER MODIFICADA COM REDUÇÃO EXPRESSIVA DO VALOR
EXECUTADO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO EXEQUENTE
PELOS DANOS SUPORTADOS PELO EXECUTADO. NECESSIDADE DE
RESTITUIÇÃO DAS PARTES AO ESTADO ANTERIOR. ART. 475-O, I E II,
DO CPC/1973. POSSIBILIDADE, ANTE AS PECULIARIDADES DO CASO,
DE QUE O CREDOR REEMBOLSE O DEVEDOR PELAS DESPESAS POR
ESTE REALIZADAS COM A CONTRATAÇÃO DE CARTA DE FIANÇA PARA
GARANTIA DO JUÍZO. RECURSO PROVIDO. 1. Como regra, ante a
possibilidade de modificação do título judicial que ampara a execução
provisória, ao credor é imposta a responsabilidade objetiva de reparar
os eventuais prejuízos causados ao devedor, restituindo-se as partes ao
estado anterior. Nessas hipóteses, a apuração dos danos sofridos pelo
executado poderá ocorrer nos mesmos autos, mediante liquidação por
arbitramento. Inteligência do art. 475-O, I e II, do CPC/1973.

2. No caso, verifica-se que o flagrante excesso de execução, provocado


pela cobrança prematura da dívida–da ordem de mais de R$ 21.000.000,00
(vinte e um milhões de reais) -, foi determinante para a opção que fez a
seguradora/executada de contratar uma carta de fiança, como meio de
garantia do juízo, a fim de oferecer impugnação. Ademais, diante das
circunstâncias, a medida mostrou-se prudente e acertada, pois, a um só
tempo, possibilitou à empresa exercer sua defesa, além de lhe assegurar
um fluxo de caixa que lhe permitiu arcar com as despesas que são
próprias de sua atividade fim, inclusive, no que se refere ao pagamento
das indenizações contratadas. 3. Diante desse quadro fático, em linha
de conclusão oposta ao que decidiu o Tribunal de origem, constata-se
que os prejuízos sofridos pela devedora com a contratação da garantia
não decorreram de decisão e estratégia de sua mera conveniência, mas
por iniciativa temerária do exequente que, sem observância da cautela
desejada, optou pela cobrança antecipada do título judicial, indicando
55

como devido um valor que não se mostrava compatível com obrigações de


igual natureza, justificando-se, portanto, o seu dever de indenizar.

4. Recurso especial provido.

(REsp 1576994/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA


TURMA, julgado em 21/11/2017, DJe 29/11/2017).

Justamente por isso é extremamente relevante que o princípio do


dispositivo seja cumprido na execução como um todo, especialmente no
cumprimento de sentença.

A liquidação e cobrança de eventuais prejuízos decorrentes da existência


da execução serão realizadas nos próprios autos, sendo certo que o
levantamento de qualquer valor, pelo exequente, exigirá a prestação de
caução (art. 520, IV).

4. Protesto e certidão para registro do


cumprimento de sentença

A decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a protesto


após o transcurso do prazo previsto no art. 523 (15 dias). O instituto é
uma inovação do CPC/15 e se trata de medida típica para coerção do
devedor ao pagamento.

A decisão também poderá ser levada aos órgãos de proteção ao


crédito. Nesse caso, o credor deverá requerer a medida, na forma do
art. 782, § 3º.

Além disso, a existência de execução (aqui aplicam-se ao


cumprimento de sentença as normas gerais previstas no Livro II,
Título I do CPC) poderá ser levada a registro, mediante expedição da
certidão prevista no art. 828.
56

Pontuando
• Cumprimento de sentença.

• Pode ser fase, incidente ou dar início a um processo


autônomo;

• Pode ser provisório ou definitivo, a depender da estabilidade


do título; e

• Pode ser comum ou especial, fundada em título judicial ou


extrajudicial e definitiva ou provisória.

Glossário
• Cumprimento de sentença: método para execução de decisões
previstas no art. 515.

• Título executivo judicial: instrumento que serve de fundamento


ao cumprimento de sentença, podendo ser um acórdão, decisão
monocrática, sentença ou decisão interlocutória.

• Cumprimento provisório: cumprimento de sentença ainda sujeita


a recurso sem efeito suspensivo.

Verificação de leitura

1. Sobre os títulos executivos judiciais, assinale a afirmativa


correta:

a. Não é possível executar decisão monocrática de


relator, em razão do princípio da colegialidade.
57

b. Os títulos executivos judiciais, ainda que a decisão


não tenha trânsito em julgado, podem ser objeto de
cumprimento de sentença.
c. A sentença arbitral, por ser título executivo judicial,
pode ser executada pelo próprio juiz prolator da
decisão.
d. É possível a criação de título executivo judicial por
negócio jurídico processual.
e. Nenhuma das alternativas anteriores.

2. Quanto ao cumprimento de sentença de decisão que


reconheça obrigação de pagar quantia certa, é incorreto
afirmar que:

a. É possível a inscrição do devedor nos cadastros de


proteção ao crédito, desde que expirado o prazo
para pagamento previsto no art. 523.
b. É possível a cumulação de medidas típicas de
coerção, como a multa prevista no art. 523 e o
protesto do título.
c. Será realizado exclusivamente a requerimento do
credor.
d. Apenas ensejará o arbitramento de honorários no
caso de apresentação de impugnação pelo devedor.
e. Em qualquer caso, o devedor deverá ser
pessoalmente citado para pagar.

3. No cumprimento de sentença que reconheça a


exigibilidade de obrigação de pagar alimentos, é
incorreto afirmar:

a. O credor poderá optar por requerer o cumprimento


de sentença pelo procedimento comum, hipótese
58

em que o devedor será intimado para pagar o


débito em quinze dias.
b. O devedor será intimado para pagar o débito em
três dias, sob pena de prisão.
c. O devedor poderá apresentar justificativa para o
não pagamento do débito, o que suspenderá a
execução.
d. A justificativa apresentada para o não pagamento
deverá ser um fato novo, que efetivamente impeça
que o devedor cumpra com sua obrigação.
e. Poderá, além da prisão, ensejar a inclusão do nome
do devedor nos cadastros de proteção ao crédito.

4. Sobre os títulos executivos judiciais, é incorreto afirmar:

a. São títulos executivos judiciais o acórdão, a decisão


monocrática, a sentença e a decisão interlocutória
que reconheçam obrigação do devedor.
b. A sentença arbitral é título executivo extrajudicial.
c. Há títulos executivos judiciais cujo cumprimento de
sentença ocorrerá por processo autônomo.
d. Os títulos executivos judiciais podem ser objeto de
cumprimento de sentença, ainda que a decisão não
tenha transitado em julgado.
e. A sentença penal condenatória é título executivo
judicial, sujeito a cumprimento de sentença perante
o juízo cível.

5. Sobre o cumprimento provisório de sentença, é correto


afirmar que:

a. Apenas poderá ser requerido pelo credor após


decisão de segunda instância.
59

b. Não autoriza a cobrança da multa prevista no art.


523, na hipótese de inadimplemento.
c. Deverá ser requerido perante o juízo competente
para processamento e julgamento de eventual
recurso pendente.
d. Não autoriza a cobrança de honorários advocatícios,
na hipótese de inadimplemento.
e. O credor responderá objetivamente pelos prejuízos
causados ao devedor, em caso de reversão da
decisão executada.

Referências
CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. São Paulo: Atlas,
2015.
DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: execução. Fredie Didier
Jr.; Leonardo Carneiro da Cunha; Paula Sarno Braga; Rafael Alexandria de Oliveira. 7
ed. Salvador: Juspodivm, 2017.
NERY JUNIOR. Nelson. Princípios do Processo na Constituição Federal: (processo
civil, penal e administrativo). 12. ed. rev., ampl. e atual. com as novas súmulas do
STF (simples e vinculantes) e com o novo CPC (Lei 13.105/2015). São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2016.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim... [et al]. Primeiros Comentários ao Novo Código
de Processo Civil. 1. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.

Gabarito

Questão 01 – Resposta: B

Resolução: É possível cumprimento provisório de decisão não


transitada em julgado, nos termos do art. 520 a 522 do CPC.

Questão 02 – Resposta: D
60

Resolução: O não pagamento do débito ensejará a incidência


de multa e honorários, independentemente da apresentação de
impugnação, na forma do art. 523, § 1º do CPC.

Questão 03 – Resposta: C

Resolução: A apresentação de justificativa para não pagamento


do débito de alimentos não ensejará a suspensão da execução.
O cumprimento prosseguirá pelo procedimento comum, previsto
nos arts. 523 e seguintes.

Questão 04 – Resposta: B

Resolução: A sentença arbitral é título executivo judicial, na forma


do art. 515, VII do CPC.

Questão 05 – Resposta: E

Resolução: O exequente é objetivamente responsável pelos atos


praticados no cumprimento provisório de sentença, na forma do
art. 520, I do CPC.
61

Execução
Autoria: Carolina Uzeda
Leitura crítica: André Faustino

Objetivos
• Teoria geral da execução.

• Conceito e noções fundamentais.

• Princípios e espécies.

• Formação, suspensão e extinção.


62

1. Introdução

“Executar é satisfazer uma prestação devida”1. E, em se tratando do


processo de execução e do cumprimento de sentença, é satisfazer a
prestação devida de maneira forçada, utilizando o poder de império do
Estado contra o devedor, em uma atividade eminentemente substitutiva
da sua vontade.

Antes de 2005 a execução no Brasil tinha tratamento semelhante tanto


para os títulos executivos extrajudiciais, quanto para os judiciais. Existia,
em ambos os casos, processo autônomo de execução, sujeito à citação
do executado e ao ajuizamento dos embargos.

Em 2005, pela Lei 11232, realizou-se grande reforma na execução de


título judicial, que perdeu, em regra, a autonomia, e passou a ser tratada
como uma fase do processo. Inaugurava-se, ali, o sincretismo processual
que, na égide do CPC/15, culminou também com a extinção do processo
cautelar autônomo. A partir de 2005 ampliou-se a dicotomia entre a
execução de título extrajudicial e a de título judicial, o que não impede
o tratamento equivalente de ambas quanto aos conceitos e noções
fundamentais, sobretudo, princípios informativos.

2. Conceitos e noções fundamentais. Espécies

Já há algum tempo a doutrina afirma que o direito de ação corresponde


ao direito à tutela efetiva. Ou seja, não basta permitir que a parte tenha
acesso ao Judiciário. É necessário que sejam fornecidos os meios para
que a parte efetivamente obtenha do Estado a tutela jurisdicional, com
a satisfação integral da sua pretensão. É necessário que a lide saia do
processo e se materialize, de tal forma que a parte efetivamente receba

1
DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: execução. Fredie Didier Jr.; Leonardo Carneiro
da Cunha; Paula Sarno Braga; Rafael Alexandria de Oliveira. 7. ed. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 45.
63

o que tem direito, o que não é possível apenas com a decisão judicial
(pelo menos na tutela condenatória)2.

Justamente por isso, não se nega que na tutela executiva há também


exercício de direito de ação, o qual, por sua vez, será regido pelos
princípios norteadores da execução. Não se nega, também, que da
mesma forma que acontece com o processo de conhecimento (ou a fase
de conhecimento), é necessário que a parte preencha determinados
requisitos para a obtenção da tutela jurisdicional. Requisitos de
admissibilidade do mérito da execução, que viabilizam que o processo
se desenvolva de forma válida e regular, com as especificidades da tutela
pretendida.

2.1 Execução comum e execução especial

A tutela executiva pode desenvolver-se pelo procedimento comum


ou especial. A pedra de toque para diferenciar o procedimento é a
obrigação constante no título executivo. Há procedimentos executivos
especiais previstos no CPC (p. ex. execução de alimentos) e outros em
leis especiais (p. ex. execução fiscal), mas, em todo e qualquer caso,
haverá aplicação subsidiária do procedimento comum.

A questão é relevante para a análise da possibilidade de cumulação de


pedidos. O art. 780 afirma que será possível cumular várias execuções,
ainda que fundadas em títulos diferentes, desde que o procedimento
seja idêntico. A regra, porém, pode ser relativizada a partir da aplicação
do art. 327, § 2º. Nada impede que, inexistindo prejuízo comprovado, as
execuções sejam cumuladas, em atenção aos princípios da efetividade,
economia e da celeridade.

2
“Pelo princípio constitucional do direito de ação, além do direito ao processo justo, todos têm o direito de obter
do Poder Judiciário a tutela jurisdicional adequada. Não é suficiente o direito à tutela jurisdicional. É preciso que
essa tutela seja a adequada, sem o que estaria vazio de sentido o princípio.” NERY JUNIOR. Nelson. Princípios
do Processo na Constituição Federal: (processo civil, penal e administrativo). 12. ed. rev., ampl. e atual. com
as novas súmulas do STF (simples e vinculantes) e com o novo CPC (Lei 13.105/2015). São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016, p. 210.
64

2.2 Execução fundada em título judicial e execução


fundada em título extrajudicial

A execução é também classificada pela natureza do título executivo. Será


execução de título judicial, regida pelos arts. 513 e seguintes do CPC,
quando fundada em (a) decisões proferidas no processo civil (acórdãos,
decisões monocráticas, sentenças e decisões interlocutórias) que
reconheçam a exigibilidade de obrigação; (b) decisões homologatórias
de autocomposição judicial e extrajudicial de qualquer natureza;
(c) o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação
ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular
ou universal; (d) o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas,
emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão
judicial; (e) as sentenças penal condenatória transitada em julgado,
sentença arbitral e estrangeira homologada pelo Superior Tribunal
de Justiça; e (f) a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão
do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça.

Já a execução de título extrajudicial, tomará lugar quando fundada em


algum dos documentos previstos no art. 784.

Com o advento do CPC/15 surgiu controvérsia na doutrina acerca da


possibilidade de as partes convencionarem para a atribuição de força
executiva a documento não previsto no rol do art. 784. Fredie Didier Jr. e
Antonio do Passo Cabral defendem expressamente a possibilidade que,
a bem da verdade, representaria exceção à regra da taxatividade, que
impõe a previsão em lei dos documentos que possam ser considerados
títulos executivos3.

Apesar de defenderem a possibilidade de criação de título executivo


por negócio jurídico processual, os autores reconhecem que a aplicação
prática seria bem improvável, já que bastaria às partes pedirem a duas

3
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CABRAL, Antônio do Passo. Negócios Jurídicos Processuais Atípicos e Execução.
Revista de Processo, [s. l.], v. 275, p. 193-228, 2018.
65

testemunhas para assinarem o documento e ele já teria, por si, força de


título executivo.

Em que pese nossa discordância com a tese, pensamos que a aplicação


prática é provável, já que é possível que as partes estabeleçam, por
exemplo, que determinado acordo realizado em juízo seja título
executivo extrajudicial e não judicial, alterando a natureza do título, em
que pese a decisão judicial homologatória.

2.3 Execução definitiva e provisória

A execução de títulos executivos judiciais (cumprimento de sentença)


poderá ser definitiva ou provisória. A definitiva é aquela fundada em
título transitado em julgado. Já os títulos executivos judiciais previstos
no inciso I, do art. 515, podem ser objeto de execução provisória, na
qual antecipa-se o cumprimento de sentença e os atos constritivos,
promovendo maior efetividade e celeridade na execução.

3. Princípios e regras fundamentais

3.1 Efetividade

O princípio da efetividade que, é importante sempre lembrar, se aplica


também ao processo de conhecimento, é inerente ao devido processo
legal e busca garantir que o processo seja efetivo, isto é, que a parte que
tem o direito receba do Estado a tutela jurisdicional necessária. Tutela
jurisdicional que, como já dito, implica não apenas o reconhecimento do
direito por sentença, mas a efetiva entrega.

Na execução, ele se manifesta da seguinte forma:


66

[...] a) a interpretação das normas que regulamentam a tutela executiva


tem de ser feita no sentido de extrair a maior efetividade possível; b) o
juiz tem o poder-dever de deixar de aplicar uma norma que imponha uma
restrição a um meio executivo, sempre que essa restrição não se justificar
como forma de proteção a outro direito fundamental; c) o juiz tem o
poder-dever de adotar os meios executivos que se revelem necessários à
prestação integral de tutela executiva.4

Não é por outro motivo que se admite a concessão de medidas


executivas atípicas (art. 139, IV), dando-se liberdade ao magistrado para
usar os meios que sejam necessários à outorga da tutela efetiva ao
credor.

3.2 Tipicidade e atipicidade dos meios executivos

Na esteira do princípio da efetividade, o sistema brasileiro adota tanto a


tipicidade quanto a atipicidade dos meios executivos. Daí porque o CPC
prevê medidas típicas para viabilizar a entrega da tutela jurisdicional
(expropriação patrimonial, multa, etc.) e, subsidiariamente, medidas
atípicas.

A utilização de medidas atípicas já era algo conhecido ao tempo do


CPC/73, quanto às obrigações de fazer e de dar coisa certa. O CPC/15
ampliou tal possibilidade também ao cumprimento de sentença/
execução de títulos que tenham por objeto prestação pecuniária5.

3.3 Boa-fé

A boa-fé é princípio aplicável em todo o processo, especialmente após


o advento do art. 5º do CPC/15, que trouxe, para o âmbito das normas
4
DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: execução. 6. ed. rev., ampl. e atual. Salvador:
JusPodivm, 2014, v. 5, p. 45-46.
5
“Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: [...] IV–determinar
todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumpri-
mento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária” (BRASIL, 2015, art.
139).
67

fundamentais do código, a obrigação de todo aquele que participa do


processo comportar-se de acordo com boa-fé, leia-se, boa-fé objetiva.

Além da vedação à prática de abuso de direito (inerente à boa-fé


objetiva) e das condutas praticadas em litigância de má-fé (art. 77), a
boa-fé se manifesta na execução em institutos como a fraude contra
credores, fraude à execução e as punições por atos atentatórios à
dignidade da justiça6.

3.4 Responsabilidade patrimonial

O art. 789 do CPC afirma que “O devedor responde com todos os seus
bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo
as restrições estabelecidas em lei”. O texto legal, que se aplica apenas
às execuções de quantia e de dar coisa certa, traz em si três regras: (i)
apenas o devedor ou o responsável legal pelo débito responderá com
seus bens; (ii) a responsabilidade é patrimonial, ressalvada a execução
de alimentos, que admite prisão civil; e (iii) o devedor responderá
com a integralidade do seu patrimônio, ressalvadas as hipóteses de
impenhorabilidade, previstas expressamente em lei.

Veja-se, porém, que cresce no Brasil a possibilidade de responsabilidade


executiva em caráter coercitivo, na qual utiliza-se a coerção para
forçar o devedor a cumprir a obrigação7. Considerando o caráter
eminentemente patrimonial da execução, a possibilidade de utilização
6
“Art. 774. Considera-se atentatória à dignidade da justiça a conduta comissiva ou omissiva do executado que:
I – frauda a execução; II – se opõe maliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos; III – difi-
culta ou embaraça a realização da penhora; IV – resiste injustificadamente às ordens judiciais; V – intimado, não
indica ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à penhora e os respectivos valores, nem exibe prova de sua
propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus. Parágrafo único. Nos casos previstos neste artigo, o juiz
fixará multa em montante não superior a vinte por cento do valor atualizado do débito em execução, a qual será
revertida em proveito do exequente, exigível nos próprios autos do processo, sem prejuízo de outras sanções de
natureza processual ou material.” (BRASIL, 2015, art. 774)
7
“Há, portanto, talvez, uma excessiva valorização do princípio da responsabilidade patrimonial, previsto no art.
789 do CPC, que, afinal, se destina às obrigações de dar coisa e pagar quantia certa. Não se estende às demais
obrigações (fazer/não fazer), em que a prioridade é a tutela específica, com a obtenção do cumprimento da obriga-
ção pessoalmente pelo devedor, só se convertendo, em último caso, no seu equivalente em dinheiro.”
DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: execução. Fredie Didier Jr.; Leonardo Carneiro da
Cunha; Paula Sarno Braga; Rafael Alexandria de Oliveira. 7 ed. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 71.
68

de técnicas coercitivas deve ser vista com temperança, sempre levando


em consideração a natureza da obrigação e respeitando os direitos
fundamentais do devedor8.

3.5 Primazia da tutela específica ou maior coincidência


possível

A tutela deve ser específica, ou seja, entregar ao credor exatamente


aquilo a que ele tem direito. Não sendo possível tal entrega, aplicar-
se-á o princípio da maior coincidência possível, ou seja, a tutela
efetivamente entregue, quando não representar aquilo que a parte
tem direito, deverá se aproximar o máximo possível do que foi
inicialmente pedido.

Os maiores problemas de aplicação da primazia da tutela específica


estão, sem dúvida, nas obrigações de dar coisa certa, fazer e não
fazer, sobretudo nestas últimas, que exigem uma conduta do
devedor9. Considerando que não é possível constranger fisicamente
o devedor a fazer algo que não queira, muitas vezes, diante
do inadimplemento, busca-se o resultado prático equivalente,
determinando-se, por exemplo, que terceiro cumpra a obrigação às
custas do devedor. Em último caso, quando não for possível obter o
resultado prático equivalente ou quando o credor assim requerer,
8
Apenas para exemplificar, várias decisões determinando a suspensão do direito de dirigir de devedores foram
prolatadas por juízes de primeiro grau. A questão é absolutamente complexa e, embora já tenha sido levada ao
STJ, ainda não há decisão da Corte sobre o tema.
9
Sem prejuízo de o STJ já haver, analisando o caso concreto em execução de obrigação pecuniária, admitir que
o princípio da maior coincidência possível cedesse lugar à menor onerosidade: “PROCESSUAL CIVIL. RECURSO
ESPECIAL. QUESTÃO RELEVANTE. AUSÊNCIA DE VALORAÇÃO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. OMIS-
SÃO CONFIGURADA. 1. Hipótese em que o Tribunal de origem genericamente estabeleceu que o imóvel no-
meado à penhora pela parte devedora garantiria o juízo da Execução Fiscal e, com base nesse fundamento e no
princípio da menor onerosidade, indeferiu a penhora de dinheiro por meio do sistema Bacen Jud. [...] 6. A relevân-
cia de tal análise decorre da necessidade de recordar que, em face do princípio da primazia da tutela específica
(também denominado princípio da maior coincidência possível ou do resultado), seria, inicialmente, recomendável
a penhora de dinheiro, já que se trata de obrigação pecuniária inadimplida (cuja satisfação se dá, como se sabe,
mediante pagamento). Não obstante, tal princípio cede lugar ao da menor onerosidade, conforme as circunstân-
cias apuradas efetivamente na instância de origem. 7. Recurso Especial provido”. (REsp 1221861/BA, Rel. Minis-
tro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/05/2012, DJe 25/05/2012).
69

aplica-se a conversão da obrigação em pecúnia. Esse distanciamento


da tutela específica (tutela pelo equivalente) é solução excepcional
e somente deve ser adotada quando, realmente, o cumprimento da
obrigação específica for impossível.

3.6 Contraditório

Diferente do que muitas vezes se afirmou, há contraditório na execução,


especialmente em sua nova perspectiva de diálogo entre juiz e partes.
Ocorre que, considerando a presunção de regularidade do título
executivo, ele ocorre em um segundo momento, em caráter eventual.
O devedor é citado/intimado para pagar o débito e não para apresentar
defesa. Nada impede, porém, que, após a citação/intimação ele exerça
amplamente seu direito, através dos instrumentos típicos previstos em
lei, da exceção de pré-executividade.

3.7 Menor onerosidade

A execução se faz no interesse do credor (art. 797), porém, isso não


impede que a busca da obtenção da tutela específica se faça pelo meio
menos lesivo ao devedor. É o que disciplina o art. 805 do CPC10.

O princípio da menor onerosidade se destina a cumprir regra geral do


código, de vedação ao abuso de direito. É, portanto, inerente à boa-fé
objetiva e impede que, no exercício do direito à tutela efetiva, o credor
busque causar mal injusto ao devedor. A questão, portanto, é subjetiva
e merece ser avaliada casuisticamente. Apenas para exemplificar, em
regra, o princípio não é suficiente para justificar a imposição de bem

10
“Art. 805. Quando por vários meios o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo
modo menos gravoso para o executado. Parágrafo único. Ao executado que alegar ser a medida executiva mais
gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos execu-
tivos já determinados”. (BRASIL, 2015, art. 805)
70

nomeado à penhora por devedor, fora da ordem legal, em detrimento


da vontade do credor11.

3.8 Regra nulla executio sine titulo

A execução presume a certeza do direito buscado pelo credor e tal


certeza se materializa pelo título executivo12. Inexistindo título executivo,
não há o que se falar em execução e deve o credor buscar a satisfação
do seu direito através de processo de conhecimento. No que toca ao
cumprimento provisório de sentença (ou de decisão interlocutória de
mérito), situações nas quais o título é formado a partir de cognição
sumária, Fredie Didier Jr., Leonardo Carneiro da Cunha, Paula Sarno
Braga e Rafael Alexandria de Oliveira afirmam que não é possível falar
em certeza jurídica da existência do direito. Para os autores, no Brasil, a
regra de que não há execução sem título “não pode ser compreendida
como uma norma que impõe a certeza jurídica para o início da atividade
executiva”13.

11
“PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. NOMEAÇÃO DE BENS À PENHORA. PRECATÓRIO. DIREITO
DE RECUSA DA FAZENDA PÚBLICA. ORDEM LEGAL. SÚMULA 406/STJ. ADOÇÃO DOS MESMOS FUNDA-
MENTOS DO RESP 1.090.898/SP (REPETITIVO), NO QUAL SE DISCUTIU A QUESTÃO DA SUBSTITUIÇÃO DE
BENS PENHORADOS. PRECEDENTES DO STJ. 1. Cinge-se a controvérsia principal a definir se a parte executa-
da, ainda que não apresente elementos concretos que justifiquem a incidência do princípio da menor onerosidade
(art. 620 do CPC), possui direito subjetivo à aceitação do bem por ela nomeado à penhora em Execução Fiscal,
em desacordo com a ordem estabelecida nos arts. 11 da Lei 6.830/1980 e 655 do CPC. [...] 6. Na esteira da
Súmula 406/STJ (“A Fazenda Pública pode recusar a substituição do bem penhorado por precatório”), a Fazen-
da Pública pode apresentar recusa ao oferecimento de precatório à penhora, além de afirmar a inexistência de
preponderância, em abstrato, do princípio da menor onerosidade para o devedor sobre o da efetividade da tutela
executiva. Exige-se, para a superação da ordem legal prevista no art. 655 do CPC, firme argumentação baseada
em elementos do caso concreto. Precedentes do STJ. 7. Em suma: em princípio, nos termos do art. 9°, III, da Lei
6.830/1980, cumpre ao executado nomear bens à penhora, observada a ordem legal. É dele o ônus de comprovar
a imperiosa necessidade de afastá-la, e, para que essa providência seja adotada, mostra-se insuficiente a mera
invocação genérica do art. 620 do CPC. 8. Diante dessa orientação, e partindo da premissa fática delineada pelo
Tribunal a quo, que atestou a “ausência de motivos para que [...] se inobservasse a ordem de preferência dos ar-
tigos 11 da LEF e 655 do CPC, notadamente por nem mesmo haver sido alegado pela executada impossibilidade
de penhorar outros bens [...]”–fl. 149, não se pode acolher a pretensão recursal. 9. Recurso Especial parcialmente
provido apenas para afastar a multa do art. 538, parágrafo único, do CPC. Acórdão submetido ao regime do art.
543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ”. (REsp 1337790/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEI-
RA SEÇÃO, julgado em 12/06/2013, DJe 07/10/2013).
12
“Art. 786. A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível
consubstanciada em título executivo”. (BRASIL, 2015, art. 786)
13
DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: execução. Fredie Didier Jr.; Leonardo Carneiro
da Cunha; Paula Sarno Braga; Rafael Alexandria de Oliveira. 7 ed. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 87.
71

Em todo caso, seja na execução provisória, seja na definitiva, de título


executivo judicial ou extrajudicial, não é possível o início da execução
sem que a parte a instrua com o título executivo.

3.9 Disponibilidade

A execução se faz no interesse do credor. Justamente por isso o exequente


pode dela dispor, deixando de executar, executando apenas parcialmente,
desistindo de determinado ato executivo ou, ainda, desistindo – também
total ou parcialmente – da própria execução, quando melhor lhe aprouver,
independentemente da concordância do executado.

A única exceção legal é a prevista no art. 775, par. ún., II, que afirma
que a extinção da execução a pedido do credor dependerá de anuência
do executado, sempre que tenha oferecido impugnação/embargos
com fundamento em questões de direito material (por exemplo:
compensação, pagamento etc.).

Também não dependerá da anuência do executado quando


os embargos/impugnação opostos forem apresentados
extemporaneamente:

PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO. EMBARGOS OPOSTOS


EXTEMPORANEAMENTE. DESISTÊNCIA. POSSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA
DO ART. 598, CPC. CONSTITUI PRINCÍPIO, ALBERGADO NA
LEGISLAÇÃO VIGENTE (CPC, ART. 569), QUE O EXEQUENTE TEM
A LIVRE DISPONIBILIDADE DA EXECUÇÃO, PODENDO DESISTIR A
QUALQUER MOMENTO, EM RELAÇÃO A UM, A ALGUNS OU A TODOS
OS EXECUTADOS, MESMO PORQUE A EXECUÇÃO EXISTE EM PROVEITO
DO CREDOR, PARA A SATISFAÇÃO DO SEU CRÉDITO. SE OS EMBARGOS
SÃO OPOSTOS EXTEMPORANEAMENTE E O PROCESSO EXECUTIVO NÃO
SE ENCONTRA REGULAR, A DESISTÊNCIA DA EXECUÇÃO INDEPENDE
DA ANUÊNCIA DO EMBARGANTE. EXISTINDO NORMA ESPECÍFICA NO
PROCESSO EXECUTIVO, NÃO SE APLICAM SUBSIDIARIAMENTE NORMAS
DO PROCESSO DE CONHECIMENTO. RECAINDO A PENHORA SOBRE
72

IMÓVEL DO CASAL, O PRAZO PARA EMBARGAR TEM INÍCIO APÓS A


INTIMAÇÃO DO CÔNJUGE DO DEVEDOR.14

Partindo do raciocínio do acórdão da lavra do Min. Sálvio de Figueiredo,


pode-se afirmar que, em que pese o princípio da primazia da resolução
do mérito, apresentada impugnação/embargos sem o preenchimento
dos requisitos para sua admissibilidade (o que inclui o preenchimento
de pressupostos processuais e condições da ação), ela não se presta a
obstar a desistência da execução, salvo se o pedido de desistência for
formulado após a correção do vício.

4. Responsabilidade patrimonial

Como dito, em regra, a execução é regida pela regra da


patrimonialidade, de tal forma que o executado responderá pelo débito
com a integralidade dos seus bens, ressalvadas as exceções legais.

Nesse sentido, Alexandre Freitas Câmara define a responsabilidade


patrimonial como:

[...] sujeitabilidade de bens à execução, de modo que os bens sobre


os quais tal responsabilidade incide ficam sujeitos a suportar os atos
executivos, podendo vir a ser usados para a satisfação do crédito
exequendo15.

14
Consta no voto do Min. Sálvio de Figueiredo: “É certo que se tem admitido como tempestivos embargos à exe-
cução antes de citados os co-executados, dentro do princípio da instrumentalidade do processo. Entretanto, não
se pode tê-los como regulares em hipóteses como a dos autos, em detrimento do direito do Exequente, especial-
mente quando se recorda que estava em curso incidente quanto à eficácia ou não da penhora, e que o cônjuge,
em recaindo a penhora sobre bem imóvel, é litisconsorte necessário, sendo imprescindível, sob pena de nulidade
pleno iure, a intimação do cônjuge, como aliás já proclamou esta 4ª Turma no REsp nº 454, de 22.8.89, de que
foi relator.” (REsp 767/GO, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em
24/10/1989, DJ 20/11/1989, p. 17296).

15
CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. São Paulo: Atlas, 2015, p. 337.
73

Em regra, a responsabilidade pelo crédito é do devedor, porém, há


situações nas quais ficam sujeitos outros bens que não pertencem ao
executado. São as hipóteses previstas no art. 790 do CPC.

A responsabilidade poderá ser primária ou secundária. Será primária


sempre que recaia sobre os bens do devedor obrigado (790, I, III, V, VI
e VII). Nesses casos, “respondem os bens presentes em seu patrimônio
[do devedor] no momento de executar, os adquiridos no momento da
constituição da obrigação e os adquiridos depois disso”16.

Estarão sujeitos à execução os bens do “sucessor a título singular,


tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação
reipersecutória”. No inciso I do 790 encontra-se a possibilidade de, por
exemplo, alienado o bem objeto do litígio a execução alcançá-lo, dando-
se maior efetividade à tutela jurisdicional.

Também estarão sujeitos à execução os bens do devedor em poder de


terceiros, os alienados em fraude à execução e aqueles cuja alienação ou
gravação com ônus quando for cancelada em razão de reconhecimento
de fraude contra credores e do sujeito responsabilizado em razão de
desconsideração da personalidade jurídica (ou desconsideração inversa).

A responsabilidade secundária é aquela que incide sobre os bens do


cônjuge ou companheiro (art. 790, IV) e do sócio, sempre que a lei
indique que o patrimônio deste responde pelas obrigações da empresa
(ex. sociedades em nome coletivo e sócio-administrador em sociedade
em comandita por ações).

Como dito, em regra, a execução é regida pela regra da


patrimonialidade, de tal forma que o executado responderá pelo débito
com a integralidade dos seus bens, ressalvadas as exceções legais.

16
DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: execução. Fredie Didier Jr.; Leonardo Carneiro
da Cunha; Paula Sarno Braga; Rafael Alexandria de Oliveira. 7 ed. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 344.
74

Nesse sentido, Alexandre Freitas Câmara define a responsabilidade


patrimonial como “sujeitabilidade de bens à execução, de modo que os
bens sobre os quais tal responsabilidade incide ficam sujeitos a suportar
os atos executivos, podendo vir a ser usados para a satisfação do crédito
exequendo”17.

Em regra, a responsabilidade pelo crédito é do devedor, porém, há


situações nas quais ficam sujeitos outros bens que não pertencem ao
executado. São as hipóteses previstas no art. 790 do CPC.

A responsabilidade poderá ser primária ou secundária. Será primária


sempre que recaia sobre os bens do devedor obrigado (790, I, III, V, VI
e VII). Nesses casos, “respondem os bens presentes em seu patrimônio
[do devedor] no momento de executar, os adquiridos no momento da
constituição da obrigação e os adquiridos depois disso”18.

Estarão sujeitos à execução os bens do “sucessor a título singular,


tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação
reipersecutória”. No inciso I do 790 encontra-se a possibilidade de, por
exemplo, alienado o bem objeto do litígio a execução alcançá-lo, dando-
se maior efetividade à tutela jurisdicional.

Também estarão sujeitos à execução os bens do devedor em poder de


terceiros, os alienados em fraude à execução e aqueles cuja alienação ou
gravação com ônus quando for cancelada em razão de reconhecimento
de fraude contra credores e do sujeito responsabilizado em razão de
desconsideração da personalidade jurídica (ou desconsideração inversa).

A responsabilidade secundária é aquela que incide sobre os bens do


cônjuge ou companheiro (art. 790, IV) e do sócio, sempre que a lei
indique que o patrimônio deste responde pelas obrigações da empresa

17
CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. São Paulo: Atlas, 2015, p. 337.
18
DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: execução. Fredie Didier Jr.; Leonardo Carneiro
da Cunha; Paula Sarno Braga; Rafael Alexandria de Oliveira. 7 ed. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 344.
75

(ex. sociedades em nome coletivo e sócio administrador em sociedade


em comandita por ações).

5. Competência

As regras de competência para a execução de título extrajudicial estão


previstas no art. 781, que, dentre outras normas que repetem a norma
geral, autoriza que a execução seja proposta no domicílio do executado,
no local da situação dos bens, no domicílio do exequente (quando
incerto o do executado) e no foro do lugar em que se praticou o ato ou
em que ocorreu o fato que deu origem ao título (por exemplo, praça de
pagamento)19.

Em regra, o cumprimento de sentença será processado pelos tribunais,


nas causas de competência originária e pelo juízo que decidiu a causa
em primeiro grau de jurisdição, independentemente de ser o prolator da
decisão executada (art. 516, I e II). Assim, deferida, por exemplo, tutela
provisória em sede de agravo de instrumento, o juízo de primeiro grau
será o competente para processar o respectivo cumprimento.

19
Sobre a competência para processar execução fiscal, o STJ já afirmou não ser aplicável o enunciado 33 de
sua Súmula, autorizando o declínio de ofício: “AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. COMPETÊNCIA. INEXISTÊNCIA DE VARA DA JUSTIÇA FEDERAL
NO DOMICÍLIO DO DEVEDOR. COMPETÊNCIA DO JUÍZO ESTADUAL POR DELEGAÇÃO. ART. 15, I DA LEI
5.010/66. COMPETÊNCIA QUE PODE SER DECLINADA DE OFÍCIO. INAPLICABILIDADE DO ENUNCIADO
DA SÚMULA 33/STJ. MATÉRIA JULGADA PELO REGIME DOS RECURSOS REPETITIVOS. RESP 1.146.194/
SC, REL. MIN. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, REL. P/ ACÓRDÃO MIN. ARI PARGENDLER, DJE 25.10.2013.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. [...] 2. Era assente neste STJ o entendimento de que a competência para
processar e julgar Execução Fiscal é relativa, porquanto estabelecida em razão do território, e, portanto, insus-
ceptível de modificação por ato judicial praticado de ofício; atento a essa relevante circunstância, o STJ editou
a sua Súmula 33, em que se afirma, precisamente, essa superior diretriz: A incompetência relativa não pode ser
declarada de ofício. 3. Todavia, no julgamento do REsp. 1.146.194/SC, Rel. p/ acórdão ARI PARGENDLER, DJe
25.10.2013, julgado sob o rito dos recursos repetitivos, esta egrégia Corte Superior firmou entendimento de que
a decisão do Juiz Federal, que declina da competência quando a norma do art. 15, I da Lei 5.010/66 deixa de ser
observada, não está sujeita ao enunciado da Súmula 33 do Superior Tribunal de Justiça. Naquela oportunidade
restou consignado que a norma legal visa facilitar tanto a defesa do devedor quanto o aparelhamento da execu-
ção, que assim não fica, via de regra, sujeita a cumprimento de atos por cartas precatórias. 4. Agravo Regimental
desprovido. (AgRg no AREsp 459.691/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 27/03/2014, DJe 07/04/2014).
76

Nas hipóteses de cumprimento autônomo de sentença, ou seja, quando


o título executivo judicial exigir, para sua efetivação, a instauração de
processo autônomo (ex. execução de sentença penal, arbitral, etc) o
cumprimento de sentença dar-se-á perante o juízo cível competente
(516, III), respeitando-se os critérios gerais de competência, previstos nos
arts. 42 a 53 do CPC.

É possível, ainda, ressalvadas as hipóteses de competência originária


do tribunal, que o cumprimento de sentença ocorra no local onde se
encontrem os bens sujeitos à execução (516, p. ú.).

6. Formação, suspensão e extinção da


execução

Em que pese, excepcionalmente, o cumprimento de decisão possa


ocorrer por determinação ex officio do juiz (execução trabalhista e
decisões fundadas nos arts. 536 e 538 do CPC), considera-se a execução
uma demanda, o que, em razão do princípio da inércia, deve iniciar por
iniciativa da parte.

Sempre a execução se dá no interesse e por iniciativa do credor,


especialmente porque, de acordo com o art. 776, sua responsabilidade
é objetiva sobre danos eventualmente sofridos pelo executado com a
atividade executiva “quando a sentença, transitada em julgado, declarar
inexistente, no todo ou em parte, a obrigação que ensejou a execução”
(BRASIL, 2015, art. 776). Disso extrai-se também a liberdade do credor
em executar apenas parcialmente o débito constante no título executivo.

Em se tratando de execução de título extrajudicial, a demanda deverá


ser proposta por meio de petição inicial, que preencherá os requisitos
genéricos previstos no art. 319 do CPC. Além destes, o exequente deverá
apresentar o título executivo, condição para realizar toda e qualquer
77

execução. O mesmo raciocínio se aplica às execuções de título judicial


sujeitas a processo autônomo (p. ex, cumprimento de sentença penal,
arbitral etc.).

Em se tratando de cumprimento de sentença de obrigação de pagar,


requerido em processo sincrético, o art. 524 impõe como requisito que
a parte informe, além da indicação do nome e CPF/CNPJ do executado,
os critérios de atualização do débito e a especificação de eventuais
descontos.

Também será requisito de toda e qualquer execução de pagar


quantia (de título judicial ou extrajudicial) a apresentação de planilha
pormenorizada do débito e a indicação de bens passíveis de penhora,
sempre que possível.

Recebida a petição inicial ou o respectivo requerimento, o juiz


determinará a citação/intimação do devedor para pagar o débito,
acrescido dos honorários advocatícios, no prazo e na forma do
respectivo procedimento, a depender da natureza do título e da
obrigação nele constante. O tema será melhor aprofundado no
momento oportuno.

6.1 Suspensão da execução

Todo processo, sobretudo aqueles que envolvem atividade executiva,


destinam-se à efetividade da tutela e satisfação do direito da parte. O
processo deve ter começo, meio e fim, sem que ocorram interrupções
ou o prolongamento desnecessário da atividade jurisdicional. É por isso
que o sistema introduziu institutos como a preclusão e toda a sorte de
vedação de comportamento procrastinador do executado.

Ocorre que há situações de crise, nas quais faz-se necessária a


interrupção do processo, as quais sempre devem ocorrer apenas em
78

caráter excepcional. Por se tratarem de situações de crise, as causas de


suspensão do processo devem estar expressamente previstas em lei.

A execução suspende-se, no todo ou em parte, quando ocorrerem


qualquer das causas previstas no art. 921. Frise-se que, ocorrida a causa
de suspensão, o juiz não tem qualquer discricionariedade, cabendo-lhe
apenas suspender a prática de qualquer ato, ressalvadas as providências
urgentes (art. 923).

A causa de suspensão da execução que mais tem causado controvérsia


na doutrina é aquela prevista no art. 921, III, quando o executado
não possua bens penhoráveis. O CPC/15 inovou ao estabelecer, nos
parágrafos 1º a 5º, a exemplo do que já ocorria nas execuções fiscais, a
retomada da contagem do prazo prescricional se, suspensa a execução
por um ano, não forem localizados bens penhoráveis.

Para que tal ocorra é necessário que não haja manifestação do


exequente, ou seja, a prescrição apenas retomará sua contagem diante
da inércia do credor. Tal manifestação do exequente, porém, deve ser
séria, não se aplicando a regra do art. 921, § 4º, para impedir o início
do prazo, quando fique claro que este visa apenas afastar a perda do
direito pela prescrição, sem demonstrar efetivamente que há indícios de
modificação fática quanto ao patrimônio do executado.

6.2 Extinção da execução

Extingue-se a execução nas hipóteses do art. 924, além, claro, daquelas


previstas no art. 485 (extinção do processo sem resolução do mérito).
Nas hipóteses de extinção da execução por reconhecimento de
prescrição, satisfação do crédito, transação, remissão da dívida e
renúncia ao crédito, a decisão será de mérito, sujeita à formação de
coisa julgada e ação rescisória:
79

PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO AO ART. 485, V, DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA.


AÇÃO RESCISÓRIA. SENTENÇA QUE EXTINGUIU A EXECUÇÃO FISCAL EM
RAZÃO DA REMESSA DO CRÉDITO AO JUÍZO FALIMENTAR. EXTINÇÃO
DO FEITO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO. DESCABIMENTO DA AÇÃO
RESCISÓRIA NA HIPÓTESE.

[...]

2. A execução fiscal foi extinta sem julgamento de mérito, eis que o crédito
fora remetido ao juízo falimentar. Contrario sensu, haveria julgamento
com mérito caso a execução fosse extinta em razão da ocorrência
da prescrição, satisfação do crédito, transação, remissão da dívida,
renúncia ao crédito e demais hipóteses legais, tais quais aquelas
previstas nos art. 794 do CPC. Assim, não havendo sentença de mérito, não
há que se falar em cabimento da ação rescisória, sobretudo fundada no art.
485, V, do CPC, a qual pressupõe que a normas legais tidas por ofendidas
tenham sido violadas de tal modo aberrante que afete a literalidade dos
dispositivos, o que não é passível de análise se a sentença rescindenda não
adentrou o mérito da causa. 3. Recurso especial não provido.20

7. Partes e terceiros

Tem legitimidade ativa para propor execução o sujeito a quem a lei


confere o título executivo. O sujeito apontado no título de crédito como
titular do direito ou aquele que o tenha recebido por sucessão ou
cessão, nos termos legais.

O Ministério Público é parte legítima para propor execução na hipótese,


por exemplo, para a execução de sentença proferida em ação civil
pública (art. 778, § 1º, I).

Já o legitimado passivo originário será o devedor (art. 779, I). Poderão ser
executados também aqueles sujeitos que tenham legitimidade passiva

20
REsp 1246515/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª T., j. 10.05.2011, DJe 16.05.2011.
80

secundária ou superveniente. É o caso dos sujeitos previstos nos incisos


II a VI do art. 779, dentre os quais estão o fiador, o responsável do bem
vinculado por garantia real ao pagamento do débito, o espólio, herdeiros
e sucessores do devedor.

É possível, ainda, a realização de negócio jurídico processual sobre a


legitimidade (ativa ou passiva). Se trata de legitimidade extraordinária
negociada.

A possibilidade de negociação sobre legitimidade não é novidade no


processo civil brasileiro e era admitida pela doutrina na égide do CPC de
1939. Isto porque aquele código dispunha em seu artigo 2º que “para
propor ou contestar ação é necessário legítimo interesse, econômico ou
moral”. Não havia qualquer restrição expressa à convenção acerca da
legitimidade.

O CPC/73 alterou a disposição e passou a afirmar que “ninguém poderá


pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado
em lei”. Diante da exigência expressa de autorização legal para a
legitimidade extraordinária, a doutrina de forma praticamente unânime
passou a entender pela impossibilidade de negócio jurídico que versasse
sobre legitimidade.

Assim foi o entendimento do professor Arruda Alvim, em


impossibilidade de substituição processual voluntária face ao código
de processo civil, no qual defende a ilegalidade, pois contra legem, de
cláusula contratual que disponha acerca da legitimidade21. Todavia, o
próprio professor argumenta que a lei, “no art. 6º, deve ser entendida
como sistema, no que compreende decreto-lei, lei complementar etc.”
21
“Assim, a cláusula que obriga a Mitra Arquidiocesana de São Paulo a mover ação judicial contra as ocupantes
do imóvel não pode produzir efeitos, porque celebrada “contra legem” (art. 6º). Em nosso comentário à nova lei
processual, deixamos claro que inexiste possibilidade da chamada substituição processual voluntária na lei, verbis:
“O Direito brasileiro, à semelhança do Direito italiano vigente, conquanto tenha acolhido o instituto da substituição
processual o fez negativamente, de forma a que a ocorrência efetiva da substituição será sempre excepcional, só
nos casos em que a lei expressamente o admita. Consequentemente, advirtamos liminarmente, há que se afastar
a ideia da chamada substituição processual voluntária” (Arruda Alvim, Código de Processo Civil Comentado, v.
1, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975, n. 3, p. 426, comentários ao art. 6º).”
81

em entendimento encampado por Nelson Nery Jr. e Rosa Nery, que


afirmam que as hipóteses de substituição devem estar expressas na lei
ou decorrerem do sistema22.

A necessidade de previsão legal está intimamente atrelada ao princípio


da legalidade. O referido princípio, em sua acepção moderna, porém,
assumiu feição mais ampla e para cumpri-lo faz-se necessário que nosso
atuar esteja de acordo com o direito, com o ordenamento jurídico23.

O ordenamento jurídico, por sua vez, tem alcance muito mais amplo que
a lei propriamente dita. Ele inclui a jurisprudência, doutrina e todas as
normas que integram o conjunto de fontes que formam o Direito. Estar
de acordo com o ordenamento jurídico é estar de acordo com o Direito.

A evolução de tal entendimento culminou com a redação do art. 18 do


CPC/15, que dispõe que: “ninguém poderá pleitear direito alheio em
nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico”.

Vejamos que o próprio novo Código, em algumas circunstâncias, nas


quais quis fugir de um entendimento amplo, optou por não utilizar o
termo ordenamento jurídico, como por exemplo o art. 966, que afirma
ser possível ação rescisória quando a decisão violar a norma jurídica, o
que autoriza vermos o “ordenamento” em sua expressão mais ampla no
que diz respeito à legitimação extraordinária.

A norma jurídica integra o ordenamento jurídico, que tem um conceito


mais amplo que a primeira. São normas jurídicas as regras e os
princípios. Ordenamento jurídico encampa além destes, o direito,
consubstanciado pela jurisprudência, doutrina e, também, contratos
e decisões judiciais. Ele abrange todas as fontes do direito que, juntas,

22
Código de processo civil comentado. 11. ed. São Paulo: RT. p. 221.
23
Neste sentido WAMBIER, Teresa Arruda Alvim... [et al]. Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo
Civil. – 1. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015: “À luz do princípio da legalidade, o que se espera é que o
juiz encontre no direito a solução a ser aplicada ao caso sob seu julgamento. No sentido de direito é que o legisla-
dor usou a expressão ordenamento jurídico. Hoje, se entende que o juiz está vinculado ao direito, e, não, ao texto
da lei. Assim deve ser compreendido o princípio da legalidade, contemporaneamente.”
82

em regra, devem conviver harmonicamente entre si. Nesse diapasão


incluem-se aquelas normas que Kelsen chama de normas jurídicas
individualizadas, como, por exemplo, a sentença e o negócio jurídico.
Os negócios jurídicos são, portanto, fonte criadora de direito, normas
jurídicas individualizadas que devem ser observadas dentro do quadro
das normas gerais24.

Tudo isso para concluir que, no âmbito do CPC/15, é plenamente


possível a realização de negócio jurídico processual, com a finalidade de
transferir a legitimidade ativa, para cobrança judicial do crédito cedido.

Já quanto à intervenção de terceiros, além daquelas previstas na parte


geral do código, há a possibilidade de protesto pela preferência (art.
908), o concurso especial de credores, o exercício do benefício de ordem
pelo fiador (art. 794) e os embargos de terceiro.

Pontuando
• Execução.

• Visa primordialmente a efetividade do direito;

• É regida, dentre outros, pelos princípios da boa-fé,


responsabilidade patrimonial, disponibilidade e primazia da
tutela específica; e

24
“Num contrato as partes contratantes acordam em que devem conduzir-se de determinada maneira, uma em
face da outra. Este dever-ser é o sentido subjetivo do ato jurídico-negocial. Mas também é o seu sentido objetivo.
Quer dizer: este ato é um fato produtor de Direito se e na medida em que a ordem jurídica confere a tal fato esta
qualidade; e ela confere-lhe esta qualidade tornando a prática do fato jurídico-negocial, juntamente com a con-
duta contrária ao negócio jurídico, pressuposto de uma sanção civil. Na medida em que a ordem jurídica institui
o negócio jurídico como fato produtor de Direito, confere aos indivíduos que lhe estão subordinados o poder de
regular as suas relações mútuas, dentro dos quadros das normas gerais criadas por via legislativa ou consuetu-
dinária, através de normas criadas pela via jurídico-negocial. Estas normas jurídicas negocialmente criadas, que
não estatuem sanções, mas uma conduta cuja conduta oposta é o pressuposto da sanção que as normas jurídicas
gerais estatuem, não são normas jurídicas autônomas. Elas apenas são normas jurídicas em combinação com as
normas gerais que estatuem as sanções.” (KELSEN, 2012, p. 179)
83

• Pode ser comum ou especial, fundada em título judicial ou


extrajudicial e definitiva ou provisória.

Glossário
• Efetividade: o Estado deve entregar, através da tutela jurisdicional,
aquilo que a parte tem direito, a quem tenha o direito.

• Boa-fé: regra de conduta que deve ser respeitada tanto pelo


exequente, quanto pelo executado.

• Suspensão: a suspensão da execução é situação de crise, que


apenas pode ocorrer nos casos previstos em lei.

Verificação de leitura

1. Sobre os títulos executivos extrajudiciais, assinale a


afirmativa correta:

a. Apenas é possível a criação de título executivo


extrajudicial por lei, em razão do princípio da
taxatividade.
b. Os títulos executivos extrajudiciais exigem prévia
liquidação, para conversão em título judicial e
execução.
c. A execução de título extrajudicial difere-se da de
título judicial em razão da ausência de presunção de
certeza da obrigação constante no título.
d. É possível a criação de título executivo extrajudicial
por negócio jurídico processual.
84

2. Quanto ao processo de execução, é incorreto afirmar que:

a. São princípios informativos da execução a


efetividade e a primazia da tutela específica.
b. O contraditório na execução é limitado, apenas
podendo ser exercido na hipótese de impugnação
ou oferecimento de embargos à execução.
c. O princípio da menor onerosidade excessiva é
corolário da boa-fé objetiva.
d. O Brasil adota sistema híbrido quanto à tipicidade
dos meios executivos, admitindo a realização de
medidas atípicas para obtenção da tutela específica.

3. Oferecidos embargos à execução, nos quais o devedor


afirma ter realizado pagamento do débito, ainda que
tais embargos sejam intempestivos, não poderá o
exequente desistir da execução sem sua anuência.

( ) Verdadeiro.
( ) Falso.

4. Sobre a competência para execução, assinale a


alternativa correta:

a. Nos casos de competência originária do STJ, o


cumprimento de sentença ocorrerá, por sua
determinação, perante o primeiro grau.
b. O exequente poderá iniciar o cumprimento de
sentença no juízo em que estejam localizados os
bens do devedor.
c. A competência prevista no art. 516, II é relativa.
d. A competência prevista no inciso III do art. 516 é
relativa.
85

5. Ricardo, após tentar de todas as formas possíveis


localizar bens do devedor, viu sua execução ser
suspensa e o processo arquivado, na forma dos
parágrafos do art. 921 do CPC.

a. A execução permanecerá suspensa por um


ano e será extinta se, nesse período, não forem
localizados bens do devedor.
b. A retomada do prazo prescricional depende de
decisão expressa do juiz.
c. Ricardo poderá peticionar, demonstrando que não
desistiu do seu crédito, obstando, assim, a retomada
do prazo prescricional.
d. Caso o processo permaneça paralisado por um ano,
sem manifestação do credor, começa a correr o
prazo de prescrição intercorrente.

Referências
ARRUDA ALVIM NETTO, José Manoel de. Código de Processo Civil Comentado. v. 1,
n. 3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975.
CÂMARA, Alexandre Freitas. O Novo Processo Civil Brasileiro. São Paulo: Atlas,
2015.
DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: execução. 7. ed.
Salvador: Juspodivm, 2017.
DIDIER JUNIOR., Fredie; CABRAL, Antonio do Passo. Negócios Jurídicos Processuais
Atípicos e Execução. Revista de Processo. v. 275. 2018.
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução: João Baptista Machado. 8. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2012.
NERY JUNIOR. Nelson. Princípios do Processo na Constituição Federal: (processo
civil, penal e administrativo). 12. ed. rev., ampl. e atual. com as novas súmulas do
STF (simples e vinculantes) e com o novo CPC (Lei 13.105/2015). São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2016.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim... [et al]. Primeiros Comentários ao Novo Código
de Processo Civil. – 1. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.
86

Gabarito

Questão 01 – Resposta: A

Resolução: A questão, no entanto, é controvertida na doutrina.


A regra da taxatividade sempre iluminou o estudo da execução,
porém, com o advento do CPC/15 e o maior debruçamento da
doutrina sobre os negócios jurídicos processuais, alguns autores,
capitaneados por Fredie Didier Jr. e Antonio do Passo Cabral,
começaram a admitir a criação de título executivo por negócio
processual.

Em todo caso, considerando que a própria lei considera título


executivo todo documento assinado pelo devedor e duas
testemunhas, a utilização do negócio processual para criação
de título, como reconhecem os próprios autores, não encontra
aplicação prática.

Questão 02 – Resposta: B

Resolução: O princípio do contraditório não sofre qualquer


limitação na execução. Ele é, de fato, eventual. O executado é
citado para pagar e, após, defender-se (se for o caso). Isso não
quer dizer que não possa se defender amplamente, bem como,
que o juiz esteja dispensado do seu dever de informação.

Questão 03 – Resposta: Falso

Resolução: O STJ já se manifestou pela desnecessidade de


anuência do devedor, ainda que tenha oferecido embargos
alegando matéria de direito material, quando os embargos forem
intempestivos. No caso, a desistência da execução permanecerá
sendo direito potestativo do exequente.
87

Questão 04 – Resposta: D

Resolução: A regra prevista no inciso III é de competência


territorial e, portanto, relativa e deve ser arguida pelo devedor em
impugnação ao cumprimento de sentença.

Questão 05 – Resposta: D

Resolução: A inércia do exequente, pela não localização de bens


penhoráveis, levará à retomada do curso do prazo prescricional.
Não basta, porém, que Ricardo manifeste seu desejo em buscar o
crédito, é necessário que apresente argumento sério, indicativo da
mudança fática e da efetiva possibilidade de localização de bens
penhoráveis. Apenas assim obstará o início do prazo prescricional.
88

BONS ESTUDOS!

Você também pode gostar